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Mutilação Genital:

A mutilação genital consiste no corte parcial ou total dos genitais. É uma prática
comum em certas comunidades, principalmente com bebés de sexo feminino,
geralmente para inibir o prazer sexual, podendo ser permanente ou temporária.
Este rito, inicialmente praticado por comunidades de países africanos e do Médio
Oriente, consiste na remoção total ou parcial dos órgãos genitais a meninas e
jovens com idades compreendidas, geralmente, entre os 3 e os 17 anos (a idade
pode variar, dependendo da comunidade que pratica o corte).
A Mutilação Genital Feminina (MGF) refere-se à excisão parcial ou total dos órgãos
genitais femininos. A MGF é praticada de mulheres para mulheres. Geralmente, são
as mulheres mais velhas, conhecidas por cortadoras ou fanatecas (no caso da
Guiné-Bissau), que gozam de um estatuto social elevado por procederam ao corte,
apesar de, na maioria das vezes, não terem qualquer tipo de formação médica para
procederem a este tipo arcaico de cirurgia. Geralmente, são os próprios familiares
das meninas (muitas vezes as mães e avós) que pedem à cortadora que proceda ao
ritual. Os procedimentos são realizados sem anestesia e, além da cortadora, são
necessárias outras mulheres, geralmente familiares das crianças, para imobilizar as
meninas. A intervenção pode demorar 20 minutos ou mais, pois depende da
habilidade da excisadora, da extensão do corte e da resistência oferecida pela
menina .
Já no caso da Mutilação Genital Masculina, dependendo da gravidade, a mutilação
pode ser uma circuncisão ou uma castração. A circuncisão é praticada como ritual
religioso principalmente por judeus e muçulmanos, e como medida profilática por
muitos médicos, especialmente nos Estados Unidos. Como uma medida de higiene,
há quem defenda que seja útil para impedir a acumulação de uma secreção genital
chamada esmegma, no espaço entre a glande e o prepúcio que a recobre. Se o
esmegma não for removido, torna-se um mal cheiroso campo de cultivo de bactérias
que causam grande irritação e é foco de infecções. É realizada em certos casos de
fimose, parafimose ou quando a glande não pode ser libertada. Para estes últimos
casos, existe como alternativa à circuncisão, uma terapia local de creme esteróide
que parece ser eficaz; e mesmo quando esta falha, há ainda a prepucioplastia, uma
cirurgia que corrige o prepúcio sem removê-lo.
No caso de crianças intersexo que nascem com características genitais atípicas
tem-se tornado prática comum as sujeitar a intervenções cirúrgicas desnecessárias
e a outros procedimentos que têm como propósito tentar fazer com que a sua
aparência genital esteja de acordo com a definição típica de sexo masculino ou
feminino. Tais procedimentos, frequentemente irreversíveis, podem causar
permanentemente infertilidade, dor, incontinência, perda de sensação no acto
sexual, sofrimento mental para o resto da vida, incluindo depressão. Regularmente
são praticados sem o pleno consentimento, livre e informado, da pessoa em
questão. Muitas vezes, esta é demasiado nova para poder tomar uma decisão e
estes procedimentos podem violar os seus direitos à integridade física, a viver livre
de tortura e outros atos degradantes ou desumanos. Estas intervenções têm
frequentemente como base normas culturais e de género e crenças discriminatórias
relativas a pessoas intersexo e a sua integração na sociedade.Sendo algumas
vezes justificados por argumentos com base em benefícios de saúde, mas estes
são frequentemente propostos com base em provas fracas e sem a discussão de
soluções alternativas que protejam a integridade física e respeitem a autonomia da
pessoa. Tais crenças e pressões sociais são frequentemente refletidas pela
comunidade médica, e também por familiares responsáveis das crianças intersexo,
que encorajam ou dão o seu consentimento para que tais procedimentos sejam
feitos. Independentemente da falta de indicação médica, necessidade ou urgência, e
também apesar do facto de que tais procedimentos possam violar direitos humanos.
Muitas vezes o consentimento é dado na ausência de informação sobre as
consequências a curto e longo prazo sobre tal cirurgia e também com a falta de
contacto com outras pessoas adultas intersexo e as suas famílias. Muitas pessoas
adultas intersexo que foram expostas a cirurgias enquanto crianças realçam a
vergonha e estigma associados à tentativa de apagar os seus traços intersexo, tal
como o sofrimento físico e mental, incluindo como resultado as cicatrizes extensivas
e dolorosas. Muitas também sentem que foram forçadas a assumirem um sexo e
género que não lhes é adequado. Dado à natureza irreversível e o impacto na
autonomia e integridade física da pessoa, tais procedimentos cirúrgicos
desnecessários não-consentidos, procuram atualmente ser proibidos por várias
organizações ao redor do mundo.
Portugal é considerado pela OMS(Organização Mundial de Saúde) um país de risco
em relação à mutilação genital feminina, pois é um país de acolhimento de
imigrantes africanos para os quais a MGF é uma realidade. Entre janeiro de 2018 e
dezembro de 2021 foram registados 433 casos de mutilação genital feminina (MGF)
em Portugal, de acordo com o mais recente relatório da Divisão de Saúde Sexual,
Reprodutiva, Infantil e Juvenil da Direção-Geral da Saúde, divulgado no Dia
Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
Posto isto, a problemática da mutilação genital é um tema bastante sensível, que
requer um tratamento especial, pois cria no ser humano os mais diversos
sentimentos, que se estendem desde a revolta, ao medo, à pena, à compreensão e
até entendimento duma realidade que não é nossa, mas que merece respeito.
Quando me foquei no tema da Mutilação Genital, a minha maior dificuldade era
compreender porque um ato que, inicialmente, adjetivava como bárbaro poderia ter
uma representação tão extensa no mundo atual, apesar de todos os esforços que já
foram e estão a ser feitos para a eliminação desta prática.

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