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Introdução a Optometria

Comportamental
Habilidades Visuais Essenciais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Esp. Núbia Albergoni

Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Habilidades Visuais Essenciais

• Introdução;
• Vias de Percepção Visual – Processamento Visual.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Rever quais são as vias de entrada (vias aferentes) da informação visual, sua anatomia e suas
principais características;
• Conhecer mais detalhes dessas vias (sim, há mais de uma);
• Entender de maneira clara e objetiva como elas interferem diretamente sobre a visão do
paciente e na filosofia Comportamental;
• Entender, mais profundamente, como se desenvolve a construção do pensamento e proces-
samento visual.
UNIDADE Habilidades Visuais Essenciais

Introdução
A Optometria Comportamental tem íntima relação com a Neurociência, e é com
base nela que vamos entender melhor quais são as rotas visuais existentes, que con-
vergem com a filosofia Comportamental.
Primeiramente, você precisa entender o conceito básico das seguintes habilidades
visuais: movimentos oculomotores, acomodação e percepção visual.
Mas antes de ir profundamente, trago
à tona alguns detalhes já conceituados:
os olhos são controlados pelos músculos
extraoculares, que fazem os movimen-
tos horizontais e verticais, para que seja
possível observar todo o campo de vi-
são com ambos os olhos. Pensando nos
músculos, às vezes passa batido quem
os controla. Por meio de três pares de
nervos cranianos, que adquirem os es-
tímulos eferentes através de centros de
controle situados no tronco encefálico,
juntamente com o córtex visual que os Figura 1
Fonte: Fotolia
movimentos horizontais conscientes.
• Movimentos oculomotores: Segundo Kandel et al. (2013), existem seis sis-
temas de controle neuronal que mantêm os olhos em seu alvo: movimentos
sacádicos – que desviam rapidamente para que o alvo mantenha-se na fóvea;
os movimentos de seguimento – são movimentos suaves, realizados quando
os olhos estão em movimento, mantendo as imagens sobre a fóvea; os movi-
mentos de vergência – que movimenta os olhos em direções opostas para que
ambas as imagens fiquem posicionadas em ambas as fóveas; reflexos vestíbulo-
-oculares – mantêm as imagens fixas na retina durante breves movimentos de
cabeça; e os movimentos optocinéticos – mantêm as imagens fixas durante
rotações de cabeça. O sexto sistema é o de fixação, mantendo o olhar inten-
cional fixo, quando a cabeça não está movimentando-se. Nesse caso, é preciso
uma supressão ativa dos movimentos oculares.
É importante destacar que esses sistemas ocorrem dependendo da demanda visual,
distância do objeto em foco e sincronia entre os dois olhos. Kandel et al. (2013) tam-
bém afirmam que, já no século XlX, Hermann Helmholtz e outros psicofísicos foram os
primeiros a estudar a importância dos movimentos oculares para a percepção visual.

Especificamente para o estudo em Comportamental, ressaltam-se muito os mo-


vimentos oculomotores. Em relação a eles, Leonard Press (2008) descreve da se-
guinte maneira:
Os movimentos sacádicos dependem da informação da periferia da retina
para dizer ao cérebro que há algo de interesse em seu campo que deve
ser visto. O cérebro calcula a distância e a direção. As vias adequadas­

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serão estimuladas para fazer com que a fóvea seja centralizada no ob-
jeto. Os seguimentos, por outro lado, podem ser iniciados por uma
sacada, mas a fixação é mantida no objeto. Ou seja, o objetivo da busca
é manter o objeto centrado na fóvea. Os movimentos de seguimento
são lentos e contínuos, os sacádicos são rápidos e iniciados por uma
explosão de impulsos.

Importante ressaltar que, para iniciar um movimento sacádico, é preciso que


uma família de neurônios chamados neurônios de salva (ou de explosão) deem o
impulso ao sacádico, dando incentivo para o movimento. Os movimentos sacádi-
cos têm início na formação reticular pontina paramediana, próximo ao núcleo do
nervo abducente, ao qual projeta-se. Há outras classes desses neurônios, como os
neurônios de média duração (médium lead) e neurônios de pausa, localizados no
rafe dorsal, na linha média. Esses neurônios bloqueiam o movimento sacádico, de
maneira que não haja movimentos indesejados e que eles sejam controlados volun-
tariamente (PRESS et al., 2013). Entenda na figura a seguir:

Figura 2 – Conexões dos Movimentos Sacádicos


Fonte: KANDEL et al. (2014)

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Segundo Lent (2010), a localização dos objetos no espaço depende de mapas


topográficos (visuotópicos) precisos, representados, principalmente, no colículo su-
perior do mesencéfalo, cujos neurônios estão ligados ponto a ponto com neurônios
motores que ativam os músculos dos olhos, do pescoço e do corpo.

O sistema oculomotor está intimamente ligado aos sistemas vestibular e proprio-


ceptivo do corpo.

Há uma médica alemã especialista em problemas de percepção. Ela chama-se


Dr.ª Heike Schuhmacher (2017) e escreveu um livro incrível, explicando para pais e
professores como problemas nas habilidades visuais podem atrapalhar no desenvol-
vimento acadêmico dos pacientes. No livro, ela explica de maneira muito interessante
os movimentos oculomotores:
Uma vez que abrimos os olhos, eles permanecem constantemente em
movimento. Durante as chamadas fixações, quando nossos olhos estão
fixos no que estamos vendo, a informação visual é percebida e processa-
da conscientemente. Os movimentos rápidos dos olhos de uma fixação
para a próxima são chamados de sacadas (do termo latino para movimen-
tos bruscos). Uma sacada do olhar, então, é um movimento muito rápi-
do dos dois olhos, enquanto eles navegam para outro ponto de fixação.
As sacadas também podem ser descritas como movimentos balísticos, o
que significa que, uma vez que uma sacada está em andamento, o movi-
mento não pode ser corrigido ou ajustado enquanto estiver em andamen-
to. De fato, no breve momento de pular rapidamente de um olhar sacado
para o outro, nossos olhos não estão recebendo nenhuma informação,
mas são “cegos”. As sacadas podem atingir velocidades angulares de
1.000 graus por segundo; suas amplitudes variam de 60 graus a um máxi-
mo de 600 graus, e cada sacada dura entre 30 e 100 milissegundos. Olhar
para um objeto à distância requer movimentos opostos dos olhos. Os eixos
de ambos os olhos se voltam para dentro, um em direção ao outro, em
movimento de convergência. Ao mesmo tempo, o reflexo de convergência
da acomodação ajusta a nitidez da imagem à distância de visualização.
É claro que essa descrição dos movimentos oculares se aplica apenas à
fixação constante em um ponto. Se outras funções visuais são necessárias
ao mesmo tempo, a coordenação do músculo ocular se torna ainda mais
complicada. Por exemplo, para ler ou escrever, nossos olhos devem se
mover consistentemente na horizontal e também na vertical à medida que
avançamos de uma linha para a próxima. Durante esses movimentos, nos-
sos olhos devem manter a posição de convergência básica de seus eixos de
maneira confiável e consistente. (SCHUHMACHER, 2017, p. 74)

Lendo atentamente a descrição da Dr.ª Heike, fica perceptível que o controle dos
movimentos dos olhos são ocorre de forma tão simples nem ocorre sozinho. Há outros
mecanismos envolvidos, como acomodação, controle oposto dos movimentos, leitura,
escrita. Não é incomum que haja problemas e que esses pequenos movimentos não
sejam feitos de maneira correta.
• Acomodação: o sistema acomodativo tem como objetivo principal o foco e a
nitidez no objeto de interesse. É por meio desse mecanismo que conseguimos

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focar em visão próxima, de várias distâncias diferentes. É realizada pelo crista-
lino, músculo ciliar e suas zônulas, relaxando e ativando. A acomodação está
intimamente ligada com a vergência, e uma depende da outra para que haja
flexibilidade e sustentação do foco.

É interessante pensar no sistema acomodativo como a função “macro” da câmera


fotográfica. É ele que é usado para enfocar detalhe próximos ou dar ênfase a um
objeto de destaque. Para que isso ocorra, seu sistema de lentes precisa ser ajustado
e o foco tem que ser posto exatamente no objeto em questão. Quando isso ocorre,
as imagens que o fotógrafo prefere tem destaque e seu entorno fica embaçado. Mas
caso ele não consiga administrar essa função de foco, perde-se a nitidez do objeto
em questão, perde o sentido da foto. O sistema acomodativo funciona de maneira
semelhante. É preciso ter controle para que a imagem fique nítida tanto em visão
próxima quando a distância, possibilitando realçar a imagem de atenção.

Relação AC/A
Enquanto o sistema acomodativo se organiza para o enfoque, outros são ativados
simultaneamente, chamado Tríade Visual: acomodação, miose e convergência. O fecha-
mento do diafragma da câmera também assemelha-se a outra habilidade ocular, que
é a miose (observe a imagem a seguir), fazendo o controle de entrada de luz. Quando
o indivíduo olha em visão próxima, é esperado que essa Tríade ocorra. E há muita
relação entre a acomodação e a convergência, chamado de Relação AC/A.

Figura 3
Fonte: Getty Images

Schuhmacher (2017) explica de maneira leve essa correlação, principalmente em


crianças na idade escolar:
O Reflexo de Acomodação-Convergência: Para poder ler, você precisa
ter uma convergência estável enquanto seus olhos olham para o texto
e precisa de uma qualidade visual perfeita e deve executar uma leitura

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UNIDADE Habilidades Visuais Essenciais

horizontal uniforme, movimentos de sacada com os dois olhos simulta-


neamente. Como mencionado acima, nesse processo o nervo regula o
diâmetro da pupila e o tônus ​dos músculos ciliares: estes, por sua vez,
controlam a curvatura da lente e a função de foco automático, o ajuste
da nitidez da imagem à sua distância do objeto que você está olhando.
(...) Agora, imagine que você está copiando algo do quadro-negro para
o seu caderno, sua distância até o caderno é de cerca de 16 polegadas
(40 cm), enquanto a distância para o quadro é de aproximadamente
6 metros. Claramente, é necessário ajustar a nitidez da imagem, bem
como os movimentos de convergência e divergência, às mudanças rá-
pidas entre essas distâncias. Todos esses movimentos e ajustes devem
ser perfeitamente coordenados. Olhar para o notebook também envolve
olhar um pouco para baixo e olhar para o quadro significa ter que olhar
para cima e, portanto, todos os 12 músculos oculares devem trabalhar ao
mesmo tempo na velocidade máxima e na capacidade total para que você
possa executar esses movimentos, em sequência rápida e com a preci-
são necessária. A atividade complexa descrita acima envolve o reflexo de
acomodação-convergência, que é um reflexo combinado. Todos os com-
ponentes desse reflexo são coordenados e sincronizados automaticamente
e com grande precisão trabalham juntos ao mesmo tempo. Por exemplo,
se os eixos dos nossos olhos convergem apenas ligeiramente, o reflexo
da acomodação é acionado imediatamente e automaticamente. Por outro
lado, mesmo o menor impulso de acomodação desencadeia um pequeno
movimento de convergência. Não há outra alternativa fisiológica. Em ou-
tras palavras, se nossos olhos se moverem levemente para dentro, a lente
de ambos os olhos será imediata e automaticamente ajustada de tal manei-
ra que ainda possamos ver claramente. (SCHUHMACHER, pg. 76, 2017)

Há diversos tipos de acomodação, como estudado, mas, nesse caso, focaremos


na acomodação consciente, quando o paciente escolhe onde focar e manter o foco.
Há vários problemas acomodativos (excesso, insuficiência e inflexibilidade de aco-
modação etc.), ainda mais nos dias de hoje, em que as atividades em visão próxima
e excesso de telas está no auge. Com trabalho excessivo em curtas distâncias, é
gerado um estresse visual, obrigando o sistema de foco a adaptar-se para manter o
rendimento, podendo gerar problemas acomodativos.

Figura 4 – Imagem real de um cristalino relaxado (à esquerda) e ativado (à direita)


Fonte: ALBERGONI (2019)

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Antes de entender sobre a percepção visual, será explanado como os mecanismos
anteriores ocorrem em nível neurológico. Acompanhe a seguir.

É importante ressaltar que o entendimento dos caminhos dos estímulos aferentes


são de suma importância, pois são as vias que serão trabalhadas em terapia visual.
Também reforço que, em todo seu caminho, a visão sempre tem duas vias: uma que
leva a informação visual periférica e outra, a informação visual central. Uma depende
intimamente da outra, mas são separados para fins didáticos.

Vias Visuais
Segundo Kendal et al. (2014), são divididas em três, pois fica didaticamente mais
fácil de entender as rotas visuais. A primeira ele chama de via geniculoestriatal, ou
seja, passa pelo Núcleo Geniculado Lateral (NGL) e chega até o córtex visual. Essa
primeira via é a do processamento visual. Ela passa por todas as estruturas: Retina
> Nervo Óptico > Quiasma Óptico > Núcleo Geniculado Lateral (NGL) > Radiações
Ópticas > Córtex Occipital.

Figura 5 – Via do processamento visual


Fonte: KANDEL et al. (2014)

A segunda via é a de reflexo pupilar e acomodação, também conhecida como


via pré-tectal do mesencéfalo, responsável pela miose e midríase e controle acomo-
dativo, ativando ou relaxando o cristalino. Os impulsos nervosos são retransmitidos
da área pré-tectal no mesencéfalo para eferência parassimpática para o nervo ocu-
lomotor (Núcleo de Edinger-Westphal), finalmente chegando ao gânglio ciliar, que
faz o controle da ação dos músculos lisos, os quais controlam os reflexos pupilares
e a acomodação.

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Figura 6 – Reflexo pupilar e acomodação


Fonte: KANDEL et al. (2014)

A terceira via é responsável pelos movimentos oculares, que o autor chama de


movimentos horizontais, referindo-se, também, aos movimentos oculomotores.
O destaque nessa rota vai para o colículo superior, área responsável por esses movi-
mentos. Dr. Leonard Press (2008, p. 138), afirma que:
80% das fibras no NGL vão para o córtex, mas 20% delas vão direto para
o colículo superior. Portanto, o NGL é o centro da via geniculocortical e o
colículo superior, o centro de uma via subcortical tectopulvinar. Nenhum
desses sistemas funciona bem sozinho.

Figura 7 – Movimento ocular (horizontal)


Fonte: KANDEL et al. (2014)

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Trocando Ideias
Querido aluno, aqui foram colocados dois autores que convergem nas rotas visuais, po-
rém com nomes diferentes, e, no caso do Dr. Kandel, ele separou em três vias, para que
ficasse claro didaticamente o caminho de cada aferência, mas geralmente aprendemos
apenas duas vias, como possivelmente você aprendeu, e está tudo bem, OK? Coloquei as
duas para que fique claro como elas ocorrem, seus principais atuantes e seus caminhos.
O importante é saber que existem duas vias principais, responsáveis pelo controle de
acomodação, movimentos oculomotores, reflexos pupilares e processamento visual.

Vias de Percepção Visual –


Processamento Visual
A via geniculoestriatal, como explanada nas páginas anteriores, é a via do proces-
samento, pois vai da retina até o córtex occipital, responsável por receber todas as
informações visuais iniciais.

Após a recepção nessa área, as informações são enviadas para o lobo parietal
(via dorsal – responsável pelos movimentos) e lobo temporal (via ventral – respon-
sável por reconhecimento dos objetos), e então para outras áreas de associações
corticais. Entenda:

Figura 8 – Vias Magno e Parvocelular


Fonte: KANDEL et al. (2014)

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A partir do Núcleo Geniculado Lateral (NGL), as fibras são separadas de acordo


com a informação trazida da retina em duas vias: ventral e dorsal. Chegando ao cór-
tex visual primário – na área V1, elas trocam de fluxo, e a via magnocelular responde
pela via dorsal (lobo parietal); e a via parvocelular, pela via ventral (lobo parietal).

Importante!
Perceba que do NGL até o córtex visual, o caminho parvocelular é pela via dorsal e o
magnocelular, pela via ventral. Chegando ao córtex, eles mudam de posição, ficando
a via parvocelular > via ventral e magnocelular > via dorsal. Por isso são chamados
primeiramente de projeções do NGL para o córtex visual.

Foi colocada essa informação de forma destacada, pois muitos estudantes têm essa
dúvida e acabam confundindo, pois chega de uma maneira e então é trocada. Atente-se!
• Via magnocelular: responsável por interpretar os sinais de movimento, orien-
tação e profundidade, representado pelas células parasol (guarda-chuva). Após
aterrizar na via parietal posterior, estende-se para o córtex frontal, fazendo co-
nexões com áreas do córtex pré-frontal. É uma via rápida e sensível, diretamente
ligada ao sistema motor. Responde à pergunta “onde está o objeto de interesse?”;

Figura 9 – Via magnocelular


Fonte: KANDEL et al. (2014)

• Via parvocelular: responsável pelo reconhecimento de cores, formas, rostos e


detalhes. É uma via um pouco mais lenta, levando segundos a mais para acessar
os centros de memória e dar sentido aos detalhes observados. Quem faz parte
dessa via são as células anãs (midget);

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Figura 10 – Via ventral (reconhecimento de objeto)
Fonte: KANDEL et al. (2014)

• Via koniocelular: é importante que essa via seja citada. É relativamente uma
descoberta recente em relação às outras, e encontra-se entre as fibras das cama-
das da via magno e parvocelular, sendo responsável pela detecção de determi-
nados tons de ondas curtas, como o azul e o violeta. Tem relacionamento com
o ciclo circadiano, podendo estar envolvido nas mudanças de humor. Mas ainda
há muita pesquisa a ser feita para o entendimento completo dessas células.

Fusão das Imagens


Antes de efetivamente passar para o processamento visual, precisa ser ressaltado
que, após toda a sincronia do sistema acomodativo com os alinhamentos dos eixos
visuais e movimentos oculares, é preciso que essas imagens sejam fusionadas no cór-
tex visual. Se todas essas habilidades essenciais estiverem organizadas e funcionando
juntas, teremos fusão das imagens (“deu match!”), e só então teremos o processa-
mento visual adequado.

Caso isso não ocorra da forma esperada, seja por um desalinhamento dos eixos vi-
suais (no caso de estrabismo, por exemplo), ou da não sincronia entre os movimentos
oculomotores, ou até mesmo um problema no controle do sistema de foco, o paciente
irá ver duplo ou irá suprimir a imagem (como a ambliopia, por exemplo). Será aborda-
do o tema mais profundamente nos capítulos que virão, mas é importante que você já
faça essa correlação, mesmo que seja “imperceptível” num primeiro momento.

E no caso de crianças que estão na fase de aprendizado com altas demandas


visuais, como a leitura e escrita, podem ter esse tipo de comportamento e nem se
quer ter consciência disso. Demonstra muita dificuldade, porém, “aparentemente”,
não tem nada. Atente-se aos sintomas que serão apresentados aqui e correlacione
com os achados clínicos, para que possa dar o melhor conforto e rendimento visual
a esse paciente.

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Essa sincronia entre os sistemas e entre os dois olhos é pré-requisito para ter visão
em três dimensões – visão 3D.
• Processamento visual: a visão é um sentido, que – apesar de redundante –
precisa ser sentido, ou seja, aprendido, desenvolvido e refinado. É um processo
de nível superior, que deve ser associado com outras áreas através dos córtices
associativos. Memória, áreas motoras, audição e linguagem são algumas das
associações que são feitas, sendo o estímulo visual essencial para os vários tipos
de aprendizagem.

Kandel (2014, p. 523) coloca o processamento visual em três níveis: inferior, inter-
mediário e superior. O nível inferior compreende a informação aferente, proveniente
da retina, analisando essencialmente contrastes das imagens adquiridas. Assim que
chega ao córtex visual, são identificados a orientação dos contornos dos objetos,
campos de movimento, limites de superfícies e distinção entre luminosidade e cor,
um processo que ele chama de integração de contorno. Finalmente, o nível supe-
rior de processamento faz a integralização das informações visuais com outras áreas
de associação, conduzindo ao que ele chama de “experiência visual consciente”.
Segundo ele, “o processamento de nível superior seleciona atributos comportamen-
tais significativos do ambiente visual”.

Todas as vias são avaliadas e trabalhadas durante a terapia visual. A integração


central-periferia é muito importante tanto em nível de processamento visual quanto
em nível motor global.

Figura 11
Fonte: Getty images

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“A integração de informações visuais é um processo em que a percepção e com-
preensão do mundo visual ocorrem simultaneamente” (PRESS, 2008, p. 189).

Segundo Leonard Press (2008), existem subsistemas que estão intimamente e


intrinsicamente ligados, sendo as três principais áreas do processamento da informa-
ção visual: análise visuoespacial, análise visual e integração visuomotora. As habili-
dades motoras fornecem uma base essencial para o processamento das informações
visuais no desenvolvimento.

É importante ressaltar que, na terapia visual, é sempre dada muita importância


para o controle visuomotor, pois a visão controla 80% de toda aprendizagem que
obtém do ambiente externo e, em harmonia com o sistema motor, será enviada a
informação eferente, de ação e comportamento.

Por meio do ótimo funcionamento das habilidades visuais essenciais, o paciente


desfruta de um ótimo rendimento das atividades que exijam altas demandas visuais,
cansando menos, rendendo mais e sem sintomas visuais ao final das tarefas. Não seria
ótimo? É possível! A Optometria Comportamental oferece ferramentas para que
você, optometrista, proporcione isso aos seus pacientes.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
Konio Pathway: um mecanismo visual instintivo para sobrevivência e tomada de decisão?
https://bit.ly/3f1MqH6
Evidências psicofísicas para vias danificadas Magno, Parvo e Konio-celular em crianças disléxicas
https://bit.ly/32PuKf1
Morfologia do sistema visual
https://bit.ly/3fUERTz
Percepção visual e desenvolvimento cognitivo
https://bit.ly/39p8GcD

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Referências
KANDEL, E. et al. Princípios de neurociências. 5. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais sobre neurociência.


2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu. 2010.

PRESS, L. Applied concepts in vision therapy. 2. ed. New Jersey, NY: Optometric
Extension Program Fndtn; OEP Edition, 2008.

SCHUHMACHER, H. Vision and learning: a guide for parents and professionals.


Monee, IL, USA: Tredition, 2017.

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