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DIREITO AMBIENTAL
Introdução ao Direito Ambiental
Nilton Coutinho
Sobre o autor:................................................................................................................................................... 5
Apresentação.................................................................................................................................................... 5
Introdução ao Direito Ambiental. ............................................................................................................. 6
1. Meio Ambiente e sua Proteção. ............................................................................................................ 6
1.1. Direito e Desenvolvimento................................................................................................................... 7
1.2. Ética Ambiental e Cidadania. ..............................................................................................................8
1.3. Meio Ambiente: Conceito e Classificação..................................................................................... 9
1.4. Meio Ambiente e Direitos Fundamentais................................................................................... 12
1.5. Bens Ambientais.................................................................................................................................... 14
2. Do Direito Ambiental.............................................................................................................................. 15
2.1. Evolução Histórica da Proteção do Meio Ambiente.. ............................................................. 16
2.2. Fontes do Direito Ambiental........................................................................................................... 16
2.3. Tutela Internacional do Meio Ambiente. . ....................................................................................17
2.4. A proteção do Meio Ambiente na Constituição Federal..................................................... 19
2.5. Deveres do Estado na Área Ambiental..................................................................................... 23
3. Interesses Difusos e Coletivos.......................................................................................................... 24
3.1. Da Proteção do Meio Ambiente em Juízo. . ................................................................................ 25
3.2. Da Lei de Ação Civil Pública............................................................................................................ 26
3.3 Do Inquérito Civil. .................................................................................................................................. 26
3.4 Coisa Julgada em Sede de Direitos Transindividuais. . ......................................................... 26
3.5. Legitimidade para Propositura da ACP......................................................................................27
3.6. Termo de Ajustamento de Conduta. . .......................................................................................... 28
3.7. Medidas Cautelares e a Eficácia Instrumental das Tutelas Mandamentais em
Matéria Ambiental....................................................................................................................................... 29
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Introdução ao Direito Ambiental
Nilton Coutinho
Sobre o autor:
Nilton Carlos de Almeida Coutinho é Procurador do Estado de São Paulo com vasta expe-
riência na área do direito público (com ênfase em direito ambiental e administrativo)
É doutor em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e
mestre em direito pelo Cesumar/PR.
Apresentação
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Nilton Coutinho
A proteção do meio ambiente é um tema que vem ganhando cada dia mais relevância no
mundo atual. Assim, se no passado não havia uma preocupação em estabelecer normas dis-
ciplinando sua utilização e proteção1, hoje as normas protetoras do direito ao meio ambiente
encontram-se previstas na maioria das Cartas Constitucionais.
José Afonso da Silva2 relembra que “o ambientalismo passou a ser tema de elevada im-
portância nas Constituições mais recentes”. Contudo, cumpre esclarecer que, muito embora
a inserção de um capítulo específico sobre o meio ambiente só tenha ocorrido com a promul-
gação da Constituição Federal de 1988, sua proteção possuía amparo constitucional anterior.
Tal raciocínio é possível se levarmos em consideração que a proteção do meio ambiente se
constitui como derivação da proteção do direito à vida, de tal forma que, por este possuir am-
paro constitucional, a proteção daquele é possível por via reflexa.
Como bem preleciona Édis Milaré3, com o advento da Constituição de 1988, a proteção
jurídica do meio ambiente passou a ter identidade própria, deixando de ser um bem jurídico
per accidens, elevando-se ao status de bem jurídico per se. Deste modo, a criação de uma
proteção jurídica autônoma para o meio ambiente permitiu-lhe uma proteção mais efetiva,
1
A título de exemplo, rememore-se o processo predatório de exploração do pau brasil pelos português nas primeiras décadas
do século XVI. Nesse período, corte de pau-brasil foi feito em larga escala, de maneira rudimentar e impiedosa, desmatando
a costa brasileira, sem qualquer tipo de preocupação socioambiental ou em relação à preservação de tal tipo de madeira.
2
SILVA, José Afonso da Silva. Direito Ambiental Constitucional, p. 43.
3
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente, p. 300.
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sem que seja necessário pleitear sua proteção como se este fosse uma derivação do direito
à saúde humana.
Segundo José Afonso da Silva4 “as normas constitucionais assumiram consciência de
que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem, é que
há de orientar todas as formas de atuação no campo da tutela do meio ambiente”.
De qualquer modo, conforme se observará ao longo deste trabalho, a proteção ao meio
ambiente pode ser embasada em diversos fundamentos: 1) por ser ele um direito constitucio-
nalmente protegido e tutelado; 2) Por esse direito constituir-se como um direito fundamental;
3) em razão do rol de direitos e garantias individuais ser meramente exemplificativo; 4) em
razão de tal direito derivar do direito à vida, saúde e qualidade de vida; 5) e, enfim, em razão da
tutela do meio ambiente ser instrumento importante para se garantir a proteção da dignidade
da pessoa humana.
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A ética costuma ser conceituada como a teoria ou ciência do comportamento moral dos
homens, tendo – portanto - como objeto de estudo, as decisões acerca de determinados va-
lores que orientam e guiam as relações do indivíduo em sociedade.
Consoante preconiza a doutrina, há, na área ambiental duas concepções éticas das rela-
ções do homem com o meio ambiente: o antropocentrismo e o biocentrismo.
A corrente biocêntrica entende que o meio ambiente e seus elementos possuem uma im-
portância fundada em sua própria existência, de tal forma que todos os seres vivos merecem
ser protegidos independentemente de trazerem (ou não) benefícios ao homem. É uma corren-
te ética que busca reconhecer um valor inerente a todo ser vivo.
Já a corrente antropocêntrica possui uma visão utilitarista em benefício do ser huma-
no5, de tal forma que os demais seres vivos possuem relevância (e merecem proteção jurí-
dica) na medida em que representam alguma utilidade para os homens. Assim, não lhes é
reconhecido qualquer valor intrínseco, mas puramente o valor de uso, em especial do uso
econômico.
Para OLIVEIRA, é preciso buscar-se o equilíbrio entre homem e natureza, coibindo práti-
cas não toleradas numa sociedade moderna e ética.6 Neste aspecto, há quem defenda a exis-
tência de um “antropocentrismo alargado” no qual, não obstante a CRFB tenha considerado o
meio ambiente equilibrado como um direito humano fundamental (reconhecendo, portanto, o
ser humano como centro do ordenamento jurídico) deve-se levar em consideração a interde-
pendência do ser humano em relação à natureza.7
Fazendo-se uma retrospectiva histórica é possível afirmar que o desenvolvimento do ho-
mem em sociedade estruturou-se, inicialmente, pela criação de conceitos de cunho ético. Na
sequência, surge a noção de cidadão e de cidadania, nos quais a relação do homem com os
5
Segundo estabelece a CRFB (art. 225) compete ao Poder Público e à coletividade preservar o meio ambiente para as pre-
sentes e futuras gerações (humanas).
6
OLIVEIRA, Lizandra Carolina Garcia de. Cidadania e políticas públicas ambientais – a Política Nacional de Resíduos Sóli-
dos no DF. Brasília: Unieuro, 2015, p. 96-97
7
FARIAS, Talden. COUTINHO, Franscisco Seráphico da Nóbrega. MELO, Geórgia Karênia R. M. M.. Direito ambiental. Salva-
dor: Editora Jus Podivm, 2014, p. 25.
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demais membros da sociedade se mostra mais presente. Assim, consolidado este segundo
conceito, surge campo propício para a preocupação com o meio ambiente, passando-se a
procurar métodos para sua proteção, tendo por base a ética e a condição de cidadão.8
É preciso que haja o exercício de uma cidadania ambientalmente ética e responsável, uma
vez que a sobrevivência da raça humana depende da preservação do meio ambiente.
Conclui-se, assim, que a cidadania ambiental possui um cunho colaborativo, na medida
em que as condutas praticas por um indivíduo repercutirão para toda a sociedade.
Segundo a Lei n.. 6938/81, o meio ambiente pode ser definido como “o conjunto de condi-
ções, leis influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas”9. Como se vê, trata-se de uma definição extremamente
ampla, a qual, segundo Hugo Nigro Mazzili9 possibilita que a defesa da flora, da fauna, das
águas, do solo, do subsolo e do ar seja realizada de forma praticamente ilimitada. Da defini-
ção apresentada, fica clara a relação entre o meio ambiente e o direito à vida.
Fernando Reverendo Vidal Akaoui10 também afirma que a definição apresentada é ampla
o suficiente para abarcar todos os interesses de natureza ambiental, abrangendo o meio am-
biente natural, cultural, do trabalho e urbano ou artificial.
Além da definição legal, há conceitos criados pela doutrina. De acordo com Kildare Carva-
lho11, o meio ambiente pode ser definido como o complexo de relações entre o mundo natural
e os seres vivos. José Afonso da Silva12, por sua vez, define-o como “a interação do conjunto
de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da
vida em todas as suas formas”.
8
FERNANDES, David Augusto. Ética, cidadania e a efetivação dos direitos ambientais . Revista Jus Navigandi, Teresina, ano
19, n. 3896, 2mar. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/26498>. Acesso em: 26 jan. 2017.
9
MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo, p. 148.
10
AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Compromisso de ajustamento de conduta ambiental, p. 24
11
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional: teoria do Estado e da Constituição, p. 753.
12
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional, p. 20.
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Segundo Luís Paulo Sirvinkas13, o meio ambiente natural “abrange a atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os ele-
mentos da biosfera, a fauna, a flora, o patrimônio genético e a zona costeira (art. 225, CF/88)”,
ou seja, é formado por todos os elementos naturais responsáveis pelo equilíbrio entre os
seres vivos e o meio em que vivem. No mesmo sentido é a opinião de Celso Antônio Pacheco
Fiorillo14, segundo o qual tal modalidade seria constituída pelo solo, água, ar atmosférico, flo-
ra e fauna. Como se vê o meio ambiente natural encontra-se diretamente adstrito à proteção
à vida, eis que somente pela proteção de tais bens jurídicos torna-se possível a existência de
condições de vida digna.
O meio ambiente natural é, portanto, aquele composto pelos seres vivos e o meio físico
em que se inserem. Abrange o solo, a água, o ar atmosférico, a flora, a fauna e toda a biodi-
versidade. Para José Afonso da Silva15, o meio ambiente se constitui pela interação dos seres
vivos e seu meio.
A segunda espécie de meio ambiente é o denominado meio ambiente artificial; o qual é
constituído pelo conjunto de edificações, equipamentos, rodovias e demais elementos que
formam o espaço urbano construído pelo homem; ou seja, é aquele decorrente da atividade
humana a qual transforma o espaço físico, com o objetivo de viabilizar as ações sociais. Para
José Afonso da Silva16, tal espécie de meio ambiente estaria consubstanciada no conjunto de
edificações e equipamentos públicos.
13
SIRVINKAS, Luís Paulo. Legislação de Direito Ambiental, p. 25.
14
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro, p. 19.
15
SILVA, José Afonso da Silva. Direito Ambiental Constitucional, p. 21.
16
Idem, ibidem.
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Algumas bancas costumam chamar o meio ambiente artificial de meio ambiente urbano ou
meio ambiente construído. São, portanto, expressões sinônimas.
No que se refere ao meio ambiente cultural tem-se que, apesar da doutrina classificá-lo
como uma espécie autônoma, tem-se que ele é, na verdade, uma espécie de meio ambiente
artificial, resultante da atividade humana. Contudo, a ele agrega-se um valor cultural, o qual o
diferencia das demais espécies de meio ambiente. O meio ambiente cultural também possui
implicação na proteção da vida, eis que o lazer e a cultura são meios eficazes para a melhoria
da qualidade de vida da população. O meio ambiente cultural constitui-se pelo patrimônio
artístico, arqueológico, histórico, paisagístico e turístico.
Sobre o tema, a CRFB estabelece que constituem patrimônio cultural brasileiro os bens
de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e vi-
ver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico – culturais; V – os con-
juntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico”.18
Com relação ao meio ambiente cultural, Roberto Armando Ramos de Aguiar19 ensina
que o capítulo [da Constituição] que trata da cultura também deu direitos à comunidade
a fim de auxiliar o Poder Público na proteção do patrimônio cultural brasileiro. Segundo o
autor, isso pode ocorrer por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento, desa-
17
Sobre saneamento básico, veja Lei n. 11.445/2007, a qual estabelece diretrizes nacionais em relação ao mesmo.
18
Art. 216 da CRFB
19
AGUIAR, Roberto Armando Ramos de. Direito do meio ambiente e participação popular, p.87.
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Segundo FERRAJOLI, os direitos fundamentais são todos aqueles direitos subjetivos atri-
buídos universalmente a todos os seres humanos enquanto dotados do status de pessoas,
entendendo-se como direito subjetivo22 toda expectativa positiva (de prestações) ou negativa
(de não causar danos) adstrita a um sujeito por meio de uma norma jurídica.23 Nesta linha, é
possível afirmar-se que os direitos fundamentais são direitos reconhecidos pelo ordenamento
20
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro, p. 21.
21
GROTT, João Manoel. Meio ambiente do trabalho, p. 81.
22
Na visão de FERRAJOLI (2001, p. 57), o direito subjetivo é uma expectativa para a qual corresponde uma obrigação. Assim,
uma expectativa positiva corresponde a uma obrigação positiva de prestação, ao passo que uma expectativa negativa
corresponde a uma obrigação negativa, no sentido de não lesionar.
23
FERRAJOLI, Luigi. Los fundamentos de los derechos fundamentales. Madrid: Editorial Trotta, 2001, p. 19.
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jurídico e por meio dos quais outorga-se aos titulares a possibilidade de impor os seus inte-
resses em face do Poder Público e dos demais indivíduos. São, nos dizeres de MENDES, a um
só tempo, direitos subjetivos e elementos fundamentais da ordem constitucional objetiva.24
ANDRADE conceitua os direitos fundamentais como “aqueles essenciais à existência dig-
na do ser humano, previstos expressamente na Constituição Federal, e que devem ser efeti-
vados a todos, não apenas no plano formal, mas também materialmente”.
Dada sua natureza, observa-se que tais direitos se encontram em constante evolução, ou
seja: o rol de direitos fundamentais modifica-se em razão de condições históricas ou trans-
formações na sociedade, visando a manutenção da dignidade da pessoa humana. Aliás, se-
gundo BOBBIO, “não existem direitos fundamentais por natureza. O que parece fundamental
numa época histórica e numa determinada civilização não é fundamental em outras épocas
e em outras culturas”.25
Assim, é possível falar-se em diversas “gerações” ou “dimensões” de direitos fundamen-
tais, havendo, inclusive, autores que defendem (além da existência dos direitos de primeira,
segunda e terceira dimensão) a existência de direitos de quarta e de quinta dimensão.26
Os direitos fundamentais de primeira geração (ou dimensão) são aqueles relacionados a
direitos do próprio indivíduo como tal, ou seja: direitos que limitam a atuação do Estado na
liberdade individual.
Já os direitos de segunda geração (ou dimensão) surgem com o objetivo de proteger o in-
divíduo da situação de massificação, automatização, espoliação e coisificação imposta pelo
capitalismo.27 Exige-se, assim, uma ação positiva por parte do Estado.
Com o desenvolvimento da sociedade, houve um aumento no rol de direitos a serem tute-
lados. Neste contexto, os direitos fundamentais de terceira geração surgem como direitos de
24
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos de direito constitucional. 3 ed.
São Paulo: Saraiva, 2004, p. 2.
25
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 19.
26
Neste sentido, veja-se: BONAVIDES, Paulo. A quinta geração de direitos fundamentais. Direitos Fundamentais & Justiça, n. 3,
abr./jun., 2008, p. 91. Disponível em: <http://www.dfj.inf.br/ Arquivos/PDF_ Livre/3_Doutrina_5.pdf>. Acesso em: 5 fev. 2013.
27
LOPES, Othon de Azevedo. A dignidade da pessoa humana como princípio jurídico fundamental. In: SILVA, Alexandre
Vitorino da et al. Estudos de direito público: direitos fundamentais e estado democrático de direito. Porto Alegre: Síntese,
2003. p. 198-9.
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2. Do Direito Ambiental
Mas, o que seria, então, o direito ao meio ambiente? Segundo Lúcia Reisewitz, o direito
ambiental pode ser conceituado como:
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Tais conceitos evidenciam que o direito ao meio ambiente tem como objeto de estudo o
conjunto de regras e normas destinadas à proteção do meio ambiente, bem como aqueles
relacionados à proteção da vida humana e sua dignidade.
Nessa linha, o gestor ambiental (e os demais profissionais que atuam nessa área) desem-
penham papel estratégico fundamental, desenvolvendo projetos direcionados à preservação
e proteção do meio ambiente.
34
RAMOS, Carmem Lúcia Silveira. Diálogos sobre Direito Civil: Construindo uma racionalidade contemporânea, p. 8.
35
LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Direito ambiental: responsabilidade civil e proteção ao meio ambiente. São Paulo: Revista
dosTribunais, 2010, p. 63
36
Cite-se, por exemplo: os acordos, ajustes, convenções, declarações, pactos, procolos, ajustes, etc.
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Cite-se, como exemplo, o Protocolo de Montreal, a Convenção sobre as Mudanças Climáticas Globais e o Protocolo de
Kyoto, os quais surgiram em decorrência das descobertas científicas relacionadas à a emissão de CFC e outros gases na
camada de Ozônio e o efeito estufa.
38
Para´grafo introduzido pela Emenda 45/2004
39
GAVIAO FILHO, Anízio Pires. Direito Fundamental ao Ambiente, p. 22.
40
NACATO, Georgente Naza. O Direito Ambiental no Brasil. Evolução histórica e relevância do direito internacional no meio
ambiente. In. Revista de Direito Ambiental, ano 7, out/dez/02, n. 28, RT, p. 92.
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Nas últimas décadas, a preocupação com a prevenção e proteção ao meio ambiente, bem
como o desenvolvimento sustentável passaram a fazer parte da maioria dos textos constitu-
cionais. E no Brasil não foi diferente.
Em nosso país, o meio ambiente passou a ter uma tutela constitucional somente na Cons-
tituição de 1988, a qual inseriu um capítulo específico sobre o tema, observando-se, porém,
que a questão ambiental é tratada em diversas outras partes do texto constitucional.
E, para proteger tal direito, nossa Constituição Federal44 estabeleceu que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
A inserção de tal capítulo trouxe transformações para a questão ambiental em nosso país,
conforme se passará a expor adiante.
Ao tratar dos efeitos da constitucionalização, Virgílio Afonso da Silva45 destaca a unifica-
ção da ordem jurídica e a necessidade da sua simplificação.
Para o referido autor, por meio da unificação, as normas constitucionais se tornariam,
progressivamente, o fundamento comum dos diversos ramos do Direito. Do mesmo modo,
a unificação acabaria relativizando a distinção entre direito público e privado, uma vez que a
Constituição passaria a ser a base fundamentadora de todos os princípios da ordem jurídica.
O segundo efeito destacado pelo autor consiste na denominada simplificação da ordem
jurídica, uma vez que a Constituição passa a ser a “norma de referência” de todo o ordena-
mento jurídico. Logo, a Constituição Federal de 1988 fez muito mais do que simplesmente
atribuir proteção constitucional ao meio ambiente. Ao inserir a dignidade da pessoa humana
entre os fundamentos de nossa República, visando assegurar direitos como a vida digna e a
saúde, considerando-os fundamentais.
44
Artigo 225, caput, da Constituição Federal de 1988.
45
SILVA, Virgílio Afonso. A constitucionalização do direito: os direitos fundamentais nas relações entre particulares, p. 48-50.
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MARUM, Jorge Alberto de Oliveira. Meio ambiente e direitos humanos, p. 134.
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47
Apelação Cível Acórdão n.: 28315. Órgão Julgador: 4ª Câmara Cível. Comarca: Paranaguá. Processo: 0321271-5. Relator:
Adalberto Jorge Xisto Pereira Julgamento: 24/07/2007 19:00. Dados da Publicação: DJ: 7421.
48
Art. 24, inciso VI e VIII, da Constituição Federal de 1988.
49
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais, p. 64.
50
Art. 5º LXXIII, da Constituição Federal de 1988.
51
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente, p. 149.
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No art. 174, § 3º, a Constituição Federal afirma que “O Estado favorecerá a organização
da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a
promoção econômico-social dos garimpeiros”.
Ainda tratando da atividade econômica, a Constituição proclama que parte dos recursos
arrecadados em decorrência da contribuição de intervenção no domínio econômico, relativa
às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e
seus derivados e álcool combustível serão destinados ao financiamento de projetos ambien-
tais relacionados com as indústrias de petróleo e gás52.
Com relação à vida rural, observe-se que um dos requisitos necessários para que a pro-
priedade rural cumpra sua função social é a utilização adequada dos recursos naturais dis-
poníveis com a possível preservação do meio ambiente53.
Desse modo, há de se concluir que a proteção ao meio ambiente não se encontra pre-
vista em um único artigo, mas, sim, ao longo de toda Constituição, uma vez que, conforme
dito anteriormente, sua proteção visa, em suma, tutelar o direito à vida das presentes e
futuras gerações.
Cumpre destacar, mais uma vez, que, por força do disposto no art. 5º, §2º, da Constituição
Federal, o rol de direitos e garantias nela elencados é meramente exemplificativo, de tal forma
que é possível a existência de outros, decorrentes do regime e dos princípios por ela adota-
dos, ou, ainda, dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Assim, tanto na esfera nacional quanto na internacional, o meio ambiente, tem sido, cons-
tantemente, objeto de proteção e, felizmente, de tutela legislativa. Concomitantemente, a so-
ciedade civil tem se organizado e exigido posturas mais comprometidas dos governantes e
dos indivíduos a fim de garantir qualidade de vida para esta e para as futuras gerações.
52
Art. 177, § 4º, II, b, da Constituição Federal de 1988.
53
Art. 186, II, da Constituição Federal de 1988.
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54
Anote-se, para fins de registro, que o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal foi regulamentado por meio
da lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000.
55
Para maiores detalhes, cf. COUTINHO, Nilton Carlos de Almeida. Proteção jurídica do meio ambiente: o papel da adminis-
tração pública na preservação dos direitos da personalidade. Maringá: Cesumar, 2009.
56
Redação dada pela Medida Provisória n. 2.166-67, de 2001.
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PEC da vaquejada. Neste item, destaque-se que, por meio da Emenda Constitucional n. 96,
de 2017 foi incluído no texto do art. 225 um parágrafo sétimo estabelecendo que “não se con-
sideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações
culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de
natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas
por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.”57. Tal EC foi aprovada
após o julgamento, pelo Plenário do STF da ADI n. 4983, ajuizada pelo procurador-geral da
República contra a Lei n. 15.299/2013, do Estado do Ceará, que regulamentava a vaquejada
como prática desportiva e cultural no Estado.58
Por fim, registre-se que, em razão da natureza jurídica do direito ambiental, sua proteção
exige uma atuação efetiva não só do Estado, mas também, da sociedade, do terceiro setor e
da própria iniciativa privada, uma vez que o desenvolvimento sustentável é a única forma de
se conseguir uma tutela efetiva do bem jurídico ambiental.
57
Tal emenda foi alvo de uma ADI (n. 5728) a qual encontra-se pendente de julgamento pelo STF.
58
Neste sentido, cf.: COUTINHO, Nilton Carlos de Almeida. O essencial nas procuradorias: advocacia pública em nível federal,
estadual, distrital e municipal. Brasília: Coutinho, 2018.
59
Para maiores detalhes, cf.: COUTINHO, Nilton Carlos de Almeida. O Estado e a proteção do consumidor. Brasília: Coutinho, 2016.
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Tendo em vista as atribuições do poder público no que se refere à proteção do meio am-
biente, inúmeras são as ações judiciais nas quais o advogado público deve intervir. Desse
modo, a impetração de ações constitucionais (tais como Mandado de Segurança, ação Popu-
lar, ação de desapropriação) dentre outras fazem parte do dia a dia deste profissional, razão
pela qual seu aprofundamento em relação aos aspectos processuais e constitucionais a elas
inerentes torna-se extremamente importante.60
Ademais, a tutela coletiva do direito ao meio ambiente será exercida quando se tratar de
interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos.
Do mesmo modo, tratando-se de um interesse transindividual, a proteção do meio am-
biente por meio de ações civis públicas também é uma medida constante nessa área.
60
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva, 2016.
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O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar64,
de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no
prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.65
Com relação aos direitos difusos, tem-se que, excetuando-se a hipótese na qual o pedido
seja julgado improcedente por insuficiência de provas, a sentença terá eficácia erga omnes,
ou seja: terá aplicação em relação a todos os demais indivíduos. Permitiu, ainda, a lei, que, na
hipótese do pedido ser julgado improcedente por insuficiência de provas, qualquer legitimado
possa intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova.
Tratando-se de direito coletivo, a sentença fará coisa julgada ultra partes, mas limitada-
mente ao grupo, categoria ou classe. Contudo, na hipótese do pedido ser julgado improceden-
61
Incluído pela Lei n. 8.078 de 1990
62
Incluído pela Lei n. 12.966, de 2014
63
Art. 1º da lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985.
64
Obs.: Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação, hipótese em que a ação
poderá ser proposta desacompanhada daqueles documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.
65
Art. 8º, § 1º, da lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP).
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te por insuficiência de provas, qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova
Por fim, tratando-se de direito individual homogêneo, a lei estabeleceu que apenas no
caso de procedência do pedido a sentença fará coisa julgada erga omnes. Tal regra visa bene-
ficiar todas as vítimas e seus sucessores. Nesta hipótese, contudo, em caso de improcedên-
cia do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes
poderão propor ação de indenização a título individual.
Importante frisar, ainda, que os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I (direitos
difusos) e II (direitos coletivos) não prejudicarão interesses e direitos individuais dos inte-
grantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
Do mesmo modo, registre-se que os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, com-
binado com o art. 13 da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de in-
denização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista
neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.9
Segundo estabelece o art. 5º da LACP, têm legitimidade para propor a ação principal e a
ação cautelar: I - o Ministério Público66; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade
de economia mista; e V - a associação que, concomitantemente, preencha os dois requisitos
previstos na lei67.
Obs.: O requisito da pré-constituição (exigido no caso das associações) poderá ser dis-
pensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou ca-
racterística do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido68.
66
Obs.: O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.
67
Requisitos: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; e b) inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre
concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.
68
Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990.
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69
Art. 9º da lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP).
70
Art. 9º, § 1º, da lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP).
71
Registre-se que constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000
(mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos
indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
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A lei de ação civil pública estabelece que, na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade
devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de comina-
ção de multa diária72 (astreinte), se esta for suficiente ou compatível, independentemente de
requerimento do autor.73 Do mesmo modo, poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou
sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.74 Trata-se de dispositivo criado com o
objetivo de garantir a efetiva proteção do direito lesado ou ameaçado de lesão.
Contudo, a mesma lei também estabeleceu que, a requerimento de pessoa jurídica de
direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à eco-
nomia pública, poderá o Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo
72
Registre-se que a multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável
ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento, cf.: art. 12. § 2º, da lei n. 7.347,
de 24 de julho de 1985.
73
Art. 11 da lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP).
74
Art. 12 da lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 (LACP).
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A principal diferença entre ação mandamental e executiva reside no fato de que, na ação mandamental, o juiz se utiliza de
meios coercitivos destinados ao cumprimento da obrigação, ao passo que, na executiva, os meios são sub-rogatórios, ou
seja, é o próprio juízo que faz cumprir a sua ordem, independentemente da vontade do réu.
76
SPADONI, Joaquim Felipe. Ação inibitória: a ação preventiva prevista no art. 461 do CPC. 2. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 120.
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Legitimidade ativa. Segundo estabelece o artigo 5º, LXXIII da CRFB qualquer cidadão é
parte legitima para propor Ação Popular.77
Pressuposto. O mesmo inciso ainda estabelece como pressuposto para a propositura da
ação popular a ocorrência de um ato lesivo contra o meio ambiente ou outro interesse difuso.
Consoante ensina NAKAMAURA78, o povo é um dos principais instrumentos de controle
da Administração Pública. Assim, caso verificada alguma irregularidade, qualquer cidadão
é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência (art. 5º LXXIII).
Legitimidade passiva. Consoante estabelece o art. 6º da Lei 4.717/65 a Ação Popular po-
derá ser proposta contra as pessoas públicas ou privadas e todas as entidades previstas no
artigo 1º da referida lei, além das autoridades, funcionários ou administradores que houverem
77
Para maiores detalhes, vide artigo 1º da Lei 4.717/65
78
NAKAMURA, André Luis dos Santos; COUTINHO, Nilton Carlos de Almeida. Direito Administrativo. São Paulo: Coutinho,
2017.
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autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tenham
dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
Segundo estabelece nossa Constituição Federal, em seu art. 5º, LXIX, “conceder-se-á
mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas cor-
pus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público”.
Do mesmo modo, o direito ao meio ambiente equilibrado constitui-se, inequivocamente,
como um direito líquido e certo. Assim, Havendo prova (suficiente) da ilegalidade ou abuso
de poder (que se firma) é possível a apreciação pelo juiz para a concessão ou denegação da
segurança (julgamento de mérito).
Do mandado de segurança coletivo
O mandado de segurança coletivo tem como objetivo a preservação (caráter preventivo)
ou reparação (caráter repressivo) de interesses transindividuais79,
Legitimidade ativa. Segundo estabelece o art. 5º, LXX, da CRFB, o mandado de segurança
coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacio-
nal; ou b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou asso-
ciados.80 Trata-se de um rol exemplificativo, na medida em que o Ministério Público também
79
Segundo estabelece o art. 21, parágrafo único da lei 12.016/2009, os direitos protegidos pelo mandado de segurança
coletivo podem ser: I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de
que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou
situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante. Contudo, para a doutrina majo-
ritária, tal limitação é inconstitucional, por violar o disposto no art. 5, XXXV da CRFB.
80
conforme determina o art 21 da Lei 12.016/2009 o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político
com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finali-
dade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associa-
dos, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
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possui legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo, por força do inciso III e §
1º. do art. 129 da Constituição Federal.
Legitimidade passiva. No tocante ao polo passivo tem-se que o Mandado de segurança
será proposto contra autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri-
buições do Poder público quando estes por ato de ilegalidade ou abuso de poder ofenderem
direito líquido e certo.
Regulamentação legal. Em nível infraconstitucional a matéria encontra-se regulamentada
pela lei n. 12.016, de 7 de agosto de 2009.
Sentença e efeitos. A sentença pleiteada por esta via será sempre mandamental e, sendo
procedente o pedido, a decisão terá efeito erga omnes81.
Trata-se de instrumento previsto no art. 5º, LXXI, da CRFB como mecanismo processual
utilizado para garantir o exercício dos direitos fundamentais dos cidadãos82.
Requisitos. Para sua impetração exige-se a presença de dois requisitos, quais sejam:
a omissão legislativa e o impedimento do exercício regular de uma garantia constitucional
acerca da liberdade, ou prerrogativas inerentes a nacionalidade, soberania e cidadania.
Objetivo: Sua finalidade é a proteção de direitos e liberdades, individuais ou coletivas, e
das prerrogativas ligadas à nacionalidade, soberania e cidadania
Legitimidade ativa. Qualquer pessoa (física ou jurídica) nacional ou estrangeira residente
no país, titular do direito que está sendo obstado pela falta de regulamentação de uma nor-
ma constitucional sem aplicabilidade imediata, referente ao exercício de direitos e liberdades
constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania possui legi-
timidade para seu ajuizamento. Inclua-se, ainda, o Ministério Público, os sindicatos,83
81
Por força do estabelecido no art. 22 da lei 12.016/2009 há quem defenda que a sentença fará coisa julgada limitadamente
aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. Contudo, dadas as características do bem ambiental,
tal limitação será de difícil ocorrência na prática.
82
Art. 5º, LXXI, CRFB: “conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
83
SANTOS, Lara Cíntia De Oliveira. A eficácia do mandado de injunção na atual constituição federal e o pensamento juris-
prudencial sobre o assunto http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=7161
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Legitimidade passiva. o Mandado de Injunção deverá ser impetrado contra o ente que
detém o poder-dever de regulamentar a matéria objeto do Mandado de Injunção, mas encon-
tra-se omissa.
uma das suas diferenças entre o Mandado de Injunção e a ação de inconstitucionalidade
por omissão é que, no Mandado de Injunção não há julgamento da lei em tese, mas sim num
referido caso concreto, em que a falta de norma regulamentadora inviabilize um destes direi-
tos e liberdades constitucionais.
84
Tratando-se de arguição de inconstitucionalidade de lei estadual ou municipal perante a Constituição Estadual, a compe-
tência originária será dos Tribunais de Justiça de cada Estado (CF, art. 125, § 2º).
85
No mesmo sentido, veja-se: art. 2º da Lei n. 9.868/1999.
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Nas precisas palavras de Miguel Reale princípios são “enunciações normativas de valor
genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a
sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas”.89
Tendo em vista o disposto em nossa Constituição Federal, bem como os diversos tra-
tados internacionais dos quais o Brasil é signatário, torna-se possível extrair diversos prin-
cípios relacionados à tutela do meio ambiente, os quais passam a ser apresentados nos
tópicos a seguir.90
86
Citem-se, como exemplos, ADIns relacionadas ao novo código florestal, sistema de unidades de conservação, etc.
87
AgrReg. na ADIN 3.074. Relator: Min. Teori Zavascki
88
Obs.: Entretanto, o art. 27 da lei 9.868/99, estatui que, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional inte-
resse social, poderá o STF, por 2/3 de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha
eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. (modulação dos efeitos da ADIn.)
89
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 300
90
Para maiores detalhes, cf. COUTINHO, Nilton Carlos de Almeida. Proteção jurídica do meio ambiente: o papel da admi-
nistração pública na preservação dos direitos da personalidade. Maringá: Cesumar, 2009. Cf. também: COUTINHO, Nilton
Carlos de Almeida; FRANZOI, Sandro Marcelo Paris; FILIPPI, Juliana Cristina Lopes. Intervenção estatal ambiental: licen-
ciamento ambiental e a Lei n. 140/2011. In: LAZARI, Rafael; FRANZÉ, Luis Henrique. Estado e indivíduo: estudos sobre
intervencionismo estatal. Curitiba: CRV, 2015.
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91
Princípios extraídos da biblioteca virtual de direitos humanos da Universidade de São Paulo. Disponível em http://www.
direitoshumanos.usp.br/counter/Onu/ Confere_cupula/texto/ texto_1.html (tradução livre).
92
GOMES, Luis Roberto. Princípios fundamentais de proteção ao meio ambiente. In revista de direito ambiental, n. 16, ano 4
out/dez.1999, p. 172.
93
Princípio 1 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992.
94
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, p.46.
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Ademais, segundo Lise Vieira da Costa Tupiassa95, “o meio ambiente é um bem que per-
tence à coletividade e não integra o patrimônio disponível do Estado”.
O princípio da natureza pública da proteção ambiental foi expressamente previsto na
Constituição Federal de 1988, a qual estabeleceu que o meio ambiente se constitui como
“bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. Tal princípio, assim como
outros, a serem vistos oportunamente, fundamenta a obrigatoriedade da intervenção do Esta-
do, eis que se trata de direito relacionado ao interesse público.
Para vários autores, poder-se-ia falar na existência de um princípio da obrigatoriedade da
intervenção estatal.96 Logo, quando se fala em proteção ambiental, há que se ter em mente
a indisponibilidade de tal interesse, bem como a supremacia do interesse público se consti-
tuem como fatores orientadores dessa proteção.
Paulo Affonso Leme Machado97, destaca que, segundo essa visão, o Poder Público passa
a figurar não como proprietário dos bens ambientais, mas, sim, como gestor de tais bens.
Deste modo, eficiência e prestação de contas passam a fazer parte dessa nova forma de ges-
tão ambiental. O mesmo autor ainda relembra que, segundo dispõe a Declaração de Johan-
nesburgo: “para conseguirmos nossos objetivos de desenvolvimento sustentado temos ne-
cessidade de instituições internacionais e multilaterais mais efetivas, democráticas e que
prestem contas”98
Luiz Roberto Gomes99, por sua vez, associa a obrigatoriedade da intervenção estatal ao
princípio da indisponibilidade do interesse público. Para ele, “trata-se de corolário do princípio
da indisponibilidade do interesse púbico na proteção do meio ambiente”.
A intervenção estatal também foi expressamente prevista pela Declaração de Estocolmo
sobre o Meio Ambiente Humano, conforme se depreende da leitura do princípio:
95
TUPIASSA, Lise Vieira da Costa. O direito ambiental e seus princípios informativos. In: Revista de Direito Ambiental. Ano 8,
abr/jun. 2003, n. 30, p. 173
96
Neste sentido, veja-se: PAZZAGLINI FILHO, Marino. Princípios constitucionais reguladores da administração pública:
Agentes Públicos. Discricionariedade Administrativa. Extensão da Atuação do Ministério Público e do Controle do Poder
Judiciário. E ainda: CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional: teoria do Estado e da Constituição. Direito Cons-
titucional Positivo.
97
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, p. 105
98
To archieve our goals of sustainable development, we need more effective, democratic and accountable international and
multilateral institutions
99
GOMES, Luiz Roberto. Princípios constitucionais de proteção ao meio ambiente. Revista de direito ambiental, p. 175.
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Ante todo o exposto há de se concluir que, por se tratar de um bem de uso comum do
povo (art. 225 da CF), o meio ambiente ecologicamente equilibrado não se inscreve entre os
bens suscetíveis de disponibilidade pelo Estado, de tal forma que a proteção ambiental deve
procurar assegurar a qualidade de vida e saúde de toda a sociedade, sobrepondo-se a inte-
resses individuais. A natureza pública de tal direito fundamenta e justifica a atuação estatal
na defesa do meio ambiente.
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Destaque-se, ainda, que a fixação dos limites é fundamental para que a Administração
possa exercer o poder de polícia dentro da legalidade. Assim, uma vez estabelecidos tais
limites, pode o poder público aplicar, coercitivamente, as medidas necessárias para que
se evite, ou se minimize, a poluição e a degradação ambientais. Deste modo, sempre que
houver risco para a preservação do meio ambiente, deve o poder público intervir, de modo
a garantir a adequada proteção do meio ambiente e sua utilização de forma racional, em
benefício da sociedade.
Ao Estado cumpre o papel de disciplinar e restringir o direito dos indivíduos a fim de pos-
sibilitar a proteção efetiva do meio ambiente e, consequentemente, garantindo-se a manuten-
ção da vida em sociedade, com saúde e qualidade.
100
Princípio 17 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
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Para isso, contudo, é necessário que exista uma política voltada para a gestão ambiental.
E quando se fala em políticas públicas, está-se, na verdade, tratando de ações do Estado em
prol da coletividade, dentro das quais se encontra a proteção ambiental.
Conclui-se, muito embora o desenvolvimento seja um objetivo perseguido por todas as
sociedades, deve ele ocorrer levando-se em conta os riscos e danos causados ao meio am-
biente, o qual também deve ser protegido.
101
Princípio 10 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
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Por fim há que se notar que a participação da sociedade na proteção do meio ambiente
exige acesso à informação e educação ambiental. Igualmente, a sociedade pode buscar auxí-
lio junto aos poderes executivo, legislativo e judiciário, mas, para isso, é necessário, conheci-
mento e conscientização ambiental.
102
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente, p. 142.
103
GERENT, Juliana. Direito ambiental e a teoria econômica neoclássica – valoração do bem ambiental. In: Revista Jurídica
Cesumar. Maringá: Centro Universitário de Maringá p, 284.
104
REsp 610114 / RN. RECURSO ESPECIAL 2003/0210087-0. Relator(a): Ministro GILSON DIPP. Órgão Julgador: T5 - QUINTA
TURMA. Data do Julgamento: 17/11/2005 Data da Publicação/Fonte. DJ 19/12/2005 p. 463.
105
ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O Princípio do Nível Elevado de Proteção e a Renovação Ecológica do Direito do
Ambiente e dos Resíduos, p. 185.
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3. A adoção pela lei da responsabilidade civil objetiva, significou apreciável avanço no combate à
devastação do meio ambiente, uma vez que, sob esse sistema, não se leva em conta, subjetiva-
mente, a conduta do causador do dano, mas a ocorrência do resultado prejudicial ao homem e ao
ambiente. Assim sendo, para que se observe a obrigatoriedade da reparação do dano é suficiente,
apenas, que se demonstre o nexo causal entre a lesão infligida ao meio ambiente e a ação ou omis-
são do responsável pelo dano106.
106
REsp 578797/RS. Recurso Especial 2003/0162662-0. Rel.: Ministro Luiz Fux. Órgão Julgador: T1 - Primeira Turma. Data do
Julgamento: 05/08/2004. Data da Publicação/Fonte: DJ 20/09/2004 p. 196. LEXSTJ vol. 183 p. 161. RNDJ vol. 60 p. 92.
107
MARTINS, Ana Gouveia e Freitas. O principio da precaução no direito do Ambiente, p. 54-60.
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108
CAVALCANTE, Sérgio Ribeiro. Princípio da Precaução Ambiental: uma diretriz política, constitucional, administrativa e
jurisdicional nas presunções científicas, p. 87.
109
MARTINS, Ana Gouveia e Freitas. O princípio da precaução no direito do Ambiente, p. 93.
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110
SILVA, Vicente Gomes da. Legislação ambiental comentada, p. 26.
111
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente, p. 142.
112
AMOY, Rodrigo de Almeida. A proteção do direito fundamental ao meio ambiente no direito interno e internacional. Dispo-
nível em: <http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/ rodrigo_de_almeida_amoy.pdf > Acesso: 21 dez. 2008.
113
FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente: A dimensão ecológica da dignidade humana, p.
81-82.
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Conforme mencionado, a CRFB garante o direito à propriedade privada (art. 5º, XXII), dei-
xando claro, entretanto, que a propriedade deverá atender a sua função social (art. 5º, XXIII).
114
Sobre o tema, cf. NAKAMURA, André Luiz dos Santos. A Justa e Prévia Indenização na Desapropriação. Rio de Janeiro,
LUMEN JURIS, 2013.
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Com base em tal regra, João Lopes Guimarães Junior115, ensina que a função social da pro-
priedade refere-se ao “dever do proprietário de atender a finalidades relacionadas a interes-
ses protegidos por lei”.
O meio ambiente possui inequívoca função social, eis que, por meio dele, possibilita-se
uma melhoria na qualidade de vida de toda a população, destacando-se, ainda que o art. 170
da Constituição Federal elenca a propriedade privada e sua função social como princípios da
ordem econômica.
Jean Jacques Erenberg116 explicita que, ao contrário do que se poderia imaginar, a adoção
do princípio da função social da propriedade não possui um viés socialista, de tal forma que
sua existência pode ser justificada dentro de um regime capitalista, no qual a função social da
propriedade constitui-se como um princípio da atividade econômica e um direito fundamental
do ser humano.
Para Saint-Clair Honorato Santos117 o direito de propriedade “não pode mais ser enten-
dido com um caráter absoluto; deve ter em cota a função social da propriedade visando ao
bem-estar de todos”.
Patrícia Faga Iglecias Lemos118 partilha do mesmo entendimento, esclarecendo que o di-
reito de propriedade evoluiu muito, “afastando-se da concepção individualista e aproximan-
do-se de uma concepção social”.
Para a citada autora, “essa nova concepção envolve, além do aspecto social, a proteção
do meio ambiente como interesse difuso”
Relembre-se ainda que, segundo o disposto no artigo 182 da Constituição Federal “a polí-
tica de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais
da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes”.
115
GUIMARÃES JUNIOR, João Lopes. Função social da propriedade. In. Revista direito ambiental, ano, 08, jan/mar/2003, n.
29, p. 124.
116
ERENBERG, Jean Jacques. Função social da propriedade urbana, p. 164.
117
SANTOS, Saint-Clair Honorato. Direito ambiental: unidades de conservação. Limitações administrativas, p.143.
118
LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Responsabilidade civil do proprietário diante do bem sócio ambiental. Tese de doutorado.
Faculdade de Direito da USP, p. 165.
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Segundo José Adércio Leite Sampaio o desenvolvimento sustentável “consiste no uso ra-
cional e equilibrado dos recursos naturais, de forma a atender às necessidades das gerações
presentes, sem prejudicar o seu emprego pelas gerações futuras 122”.
No plano internacional, traduz-se, nas palavras de Chris Wold123, no direito dos Estados-
-membros usarem seus recursos de acordo com suas próprias políticas nacionais. Deste
modo, compete a cada Estado, individualmente, e segundo o poder conferido por meio de sua
soberania, formular e implementar sua política de proteção ao meio ambiente.
Do mesmo modo, “o direito ao desenvolvimento articula-se como um direito fundamental
que os Estados têm o dever de proteger124”.
Tal princípio foi explicitado por meio dos princípios 3125 e 4126 da Declaração do Rio de
Janeiro/92.
Segundo Paulo Affonso Leme Machado127 tal princípio foi acolhido por nossa Constitui-
ção Federal ao ter imposto à coletividade e ao poder púbico o dever de preservar o meio am-
biente para as presentes e futuras gerações.
Segundo Welber Barral e Gustavo Assed Ferreira128, “desenvolvimento sustentável é o de-
senvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer as possibilida-
des das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”.
Sobre o tema, o colendo STJ já se manifestou no sentido de que “o confronto entre o di-
reito ao desenvolvimento e os princípios do direito ambiental deve receber solução em prol do
último, haja vista a finalidade que este tem de preservar a qualidade da vida humana na face
da terra. O seu objetivo central é proteger patrimônio pertencente às presentes e futuras ge-
122
SAMPAIO, José Adércio Leite, et. al. Princípios de direito ambiental, p. 47.
123
Idem, p. 10.
124
Ibidem, p. 11.
125
PRINCÍPIO 3 - O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as
necessidades de gerações presentes e futuras.
126
PRINCÍPIO 4 - Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte integrante do pro-
cesso de desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste.
127
Art. 225, caput da Constituição Federal de 1988.
128
BARRAL, Welber; FERREIRA, Gustavo Assed. Direito ambiental e desenvolvimento In: Direito ambiental e desenvolvi-
mento, p. 13.
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rações”129. E ainda: “Os recursos naturais devem ser utilizados com equilíbrio e preservados
em intenção da boa qualidade de vida das gerações vindouras”130.
Por fim, Luiz Roberto Gomes131 entende que o princípio do desenvolvimento sustentá-
vel se encontra consagrado em nossa Constituição Federal, a qual obriga a coletividade a
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, por ser essencial à sadia
qualidade de vida.
Os Estados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de Direito Inter-
nacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias polí-
ticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob
sua jurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas
além dos limites da jurisdição nacional. (Princípio 2).
A inserção de tal princípio nas Constituições dos países possui uma importância funda-
mental a fim de possibilitar a defesa do meio ambiente. Isso porque, em geral, as agressões
129
Processo REsp 588022 / SC. Recurso Especial. 2003/0159754-5. Relator(a): Ministro José Delgado. Órgão Julgador: T1 - Pri-
meira Turma. Data do Julgamento: 17/02/2004. Data da Publicação/Fonte: DJ 05/04/2004 p. 217. LEXSTJ vol. 178, p. 174.
130
RMS n. 18.301/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 03/10/2005
131
GOMES, Luiz Roberto. Princípios constitucionais de proteção ao meio ambiente. Revista de direito ambiental, p. 179.
132
Neste sentido, vide artigo 4º, IX da Constituição Federal.
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ao meio ambiente não se restringem apenas a um país, podendo trazer graves prejuízos e
problemas para as populações de países vizinhos e, até mesmo, distantes daquele no qual o
dano tenha ocorrido.
Ora, a poluição, a diminuição das reservas de recursos naturais, o aumento da temperatu-
ra, o desmatamento, entre outros, trazem transtornos à população em geral, razão pela qual
se faz necessária a adoção de medidas que permitam a união entre os países no combate à
toda e qualquer agressão ao meio ambiente.
Tal princípio visa permitir o livre intercâmbio de experiências científicas e do mútuo auxílio
tecnológico e financeiro entre os países, a fim de facilitar a solução dos problemas ambientais.
O princípio da informação permite que toda pessoa obtenha do Estado informações rela-
tivas ao meio ambiente. Assim, qualquer interessado pode participar em questões relativas à
defesa e/ou proteção do meio ambiente133.
O direito à informação ambiental se justifica em razão do direito conferido a todos os
cidadãos de viver em um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Tal direito se encontra
previsto na lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual permite que qualquer pessoa legi-
timamente interessada tenha acesso aos resultados das análises efetuadas pelos órgãos
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, bem como das respectivas
fundamentações.
O meio ambiente constitui-se como um direito fundamental, pertencente a toda socieda-
de, de tal modo que, devem os cidadãos ter acesso a todas as informações relacionadas à
proteção desse bem jurídico.
O princípio da informação objetiva fazer com que toda a sociedade tenha conhecimento
acerca da exata situação ambiental, abrangendo tanto a sua preservação quanto a sua de-
133
Neste aspecto, lembre-se que a lei de ação civil pública (lei n. 7.347/85) permite que associações, obedecidas as exigên-
cias legais, promovam ações de prevenção e reparação de atos lesivos ao meio ambiente
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gradação. O acesso às informações relativas ao meio ambiente foi previsto pela Declaração
do Rio em seu Princípio 10134.
Recorde-se, ainda, que a informação ambiental é um pré-requisito para que determina-
da comunidade tenha condições de se manifestar acerca de determinado evento ambiental.
Por esta razão, Paulo Affonso Leme Machado135 destaca que a informação ambiental deve
ser transmitida de forma a possibilitar tempo suficiente para que os interessados possam
analisar a matéria e agir em defesa de seus direitos, procurando a Administração Pública ou
mesmo o Judiciário.
134
Princípio 10. A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos
os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio
ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas
em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e esti-
mular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o
acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos.
135
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, p. 94.
136
Ação Direta de Inconstitucionalidade ADI 3378 / DF - Distrito Federal. Relator(a): Min. Carlos Britto. Julgamento:
09/04/2008. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: DJe-112 DIVULG 19-06-2008 PUBLIC 20-06-2008. EMENT VOL-
02324-02 PP-00242
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137
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental, p. 32.
138
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, p. 63.
139
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional: teoria do Estado e da Constituição. Direito Constitucional Posi-
tivo, p. 753.
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O atual sistema federativo brasileiro, divide o País em três esferas administrativas: Fede-
ral, Estadual e Municipal140 tendo a Constituição Federal estabelecido um rol de repartição de
competências.
Ao tratar da organização político-administrativa da República Federativa do Brasil nossa
Constituição explicitou que todos os entes componentes da Federação são autônomos, divi-
dindo entre eles seus bens, competências e atribuições.
A divisão do país em diferentes esferas administrativas deve-se, dentre outros fatores,
em razão da sua dimensão territorial, abrangendo uma diversidade enorme de regiões e bio-
mas141, havendo a necessidade de se criar mecanismos que permitam uma atuação pontual,
local ou regional.
De acordo com José Afonso da Silva a repartição de competência entre as entidades com-
ponentes do Estado Federal é regida pelo princípio da predominância do interesse, segundo o
qual caberão à União as matérias e questões de predominante interesse geral ou nacional, ao
passo que os Estados cuidarão das matérias e assuntos de predominante interesse regional;
por fim, caberá aos Municípios conhecer os assuntos de interesse local.142
Assim, a repartição de competências foi efetuada pela Constituição Federal utilizando
como base o princípio da predominância do interesse.
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143
Vide art. 23, parágrafo único, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 53, de 2006
144
TAVARES, André ramos. Curso de Direito Constitucional. Saraiva: São Paulo, 2012, p. 1153-1154
145
Competência exclusiva: é aquela atribuída a um ente com a exclusão dos demais, sendo certo que esta competência é
indelegável. É prevista no artigo 25, §§ 1º e 2º da Constituição Federal.
146
A competência privativa é estabelecida em favor de uma entidade, todavia, passível de delegação e suplementação da
competência. É prevista pelo artigo 22, da CRFB.
147
A denominada competência concorrente ou cumulativa é aquela que pode ser exercida tanto pela União, quanto pelos
Estados-membros, pelo Distrito Federal, concomitantemente. Encontra-se prevista no art. 24 da Constituição Federale
se caracteriza pela possibilidade de tais entes disporem sobre o mesmo assunto ou matéria, sendo que à União caberá
legislar sobre normas gerais.
148
A competência suplementar refere-se à competência dos municípios para legislarem sobre normas de conteúdo de prin-
cípios e normas gerais ou que supram a ausência ou omissão destas.
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Tal responsabilização pode se dar no âmbito civil, penal ou administrativo e tem como
objetivo desestimular a prática de condutas prejudiciais ao bem jurídico ambiental, além de
impedir que os prejuízos advindos da ocorrência de danos ambientais venham a ser suporta-
dos por toda a coletividade.
Sobre o tema, observe-se que a jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabi-
lidade, no âmbito da Lei n. 7.347/1985 e da Lei n. 6.938/1981, de cumulação de obrigações
de fazer, de não fazer e de indenizar. Isso porque, nas demandas ambientais (por força dos
princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum) admite-se a condenação do réu,
simultânea e agregadamente, em obrigação de fazer, não fazer e indenizar. Caracteriza-se,
portanto, como típica obrigação cumulativa ou conjuntiva.151
A responsabilidade civil constitui-se como um dos temas mais instigantes na órbita ju-
rídica. Isso porque, cotidianamente, o ser humano pratica atos e omissões que podem trazer
consequências danosas para outras pessoas. Nessas hipóteses, surge a discussão acerca
da possibilidade (ou não) de se atribuir a uma pessoa (ou ente) a responsabilidade por algum
dano sofrido, bem como os limites da indenização subsequente.152
Segundo estabelece o código civil, a regra geral é a de que aquele que, por ação ou omis-
são voluntária, negligência ou imprudência, viole direito e cause dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito153 (art. 186). Trata-se, portanto, de responsabilidade
com base na existência de culpa por parte do agente.
151
Neste sentido, veja-se: REsp 1198727/MG e REsp 1.145.083/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin; REsp 1.178.294/MG,
Rel. Ministro Mauro Campbell Marques; AgRg nos EDcl no Ag 1.156.486/PR, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima; REsp
1.120.117/AC, Rel. Ministra Eliana Calmon; REsp 1.090.968/SP, Rel. Ministro Luiz Fux; REsp 605.323/MG, Rel. Ministro
José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki; REsp 625.249/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, entre outros.
152
Sobre o tema, cf. COUTINHO, Nilton Carlos de Almeida. O essencial nas procuradorias: advocacia pública em nível federal,
estadual, distrital e municipal. Brasília: Edição do Autor, 2017.
153
Do mesmo modo, também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
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154
“Sem obstar a aplicação das penalidades neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência da culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade” – (art. 14, §1º da Lei
n. 6938/81)
155
Neste sentido: BENJAMIN, Antônio Herman V. Responsabilidade civil pelo dano ambiental. Revista de Direito Ambiental.
São Paulo, n. 9, p. 5-52; MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Participação, processo civil e defesa do meio ambiente. São Paulo:
Letras Jurídicas, 2011, p. 44
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Outro fator que contribui para a adoção da responsabilidade objetiva reside na indivisibili-
dade do dano ambiental, no seu caráter transfronteiriço e na pluralidade de agentes poluido-
res, que também contribui para dificultar o retorno ao status quo ante (reductio ad pristinum
statum) do bem lesado.
156
A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais advém de uma escolha política, como
forma não apenas de punição das condutas lesivas ao meio ambiente, mas como forma mesmo de prevenção geral e
especial. (neste sentido, cf. REsp 610114 / RN e REsp 564960.
157
Registre-se que as pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas tanto no âmbito penal quanto no administrativo e civil
quando a infração cometida resultar de decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício de sua entidade, destacando-se, ainda, que a responsabilização da pessoa jurídica não exclui a
responsabilidade das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. (RHC 64219/MS).
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158
Cf. Art. 4º da lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
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159
Considera-se infração administrativa ambiental, toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promo-
ção, proteção e recuperação do meio ambiente, nos termos descritos no decreto n. 6.514, de 22 de julho de 2008.
160
Sobre o tema nossos tribunais já se manifestaram, inclusive, no sentido de que “à luz do princípio da autoexecutoriedade
dos atos administrativos, que dispensa ordem judicial para sua plena eficácia, a demolição de construção pode ser orde-
nada diretamente pela Administração, desde que precedida de regular processo.” Sobre o tema, cf.: REsp 1457851/RN –
Rel.: Min. Herman Benjamin
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Segundo ensina OLIVEIRA, o ato administrativo configura-se como um ato jurídico, unila-
teral e com caráter decisório, praticado no exercício de uma atividade administrativa pública,
destinada a produzir efeitos jurídicos numa situação individual e concreta, com observância
do regime jurídico administrativo.161
Tem como atributos a presunção de legitimidade, a imperatividade e a autoexecutoriedade.
Para a validade dos atos administrativos exige-se a presença de cinco requisitos de vali-
dade, a saber: competência, forma, finalidade, motivo e objeto.
Nesta linha, o art. 2º da Lei n. 4.717/1965 (Lei de Ação Popular) estabelece que são nulos
os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e)
desvio de finalidade.
A CRFB estabelece, de forma clara, que o Estado tem o dever de atuar na defesa e pre-
servação do meio ambiente. E, para fazer valer tais disposições normativas, a Administração
Pública pratica inúmeros atos administrativos, os quais encontram-se cercados de certos
atributos, sem os quais, as finalidades que direcionam sua atuação restariam prejudicadas.
Do mesmo modo, foram-lhe conferidos poderes a fim de permitir que esta desempenhe a
contento o papel para o qual fora ela criada, qual seja: a satisfação do interesse público.
Segundo ensina a doutrina, os principais poderes conferidos à Administração Pública são:
poder hierárquico, poder normativo (ou regulamentar); poder discricionário; poder vinculado
e poder de polícia.
Poder disciplinar
O poder disciplinar, consoante assevera, CAETANO, tem sua origem e razão de ser no inte-
resse e na necessidade de aperfeiçoamento progressivo do serviço público.162
Em decorrência da previsão de disciplina interna, de formas de condutas aos que se
mantém vinculados à Administração Pública, surge o poder de fiscalizar a regularidade dos
161
OLIVEIRA. José Carlos de. In: NAKAMURA, André; COUTINHO, Nilton Carlos de Almeida. (org.) Direito Administrativo. Bra-
sília: Coutinho, 2017.
162
CAETANO, Marcelo, Do Poder Disciplinar, Lisboa, 1932, p. 25.
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163
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, São Paulo: Átlas, 29ª edição, 2016, pág. 95.
164
REALE, Miguel. Revogação e anulamento do ato administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 12.
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configurar infração administrativa (nos termos do §3º do art. 70, da Lei n. 9.605/1998) e/ou
ato de improbidade administrativa (nos termos do art. 11, II, da Lei n. 8.429/1992) ensejando
a corresponsabilidade e, até mesmo, a perda do cargo do servidor omisso.
7.4. Tombamento
Conforme mencionado no início deste livro167, as características históricas e culturais de
determinada sociedade constituem o chamado meio ambiente cultural. Assim, inserem-se
nessa modalidade, o desenvolvimento histórico de um povo, bem como suas raízes étnicas,
seu patrimônio genético, seus valores morais, éticos, religiosos, etc.
Para sua proteção, a Administração tem à sua disposição o instituto jurídico do tomba-
mento. Assim, tem-se que o tombamento é uma forma de intervenção do Estado na proprie-
dade privada, na qual o Estado institui regime jurídico diferenciado na propriedade (privada ou
167
Para maiores detalhes, cf. capítulo 2.3 da presente obra
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Observe-se, ainda, que as ações de gestão em matéria ambiental podem ser realizadas
por instituições públicas e privadas comprometidas com a utilização racional e sustentável
dos recursos ambientais.
Assim, ações na área de educação ambiental, utilização de recursos hídricos, coleta sele-
tiva, reciclagem, utilização de fontes alternativas de energia (tais como a energia solar, eólica,
etc.) são fundamentais para que possamos, de fato, contribuir para a proteção do meio am-
biente, segundo estabelece nossa Constituição Federal.
LEI COMPLEMENTAR N. 140, DE 8 DE DEZEMBRO DE 2011
Fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Cons-
tituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção
das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer
de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de
agosto de 1981.
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e
do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercí-
cio da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção
do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das
florestas, da fauna e da flora.
Art. 2º Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:
I – licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar ativi-
dades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental;
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II – atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo ori-
ginariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar;
III – atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho
das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federati-
vo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei Complementar:
I – proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promo-
vendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II – garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio
ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução
das desigualdades sociais e regionais;
III – harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atua-
ção entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atua-
ção administrativa eficiente;
IV – garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as pecu-
liaridades regionais e locais.
CAPÍTULO II
DOS INSTRUMENTOS DE COOPERAÇÃO
Art. 4º Os entes federativos podem valer-se, entre outros, dos seguintes instrumentos de
cooperação institucional:
I – consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor;
II – convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares com ór-
gãos e entidades do Poder Público, respeitado o art. 241 da Constituição Federal;
III – Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bipartite
do Distrito Federal;
IV – fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;
V – delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos pre-
vistos nesta Lei Complementar;
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CAPÍTULO III
DAS AÇÕES DE COOPERAÇÃO
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Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação
dos processos de licenciamento.
§ 1º As exigências de complementação oriundas da análise do empreendimento ou ativi-
dade devem ser comunicadas pela autoridade licenciadora de uma única vez ao empreende-
dor, ressalvadas aquelas decorrentes de fatos novos.
§ 2º As exigências de complementação de informações, documentos ou estudos feitas
pela autoridade licenciadora suspendem o prazo de aprovação, que continua a fluir após o
seu atendimento integral pelo empreendedor.
§ 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não im-
plica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura
a competência supletiva referida no art. 15.
§ 4º A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de
120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença,
ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental
competente.
Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas
de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses:
I – inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou
no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distri-
tais até a sua criação;
II – inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município,
o Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e
III – inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e
no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um
daqueles entes federativos.
Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar-se-á por meio de apoio
técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação.
Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor
da atribuição nos termos desta Lei Complementar.
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CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 18. Esta Lei Complementar aplica-se apenas aos processos de licenciamento e auto-
rização ambiental iniciados a partir de sua vigência.
§ 1º Na hipótese de que trata a alínea “h” do inciso XIV do art. 7º, a aplicação desta Lei
Complementar dar-se-á a partir da entrada em vigor do ato previsto no referido dispositivo.
§ 2º Na hipótese de que trata a alínea “a” do inciso XIV do art. 9º, a aplicação desta Lei
Complementar dar-se-á a partir da edição da decisão do respectivo Conselho Estadual.
§ 3º Enquanto não forem estabelecidas as tipologias de que tratam os §§ 1º e 2º deste
artigo, os processos de licenciamento e autorização ambiental serão conduzidos conforme a
legislação em vigor.
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Art. 19. O manejo e a supressão de vegetação em situações ou áreas não previstas nesta
Lei Complementar dar-se-ão nos termos da legislação em vigor.
Art. 20. O art. 10 da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, passa a vigorar com a seguin-
te redação:
“Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e ati-
vidades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capa-
zes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamen-
to ambiental.
§ 1º Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publi-
cados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em
meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente.
§ 2º (Revogado).
§ 3º (Revogado).
§ 4º (Revogado).” (NR)
Art. 21. Revogam-se os §§ 2º, 3º e 4º do art. 10 e o § 1º do art. 11 da Lei no 6.938, de 31
de agosto de 1981.Art. 22. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 8 de dezembro de 2011; 190º da Independência e 123º da República.
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QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 1 (FGV/OAB EXAME DE ORDEM UNIFICADO - IV - PRIMEIRA FASE/2011) O inci-
so VII do §1º do art. 225 da Constituição da República prevê a proteção da fauna e da flora,
vedadas as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, enquanto que o §1º do
art. 231 do referido texto constitucional estabelece que são terras indígenas as habitadas
por eles em caráter permanente e que podem ser utilizadas por esses povos, desde que ne-
cessárias ao seu bem-estar e à sua reprodução física e cultural. A esse respeito, assinale a
alternativa correta.
a) Os indígenas têm o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nas terras
ocupadas em caráter permanente por eles e, portanto, podem explorá-las, sem necessidade
de licenciamento ambiental.
b) Os indígenas podem suprimir vegetação de mata atlântica sem autorização do órgão am-
biental competente porque são usufrutuários das terras que habitam.
c) A exploração dos recursos florestais em terras indígenas somente poderá ser realizada
pelas comunidades indígenas em regime de manejo florestal sustentável, para atender à sua
subsistência, respeitado o Código Florestal.
d) Os indígenas são proprietários das terras que ocupam em caráter permanente, mas devem
explorá-las segundo as normas ambientais estabelecidas na Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente e do Código Florestal.
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b) A licença de operação ambiental tem prazo de validade de dez anos. Logo o shopping já
cumpriu com suas obrigações referentes ao licenciamento e ao estudo prévio de impacto
ambiental, e poderá continuar com suas atividades regularmente.
c) A decomposição de material orgânico continua ocorrendo, e é considerada perigosa à saúde
humana e ao meio ambiente. Logo, o shopping center em questão poderá ser obrigado pelo órgão
ambiental competente a adotar medidas para promover a dispersão do gás metano, de forma a
minimizar ou anular os riscos ambientais, mesmo que já possua licença de operação válida.
d) Caso o shopping center possua licença de operação válida, não poderá ser obrigado pelo
órgão ambiental competente, no caso exposto, a adotar novas medidas para a dispersão do
gás metano. Apenas no momento da renovação de sua licença de operação poderá ser obri-
gado a adquirir novo equipamento para tal fim.
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b) O TAC não pode ser celebrado, uma vez que a ação civil pública foi proposta pelo Estado, e
não pelo Ministério Público.
c) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC, sob pena de violação ao princípio da
isonomia, mas sem que haja possibilidade de flexibilizar o conteúdo das normas violadas.
d) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC nos termos pretendidos, valendo o termo
como título executivo extrajudicial, apto a extinguir a ação civil pública por perda de objeto.
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GABARITO
1. c
2. c
3. d
4. a
5. b
6. c
7. b
8. d
9. d
10. b
11. d
12. a
13. b
14. a
15. c
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GABARITO COMENTADO
Questão 1 (FGV/OAB EXAME DE ORDEM UNIFICADO - IV - PRIMEIRA FASE/2011) O inciso
VII do §1º do art. 225 da Constituição da República prevê a proteção da fauna e da flora, veda-
das as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, enquanto que o §1º do art. 231
do referido texto constitucional estabelece que são terras indígenas as habitadas por eles em
caráter permanente e que podem ser utilizadas por esses povos, desde que necessárias ao seu
bem-estar e à sua reprodução física e cultural. A esse respeito, assinale a alternativa correta.
a) Os indígenas têm o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nas terras
ocupadas em caráter permanente por eles e, portanto, podem explorá-las, sem necessidade
de licenciamento ambiental.
b) Os indígenas podem suprimir vegetação de mata atlântica sem autorização do órgão am-
biental competente porque são usufrutuários das terras que habitam.
c) A exploração dos recursos florestais em terras indígenas somente poderá ser realizada
pelas comunidades indígenas em regime de manejo florestal sustentável, para atender à sua
subsistência, respeitado o Código Florestal.
d) Os indígenas são proprietários das terras que ocupam em caráter permanente, mas devem
explorá-las segundo as normas ambientais estabelecidas na Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente e do Código Florestal.
Letra c.
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Letra c.
Vide Resolução n. 237/1997 - CONAMA
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III – Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a veri-
ficação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle
ambiental e condicionantes determinados para a operação.
Como se pode observar, possuir Licença de Operação não é carta branca para proceder como bem
entender. A licença de operação, como espécie de licença ambiental, ainda impõe a obediência a
condições e medidas de controle ambiental, logo pode-se entender, que mesmo possuindo licença,
qualquer órgão continuará sendo fiscalizado e deverá cumprir determinações de órgão ambientais.
Art. 19 – O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os condi-
cionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida,
quando ocorrer:
I – Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais.
II – Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da licença.
III – superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.
Letra d.
a) Errada. Vide art. 7º São ações administrativas da União:
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b) Errada. Vide art. 7º São ações administrativas da União: XVII - controlar a introdução no
País de espécies exóticas potencialmente invasoras que possam ameaçar os ecossistemas,
habitats e espécies nativas;
c) Errada. Vide: art. 7º São ações administrativas da União: XXIII - gerir o patrimônio genético
e o acesso ao conhecimento tradicional associado, respeitadas as atribuições setoriais;
) Certa. Vide art. 7º São ações administrativas da União: XVIII - aprovar a liberação de exem-
d
plares de espécie exótica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos;
Letra a.
VIDE artigo 112 do Decreto n. 6.514 de 22 de Julho de 2008
Art. 112. A demolição de obra, edificação ou construção não habitada e utilizada diretamente para
a infração ambiental dar-se-á excepcionalmente no ato da fiscalização nos casos em que se cons-
tatar que a ausência da demolição importa em iminente risco de agravamento do dano ambiental
ou de graves riscos à saúde.
§ 1º A demolição poderá ser feita pelo agente autuante, por quem este autorizar ou pelo próprio
infrator e deverá ser devidamente descrita e documentada, inclusive com fotografias.
§ 2º As despesas para a realização da demolição correrão às custas do infrator.
§ 3º A demolição de que trata o caput não será realizada em edificações residenciais.
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Letra b.
a) P. da precaução. Esse princípio não se confunde com a prevenção. Esse princípio bus-
ca proteger o risco desconhecido, visa o risco incerto. O perigo é abstrato, hipotético.
b) P. da prevenção. Trata das medidas que devem ser adotadas para evitar lesões ao meio am-
biente. Realização de atos antes da ocorrência de qualquer dano. Para tornar uma prevenção
uma realidade, deve ser realizada uma política de educação ambiental. O perigo é concreto.
c) Princípio da vedação ao retrocesso: impede, em tema de direitos fundamentais de caráter
social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela forma-
ção social em que ele vive
d) P. do poluidor pagador. O agente, ao implementar suas atividades, deve levar em conside-
ração os ônus e custos de sua atuação. Os custos devem ser internalizados. Não é possível
degradar o meio ambiente e pagar por isso. O agente deve arcar com os custos de preven-
ção. Analisar os ônus ambientais para que ele seja transferido a coletividade. A ideia é PA-
GAR para NÃO poluir.
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Estado no qual está localizada, está causando degradação ambiental significativa, vindo a
lavrar auto de infração pelos danos cometidos.
Sobre o caso apresentado e aplicando as regras de licenciamento e fiscalização ambiental
previstas na Lei Complementar n. 140/2011, assinale a afirmativa correta.
a) Há irregularidade no licenciamento ambiental, uma vez que em se tratando de atividade que
cause degradação ambiental significativa, o mesmo deveria ser realizado pela União.
b) É ilegal a fiscalização realizada pelo IBAMA, que só pode exercer poder de polícia de ativi-
dades licenciadas pela União, em sendo a atividade regularmente licenciada pelo Estado.
c) É possível a fiscalização do IBAMA o qual pode, inclusive, lavrar auto de infração, que, po-
rém, não prevalecerá caso o órgão estadual de fiscalização também lavre auto de infração.
d) Cabe somente à União, no exercício da competência de fiscalização, adotar medidas para
evitar danos ambientais iminentes, comunicando imediatamente ao órgão competente, em
sendo a atividade licenciada pelo Estado.
Letra c.:
Vide Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras
jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - É possível a fiscalização do IBAMA o qual pode, inclusive, lavrar auto de infração, que,
porém, não prevalecerá caso o órgão estadual de fiscalização também lavre auto
de infração. designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias
dos Portos, do Ministério da Marinha.
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casos, a competência para o licenciamento ambiental é dos Estados (art. 8º, XIV, da LC n.
140/2011);
b) Errada,; normalmente o ente que tiver promovido o licenciamento ambiental é quem vai fa-
zer a fiscalização, o poder de polícia, para apurar as infrações à legislação ambiental no local
(art. 17, caput, da LC n. 140/11); porém, tal regra “não impede o exercício pelos entes federati-
vos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades
efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação
ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha
a atribuição de licenciamento ou autorização” para o caso (art. 17, p. 3º, da LC n. 140/2011);
c) Certa (art. 17, p. 3º, da LC n. 140/2011), lembrando que o IBAMA é autarquia criada pela
União para atuar nesse segmento;
d) Errada,, pois nesse tipo de caso (iminência de dano ambiental), o próprio ente federativo
que tiver conhecimento do fato (no caso, a União) deverá determinar as providências para
evitá-la, cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as
providências cabíveis (art. 17, p. 2º, da LC n. 140/2011).
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Letra b.
O SISNAMA é um conjunto articulado de órgãos, entidades, regras e práticas responsáveis
pela proteção e pela melhoria da qualidade ambiental, estruturando-se por meio dos seguin-
tes níveis político-administrativos: Órgãos Seccionais – De caráter executivo, essa instância
é composta por órgãos e entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e
projetos, assim como pelo controle e fiscalização de atividades degradadoras do meio am-
biente. São, em geral, as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente.
Para maiores detalhes, vide Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998
Art. 79-A. Para o cumprimento do disposto nesta Lei, os órgãos ambientais integrantes do SISNA-
MA, responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização dos estabe-
lecimentos e das atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam autorizados
a celebrar, com força de título executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas físicas
ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabeleci-
mentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente
poluidores.
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Letra d.
Conforme art. 158, parágrafo único, II, da CF.
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c) A licença é válida, porém não há impedimento que um Estado e a União expeçam licenças
relativas ao mesmo empreendimento, caso entendam que haja impacto de âmbito regional e
nacional, respectivamente.
d) Para o início da produção de calçados, é imprescindível a obtenção de licença de ope-
ração, sendo concedida após a verificação do cumprimento dos requisitos previstos nas
licenças anteriores.
Letra d.
a) Errada, O Município tem competência para concessão de licença ambiental, conforme a Lei
complementar n. 140/2011:
d) Certa, Resolução Conama n. 237/1997 - Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua com-
petência de controle, expedirá as seguintes licenças:
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III – Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a veri-
ficação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle
ambiental e condicionantes determinados para a operação.
Letra b.
Vide art. 14. § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causa-
dos ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União
e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.
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a) Caso a unidade industrial esteja localizada em terras indígenas, ela não poderá ser
instalado
b) Caso a unidade industrial esteja localizada e desenvolvida em dois estados da federação,
ambos terão competência para o licenciamento ambiental
c) Caso inserida em qualquer Unidade de Conservação, a competência para o licenciamento
será do IBAMA.
d) Caso o impacto seja de âmbito local, a competência para o licenciamento ambiental será
do Município
Letra d.
a) Errada. Pode sim, mas deve ser feito dois licenciamentos, um pela União, por meio da Fu-
nai, e outro pelo ente federativo em questão (dependendo da preponderância de interesses +
titularidade do bem). => posicionamento STJ.
b) Errada. Nesse caso a competência será do IBAMA (art. 7º, XIV, e, da LC n. 140/2011 e art.
4º da Res. CONAMA 237).
c) Errada. Nesse caso a competência seria do Instituto Chico Mendes. Vide também LC
140/2011, art. 7º, XIV, d; art. 8º, XV; e art. 9º, XIV, b; e arts. 4º, 5º e 6º da Res. CONAMA 237.
d) Certa. Nesse caso a competência seria do Município.
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Letra a.
a) Certa, nos termos do art. 23 da CRFB: É competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas;
b) Errada. Na verdade trata-se de competência concorrente, mas os municípios não podem
legislar na falta da lei. Na competência concorrente ela é sempre legislativa e a união fica com
as normas gerais e os estados com as normas específicas. Na omissão da norma geral da
união, o estado assume a competência plena, ou seja, normas gerais e específicas. Caso, pos-
teriormente, a União edite a lei federal contendo a norma geral, as leis estaduais tornam-se
suspensas na parte em que lhe for contrária (suspende e não revoga). Mas de qualquer forma
os municípios não têm essas prerrogativas.
c) Errada. A competência material ambiental é comum a todos os entes.
d) Errada. O Município também possui competência material em direito ambiental. Vide art.
23 d CRFB.
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art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patri-
mônio público;
II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de de-
ficiência;
III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os mo-
numentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor
histórico, artístico ou cultural;
V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à
inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 85, de 2015)
VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e
de saneamento básico;
X – combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração so-
cial dos setores desfavorecidos;
XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de re-
cursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII – estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
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Letra b.
VIDE: Resolução CONAMA n. 1/1986:
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a) Josemar não possui direito subjetivo à celebração do TAC, que, caso celebrado, não pode
dispor sobre o conteúdo da norma violada, mas sobre a forma de seu cumprimento.
b) O TAC não pode ser celebrado, uma vez que a ação civil pública foi proposta pelo Estado, e
não pelo Ministério Público.
c) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC, sob pena de violação ao princípio da
isonomia, mas sem que haja possibilidade de flexibilizar o conteúdo das normas violadas.
d) Josemar possui direito subjetivo a celebrar o TAC nos termos pretendidos, valendo o termo
como título executivo extrajudicial, apto a extinguir a ação civil pública por perda de objeto.
Letra a.
a) Certa. Nos termos da Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/1985), art. 5º § 6º “Os órgãos
públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua
conduta às exigências legais,” mediante cominações, que terá eficácia de título executivo ex-
trajudicial. Ou seja, os órgãos públicos podem tomar dos interessados o compromisso, mas
não é algo obrigatório (depende do caso concreto). Além disso, não se pode dispor sobre o
conteúdo protetivo de norma ambiental, sendo que o TAC deve ajustar a conduta às exigên-
cias legais.
b) Errada. Todos os órgãos públicos legitimados para a propositura de ACP podem tomar dos
interessados o compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais (Lei no
7.347/1985, art. 5º § 6º)
c) Errada. Não há direito subjetivo à celebração de TAC (Lei no 7.347/1985, art. 5º § 6º)
d) Errada. Não há direito subjetivo à celebração de TAC (Lei no 7.347/1985, art. 5º § 6º)
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Entretanto, em decorrência de uma intensa, imprevisível e excepcional chuva que caiu na re-
gião, parte da usina ficou alagada. Isso gerou superaquecimento nas instalações, fato que
culminou na liberação de um pequeno volume de gases radioativos armazenados, causando
náuseas e vômitos na população que mora próxima à usina.
Com base na situação narrada, assinale a afirmativa correta.
a) A União não pode ser responsabilizada pelos danos causados à população, tendo em vista
a ausência de culpa (responsabilidade subjetiva) por parte do Poder Público.
b) Em razão de as chuvas constituírem um evento imprevisível e excepcional, não se cogita a
responsabilidade da União pelos danos causados à população.
c) A União pode ser responsabilizada pelas consequências advindas do vazamento de gases
radioativos, independentemente de culpa, pois a responsabilidade é objetiva.
d) A União não pode ser responsabilizada pelos danos causados à população, dado competir
aos Estados a exploração dos serviços e das instalações nucleares, cabendo a eles a respon-
sabilidade pelos danos.
Letra c.
O art.21, XXIII, “d” da CF/1988 estabelece que “a responsabilidade civil por danos nucleares
independe da existência de culpa”. Logo, temos responsabilidade objetiva da União.
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