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Módulo 2 – Anestro Pós-parto

Anestro Pós-parto

O anestro pós-parto é o período de transição durante o qual a funcionalidade do


eixo hipotálamo–hipófise-ovário-útero se recupera da gestação anterior.

O final da gestação é caracterizado pela redução da atividade ovariana


(LABHSETWAR et al., 1964; MARION & GIER, 1968) devido a supressão da
secreção de gonadotrofinas. Nesta fase, o eixo hipotálamo-pituitária está sob ação
dos efeitos do “feedback” dos esteróides placentários e ovarianos (estradiol e
progesterona), o que resulta no acúmulo de FSH na pituitária anterior, supressão
da liberação de FSH (LABHSETWAR et al., 1964; CROWE et al., 1998), depleção
dos estoques de LH da pituitária anterior (NETT et al., 1988) e supressão da
atividade folicular ovariana (LABHSETWAR et al., 1964; CHOUDARY et al., 1968).

Antes do parto, as concentrações de progesterona circulante decrescem


rapidamente após a luteólise (STABENFELDT et al., 1970; FAIRCLOUGH et al.,
1975). Após a eliminação das membranas placentárias as concentrações
circulantes de 17-estradiol são muito baixas (ARIJE et al., 1974; CROWE et al.,
1998), pois não existem folículos grandes, produzindo estradiol, nos ovários.
Concentrações circulantes de 17-estradiol secretadas pelos folículos em
desenvolvimento aumentam em torno do dia 9 pós-parto (WILLIANS & RAY, 1980;
CHANG et al., 1981; CROWE et al., 1998), com flutuações devido ao crescimento
e regressão dos folículos dominantes (CARTER et al., 1980; MURPHY et al.,
1990; CROWE et al., 1998). Antes da primeira ovulação ocorre aumento da
secreção de estradiol pelo folículo dominante, o que induz “feedback” positivo na
liberação de LH, seguido pelo pico pré-ovulatório de LH, ovulação e retorno a
ciclidade (KESLER et al., 1977).
Involução uterina

O parto é seguido da involução do útero que envolve: 1) perda de tecidos; 2)


reparo tecidual; e 3) contrações musculares peristálticas. A involução uterina é
mais lenta em vacas mais velhas, mas não é afetada pelas gonadotrofinas,
esteróides ovarianos, glicocorticóides, prolactina, estrógenos e progestinas, nem
pelo escore de condição corporal. É mais rápida no corno que estava gestante,
sendo que o processo é concluído em 4 a 6 semanas pós-parto (SPICER et al.,
1986b).

As concentrações circulantes de oxitocina e PGF2 aumentam drasticamente no


parto e logo após, e os níveis de PGF2 caem gradativamente até concentrações
basais dentro de algumas semanas. A involução do útero parece depender tanto
da magnitude (GUILBAULT et al., 1985) como da duração (MADEJ et al., 1984) da
liberação de PGF2, pois a PGF2 exógena reduziu o período em que ocorreu a
involução uterina (MADEJ et al., 1984; GUILBAULT et al., 1985). Contrariamente,
um relato posterior não identificou nenhum efeito da PGF2 exógena na involução
uterina (GUILBAULT et al., 1988).

Outros trabalhos citam efeito benéfico da na involução uterina de vacas tratadas


com os análogos sintéticos da prostaglandina, em diferentes dias após o parto.

Num trabalho de avaliação da velocidade de involução uterina em animais


tratados ou não com prostaglandina no pós-parto, os animais tratados
apresentaram o útero bem mais involuído aos 30 dias pós-parto. Os resultados
obtidos em relação á maior velocidade de involução demonstram a importância da
prostaglandina neste processo. A prostaglandina é uma das substâncias mais
importantes na involução uterina da vaca. Os análogos sintéticos, no caso o
cloprostenol, podem atuar de forma semelhante, de forma benéfica, neste
processo. Neste mesmo trabalho retorno á atividade ovariana pós-parto foi menor
no grupo que recebeu duas doses de cloprostenol (Tab. 1). Os resultados foram
mais evidentes em primíparas, categoria animal que merece maior atenção por
normalmente apresentar performance reprodutiva inferior às demais.

Tabela 1. Intervalo parto concepção em primíparas e multíparas da raça Nelore


recebendo ou não prostaglandina no pós-parto.
Intervalo Parto – Concepção (d)
Tratamento
Primíparas Multíparas
Controle 92,5+20,39 82,68+20,39
1 dose de Prostaglandina 84,48+20,02 75,59+20,55
2 doses de Prostaglandina 77,41+17,40 74,56+18,39

O trabalho demonstra que os análogos sintéticos da prostaglandina interferem na


velocidade da involução uterina de vacas.

Primeira Ovulação Pós-Parto

O padrão de crescimento e desenvolvimento folicular varia entre vacas no pós-


parto (SAVIO et al., 1990). Algumas vacas apresentam ovários sem crescimento
folicular (MARION & GIER, 1968), enquanto outras já apresentam folículos
maiores que 10 mm no 10o ao 15 o dia após o parto (LEWIS et al., 1984).

As concentrações de FSH no sangue aumentam logo após o parto, devido ao


desenvolvimento de pulsos de FSH que, geralmente, ocorrem por volta do quarto
dia pós-parto (WILLIAMS et al., 1983; BEAM & BUTLER, 1997) e posteriormente,
permanecem como em vacas cíclicas (WILLIAMS et al., 1982).

A secreção de FSH requer uma estimulação mínima de GnRH e sua liberação é


controlada, principalmente, por efeito de “feedback” dos esteróides ovarianos
(MCNELLY, 1988). Como a secreção de GnRH não é totalmente suprimida no
pós-parto (MCNELLY, 1988), Lamming et al. (1981) sugeriram que a retomada
precoce dos pulsos de FSH ocorre mesmo com à baixa freqüência inicial dos
pulsos de GnRH, enquanto que os pulsos de LH reiniciam relativamente mais
tarde no pós-parto, quando a freqüência dos pulsos de GnRH aumenta. Existe o
consenso de que o FSH não é um fator limitante para a ocorrência da primeira
ovulação pós-parto.

O desenvolvimento do primeiro folículo dominante (FD) pode ocorrer dentro de 10


a 12 dias pós-parto em vacas de corte e de leite (MURPHY et al., 1990; SAVIO et
al., 1990a; STAGG et al., 1995). O primeiro FD pós-parto ovula em
aproximadamente 11% das vacas de corte (MURPHY et al., 1990), enquanto que
em vacas de leite isso ocorre em cerca de 74% das fêmeas (SAVIO et al., 1990a) .
Geralmente, a primeira ovulação pós-parto é seguida por um ciclo estral curto em
80 a 90% das vacas (STAGG et al., 1995) e não é precedida pela manifestação de
estro em 94% das vacas (SAVIO et al., 1990), pois segundo Senger (1997) para o
comportamento de estro, o animal deve ser exposto à progesterona por um certo
período, antes da exposição ao estradiol.

A associação entre o aumento de FSH e o início da primeira onda de crescimento


folicular pós-parto foi mostrada por Beam & Butler (1997), quando avaliaram o
efeito do balanço energético na dinâmica folicular no início da lactação em vacas
de leite. Neste estudo, verificaram que todas as vacas desenvolveram uma onda
de crescimento folicular, caracterizada pela presença de folículo dominante ( 10
mm), durante a segunda semana pós-parto. A emergência da primeira onda de
crescimento folicular ocorreu, até certo ponto, sincronizada com a redução do
estrógeno após o parto, o que está de acordo com Butler et al. (1983) que
demonstraram que o estrógeno tem efeito inibitório na liberação de FSH. A
presença de um folículo dominante, em todas as vacas durante a segunda
semana pós-parto, confirma que o desenvolvimento folicular não é fator limitante
na recuperação da ciclicidade pós-parto.
Com o restabelecimento do padrão pulsátil de LH, aumenta também a
concentração sérica deste hormônio. Os padrões da secreção de LH em vacas,
durante o período de anestro pós-parto, se assemelham ao observado antes da
puberdade e durante o período periparto de anestro até o reinício da ciclicidade
em animais sazonais (THATCHER & HANSEN, 1993).

Williams et al. (1983) demonstraram que o padrão pulsátil de liberação do LH pós-


parto se caracteriza por baixa freqüência (menos de um pulso de LH a cada quatro
horas). Essa freqüência aumenta durante o período imediatamente anterior à
ovulação atingindo, aproximadamente, um pulso de LH a cada uma a duas horas
(SCHALLENBERGER, 1985).

Resumindo, as primeiras semanas pós-parto são necessárias para a involução


uterina, reposição dos estoques hipofisários de LH e reinício do crescimento e
desenvolvimento de ondas foliculares. A liberação de FSH e o desenvolvimento do
folículo dominante (FD) ocorre logo após o parto, porém esses folículos não
atingem a maturação final, um pré-requisito para a ovulação, devido à ausência de
pulsos apropriados de LH, e então estes folículos tornam-se atrésicos (YAVAS et
al., 2000a). Para a maturação de folículos pré-ovulatórios é necessária uma
adequada pulsatilidade de LH (ROBERSON et al., 1989; SAVIO et al., 1993;
STOCK & FORTUNE, 1993). A concentração e a freqüência dos pulsos de LH
aumentam antes da primeira ovulação pós-parto (STAGG et al., 1998).

Duração do Anestro Pós-Parto

A duração do anestro pós-parto é afetada por quatro fatores principais: presença


do bezerro, nutrição, estação do ano e ordem de parição, além de outros fatores
como raça, variação genética, estresse, presença do touro, parto gemelar, distocia
e retenção de placenta.
Presença do Bezerro

A ausência de pulsos de LH no pós-parto imediato é devido à depleção das


reservas de LH na pituitária anterior, devido à gestação prévia (NETT et al., 1988)
e é independente da sucção do bezerro. O desmame completo imediatamente
após o parto não aumenta os pulsos de LH nem induz a ovulação até que os
estoques de LH na pituitária anterior sejam repostos, o que ocorre entre os dias 7
e 20 após o parto em vacas de leite e após o dia 20 em vacas de corte.

Após o restabelecimento das reservas de LH na pituitária anterior, a ausência de


pulsos de LH se torna dependente da sucção (NETT et al., 1987). Vacas com
desmame completo, temporário (48 a 96h) ou parcial (mamadas restritas duas a
três vezes por dia) apresentam aumento da freqüência dos pulsos de LH e
aumento dos receptores foliculares de LH e FSH, seguido da ovulação. Com o
retorno dos bezerros os pulsos e a concentração de LH diminuem.

Stagg et al. (1998) demonstraram que o efeito da sucção em vacas de corte é o


principal fator que afeta a duração do anestro pós-parto e sugeriram que o
comportamento materno é mais importante que o ato da sucção em si para regular
a freqüência de pulsos de LH, o qual é o fator endócrino chave para se determinar
à ovulação ou não do folículo dominante.

A percepção inguinal do bezerro pela vaca durante a sucção aumenta a


sensibilidade do centro gerador de pulsos de GnRH no hipotálamo ao efeito de
“feedback” negativo do 17-estradiol ovariano, pela liberação de peptídeos de
opióides endógenos pelo hipotálamo (STEVENSON et al., 1994). Estes eventos
resultam na supressão da liberação de pulsos de LH, falha no desenvolvimento
folicular e na ovulação e anestro pós-parto prolongado (MURPHY et al., 1990).
Balanço Energético Negativo

O balanço energético é definido como a energia líquida que é consumida


subtraída da energia líquida necessária para a manutenção e a produção. O
balanço energético influencia as funções do eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano,
incluindo efeitos sobre a geração de pulsos de LH pela hipófise. Efeitos do
balanço energético sobre a síntese de LH são postulados serem mediados pelas
concentrações plasmáticas de glicose que influenciam os receptores de insulina
no hipotálamo ou através dos opiódes endógenos, particularmente -endorfina,
que parece ser controlado pelas concentrações plasmáticas de glicose e de
insulina (BUTLER & SMITH, 1989).

De acordo com Murphy et al. (1990) as ondas de crescimento folicular que


emergem logo após o parto produzem folículos dominantes que falham ao ovular,
pois há menor número de pulsos de LH, diminuindo a manutenção do folículo
dominante. Rhodes et al. (1996) observaram que a concentração média de LH, o
diâmetro do folículo dominante e a concentração de estradiol foram menores
quando se comparou ciclo estral anovulatório com o normal, em novilhas
submetidas à restrição alimentar. Concluindo que a falha da ovulação, após
restrição alimentar, era resultante de LH insuficiente para estimular o
desenvolvimento do folículo ovulatório.

Stagg et al. (1995) avaliaram o padrão de crescimento folicular em vacas de corte


submetidas a dietas com altos níveis energéticos ou com níveis de mantença (150
e 100% dos requerimentos NRC 1980, respectivamente) desde o parto até a
primeira ovulação e observaram que não houve influência dos níveis nutricionais
no início do desenvolvimento do folículo dominante, porém o número de ondas de
crescimento folicular e o intervalo parto-primeira ovulação foram maiores no grupo
que recebeu a mantença, evidenciando que o problema de anestro prolongado em
vacas de corte se deve a falha de ovulação e não a falha no desenvolvimento
inicial dos folículos.
A menor ingestão de matéria seca (IMS) durante o período de 10 semanas reduziu
o diâmetro e a persistência do folículo dominante (MURPHY et al., 1990). Isso
ocorre, possivelmente, devido à baixa pulsatilidade de LH após a divergência dos
folículos, levando ao “turnover” do folículo dominante e ao aumento do número de
ondas de crescimento folicular por ciclo estral.

Richards et al. (1989) verificaram a associação entre o anestro e o decréscimo na


freqüência de pulsos de LH, e que, o aumento na ingestão de nutrientes após o
período de anestro, restabelecia o ciclo estral com taxa normal de prenhez. Isto é
mais comum em primíparas, nas quais extensos períodos de balanço energético
negativo aumentam o intervalo parto-primeira ovulação.

Em animais em anestro, baixos níveis de estradiol inibem a secreção pulsátil de


GnRH pelo hipotálamo e consequentemente de LH (GOODMAN, 1994). A
associação da baixa nutrição com a amamentação potencializam o efeito de
“feedback” negativo do estradiol no hipotálamo, impedindo o crescimento folicular
final. Murphy et al. (1990) observaram que vacas com menor ingestão de matéria
seca (IMS) durante o período de 10 semanas, apresentaram redução no diâmetro
e na persistência do folículo dominante.

Manejo Nutricional Pré e Pós-parto

Condição corporal peri-parto está diretamente relacionada com o retorno a


atividade cíclica ovariana e concepção pós-parto.

O efeito nutricional no pós-parto está relacionado com a qualidade e quantidade


do alimento ingerido, reservas adquiridas e manutenção da condição corporal
(SHORT et al., 1990). A ingestão de nutrientes atende a ordem de prioridade para
o organismo do animal, assim em uma escala de necessidades a serem atendidas
tem-se: 1-metabolismo basal; 2- manutenção; 3- crescimento; 4- energia básica de
reserva; 5- gestação; 6- lactação; 7- acúmulo de reservas; 8- atividade reprodutiva
e 9- acúmulo de gordura. Deste modo, a ingestão de forragem de baixa qualidade
estaria apenas atendendo os primeiros degraus desta escala e a medida que
melhoramos a qualidade e quantidade de forragens vamos alcançando os degraus
superiores (SHORT et al., 1990).

Wiltbank et al. (1962) mostraram que vacas suplementadas com alta energia no
pré e pós-parto apresentaram maior incidência de cios no início do pós-parto, com
maior taxa de concepção. Já os animais com baixa suplementação no pré e alta
no pós, apresentaram menor número de vacas em cio no início do pós-parto.
Embora esse grupo tenha apresentado taxa de gestação ao final de 90 dias de
estação de monta semelhante ao grupo com alta suplementação, perdeu-se o
benefício da maior taxa de prenhez no início da estação de monta. Quando os
animais foram suplementados com alta energia no pré-parto e baixa no pós-parto,
a taxa de detecção de cio aumentou, porém ocorreu decréscimo da concepção ao
primeiro serviço, o que teve efeito negativo na taxa de gestação ao final da
estação de monta.

Tabela 2. Porcentagem de manifestação de cio pós-parto, concepção e taxa de


gestação de vacas alimentadas com dois níveis de energia no pré e
no pós-parto (WILTBANK et al., 1962).
NDT Vacas em cio Concepção no Taxa de Gestação
(Kg) no pós-parto (%) Primeiro serviço (%) (%)
Pré Pós 50d 60d 70d 80d 90d 20 d 90 d
4,1 7,2 65 80 90 90 95 67 60 95
2,0 7,2 25 45 70 70 85 65 56 95
4,0 3,6 76 81 81 86 86 42 34 77
2,0 3,6 06 17 22 22 22 33 15 20
Dietas com restrições alimentares durante o período final de gestação, resultam
em perdas de peso e de reservas por ocasião do parto. Vacas e novilhas que
sofreram restrições de energia na dieta pós-parto, mostraram menores taxas de
concepção, quando comparadas às companheiras de rebanho suplementadas
com adequado aporte energético e o mesmo foi observado quando a restrição foi
protéica (25 vs. 71%). Quando a perda de peso ocorreu no período pré-parto
houve queda nas manifestações de cio em vacas multíparas e primíparas e o
intervalo entre partos teve um acréscimo de 47 dias para as multíparas e de 57
para as primíparas (RANDEL, 1990).

Os autores concluíram que a nutrição pré-parto tem maior importância que a


nutrição pós-parto na determinação do intervalo entre parto-primeiro estro e que a
adequada nutrição no pós-parto seria a responsável pela fertilidade dos primeiros
cios manifestados.

De acordo com as citações anteriores, boa condição corporal ao parto seria


suficiente para manter a eficiência reprodutiva no pós-parto, embora alguns
estudos mostram animais que, mesmo parindo em condição corporal adequada,
porém perdendo condição no pós-parto, apresentaram menores taxas de
concepção, reafirmando a tese de que a condição corporal adequada deve ser
mantida no pós-parto (RANDEL, 1990).

Relação entre Escore de Condição Corporal e Ciclicidade

Muitos estudos em reprodução de bovinos no pós-parto indicam que o escore de


condição corporal (ECC) é indicador da condição energética e da ciclicidade
(SHORT et al., 1990; RANDEL, 1990). A intensidade da perda de peso no início
do pós-parto está associada ao retorno a ciclicidade. O balanço energético
negativo está associado com a baixa pulsatilidade de LH, que inibe o
desenvolvimento do folículo dominante, reduzindo a produção de estradiol, que
não atinge a concentração necessária para induzir o pico de LH, necessário para
que a ovulação ocorra (BEAM & BUTLER, 1997).

A ovulação à primeira aplicação de GnRH nos protocolos de sincronização da


ovulação aumenta da taxa de sincronização (SANTOS et al., 2003) e é
influenciada pelo ECC. Vacas com baixo ECC tem baixa pulsatilidade de LH
(MURPHY et al., 1990), folículo dominante com diâmetro e persistência reduzidos
e portanto menor intervalo entre as ondas de crescimento folicular e
conseqüentemente apresentam menor chance de responder à primeira aplicação
de GnRH.

Santos et al. (2004) detectaram interação entre raça, ECC e ciclicidade (P < 0,01).
A análise destes dados sugere que a ciclicidade pode ser determinada pela
avaliação do ECC, e essa associação é mais evidente em animais da raça Nelore
e meio-sangue Gir/Holandês do que em animais da raça Holandesa. A maior
associação entre ECC e ciclicidade em vacas Nelore e meio-sangue Gir/Holandês
é, provavelmente, devido ao tipo de deposição de gordura, que é mais subcutânea
nessas raças do que em vacas Holandesas que possuem baixa porcentagem de
deposição de gordura externa e alta porcentagem de gordura interna.

Tabela 3. Efeitos do escore de condição corporal na ciclicidade de acordo com


a raça.
Escore de condição Ciclicidade % (n)
corporal* Holandês Mestiça Nelore
2,0 78,7 (36/46)a 39,2 (9/23)a 00,00 (0/3)a
2,5 87,8 (48/55)a 42,9 (32/76)a 19,7 (28/143)b
3,0 84,6 (31/37)a 69,1 (67/97)b 23,8 (139/586)b
3,5 88,4 (48/54)a 53,1 (6/10)ab 43,9 (128/291)c
Valores com diferentes sobrescritos na mesma coluna diferem (P < 0,01).
* Escala de 1 a 5; adapatdo de EDMONSON et al., 1989
Estudos realizados por Perez et al. (2004) verificaram que vacas com menor ECC
tiveram menor diâmetro folicular no momento da retirada do implante de
norgestomet do protocolo CRESTAR . O menor diâmetro folicular em vacas com
menor ECC pode estar relacionado com a aplicação de valerato de estradiol que
atrasou a emergência da nova onda folicular, devido a maior supressão do FSH ou
ao decréscimo da pulsatilidade de LH que causou “turnover” prematuro do folículo
dominante em vacas com menor escorre de condição corporal.

Tabela 4. Efeito do escore de condição corporal na taxa de ciclicidade antes do


início do tratamento e no diâmetro folicular no momento da retirada
do implante de norgestomet do protocolo CRESTAR .
Escore de condição Porcentagem de Vacas Diâmetro Folicular
corporal (n) Ciclando (n) (mm)
2,50 (78) 38,5 8,9  0,28a
2,75 (137) 45,3 9,5  0,22b
3,00 (109) 52,3 9,5  0,25b
3,25 (55) 67,3 10,2  0,34c
3,50 (36) 77,8 9,7  0,42bc
Valores com diferentes sobrescritos na mesma coluna diferem (P < 0,05).

Vilela et al. (2004) verificaram que o escore de condição corporal interferiu


(P<0,01) nas taxas de concepção a IATF de maneira diferente para os
tratamentos com e sem a inclusão de CIDR® no protocolo GnRH – 6dias – PGF2
– GnRH (Fig. 1).
60  Com CIDR 60
Sem CIDR

TA X A D E CICLICID A D E (%)
 Ciclicidade
TA X A D E CO N CEPÇÃ O (%)
50 50

40 40

30 30

20 20

10 10

0 0
3 ,0 0 3,25 3,50 3,75 4,00 4 ,2 5
EC C

Figura 1. Taxas de ciclicidade e de concepção à IATF em função do escore de


condição corporal, de acordo com tratamento.

Estes resultados mostram que o ECC deve ser avaliado antes de se determinar o
protocolo de sincronização a ser utilizado, pois sabe-se que a ciclicidade tem
efeito na resposta aos protocolos.

Estação do Ano

Embora os bovinos não sejam considerados animais de reprodução sazonal, no


mundo todo eles são até certo ponto afetados pelo fotoperíodo. As vacas com
estação de parição no final do verão ou início do outono invariavelmente
apresentarão intervalos anovulatórios pós-parto mais curtos do que aquelas com
estação de parição no inverno ou início da primavera. Contudo, como em geral a
estação de parição é gerenciada de forma a coincidir com a máxima
disponibilidade de forragem, tanto em termos de quantidade como qualidade, os
rebanhos recebem um manejo de forma que a estação de parição ocorra na
primavera.
Ordem de Parição

Vacas primíparas apresentam período de anestro pós-parto de uma a quatro


semanas mais longo do que as vacas multíparas, isto ocorre pois estas ainda
estão em fase de crescimento e seus requerimentos nutricionais são maiores.

Regressão prematura do Corpo Lúteo (CL)

Outro fato com o qual devemos nos preocupar ao trabalhar com vacas no pós-
parto é a ocorrência de ciclo curto (“short cycle”), que se caracteriza por regressão
prematura do corpo lúteo resultante da primeira ovulação pós-parto, causando
alteração na duração do ciclo. Isto, provavelmente, ocorre devido a liberação
prematura de prostagladina F2 (PGF2) pelo endométrio.

A primeira ovulação pós-parto, geralmente, ocorre sem a manifestação de estro e


é seguida por um ciclo curto (8 a 12 dias) na maioria das vacas. De acordo com
Guilbault et al. (1987), o útero no pós-parto produz maiores quantidades de
PGF2 e quando ocorre a primeira ovulação, não havendo prévia exposição a
progesterona, esta maior concentração de PGF2, lisa o corpo lúteo assim que o
mesmo fica responsivo, resultando numa fase lútea curta (RIVERA et al., 1998).
Troxel & Kesler (1984) relataram que tratamentos com progesterona no pós-parto
diminuem a concentração de metabólitos de PGF2 (PGFM). Rivera et al. (1998),
comparando vacas pós-parto que receberam implante de progesterona ou não,
observaram que não houve regressão prematura do corpo lúteo no grupo tratado,
enquanto que em todos animais sem implante ocorreu regressão prematura do
CL, mostrando a importância da exposição prévia de progesterona para inibir ciclo
curto.
Vasconcelos et al. (2004) avaliaram a utilização do dispositivo intravaginal de
progesterona (CIDR) associado a remoção de bezerros por 48 horas em
parâmetros reprodutivos de vacas primíparas em anestro, durante estação de
monta de 60 dias. Vacas primíparas cruzadas Nelore/Angus (n = 286), 44 a 70
dias pós-parto, com escore de condição corporal variando de 2,5 a 3,5 (escala de
1 a 5) foram divididas em 4 tratamentos: T1 (n = 73) – Controle: Observação de
cio e IA 12 horas depois; T2 (n = 70) – Remoção de bezerros (RB) por 48 horas,
observação de cio e IA 12 horas depois; T3 (n = 73) – Dispositivo intravaginal de
progesterona (CIDR) durante 7 dias, observação de cio e IA 12 horas depois; T4
(n = 70) - CIDR durante 7 dias, seguido de RB por 48 horas, observação de cio e
IA 12 horas depois.

O tratamento influenciou (P<0,01) a porcentagem de animais em cio e a taxa de


concepção nos dois primeiros dias da estação de monta.

Tabela 5. Efeito do tratamento na porcentagem de vacas em cio e na taxa de


concepção durante os dois primeiros dias da estação de monta
(Vasconcelos et al., 2004).
Grupo Vacas em Cio (%) Taxa de Concepção (%)
Controle 2,7a 0a
Remoção de Bezerros (RB) 45,7c 0b
Dispositivo de P4 10,9b 37,5c
Dispositivo de P4 + RB 41,4a 55,2c
Valores com diferentes sobrescritos na mesma coluna diferem (P<0,01).

A partir da análise da tabela acima podemos concluir que a remoção de bezerros


por 48 horas aumenta a porcentagem de vacas em cio, mas para que a
concepção seja normal, as vacas necessitam ser previamente expostas à
progesterona, ou seja, a remoção de bezerros por 48 horas é capaz de induzir o
estro, mas não é capaz de minimizar a ocorrência de ciclo curto, função exercida
pela progesterona.
Tabela 6. Efeito do tratamento no número de dias para a primeira IA, número de dias
para a concepção, porcentagem de vacas inseminadas e porcentagem de
vacas gestantes no final da estação de monta - EM (Vasconcelos et al.,
2004).
Vacas Vacas
Dias para a Dias para
Grupo inseminadas gestantes no
primeira IA (d) concepção (d)
durante a EM (%) final da EM (%)
Controle 28,5  3,3a 34,3  3,5a 53,3 43,5
RB 13,3  3,2b 40,5  3,8b 64,1 41,1
CIDR 26,9 3,3a 36,4  3,7ab 56,5 38,8
CIDR+RB 9,6  3,2b 13,0  3,4c 64,5 45,5
Valores com diferentes sobrescritos na mesma coluna diferem (P<0,01).

Estes dados sugerem que a exposição prévia à progesterona é capaz de


minimizar a ocorrência de ciclo curto e que associada a remoção de bezerros por
48 horas se torna uma boa estratégia para reduzir o número de dias para a
primeira IA e aumentar a taxa de prenhez no início da estação de monta.

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