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DIREITO PENAL

SEQUESTRO e CÁRCERE
PRIVADO.

REDUÇÃO À CONDIÇÃO
ANÁLOGA À ESCRAVIDÃO.

Prof.ª Carina Acioly


SEQUESTRO e CÁRCERE PRIVADO
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:


I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou
maior de 60 anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou
hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 anos;
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.

§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção,


grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
a) Bem jurídico tutelado
O bem jurídico protegido, neste tipo penal, é a liberdade individual, especialmente
a liberdade de locomoção, isto é, a liberdade de movimento, do direito de ir, vir e
ficar: liberdade de escolher o local em que deseja permanecer. Protege-se, na
verdade, o livre gozo da liberdade, que não é destruída ou eliminada tanto com o
cárcere privado quanto com o sequestro: seu exercício ou livre gozo é que fica
suprimido; cessada a privação, o sujeito passivo volta a gozá-la livremente, em
toda sua plenitude.

b) Sujeitos ativo e passivo


Como se trata de crime comum, sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não
requerendo nenhuma qualidade ou condição particular. Do mesmo modo, qualquer
pessoa poderá ser sujeito passivo (vítima). Se o sujeito passivo for criança, poderá
ocorrer um sequestro sui generis, disciplinado no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), em seus arts. 230, 234 e 235 (Lei n. 8.069/90).
c) Adequação típica
Nosso Código Penal não define o que deva ser entendido por cárcere privado e, da
mesma forma, não define sequestro, limitando-se a puni-los igualmente; utiliza as
expressões sequestro ou cárcere privado com sentidos semelhantes, embora, , se
possa dizer que no cárcere privado há confinamento enquanto, no sequestro, a
supressão da liberdade não precisa ser confinada em limites tão estreitos. Assim,
pode-se encarcerar alguém em um quarto, em uma sala, em uma casa etc.; e pode-
se sequestrar retirando-o de determinado lugar e levando-o para outro, como para
uma ilha, um sítio etc. Mas nada impede, segundo parte da doutrina, que as duas
figuras ocorram em um mesmo fato: por exemplo, sequestrar e encarcerar.

O agente que sequestrar e encarcerar responderá por um único crime, pois, na


verdade, a conduta tipificada é “privar” alguém de sua liberdade, e sequestrar e
encarcerar representam tão somente o modus operandi.
Se a privação da liberdade for legítima, não se poderá falar em crime, como, por
exemplo, alguém prende um delinquente em flagrante delito e o retém até a chegada
da autoridade pública (art. 301 do CPP: “Qualquer do povo poderá... prender quem
quer que seja encontrado em flagrante delito”).

Configurará o crime de cárcere privado quando, após a privação legítima da


liberdade, cessada a legitimidade, prolongue-se, indevidamente, a privação de
liberdade; ou quando, por exemplo, o paciente recebe alta, mas é retido pela
administração por falta de pagamento.

Pai que encarcera menor com finalidade corretiva pratica o crime de maus-tratos
e não cárcere privado.
O elemento subjetivo é o dolo, que consiste na vontade livre e consciente de privar
alguém de sua liberdade. Embora o crime em exame não exija nenhum elemento
subjetivo especial do tipo, a tipificação adequada da conduta será orientada
sempre segundo o elemento subjetivo geral, o dolo, pois, como em qualquer crime, a
mesma conduta física poderá configurar um ou outro crime, de acordo com a sua
finalidade, isto é, segundo a intenção com que fora praticada.

Assim, por exemplo, se a intenção do agente não é a de privar a criança de sua


liberdade de locomoção, mas ao contrário, de tê-la para si, e criá-la como se fora
sua, o crime não é de sequestro ou cárcere privado, mas o de subtração de
incapazes previsto no art. 249 do CP.

Se a privação da liberdade objetivar a obtenção de vantagem ilícita, caracterizará


o crime de extorsão mediante sequestro (art. 159).
d) Consumação e tentativa
Consuma-se com a efetiva restrição ou privação da liberdade de locomoção por
tempo juridicamente relevante. Afirma-se que, se a privação da liberdade for
rápida, instantânea ou momentânea, não configurará o crime, admitindo-se, no
máximo, sua figura tentada ou, quem sabe, constrangimento ilegal.

Sequestro ou cárcere privado não se confunde com constrangimento ilegal: enquanto


naquele a privação de liberdade perdura no tempo, neste a privação de liberdade é
momentânea, para obrigar a vítima a fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

Como crime material, admite a tentativa, que se verifica com a prática de atos de
execução, sem chegar à restrição da liberdade da vítima, como, por exemplo,
quando o sujeito ativo está encerrando a vítima em um depósito é surpreendido e
impedido de consumar seu intento.
REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a
trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes
de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:


I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim
de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:


I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
a) Bem jurídico tutelado
O bem jurídico protegido, nesse tipo penal, é a liberdade individual assegurada
pela Carta Magna brasileira. Na verdade, protege-se aqui a liberdade sob o
aspecto ético-social, a própria dignidade do indivíduo, também igualmente elevada
ao nível de dogma constitucional. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo
fere, acima de tudo, o princípio da dignidade humana.

b) Sujeitos ativo e passivo


Como se trata de crime comum, sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não
requerendo nenhuma qualidade ou condição particular. Do mesmo modo, qualquer
pessoa poderá ser sujeito passivo (vítima). Para configurar esse crime é
indispensável a relação ou “vínculo trabalhista” entre sujeito ativo e sujeito
passivo. A ausência dessa relação de prestação de serviço entre sujeito ativo e
sujeito passivo impede que se configure essa infração penal, ainda que haja a
restrição da liberdade prevista no dispositivo.
c) Adequação típica
Consiste em submeter alguém a um estado de servidão, de submissão absoluta,
semelhante, comparável à de escravo. É, em termos bem esquemáticos, a submissão
total de alguém ao domínio do sujeito ativo, que o reduz à condição de escravo,
como se fosse uma coisa, um objeto, completamente despido de liberdade, de
direitos, de garantias.

A liberdade protegida pelo art. 149 não se limita à auto locomoção, mas
principalmente procura impedir o estado de sujeição da vítima ao pleno domínio de
alguém. Para caracterizá-lo não é necessário que a vítima seja transportada de um
lugar para outro, nem que fique enclausurada ou que lhe sejam infligidos maus-
tratos. Tipifica-se o crime, por exemplo, no caso de alguém forçar o trabalhador a
serviços pesados e extraordinários, com a proibição de deixar a propriedade
agrícola sem liquidar os débitos pelos quais era responsável.
Consiste em submeter alguém a um estado de servidão, de submissão absoluta,
semelhante, comparável à de escravo. É, em termos bem esquemáticos, a submissão
total de alguém ao domínio do sujeito ativo, que o reduz à condição de escravo,
como se fosse uma coisa, um objeto, completamente despido de liberdade, de
direitos, de garantias.

A liberdade protegida pelo art. 149 não se limita à auto locomoção, mas
principalmente procura impedir o estado de sujeição da vítima ao pleno domínio de
alguém. Para caracterizá-lo não é necessário que a vítima seja transportada de um
lugar para outro, nem que fique enclausurada ou que lhe sejam infligidos maus-
tratos. Tipifica-se o crime, por exemplo, no caso de alguém forçar o trabalhador a
serviços pesados e extraordinários, com a proibição de deixar a propriedade
agrícola sem liquidar os débitos pelos quais era responsável.
Consuma-se o crime quando o agente reduz a vítima a condição semelhante à de
escravo, por tempo juridicamente relevante, isto é, quando a vítima torna-se
totalmente submissa ao poder de outrem. Em razão da sua natureza de crime
permanente, este não se configurará se o estado a que for reduzido o ofendido for
rápido, instantâneo ou momentâneo, admitindo-se, no máximo, dependendo das
circunstâncias, sua forma tentada. Enquanto não for alterado o estado em que a
vítima se encontra, a consumação não se encerra.
CASOS REAIS NO BRASIL QUE FICARAM CONHECIDOS
NA MÍDIA RECENTE:

a) "A mulher da casa abandonada" - Margarida Bonetti

Mais informações: https://www.migalhas.com.br/depeso/373888/a-mulher-da-casa-


abandonada-aspectos-juridicos-do-caso

https://www.youtube.com/watch?v=YsgkO39_MiY

b) Pureza Lopes Loyola

Mais informações: https://protecao.com.br/geral/filme-pureza-conta-a-heroica-


historia-da-maranhense-que-lutou-para-livrar-o-filho-do-trabalho-escravo-
contemporaneo/

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