Você está na página 1de 32

História e Geografia de Portugal I

O REINO DE
PORTUGAL ATÉ
AOS FINAIS DO
SÉC. XIV

Licenciatura em Educação Básica


2021/2022

Ana Caroline – 3200005


Cristele Santos – 3200135
Mariana Barbosa – 3200138
Maria Inês Magalhães – 3200274
O REINO DE
PORTUGAL ATÉ
AOS FINAIS DO
SÉC. XIV

Licenciatura em Educação Básica


Turma: 2EBA | 2021/2022
Unidade Curricular: História e Geografia de Portugal I

Docente: Amândio Barros

Ana Caroline – 3200005


Cristele Santos – 3200135
Mariana Barbosa – 3200138
Maria Inês Magalhães – 3200274
1
Índice

3
1. Sociedade portuguesa...............................................................................................4
1.1. Organização da sociedade medieval portuguesa.................................................4
1.1.1. O poder Régio e a Monarquia Feudal...............................................................5
1.2. Religião..................................................................................................................8
1.3. Economia Medieval...............................................................................................9
1.4. A Cultura Medieval..............................................................................................11
1.4.1. Tempos livres..................................................................................................11
1.4.2. Literatura........................................................................................................12
1.4.3. A cultura leiga e profana nas cortes régias e senhoriais................................13
1.4.4. A arte...............................................................................................................14
2. O Espaço Português................................................................................................16
2.1. O País Rural e Senhorial......................................................................................17
2.2. O País Urbano e Concelhio..................................................................................19
3. Crises no séc. XIV.....................................................................................................20
3.1. Trilogia Negra.....................................................................................................21
3.2. Crise Moral e Religiosa........................................................................................25
3.3. Crise Dinástica.....................................................................................................27
3.4. Batalha de Aljubarrota e Consolidação da Independência de Portugal.............28

2
Introdução

Este trabalho, desenvolvido no âmbito da Unidade Curricular de História


e Geografia de Portugal I, tem como objetivo a análise do contexto histórico do
Reino de Portugal a partir da sua formação até ao final do século XIV. Dessa
forma, examinaram-se os diferentes âmbitos relativos à evolução de Portugal
como, por exemplo, a sociedade, a religião, a cultura, a economia, o território e
as principais crises que acometeram o reino no século XIV.
Então, o primeiro capítulo deste estudo, abordou a organização da
sociedade medieval portuguesa, bem como a religião, a cultura e a economia
de Portugal naquela época.
No segundo capítulo, tratou-se o espaço português, analisando-se as
mudanças nas delimitações territoriais ao longo do período estudado. Além
disso, relacionou-se a expansão das fronteiras portuguesas com a
predominância do senhorialismo, em face ao feudalismo e com o
desenvolvimento das zonas citadinas.
Por fim, o terceiro capítulo refere-se às crises que impactaram Portugal
durante o século XIV, com destaque para a Trilogia Negra, a crise moral e
religiosa e a crise dinástica.

3
1. Sociedade portuguesa 

1.1. Organização da sociedade medieval portuguesa 

A sociedade medieval era uma sociedade hierarquizada e tripartida,


dividida em grupos de privilegiados e não privilegiados. Pertenciam ao grupo
dos privilegiados os membros do clero e da nobreza e ao grupo dos não
privilegiados o povo - classe trabalhadora e mais desfavorecida. 
O clero era o grupo social mais culto. Detinha grande poder económico,
influência e privilégios, tais como receber grandes doações de terras e outros
bens, exercer cargos administrativos, isenção do pagamento de impostos,
posse de poder militar, aplicação da justiça, entre outros. Os membros do clero
dedicavam-se à cultura, ao saber e ao ensino, sendo, no entanto, a sua
principal função orar. Este era um grupo social que desfrutava de um grande
prestígio junto da população, estando presente em todos os momentos da vida.
Para além de prestarem auxílio aos doentes e aos mais pobres, acolhiam
pessoas nos seus mosteiros. O clero dividia-se em dois grandes grupos: o alto
clero e o baixo clero. O alto clero era formado pelos bispos, arcebispos e
abades, provenientes da nobreza e que desempenhavam altos cargos
administrativos, usufruindo de grandes privilégios e regalias. Já o baixo clero
era composto pelos párocos, monges, freiras e frades, que provinham do povo,
não usufruindo, portanto, das regalias do alto clero e levando uma vida
modesta. O clero podia ainda dividir-se em clero regular e clero secular. O clero
regular dizia respeito ao conjunto das ordens religiosas, correspondendo aos
abades de mosteiros e mestres de ordens religioso-militares do alto clero, e
aos monges, freiras e frades do baixo clero. O clero secular era formado por
bispos e párocos que viviam junto da população, correspondendo aos
arcebispos e bispos do alto clero e aos párocos, priores e padres do baixo
clero.  
A nobreza pode também ser dividida em alta nobreza e baixa nobreza. A
alta nobreza era constituída pelos ricos-homens e altos dignitários da corte, e a
baixa nobreza era composta pelos infanções, cavaleiros e escudeiros. Cabia
aos ricos-homens a governação das terras em nome do Rei, tendo uma

4
promoção social pelos serviços que prestavam. Já os membros da baixa
nobreza eram proprietários de terras, dedicando-se os cavaleiros às funções
militares, e sendo os infanções essencialmente proprietários rurais, e
constituindo-se os escudeiros como auxiliares dos cavaleiros. A nobreza
detinha um grande prestígio e exercia importantes cargos administrativos,
possuindo direitos e privilégios. Além de não pagarem impostos, de serem
julgados em tribunais próprios e de terem o direito de usar armas e possuir
cavalos, podiam cobrar impostos, possuir exércitos próprios e aplicar a justiça.
As suas atividades principais baseavam-se na atividade militar, na participação
em torneios e na caça.  
O povo era o grupo social mais numeroso e mais desfavorecido, a quem
cabia trabalhar arduamente, pagar pesados impostos e viver sob a
dependência dos senhores. No topo deste grupo estavam os homens-bons, a
quem competia a aristocracia local. Estes dividiam-se em cavaleiros-vilãos,
mercadores de grosso trato, doutores e outros detentores de cargos públicos.
Para além deste subgrupo, existiam ainda os peões (grupo de pequenos
proprietários rurais e artífices) e os assoldados que eram os companheiros e
aprendizes dos artesãos. Ainda assim, havia o subgrupo dos pobres. Dele
faziam parte os assoldados caídos em miséria, vagabundos, prostitutas,
marginais, etc.  
À parte destes subgrupos e de toda a estratificação, existiam as minorias
étnicas e religiosas como os judeus e os mouros que viviam em bairros
segregados, com os seus próprios funcionários e leis. 
 

1.1.1. O poder Régio e a Monarquia Feudal   

Na monarquia feudal o rei assume-se como o maior e mais poderoso


dos senhores feudais. Em troca de doações e da concessão de proteção faz
convergir para a sua figura os laços de dependência pessoal de vassalos e
súbditos.  
Nesta monarquia, cabia à figura régia e à instituição monárquica o difícil
e importante papel de unificar os particularismos, dotando o espaço territorial
de coesão interna e conferindo às suas gentes uma identidade nacional.   

5
Na monarquia feudal portuguesa o rei era o “dominus rex” (rei senhor).
Isto é, o rei assumia-se como um senhor feudal na sua corte de vassalos. Os
reis fundamentavam o seu poder no direito divino, ou seja, o rei era o
representante de Deus na Terra.  
Tal como no resto da Europa, o reino era considerado um bem pessoal
do rei, que ele transmitia aos seus descendentes, podendo doar parcelas do
território nacional, coutos e honras, a senhores nobres e eclesiásticos, como
recompensa de serviços prestados nos primórdios da monarquia. Em troca de
tal cedência de bens e poderes, fundiários, militares, judiciais e fiscais, a
realeza criou uma corte de vassalos, que lhe devia fidelidade e apoio nas
tarefas de defesa, expansão e administração do reino.  
Ao rei era-lhe permitido:   
 Cobrar rendas ou exercer o poder público nos seus domínios
pessoais, os reguengos, mas, também, nos outros territórios;   
 Poder Militar: chefia do exército e mobilização direta dos súbditos
para a guerra; a manutenção da paz e da justiça; cabia-lhe a luta
contra todas as formas de abuso e de violência, o direito de julgar os
nobres e outros detentores do poder;   
 Poder Judicial: como juiz supremo, o rei reservava para si a justiça
maior, que lhe permitia condenar à morte ou ao talhamento de
membros;   
 Poder Fiscal: recolha de impostos e cunhagem exclusiva da moeda;  
 Poder Legislativo: produção de leis com o contributo de letrados e
legistas;   
Os monarcas portugueses para centralizar o poder decidiram tomar
algumas medidas tais como:  
 Medidas Legislativas - as leis gerais:  
A partir de D. Afonso II as leis gerais eram aplicadas a todo o reino e
súbditos, impondo a todos a mesma legislação, baseada no direito romano, ou
seja, eram iguais para todo o território e para toda a população.  
O rei criou as leis gerais com o objetivo de obter mais benefícios:
combater os privilégios senhoriais, tentar controlar os direitos nos nobres.  
 Medidas judiciais:   

6
Criação de uma rede de juízes a nível regional e local que garantisse a
manutenção da ordem social.   

 Medidas Fiscais - Lei da Almotaçaria:  


O rei passa a ter a exclusividade de cunhar a moeda; tabelar os preços -
lei da almotaçaria (os preços tinham de ser iguais em todo o território
nacional);   
Criação das Sisas Gerais: impostos que incidiam sobre a compra e
venda. 
Criação da Casa dos Contos: criada por D. Dinis para ordenar e
fiscalizar as receitas e despesas do estado.  
 Medidas Defensivas:   
Formação de um exército concelhio de natureza régia: os besteiros do
conto, soldados medievais que funcionavam como seguranças.  
 A criação da Cúria Régia:  
A cúria régia era um órgão consultivo de apoio à governação, um
conjunto de conselheiros que ajudavam o rei no exercício das suas funções,
possuindo assim importantes funções judiciais. Reuniam-se os membros das
várias classes para discutirem assuntos da governação quotidiana, questões
económicas, de paz e de guerra.  
Na cúria régia faziam-se reuniões ordinárias, marcadas de X em X
tempo, que detinham da presença da rainha e outros membros da família real,
ricos-homens e prelados, o governador da terra e o alcaide da cidade; e
também reuniões extraordinárias, reuniões de emergência que tratavam de
assuntos de dimensão nacional onde podiam estar presentes os prelados, os
abades das comunidades monásticas, os governadores da terra e os alcaides
das cidades.  
 Cortes: 
Eram compostas por representantes da nobreza, clero e dos
concelhos.   
Tratavam das questões mais importantes como a aclamação de novos
reis e lançamentos de novos impostos.  
 Reforço do poder do rei face à administração local:  
7
O rei intervinha nos concelhos através dos seus representantes: 
Alcaide-mor, que comandava as tropas ao serviço da coroa e vigiava as
atividades judiciais e locais;   
Almoxarifes e mordomo, que cobravam os direitos e as rendas devidos
ao Rei;   
Corregedor e Juízes de fora, que inspecionavam os magistrados e a
administração municipal. Houve uma substituição dos juízes por juízes de fora,
ou seja, estranhos à comunidade de vizinhos.   
O rei não pretendia anular a autonomia dos concelhos, mas zelar pelos
seus direitos. Estava interessado em promover o bem público, eliminando
abusos e arbitrariedades do poder local.  
 Reforço do poder do rei face aos grandes Senhores:  
Leis de desamortização - procuravam impedir a concentração de terras,
obtidas por compra ou herança, nas mãos do clero.   
Inquirições - investigações sobre a existência ou não de abusos de
poder por parte dos Senhores nobres e/ou eclesiásticos locais.   
Confirmações - consistiam na validação ou confirmação de bens que
outrora tinham sidos concedidos pelo Rei aos nobres e eclesiásticos e até às
povoações. 

1.2. Religião 

Com a expansão do feudalismo por toda a Europa Medieval,


observamos a ascensão de uma das mais importantes e poderosas instituições
desse mesmo período: a Igreja Católica. Aproveitando-se da expansão do
cristianismo, observada durante o fim do Império Romano, a Igreja alcançou a
condição de principal instituição a disseminar e refletir os valores da doutrina
cristã.  
O homem medieval, quer o rural, quer o urbano, era bastante religioso.
Contudo, a sua crença não era uma crença de contornos cristãos bem
definidos nem sempre de acordo com a doutrina oficial da Igreja. Isto porque,
era uma crença onde o maravilhoso pagão se misturava com a mitologia cristã.
Podiam não saber os segredos da Fé, ou as principais orações, podiam reduzir
a Igreja à capela das suas paróquias, mas, para eles, a religião estava
presente em todos os atos das suas vidas.  

8
O clero secular era o que estava mais próximo das pessoas, sendo
composto por vários eclesiásticos que compunham uma Igreja. Por sua vez, o
clero regular estava mais ou menos recluso em conventos. A paróquia era a
unidade básica do edifício eclesiástico tendo Portugal, na Idade Média, cerca
de 2500 paróquias. No entanto, para o cidadão medieval era a igreja paroquial
que mais diretamente lhe dizia respeito sendo que lá ouvia a missa, se
confessava e se casava.  
A Igreja também funcionava como local de reunião social, de troca de
informações, ponto de atração cultural, sendo por isso, um autêntico polo
dinamizador da vida social, religiosa e cultural.  
Além da religião cristã havia ainda, nas cidades, duas religiões
segregadas, o judaísmo e o islamismo, com as suas próprias atividades, que
decorriam em bairros próprios. Ambos os grupos suscitavam conflitos perante
os cristãos. Com os mouros, mais disseminados e assimilados, tais conflitos
eram pouco frequentes. Todavia, com os judeus, grupo mais aceso cultural e
socialmente e com grande poder económico, os litígios eram mais frequentes.
Assim, era habitual cristãos e judeus irem a tribunal pelos motivos mais
diversos, sendo que se realçava o motivo dos primeiros se encontrarem em
dependência económica face aos segundos. De entre os delitos registam-se
casos onde vários judeus foram mortos e inúmeros bens foram roubados.
Ainda assim, e apesar de tais confrontos, não houve, no nosso país, muitos
exemplos de massacres ou grandes perseguições a esta minoria étnica.   
 

1.3. Economia Medieval   

Na época feudal, a base da economia era a agricultura, que sofreu uma


acentuada prosperidade devido à ação individual de muitos camponeses, mas,
sobretudo, à iniciativa conjunta de reis, senhores laicos, ordens monásticas e
até cidades. Isto porque estes eram os que detinham maior capacidade para
atrair os camponeses, fornecer as primeiras sementes, os instrumentos de
trabalho e os materiais de construção. 
Além da expansão da superfície cultivada, a agricultura beneficiou,
também, de consideráveis avanços técnicos como o emprego crescente do
ferro nos utensílios agrícolas, o que fez diminuir o esforço dos cultivadores e

9
permitiu abrir mais profundamente o solo e fixar melhor as sementes.
Igualmente, para se aproveitar melhor a força animal, introduziu-se a canga
frontal para os bois e a coelheira rígida para os cavalos. Substituiu-se a
tradicional divisão da terra em apenas duas folhas, uma lavrada e outra em
pousio, dando lugar ao afolhamento com rotação trienal de culturas que
permitiu a cada ano, uma maior parcela de terreno. Por último, incrementou-se
a fertilização dos campos com argila calcária, cinzas e estrume animal que
melhoraram a qualidade dos solos. 
Assim, o aumento da produção agrícola, graças ao aperfeiçoamento
técnico e à ampliação das áreas de cultivo, permitiu a existência de excedentes
para o comércio e matérias-primas para o artesanato. Camponeses
começaram a abandonar os feudos em direção às cidades, onde novas
atividades eram desenvolvidas.  
A cidade medieval, além de ser um centro administrativo e de serviços,
era, também, um local de produção de bens e de venda dos mesmos. Assim, o
comércio e o artesanato eram atividades muito ligadas. É de salientar ainda
que a ligação do homem medieval à terra era uma constante, uma vez que a
economia medieval se mantém sempre uma economia rural. A maior parte dos
núcleos urbanos portugueses mantinham uma relação privilegiada com o
perímetro rural envolvente, podendo considerar-se que a maioria das
povoações medievais portuguesas se assemelhava a núcleos agrícolas com
comércio e serviços artesanais associados.  
Em todas as cidades e vilas existia um espaço aberto com carácter
permanente, o mercado, onde a troca era uma constante, tornando-se este um
sítio onde os habitantes podiam encontrar géneros de primeira necessidade,
tais como cereais, frangos, ovos, queijo, legumes e lã provenientes do meio
rural. Os mercados medievais alimentavam a vida económica corrente
estabelecendo uma ligação contínua entre a cidade e os campos mais
próximos.  
Paralelamente aos mercados, existiam as feiras. Estas possuíram um
importante papel no crescimento urbano e adquiriram elevada importância
económica, movimentando toda a região e deslocando grandes massas de
gente e mercadorias de zonas distantes. Neste sentido, seria através de
profissionais, os almocreves, que atuavam como intermediários, que se
10
abastecia a cidade de alimentos e a zona rural com produtos manufaturados.
Estes vendedores ambulantes corriam vilas e lugares levando produtos que,
doutra forma, dificilmente chegariam ao consumidor. A intensificação do
volume de trocas nesta época contribuiu para a afirmação da economia
monetária, um sistema económico baseado nas trocas e na circulação de
moeda.  
Estas cidades dedicavam-se sinda à prática artesanal, isto é, à produção
de manufaturas. As pessoas que exerciam essa atividade eram os artesãos ou
artífices, que se associavam em corporações de ofício para regulamentar a
produção e evitar a concorrência. Trabalhavam em pequenas oficinas que
funcionavam como lojas-oficinas onde o produto que confecionavam se
destinava à venda no mesmo local, o que se tornava benéfico para os
compradores que viam o fabrico do produto que tencionavam comprar. Nestes
locais, existia um mestre artesão, vários oficiais ou companheiros e ainda os
aprendizes. A produção era destinada a atender às necessidades dos
habitantes da cidade e seus arredores. 
 

1.4. A Cultura Medieval 

1.4.1. Tempos livres 

De modo a colmatar o trabalhoso e monótono quotidiano do Homem,


surgem as festas, acontecimentos repletos de valores e crenças, onde se
assume uma vivência coletiva com momentos específicos do mundo profano e
religioso.  
Grande parte das festas tradicionais que ainda hoje acontecem em
Portugal remontam à Idade Média. Estas festas eram muito divulgadas no
território nacional, existindo praticamente em todas as povoações. 
As grandes festas públicas só aconteciam nas cidades, onde os
momentos de diversão e lazer eram simultaneamente de cultura. Sendo o
cidadão urbano medieval português alguém com uma forte raiz rural, é natural
que se reconhecessem manifestações de cariz agrícola. Assim, os eventos
culturais nas vilas portuguesas de então eram eventos que também se

11
poderiam encontrar no campo como, por exemplo, o Carnaval, a romaria e a
procissão.   
O Carnaval era celebrado excessivamente, onde se ultrapassavam os
limites e a ordem virava desordem. Era uma época de desequilíbrios onde tudo
se encontrava virado do avesso. Por sua vez, nas romarias convivia o sagrado,
onde a religiosidade era uma constante, e o folclórico, transbordando a alegria,
os cantos, as danças, a música e a partilha de alimentos.  As procissões,
verdadeiros espelhos da religião cristã, expressavam uma narratividade festiva
e emotiva. 
A festa era um extravasar de sentimentos que introduzia uma pausa no
labor diário de todos, revigorando corpos e mentes.  
Além destas manifestações existiam outras menos frequentes
associadas a corte, como touradas, desfiles militares, torneios. 
A nobreza tinha bastante tempo livre, uma vez que a sua principal
função consistia na defesa do território, ou seja, em tempo de paz a sua ação
baseava-se no exercício do corpo e das armas, através de atividades como a
caça, justas e torneios, jogos de mesa, nomeadamente o xadrez. Os serões
davam lugar a distrações mais calmas como cantar, dançar, tocar
instrumentos. 
Também os elementos do clero, embora lhe estivessem interditas
ocupações que os afastassem dos seus deveres para com Deus, aderiam aos
divertimentos da nobreza (alto clero) ou aos do povo (baixo clero).  
O povo que vivia em meio rural seria, talvez, o que menos tempo livre
teria, atendendo aos múltiplos afazeres que lhe impunha uma agricultura pouco
produtiva.  
  

1.4.2. Literatura 

Até ao séc. XI, a leitura e a escrita eram privilégios quase exclusivos do


clero. Os mosteiros tinham vastas bibliotecas e escolas monacais que foram
diminuindo devido ao êxodo rural, pois estas inseriam-se em áreas rurais.   
No séc. XI criaram-se as primeiras escolas urbanas, no centro das
cidades, que, ainda sob a alçada da Igreja, se destinavam, além de clérigos, à
população leiga.  
12
Com o desenvolvimento citadino, eram necessários homens instruídos
em letras para ocuparem cargos de juristas, notários e escrivães. Então,
instruíram-se novos médicos, legistas, futuros funcionários régios, ou seja,
funcionários reais capazes de planear, executar e de fazer novas tarefas em
cidades que estavam em crescimento.  
Durante o século XII, algumas escolas catedralícias obtiveram fama
internacional pela qualidade dos seus mestres, o que atraía estudantes
estrangeiros de Teologia, Medicina ou Direito. Porque era necessária uma
organização mais rígida devido ao ensino ter-se tornado mais complexo,
criaram-se as universidades, que definiam objetivamente as matérias a
estudar, os graus académicos e defendiam os seus membros.   
Fundar e privilegiar universidades que ainda não existissem, tornou se
uma tarefa régia, embora ainda dependente da supervisão da Igreja. Em
Portugal, D. Dinis apoiou alguns pedidos dos clérigos ao Papa para que criasse
um Estudo Geral, futura universidade. Em 1290, foi fundada a primeira
universidade portuguesa, O Estudo Geral de Lisboa que possuía as faculdades
de Artes, Direito Canónico, Leis e Medicina. Em 1308, o rei transferiu o Estudo
Geral para Coimbra, pois esta ocupava já uma posição de destaque no
panorama cultural português. Embora tenha sido transferida novamente para
Lisboa, em 1537, a universidade portuguesa fixou-se definitivamente em
Coimbra, o que alterou a vida académica coimbrã até aos nossos dias.   
 

1.4.3. A cultura leiga e profana nas cortes régias e senhoriais  

Com um clima de prosperidade e paz, as cidades renasceram e com


elas, a cultura. O gosto por uma cultura erudita proliferou nas cidades, com as
escolas e as universidades, mas também nas cortes régias e senhoriais.  
Nesta cultura, a literatura assume um papel central, pois assim se
espalharam os ideais cavaleirescos, cantaram-se sentimentos e honraram-se
as memórias de antepassados e de grandes feitos praticados.  
Nasce o ideal do perfeito cavaleiro, com que toda a nobreza se
identificava. Para atingir esse estatuto, era necessário ser filho de um nobre e
ser honrado, corajoso e leal para com o seu senhor. O cavaleiro tem como
fundador o arcanjo S. Miguel e por isso lutam por Cristo.  
13
Os serões das cortes eram ocupados com a leitura de narrativas de
cavalaria.  
Antes de ser armado cavaleiro, um jovem tinha de ter uma educação
rigorosa, prestar provas da sua coragem e destreza e só depois possuía a
honra de um cavaleiro, pertencendo, então, a uma das muitas ordens de
cavalaria que cresciam na Europa.  
Nas cortes, assistiam-se a espetáculos de jograis que recitavam e
cantavam poemas dos trovadores que pertenciam, na maioria, à nobreza. Este
tipo de poesia amorosa chamada poesia trovadoresca foi a primeira
manifestação literária portuguesa.  
  

1.4.4. A arte 

Durante a Idade Média, e na época medieval em particular, a arte


europeia foi marcada por uma forte influência da Igreja Católica. Esta atuava
nos aspetos sociais, económicos, políticos, religiosos e culturais da sociedade.
Assim, a arte medieval teve uma forte marca temática: a religião. Pinturas,
esculturas, livros, construções e outras manifestações artísticas eram
influenciados e supervisionados pelo clero católico.   
O estilo românico surgiu na Europa entre os séculos XI e XII, tendo-se
desenvolvido num período de alguma instabilidade política. 
Em Portugal, as lutas entre cristãos e muçulmanos durante a
Reconquista provocavam insegurança e medo. A igreja e o mosteiro eram
muitas vezes os locais de refúgio da população, por essa razão muitos edifícios
românicos assemelhavam-se a fortalezas. Nesse sentido, predominaram os
pilares maciços, as paredes espessas e a baixa quantidade de janelas, sendo
as existentes de pequena dimensão, o que tornava as construções românicas
sombrias, escuras e robustas. Para além disso, no interior e no exterior das
construções românicas eram comuns os relevos decorativos, os portais, as
frestas e as rosáceas. É de salientar, ainda, que nas igrejas românicas, o altar
era o centro cerimonial e ponto convergente dos espaços, e que o claustro é
essencial num mosteiro ou catedral, nos atos litúrgicos e na vida quotidiana.  
No que diz respeito à arquitetura civil, é de salientar a Domus
Municipalis de Bragança, local utilizado para reuniões, que possuía um sistema
14
recolector de água da chuva e uma cisterna para a armazenar. É igualmente
importante realçar as pontes românicas do nosso país, como a Ponte de
Canaveses ou a Ponte da Lagoncinha. As pontes, que transformavam a
paisagem e estimulavam as ligações regionais, aproximando cidades e vilas,
eram geralmente mais estreitas do que as romanas, mais robustas e dotadas
de alicerces mais resistentes. 
Relativamente às esculturas e pinturas românicas, é importante referir
que estas retratavam predominantemente aspetos religiosos. Devido à escassa
existência de letrados nesta época, a Igreja apoiava-se na arte para transmitir
os ensinamentos religiosos.  
A arte gótica surgiu na Europa entre os séculos XII e XV, trazendo
consigo inovações técnicas, uma nova estética e alterações na estrutura formal
das construções. O estilo gótico é o espelho do crescimento económico e
urbano que se deu durante a época medieval, assim como a afirmação de um
novo grupo social endinheirado, a burguesia, e de uma espiritualidade
renovada, marcada por uma ideia de que Deus é luz para os humanos.  
Assim sendo, as construções elevam-se a alturas até então
desconhecidas, abrem-se ao exterior e enchem-se de luz. O burguês e a sua
vontade de promover a sua cidade e de demonstrar o seu poder financeiro,
contribuía com quantias avultadas para as grandes construções urbanas. Tais
contribuições coincidiram com o surgimento deste novo estilo artístico que
permitiu que as construções, devido à sua altura, se vissem desde muito longe,
anunciando a importância do burgo e das suas gentes.  
Este novo modo de construção está ligado à maior qualificação e
especialização dos artificies que trabalhavam com a pedra, sendo esta sempre
usada nas construções góticas portuguesas. Em regiões como Portugal, a arte
românica só começa a ser aceite no decurso do século XIII. Tal facto conduziu
ao desenvolvimento de um românico tardio que se aproximava a uma estética
gótica, sendo este o motivo pelo qual, por vezes, se revela de extrema
dificuldade definir o estilo de certos edifícios. No caso português, o gótico
revelou-se uma arte monástica e rural, e não urbana e episcopal. Foi a mando
de abades e monges que se construíram as igrejas monásticas que serviram
os seus mosteiros e conventos. Este estilo artístico teve um desenvolvimento
igualmente tardio, devido à situação de guerra que se vivia com a Reconquista
15
e à escassez de recursos que o reino possuía, na altura, para investir numa
arte cara e sofisticada.  
O gótico português caracterizou-se, também, por uma maior
simplicidade comparativamente ao gótico internacional de origem francesa.   
Assim como as esculturas românicas, as esculturas góticas têm como
papel fundamental difundir ensinamentos religiosos.  
Na pintura a maior particularidade foi a procura do realismo na
representação dos seres que compunham as obras pintadas e o
desenvolvimento das iluminuras que ilustravam os grandes livros litúrgicos e
das pinturas sobre o vidro que davam origem aos vitrais.  

2. O Espaço Português 

De acordo com Joaquim Veríssimo Serrão, quando o Condado


Portucalense passou a Estado, com o tratado de Zamora em 1143, era definido
pelas seguintes fronteiras: o rio Minho, desde a foz até Melgaço, seguindo na
direção nor-sudoeste até a zona do Lindoso e continuava a linha aproximada à
atual; envolvia Chaves e, a nordeste, a região onde surgiria Bragança; dali a
fronteira retrocedia para a região onde o rio Douro penetra Portugal. O limite
oriental da Beira situava-se na linha de conexão do rio Douro com o rio
Águeda, com fortalezas avançadas em Numão, Marialva e Trancoso,
encurtando-se na região da Serra da Estrela e acompanhando a descida do
Zêzere, mas sem atingir o Tejo. A sul, a zona de Leiria a Ceras era o limite
flutuante devido à busca por expansão territorial. 
Contudo, do surgimento de Portugal como Estado até o final do século
XIV, o seu território passou por diversas modificações, destacando-se o
alargamento das fronteiras. O jovem reino de Portugal, comandado por D.
Afonso Henriques, almejava expandir o seu território. Em busca desse objetivo,
foram travadas disputas com os reinos de Leão e Castela e, também, com os
muçulmanos, que ocupavam territórios a sul e sudeste. Ainda sob o reinado de
D. Afonso Henriques, foram conquistadas Lisboa e Santarém, Alcácer do Sal
(posteriormente perdida), Évora e Beja. Já no reinado de Sancho I, houve a
conquista de Silves, mas também a perda de territórios a sul do Tejo, em
virtude das investidas almóadas. A norte, D. Sancho I conquista as praças de
Tui e Pontevedra. Sob o reinado de D. Afonso II, ocorre a conquista de Alcácer
16
do Sal e de regiões como Castelo de Veiros, Monforte, Borba, e Vila Viçosa.
Com Sancho II, houve a expansão para as áreas de Elvas, Jurumenha, Serpa,
Beja, Aljustrel, Mértola e Algarve oriental. No período de Afonso III, ocorre a
conquista do Algarve. 
O estabelecimento das fronteiras que mais se aproximam às da
atualidade só ocorreu em 1297, com o tratado de Alcanises, firmado entre D.
Dinis, rei de Portugal, e D. Fernando, rei de Leão e Castela. O maior destaque
desse tratado para Portugal é a anexação das terras de Riba Côa. 
É nesse contexto de expansão das delimitações territoriais e da
reconquista contra os mouros que foram, também, modeladas as formas de
organização económica e social que deram origem ao Portugal Medieval,
contrastando os senhorios e o país rural com os concelhos e o país urbano. 
  

2.1. O País Rural e Senhorial  

As constantes preocupações com a guerra, disputas por territórios e


defesa das fronteiras fizeram com que os reis necessitassem de apoio. Assim,
atribui-se a tais preocupações o afastamento dos reis portugueses da
organização administrativa do Reino, conduzindo ao crescimento do
senhorialismo privado. 
De forma geral, na Europa, o senhorio consistia numa área territorial de
extensão variável, detida por um senhor que exercia o seu poder sobre a terra
e sobre os homens que ali viviam. Não obstante, em Portugal, os senhorios
pertenciam ao Rei, à nobreza e ao clero, os quais justificavam o seu direito
sobre tais terras por serem eles os responsáveis pela reconquista do território.
Assim, era o rei o dominante de toda a população e senhor de todo o território.
Contudo, a medida que mais e mais terras eram conquistadas (reguengos), o
rei doava terras ao clero e a membros da nobreza para que a ocupação das
mesmas fosse efetiva e a sua exploração económica se concretizasse. 
Foram as doações de terras que permitiram estruturar a vassalidade
medieval. Isto é, o rei esperava obter uma rede de vassalos fiéis, pronta a
segui-lo na guerra, a ajudá-lo nos apertos financeiros, a aconselhá-lo e apoiá-lo
e, em troca, lhes daria bens. Ocorre que, em grande parte da Europa, com uma
economia agrícola, a predominância da cavalaria e o enfraquecimento do poder

17
régio nas monarquias ocidentais levaram a um aumento da autoridade
senhorial no vínculo da propriedade e, consequentemente, da sua jurisdição e
laços de obediência. Nesse contexto, surge o feudalismo, marcado,
principalmente, por não necessariamente existir a supremacia da coroa. Isto é,
como podemos observar em Inglaterra e França, alguns nobres detinham muito
mais poder (terras, dinheiro, influência, etc.) do que o próprio rei. Contudo,
historiadores como Joaquim Veríssimo Serrão e Herculano defendem que o
feudalismo nunca se instalou em Portugal e justificam apontando que a
autoridade régia portuguesa foi sempre demasiado forte para impedir uma
repartição de direitos que pusesse em causa a supremacia da coroa e que as
doações feitas não traduziam qualquer vínculo feudal – uma vez que não viam
a incorporação da soberania na propriedade e que sempre houve a
dependência da nobreza senhorial para com a coroa.  
No caso de Portugal, as doações de senhorios faziam referência aos
laços de dependência estabelecidos entre o rei e a nobreza/clero. Em
contrapartida, o rei esperava que a nobreza o apoiasse e ganhasse a sua
confiança, e que o clero, além de o apoiar, também apoiasse as ordens
religiosas, de forma a acentuar a conquista de territórios e a definir fronteiras.
Por esta razão, os reguengos foram-se reduzindo, designando-se por honras
os senhorios da nobreza e coutos, se pertencessem à Igreja. As honras e os
coutos eram terras imunes, ou seja, tinham o privilégio de autonomia
jurisdicional, não pagando impostos ao fisco real e impedindo os funcionários
régios de entrarem nos domínios dos grandes senhores. 
Um dos pilares do poder senhorial era a posse de bens agrários, seja
pela coroa, pela classe nobiliária, ou pelos eclesiásticos. As suas posses eram
denominadas de domínios senhoriais. Historicamente, os seus domínios eram
divididos em partes, cada qual explorada de uma maneira diferente.
Geralmente, situada na parte central do domínio, ficava a Quintã, de
exploração, via de regra, exclusiva e direta do senhor. Lá, encontrava-se a
morada do senhor (casa, forte, castelo, abadia, mosteiro…), assim
como estruturas de importância produtiva, como moinhos, lagar, adegas,
estábulos, celeiros, cozinha, fornos, oficinas, horta e pomar, que ficavam nas
melhores terras. Essas estruturas eram trabalhadas pelos escravos, servos e
colonos livres, como pagamento, através da prestação de serviços laborais,
18
que eram devidas ao senhor, durante as Jeiras. Algumas dessas estruturas
também podiam ser cedidas a essas pessoas para uso próprio. Outra parte da
propriedade que merece destaque eram os Casais, unidades de terra que eram
arrendadas, seja por prazo determinado ou indeterminado, a camponeses em
troca de tributos, pagos com frações de suas colheitas e com prestação de
serviços ao senhor. 
Tais domínios senhoriais configuravam “mundos” que procuravam ser
autossuficientes, de forma a produzir tanto para o senhor quanto para a
população que residia neles. O senhorio consistia, para além das terras, num
agrupamento de pessoas vinculadas por direitos e deveres, onde o senhor
provia proteção ao povo que lhe deviam obediência, impostos e trabalho.
Assim, a classe senhorial (reis, nobres, clérigos) controlava uma multiplicidade
de homens, aos quais exigia tributos. São eles: os herdadores (proprietários de
terras livres, mas tinham de pagar impostos senhoriais), os assalariados
(viviam do aluguer ocasional do seu trabalho), os colonos (trabalhavam em
terra alheia arrendada ao senhor, pagando tributos em troca do arrendamento),
os escravos (eram geralmente prisioneiros mouros utilizados nos serviços
domésticos e na agricultura), e os servos (descentes dos escravos libertos, a
quem foram entregues casais para exploração e que viviam sempre
sobrecarregados com jeiras). Então, todo o homem livre devia depender de um
senhor, pois o povo não conseguia governar-se sozinho e o senhor lucrava
com a agricultura, os impostos e com a defesa de terras. 
  

2.2. O País Urbano e Concelhio 

Como já foi visto, a expansão territorial e a reconquista trouxeram a


necessidade de repovoamento de áreas para a sua defesa e exercício de
dominância, trazendo oportunidades para o crescimento populacional. Além
disso, a conquista de regiões previamente habitadas por outros povos – a
exemplo dos romanos e muçulmanos – também permitiu que o povo português
assumisse o controle e tirasse proveito de cidades muito desenvolvidas para
aquela época. Esses são fatores que, por si só, já incentivam a criação de
concentrações populacionais regulamentadas. Contudo, há ainda outros
fatores que colaboraram para a necessidade de uma mais elaborada estrutura

19
administrativa do território português. Um exemplo disso é o facto de o território
português estar situado na rota de peregrinação para Santiago de Compostela,
o que demandava centros para alojar os peregrinos, criando aglomerados de
população. Além disso, houve também o ressurgimento e intensificação do
comércio a partir do século XII, impulsionando um surto urbano, o
desenvolvimento de cidades nos locais escolhidos pela corte régia para se
instalarem e a atração de populações para as cedes dos bispados. 
Em razão de tais fatores, passaram a ser criados concelhos, urbanos e
rurais, com a concessão de cartas de foral pelo rei ou pelo senhorio. As cartas
de foral garantiam a maior autonomia de uma região enquanto concelho,
pretendiam assegurar que o povoamento permanecesse naquele lugar, de
forma a aumentar a defesa daquele território, e colaboravam para que o rei
equilibrasse os poderes em relação aos grandes senhores. No foral, eram
estipuladas as regras e direitos que regiam aquela população – especialmente
no que toca a segurança, pagamento de tributos, concessão ou
reconhecimento próprio e delimitação territorial do concelho. Tais concelhos
eram povoados por homens-livres e tinham, como consequência da sua
autonomia, uma organização própria, de forma a que, dentro de cada concelho,
existisse uma estrutura organizacional particular, integrada por funcionários
eleitos no local que aplicavam justiça e administravam a comunidade e por uma
assembleia de vizinhos, designado concelho, que reunia periodicamente a
totalidade ou uma parte dos habitantes. 
Algumas características dos espaços citadinos era a existência da
cintura de muralhas que delimitava o espaço urbano, protegendo a população e
promovendo algum prestígio, e do espaço amuralhado, localizado no centro da
urbe, sendo a área mais bonita e rica. Também se encontravam nos espaços
citadinos os mercados, ruas novas (mandadas construir pelo rei em
homenagem a cidade), a rua dos ofícios (onde trabalhavam os mesteirais), e
ruas mais estreitas e escuram que nunca davam para a zona amuralhada. O
arrabalde uma zona de exclusão, mas muito dinâmica, composta por bairros
situados fora da cidade – além da muralha. E, por fim, o termo, que era o
espaço circundante da cidade – além do arrabalde – onde ficavam as vinhas,
searas e as aldeias e era a fonte de sobrevivência da cidade. 
 
20
3. Crises no séc. XIV 
  
            Durante o séc. XII e o início do séc. XIV, o Reino de Portugal estava
numa situação relativamente estável, pois as fronteiras estavam definidas e o
inimigo muçulmano fora afastado, os conflitos com os Castelhanos atenuaram-
se, a cultura fortalecia-se, a sociedade e a economia desenvolviam-se. 
Durante o séc. XIV, por circunstâncias adversas, a Europa sofre uma
crise em todos os setores de atividade, desde a agrícola, passando pelo
artesanato, comércio, administração e exército. Devido às mudanças
climatéricas que se sentiram na Europa, ondas de frio e humidade, passaram-
se maus anos agrícolas e, por consequência, vivenciou-se a escassez de
alimentos.  
Além da crise que se sentia na Europa e no Reino de Portugal, o
desconhecimento dos princípios básicos de puericultura, a falta dos cuidados
mais elementares de higiene e o facto de a medicina ainda não estar
desenvolvida para colmatar as doenças contribuíam para a elevada
mortalidade, mas a fome e a peste foram as principais responsáveis pelo frágil
desequilíbrio demográfico da altura. 
Com tudo isto, o Reino de Portugal entra na crise do séc. XIV, sendo as
principais causas a política e a economia; deram-se sucessivas guerras, o
aumento do custo de vida e dos impostos para suportar as guerras, a fome e a
falta de higiene que favoreceu a propagação de epidemias.
  

3.1. Trilogia Negra 


  
            Na época, a elevada mortalidade correspondia também a uma
natalidade alta. No entanto, nas épocas mais difíceis, quando à fome e à peste
se juntavam os efeitos devastadores da guerra, as mortes ultrapassavam os
nascimentos e, consequentemente, a população diminuía. Inversamente, em
épocas de paz e de boas colheitas, a população aumentava. 
            No início do século, o ciclo de maus anos agrícolas levou à carência de
bens alimentares, como a escassez de cereais. Assim, instala-se a inflação e a
maioria da população vê-se impedida de aceder aos alimentos, sendo os mais
pobres condenados à fome. A escassez de alimentos, associada às más
21
condições de higiene, debilita os corpos e as doenças tornam-se mais
recorrentes, havendo dessa forma epidemias, normalmente designadas por
pestes, tal como a difteria, a febre tifóide, a varíola, a tosse convulsa, o
sarampo a escarlatina e as gripes. 
            Com o final do séc. XIII, a quantidade de alimentos que eram
produzidos não bastavam para alimentar tantos homens, devido ao aumento
significativo da população. As lavras intensas tinham esgotado os solos,
tornando cada vez mais precárias as colheitas de cada ano.  
Ao esgotamento dos solos juntaram-se as mudanças climáticas. A chuva
e o frio que se fazia sentir tiveram como consequência o apodrecer das
sementes e as colheitas acabaram por ser perdidas. Os principais géneros
alimentícios na época eram o pão e a carne e, faltando uma das bases de
sustento, a população sofria, passando fome.
Em 1347, chega à Europa a Peste Negra, vinda do Extremo Oriente,
mais precisamente da Crimeia, zona do Mar Negro, por meio de navio
genoveses. O comércio marítimo contribuiu, então, para a rápida disseminação
por toda a Europa, dizimando um terço da população europeia.
A Peste Negra chega a Portugal em 1348.  Transmitida ao homem
através da picada da pulga do mus rattus (rato negro) que também transmitia a
Peste Bubónica, Peste Septicémica e Peste Pulmonar.
A Peste Bubónica conduzia à morte num espaço de, aproximadamente,
5 a 10 dias após o período de incubação. A Peste Septicémica era letal ao fim
de três a quatro horas após a sua incubação, pois originava um choque sético,
havendo, assim, falência de todos os órgãos. A Peste Pulmonar foi a mais
grave de todas devido do elevado nível de rápido contágio, pois era transmitida
de homem a homem através do ar e, após 4 ou 5 dias, a morte era imediata.
Por isso, evitavam aproximar-se aos doentes, deixando-os, muitas vezes,
abandonados.  
Com a Peste Negra, houve mais mortes nas cidades do que nos
campos, pois as cidades possuíam mais habitantes devido à fuga de
populações das zonas rurais para as urbanas, na tentativa de procurarem
melhores condições de vida, principalmente junto de mosteiros e abadias. Pelo
contrário, à sobrepopulação nas cidades, juntavam-se as más condições de
higiene e a população, rica ou pobre, fugia da cidade para se refugiarem na
22
vida mais tranquila do campo. No entanto, tudo era em vão, pois, a Peste
Negra atingiu todo o território. 
Com a peste, foi surgindo a figura do médico medieval mas, como era
uma função não prestigiada, poucas eram as pessoas que se disponibilizavam
para a função. O médico medieval vestia-se com capas, chapéus, luvas pretas
e máscara em forma de bico de pássaro, possibilitando ao médico a
aproximação ao doente sem se contagiar. Dentro da máscara, junto ao bico,
acumulava-se várias especiarias, ervas aromáticas, pétalas de flores e
perfumes de odor intenso com o objetivo de filtrar o ar, impedindo que fossem
contagiados pelo doente. 
A Peste Negra ter assombrou a população e, depois da fome, começa a
crise económica. Com o decréscimo demográfico a acontecer, começa a haver
o abandono dos campos por parte dos proprietários e rendeiros, diminuindo
assim a produção agrícola e, dessa forma, ocorre a inflação nos produtos.  
Os monarcas portugueses tentaram levar a cabo medidas para atenuar
a crise. Logo após a peste, D. Afonso IV publica, em 1349, a “Lei Portuguesa
do Trabalho Obrigatório” onde decreta o tabelamento de preços e salários, de
modo a combater a inflação. 
Com a instabilidade que se fazia sentir, os monarcas aproveitaram para
aumentar o seu poder, servindo-se de um reforço da administração central e da
justiça. Isto é notório no reinado de D. Fernando, quando ele criou, em 1375, a
“Lei das Sesmarias”, obrigando a população a trabalhar compulsivamente nos
campos, pois a lei determinava que os proprietários que não cultivassem a
terra a poderiam perder; e os vagabundos e desocupados teriam de trabalhar
nos campos. 
O séc. XIV foi também marcado pelas guerras, que contribuíram
igualmente para o decréscimo da população. Aconteceram guerras civis,
guerras senhoriais que arruinaram grandes áreas, provocando o caos, fome,
mortes e o pânico populacional.  
A principal guerra que aconteceu no séc. XIV foi a Guerra dos Cem
Anos, que teve o seu início em 1337 e o seu fim em 1453. Esta guerra travou-
se entre Inglaterra e França, mas afetou indiretamente outros reinos europeus,
como o de Portugal e o de Castela. Este foi o primeiro grande conflito à escala

23
europeia com grandes prejuízos, dada a sua duração e a grande área
geográfica abrangida.  
Além da Guerra dos Cem Anos, o Reino de Portugal esteve envolvido
noutras guerras - Guerras Fernandinas, que se caracterizaram pela disputa do
Reino de Castela, entre D. Fernando I de Portugal e Henrique II de Castela.
Ocorreram em 3 fases: de 1369 a 1370, de 1372 a 1373 e de 1381 a 1382.
Cada uma dessas guerras terminou com um tratado de paz - em 1371, o
Tratado de Alcoutim; em 1373, o Tratado de Santarém e em 1382, o Tratado
de Elvas.  
A primeira guerra fernandina contra Castela dá-se devido a D. Pedro I
ter sido assassinado pelo seu irmão bastardo, Henrique da Transtâmara.  
D. Fernando era bisneto de Sancho IV de Castela e Leão e, como tal,
alguns reinos e regiões, como Aragão, Navarra e até a pequena Galiza,
achavam-no o rei legítimo de Castela, apelando-lhe que interviesse na guerra
contra Henrique II. Com a primeira guerra, D. Fernando não venceu Castela,
mas alargou as fronteiras do Reino de Portugal.  
Em 1372, dá-se, então, o início da segunda Guerra Fernandina. Devido
ao casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles, a paz que existia entre os
dois reinos termina, pois D. Fernando não cumpre o Tratado de Alcoutim -
ele deveria casar-se com a filha de Henrique II. Isto levou à necessidade de
escrever um novo acordo, o Acordo de Tui, que retoma o estado original das
fronteiras entre os dois reinos. Com a ocorrência de tais acontecimentos,
Henrique II, de Castela, invade Lisboa ocupando e cercando a cidade. A paz
entre Castela e Portugal acontece a pedido do Rei de Portugal, D. Fernando,
através do Tratado de Santarém, assinado em 1373. Após assinado o tratado,
D. Fernando organizou o reino e mandou construir muralhas em Lisboa, no
Porto e em outras localidades - as muralhas fernandinas. 
Com a morte de Henrique II de Castela, D. Fernando vê uma
oportunidade de vencer e faz-se novamente à guerra, contactando um aliado
que se encontrava exilado em Inglaterra, disposto a atacar Castela. A guerra
contra Castela iniciaria logo após a chegada da tropa inglesa a Portugal, mas
começou antes, pois o Rei de Castela antecipa-se e invade Portugal. Em julho,
chegaram as tropas inglesas, mas só meses mais tarde decidiram lutar. D.
João de Castela faz seu poderio militar ser sentido na linha do Tejo e um
24
acordo de paz é assinado em agosto de 1382, conhecido como o Tratado de
Elvas. A situação política de Portugal era delicada e o rei português foi forçado
a prometer a sua filha, infanta D. Beatriz, em casamento com o segundo filho
do rei de Castela, D. Fernando. Contudo, o rei de Castela ficou viúvo em
setembro do mesmo ano e decidiu tomar o lugar do filho no que diz respeito ao
matrimónio com a herdeira do trono português. A negociação de tal matrimónio
foi concluída em abril de 1383 - escritura matrimonial de Salvaterra de Magos –
e determinava que o trono de Portugal seria destinado a um filho varão de D.
Fernando, Rei de Portugal, ou, não o havendo, da infanta D. Beatriz, que
deveria manter os reinos de Portugal e Castela separados. Somente em caso
de extinção da linhagem de D. Fernando, com a morte da infanta, é que a
coroa de Portugal seria entregue a D. João I de Castela. Apesar do equilíbrio
do acordo, do ponto de vista jurídico, a situação portuguesa era frágil, pois D.
Fernando tinha na infanta D. Beatriz o seu único sucessor. 

3.2. Crise Moral e Religiosa 

Olhando para a história da Europa Ocidental com uma visão


malthusiana, vemos que, após a revolução agrícola do início do segundo
milénio, houve maior oferta de comida, assegurando um vigoroso crescimento
populacional que, por sua vez, aumentou a demanda por comida. Os ganhos
da revolução agrícola, entretanto, haviam sido suficientes para suprimir as
demandas dessa maior população por um longo tempo. Porém, no final do
século XIII, o crescimento demográfico desenfreado europeu deixou de se
autossustentar e a tecnologia da época já não era mais capaz de suprimir a
alta demanda agrícola. Então, fatores de regulação demográfica, como a fome,
pestilência e guerra, ganharam proeminência, vindo a ser fatores que
marcaram o vindouro século XIV. Podemos aqui citar, em Portugal, a “Grande
Fome” de 1315-1322, a grande epidemia da Peste Negra em 1348-1349, as
guerras fernandinas em 1369-1370, 1372-1373 e 1381-1382, além de
terramotos, com destaque para o de 1356, e outras pestes, como as de 1362 e
1374-76. 
Seja pela fome, doença ou guerra, a morte tornou-se uma constante na
vida das pessoas durante o século XIV. A queda demográfica causada pelos

25
elevados índices de mortalidade criou campo fértil para mudanças económicas
e sociais, muitas das quais ocorreram de forma violenta. Esse período de
enormes mudanças, insegurança jurídica e guerra, somados à constante
presença da morte e da violência na vida das pessoas, teve grande impacto
psicológico, causando mudanças de comportamento e de pensamento, assim
como mudanças morais e religiosas. 
Como exemplos simbólicos dessas mudanças, pode-se citar a
diminuição do contacto humano e a marcação das casas dos infectados com
uma cruz, durante o auge da peste. Também se pode perceber o impacto da
morte na consciência coletiva através da arte medieval, onde ganharam
destaque a morte e o sofrimento de Cristo, além da personificação da figura da
morte. 
Muitos membros do clero se afastaram dos seus deveres e obrigações
religiosas e passaram a desfrutar de seu poderio e riqueza como se fossem
membros da sociedade laica, tomando para si mulheres e tendo com elas
filhos, enquanto viviam em ambientes luxuosos, com diversas mordomias. O
clero aproveitou-se da morte generalizada e do desespero das pessoas para
arrecadar donativos em troca da salvação das suas almas, além do crescente
comércio de indulgências, ou seja, o recebimento de bens e valores para a
remissão dos pecados do pagador. Em claras demonstrações de riqueza e
poder, membros do clero começaram a construir diversas catedrais pela
Europa, muitas das quais extremamente suntuosas, além de contribuir com o
mecenato artístico. 
Em resposta à tumultuosa realidade europeia e à atitude clerical, muitas
pessoas passaram a reavaliar as suas crenças, apegando-se a crenças
alternativas. A Europa viu crescer o número de heresias, de cultos satânicos e
pagãos, do misticismo e de crenças locais. Mesmo entre os que continuaram
firmes nas suas crenças católicas, cresceram as práticas heterodoxas. Muitos
interpretaram as desgraças como punição divina ou sinais do apocalipse.
Podemos citar aqui o grupo dos flagelantes, grupo preterido pela Igreja que cria
que o caminho para a salvação se dava pela abstenção de prazeres carnais e
pela vivência exclusiva a Deus, com a prática da penitência e do autoflagelo –
geralmente feito com açoites de couro e pontas de metal - como forma de
mostrar a fragilidade da carne e de mostrar arrependimento pelos seus
26
pecados, purificando-se e humilhando-se perante Deus. Podemos citar também
os milenaristas, que defendiam que Jesus voltaria à Terra para reinar por mil
anos após o iminente apocalipse. 
Esse tumulto religioso deixou exposta a fratura clerical. Isso fica bem
mais explícito com o Cisma do Ocidente (1378-1417), em que a Igreja teve, ao
mesmo tempo, dois papas, também chamados de papa e antipapa, um residido
em Roma e outro em Avignon, digladiando entre si pela legitimidade de seu
papado. Urbano VI, de Roma, tinha o apoio inglês, enquanto Clemente VII, de
Avignon, tinha o apoio francês, numa disputa que dividiu a Europa e deixou
ainda mais claro o viés político da religião, abrindo espaço para ulteriores
contestações ao papado e à instituição da Igreja, assim como justificando a luta
entre cristãos. 

3.3. Crise Dinástica

Até 1383, D. Fernando I, filho de D. Pedro I, era o rei de Portugal. No


entanto, este rei não era não era muito popular aos olhos do povo português,
devido ao seu casamento com D. Leonor Teles, que já tinha sido casada. O
casamento provocou uma rutura entre membros da nobreza, rivais dos Teles
de Menezes, que fugiram para Castela, conspirando contra D. Fernando. Desta
união, nasceu a princesa Beatriz, que foi oferecida em casamento a João I de
Castela, o rei do Reino de Castela, para apaziguar e celebrar o final das
guerras entre Portugal e Castela. 
D. Fernando I morreu em 1383 e, como não tinha um herdeiro do sexo
masculino, a lei portuguesa definia que Portugal seria governado pela sua
esposa, D. Leonor Teles, até que a filha de ambos tivesse um herdeiro do sexo
masculino e este completasse 14 anos. D. Leonor de Teles, herdou um reino
com uma situação económica instável, principalmente pelas guerras de
Castela.
A pedido do seu genro, D. João I de Castela, D. Leonor enviou cartas em
que determinava que se aclamassem como reis de Portugal a sua filha, D.
Beatriz, e D. João I de Castela. Este pedido foi visto como potencialmente
perigoso pela burguesia portuguesa pois, se João I de Castela assumisse o
trono, o território de Portugal perderia a sua independência e unificava-se com

27
os territórios de Castela. Rapidamente, existiram conspirações e rebeliões
contra si.
Assim sendo, Portugal ficou dividido em duas fações: uma que apoiava
João I de Castela, D. Leonor Teles e D. Beatriz (alta nobreza e clero – pela lei,
e em sinal de respeito aos princípios da lealdade e da vassalagem); e outra
que apoiava João, Mestre de Avis – irmão bastardo de D. Fernando I
(burguesia, baixa nobreza e povo – consideravam que a independência de
Portugal estava em perigo pois, no dia em que D. Beatriz morresse, o seu
herdeiro podia ser rei, simultaneamente, de Portugal e de Castela).
Em dezembro de 1383, João, Mestre de Avis, filho bastardo do rei Pedro I
e, portanto, irmão bastardo do falecido D. Fernando I, foi escolhido pela
burguesia portuguesa para Regedor, a fim de liderar a defesa de Portugal
contra as supostas pretensões castelhanas, terminando, assim, a regência de
D. Leonor de Teles. Portugal entrou num período chamado de Interregno - não
tem nenhum rei nem nenhuma autoridade governativa.
Nesta altura, vivia-se muita revolta e instabilidade em Portugal.
Percebendo tudo o que se passava à sua volta, D. Leonor fugiu
para Alenquer e pediu ajuda a João I de Castela para que este invadisse
Portugal, convencida que daria continuidade como regente do reino.
Esta crise dinástica começou em 1383 e alongou-se até 1385. Neste
período, Portugal não tinha rei a governar.
Nuno Álvares Pereira – ilustre cavaleiro português - foi enviado para o
Alentejo para controlar a fronteira. No entanto, os castelhanos já tinham
ocupado o Crato.
Em maio de 1384, D. João de Castela invadiu Portugal com o seu exército
para cercarem a cidade de Lisboa, por terra e por mar, mas em setembro foi
obrigado a levantar o cerco, devido à peste. Até esse momento, os castelhanos
propuseram a Mestre de Avis assinar um acordo de paz – ele ficaria com a
regência de Portugal, partilhando-a com um enviado de Castela - mas este
acordo foi recusado, pois Mestre de Avis e o seu povo nunca aceitariam não
serem governados por portugueses.
Em abril de 1384, dá-se a Batalha dos Atoleiros e quem liderava as tropas
portuguesas era Nuno Álvares Pereira. As suas tropas saíram vencedoras pois,

28
apesar de numericamente inferiores, conseguiram derrotar as tropas
castelhanas, que fugiram do território português.
Após derrotar os castelhanos, as cortes reuniram-se em Coimbra para a
aclamação do rei, o mestre de Avis, tornando-se, então, D. João I de Portugal.
Neste momento, foi iniciada uma nova dinastia, a de Avis ou Joanina, que
esteve no trono de Portugal até 1580.

3.4. Batalha de Aljubarrota e Consolidação da Independência de Portugal

Após a sua subida ao trono, D. João I enfrentou uma batalha contra o rei,
D. João I de Castela, que invadiu Portugal pela segunda vez. Deu-se, então, a
batalha de Aljubarrota, no dia 14 de agosto de 1385. Nesse dia, o exército
português acampou no norte de Aljubarrota, Leiria, de modo a opor-se à
chegada do exército de Castela.
Mais uma vez, Nuno Álvares Pereira, usou uma tática militar (do
“quadrado”) e comandou ao seu exército de besteiros e arqueiros que se
colocassem, estrategicamente, em pé ao longo da estrada, para derrubar os
castelhanos, e dispôs as suas forças em três alas diferentes, escondidos, que
iriam atirar flechas. Quando as tropas castelhanas viram os soldados
portugueses a pé, julgaram que seria fácil a vitória. Esta tática militar, que ficou
conhecida como a "tática do quadrado", foi a chave para a vitória dos
portugueses, pois cercaram as tropas castelhanas de surpresa.
A batalha de Aljubarrota foi responsável pela Consolidação da
Independência de Portugal e, consequentemente, fez Portugal entrar numa
nova fase pois, nessa altura, era um país pobre devido às consequências da
peste, guerras e fome.
Assim sendo, a crise de 1383 a 1385 integra uma revolução política e,
também, social. Permitiu que se formasse uma nova sociedade e uma nova
geração. Foi esta geração que encaminhou Portugal aos grandes feitos do
povo português no início do séc. XV: a expansão marítima.

29
Referências Bibliográficas

Antunes, J. & Oliveira, A. R. & Monteiro, J. G. (1984). Conflitos políticos no

Reino de Portugal entre a Reconquista e a Expansão. Estado da

questão. In Revista de História das Ideias, vol 6 - Revoltas e

Revoluções. Inst. História e Teoria das Ideias/FLUC, pp. 47-73.

https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/handle/10316.2/43817

Branco, M. J. (1999). Poder real e eclesiásticos: a evolução do conceito de

soberania régia e a sua relação com a praxis política de Sancho I e

Afonso II. 2 vol. https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/1722

 Carneiro, R. (Ed.). (2004). Geografia e História de Portugal. Nova Activa

Multimédia – Enciclopédia de Consulta. Lexicultural.

Coelho, M. H. C. (1999). O reino de Portugal ao tempo de D. Dinis. In Imagen

de la Reina Santa: Santa Isabel, Infanta de Aragón y Reyna de Portugal,

pp. 50 – 83. Diputacion de Zaragoza

Couto, C. P. & Rosas, M. A. M. (2007). O Tempo da História: 2ª parte. Porto

Editora.

Cruz, M. B. (1998). O Tratado de Alcanices: E a importância histórica das

terras de Riba Côa. Universidade Católica Editora. 

Ferreira, D. & Dias, P. (2016). História de Portugal. Verso da Kapa.

Grigg, D. (1980). Population growth and agrarian change: An historical

perspective. Cam-bridge University Press.

Mattoso, J. (1985). Identificação de um País. Ensaio sobre as origens de

Portugal, 1096-1325, vol. I. Oposição, vol. II. Composição. Estampa.

Ramos, R. (Coord.). (2009). História de Portugal. A Esfera dos Livros. 

30
Ribeiro, O. (s.d.). A formação de Portugal. Instituto da Cultura e Língua

Portuguesa.

http://cvc.instituto-camoes.pt/component/docman/cat_view=/56-fernao-

mendes-pinto-satira-e-anti-cruzada-na-peregrinacao-.html

Serrão, J. V. (2001). História de Portugal (6ª ed., Vol. 1). Verbo.

31

Você também pode gostar