Você está na página 1de 27

PEI PROFESSOR CELSO PIVA

3º ANO C DO ENSINO MÉDIO


HISTÓRIA

BEATRIZ RIBEIRO
BEATRIZ TATEISHI
CAROLINA BORGES
ERICK LEON
EVELYN SERQUEIRA
MARIA LUIZA RODRIGUES
RODRIGO MESQUITA

DITADURAS NO BRASIL E NO CHILE:


Como se originaram e como transformaram a América Latina

Guarulhos, SP
2022
BEATRIZ RIBEIRO
BEATRIZ TATEISHI
CAROLINA BORGES
ERICK LEON
EVELYN SERQUEIRA
MARIA LUIZA RODRIGUES
RODRIGO MESQUITA

DITADURAS NO BRASIL E NO CHILE:


Como se originaram e como transformaram a América Latina

Trabalho apresentado a Escola Estadual Celso Piva,


como requisito parcial para a obtenção de mensuração
do 3º bimestre, da disciplina de história sob supervisão
da professora Taís.

Guarulhos, SP
2022
A farda modela o corpo e atrofia a mente. (GUEVARA, Che)
RESUMO

O presente trabalho é uma pesquisa e um estudo sobre as ditaduras que ocorreram em


dois países latino-americanos no século XX, Brasil e Chile. O principais objetivos são
resgatar informações, remontar contextos históricos e, o mais importante, tornar todos esses
dados públicos, de uma maneira didática e prestativa, de uma forma em que a verdade que se
coloca nas palavras tenha sentido e, acima de tudo, gere empatia. Empatia por todas as
vítimas, sejam elas brasileiras, chilenas ou oriundas de outros países, empatia pelas crianças
retiradas de suas famílias em período ditatorial, pelos presos políticos, pelos exilados e por
quem, ainda nos dias de hoje, sofre as consequências desse período tão violento e desumano.
Palavras-chave: ditadura; américa latina; pesquisa.
ABSTRACT

The present work is a research and a study on the dictatorships that occurred in two
Latin American countries in the 20th century, Brazil and Chile. The main objectives are to
rescue information, reassemble historical contexts and, most importantly, make all this data
public, in a didactic and helpful way, in a way in which the truth that is put in the words
makes sense and, above all, generates empathy. Empathy for all victims, whether Brazilian,
Chilean or from other countries, empathy for children taken from their families in a dictatorial
period, for political prisoners, for exiles and for those who, even today, suffer the
consequences of this so violent and inhumane.
Keywords: dictatorship; Latin America; search.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
2. DITADURA BRASILEIRA ............................................................................................... 17
2.1. ANTECEDENTES AO GOLPE MILITAR DE 64 .......................................................... 17
2.1.1. João Goulart .................................................................................................................. 17
2.1.2. Guerra Fria .................................................................................................................... 17
2.1.3 Golpe Civil e Militar ...................................................................................................... 18
2.2. ANOS DE TERROR .......................................................................................................... 18
2.2.1. Castello Branco (1964-1967) ........................................................................................ 18
2.2.2. Costa e Silva (1967-1969).............................................................................................. 19
2.2.3. Médici (1969-1974) ........................................................................................................ 19
2.2.4. Geisel (1974-1979) ......................................................................................................... 20
2.2.5. Figueiredo (1979-1985) ................................................................................................. 21
2.3. O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO ................................................................. 21
2.3.1. Reorganização Partidária ............................................................................................ 21
2.3.2. Greves ............................................................................................................................. 22
2.3.3. Eleições ........................................................................................................................... 24
2.3.4. Diretas já! ....................................................................................................................... 24
3. DITADURA CHILENA ..................................................................................................... 25
3.1. TOMADA DE PODER ...................................................................................................... 25
Introdução ao governo de Salvador Allende ........................................................................ 25
Características do governo que antecedeu o golpe .............................................................. 25
Influência dos EUA ................................................................................................................. 26
Retirada de Salvador do governo .......................................................................................... 26
3.2. O GOVERNO DE PINOCHET ......................................................................................... 26
3.2.1. O Golpe .......................................................................................................................... 26
3.2.2. Chicago Boys ................................................................................................................. 27
3.2.3. Documentos CIEX ........................................................................................................ 27
3.2.4. Perseguições e mortes ................................................................................................... 28
3.3 RETORNO AO REGIME DEMOCRÁTICO .................................................................... 29
3.3.1. O processo ...................................................................................................................... 29
3.3.2. Consequências ............................................................................................................... 31
3.3.3. O rompimento ............................................................................................................... 33
4. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 34
16

1. INTRODUÇÃO
De acordo com Maurice Duverger, cientista político e sociólogo francês, a ditadura
pode ser definida como um regime político autoritário, mantido pela violência, de caráter
excepcional e ilegítimo, ela pode ser conduzida por uma pessoa ou um grupo que impõe seu
projeto de governo à sociedade com o auxílio da força. Normalmente, ditadores chegam ao
poder por meio de um golpe de Estado. Já o filósofo político Norberto Bobbio afirma que a
ditadura moderna é um regime caracterizado pela concentração absoluta do poder e pela
subversão da ordem política anterior.
As ditaduras tendem a ser muito centralizadas, o poder está extremamente
concentrado nas mãos dos indivíduos ou grupos que governam o país, com pouca ou nenhuma
oportunidade de debate político. Os espaços de comunicação e deliberação são, muitas vezes,
fortemente regulamentados ou suprimidos. Isso inclui a imprensa, o legislativo e o judiciário,
que não são mais independentes, como costuma ser no caso da divisão dos três poderes, e os
partidos políticos, que geralmente são proibidos de existir. Dessa forma, ao suprimir as vozes
opositoras, as ditaduras impõem o consenso e implementam suas políticas com pouca ou
nenhuma consulta à sociedade. É por isso que o autoritarismo e a violência são duas marcas
de qualquer ditadura.
Um golpe de Estado ocorre quando um governo estabelecido por meios democráticos
e constitucionais é derrubado ilegalmente – portanto, derrubado de uma forma que não
respeita os processos democráticos, como eleições diretas, e as leis do país. Embora os golpes
militares sejam mais comuns na história do Brasil e de outros países latino-americanos – ou
seja, a ameaça da força para desmantelar o poder estabelecido. Outras formas de golpe
também são possíveis, como pelo uso indevido da Justiça para incriminar pessoas no poder –
ou seja, a Justiça agindo ela mesma de maneira ilegal. É uma forma mais sutil de golpe, mas
produz o mesmo resultado: a derrubada de um governo eleito de uma forma que vai além das
regras de um estado democrático de direito.
17

2. DITADURA BRASILEIRA

2.1. ANTECEDENTES AO GOLPE MILITAR DE 64

2.1.1. João Goulart


Jânio Quadros, em meio a uma grave crise financeira, renuncia a presidência no
mesmo ano em que assumiu, em 1961, assim, João Goulart, seu vice, assume seu cargo. Vale
ressaltar que o novo presidente, comumente conhecido como Jango, era de partido diferente e
tinha planos opostos para o país, que não agradavam a todos.
Goulart anunciou seu projeto de Reformas de Base, que tinha o objetivo de reduzir a
concentração de renda e de terra no país, com reformas no sistema agrário, educacional,
bancário, administrativo, urbano e eleitoral. O considerado estopim para a derrubada de João
Goulart do poder, foi o Comício de Jango na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, onde
Jango defendeu as reformas, com apoio de cerca de 59% da população.
Isso porque a reforma gerava oposição por parte de grandes latifundiários,
parlamentares do Congresso Nacional, conservadores de direita, empresariado, militares e a
Igreja Católica, que ajudava a disseminar o medo do socialismo causado pela Guerra Fria.
Provocando grande movimentação popular, além do agravamento da polarização política
entre o povo.

2.1.2. Guerra Fria


O contexto de Guerra Fria da época teve grande influência na ditadura militar, com a
bipolarização ideológica mundial de socialismo pela URSS, e capitalismo pelos Estados
Unidos, que disputavam hegemonia econômica, política e militar no mundo.
Os Estados Unidos, com receio da expansão socialista, começa a intervir nos países
latinos americanos a fim de evitar ideias consideradas comunistas, e, desse modo, apoia
regimes ditatoriais, com a intenção de conter esses movimentos. Um fato relevante para a
disseminação desse ideal, foi a Revolução Cubana, que serviu de argumento para o golpe
civil e militar.
Tendo em vista essa influência de ideologias, para alguns grupos o Brasil passaria
por uma revolução socialista, que seria considerado uma ameaça, e isso, então justificaria o
apoio ao golpe, que muitas vezes era intitulado como revolução, inclusive pelas mídias.
Atualmente há registros de ações que comprovam o envolvimento dos Estados Unidos na
18

ditadura militar brasileira, coordenando a conspiração entre empresários e militares, e dando


garantia de apoio material e militar. Dentre eles pode-se citar a Operação Brother Sam,
militares brasileiros que tiveram aulas sobre torturas na Escola das Américas, e gravações do
ex-presidente dos EUA – John Kennedy – com o embaixador do Brasil na época – Lincoln
Gordon.
Houve resistência ao golpe por parte do sindicato e de estudantes, porém, com a
desorganização e a desestímulo por conta da não resistência de João Goulart, que pensava ser
um "golpe passageiro", não teve consequências efetivas contra o golpe. A Marcha da Família
com Deus pela Liberdade, que ocorreu em 19 de março de 1964, com cerca de 400 mil
pessoas, é um dos exemplos das marchas conservadoras do período que começaram a
acontecer, pedindo intervenção militar para João Goulart sair do poder, em uma luta contra o
comunismo.

2.1.3 Golpe Civil e Militar


No dia 31 de março de 1964, tanques do exército foram encaminhados ao Rio de
Janeiro, onde estava o presidente Jango. E foi na madrugada de 2 de abril, no Congresso
Nacional, que o cargo de presidência foi declarado vago enquanto o presidente ainda estava
no Brasil, sem ter renunciado, sofrido um impeachment ou morrido. Três dias depois, João
Goulart foi exilado ao Uruguai e uma junta militar assumiu o poder do Brasil.
Assim, Ranieri Mazzilli foi nomeado presidente de forma provisória até a tomada de
posse do primeiro presidente militar desse período, o Marechal Castello Branco. Iniciando-se
assim, a ditadura militar do Brasil, que perdurará até 1985

2.2. ANOS DE TERROR

2.2.1. Castello Branco (1964-1967)


O governo ditatorial civil-militar inicia com Castello Branco assumindo a
presidência do Brasil, em 15 de abril de 1964. Entretanto, antes dessa ação houve o golpe
militar que aconteceu em 31 de março de 1964, onde o exército brasileiro foi direcionado para
o Rio de Janeiro com seus tanques à procura de João Goulart, que após renunciar o seu cargo,
diante da pressão, fugiu para o Uruguai.
O mandato de Castello perdurou por três anos, durante esse período ele criou o
primeiro dos 16 atos institucionais que existiram durante os anos de ditadura. Tinham como
19

objetivo concentrar ainda mais o poder militar diante da população brasileira. O AI-1, declara
o fim das eleições diretas, ou seja, o Congresso Nacional que iria eleger um novo presidente.
No mesmo governo entrou em vigor o AI-2, em 1965, deliberando o fechamento de todos os
partidos políticos que existiam, adotando o bipartidarismo, apenas dois partidos poderiam ser
elegidos: Aliança Renovadora Nacional – ARENA – e o Movimento Democrático Brasileiro
– MDB –. As eleições estaduais também foram suspensas, porém em 1967, com o AI-4,
Castello convoca uma elaboração de uma Nova Constituição, substituindo a de 1946. Isso
permitiu que a ditadura fosse legitimada, ganhado mais força e posse sobre o poder judiciário
brasileiro.

2.2.2. Costa e Silva (1967-1969)


Esse foi um dos períodos mais tensos, marcados por repressão e violências como,
empalamento, choques elétricos, ingestão de insetos, estupros, suspensão em barra de metal
entre outras maneiras bárbaras de tortura. A liberdade de expressão também foi prejudicada, e
diante de todas as proibições, houve uma grande evolução na música brasileira. Em 1964 o
movimento chamado Tropicália ou Tropicalismo, que tinha como objetivo utilizar as canções
com suas figuras de linguagem para criticar o regime militar e politizar a sociedade. Cantores
como Caetano Veloso e Gilberto Gil foram os precursores desta ação, outros grandes nomes
que participaram dessa ação foram, Tom Zé, Gal Costa, a banda Os Mutantes e o maestro
Rogério Duprat.
Em virtude da antidemocracia onde os atos dos cidadãos não eram mais válidos, a
população se revolta contra o governo e começam movimentos de manifestações, como a
Passeata dos 100 mil. Nesse protesto o estudante Edson Luís foi morto pela agressividade da
polícia militar, o que comoveu a nação fortalecendo ainda mais a oposição contra a ditadura.
Para conter essas manifestações, Costa e Silva promove o AI-5, que fez o Congresso fechar
completamente e por tempo indefinido, decretando o estado de sítio, que consiste na ação em
que o chefe de Estado suspende os poderes Legislativo e Judiciário. Cassou mandatos de
prefeitos e governadores e proibiu as reuniões do Congresso. Com essa prescrição, o regime
poderia cometer as punições mais violentas e desumanas. Por conta disso, o período ficou
conhecido como Anos de Chumbo.

2.2.3. Médici (1969-1974)


O governo de Médici, ficou conhecido, pela maior repressão da Ditadura do Brasil,
entretanto teve um “milagre econômico”, pois foram adotados diversos atos que
20

possibilitaram o giro da economia, por exemplo, restrição ao crédito - não haveria a


possibilidade de comprar algo caso indivíduo tivesse uma dívida - o aumento das tarifas do
setor público, - onde com essas taxas o governo conseguiria manter a economia do país - a
contenção dos salários - não aumentando ou diminuindo, mas sim, manter o constante -
,direitos trabalhistas e a inflação baixa. Isso permitiu a taxa de crescimento do PIB, acima de
10%, e os grandes investimentos na infraestrutura.
A Copa do mundo acontecia e o Brasil era tricampeão mundial, a regência
observando isso promoveu campanhas que diziam; “Brasil, ame-o ou deixe-o” ou “Ninguém
segura esse país'', fazendo ufanismo nacionalista, evidenciando ainda mais que o país estava
em um ótimo momento. Com a euforia da economia, ocorreu a crise do petróleo, que
prejudicou a economia global. Em 1973 ocorreu a Guerra Yom Kippur entre árabes e
israelenses. Os Estados Unidos prestaram apoio para Israel e os árabes em oposição fizeram
com que o petróleo aumentasse cerca de 400%. Isso permitiu o aumento da inflação sendo
aproximadamente 30% ao ano. Diante desses fatos, a desigualdade de renda concentrava a
riqueza na população de classe alta e a de baixa renda ficando com nada. O GINI -
instrumento utilizado para calcular o grau de concentração de renda de um grupo - afirma que
esse foi o pior índice da história, com 0,62 em 1977.
Foi promulgado na década de 70, um decreto-lei nº 1.007, contra as mídias de
comunicação, este decreto poderia ser feito de duas maneiras; uma pessoa entraria no estúdio
onde seria feito jornais ou revistas, e escolheria o que seria publicado ou não. A outra maneira
era que as empresas de jornalismo mandassem previamente o conteúdo que seria abordado
para a Divisão de Censura do Departamento da Polícia Federal. Criaram-se instituições como
o Departamento de Operações Internas - DOI - e o Centro de Operação da Defesa Interna -
CODI - os mesmos eram utilizados para aprisionar e torturar as pessoas que eram contra o
regime ou que violavam as leis.

2.2.4. Geisel (1974-1979)


Geisel tinha o plano de governo para a reabertura política - seria a ação de desconcentrar o
poder militar, liberando o Brasil do regime - mas de maneira gradual e lenta. Esse ato trouxe esperança
de um regime democrático, mas deixaria de lado os grupos opositores, como o movimento Tropicália,
citado precedente e movimentos populares de manifestações, caso houvesse o processo do voto
democrático. No entanto, com toda essa mudança, Geisel criou o Pacote de Abril, em 1977, que
retrocede a ideia da reabertura política. O mesmo permitiu que um terço dos senadores teriam
indicações na candidatura para presidente e também a extensão do mandato de cinco para seis anos.
21

A crise também chega neste governo, especificamente em 1978, quando metalúrgicos do


ABC entram em greve, considerada uma das maiores greves da história brasileira. Algumas
mobilizações da sociedade iniciam para denunciar todas as atrocidades, desde as torturas até
imposições dos atos institucionais. Com esses movimentos tomando voz, o governo começava a ter
grandes complicações e isso fez com que muitas leis fossem revogadas, principalmente o AI-5, como
foi abordado anteriormente. Investimentos na infraestrutura e industrialização desde o início da
Ditadura Militar, aumentaram o PIB para 23,3%, algumas dessas aplicações são resultados da
Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói, as Usinas Nucleares de Angra e a Hidrelétrica de Itaipu.

2.2.5. Figueiredo (1979-1985)


Figueiredo ficou durante seis anos no governo e o mesmo deu fim ao regime militar. No ano
de 1979, foi publicada a Lei Anistia, que permitiu de maneira gradual a libertação dos prisioneiros
políticos e exilados encaminhados para seus países. Por mais que a Lei permitisse a liberdade de
detidos por diversas causas, houve uma polêmica, os guerrilheiros - homens que lutavam com as
Forças Armadas contra a ditadura - condenados por atos terroristas eram excluídos desse ato, mas
incluíam agentes que praticavam as torturas, sendo policial e militar.
Neste mesmo governo, houve a volta do Pluripartidarismo, onde haveria outros partidos para
votar, mas nem todos concordaram com esse fato, principalmente os próprios militares. Em 1981, no
Centro de Convenções no Rio de Janeiro, um carro explodiu matando o sargento Guilherme Pereira do
Rosário e ferindo o capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos sendo das instituições CODI e DOI.
Acredita-se que esse ato foi feito para culpar a esquerda, de maneira que, ao ver essa ação, o governo
ficaria com medo e desistiria do fim do regime militar. Neste caso não houve possíveis medidas de
punições.
Com o final do mandato, as eleições diretas ainda não estavam sendo consideradas, mas a
população queria ter essa decisão em suas mãos, todavia não foi viável, Tancredo Neves assume o
poder e apenas em 1989 a sociedade brasileira pode ter o voto direto, acabando assim com a opressão
ditatorial.

2.3. O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO

2.3.1. Reorganização Partidária


Durante a ditadura existiam apenas dois partidos no Brasil, a ARENA (Aliança
Renovadora Nacional) que apoiava o governo e a ditadura, e o MDB (Movimento
Democrático Brasileiro), da oposição. Os outros partidos funcionavam e existiam de forma
clandestina e escondida do governo, já que foram extinguidos partidos políticos em 1966
pelos militares, através do AI-2.
22

Mas a partir de 1974 houve uma mudança surpreendente e importante nas urnas,
elegendo 16 senadores das 22 vagas disponíveis, que antes eram preenchidas por militares e
candidatos da ARENA, o que frustrou o plano dos militares de um plano de regime mais
autoritário.
O MDB conseguiu alianças com outros opositores do governo, como intelectuais,
apoiadores de movimentos sociais e culturais e sindicatos. Mas houve uma piora na repressão
para os integrantes da oposição. Ao apoiar o Movimento Democrático Brasileiro, o PCB
(Partido Comunista Brasileiro), na época um partido clandestino por ser de oposição ao
governo militar, recebeu uma dura repressão do governo, onde vários dirigentes do partido
foram presos, ou entraram para a lista de desaparecidos onde muitos, provavelmente, foram
mortos sob tortura.
Apesar de todas as dificuldades e opressão sofrida pelo governo, a oposição legal
avançava no Congresso, Câmara, Senado e sobretudo, nas grandes cidades. Após perceber o
movimento catalisador, o governo promoveu a reforma dos partidos em 1979.
A lei sancionada pelo Congresso em novembro de 79 era uma tática dos militares em
dividir a oposição em várias “facções” para manter o partido oficial unido, que naquele ano
mudou de nome e a ARENA passava a se chamar Partido Democrático Social (PDS).
A lei de reforma partidária, portanto, só dificultava a vida da oposição que naquele
momento se reorganizará, proibindo alianças, votos vinculados e exigindo diretórios em
vários estados do Brasil além dos partidos terem que lançar candidatos em todos os níveis.
Assim como vontade do governo, os oposicionistas se dividiram, mas apenas isso pode ser
considerado uma vitória dos militares, já que o PMDB, antigo MDB, manteve em grande
parte seus parlamentares e conquistando muitos apoiadores nas eleições gerais de 1982.
O quadro atualizado ao final da ditadura serviu de base para o novo regime de
partidos democráticos, e uma das novidades foi a criação do partido PSDB (Partido da Social
Democracia Brasileira), a partir de um conflito do PMDB, e a criação de outros pequenos
partidos ligados a esquerda ou aos evangélicos.
2.3.2. Greves
A classe operária foi de suma importância para a mudança de cenário político no
Brasil, já que foram responsáveis por grande parte das greves e agiam de forma contundente
contra a represália da ditadura.
A primeira greve ocorreu em maio de 1978, onde operários da empresa sueca Saab-
Scania entraram na empresa, mas não trabalharam, cruzaram seus braços ao lado dos
maquinários e fizeram suas reivindicações: 20% de aumento salarial. Durante o quarto dia de
23

protesto, os trabalhadores decidiram acatar a proposta da empresa com intermédio do


sindicato, que contava com o aumento salarial em 20% para quem recebia até 10 salários
mínimos, redução da jornada de trabalho noturno, equiparação salarial e inclusive pagamento
dos dias parados.
Logo, os operários voltaram ao trabalho, mas a Scania, por pressão de grandes
multinacionais, não cumpriu com o combinado, pagando apenas 6,5%. Os trabalhadores até
tentaram outra greve, mas por repressão da polícia, a atitude fui frustrada. Mas o movimento
foi avassalador, inspirando diversos outros operários a fazerem o mesmo, antes mesmo do fim
da greve na Scania, funcionários da Ford e Volkswagen também entraram em greve, mas o
Tribunal Regional do Trabalho determinou que greves eram ilegais. A decisão foi ignorada e
muitos continuaram a greve lutando por seus direitos, na primeira semana mais de 60 mil
metalúrgicos de 24 empresas entravam na greve em três cidades diferentes. Na quarta semana,
já eram 246 mil operários em greve, de 213 empresas em nove cidades brasileira.
Em 1979, os sindicatos de metalúrgicos já coletaram experiencia nas greves
anteriores e fizeram mais um planejamento de greve, com assembleias gigantes, que
contavam com 60 a 80 mil pessoas no Estádio de futebol de São Bernardo, e a greve começa
antes da posse do último general-presidente da ditadura, João Baptista Figueiredo. Fábricas
em São Bernardo, São Caetano, Santo André, São José dos Campos e Jundiaí interromperam
operações, mesmo sofrendo inúmeras repressões da polícia militar, a greve não cedeu.
Mas a resistência não durou muito, já que muitos estavam sendo presos e ameaçados,
então Lula no nono dia de greve viu que era melhor recuar e induziu o fim da greve. Ademais
em Belo Horizonte o cenário era diferente, uma paralisação espontânea estourou e mais de 50
mil operários e caminhoneiros entraram em greve, o movimento enfrentou uma dura repressão
da polícia, mas a greve termina com propostas de aumento feito pelos patrões, intimidados
pelos grevistas.
Em outubro de 1979, metalúrgicos da cidade de São Paulo, Guarulhos e Osasco
entram em greve, foi uma das greves com uma repressão muito violenta por parte da PM, com
invasão e incêndio de uma igreja, envolvendo até o assassinato de Santo Dias da Silva,
metalúrgico e causou grande comoção por parte dos grevistas, e logo após o acontecido a
greve chega acaba dias depois. Em março de 1980, foi determinado por uma assembleia uma
greve motivada pela negação de suas exigências, entre elas o piso salarial. A greve atingiu
todo o ABC e outras 17 cidades do interior paulista.
O governo federal não aceitou a greve se sobrepôs ao governador de São Paulo,
Paulo Maluf, e impôs uma intervenção que contou com mais de 8 mil sodados, 40 viaturas e 3
24

helicópteros do exército. Após isso, os sindicatos sofreram uma intervenção e 14 líderes


foram presos, entre eles, Lula. Os dias foram se passando, mas o cenário de prisões não havia
mudado, os grevistas se recusavam em por um fim na paralisação e isso fez com que no final
de abril, cerca de 90% dos trabalhadores de São Bernardo estivessem paralisados.
Em 1° de maio de 1980, mais de 100 mil pessoas furaram o bloqueio policial no
largo da matriz, tomando de volta o estádio que foi ocupado por militares para impedir suas
assembleias grevistas e de conspiração contra o governo. Mas após mais de 40 dias, a greve
não tinha mais fundos de como se sustentar e os operários voltaram aos trabalhos, e logo, Lula
e seus companheiros foram soltos. Apesar de todas as dificuldades, as greves do movimento
operário produziram vitorias trabalhistas, mas também, vitorias políticas, já que forças de
oposição cresceram e a ditadura ficou impossibilitada de levar a diante o plano de regime.

2.3.3. Eleições
Durante o golpe, a votação funcionava por meio da junta militar criada pelo General-
Presidente, que elegia os Senadores, Deputados e Governadores do Brasil. Mas após a
promulgação da Constituição de 1967, a escolha de Presidente e poderes do Legislativo
passou a acontecer de forma indireta, por meio de voto do Colégio Eleitoral.
A primeira eleição direta pós ditadura aconteceu em 1989 e Fernando Collor assume
o poder e se torna presidente da República.
Collor conquistou os eleitores com promessas grandes e a retórica de “jovem contra a
velha política”, gerando uma grande expectativa para o futuro do Brasil, mas seu governo foi
um fracasso por estar envolvido em diversos escândalos de corrupção e acabou isolado
politicamente e acabou sofrendo Impeachment e logo renunciou ao posto, e o Senado
determinou sua inabilitação política por oito anos, e quem acaba assumindo o poder é seu
vice, Itamar Franco.

2.3.4. Diretas já!


Diretas Já foi o movimento político mais popular do século 20, com o objetivo de
restaurar a eleições por voto direto para Presidente do Brasil. Com a duração de 1 ano (1983-
1984), o movimento mobilizou milhões de pessoa em comícios e passeatas pelo Brasil inteiro
e contou com a participação de partidos políticos, artistas que sofriam seriamente com a
censura imposta pela ditadura, intelectuais e representantes da sociedade civil.
25

A PEC promovida por Dante de Oliveira, exigia o restabelecimento das eleições


diretas para presidente, mas recebeu apenas 22 de 320 votos do Senado. Mas o ato teve
grande repercussão nas ruas do país, o que foi o marco principal para os comícios, que
tiveram presentes grandes nomes como Chico Buarque e a atriz Fernanda Montenegro.
O ato que mais reuniu participantes ocorreu no Rio de Janeiro em 10 de abril,
contando com mais de 1 milhão de apoiadores.

3. DITADURA CHILENA

3.1. TOMADA DE PODER

3.1.1. Introdução ao governo de Salvador Allende


Em 1929, o mundo foi abatido pela crise econômica - crise em que a bolsa de valores
dos EUA faliu - deixando sequelas nos países. Em consequência disso, no Chile houve
obstáculos difíceis, causando o aumento do custo de vida, e o surgimento das organizações de
esquerda, como a Unidade Popular.

3.1.2. Características do governo que antecedeu o golpe


Salvador Allende foi elegido ao governo, em 1970 como presidente do Chile. Ele
tinha como proposta fazer mudanças relevantes na economia, política e no meio social do
país, sem ter que força a sociedade.
Sendo um socialista, seu governo ficou conhecido como : " via chilena ao socialismo
". Ele pregava que, os poderes executivos e legislativos precisavam, ter sua conquista ao
poder, como também, acreditava na participação popular - dos trabalhadores - e por último,
acreditava que nacionalizar as áreas econômicas ajudaria à transição do novo governo.
Sendo assim, a Unidade Popular foi criada, essa unidade foi a base para a transição
do governo ao socialismo. Tendo como propostas: a naturalidade das riquezas básicas e
colorização dos meios de produção; participação dos trabalhadores; e uma nova ordem
institucional.
Essas mudanças foram bem recepcionadas pelos trabalhadores, tendo agora espaço
para as suas reclamações ou sugestões nos sindicatos chilenos - CUT Central Única dos
Trabalhadores. Dessa forma, não eram sugados por seus patrões, tendo agora empregos
26

dignos e justos. Eles apoiaram a decisão de Allende em deixar as empresas em seu domínio,
sendo uma quantidade maior do que o esperado, a tutoria do governo para essas empresas.
Como em tudo, nem todos gostaram disso, principalmente os empresários que
acabaram perdendo seu domínio em suas empresas, como também, os militares que
precisavam "aprovar" inúmeros pedidos feitos em pouco tempo, não podendo ter uma reação
diferente de aprovação. Deixando eles furiosos, com a demanda que estava tendo. Os
trabalhadores estavam em pouco tempo, colocando as empresas como tutores do governo.

3.1.3. Influência dos EUA


Quem influenciou eles a colocar os militares no poder, foi os Estados Unidos. Isso
porque, ocorria a Guerra Fria no momento, era importante impedir que o socialismo crescesse
na América Latina. Com isso, eles influenciaram em uma série de obstáculos comerciais,
como também, buscaram manipular a opinião da população contra o presidente, criando até
um jornal com oposições ao governo.
Em 1975, a Operação Condor - alianças formadas entre os ditadores militares que
governaram os países da América Latina - tinham como ações vigiar, sequestrar e torturar
militares de oposição.

3.1.4. Retirada de Salvador do governo


Com a economia em crise, o momento se tornou propício para a retirada de Salvador
Allende do poder, assim, os militares o derrubando. No dia 11 de Setembro de 1973, os
militares se revoltaram em todos os lugares, encurralando Salvador Allende. Ele então,
recusando a se entregar, se suicida ainda no Palácio La Moneda, sede do governo.
Logo após o golpe, houve a formação de uma junta militar feita por Pinochet,
almirante Moreno, general Gustavo Leigh e César Mendonza. Eles governaram juntos, por
meio de rotação entre os quatro comandantes. Entretanto, não durou muito, já que Pinochet
tomou todo o controle do país.

3.2. O GOVERNO DE PINOCHET

3.2.1. O Golpe
Após o golpe de estado e o suicídio de Allende, havia ficado decidido que o Chile
seria governado por um governo rotativo de quatro pessoas, dentre elas, o comandante chefe
27

do exército chileno Augusto Pinochet, o almirante Merino, César Mendonza e o general


Gustavo Leigh, mas não demorou muito tempo para que Pinochet tomasse o controle do país,
e foi também eleito pelo resto junta militar em 1973 e iniciou a ditadura mais violenta da
América Latina que ficou marcada por diversas ações contra os direitos humanos, contou com
o assassinato de mais de 3,2 mil pessoas e tortura de cerca de 40 mil.

3.2.2. Chicago Boys


Com os Estados Unidos tendo uma política anti-comunista, e a favor do
desenvolvimento do capitalismo, eles sempre se posicionam contra governos de esquerda. E
com a América do Sul não foi diferente, quando os países adotaram um sistema socialista, a
organização norte-americana, CIA, fez intervenções nos países para apoiar grupos que eram
contra esse tipo de governo e apoiar também os militares que eram contra.
Com o golpe no chile, veio junto também, uma crise econômica, e para resolvê-la os
militares trouxeram acadêmicos de Chicago, também conhecido como Chicago Boys, que os
ajudaram na implantação do neoliberalismo radical para que o crescimento da economia
superasse substancialmente a de governos anteriores, porém, ao longo do governo do então
ditador Augusto Pinochet, só houve aumentos, tanto da inflação, do desemprego e
consequentemente da desigualdade social.

3.2.3. Documentos CIEX


Com a implantação da ditadura no Brasil e a censura e perseguição aos opositores,
muitas pessoas de alta relevância, como políticos, artistas, etc, deixaram o país, e com isso em
vista, o governo ditatorial brasileiro queria saber onde esses opositores estariam vivendo e
com isso foi criado os documentos do CIEx (centro de inteligência do exército) em parceria
com o Itamaraty (Relações exteriores) que eram documentos secretos do governo usados para
controlar os asilados brasileiros no exterior e observar o andamento e funcionamento da
política nos países vizinhos.
Dentro desses documentos continham diversas informações dos "fugitivos" como, o
nome, número de identidade, endereço de suas novas moradias, nova profissão, qual era o seu
papel no Brasil, com quem eram casados antes de fugir e qual era o nome da pessoa com
quem se relacionavam no novo país.
Nesses documentos também continha informações sobre países que tinham adotado o
sistema socialista, comunista e como isso influenciava os países da America Latina, além de
28

reuniões partidárias de políticos com essas ideologias. Com tudo isso, o Brasil sabia quem era
e quem poderia ser seus possíveis inimigos no futuro, e facilitaria uma intervenção contra
eles, pois tendo toda essa bagagem de informações, o Brasil não seria peho desprevenido caso
tentassem alguma ofensiva sobre o país.
Porém nem sempre esse tipo de informações, como o de asilados, era abordada no
documento, por volta de 1970 já se comentava sobre o governo de Allende, sobre o risco que
trazia o seu posicionamento político, o fato de quererem induzir a ocorrência de um golpe de
estado no Chile também já era comentado nos documentos do CIEx, o ano de 1973 foi o ano
que teve a maior quantidade documentos, e era sobre o que ocorria no Chile, a apreensão
sobre o resultado das eleições e a permanência de Allende no poder.
E somente agora todos esses documentos estão sendo trazidos à tona e sendo
estudados para entender tudo o que aconteceu durante essa época sombria.

3.2.4. Perseguições e mortes


Logo quando chegou ao poder, o ditador, criou a "Caravana da Morte" que
atravessou diversas cidades do país perseguindo e capturando diversos adversários políticos e
aliados do ex-presidente, ao fim do trajeto, eles haviam assassinado cerca de setenta e cinco
opositores, com a mensagem de que "o governo veio para ficar, e não deveria haver nenhum
tipo de resistência à ele".
Em 1974 foi criada a DINA (direção de inteligência nacional) para "garantir a
segurança do país", mas na verdade sua função era manter o prosseguimento da ditadura no
país, e tinha o apoio da CIA, além de seus agentes serem muito bem treinados em países como
Coreia do Sul, Alemanha, Irã, Israel e Estados Unidos, mas a organização foi dissolvida em
1977 por ameaçar a legitimidade do governo de Pinochet.
Em 1975 houve uma ação conjunta dos países ditatoriais da america do sul (Brasil,
Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia, e Uruguai) e criaram a CONDOR para reprimir qualquer
tipo de ação contra os governos.
Mas Augusto não poderia ficar sem uma organização de sua confiança para manter
sua legitimidade, então criou a CNI (central nacional de inteligência), que no início de sua
atuação, a captura de opositores reduziu drasticamente dando a abertura para criação de
diversas milícias que agiam contra o governo, então a CNI teve de modificar suas políticas e
formas de atuação, começando a capturar, torturar e desaparecer com seus opositores, além de
sequestrar mulheres de contrários à Pinochet, mulheres grávidas, crianças e adolescentes.
29

Diversas mulheres por seres casadas com opositores, em que os mesmos foram
assassinados, foram capturadas por essas agências que defendiam Pinochet, e elas eram
mantidas em cárcere onde eram brutalmente torturadas e estupradas, muitas das que foram
apreendidas grávidas, quando tinham seus filhos, eram assassinadas e seus filhos entregues à
família do assassino de seus pais ou entregues para a adoção, muitas delas ficaram com
diversas sequelas, como, insônia, depressão, cefaleia, compulsão alimentar, paranoias, etc.
Um caso que ficou conhecido e foi resolvido a pouco tempo foi o do chileno Pablo
German Athanasiu Laschan, que com seis meses em 1976, desapareceu junto de seus pais
também, Pablo foi registrado como filho de um casal ligado ao regime, e trinta e sete anos
depois (2013) após fazer um teste imunogênico comprovaram quem eram seus pais
biológicos, mas eles nunca foram encontrados.
O local que foi símbolo da tortura na ditadura chilena foi o estádio nacional de
Santiago, onde as pessoas eram mantidas sob cárcere e torturadas.

3.3 RETORNO AO REGIME DEMOCRÁTICO

3.3.1. O processo
Historicamente, o regime ditatorial teve seu fim após a eleição direta e democrática
de Patricio Aylwin, em 1990.
Em 2014, Barack Obama, presidente dos EUA na época, disse que desde o final da
ditadura, o Chile se mostrou um dos países mais estáveis da América Latina, se tornando um
exemplo para o mundo. Desde a era Pinochet, sua Constituição é estudada sob uma
perspectiva de “democracia protegida”, que visava a despolitização da população - que, na
geração anterior, era muito politizada por viverem em constante ameaça e opressão - e a
aparente abertura para a comunidade internacional, essa democracia “alternativa” não pode
ser considerada de fato democracia pois o Estado não se preocupa em garantir as liberdades
individuais da nação e, ao invés disso, induz a população a ter medo da oposição que,
supostamente, sabotaria a ordem política e acabaria com os valores e as tradições do país. O
regime também transformava as forças armadas em um quarto poder e em um guardião do
Chile, mesmo no período pós-ditadura. Em toda a sucessão de fatos, a oposição da ditadura
nunca teve poder o suficiente para alterar qualquer coisa, na verdade, os militares tomaram a
frente da reforma constitucional, com o apoio da direita que queria a continuação de um
governo socioeconômico como o de Pinochet. Um artigo da Constituição de 1980 esclarece
bem o termo “democracia protegida”:
30

“Todo acto de persona o grupo destinado a propagar doctrinas que atenten contra la
familia, propugnen la violencia o una concepción de la sociedad, del Estado o del
orden jurídico, de carácter totalitario o fundada en la lucha de clases, es ilícito y
contrario al ordenamento institucional de la República. Las organizaciones y los
movimientos o partidos políticos que por sus fines o por la actividad de sus
adherentes tiendan a esos objetivos, son
Inconstitucionales” (Constituição chilena de 1980)

Observa-se que o texto menciona que qualquer ato contrário ao governo, seja de uma
pessoa ou de uma organização, pode ser enquadrado como crime, nesse ponto é visível a
limitação da liberdade de expressão, uma tentativa de silenciar qualquer “ameaça comunista”,
uma inimiga muito presente em todas as ditaduras latino-americanas do século XX,
principalmente no contexto de Guerra Fria. Esse tipo de lei, como no parágrafo da
Constituição, dificultou a movimentação e que a oposição se organizasse em massa e de uma
maneira legal, inviabilizando ainda mais o fim do regime.
No que diz respeito a Augusto Pinochet, após ser deposto do seu cargo em 1990, por
um plesbicito feito com a participação da população chilena em 1988, se tornou senador
vitalício e continuou como comandante do exército até o ano de 1998, quando foi preso. Foi
acusado de inúmeros crimes, entre eles: desvio de dinheiro público, contas bancárias ilegais
no exterior e, o principal, violação dos direitos humanos e crimes cometidos contra a
humanidade, não obstante, foi solto em 2001, quando médicos psiquiatras alegaram
debilidade mental que exigia tratamento, o que não poderia ser feito na cadeia. Já em 2006,
sua esposa, Lúcia Hiriart foi presa, sob as mesmas acusações de fraudes e corrupção, no
mesmo ano, morre Augusto Pinochet, por complicações após uma parada cardíaca. O ex-
ditador morreu no dia 10 de dezembro, na mesma data em que se comemora o Dia
Internacional dos Direitos Humanos e dos Estados Democráticos. Apesar das dezenas de
condenações e da curta passagem de Augusto pela prisão, muitos cidadãos se sentem
injustiçados porque não acreditam que Pinochet tenha realmente pago por todos os seus
crimes.
Quanto aos outros militares, apoiadores da ditadura, houve uma grande negociação
para que, num primeiro momento, eles não fossem nem julgados e nem condenados por suas
ilegalidades, mas o governo federal, comandado por Patricio Aylwin, começou a fazer
investigações para descobrir dados anteriormente arquivados sobre mortes, torturas,
desaparecimentos e perseguições políticas. Uma das investigações concluiu que quase 40 mil
pessoas foram vítimas de prisões injustas e 90% dessas pessoas foram torturadas, com o
objetivo de darem informações ou confessarem possíveis crimes contra o regime. Mesmo com
31

toda a somatória de crimes e vítimas, as forças armadas conseguiram, por meio de


conciliações, proteger o alto escalão do exército, portanto, Pinochet, apesar de não ter sido
considerado o bastante, foi o único a ser condenado e preso por seus antecedentes.

3.3.2. Consequências
Em 1973, uma série de reformas atribuiu ao setor privado fatores que antes eram
considerados direitos sociais garantidos pelo Estado, essas reformas foram chamadas de “as 7
modernizações” que ocorreram nas áreas da saúde, da educação, da previdência social, do
saneamento básico, entre outras. Todavia, mais alterações foram ocorrendo ao longo dos anos
do regime ditatorial, tais alterações permanecem dificultando a vida do trabalhador chileno até
os dias de hoje.
O plano integral de transformação econômica e social que o Chile sofreu, deixou
marcas na sociedade chilena do século XXI, exemplos disso são:
1) A terceirização, a lei da subcontratação feita para aumentar a competitividade
dentro do mercado de trabalho, porém, a mesma acarreta altos níveis de empregos
desprotegidos, sem seguridade social ou estabilidade, além de dificultar o exercício total dos
direitos coletivos;
2) Imposto global complementar, onde os impostos pagos por grandes empresas são
baseados nos lucros e não em sua existência, apesar disso, esse sistema cria uma brecha para
que grandes empresários não paguem os impostos devidos, gerando um sistema tributário a
favor dos mais ricos, onde os que ganham mais pagam menos impostos, em termos
proporcionais;
3) Previdência privada, que antes da ditadura era tida como um benefício social e de
distribuição de renda, isso significa que um sistema no qual havia benefício definido e estável
foi alterado para um sistema em que o benefício é incerto e exige uma contribuição
determinada, além de pagar pensões e salários muito baixos e favorecerem apenas as 20
maiores empresas do Chile, gerando capital de giro por intermédio da especulação e uso dos
fundos dos trabalhadores, essa política é apoiada fortemente pelo Estado, entretanto, não
recebe muito apoio da população, já que os investimentos da previdência exigem 10% do
salário, sem ajuda nenhuma do Estado e com a adição de taxas de administração, os que mais
sofrem com esse tipo de política são os aposentados, que vivem em condições muito precárias
e tiveram sua expectativa reduzida pelo mesmo motivo;
4) Sistema de saúde, no ano de 1981 foi declarado o fim do sistema de saúde pública
e o início de uma instituição mista, no qual os subsistemas público e privado disputam entre
32

si, enquanto isso, os gastos públicos com a saúde são uns dos menores, contudo, o gastos dos
usuários de serviços prestados nessa área são os mais altos, segundo o relatório da OCDE de
2019, as famílias chilenas gastam mais de 35% de sua renda com a saúde, isso mostra que
essa instituição se tornou um espaço de capitalização, para fazer dinheiro, é visto que o setor
privado cuida de um paciente até ele não ser rentável, quando passa do ponto onde o paciente
não pode mais pagar, ele é direcionado para uma unidade pública;
5) Privatização da educação, em 1981 houve o desmembramento da educação
escolar, escolas públicas começaram a receber subsídios dos próprios alunos, atualmente o
Chile mantém o sistema educacional mais segregado do mundo, nas universidades, estudantes
concluem cursos completamente endividados pelos altos valores cobrados, ademais, desde
1973, professores são perseguidos e os cargos que antes eram ocupados por eles, foram
ocupados por militares, atualmente é a instituição mais desigual do país;
6) Sistema bancário, que desde 1975 está nas mãos de bancários, ao invés do Estado,
permitiu a entrada de bancos estrangeiros com taxas de juros liberalizadas, também há uma
dívida, oriunda de uma crise internacional, que é empurrada para o Banco Central sem que
ninguém a pague, há também leis “de risco” que alegam que as famílias com renda baixa são
de risco, por essa razão, devem pagar juros mais altos, outro fator agravante ocorreu em 2001,
um artigo que prevê a redução do capital necessário para abrir uma empresa bancária, gerando
“bancos de varejo” que podem não ser regulamentados ou fiscalizados, a privatização dos
bancos afetou, de uma forma direta, a economia e a população, criando, cada vez mais,
classes sociais mais baixas e mais pobres e, por outro lado, deixando uma minoria mais forte
política e economicamente;
7) Constituição política, aprovada em 1980 através de uma fraude num plesbicito,
uma comissão constituinte foi formada dias depois do golpe por militares e outros membros
da extrema-direita, essa comissão elaborou a constituição chilena, que coloca o Estado no
papel de subsidiário da economia e garante o direito à propriedade privada, em contrapartida,
direitos sociais, culturais e econômicos foram desprezados, o exército se tornou o “guardião
da democracia” , apesar de algumas modificações e novos projetos, essa ainda é a constituição
em vigor no país latino-americano;
8) Estímulo empresarial florestal, nos primeiros anos da ditadura, os grandes
empresários estavam interessados no fortalecimento do setor florestal, que ocorreria por meio
da arborização, plantariam espécies exóticas por grandes extensões de terra, com o passar do
tempo foi de grande ajuda para empresas que trabalhavam com a extração de celulose ou
venda de madeira, já que as mesmas detinham mais de 60% das plantações de florestas, não
33

obstante, 40 anos depois, essa ação política teve fortes implicações na área ambiental,
organizações de povos indígenas afirmam que não foram consultados e ainda não há dados
concretos sobre o que realmente aconteceu nas florestas, deixando claro o descaso com certas
pautas sociais e ambientais;
9) Desnacionalização do cobre, o Chile é riquíssimo em cobre e na era ditatorial, ao
invés de aproveitarem o dinheiro oriundo das minas e da exploração, o governo decidiu
privatizá-las, esse feito ficou conhecido como “desnacionalização do cobre” pois tira o poder
do Estado de gerenciar e expandir o comércio do metal para entregá-lo a mãos privadas,
donas de 70% da mineração atual, ainda que a constituição reitera que “o Estado tem domínio
absoluto, exclusivo, inalienável e imprescritível de todas as minas”;
10) Privatização da água, em 1981 foi promulgado o “código da água”, em suma, o
mercado de água sem intervenção alguma do Estado, ocorreu a privatização total da água e
permitindo que todos os processos, desde a extração até o tratamento e a distribuição, sejam
feitos por empresas, em consequência disso há a superexploração de rios e lagos, feita sem
nenhuma consciência ecológica, uma falsa “crise hídrica” causada somente pela falta de
acesso que as populações de baixa renda têm de água tratada ou saneamento básico, essa é
considerada a privatização mais cruel de todas, pois atribui valor e lucro em cima de um
recurso natural e abundante, essencial para a vida em qualquer país do mundo - a água.

3.3.3. O rompimento
A única ação que declarou o rompimento da relação entre governo e militares foi a
criação de um lieux de memoire, que significa “lugar de memórias”, um monumento que não
tem como objetivo somente prestar homenagem às vítimas da barbárie do totalitarismo, mas
também atua como memória coletiva, para que todo o povo se lembre dos anos de terror, para
que eles não se repitam jamais. Para sempre, o Chile ficará marcado pela violência,
autoritarismo e ganância, mesmo assim, nos dias de hoje, pessoas de todas as classes lutam,
com manifestações, projetos de leis e movimentações políticas, para transformarem seu país
em um lugar digno de se viver. Enfrentam e contestam autoridades hoje, para que no futuro,
possam se orgulha dos direitos conquistados e de uma história nova, sem perseguições,
desigualdades ou mortes, apenas justiça.

“Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante
todos.” Salvador Allende
34

4. CONCLUSÃO

Tendo em vista os fatos mencionados, é compreensível a grande importância das


memórias num geral, milhares de pessoas sofreram nas mão de regimes totalitário e,
atualmente, há quem defenda esse tipo de sistema, há quem aplauda esse tipo de atitude.
Muitos desses casos acontecem por conta da desinformação, como foi visto na pesquisa
acima, governos ditatoriais costumam esconder as atrocidades que faziam, logo, grande parte
da sociedade não sabe o que realmente aconteceu. Dessa forma preciso ressaltar a relevância
da história e do resgate de memórias, para que crimes dessa gravidade não voltem a
acontecer, que o povo possa estar preparado para combater qualquer organização que ameace
sua integridade e sua liberdade. Que a memória liberte a força e que a força faça a revolução.
35

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Talita. Ditadura Militar no Brasil.


Disponível em: https://www.politize.com.br/ditadura-militar-no-brasil/.
Acesso em: 27 aug. 2022.

MEMÓRIAS DA DITADURA. Origens do Golpe.


Disponível em: https://memoriasdaditadura.org.br/origens-do-golpe/
Acesso em: 27 aug. 2022.

LOBATO, Juliana. Quem foi Pinochet? Conheça o comandante da Ditadura Chilena.


Disponível em: https://www.politize.com.br/pinochet/.
Acesso em: 27 aug. 2022.

ILHÉU, Taís. Resumo: quem foi Augusto Pinochet, ditador do Chile.


Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/resumo-quem-foi-augusto-
pinochet-ditador-do-chile/#
Acesso em: 27 aug. 2022.

DALEGONARE, Waldemar. A REDEMOCRATIZAÇÃO CHILENA: ENTRE A


CONSTITUIÇÃO E A MEMÓRIA. Revista Latino-Americana de História
Vol. 6, nº. 17 – jan./jul. de 2017
Acesso em: 27 de aug. 2022.

ANTUNES, André. As Feridas Abertas do Neoliberalismo Chileno.


Disponível em: https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/feridas-abertas-do-
neoliberalismo-chileno
Acesso em: 27 de aug. 2022.

LIMA, Fernanda Luíza Teixeira; CARVALHO, Aline Vieira de. Memórias em construção: o
presente e o passado da ditadura militar chilena representados no Museo de la Memoria y los
Derechos Humanos.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-71832019000100004
Acesso em: 27 de aug. 2022.

BARRETO, Ana Flávia Arruda Lanna; OLIVEIRA, Natália Silva Teixeira Rodrigues de.
Histórias de violações dos direitos humanos na Era Pinochet: sequestros, desaparecimentos
forçados e autoritarismo.
Disponível em: https://doi.org/10.15448/1980-864X.2019.1.31552
Acesso em: 27 de aug. 2022.

Você também pode gostar