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O REINO DE
PORTUGAL ATÉ
AOS FINAIS DO
SÉC. XIV
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1. Sociedade portuguesa...............................................................................................4
1.1. Organização da sociedade medieval portuguesa.................................................4
1.1.1. O poder Régio e a Monarquia Feudal...............................................................5
1.2. Religião..................................................................................................................8
1.3. Economia Medieval...............................................................................................9
1.4. A Cultura Medieval..............................................................................................11
1.4.1. Tempos livres..................................................................................................11
1.4.2. Literatura........................................................................................................12
1.4.3. A cultura leiga e profana nas cortes régias e senhoriais................................13
1.4.4. A arte...............................................................................................................14
2. O Espaço Português................................................................................................16
2.1. O País Rural e Senhorial......................................................................................17
2.2. O País Urbano e Concelhio..................................................................................19
3. Crises no séc. XIV.....................................................................................................20
3.1. Trilogia Negra.....................................................................................................21
3.2. Crise Moral e Religiosa........................................................................................25
3.3. Crise Dinástica.....................................................................................................27
3.4. Batalha de Aljubarrota e Consolidação da Independência de Portugal.............28
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Introdução
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1. Sociedade portuguesa
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promoção social pelos serviços que prestavam. Já os membros da baixa
nobreza eram proprietários de terras, dedicando-se os cavaleiros às funções
militares, e sendo os infanções essencialmente proprietários rurais, e
constituindo-se os escudeiros como auxiliares dos cavaleiros. A nobreza
detinha um grande prestígio e exercia importantes cargos administrativos,
possuindo direitos e privilégios. Além de não pagarem impostos, de serem
julgados em tribunais próprios e de terem o direito de usar armas e possuir
cavalos, podiam cobrar impostos, possuir exércitos próprios e aplicar a justiça.
As suas atividades principais baseavam-se na atividade militar, na participação
em torneios e na caça.
O povo era o grupo social mais numeroso e mais desfavorecido, a quem
cabia trabalhar arduamente, pagar pesados impostos e viver sob a
dependência dos senhores. No topo deste grupo estavam os homens-bons, a
quem competia a aristocracia local. Estes dividiam-se em cavaleiros-vilãos,
mercadores de grosso trato, doutores e outros detentores de cargos públicos.
Para além deste subgrupo, existiam ainda os peões (grupo de pequenos
proprietários rurais e artífices) e os assoldados que eram os companheiros e
aprendizes dos artesãos. Ainda assim, havia o subgrupo dos pobres. Dele
faziam parte os assoldados caídos em miséria, vagabundos, prostitutas,
marginais, etc.
À parte destes subgrupos e de toda a estratificação, existiam as minorias
étnicas e religiosas como os judeus e os mouros que viviam em bairros
segregados, com os seus próprios funcionários e leis.
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Na monarquia feudal portuguesa o rei era o “dominus rex” (rei senhor).
Isto é, o rei assumia-se como um senhor feudal na sua corte de vassalos. Os
reis fundamentavam o seu poder no direito divino, ou seja, o rei era o
representante de Deus na Terra.
Tal como no resto da Europa, o reino era considerado um bem pessoal
do rei, que ele transmitia aos seus descendentes, podendo doar parcelas do
território nacional, coutos e honras, a senhores nobres e eclesiásticos, como
recompensa de serviços prestados nos primórdios da monarquia. Em troca de
tal cedência de bens e poderes, fundiários, militares, judiciais e fiscais, a
realeza criou uma corte de vassalos, que lhe devia fidelidade e apoio nas
tarefas de defesa, expansão e administração do reino.
Ao rei era-lhe permitido:
Cobrar rendas ou exercer o poder público nos seus domínios
pessoais, os reguengos, mas, também, nos outros territórios;
Poder Militar: chefia do exército e mobilização direta dos súbditos
para a guerra; a manutenção da paz e da justiça; cabia-lhe a luta
contra todas as formas de abuso e de violência, o direito de julgar os
nobres e outros detentores do poder;
Poder Judicial: como juiz supremo, o rei reservava para si a justiça
maior, que lhe permitia condenar à morte ou ao talhamento de
membros;
Poder Fiscal: recolha de impostos e cunhagem exclusiva da moeda;
Poder Legislativo: produção de leis com o contributo de letrados e
legistas;
Os monarcas portugueses para centralizar o poder decidiram tomar
algumas medidas tais como:
Medidas Legislativas - as leis gerais:
A partir de D. Afonso II as leis gerais eram aplicadas a todo o reino e
súbditos, impondo a todos a mesma legislação, baseada no direito romano, ou
seja, eram iguais para todo o território e para toda a população.
O rei criou as leis gerais com o objetivo de obter mais benefícios:
combater os privilégios senhoriais, tentar controlar os direitos nos nobres.
Medidas judiciais:
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Criação de uma rede de juízes a nível regional e local que garantisse a
manutenção da ordem social.
1.2. Religião
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O clero secular era o que estava mais próximo das pessoas, sendo
composto por vários eclesiásticos que compunham uma Igreja. Por sua vez, o
clero regular estava mais ou menos recluso em conventos. A paróquia era a
unidade básica do edifício eclesiástico tendo Portugal, na Idade Média, cerca
de 2500 paróquias. No entanto, para o cidadão medieval era a igreja paroquial
que mais diretamente lhe dizia respeito sendo que lá ouvia a missa, se
confessava e se casava.
A Igreja também funcionava como local de reunião social, de troca de
informações, ponto de atração cultural, sendo por isso, um autêntico polo
dinamizador da vida social, religiosa e cultural.
Além da religião cristã havia ainda, nas cidades, duas religiões
segregadas, o judaísmo e o islamismo, com as suas próprias atividades, que
decorriam em bairros próprios. Ambos os grupos suscitavam conflitos perante
os cristãos. Com os mouros, mais disseminados e assimilados, tais conflitos
eram pouco frequentes. Todavia, com os judeus, grupo mais aceso cultural e
socialmente e com grande poder económico, os litígios eram mais frequentes.
Assim, era habitual cristãos e judeus irem a tribunal pelos motivos mais
diversos, sendo que se realçava o motivo dos primeiros se encontrarem em
dependência económica face aos segundos. De entre os delitos registam-se
casos onde vários judeus foram mortos e inúmeros bens foram roubados.
Ainda assim, e apesar de tais confrontos, não houve, no nosso país, muitos
exemplos de massacres ou grandes perseguições a esta minoria étnica.
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permitiu abrir mais profundamente o solo e fixar melhor as sementes.
Igualmente, para se aproveitar melhor a força animal, introduziu-se a canga
frontal para os bois e a coelheira rígida para os cavalos. Substituiu-se a
tradicional divisão da terra em apenas duas folhas, uma lavrada e outra em
pousio, dando lugar ao afolhamento com rotação trienal de culturas que
permitiu a cada ano, uma maior parcela de terreno. Por último, incrementou-se
a fertilização dos campos com argila calcária, cinzas e estrume animal que
melhoraram a qualidade dos solos.
Assim, o aumento da produção agrícola, graças ao aperfeiçoamento
técnico e à ampliação das áreas de cultivo, permitiu a existência de excedentes
para o comércio e matérias-primas para o artesanato. Camponeses
começaram a abandonar os feudos em direção às cidades, onde novas
atividades eram desenvolvidas.
A cidade medieval, além de ser um centro administrativo e de serviços,
era, também, um local de produção de bens e de venda dos mesmos. Assim, o
comércio e o artesanato eram atividades muito ligadas. É de salientar ainda
que a ligação do homem medieval à terra era uma constante, uma vez que a
economia medieval se mantém sempre uma economia rural. A maior parte dos
núcleos urbanos portugueses mantinham uma relação privilegiada com o
perímetro rural envolvente, podendo considerar-se que a maioria das
povoações medievais portuguesas se assemelhava a núcleos agrícolas com
comércio e serviços artesanais associados.
Em todas as cidades e vilas existia um espaço aberto com carácter
permanente, o mercado, onde a troca era uma constante, tornando-se este um
sítio onde os habitantes podiam encontrar géneros de primeira necessidade,
tais como cereais, frangos, ovos, queijo, legumes e lã provenientes do meio
rural. Os mercados medievais alimentavam a vida económica corrente
estabelecendo uma ligação contínua entre a cidade e os campos mais
próximos.
Paralelamente aos mercados, existiam as feiras. Estas possuíram um
importante papel no crescimento urbano e adquiriram elevada importância
económica, movimentando toda a região e deslocando grandes massas de
gente e mercadorias de zonas distantes. Neste sentido, seria através de
profissionais, os almocreves, que atuavam como intermediários, que se
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abastecia a cidade de alimentos e a zona rural com produtos manufaturados.
Estes vendedores ambulantes corriam vilas e lugares levando produtos que,
doutra forma, dificilmente chegariam ao consumidor. A intensificação do
volume de trocas nesta época contribuiu para a afirmação da economia
monetária, um sistema económico baseado nas trocas e na circulação de
moeda.
Estas cidades dedicavam-se sinda à prática artesanal, isto é, à produção
de manufaturas. As pessoas que exerciam essa atividade eram os artesãos ou
artífices, que se associavam em corporações de ofício para regulamentar a
produção e evitar a concorrência. Trabalhavam em pequenas oficinas que
funcionavam como lojas-oficinas onde o produto que confecionavam se
destinava à venda no mesmo local, o que se tornava benéfico para os
compradores que viam o fabrico do produto que tencionavam comprar. Nestes
locais, existia um mestre artesão, vários oficiais ou companheiros e ainda os
aprendizes. A produção era destinada a atender às necessidades dos
habitantes da cidade e seus arredores.
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poderiam encontrar no campo como, por exemplo, o Carnaval, a romaria e a
procissão.
O Carnaval era celebrado excessivamente, onde se ultrapassavam os
limites e a ordem virava desordem. Era uma época de desequilíbrios onde tudo
se encontrava virado do avesso. Por sua vez, nas romarias convivia o sagrado,
onde a religiosidade era uma constante, e o folclórico, transbordando a alegria,
os cantos, as danças, a música e a partilha de alimentos. As procissões,
verdadeiros espelhos da religião cristã, expressavam uma narratividade festiva
e emotiva.
A festa era um extravasar de sentimentos que introduzia uma pausa no
labor diário de todos, revigorando corpos e mentes.
Além destas manifestações existiam outras menos frequentes
associadas a corte, como touradas, desfiles militares, torneios.
A nobreza tinha bastante tempo livre, uma vez que a sua principal
função consistia na defesa do território, ou seja, em tempo de paz a sua ação
baseava-se no exercício do corpo e das armas, através de atividades como a
caça, justas e torneios, jogos de mesa, nomeadamente o xadrez. Os serões
davam lugar a distrações mais calmas como cantar, dançar, tocar
instrumentos.
Também os elementos do clero, embora lhe estivessem interditas
ocupações que os afastassem dos seus deveres para com Deus, aderiam aos
divertimentos da nobreza (alto clero) ou aos do povo (baixo clero).
O povo que vivia em meio rural seria, talvez, o que menos tempo livre
teria, atendendo aos múltiplos afazeres que lhe impunha uma agricultura pouco
produtiva.
1.4.2. Literatura
1.4.4. A arte
2. O Espaço Português
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régio nas monarquias ocidentais levaram a um aumento da autoridade
senhorial no vínculo da propriedade e, consequentemente, da sua jurisdição e
laços de obediência. Nesse contexto, surge o feudalismo, marcado,
principalmente, por não necessariamente existir a supremacia da coroa. Isto é,
como podemos observar em Inglaterra e França, alguns nobres detinham muito
mais poder (terras, dinheiro, influência, etc.) do que o próprio rei. Contudo,
historiadores como Joaquim Veríssimo Serrão e Herculano defendem que o
feudalismo nunca se instalou em Portugal e justificam apontando que a
autoridade régia portuguesa foi sempre demasiado forte para impedir uma
repartição de direitos que pusesse em causa a supremacia da coroa e que as
doações feitas não traduziam qualquer vínculo feudal – uma vez que não viam
a incorporação da soberania na propriedade e que sempre houve a
dependência da nobreza senhorial para com a coroa.
No caso de Portugal, as doações de senhorios faziam referência aos
laços de dependência estabelecidos entre o rei e a nobreza/clero. Em
contrapartida, o rei esperava que a nobreza o apoiasse e ganhasse a sua
confiança, e que o clero, além de o apoiar, também apoiasse as ordens
religiosas, de forma a acentuar a conquista de territórios e a definir fronteiras.
Por esta razão, os reguengos foram-se reduzindo, designando-se por honras
os senhorios da nobreza e coutos, se pertencessem à Igreja. As honras e os
coutos eram terras imunes, ou seja, tinham o privilégio de autonomia
jurisdicional, não pagando impostos ao fisco real e impedindo os funcionários
régios de entrarem nos domínios dos grandes senhores.
Um dos pilares do poder senhorial era a posse de bens agrários, seja
pela coroa, pela classe nobiliária, ou pelos eclesiásticos. As suas posses eram
denominadas de domínios senhoriais. Historicamente, os seus domínios eram
divididos em partes, cada qual explorada de uma maneira diferente.
Geralmente, situada na parte central do domínio, ficava a Quintã, de
exploração, via de regra, exclusiva e direta do senhor. Lá, encontrava-se a
morada do senhor (casa, forte, castelo, abadia, mosteiro…), assim
como estruturas de importância produtiva, como moinhos, lagar, adegas,
estábulos, celeiros, cozinha, fornos, oficinas, horta e pomar, que ficavam nas
melhores terras. Essas estruturas eram trabalhadas pelos escravos, servos e
colonos livres, como pagamento, através da prestação de serviços laborais,
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que eram devidas ao senhor, durante as Jeiras. Algumas dessas estruturas
também podiam ser cedidas a essas pessoas para uso próprio. Outra parte da
propriedade que merece destaque eram os Casais, unidades de terra que eram
arrendadas, seja por prazo determinado ou indeterminado, a camponeses em
troca de tributos, pagos com frações de suas colheitas e com prestação de
serviços ao senhor.
Tais domínios senhoriais configuravam “mundos” que procuravam ser
autossuficientes, de forma a produzir tanto para o senhor quanto para a
população que residia neles. O senhorio consistia, para além das terras, num
agrupamento de pessoas vinculadas por direitos e deveres, onde o senhor
provia proteção ao povo que lhe deviam obediência, impostos e trabalho.
Assim, a classe senhorial (reis, nobres, clérigos) controlava uma multiplicidade
de homens, aos quais exigia tributos. São eles: os herdadores (proprietários de
terras livres, mas tinham de pagar impostos senhoriais), os assalariados
(viviam do aluguer ocasional do seu trabalho), os colonos (trabalhavam em
terra alheia arrendada ao senhor, pagando tributos em troca do arrendamento),
os escravos (eram geralmente prisioneiros mouros utilizados nos serviços
domésticos e na agricultura), e os servos (descentes dos escravos libertos, a
quem foram entregues casais para exploração e que viviam sempre
sobrecarregados com jeiras). Então, todo o homem livre devia depender de um
senhor, pois o povo não conseguia governar-se sozinho e o senhor lucrava
com a agricultura, os impostos e com a defesa de terras.
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administrativa do território português. Um exemplo disso é o facto de o território
português estar situado na rota de peregrinação para Santiago de Compostela,
o que demandava centros para alojar os peregrinos, criando aglomerados de
população. Além disso, houve também o ressurgimento e intensificação do
comércio a partir do século XII, impulsionando um surto urbano, o
desenvolvimento de cidades nos locais escolhidos pela corte régia para se
instalarem e a atração de populações para as cedes dos bispados.
Em razão de tais fatores, passaram a ser criados concelhos, urbanos e
rurais, com a concessão de cartas de foral pelo rei ou pelo senhorio. As cartas
de foral garantiam a maior autonomia de uma região enquanto concelho,
pretendiam assegurar que o povoamento permanecesse naquele lugar, de
forma a aumentar a defesa daquele território, e colaboravam para que o rei
equilibrasse os poderes em relação aos grandes senhores. No foral, eram
estipuladas as regras e direitos que regiam aquela população – especialmente
no que toca a segurança, pagamento de tributos, concessão ou
reconhecimento próprio e delimitação territorial do concelho. Tais concelhos
eram povoados por homens-livres e tinham, como consequência da sua
autonomia, uma organização própria, de forma a que, dentro de cada concelho,
existisse uma estrutura organizacional particular, integrada por funcionários
eleitos no local que aplicavam justiça e administravam a comunidade e por uma
assembleia de vizinhos, designado concelho, que reunia periodicamente a
totalidade ou uma parte dos habitantes.
Algumas características dos espaços citadinos era a existência da
cintura de muralhas que delimitava o espaço urbano, protegendo a população e
promovendo algum prestígio, e do espaço amuralhado, localizado no centro da
urbe, sendo a área mais bonita e rica. Também se encontravam nos espaços
citadinos os mercados, ruas novas (mandadas construir pelo rei em
homenagem a cidade), a rua dos ofícios (onde trabalhavam os mesteirais), e
ruas mais estreitas e escuram que nunca davam para a zona amuralhada. O
arrabalde uma zona de exclusão, mas muito dinâmica, composta por bairros
situados fora da cidade – além da muralha. E, por fim, o termo, que era o
espaço circundante da cidade – além do arrabalde – onde ficavam as vinhas,
searas e as aldeias e era a fonte de sobrevivência da cidade.
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3. Crises no séc. XIV
Durante o séc. XII e o início do séc. XIV, o Reino de Portugal estava
numa situação relativamente estável, pois as fronteiras estavam definidas e o
inimigo muçulmano fora afastado, os conflitos com os Castelhanos atenuaram-
se, a cultura fortalecia-se, a sociedade e a economia desenvolviam-se.
Durante o séc. XIV, por circunstâncias adversas, a Europa sofre uma
crise em todos os setores de atividade, desde a agrícola, passando pelo
artesanato, comércio, administração e exército. Devido às mudanças
climatéricas que se sentiram na Europa, ondas de frio e humidade, passaram-
se maus anos agrícolas e, por consequência, vivenciou-se a escassez de
alimentos.
Além da crise que se sentia na Europa e no Reino de Portugal, o
desconhecimento dos princípios básicos de puericultura, a falta dos cuidados
mais elementares de higiene e o facto de a medicina ainda não estar
desenvolvida para colmatar as doenças contribuíam para a elevada
mortalidade, mas a fome e a peste foram as principais responsáveis pelo frágil
desequilíbrio demográfico da altura.
Com tudo isto, o Reino de Portugal entra na crise do séc. XIV, sendo as
principais causas a política e a economia; deram-se sucessivas guerras, o
aumento do custo de vida e dos impostos para suportar as guerras, a fome e a
falta de higiene que favoreceu a propagação de epidemias.
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europeia com grandes prejuízos, dada a sua duração e a grande área
geográfica abrangida.
Além da Guerra dos Cem Anos, o Reino de Portugal esteve envolvido
noutras guerras - Guerras Fernandinas, que se caracterizaram pela disputa do
Reino de Castela, entre D. Fernando I de Portugal e Henrique II de Castela.
Ocorreram em 3 fases: de 1369 a 1370, de 1372 a 1373 e de 1381 a 1382.
Cada uma dessas guerras terminou com um tratado de paz - em 1371, o
Tratado de Alcoutim; em 1373, o Tratado de Santarém e em 1382, o Tratado
de Elvas.
A primeira guerra fernandina contra Castela dá-se devido a D. Pedro I
ter sido assassinado pelo seu irmão bastardo, Henrique da Transtâmara.
D. Fernando era bisneto de Sancho IV de Castela e Leão e, como tal,
alguns reinos e regiões, como Aragão, Navarra e até a pequena Galiza,
achavam-no o rei legítimo de Castela, apelando-lhe que interviesse na guerra
contra Henrique II. Com a primeira guerra, D. Fernando não venceu Castela,
mas alargou as fronteiras do Reino de Portugal.
Em 1372, dá-se, então, o início da segunda Guerra Fernandina. Devido
ao casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles, a paz que existia entre os
dois reinos termina, pois D. Fernando não cumpre o Tratado de Alcoutim -
ele deveria casar-se com a filha de Henrique II. Isto levou à necessidade de
escrever um novo acordo, o Acordo de Tui, que retoma o estado original das
fronteiras entre os dois reinos. Com a ocorrência de tais acontecimentos,
Henrique II, de Castela, invade Lisboa ocupando e cercando a cidade. A paz
entre Castela e Portugal acontece a pedido do Rei de Portugal, D. Fernando,
através do Tratado de Santarém, assinado em 1373. Após assinado o tratado,
D. Fernando organizou o reino e mandou construir muralhas em Lisboa, no
Porto e em outras localidades - as muralhas fernandinas.
Com a morte de Henrique II de Castela, D. Fernando vê uma
oportunidade de vencer e faz-se novamente à guerra, contactando um aliado
que se encontrava exilado em Inglaterra, disposto a atacar Castela. A guerra
contra Castela iniciaria logo após a chegada da tropa inglesa a Portugal, mas
começou antes, pois o Rei de Castela antecipa-se e invade Portugal. Em julho,
chegaram as tropas inglesas, mas só meses mais tarde decidiram lutar. D.
João de Castela faz seu poderio militar ser sentido na linha do Tejo e um
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acordo de paz é assinado em agosto de 1382, conhecido como o Tratado de
Elvas. A situação política de Portugal era delicada e o rei português foi forçado
a prometer a sua filha, infanta D. Beatriz, em casamento com o segundo filho
do rei de Castela, D. Fernando. Contudo, o rei de Castela ficou viúvo em
setembro do mesmo ano e decidiu tomar o lugar do filho no que diz respeito ao
matrimónio com a herdeira do trono português. A negociação de tal matrimónio
foi concluída em abril de 1383 - escritura matrimonial de Salvaterra de Magos –
e determinava que o trono de Portugal seria destinado a um filho varão de D.
Fernando, Rei de Portugal, ou, não o havendo, da infanta D. Beatriz, que
deveria manter os reinos de Portugal e Castela separados. Somente em caso
de extinção da linhagem de D. Fernando, com a morte da infanta, é que a
coroa de Portugal seria entregue a D. João I de Castela. Apesar do equilíbrio
do acordo, do ponto de vista jurídico, a situação portuguesa era frágil, pois D.
Fernando tinha na infanta D. Beatriz o seu único sucessor.
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elevados índices de mortalidade criou campo fértil para mudanças económicas
e sociais, muitas das quais ocorreram de forma violenta. Esse período de
enormes mudanças, insegurança jurídica e guerra, somados à constante
presença da morte e da violência na vida das pessoas, teve grande impacto
psicológico, causando mudanças de comportamento e de pensamento, assim
como mudanças morais e religiosas.
Como exemplos simbólicos dessas mudanças, pode-se citar a
diminuição do contacto humano e a marcação das casas dos infectados com
uma cruz, durante o auge da peste. Também se pode perceber o impacto da
morte na consciência coletiva através da arte medieval, onde ganharam
destaque a morte e o sofrimento de Cristo, além da personificação da figura da
morte.
Muitos membros do clero se afastaram dos seus deveres e obrigações
religiosas e passaram a desfrutar de seu poderio e riqueza como se fossem
membros da sociedade laica, tomando para si mulheres e tendo com elas
filhos, enquanto viviam em ambientes luxuosos, com diversas mordomias. O
clero aproveitou-se da morte generalizada e do desespero das pessoas para
arrecadar donativos em troca da salvação das suas almas, além do crescente
comércio de indulgências, ou seja, o recebimento de bens e valores para a
remissão dos pecados do pagador. Em claras demonstrações de riqueza e
poder, membros do clero começaram a construir diversas catedrais pela
Europa, muitas das quais extremamente suntuosas, além de contribuir com o
mecenato artístico.
Em resposta à tumultuosa realidade europeia e à atitude clerical, muitas
pessoas passaram a reavaliar as suas crenças, apegando-se a crenças
alternativas. A Europa viu crescer o número de heresias, de cultos satânicos e
pagãos, do misticismo e de crenças locais. Mesmo entre os que continuaram
firmes nas suas crenças católicas, cresceram as práticas heterodoxas. Muitos
interpretaram as desgraças como punição divina ou sinais do apocalipse.
Podemos citar aqui o grupo dos flagelantes, grupo preterido pela Igreja que cria
que o caminho para a salvação se dava pela abstenção de prazeres carnais e
pela vivência exclusiva a Deus, com a prática da penitência e do autoflagelo –
geralmente feito com açoites de couro e pontas de metal - como forma de
mostrar a fragilidade da carne e de mostrar arrependimento pelos seus
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pecados, purificando-se e humilhando-se perante Deus. Podemos citar também
os milenaristas, que defendiam que Jesus voltaria à Terra para reinar por mil
anos após o iminente apocalipse.
Esse tumulto religioso deixou exposta a fratura clerical. Isso fica bem
mais explícito com o Cisma do Ocidente (1378-1417), em que a Igreja teve, ao
mesmo tempo, dois papas, também chamados de papa e antipapa, um residido
em Roma e outro em Avignon, digladiando entre si pela legitimidade de seu
papado. Urbano VI, de Roma, tinha o apoio inglês, enquanto Clemente VII, de
Avignon, tinha o apoio francês, numa disputa que dividiu a Europa e deixou
ainda mais claro o viés político da religião, abrindo espaço para ulteriores
contestações ao papado e à instituição da Igreja, assim como justificando a luta
entre cristãos.
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os territórios de Castela. Rapidamente, existiram conspirações e rebeliões
contra si.
Assim sendo, Portugal ficou dividido em duas fações: uma que apoiava
João I de Castela, D. Leonor Teles e D. Beatriz (alta nobreza e clero – pela lei,
e em sinal de respeito aos princípios da lealdade e da vassalagem); e outra
que apoiava João, Mestre de Avis – irmão bastardo de D. Fernando I
(burguesia, baixa nobreza e povo – consideravam que a independência de
Portugal estava em perigo pois, no dia em que D. Beatriz morresse, o seu
herdeiro podia ser rei, simultaneamente, de Portugal e de Castela).
Em dezembro de 1383, João, Mestre de Avis, filho bastardo do rei Pedro I
e, portanto, irmão bastardo do falecido D. Fernando I, foi escolhido pela
burguesia portuguesa para Regedor, a fim de liderar a defesa de Portugal
contra as supostas pretensões castelhanas, terminando, assim, a regência de
D. Leonor de Teles. Portugal entrou num período chamado de Interregno - não
tem nenhum rei nem nenhuma autoridade governativa.
Nesta altura, vivia-se muita revolta e instabilidade em Portugal.
Percebendo tudo o que se passava à sua volta, D. Leonor fugiu
para Alenquer e pediu ajuda a João I de Castela para que este invadisse
Portugal, convencida que daria continuidade como regente do reino.
Esta crise dinástica começou em 1383 e alongou-se até 1385. Neste
período, Portugal não tinha rei a governar.
Nuno Álvares Pereira – ilustre cavaleiro português - foi enviado para o
Alentejo para controlar a fronteira. No entanto, os castelhanos já tinham
ocupado o Crato.
Em maio de 1384, D. João de Castela invadiu Portugal com o seu exército
para cercarem a cidade de Lisboa, por terra e por mar, mas em setembro foi
obrigado a levantar o cerco, devido à peste. Até esse momento, os castelhanos
propuseram a Mestre de Avis assinar um acordo de paz – ele ficaria com a
regência de Portugal, partilhando-a com um enviado de Castela - mas este
acordo foi recusado, pois Mestre de Avis e o seu povo nunca aceitariam não
serem governados por portugueses.
Em abril de 1384, dá-se a Batalha dos Atoleiros e quem liderava as tropas
portuguesas era Nuno Álvares Pereira. As suas tropas saíram vencedoras pois,
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apesar de numericamente inferiores, conseguiram derrotar as tropas
castelhanas, que fugiram do território português.
Após derrotar os castelhanos, as cortes reuniram-se em Coimbra para a
aclamação do rei, o mestre de Avis, tornando-se, então, D. João I de Portugal.
Neste momento, foi iniciada uma nova dinastia, a de Avis ou Joanina, que
esteve no trono de Portugal até 1580.
Após a sua subida ao trono, D. João I enfrentou uma batalha contra o rei,
D. João I de Castela, que invadiu Portugal pela segunda vez. Deu-se, então, a
batalha de Aljubarrota, no dia 14 de agosto de 1385. Nesse dia, o exército
português acampou no norte de Aljubarrota, Leiria, de modo a opor-se à
chegada do exército de Castela.
Mais uma vez, Nuno Álvares Pereira, usou uma tática militar (do
“quadrado”) e comandou ao seu exército de besteiros e arqueiros que se
colocassem, estrategicamente, em pé ao longo da estrada, para derrubar os
castelhanos, e dispôs as suas forças em três alas diferentes, escondidos, que
iriam atirar flechas. Quando as tropas castelhanas viram os soldados
portugueses a pé, julgaram que seria fácil a vitória. Esta tática militar, que ficou
conhecida como a "tática do quadrado", foi a chave para a vitória dos
portugueses, pois cercaram as tropas castelhanas de surpresa.
A batalha de Aljubarrota foi responsável pela Consolidação da
Independência de Portugal e, consequentemente, fez Portugal entrar numa
nova fase pois, nessa altura, era um país pobre devido às consequências da
peste, guerras e fome.
Assim sendo, a crise de 1383 a 1385 integra uma revolução política e,
também, social. Permitiu que se formasse uma nova sociedade e uma nova
geração. Foi esta geração que encaminhou Portugal aos grandes feitos do
povo português no início do séc. XV: a expansão marítima.
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Referências Bibliográficas
https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/handle/10316.2/43817
Editora.
30
Ribeiro, O. (s.d.). A formação de Portugal. Instituto da Cultura e Língua
Portuguesa.
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