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Disciplina: Escolarização da pessoa com deficiência auditiva

Autores: M.e Renata Burgo Fedato

Revisão de Conteúdos: Esp. Larissa Carla Costa

Revisão Ortográfica: Esp. Marlon Richard Alves Pillonetto

Ano: 2017

Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas


páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em
cobrança de direitos autorais.

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Renata Burgo Fedato

Escolarização da pessoa com


deficiência auditiva
1ª Edição

2017
Curitiba, PR
Editora São Braz

2
FICHA CATALOGRÁFICA

FEDATO, Renata Burgo.


Escolarização da pessoa com deficiência auditiva / Renata Burgo Fedato
– Curitiba, 2017.
41 p.
Revisão de Conteúdos: Larissa Carla Costa.
Revisão Ortográfica: Marlon Richard Alves Pillonetto.
Material didático da disciplina de Escolarização da pessoa com
deficiência auditiva – Faculdade São Braz (FSB), 2017.
ISBN: 978-85-5475-135-7

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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!

Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier,


nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão
Universitária.
A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas
também brasileiros conscientes de sua cidadania.
Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e
estudantes.

Bons estudos e conte sempre conosco!


Faculdade São Braz

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Apresentação da disciplina

Nesta disciplina será estudado sobre a escolarização de pessoa com


deficiência auditiva, um tema relevante na vida profissional dos educadores. É
imprescindível que todo profissional que se dedica à educação, à interação, ao
estado emocional da criança, ou da pessoa com deficiência, aprofunde-se nos
estudos sobre dificuldades existentes, assim como os direitos garantidos por lei.
Serão estudados nessa disciplina, todos os contextos que envolvem as
pessoas com deficiência auditiva, a fim de perceber e entender todas as suas
dificuldades, necessidades e obstáculos.

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Aula 1 - Aspectos históricos da surdez

Apresentação da aula 1

Nesta aula será estudado sobre a surdez e o que envolve o dia a dia dos
surdos, como o preconceito, a discriminação e a trajetória histórica da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS). Serão estudadas também, legislações que
amparam a pessoa com deficiência auditiva.

1.1 A descriminação

Na Grécia, ainda na antiguidade, os surdos eram vistos como seres não


pensantes, pois para os gregos da época o pensamento se dava através da fala.
Portanto, sem a capacidade de ouvir, e consequentemente de falar, os surdos
não adquiriam conhecimento, ficando fora dos ensinamentos da época.
Os romanos negavam direitos legais aos surdos, e esses não podiam
casar-se, não herdavam os bens da família e a própria igreja os considerava sem
salvação.
A condição da pessoa surda na época era miserável, pois eles eram
considerados anormais e incompetentes, segundo os estudos de Araújo e
Lacerda (2009).
O desconhecimento sobre a surdez tornou difícil e desinteressante a vida
dessas pessoas. Felizmente, os tempos mudaram e hoje se reconhece as
competências e habilidades das pessoas com deficiência auditiva, assim como
os ouvintes, e têm direitos de conquistar e lutar por situações dignas de respeito
e igualdade diante das diferenças.

1.2 Conhecendo a surdez

Segundo Moura (2000, p.18), “a possibilidade do Surdo falar implicava no


seu reconhecimento como cidadão e consequentemente no seu direito de
receber a fortuna e o título da família”. Vê-se que o surdo não era reconhecido
como cidadão, porque não falava. Muitos defensores se dispuseram a auxiliar

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os surdos a se comunicarem, como o monge surdo Ponce de Leon, que começou
a ensinar os filhos surdos de nobres a falar, ler e escrever. A autora cita também:

Juan Pablo Bonet, soldado do rei, também se propôs a ensinar os


surdos, ele utilizava do alfabeto manual para ensinar a leitura e a língua
de sinais. John Wallis – é considerado na Inglaterra, o fundador do
oralismo. Seu trabalho resumiu-se em um livro sobre educação de
surdos e uma história de desistência de fazer os surdos falarem.
Possuiu pouca experiência prática com os surdos e como os outros,
utilizava a língua de sinais. (MOURA, 2000, p. 2)

Numa retrospectiva histórica, tem-se também o religioso francês Charles


Michel de L´Epée, em 1760, que aprendeu com os surdos a linguagem de sinais
francesa e iniciou a educação de surdos na França.
Moura 2000 (apud SACKS, 1998), explica de forma resumida a trajetória
do sistema de ensino de L’Epée:

O sistema metódico – uma combinação da língua de sinais nativa com


gramática francesa traduzida em sinais – permitia aos alunos surdos
escrever o que era dito por meio de um intérprete que se comunicava
por sinais, um método tão bem-sucedido que, pela primeira vez,
permitiu que alunos surdos comuns lessem e escrevessem em francês
e, assim, adquirissem educação. (MOURA, 2000 apud SACKS, 1998,
p. 4)

É espantoso pensar que a surdez era vista na época, como um possível


retardo mental, que as pessoas com deficiência auditiva eram tidas como
pessoas que não possuíam capacidade intelectual, por isso eram totalmente
discriminadas pela sociedade. De acordo Moura (2000):

Jean Marc Itard, médico cirurgião, sem nenhum conhecimento para


educar surdos, iniciou com o atendimento de um surdo dentro do
Instituto Nacional de Surdos–Mudos e tornou-se médico residente lá.
Como médico que era, empenhou-se em descobrir as causas da
surdez. Suas experiências dão margem a diferentes tipos de
interpretações, uma delas poderia ser vista como um ato desumano e
cruel. A outra seria tomar o lugar de Deus, tentando realizar o
impossível. [...] para realizar seus estudos, ele dissecou cadáveres de
Surdos e tentou vários procedimentos: aplicar cargas elétricas nos
ouvidos de Surdos, usar sanguessugas para provocar sangramentos,
furar as membranas timpânicas de alunos (sendo que um deles morreu
por este motivo). Fez várias experiências e publicou vários artigos
sobre uma técnica especial para colocar cateteres no ouvido de
pessoas com problemas auditivos, tornando-se famoso e dando nome
à Sonda de Itard (MOURA, 2000, p. 6).

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Para a sociedade não importava os métodos, tudo valia em busca da cura
da surdez. Porém, Itard fracassou e após dezesseis anos de tentativas nefastas,
ele assentiu que a língua de sinais era o único meio de educar-se um surdo.
O oralismo (método de ensino para surdos, no qual acreditavam que seria
a forma mais eficiente de ensinar o surdo através da linguagem falada), e de
acordo com Moura (2000), foi uma proposta que não trouxe nenhum benefício
para os surdos profundos, pois nem todos os surdos foram bem-sucedidos com
a leitura labial e muitos emitiam sons incompreensíveis aos ouvintes. Com isso,
os surdos se sentiam incapazes e doentes por não conseguirem ser como os
ouvintes.
Durante essa época de defesa ao oralismo, a língua de sinais era
discriminada e em sala de aula os surdos eram reprimidos com palavras rudes.
Os familiares também se sentiam envergonhados com seus filhos usando
a língua de sinais, e então o universo dos surdos ficou ainda mais difícil, pois
eles tinham medo de expor a sua opinião ou questionar algo, porque todos
achavam seu método de comunicação vergonhoso. Moura (2000, p. 14) afirma
que:

O preconceito em grande parte é fruto da ignorância, ou seja, o


desconhecimento gera crenças errôneas, mitos, desconforto e até uma
certa repulsa. Nota-se que as tentativas de fazer o surdo se tornar
ouvinte não foram poucas, felizmente os resultados mostraram que as
tentativas deveriam caminhar para a aceitação da condição do surdo e
de sua língua, que difere de uma língua oral sim, mas tão rica e tão
expressiva quanto. Sem dúvida os surdos não poderão ser tratados
iguais aos ouvintes em alguns aspectos, principalmente no aspecto da
língua, pois isto levaria ao mesmo erro do passado, mas pode-se
buscar meios aos quais o surdo possa sentir-se capaz em todos os
sentidos e respeitado.

Quantas foram as tentativas de educar os surdos de maneira errônea,


gerando tanto desconforto, preconceito, discriminação e até mesmo traumas.
Mas tudo começa de maneira rude, dada as condições de cada época e todos
de alguma maneira tentavam fazer o melhor, apesar dos excessos. Depois de
tantos “tropeços” se chegou à língua de sinais. Uma espécie de marco para as
pessoas surdas e para a sociedade. Muitas mudanças a acompanharam e as
pessoas surdas conseguiram galgar degraus bem mais complexos desde então.

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Vale lembrar que, a comunicação através da língua de sinais não é
mímica, como muitas pessoas pensam, sendo que, no Brasil, a língua de sinais
é conhecida como LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).
Vamos conhecer através do MEC (2004), os termos utilizados na língua
de sinais:

➢ Intérprete de língua de sinais: pessoa que interpreta de uma dada


língua de sinais para outra língua, ou para uma outra Língua de Sinais.
➢ Língua: é um sistema de signos compartilhado por uma comunidade
linguística comum. A fala ou os sinais são expressões de diferentes
línguas. A língua é um fato social, ou seja, um sistema coletivo de uma
determinada comunidade linguística.
➢ Linguagem: é utilizada num sentido mais abstrato do que língua, ou
seja, refere-se ao conhecimento interno dos falantes-ouvintes de uma
língua. Também pode ser entendida num sentido mais amplo, ou seja,
incluindo qualquer tipo de manifestação de intenção comunicativa,
como, por exemplo, a linguagem animal e todas as formas que o
próprio ser humano utiliza para comunicar e expressar ideias e
sentimentos além da expressão linguística (expressões corporais,
mímica, gestos, etc.).
➢ Línguas de sinais: são línguas utilizadas pelas comunidades surdas.
As línguas de sinais apresentam as propriedades específicas das
línguas naturais, sendo, portanto, reconhecidas enquanto línguas pela
Linguística. As línguas de sinais são visuo-espaciais, captando as
experiências visuais das pessoas surdas. A LIBRAS é a língua
utilizada pelas comunidades brasileiras surdas.
➢ Linguística: é a ciência da linguagem humana.
➢ LIBRAS: língua Brasileira de Sinais. Esta sigla é difundida pela
Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos - FENEIS.
➢ Tradutor-intérprete de língua de sinais: pessoa que traduz e
interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa em
quaisquer modalidades que apresentar-se (oral ou escrita).
➢ Tradução-interpretação simultânea: é o processo de tradução e
interpretação de uma língua para outra que acontece

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simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo. Isso significa que o
tradutor-intérprete precisa ouvir/ver a enunciação em uma língua
(língua-fonte), processá-la e passar para a outra língua (língua alvo)
no tempo da enunciação.

No Brasil foi instituída a LEI N° 10436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 que


dispõe sobre a LIBRAS:

LEI N° 10436, DE 24 DE ABRIL DE 2002

Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua


Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma


de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora,
com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão
de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e
difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e
de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos


de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos
portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais,


municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação
de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e
superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos
Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a


modalidade escrita da língua portuguesa.

Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

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Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm

Essas leis e decretos auxiliam o desenvolvimento do reconhecimento do


surdo na sociedade, seus direitos e de suas comunidades. Observe o alfabeto
na língua de sinais:

Fonte:https://www.freepik.com/free-vector/hand-drawn-sign-language-
alphabet_1029740.htm

Deve-se lembrar de que a criança surda deve aprender a Língua de Sinais


já nos três primeiros anos de idade, para que ela se familiarize desde cedo e
assim, aprenda com mais facilidade.

11
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SUGESTÃO DE LEITURA

Leia o livro Educação de surdos em


discussão: práticas pedagógicas e processo
de alfabetização, de Cleusa Inês Ziesmann,
cujo apresenta uma pesquisa na área da
educação de surdos desenvolvida a partir de
preocupações e questionamentos em
relação à formação de professores, em uma
perspectiva de educação inclusiva, em
instituições de ensino para o atendimento de
crianças e jovens surdos incluídos em sala
de ensino regular. A autora investiga quais
práticas de ensino e aprendizagem são
efetivadas com estudantes ouvintes e
surdos, e quais as implicações dessas
práticas para o desenvolvimento dos
sujeitos surdos em uma perspectiva de
educação inclusiva.

Resumo da aula 1

Nesta aula estudou-se sobre o quão difícil foi a vida do surdos na


antiguidade, que eles eram excluídos da sociedade e até vistos como
aberrações. Mas graças aos estudiosos e a comunidade científica, hoje se tem
dias mais edificantes, nos quais luta-se contra todo tipo de preconceito e carrega-
se uma consciência maior de que somos todos iguais nos direitos e deveres.
Viu-se também que a LIBRAS veio acrescentar muita qualidade de vida
às pessoas surdas. Além disso, estudou-se que a LIBRAS é amparada por lei e
esta garante a inclusão dos surdos nas escolas tradicionais.

Atividade de Aprendizagem
O que é a LIBRAS e para que é utilizada?

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Aula 2 – Metodologia de ensino da língua portuguesa para surdos

Apresentação da aula 2

Nesta aula será estudada sobre a metodologia de ensino da língua


portuguesa para os surdos. Ademais, será abordado todo o conjunto de
informações, leituras e experiências que fazem parte do ensino da língua
portuguesa para o surdo.

2.1 Leitura e produção de texto

A leitura e a produção de um texto estão estreitamente ligados ao ensino


da língua. Segundo Salles (2004):

No caso do surdo, especialmente, o sucesso de uma produção escrita,


depende sobremaneira dos inputs a que se está exposto. Em outras
palavras, quanto mais o professor inserir o aprendiz na situação em
que se enquadra a atividade proposta, quanto mais 'insumos', isto é,
contextos lingüísticos e situações extralingüísticas, forem ao aprendiz
apresentados, melhor será o resultado. A leitura deve ser uma das
principais preocupações no ensino de português como segunda língua
para surdos, tendo em vista que constitui uma etapa fundamental para
a aprendizagem da escrita. Nesse processo, o professor deve
considerar, sempre que possível, a importância da língua de sinais
como um instrumento no ensino do português. Recomenda-se que, ao
conduzir o aprendiz à língua de ouvintes, deve-se situá-lo dentro do
contexto valendo-se da sua língua materna (L1), que, no caso em
discussão, é a LIBRAS. É nessa língua que deve ser dada uma visão
apriorística do assunto, mesmo que geral. É por meio dela que se faz
a leitura do mundo para depois se passar à leitura da palavra em língua
portuguesa. (SALLES et al., 2004. p. 17)

Partindo desse contexto, o professor deverá fazer com que o aluno surdo
conheça a importância de dominar a língua portuguesa escrita.
A língua de sinais é visual e espacial e a língua portuguesa é auditiva e
oral, o que determina que os canais de recepção e de emissão são diferentes.
Essa diferença tem uma consequência: o aprendizado da leitura e da
escrita pelos surdos não segue os mesmos caminhos e processos que para uma
pessoa ouvinte (VALENTINI, 2011). Durante o processo de aprendizado, os
surdos necessitam “traduzir” a língua de sinais para a língua portuguesa, e é
uma maneira mais complexa de aprender-se.
Valentini (2011) pontua que:

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No desenvolvimento e apropriação da língua escrita e do letramento é
necessário o dinâmico movimento do mundo para o texto e do texto
para a continuidade da leitura do mundo. Nesse processo, há vários
momentos em que a pessoa surda necessita fazer uma análise
implícita e explícita das diferenças e semelhanças entre a língua de
sinais e o português escrito. Assim, ocorre a tradução dos
conhecimentos adquiridos na língua de sinais, dos conceitos, dos
pensamentos e das ideias para o português. (VALENTINI, 2011, s/p)

Ainda segundo a autora, durante esse processo de aprendizado da língua


materna dos surdos para a segunda língua, que é a língua portuguesa, existe os
estágios chamados “interlíngua”, quando eles constroem um sistema que não é
nem a primeira nem a segunda língua, daí que vemos os textos de pessoas
surdas de difícil compreensão.
Segundo Quadros (2006), esses estágios são divididos em três grupos:

➢ Estágio 1: escrita mais próxima à língua de sinais, apresenta falta


ou inadequação de artigos, preposições, conjunções, uso de
verbos no infinitivo, raro emprego de verbos de ligação (ser, estar,
ficar) e é comum em fase inicial de aquisição da escrita.

➢ Estágio 2: apresenta uma intensa mescla das duas línguas. A


estrutura da frase possui ora características da língua de sinais, ora
características gramaticais da frase do português. Usam verbos no
infinitivo e alguns artigos.

➢ Estágio 3: mais próximo do português escrito convencional, com


emprego maior e mais adequado de artigo, preposição, conjunção,
flexão dos nomes, flexão verbal e emprego de verbos de ligação
ser, estar, ficar.

Segundo Valentini (2011), podem-se comparar as pessoas surdas, no


início da aprendizagem da língua portuguesa com um estrangeiro.
O professor deve fazer esse intercâmbio entre a LIBRAS e a língua
portuguesa, de forma coerente para que o aluno se encaixe no aprendizado. Ele
deve também estar atento no momento em que surgirem palavras complexas ou
desconhecidas pelo aluno e decidir se é hora de oferecer o dicionário. O

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importante é que o aluno não se sinta desanimado a continuar a leitura por não
conhecer as palavras.

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SUGESTÃO DE LEITURA

O livro Leitura e Escrita na Educação de


Surdos: das políticas às práticas pedagógicas,
de Tiago Ribeiro e Aline Gomes da silva,
aborda um tema tão complexo quanto
necessário: o ensino da leitura e da escrita na
educação de pessoas surdas. A publicação
reúne textos de diferentes autores que nos
provocam a pensar práticas e concepções a
respeito do trabalho com a Língua Portuguesa,
em sua modalidade escrita, dando-nos pistas e
ajudando a refletir sobre modos e abordagens
de trabalho com estudantes surdos.

Segundo os autores Lane; Hoffmeister; Bahan (1996), como todas as


crianças, as pessoas surdas também necessitam de conhecimento sobre a
língua para encontrar as palavras e as estruturas de frases e para planejar
estratégias que tornem o texto inteligível. Necessitam também de conhecimento
cultural e de mundo, de modo que possam recontextualizar o máximo possível a
escrita descontextualizada e derivar significado a ela. Embora os autores não
façam referência, a ampliação do conhecimento prévio dos estudantes surdos
deve acontecer por meio da língua de sinais.
É importante que os pais de crianças surdas, sendo eles ouvintes ou não,
estabeleçam o hábito da leitura em casa.
A contação de histórias, a interpretação de figuras e a leitura em si, irão
auxiliar a criança no período escolar.
A leitura é de suma importância para a compreensão e comunicação
dessas pessoas. Para isso, o professor deve propor aos alunos que observem
as figuras, desenhos, ilustrações dos livros para gerar maior interesse.
Acompanhar os alunos nas descobertas, auxiliar a identificação de coisas e
lugares conhecidos apresentados no livro, jornal, revista, etc.

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O livro escolhido para a leitura, deve ser examinado desde a capa, o
número de páginas, as ilustrações e é conveniente que o assunto seja do
conhecimento e do interesse do aluno.
A família também deve inteirar-se dos conhecimentos adquiridos na
escola para fortalecer o conhecimento do aluno.
Vamos observar agora, um exemplo de como é a escrita de um aluno
surdo:
Lucas tem 14 anos e escreve um pequeno texto:

- Ana brincar água, bastante água. Cansada senta arvore. Ela pouco
dorme. Passarinho canta, Ana rir. Ela voltar água, brincar.

A interpretação do leitor depende em grande parte do objetivo


estabelecido para a leitura. Assim, os objetivos da leitura são elementos que
devem ser levados em conta quando se trata de ensinar as crianças a ler e a
compreender. A autora destaca a importância de ensinar as crianças a ler com
diferentes objetivos: para obter uma informação, para seguir instruções, para
aprender, por prazer, entre outros, para que com o tempo elas mesmas sejam
capazes de colocar-se objetivos de leitura que lhes interessem e que sejam
adequado (SOLÉ,1998).
Algumas estratégias devem ser usadas para contribuir para o ensino da
língua portuguesa para alunos surdos. Uma delas é pedir ao aluno que leia um
convite de aniversário e depois da leitura, responda a um questionamento do
tipo: “De quem é o aniversário?”, “Que dia será a festa?”, “Qual é o endereço da
aniversariante?”, “Qual é o horário da festa?”.
Através das respostas do aluno o professor poderá definir o seu
entendimento sobre o texto lido, assim, com o tempo, pode-se complexificar o
texto, exigindo maior concentração do aluno, como textos retirados de notícias
de jornais, textos de provas, etc. A produção de textos pelo aluno pode ser
instigada por meio de: uma foto de jornal, de um jogo de futebol, o cartaz de um
filme, a capa de um livro, etc.
Veja a experiência de uma professora em sala de aula, segundo Pereira
(2009):

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Depois de mostrar uma reportagem sobre o trabalho infantil, visando
que o aluno desse a sua opinião, a professora formulou a seguinte
pergunta:
- Qual a sua opinião a respeito do trabalho infantil?
Resposta do aluno:
- Eu não gostar errado porque crianças trabalho. Trabalho mãe, pai
certo, comprar de comida, roupa e crianças só estudante. Crianças
trabalho magro porque triste, cansado não escola estudante.

Nesta atividade, destaca-se a estratégia utilizada pela professora. Ao


solicitar a opinião do aluno, ela não parece ter como meta a obtenção de
informações, mas um posicionamento do aluno em relação ao assunto tratado
no texto.
Ainda segundo a autora, com pouco conhecimento de língua e de mundo,
os alunos surdos terão limitadas as suas possibilidades de compreender um
texto, atendo-se a palavras isoladas.
Quando o aluno mostrar interesse e condições de ler sozinho, caberá ao
professor orientar a leitura, propondo atividades que lhe possibilitem atribuir
sentido ao texto e não a palavras isoladas. A leitura deve ser extensivamente
incentivada à pessoa surda, visto que através dela ela terá sua maior fonte de
desenvolvimento para o conhecimento da língua.
A contação de histórias, o apelo visual, a leitura e a interpretação de
textos, são o caminho certo para o desenvolvimento das crianças surdas, assim
como também para as ouvintes.
De acordo com a autora, a escrita e a leitura devem estar intimamente
ligadas. O aluno surdo construirá seus conhecimentos com a ajuda do professor
sobre a língua portuguesa, através de textos e de conhecimentos do mundo em
si.
Segundo Macchi e Veinberg (2005), para as crianças menores, na
atividade de contar histórias, é importante que o narrador crie um cenário no ar.
Os personagens são localizados no espaço e a narrativa se desenvolve levando
em conta o contexto. O narrador dramatiza a história que está sendo contada,
faz com que as crianças percebam as características dos personagens a partir
de sua narrativa. Isso significa que o narrador deve ser capaz de desdobrar-se
em diferentes personalidades para aproximá-las de seu público; deve usar

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fluentemente a língua de sinais, incluindo o espaço, a expressão corporal e
facial, a sintaxe e todos os elementos que a compõem.

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SUGESTÃO DE LEITURA

Leia o livro Crônicas de Surdez, de Paula


Pfeifer. Nesta obra a autora discute um
assunto que, por vezes, se torna tabu: a
deficiência auditiva, que tanto afeta a
comunicação e a interação humanas.
Porém, a autora passa longe da
autocomiseração e mostra que os surdos
podem e devem levar uma vida feliz,
independente e produtiva.

Resumo da aula 2

Nesta aula estudou-se sobre a metodologia de ensino da Língua


portuguesa para os surdos, mostrando a leitura e produção e texto.

Atividade de Aprendizagem
Por que é imprescindível que o aluno surdo conheça a
importância de dominar a língua portuguesa escrita?

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Aula 3 - Subsídios para o desenvolvimento de pessoas surdas: sugestões
para docentes

Apresentação da aula 3

Nesta aula será estudado como podem ser feitas as aplicações dos
subsídios para o desenvolvimento das pessoas surdas nas escolas, assim como
os recursos, métodos e materiais de apoio.

3.1 O suporte da internet no estímulo aos surdos

Entre os recursos utilizados para a inclusão e alfabetização dos surdos,


está a internet. Sabe-se o quanto ela é importante, tornando os surdos não só
participantes como também executores e construtores de temáticas relacionadas
a conteúdos mais variados.
A internet é um mundo de conhecimento, de descobertas, de atualizações
para todas as pessoas, independente das diferenças de cada um. Uma pessoa
com acesso à internet vive num mundo mais antenado e iluminado de todos os
tipos de conhecimento.
A World Wide Web apresenta uma distinta oportunidade para deficientes
auditivos. Além de fornecer um protocolo de comunicação que é acessível, a
web possibilita que pessoas com necessidades especiais assumam o papel, que
não foi pensado previamente como possível, de agentes em uma rede de
informação global (QUADROS, 2014). Estudos demonstram que quase 70% das
pessoas surdas acessam a internet diariamente, sendo essa proporção maior do
que a de pessoas ouvintes (QUADROS, 2014).

Vocabulario
World Wide Web - o famoso WWW é um sistema de
documentos dispostos na Internet que permitem o acesso às
informações apresentadas no formato de hipertexto. Para ter
acesso a tais informações se pode usar um programa de
computador chamado navegador.

Fonte:https://www.tecmundo.com.br/web/759-o-que-e-
world-wide-web-.htm

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Segundo Alves (2014):

A mediação não está mais centrada em um sentido único, mas num


panorama tentacular de caminhos e teias de imagem estática, em
movimento, em uma gama de gradação entre estes por exemplo, fotos,
flash players, GIFs, cinemagraphs e vídeos. (ALVES, 2014. p. 13)

No Blog da Ana Carolina, pedagoga surda, existem várias maneiras de


entretenimento e aprendizado, através de aplicativos, com o Hand Talk, tradutor
para LIBRAS e o GIULIA, aplicativo que lê movimentos de surdos e traduz da
língua de sinais para português.
Ana Carolina mostra também um outro aplicativo chamado: CineAcesso,
uma solução de acessibilidade que permite a inclusão de surdos e de cegos nos
cinemas. Com o CineAcesso, os surdos têm acesso à tradução dos conteúdos
em sua língua natural de comunicação, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Para os cegos, o CineAcesso oferece os recursos da Audiodescrição (AD). O
objetivo principal é promover a igualdade de oportunidades e direitos a todos,
além de contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais ativa e mais
participativa.
Ao acessar esse blog, é possível perceber uma grande variedade de
aplicativos, jogos lúdicos para surdos, literatura, caderno de educação bilíngue
para surdos, etc. O que mais chama atenção e encanta no conteúdo é a literatura
infantil, sendo que as histórias clássicas ganham uma versão para as crianças
surdas, como nas sugestões de leitura a seguir.

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SUGESTÕES DE LEITURA

Adão e Eva, de Fabiano Rosa e Lodenir


Karmopp, Maristela Alano. Nesse livro os
autores contam a origem da língua de
sinais através da criação do casal feito por
Deus. Na história, os dois ficam sem roupa
após comerem a maçã e veem-se
obrigados a usar a fala, já que as mãos
estão ocupadas em esconder a nudez dos
corpos. A versão desta história é

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recorrente de encontro entre os autores e
a comunidade de surdos, no qual são
contados e recontados vários clássicos da
literatura.

Cinderela Surda, de Carolina Hessel,


Fabiano Rosa e Lodenir Karmopp, é o
primeiro livro de literatura infantil do Brasil
escrito em língua de sinais. O livro é uma
versão do tradicional conto que insere
elementos da cultura e identidade surda.
Essa releitura inédita da história é
acompanhada da escrita dos sinais (SW),
ilustrações e uma versão em português.

Patinho Surdo, de Fabiano Rosa e Lodenir


Karmopp, Maristela Alano, conta a história
do nascimento de uma ave pertencente a
outra espécie em um ninho de cisnes
ouvintes e a dificuldade em estabelecer-se
uma comunicação entre eles. No livro, o
protagonista reencontra a sua família e
aprende a linguagem de sinais usada pelos
bichinhos da lagoa.

Rapunzel Surda, de Carolina Hessel,


Fabiano Rosa e Lodenir Karmopp, é um
livro de literatura infantil do Brasil escrito
em língua de sinais. A história é uma
versão do tradicional conto que insere
elementos da cultura e identidade surda.
Essa releitura inédita da história é
acompanhada da escrita dos sinais (SW),
ilustrações e uma versão em português.
Voltada para o público surdo infantil, a obra
é o resultado da pesquisa desenvolvida por
Lodenir Becker Karnopp, Caroline Hessel e
Fabiano Rosa.

Sabe-se que na Europa, segundo Quadros (2008), os surdos recebem


além dos seus salários como trabalhadores, uma pensão governamental e
outros benefícios como passagens, incentivo à cultura, atendimento à saúde em
Língua de Sinais, dentre outros. No Brasil, como cita a autora:

Pensamos em fazer melhor, quando colocamos que a criança surda


deve viver sua cultura desde sempre e que a pedagogia surda precisa

21
estar presente, o quanto antes possível, na realidade cotidiana da
criança surda. (QUADROS, 2008, p. 108)

Os surdos querem viver normalmente como e com as pessoas ouvintes,


participando e entendendo o que mostra o teatro, cinemas, programas de TV,
shows, etc.
Quadros (2008) acrescenta que uma grande mudança nas escolas seria
as crianças ouvintes aprender a Libras. Assim a inclusão seria completa, pois,
até mesmo os entretenimentos seriam para ambos, surdos e ouvintes.
Segundo Quadros (2008):

Há muita polêmica entre o Povo Surdo que teme que a inclusão vá


acabar com os profissionais surdos. Pelo contrário, cada vez mais se
percebe necessário o professor surdo e há poucos preparados para
isso. Essa é minha visão como diretora de políticas educacionais da
Feneis. O surdo irá se integrar se houver acessibilidade, o que vai
significar que a sociedade o acolhe. O acolhimento começa na família
e na escola, se aí ele existir, o surdo vai aprender a se integrar. Então,
a inclusão acontece a partir de dois movimentos: da construção social
de toda a sociedade que entende e acolhe, e dos surdos, que vão
participar porque se sentem acolhidos. Os dois movimentos para
construir uma inclusão são: o da sociedade que acolhe e o do surdo
que se sente acolhido. (QUADROS, 2008. p.27)

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SUGESTÃO DE LEITURA

Atualidade da Educação Bilíngue para


Surdos é o resultado de um congresso
internacional realizado no Brasil, essa obra
em dois volumes apresenta textos
completos dos conferencistas presentes e
revela um significativo avanço teórico e
prático em estudos sobre a educação dos
surdos. O livro aborda a questão do
multiculturalismo, as políticas sobre a
surdez, as políticas comunitárias dos
surdos, práticas e projetos que vêm se
desenvolvendo em vários países do
mundo.

22
3.2 O desenho no auxílio à criança surda

O desenvolvimento cognitivo e a socialização da criança, estão


diretamente ligados à linguagem. De acordo com Rodriguero (2000), na
perspectiva histórico-cultural da educação, postulada por Vygotsky, a criança vai
dominando os instrumentos mentais produzidos pelo homem no decorrer da
história, de maneira gradativa, a partir da convivência em sociedade e das
interações com os adultos que a cercam.

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SUGESTÃO DE LEITURA

Leia o livro Como Brincam as Crianças


Surdas, de Daniele Nunes Henrique Silva. O
brincar, fonte promotora do desenvol-
vimento da criança, é a melhor forma de
conhecermos os seus processos mentais,
refinados com a mobilização da imaginação,
da cognição e do afeto.

Ainda segundo a autora, Vygotsky dedicou-se ao estudo das funções


psicológicas superiores, isto é, mecanismos psicológicos sofisticados e
tipicamente humanos, tais como: o controle consciente do comportamento, a
atenção voluntária, a memorização ativa, o pensamento abstrato, o raciocínio
dedutivo, a capacidade de planejamento, etc.
Procurou, dessa forma, identificar as mudanças qualitativas do
comportamento humano e sua relação com o contexto social; para tanto, utilizou
uma abordagem dialética. Vygotsky acreditava, portanto, que antes de controlar
o próprio comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com a fala.
São produzidas novas relações com o meio, além de nova organização do
próprio comportamento. Essas formas, caracteristicamente humanas, produzem
mais tarde o intelecto, constituindo a base do trabalho produtivo.

23
Os signos são elementos de mediação e auxiliam nas ações concretas e
nos processos psicológicos. Tanto os signos quanto as palavras são para a
criança, um meio de contato com as outras pessoas.
Sobre a maneira de pensar, agir e ver o mundo característico da cultura
de sua comunidade, tem-se o texto do MEC (2006) que explicita sobre o assunto:

Os indivíduos que ouvem parecem utilizar, em sua linguagem, dois


processos: o verbal e o não-verbal. A surdez congênita e pré-verbal
pode bloquear o desenvolvimento da linguagem verbal, mas não
impede o desenvolvimento dos processos não-verbais. A fase de zero
a cinco anos de idade é decisiva para a formação psíquica do ser
humano, uma vez que nesse período ocorre o ativamento das
estruturas inatas genético-constitucionais da personalidade. Para a
criança surda, esse processo de desenvolvimento pode ficar
fragmentado, pois é sabido que ela não poderá aprender a língua oral
de forma totalmente espontânea, como a criança ouvinte. Nesse
sentido, a aquisição da língua de sinais vai permitir à criança surda,
mediante suas relações sociais, o acesso aos conceitos de sua
comunidade, que passará a utilizar como seus, formando assim uma
maneira de pensar, agir e ver o mundo característico da cultura de sua
comunidade. (BRASIL, 2006, p. 15)

De acordo com Araújo e Lacerda (2010), o desenho animado é outra fonte


de inspiração e desenvolvimento para os educandos surdos e ouvintes do ensino
básico e secundário, ao construírem coletivamente “desenhos animados
surdos”, isto é, narrativa em Libras filmada, acompanhada do respectivo filme de
animação que trata da vida do surdo, um círculo de cultura, no qual discute-se:

➢ Os significados de ambas culturas (ouvinte e surda), que são


compartilhados nos filmes;
➢ A legenda em português, os sinais que são criados pelos
surdos e usados em novas narrativas que reiniciam o círculo
de cultura em um novo patamar de experiências vividas;
➢ Questões relacionadas à discriminação percebida pelos
surdos, o aspecto pejorativo do termo “deficiente”, atribuído
a condição do surdo e dificuldade de ser reconhecido
enquanto grupo cultural;
➢ As questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável
do grupo de surdos que produzem a animação. O conceito
de “círculo de cultura surda” pode ser ferramenta crucial

24
para a criação de grupos de surdos coeso vivendo numa
sociedade ouvinte.

Ainda segundo Araújo e Lacerda (2010):

O interesse pelo desenho infantil data de fins do século XIX e tem sido
objeto de estudo de educadores (Genishi, Stires & Yung-Chan, 2001),
psicólogos e psiquiatras (Freud, 1965/2002), fonoaudiólogos e artistas
plásticos (Luchesi & Reily, 2007) entre outros especialistas, pelo fato
de a representação pictográfica ser considerada um meio para o
acompanhamento e compreensão do desenvolvimento da criança. O
desenvolvimento deste campo de estudo deve-se ao fato de que a
imagem, em todas as suas formas, vem ocupando um papel cada vez
mais importante na comunicação e interação social, e constitui-se
como um recurso visual bastante utilizado pela criança. (ARAÚJO;
LACERDA, 2010, p. 2)

Através do desenho as crianças expõem vivencias. Seus desenhos


representam o seu pensamento, seu sentimento, contando sempre com a sua
criatividade.
Ao desenhar livremente a criança une sua imaginação com a realidade, e
estudando seu desenho, sabe-se que é valorizado o aspecto cognitivo, afetivo,
motor, gráfico e estético.
Nessa linha argumentativa, Araujo e Lacerda (2008) afirmam que:

É imenso o abismo que separa o universo de vivências e


simbolizações entre uma criança surda e uma criança ouvinte, na
infância principalmente, como já foi mencionado, se forem filhas de
pais ouvintes. É sabido que fazem parte desse grupo 95%, ou mais,
das crianças surdas brasileiras. Nessa situação, as interações em que
estas crianças estarão envolvidas com os pais e familiares serão
limitadas aos poucos gestos representativos, geralmente de caráter
icônico e contextual, que reduzem enormemente as trocas simbólicas
com o meio social, tão necessárias ao desenvolvimento da linguagem.
Sabendo por um lado que o conhecimento sobre o mundo está
condicionado ao que a criança surda consegue apreender das
experiências visuais que vivencia e, por outro lado, que o desenho,
esfera simbólica da linguagem, é uma atividade mental que reflete
significações, este relato de caso propõe-se a analisar esta esfera
sígnica, de forte apelo visual, como possível recurso terapêutico dentro
do trabalho clínico fonoaudiológico, para o desenvolvimento de
linguagem. (ARAÚJO; LACERDA, 2008, s/p)

Sendo o desenho importante na vida das crianças surdas, vale analisar


neste momento, brevemente, um estudo de caso feito pelas autoras sobre duas
crianças surdas de dez anos, do sexo masculino, em escola pública, com

25
diagnóstico audiológico de surdez profunda bilateral e queixa de atraso do
desenvolvimento de linguagem.
As crianças eram filhas de pais ouvintes e tiveram o uso tardio da Língua
de Libras. Esta abordagem consiste em descrever, no nível de minúcia, o
comportamento em mudança e suas condições sociais de produção, além das
transições qualitativas da ação do sujeito em seu aspecto histórico.
O atendimento clínico-terapêutico foi desenvolvido no setor de surdez de
uma clínica-escola de Fonoaudiologia, no interior de São Paulo. Visava o
desenvolvimento de linguagem e foi conduzido em Libras, por duas
fonoaudiólogas, a partir do trabalho com as esferas simbólicas - gesto, jogo,
narrativa, escrita, língua de sinais - privilegiando o desenho.
Já no início, as crianças mostraram interesse por um brinquedo chamado
“pião guerreiro” ou “beyblade”, que é um pião enrolado numa linha, o qual é
lançado dentro de um círculo arena. O pião que girar por mais tempo é o
vencedor. Estavam presentes duas terapeutas, as duas crianças, chamadas
aqui de “L” e “C”, sentados em torno de uma grande mesa numa sala ampla. Na
mesa havia papel, canetinhas coloridas, lápis, tinta, etc.
“L” pegou um papel e começou a desenhar e explicar o que era o seu
desenho, como a terapeuta não entendeu sua gesticulação, a outra criança “C”
interveio e participou das explicações de” L” e depois de algum tempo, as duas
crianças desenharam o jogo do pião.

Desenho de “L”

Fonte: Acervo da autora (2017).

26
Conclusão: a criança “L” explicou que desenhou dois “beyblades” se
chocando e a terapeuta não entendeu, a outra criança, entendendo o que o
amigo queria dizer, desenhou dois “beyblades” também se chocando e
produzindo faíscas durante o choque. O intercâmbio entre as crianças foi muito
rico, porque permitiu uma troca de experiências gráficas em um plano bastante
informal e lúdico, conforme argumentaram Araújo e Lacerda (2008).

Desenho de “C”

Fonte: Acervo da autora (2017).

O meio de comunicação ali registrado foi a representação gráfica e a


língua de sinais, através de um recurso terapêutico para o desenvolvimento
dessas crianças surdas e do seu modo de pensar. Ainda segundo a autora:

Por intermédio do desenho, as crianças observadas desenvolveram a


atenção, a memória, a autonomia ou iniciativa, se socializaram,
despertaram a curiosidade e a imaginação, de maneira prazerosa e
como participante ativa do seu processo de aprendizagem. O que se
precisou o aspecto narrativo e figurativo do desenho. (ARAÚJO;
LACERDA, 2008, s/p)

Quando se fala em desenho para crianças, pessoas leigas talvez possam


pensar em um aprendizado superficial, mas há muita imaginação, realidade,
interação e sociabilidade nesse recurso pedagógico e terapêutico.
As crianças surdas necessitam de aprendizagem focada em resultados
férteis para que possam observar, identificar, comparar, conceituar, planejar,
relacionar e inferir.

27
Vídeo
Assista ao filme A Música e o Silêncio, que conta a história de
Lara, menina ouvinte serviu de intérprete para seus pais surdos,
ajudando-os a se comunicar com as pessoas. Já crescida, ela
demonstra grande talento musical. É quando surge um dilema
em sua vida: se quiser abraçar uma promissora carreira, terá
que mudar-se para Berlim. Um ótimo filme para entender um
pouco mais sobre a vida dos surdos.
Assista ao trailer em:
https://www.youtube.com/watch?v=2VCixeH6e_g

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SUGESTÃO DE LEITURA

Amplie seus conhecimentos lendo o livro


Bullying Contra Surdos: A Manifestação
Silenciosa da Resiliência, de Telma Franco.
Esta obra discute o bullying, fenômeno
instalado na sociedade e que tem despertado
sentimentos diferenciados nas pessoas. Em
relação aos Surdos não ocorre de forma
diferente.

Resumo da aula 3

Nesta aula pôde-se aprender um pouco mais sobre as dificuldades e os


objetivos das pessoas surdas. Viu-se como a tecnologia facilita o dia a dia, a
convivência, a comunicação, a diversão e o aprendizado dessas pessoas. Além
disso refletiu-se sobre a importância das histórias infantis adaptadas para que
as crianças surdas. Por fim, o desenho, que também colabora para encurtar o
caminho de interação do surdo.

Atividade de Aprendizagem
Cite alguns exemplos de aplicativos para surdos e como eles
podem ajudar as pessoas no dia a dia.

28
Aula 4 - Teorias e suas respectivas abordagens para alunos surdos

Apresentação da aula 4

Esta aula abordará as vivências de vários profissionais ligados ao


universo dos surdos, bem como será estudado o que está realmente
acontecendo entre metodologias, teorias e experiências na área de educação
das pessoas surdas.

4.1 A formação dos professores de surdos

As pessoas surdas, desde a antiguidade, já passaram por muitas


dificuldades por meio da “miopia de discernimento e do conhecimento” dos
ouvintes. Já foram taxados de várias denominações e já sofreram quase todo
tipo de preconceito obtuso.
Almeida (2015) afirma que:

Poderemos compreender a pessoa surda como um sujeito cultural, que


destituído de condições terapêuticas, constitui-se em seus aspectos
linguísticos a partir de elementos de empoderamento que demarcam a
sua diferença e tomam posse de seus espaços de conhecimento, seja
na educação básica ou no ensino superior. É nesta perspectiva que
nós, educadores, somos confrontados com nossos saberes e olhares
sobre a educação que vivenciamos, a educação que oferecemos, a
educação que nos é proposta, e, sobretudo, a educação que os surdos
esperam de nós. (ALMEIDA, 2015, p. 10)

De acordo com o autor, nas conversas formais ou informais, o assunto de


formação de professores de surdos está sempre em pauta. As diferentes ideias
acabam chegando no que hoje chamamos de educação bilíngue.
Assim, o autor afirma que:

A ideia de educação bilíngue não vem como método fechado, com um


percurso ou material formativo definitivo. Mas ela é constituída com as
práticas discursivas e as experiências dos profissionais que se
envolvem com a educação de surdos. Tanto as práticas, as
experiências, quanto os movimentos em favor dos surdos,
desenvolvem a ideia de educação bilíngue discursivamente.
(ALMEIDA, 2015, p.50)

29
Atualmente, tem-se pelo menos quatro novos especialistas na educação
de surdos: os professores bilíngues, os intérpretes de Libras, os instrutores de
Libras e os professores de língua portuguesa como segunda língua.
“A função do intelectual é ajudar a formular corretamente os problemas”
(ADORNO, 2004, p. 45). O autor afirma que não cabe ao intelectual apontar para
um sistema correto ou incorreto, mas mostrar como acontece, destrinchar os
processos, dizer como funciona determinado regime. Cabe às pessoas fazerem
suas escolhas. Assim, espera-se dos novos especialistas em educação de
surdos, que tenham não só o conhecimento alcançado, mas sim o engajamento
com sensibilidade e relevância para tal.
De acordo com o Ministério da Educação (2008) é garantido ao aluno
surdo a sala de recursos multifuncionais, onde a prioridade é a valorização das
potencialidades artísticas, culturais e linguísticas, interpondo-se por formas
alternativas de comunicação simbólica, tendo como fundamental meio de
concretização a Língua de Sinais.
Essas salas são um ambiente preparado com a finalidade de
complementar o conhecimento obtido na sala de aula, em horários diferenciados.
Segundo Almeida (2015) as propostas dos objetivos dessas salas são:

• Complementar os estudos referentes aos conhecimentos


construídos nas classes comuns de ensino regular;
• Desenvolver a Libras como atividade pedagógica,
instrumental, dialógica e de conversação;
• Aprofundar os estudos relativos à disciplina de Língua
Portuguesa, principalmente na modalidade escrita. (ALMEIDA,
2015, p. 96)

Lembrando sempre que o aprendizado de uma língua está totalmente


ligado ao meio em que a pessoa está inserida. O ambiente em que o surdo está
vivendo deve conter incentivos para que ele aprenda a partir do que vê e
vivencia.
Segundo Fernandes (2006):

Aprender o português decorrerá do significado que essa língua assume


nas práticas sociais (com destaque às escolares) para as crianças e
jovens surdos. E esse valor só poderá ser conhecido por meio da
língua de sinais. O letramento na língua portuguesa, portanto, é
dependente da constituição de seu sentido na língua de sinais
(FERNANDES, 2006, p. 6)

30
Segundo Almeida (2015), a Língua de Sinais, através da interação com
os textos diversos, mostrará ao aluno surdo que a Língua Portuguesa na
modalidade escrita, tem um significado. As mensagens primeiramente lhes serão
passadas em Libras, a seguir serão escritas, pois assim o indivíduo surdo
entenderá o porquê dos textos escritos.
Sabemos que para a inclusão obter resultados positivos e satisfatórios
depende de um contingente de profissões diversas, como: políticos, líderes de
comunidade, famílias das pessoas surdas, alunos em si, em síntese, de todas
as pessoas ligadas à escola, porém o papel do professor, profissional dotado de
uma notável autonomia e possibilidade de ação é, com certeza, o maior de todos.
Os professores são profissionais que não necessitam seguir instruções
precisas e estritas, a profissão de professor é bem mais complexa e global: trata-
se de lidar com a gestão de um currículo, o que implica uma multiplicidade de
opções e caminhos possíveis. Uma problematização maior se encontra no
ensino da matemática:

Os Tradutores e Intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (TILS),


ainda enfatizaram a necessidade de mais vocabulário em Língua de
Sinais no contexto matemático e dificuldade em relação à velocidade
da fala e da escrita dos professores da área de exatas. A maioria dos
alunos surdos destacaram a necessidade de mais interesse em
aprender matemática, pois nem todos gostam da matéria. Além disso,
consideram importante a presença constante do TILS na sala de aula,
e acreditam que o número destes profissionais ainda é pequeno na
escola. Alguns alunos citaram que as metodologias utilizadas pelos
professores de matemática ouvintes são direcionadas e adequadas a
alunos ouvintes, enfatizando que esse fato tem prejudicado a
aprendizagem dos surdos, por esse motivo solicitam a inclusão de
professores surdos na escola. (ALMEIDA, 2015, p. 138)

Sabe-se que os professores continuam a usar a metodologia para


ouvintes, desse modo, Vasconcelos (2010) chama a atenção para a ausência de
vocabulário específico nas aulas de matemática em Libras, em que os surdos
ficam prejudicados pela comunicação precária.
Ainda segundo o autor:

Devido a estes motivos, a comunidade surda no Brasil tem exigido a


manutenção das escolas de surdos que ainda existem no país, e a
criação de escolas bilíngues, sendo contrária à inclusão como tem sido
praticada hoje nas instituições de ensino, pois muitos alunos surdos
não estão avançando na aprendizagem efetiva das disciplinas
escolares, apesar do TILS na sala de aula e do atendimento recebido,
no turno oposto, nas salas multifuncionais das escolas. Essas

31
considerações trazem para o contexto da sala de aula de matemática
novas demandas vinculadas à busca de metodologias de ensino
adequadas e a processos comunicativos mais efetivos que possibilitem
o interesse, por parte dos alunos, na apropriação e ressignificação dos
conteúdos escolares. (ALMEIDA, 2015, p. 140).

Apoiando as comunidades surdas do Brasil, professores e pesquisadores


tem voltado suas preocupações para o ensino da matemática, buscando novos
métodos de ensino.

4.2 Formação social da mente

Faz-se importante aprender um pouco sobre a criança. Através dos


ensinamentos de Vygotsky e outros autores será estudado agora a formação
social da mente.
Vygotsky, defendia teses sobre a sociabilidade precoce da criança e a
deduzir delas consequências que o levaram à proposta de uma teoria de
desenvolvimento infantil. Vygotsky (1932) escreveu:

É por meio de outros, por intermédio do adulto que a criança se envolve


em suas atividades. Absolutamente, tudo no comportamento da
criança está fundido, enraizado no social. Assim, as relações da
criança com a realidade são, desde o início, relações sociais. Neste
sentido, poder-se-ia dizer que o bebê é um ser social no mais elevado
grau. O fundamental para o bom desenvolvimento da criança é a
convivência com o adulto, é através dessa vivencia que ela irá
conhecer e potencializar a linguagem. Certas categorias de funções
mentais superiores (atenção voluntária, memória lógica, pensamento
verbal e conceptual, emoções complexas, etc.) não poderiam emergir
e se constituir no processo de desenvolvimento sem o aporte
construtivo das interações sociais. (VYGOTSKY, 1932, p. 281)

Silva et al. (2012) afirma que o ambiente familiar colabora desde a tenra
idade para o desenvolvimento sociocognitivo, as relações com os irmãos, com
os pais, com o meio em geral e contribuem como uma ferramenta de auxílio à
criança para sua sociabilidade.
A escola é outro instrumento valioso no desenvolvimento mental, social,
cognitivo, na superação de limites e na construção da autonomia da criança.
Vygotsky (1989) ressalta a importância da educação escolar na vida da
pessoa que apresenta algum tipo de deficiência. A escola e os adultos que a
rodeiam devem acreditar nas possibilidades de participação ativa e interativa
desse aluno no contexto social. O autor considera prejudicial ao

32
desenvolvimento da criança que apresenta algum tipo de deficiência, a
convivência em ambientes segregados em que tudo é adaptado ao seu
problema.
Ao conviver com outras crianças, as pessoas com deficiências são
impulsionadas a desenvolver sua autonomia e o senso crítico. Essas
experiências são enriquecidas e mediadas pela linguagem viva, que os tornam
sujeitos interativos e de certa forma envolvidos nos processos históricos e
socialmente determinados.
Desde o nascimento, a criança inicia seu aprendizado em todas as
direções, para isso sua mente trabalha constantemente à sugar todo o
ensinamento em sua volta. O meio em que a criança vive, os adultos que a
rodeiam, a escola que ela frequenta, todos esses contextos irão contribuir para
formar a sua mente criadora. Aí está a importância do professor na vida das
crianças, ouvintes ou não, com alguma deficiência ou não, com personalidades
difíceis ou tranquilas. Além disso, o professor empenhado vai contribuir para seu
desenvolvimento cognitivo, emocional e vivencial.

4.3 Avaliação do aluno surdo

A avaliação escolar é um recurso indispensável nas escolas tradicionais,


porém o ato de avaliar deve ser consciente de vários fatores, como critérios para
conhecer cada aluno, esperar e exigir dele o que ele realmente possa dar, devido
às condições diferentes de cada um. As capacidades e habilidades de cada
aluno devem ser exploradas através de uma metodologia bem aplicada e
consciente.
Muitos professores encontram dificuldades frente à diversidade que uma
turma apresenta, principalmente quando esta diversidade está relacionada a
limitações de ordem física, sensorial ou cognitiva, mais especificamente quando
está relacionada a alunos que apresentam deficiências físicas, sensoriais e
intelectuais (MAHL; RIBAS, 2013).
Ao fazer o processo avaliativo dos cinco sentidos, segundo Gutierres e
Gama (1999), sem dúvidas, a audição desempenha papel indispensável para
aquisição e desenvolvimento da linguagem. A linguagem oral é um meio de
comunicação que além de satisfazer uma necessidade humana importante, ou

33
seja, o comportamento social é a maneira pela qual ocorre a exteriorização de
pensamentos abstratos por meio de palavras.
O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), criado em meados
do século XIX, ressalta como avaliar e o que focalizar neste processo.
No momento de atribuir conceitos ou estabelecer grau de valor para os
materiais linguísticos produzidos pelo aluno surdo, o professor deverá estar
ciente que:

➢ A dificuldade de redigir em português está relacionada a


dificuldades de compreensão dos textos lidos (conteúdo
semântico) e que essas dificuldades impedem a organização ao
nível conceitual. O aluno poderá ler, mas confundir o significado
das palavras. Muitas vezes, só compreende o significado das
palavras de uso contínuo, o que interfere no resultado final do
trabalho com qualquer texto, mesmo o mais simples.
➢ As dificuldades que a leitura acarreta ao surdo impedem a
expansão do vocabulário e, com isso, provocam a falta de hábito
de ler. O reflexo desse círculo vicioso se reflete na pobreza de
vocabulário e na falta de domínio das estruturas (formas) mais
simples da Língua Portuguesa.

No nível estrutural (morfossintático), observa-se que, mais


constantemente, os alunos surdos não conhecem o processo de formação das
palavras, utilizando substantivo no lugar de adjetivo e vice-versa, omitem verbos,
usam inadequadamente as desinências nominais e verbais, desconhecem as
irregularidades verbais, não utilizam preposições e conjunções, ou o fazem
inadequadamente.
Além disso, tudo leva a crer que, por desconhecerem a estrutura da
Língua Portuguesa, utilizam, frequentemente, estruturas da Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS) para expressarem por escrito suas ideias.
Ao avaliar a produção escrita dos alunos surdos em Língua Portuguesa,
os professores deverão ser orientados para que:

34
➢ O aluno tenha acesso ao dicionário e se possível, ao intérprete no
momento do exame;
➢ Ao avaliação o conhecimento utilizar critérios compatíveis com as
características inerentes a esses educandos;
➢ A maior relevância seja dada ao conteúdo (nível semântico), ao
aspecto cognitivo de sua linguagem, coerência e sequência lógica
das ideias;
➢ A forma da linguagem (nível morfossintático) seja avaliada com
mais flexibilidade, dando maior valor ao uso de termos da oração,
como termos essenciais, termos complementares e, por último, os
termos acessórios, não sendo por demais exigente no que diz
respeito ao elemento coesivo.

Assim, ao avaliar o conhecimento do aluno surdo, o professor não deve


supervalorizar os erros da estrutura formal da Língua Portuguesa em detrimento
do conteúdo. Não se trata de aceitar os erros, permitindo que o aluno neles
permaneça, mas sim anotá-los para que sejam objeto de análise e estudo junto
ao educando, a fim de que possa superá-los.
Além disso, seria injusto duvidar que a aprendizagem efetivamente
ocorreu, tendo-se por base unicamente o desempenho linguístico do aluno
surdo, ponto em que se situam suas principais necessidades especiais.
A avaliação da aprendizagem do aluno surdo é ponto merecedor de
profunda reflexão. Todos os profissionais envolvidos nesse processo deverão
estar conscientes de que o mais importante é que os alunos consigam aplicar os
conhecimentos adquiridos em seu dia a dia, de forma que esses conhecimentos
possibilitem uma existência de qualidade e o pleno exercício da cidadania.

4.4 Educação Física para alunos surdos

Sabe-se que o exercício físico é de extrema importância para todas as


pessoas. Para os surdos não é diferente.
“É a partir da estimulação e desenvolvimento recebido na infância, que a
criança surda terá maiores possibilidades de comunicação, interação e
convivência social, assim como de sua realização pessoal” (DALPIAZ; DUARTE,

35
2009, p. 33). A educação física nas escolas é uma aliada para o desenvolvimento
motor, perceptivo, cognitivo e sociocultural. A criança surda fica mais
espontânea ao ar livre e essa liberdade apoia sua criatividade e expressão.
Segundo os autores, os movimentos corporais tornam o aluno mais aberto a
sociabilidade, a troca de relações, liberando suas emoções, tornando-o mais
ativo, produtivo e integrado.
Destaca-se a criatividade e a espontaneidade dentre as características da
Educação Física já citadas, já que a criatividade proporciona novas descobertas,
novas percepções, revela novas formas e movimentos, onde estão interligados,
principalmente os aspectos emocional, cognitivo e o corporal e, juntamente com
ela, percebe-se a manifestação da espontaneidade através da demonstração
das expressões corporais, a criação de novos gestos, formando uma linguagem
corporal única e individual, que exprime um sentimento positivo e importante
para a sua formação e desenvolvimento (DALPIAZ; DUARTE 2009).
A atividade física faz com que a criança surda descubra sua capacidade
corporal, mental e social, ela se permita uma maior interação com os colegas,
pois os exercícios são quase sempre divertidos e agregam alegria. Num pátio ou
quadra, o próprio espaço físico já oferece uma maior liberdade para a
socialização, saindo de dentro de quatro paredes a inclusão da criança surda é
mais proveitosa, visto que o silêncio da sala de aula às vezes pesa em quem se
sente diferente.
Segundo Dalpiaz e Duarte (2009), as crianças surdas eram excluídas das
aulas de educação física e até mesmo hoje ainda isso acontece, em alguns
lugares.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a
participação nessa aula pode trazer muitos benefícios a essas crianças,
particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades
afetivas, de integração e inserção social. Além disso, afirmam que a Educação
Física para alcançar todos os alunos deve tirar proveito dessas diferenças ao
invés de configurá-las como desigualdades. A pluralidade de ações pedagógicas
pressupõe o que torna os alunos diferentes: justamente a capacidade de se
expressarem de forma diferente.

36
Resumo da aula

Nesta aula estudou-se a formação dos professores de alunos surdos e


seus especialistas: os professores bilíngues, os intérpretes de Libras, os
instrutores de Libras e os professores de língua portuguesa como segunda
língua. Além disso, foi estudado sobre a formação social da mente, a avaliação
do aluno surdo e a Educação Física para alunos surdos.

Atividade de Aprendizagem
Discorra sobre a importância da Educação Física para os
alunos surdos.

37
Resumo da disciplina

Nesta disciplina aprendeu-se que as crianças com dificuldades não


devem ser excluídas de nenhuma atividade nas escolas e que os professores
devem estar preparados para que a inclusão desses alunos seja feita de maneira
sensata e prazerosa, evidenciando também o compromisso do professor para
com seu aluno surdo em ofertar para seus alunos uma metodologia absoluta e
integral.
O conteúdo estudado ofereceu a oportunidade de refletir-se sobre o que
está sendo oferecido e o que mais pode oferecer-se ao aluno com deficiência
auditiva e ainda, a relação entre o professor e os alunos, a convivência entre os
alunos surdos e ouvintes, o bem-estar de todos numa proposta real, equilibrada
e clara.

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