O documento discute os cortes de verbas e políticas culturais em diferentes níveis de governo no Brasil e em Mauá, e apresenta o Comitê Popular de Cultura de Mauá, formado para organizar artistas locais em defesa de políticas públicas de cultura e contra o autoritarismo.
O documento discute os cortes de verbas e políticas culturais em diferentes níveis de governo no Brasil e em Mauá, e apresenta o Comitê Popular de Cultura de Mauá, formado para organizar artistas locais em defesa de políticas públicas de cultura e contra o autoritarismo.
O documento discute os cortes de verbas e políticas culturais em diferentes níveis de governo no Brasil e em Mauá, e apresenta o Comitê Popular de Cultura de Mauá, formado para organizar artistas locais em defesa de políticas públicas de cultura e contra o autoritarismo.
Luta e Resistência em Mauá em Tempos de Autoritarismo
por Felipe Vieira de Galisteo
O desmonte do setor cultural toma todas as esferas de governo no Brasil
atualmente. Em nível federal, primeiro houve a destruição do Ministério da Cultura, relegado a ser apenas uma pasta dentro do Turismo. Depois, o grave caso do secretário de cultura que gravou um vídeo explicitamente nazista. Apesar de destituído do cargo após essa imensa polêmica, deixou como “legado” a perseguição aos artistas críticos ao governo, criando um edital destinado apenas ao que eles intitulam “artistas conservadores”. Além disso, a produção cinematográfica nacional está beirando a inviabilidade com a retirada de verbas da ANCINE, sem contar os cortes ilegais de um orçamento que não chega a 1% dos recursos da União e o abandono das políticas públicas de financiamento cultural através de empresas estatais importantes como a PETROBRÁS e CAIXA ECONÔMICA. No estado de São Paulo não é diferente: a politica para o setor começa com o conceito de cultura substituído pelo de economia criativa, amarrando assim a produção artística a uma ideologia puramente mercadológica. Esse processo inclui cortes de recursos do PROAC, principalmente relacionado às políticas afirmativas e o sucateamento de projetos importantes como o Fábricas de Cultura, relegado pela administração pública à terceirização sistemática, com sua entrega para as tais OS, organizações privadas pouco interessadas na formação crítica de nossos jovens cidadãos estudantes de artes.
Com todos esses absurdos nas administrações federal e estadual, os
problemas ocorridos nessa área em Mauá parecem apenas um pequeno estorvo aos artistas da cidade. Mas não é! Os parcos recursos do único fundo público de financiamento aos projetos de nossos artistas, intitulado FAFC, ganhou esse ano um edital extremamente equivocado que contempla apenas o financiamento de um projeto da própria prefeitura, as Quartas Culturais, com pagamentos de cachês que beiram o ridículo. O que antes era um edital aberto à diversidade de propostas de criação, formação e pesquisa artística virou um mero credenciamento de artistas que serão contratados diretamente pela atual secretaria de cultura e juventude, sem passar por um processo de análise isento, utilizando-se dos recursos do fundo em questão. Isso retira do artista munícipe qualquer possibilidade de autonomia sobre seu próprio projeto artístico, inviabilizando, por exemplo, o uso de espaços que não os já determinados pela secretaria e críticas a atual gestão, negando assim o direito de livre expressão de seu trabalho e obrigando-o a se enquadrar aos ditames do governo. Sendo assim, quem garante a idoneidade e transparência dessas contratações via credenciamento? Quem garante que não serão financiadas apenas apresentações de artistas que estejam atrelados, direta ou indiretamente, a atual gestão? A maneira como se desenha essa situação não deixa dúvidas sobre a tentativa de controle governamental sobre a produção artística do município, já demonstrado em outras situações como em contratações por indicações políticas e não por competência dentro das Oficinas Culturais, sem contar o descaso contínuo com os artistas mauaenses, exemplificado com um projeto do final de 2019 chamado Expresso Cultural, que determinava valores para apresentações de espetáculos da cidade com valores até vinte vezes mais baixo do que de produções de fora do município. Desse modo se revela o caráter autoritário e oportunista da atual gestão, que visa apenas dar maior visibilidade para si mesma, transformando seus projetos em verdadeira propaganda eleitoreira fora de época, quando o princípio norteador para a utilização desses recursos públicos deveria ser a valorização e o incentivo à produção cultural de nossa cidade.
Na esteira desses acontecimentos é que surge o Comitê Popular de
Cultura de Mauá. A sigla “CPC” trata-se uma homenagem ao importante Centro Popular de Cultura da UNE, que contribuiu enormemente na promoção do fazer artístico no Brasil e acabou sendo perseguido e extinto pela Ditadura Militar. Apesar disso, os artistas remanescentes daquele CPC seguiram resistindo contra o regime vigente naquele momento, organizando-se na luta política através da arte e da cultura. Inspirado nessa história, o CPC de Mauá visa contribuir na organização da classe artística mauaense, fortalecendo os laços entre os diferentes coletivos e artistas da cidade através de uma agenda conjunta de programações culturais independentes e tendo por objetivo maior a luta por políticas públicas de cultura efetivas e contra o desmonte da cultura nas esferas municipal, estadual e federal, disputando espaços políticos hoje controlados por aqueles que tomaram o poder, valorizando a produção local e defendendo o exercício pleno de liberdade criativa de nossos artistas. O Comitê Popular de Cultura de Mauá acredita que somente com a classe artística organizada e próxima da luta popular poderá contribuir de maneira decisiva na transformação positiva da cidade.
Sabemos que outras mobilizações populares ligadas à cultura ocorrem
em diversos municípios desse país diante das atrocidades cometidas pelos atuais governantes. Desse modo, o CPC de Mauá não se encontra sozinho, bem como não se encontram sozinhos nossos companheiros artistas Brasil adentro. É preciso cada vez mais nos organizar para a luta contra o autoritarismo e a tentativa de destruição do setor cultural em nosso país, compreendendo que o papel do artista hoje vai além de suas capacidades técnicas e das diferentes formas estéticas e linguagens. Precisamos nos entender e unificar enquanto classe trabalhadora de um setor absolutamente atacado, desprezado e perseguido pelas elites políticas e econômicas brasileiras, e fazer dessa união o braço cultural de uma revolução contra o sistema em que vivemos.