Conforme depreende-se do acórdão analisado, no que tange à
legislação aplicável no espaço, em que pese o empregado tenha realizado suas atividades no exterior, o mesmo fora contratado no Brasil, sob a regência das normas brasileiras, cuja legislação trabalhista lhe é a mais favorável.
Deve-se aplicar a legislação brasileira em observância ao princípio
da norma mais favorável, que norteia a solução jurídica quanto há concorrência entre normas no Direito Internacional Privado, na área trabalhista .
II. APLICAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO NO TEMPO:
Em que pese não haja Acordo ou Convenção Coletiva de trabalho,
no presente caso, é cediço que, após a reforma trabalhista, a teoria da aderência limitada pelo tempo poderá ser aplicada ao empregado, haja vista que as cláusulas coletivas aderem ao contrato de trabalho no período de vigência do instrumento normativo.
III. INTERPRETAÇÃO JURÍDICA E A APLICABILIDADE DA NORMA MAIS
FAVORÁVEL AO EMPREGADO:
O Tribunal Superior do Trabalho (TST), por meio da jurisprudência
(Recurso de Revista TST-E-RR-219000-93.2000.5.01.0019), utilizou-se da interpretação daquele julgado, o qual assegurou direitos trabalhistas previstos na lei brasileira “a um trabalhador contratado no Brasil e que prestava serviços à subsidiária da empresa nacional no exterior”, para fundamentar a aplicabilidade da legislação brasileira no acórdão estudado.
Acerca do mesmo ponto, houvera a utilização e interpretação de que
a Lei nº 7.064/82 assegura ao empregado contratado no Brasil que trabalha no exterior, a aplicação da norma nacional, posto que é a legislação mais favorável.
Todavia, vale ressaltar que por meio da Súmula nº 207 do TST, o
entendimento era de que “a relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por aquelas do local da contratação”.
Entretanto, a partir da interpretação hermenêutica das Leis nºs 7.064/1982
e 11.962/2009, o entendimento evoluiu, culminando com a decisão proferida pelo Tribunal e o cancelamento da referida súmula em abril de 2012. O TST cancelou a Súmula 207 porque a tese não espelhava a evolução legislativa, doutrinária e jurisprudencial sobre a matéria.
Nesse interim, buscou-se a utilização de métodos de
heterointegração para a interpretação caso.
Ademais, a aplicação da norma considerou a situação fática quanto
à fase inicial de seleção da empregada, ao labor o qual foi realizado igualmente no Brasil, a residência da empregada em território brasileiro, sendo notória tal aplicação da legislação pátria.
Além do mais, não se ignorou a importância normas de Direito
Internacional oriundas da ONU e da OIT sobre os trabalhadores marítimos, apesar da não ratificação, pelo Brasil, da Convenção n° 186 da OIT sobre Direito Marítimo – MLC, eis que não há conflito entre a aplicação da legislação brasileira mais favorável ao empregado, em relação àquelas previstas aos trabalhadores estrangeiros que estejam no mesmo local de trabalho (navio). IV. ANALOGIA:
De acordo com o caso abordado, utilizou-se o recurso da analogia
no momento da apresentação de um julgado tratando de prestadores de serviço vinculados às atividades circenses, cujo empregado foi contratado no Brasil para prestar serviço no exterior.
Isto é, mostra-se que a legislação brasileira incidirá sobre o contrato
de trabalho quando for mais benéfica ao empregado, se comparado as normas estrangeiras, assim como no julgado em análise da empregada contratada para prestar serviço em um cruzeiro internacional.
Também utilizado o princípio do centro da gravidade, que busca
onde o contrato de trabalho tem uma relação mais significante e, no caso analisado, foi verificado que a causa está “intimamente conectada com o direito nacional”. Dessa forma, considerada a contratação e treinamento feitos em território nacional, o contrato de trabalho do empregado está submetido às regras trabalhistas brasileiras.
V. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO:
Conforme exposto acima e no decorrer do julgado, a utilização de
fontes formais heterônomas são, evidentemente, de grande destaque para o auxílio dos operadores do direito, tais como a jurisprudência, legislação e o Direito Internacional oriundas da ONU e da OIT.
VI. PRINCÍPIOS GERAIS E DO DIREITO DO TRABALHO:
Buscou-se apresentar, segundo análise do acordão, a utilização de
princípios gerais, tais como isonomia e razoabilidade ao ser disposto que:
Nesse caso há diferenciação entre trabalhadores baseada em
critérios objetivos (regência legislativa distinta), e não discriminação fundada em critérios subjetivos oriundos de condições e/ou características pessoais dos trabalhadores.
Além do mais, o princípio da proteção ao empregado foi o norte para
o intérprete no caso em questão e, nesse sentido, o seu desdobramento pela norma mais favorável ao empregado.
Outrossim, o princípio da imperatividade merece destaque, também,
no sentido de que a legislação trabalhista é inafastável ao empregado.
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O julgamento apresentado é a demonstração da efetiva análise,
interpretação e utilização da hermenêutica jurídica pelos julgadores, eis que foram assegurados os direitos trabalhistas do empregado, o qual fora contratado sob a égide da norma pátria mesmo com atividades a serem executadas no exterior.
Sendo assim, é imperativa a Lei Maior (CF/88), no sentido da
proteção do trabalhador e de sua dignidade, constituindo cláusula pétrea as garantias previstas no art. 7ª, demonstrando lugar especial, inclusive frente ao direito internacional, ante soberania do Estado e de suas normas internas.