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História A 12º Ano

A RECONSTRUÇÃO DO PÓS-GUERRA
A DEFINIÇÃO DE ÁREAS DE INFLUÊNCIA
Com o fim da Segunda Guerra Mundial a Alemanha e o Japão, que
sonhavam com grandes domínios territoriais, saíram da guerra totalmente
vencidos e humilhados.
O Reino Unido e a França, embora vencedores, estavam empobrecidos
e dependentes da ajuda externa.
Perante a ruína do pós-guerra só duas potências permaneciam fortes:
- URSS: escudada na força do Exército Vermelho e na sua imensa
extensão geográfica;
-EUA: indiscutivelmente a primeira potência mundial.

 A construção de uma nova ordem internacional: as conferências


de paz
Com o aproximar do fim da Segunda Guerra Mundial os Aliados
(vencedores) começam a delinear estratégias para o período de paz que
viria.
Entre 4 e 11 de fevereiro de 1945, Roosevelt (presidente americano),
Churchill (primeiro ministro inglês) e Estaline (secretário geral do partido
comunista – URSS) reúnem-se nas termas de Ialta (nas margens do Mar
Negro), com o objetivo de estabelecerem as regras que devem sustentar a
nova ordem internacional do pós-guerra.

Conferência de Ialta:
- Definiram-se as fronteiras da Polónia, ponto de discórdia entre os
ocidentais – que não esqueciam ter sido a violação das fronteiras polacas a
causa imediata da guerra – e os soviéticos – que não desistiam de ocupar a
parte oriental do país;
- Estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro áreas de
ocupação, geridas pelas três potências conferencistas e pela França, sob a
coordenação de um Conselho Aliado;
- Marcação da reunião da conferência preparatória da ONU;
- Supervisão dos três grandes na futura constituição dos países de
Leste, ocupadas pelo eixo;
- Estabelecimento de 20.000 milhões de dólares como base das
reparações da guerra devidas pela Alemanha.

Alguns meses mais tarde, em finais de julho de 1945, reuniu-se em


Potsdam (perto de Berlim) uma nova conferência com o fim de consolidar os
alicerces da paz.
Decorreu num clima mais tenso que a de Ialta.

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Vencida a Alemanha, renasciam as desconfianças face ao regime


comunista que Estaline representava e às suas pretensões expansionistas na
Europa.
Deste modo, a conferência encerrou sem alcançar uma solução
definitiva para os países vencidos, limitando-se a ratificar e a pormenorizar
os aspetos já acordados em Ialta.

Conferência de Potsdam:
- Perda provisória da soberania alemã e sua divisão em quatro zonas
de influências;
- Administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em
quatro zonas de ocupação;
- Montante e tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
- Julgamento dos criminosos de guerra nazis, através da criação do
Tribunal Internacional de Nuremberga;
- Divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes
semelhantes aos estabelecidos para a Alemanha.

 Um novo quadro político


Nó pós-guerra aumenta a importância da URSS a nível internacional.
No último ano do conflito, na sua marcha vitoriosa até Berlim, coubera ao
Exército Vermelho a libertação dos países da Europa Ocidental. Na Polónia,
Checoslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária, os soldados russos
substituíram os ocupantes nazis.
Entre 1946 e 1948, estes países encaminharam-se para o socialismo,
constituindo as democracias liberais.
Este rápido processo de sovietização foi, de imediato, contestado
pelos ocidentais. Churchill denunciou a criação, por parte da URSS, de uma
área de influência impenetrável, isolada do ocidente por uma “cortina de
ferro”1.

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS


Após o fracasso da SDN a ideia de uma organização internacional que
assegurasse a paz e a segurança permaneceu.
Deste modo, Franklin Roosevelt, nas cimeiras da “Grande Aliança”
criou uma organização mais consistente – a ONU.
Este projeto ficou acordado em 1943 na Conferência de Teerão e foi
ratificado em Ialta onde se decidiu a convocação de uma conferência para
redigir e aprovar a carta fundadora das nações unidas.

1 Expressão utilizada para a divisão em dois da Europa: Europa Ocidental e


Europa Oriental.

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Esta, iniciou-se no dia 25 de Abril de 1945 em São Francisco, tendo


como princípios fundamentais:
- Manter a paz e reprimir os atos de agressão, utilizando meios
pacíficos, de acordo com os princípios da justiça e o direito internacional;
- Desenvolver relações de amizade entre as países do mundo,
baseadas na igualdade entre os povos e no seu direito à autodeterminação;
- Desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social
e cultural e promover a defesa dos Direitos Humanos;
- Funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para
alcançar estes propósitos.

 A defesa dos Direitos do Homem


Após as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial
com o holocausto e disposta a impedi-las no futuro, a ONU tomou uma
feição profundamente humanista, através do reforço, em 1948, da
Declaração Universal dos Direitos do Homem substituindo a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, que passou a integrar os documentos
fundamentais das Nações Unidas.
Este documento definia os direitos e as liberdades fundamentais
(direito à vida, liberdade de reunião, expressão, etc.) e também tivera sido
atribuído um papel importante às questões económico-sociais (direito ao
trabalho, ao descanso, ao ensino…).

 Órgãos de funcionamento
A Carta das Nações Unidades definiu também os órgãos básicos do
funcionamento da instituição:
- Assembleia Geral: formada pela generalidade dos Estados-membros,
funciona como um parlamento;
- Conselho de Segurança: formado por 15 membros (cinco dos quais
permanentes – EUA, URSS, Reino Unido, França e República Popular da
China) e 10 flutuantes eleitos pela Assembleia-Geral por dois anos. É o
órgão diretamente responsável pela manutenção da paz e da segurança: atua
como mediador, decreta sanções económicas e em último caso decide a
intervenção das forças militares;
- Secretariado-Geral: representa a ONU e, com ela, praticamente
todos os povos do mundo;
- Conselho Económico-Social: encarregado de promover a cooperação
a nível económico, social e cultural entre as nações. Atua através de
instituições especializadas e outros órgãos específicos que se encontram
sob a sua tutela: BIRD, FAO, OIT, OMS. É um dos órgãos mais ativos e
importantes da ONU.

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- Tribunal Internacional da Justiça: é o órgão máximo da justiça


internacional;
- Conselho de Tutela: órgão criado com o fim principal de administrar
os territórios que outrora se encontravam sob a alçada da SDN;

A ONU tem sede em Nova Iorque desde 1952, contando com 192
países.

AS NOVAS REGRAS DA ECONOMIA INTERNACIONAL


 O ideal de cooperação económica
O planeamento do pós-guerra não se processou somente a nível
político. Em julho de 1944, um grupo de economistas (dos quais um deles era
Keynes, ligado ao intervencionismo) reuniu-se em Bretton Woods (EUA) a
fim de prever e estruturar a situação monetária e financeira do período de
paz.
Com o fim da guerra tornava-se essencial regularizar o comércio
mundial, os pagamentos e a circulação de capitais, evitando o círculo vicioso
de desvalorizações monetárias e a instabilidade das taxas de câmbio dos
anos 20 e 30.
Assim, para garantir a estabilidade das moedas criou-se um novo
sistema monetário internacional: o dólar era a moeda-padrão e as restantes
moedas tiveram sido convertidas em ouro ou dólar.
Na mesma conferência e com o objetivo de operacionalizar o sistema
criaram-se dois organismos importantes:
- FMI (Fundo Monetário Internacional) ao qual recorreriam os bancos
centrais dos países com dificuldades em manter a paridade fixa da moeda
ou equilibrar a sua balança de pagamentos;
- Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento
(BIRD) também conhecido como Banco Mundial, destinado a financiar
projetos de fomento económico a longo prazo.

Em 1947, na Conferência Internacional de Genebra, assina-se um


Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) onde 23 países se
comprometeram a negociar a redução dos direitos alfandegários e outras
restrições comerciais. Isto permitia melhorar as condições de vida, garantia
o emprego, permitia o crescimento da produção e do consumo e a expansão
das trocas de mercadorias.
Esta ideia de um espaço económico alargado deu origem, nesse mesmo
ano, à BENELUX: aliança entre a Bélgica, Holanda e Luxemburgo, prevendo a
abolição das tarifas alfandegárias entre os três países.

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A PRIMEIRA VAGA DE DESCOLONIZAÇÃO


 Uma conjuntura favorável à descolonização
A primeira vaga de descolonização deu-se logo a seguir à Segunda
Guerra Mundial, iniciando-se no continente asiático e no Médio Oriente e
percorrendo ao Norte de África.
A guerra tivera exigido pesados sacrifícios às colónias, sendo que
esta também tivera posto em evidência as fragilidades da Europa. Até aí,
vistos como invencíveis, os estados europeus mostraram-se incapazes de
defender os seus territórios da invasão estrangeira, tal como a Ásia.
Aos efeitos demolidores da guerra juntaram-se as pressões
exercidas pelas duas superpotências, que apoiam os esforços de libertação
dos povos colonizados.
Os EUA em lembrança do seu próprio passado e em defesa dos seus
interesses económicos sempre se mostraram adversos à manutenção do
sistema colonial.
A URSS atua em nome da ideologia marxista – que prevê a revolta dos
oprimidos pelos interesses económicos capitalistas e não desperdiça a
possibilidade de estender, nos países recém-formados, o modelo soviético.
A ONU, por sua vez, defendia a descolonização, pois segundo a Carta
os países tinham direito à autodeterminação.

 A descolonização asiática
No Médio Oriente tornam-se independentes a Síria, Líbano, Jordânia
e Palestina onde em 1948 nasce Israel.
Na Índia, no decorrer da guerra, o partido do congresso liderado por
Gandhi obtivera através de Churchill a promessa da retirada inglesa. No
entanto, devido ao antagonismo entre as comunidades hindu e muçulmana os
britânicos atrasaram o processo que só em 1947 se concretiza ficando a
Índia dividida em dois estados: União indiana (hindu) e o Paquistão
(muçulmano).
Ceilão, Birmânia e Malásia também reclamaram a sua independência.
Com exceção da Malásia, cuja posição estratégica dificultou a cedência
britânica os ingleses aceitaram a descolonização.
Também Holandeses e Franceses são obrigados a abrir mão das suas
colónias.
Em 1945, o dirigente nacionalista Sukarno proclama a República da
Indonésia. Pouco dispostos a abdicar do território, os Holandeses recorrem
à força das armas, mas pressionados pela ONU acabam por reconhecer, em
1949, a independência do novo país.

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O processo de descolonização da Indonésia mostrou-se mais violento


e sangrento pois a ocupação japonesa fomentara fortes sentimentos
antifranceses. A guerra da Indochina acaba por adquirir um cariz ideológico
visto como uma tentativa de extensão do comunismo na Ásia, já que o líder
Ho Chi Minh era comunista. Só em 1945, os franceses vencidos se retiram
reconhecendo o nascimento de novas nações: Vietname, Laos e Cambodja.

O TEMPO DA GUERRA FRIA – A CONSOLIDAÇÃO DE UM


MUNDO BIPOLAR
UM MUNDO BIPOLAR
 A rutura
Quando em 1946, Churchill afirmou que uma “cortina de ferro” dividia
a Europa, o processo de sovietização dos países de Leste era já irreversível.
Sob a tutela diplomática e militar da URSS, os partidos comunistas
ganhavam forças e, progressivamente, tomavam o poder. Para coordenar a
sua atuação, tornando-se mais eficiente, criou-se, em 1947, o Kominform
(Secretariado de Informação Comunista) que se tornou um importante
organismo de controlo por parte da URSS.
Um ano passado sobre o alerta de Churchill, os EUA assumem a
liderança da oposição aos avanços do socialismo2.
É neste contexto que o presidente Truman alarga a divisão europeia
ao mundo que está dividido em dois sistemas antagónicos: um baseado na
liberdade e outro na opressão. Aos americanos cabe a liderança do undo
livre na contenção do comunismo.
À doutrina Truman opõe-se a doutrina Jdanov, que segundo o
dirigente soviético afirma que o mundo se divide, de facto, em dois sistemas
contrários: um, imperialista e antidemocrático – liderado pelos EUA – e
outro em que reina a democracia e a fraternidade entre os povos,
correspondente ao mundo socialista – liderado pela URSS.
Para além de formalizar a divisão do mundo em duas forças opostas, a
doutrina Truman deixava também clara a necessidade de ajudar a Europa a
reerguer-se economicamente.
As perdas humanas e materiais tinham sido pesadíssimas e os EUA
tiveram ajudado a Europa.
É neste contexto que o secretário de Estado americano Marshall
anuncia, em junho de 1947, um plano de ajuda económica à Europa.
Este plano foi oferecido a toda a Europa, incluindo os países que se
encontravam já sob influência soviética, mas esta ténue tentativa de

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Esta posição inverte a tradicional postura de isolamentos dos EUA que
olharam sempre com relutância a interferência direta na política internacional.

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aproximação não teve êxito. Moscovo classifica a ajuda americana de


“manobra imperialista” e impede os países sob sua influência de a aceitaram.
Em janeiro de 1959, Moscovo lança o plano Molotov, que estabelece as
estruturas de cooperação económica da Europa Oriental.
Foi no âmbito deste plano que se criou o COMECON (Conselho de
Assistência Económica Mútua), instituição destinada a promover o
desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob proteção da União
Soviética.
Os países abrangidos pelo Plano Marshall e os países do COMECON
funcionaram como áreas transnacionais, coesas e distintas uma da outra.
A divisão do mundo em dois blocos antagónicos consolidou-se, tal
como a liderança das duas superpotências.

 O primeiro conflito: a questão alemã


Este clima de desentendimento e confrontação refletiu-se de
imediato na gestão conjunta do território alemão, que na sequência da
Conferência de Potsdam se encontrava dividido e ocupado pelas quatro
potências vencedoras.
A expansão do comunismo no primeiro ano da paz fez com que ingleses
e americanos olhassem a Alemanha, não já como o inimigo vencido, mas como
um aliado imprescindível à contenção do avanço soviético.
O renascimento alemão tornou-se uma prioridade para os americanos,
que intensificaram os esforços para a criação de uma república federal
constituída pelos territórios sob ocupação das três potências ocidentais –
República Federal Alemã (RFA).
A União Soviética protestou vivamente contra aquilo que considerava
uma violação dos acordos estabelecidos, mas acabou por desenvolver uma
atuação semelhante na sua própria zona que conduziu à criação de um
Estado paralelo, sob a alçada soviética – República Democrática Alemã
(RDA).
Esta divisão fez com que houvessem discórdias quanto a Berlim, uma
vez que ainda lá estavam as forças militares das três potências ocidentais.
Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças, Estaline bloqueia
aos três aliados todos os acessos terrestres à cidade.
O Bloqueio de Berlim, que se prolongou de junho de 1948 a maio de
1949, foi o primeiro medir de forças entre as duas superpotências.
Assim, três anos passados sobre o fim da Segunda Guerra, os antigos
aliados tinham-se tornado rivais e a sua rivalidade dividia o mundo, pondo em
risco os esforços da paz.

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Nas décadas que se seguiram, as relações internacionais refletiram


esta instabilidade e impregnaram-se de um clima de forte tensão: foi o
tempo da Guerra Fria.

 A Guerra Fria
O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados
prolongou-se até meados dos anos 80, altura em que o bloco soviético
mostrou os primeiros sinais de fraqueza.
Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se
mutuamente gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o
mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional
que se designa por Guerra Fria.
A Guerra fria caracterizou-se por cada bloco se procurar
superiorizar ao outro, quer em armamento como na ampliação das suas áreas
de influência. Enquanto isso, a propaganda incutia nas populações a ideia da
superioridade do seu sistema e a rejeição e o temor do lado contrário, ao
qual se atribuíam as intenções mais sinistras e os planos mais diabólicos.
As duas superpotências defendiam conceções opostas de organização
política, vida económica e estruturação social: de um lado, o liberalismo
assente sobre o princípio da liberdade individual; do outro, o marxismo, que
subordina o indivíduo ao interesse da coletividade.

O MUNDO CAPITALISTA
 A política de alianças dos EUA
Uma vez enunciada a doutrina Truman, os EUA empenharam-se por
todos os meios na contenção do comunismo. O Plano Marshall foi o primeiro
passo nesse sentido, pois permitiu a reconstrução da economia europeia em
moldes capitalistas mas também estreitou os laços entre a Europa Ocidental
e os seus “benfeitores” americanos.
Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou
a oficializar-se. A tensão provocada pelo bloqueio de Berlim acelerou as
negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do Atlântico Norte, entre
os EUA, Canadá e dez nações europeias. A operacionalização deste tratado
deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)3.
Esta aliança apresentava-se como uma organização puramente
defensiva, empenhada em resistir a um inimigo: a URSS.
Esta sensação de ameaça e vontade de consolidar a sua área de
influência levaram os EUA a constituir várias alianças, um pouco por todo o
mundo. Para além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais:

3 À OTAN opor-se-á o Pacto de Varsóvia, aliança militar liderada pelos


soviéticos.

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- América, 1948 a OEA (Organização dos Estados Americanos);


- Oceânia, 1951 a ANZUS (Austrália, Nova Zelândia e Estados
Unidos);
- Sudoeste Asiático, 1954 a OTASE (Organização do Tratado da Ásia
de Sudoeste);
- Médio Oriente, 1955 Pacto de Bagdade e 1957 CENTO (Organização
do Tratado Central).

 A política económica e social das democracias ocidentais


No fim da Segunda Guerra Mundial, o conceito de democracia
adquiriu, no Ocidente, um novo significado – para além do respeito pelas
liberdades individuais, do sufrágio universal e do multipartidarismo,
considerou-se que o regime democrático deveria assegurar o bem-de-estar
dos cidadãos e a justiça social.
A Grande Depressão já tinha mostrado a importância de um estado
económico e socialmente interventivo, e o estado da Europa no pós-guerra
exigia orientações firmes de modo a assegurar a reconstrução. Assim, as
duas forças políticas que nesta época sobressaíram na Europa – o socialismo
reformista e a democracia cristã – encontravam-se fortemente
impregnadas de preocupações sociais.
Embora de quadrantes muito diferentes, socialistas e democratas-
cristãos saíram da guerra prestigiados: ambos tinham lutado contra os
regimes autoritários vencidos e apresentando alternativas aos partidos
liberais.
É assim, que logo em 1945, as eleições inglesas dão a vitória ao
Partido Trabalhista (social-democrata), liderado por Clement Atlee, que
substitui Churchill (partido conservador) à frente do Governo Britânico.
Um pouco por todo o lado, partidos de orientação social-democrata
viram elevar-se os seus resultados eleitorais, tendo, em alguns caso,
tomando também as rédeas do poder, como aconteceu na Holanda, nos
países escandinavos (Dinamarca, Noruega, Suécia) e na RFA (no fim dos anos
60).
Os adeptos da social-democrata conjugam a defesa do pluralismo
democrático e dos princípios da livre concorrência económica com o
intervencionismo do Estado, cujo objetivo é o de regular a economia e
promover o bem-estar dos cidadãos.
Assim, os sociais-democratas defendem o controlo estatal dos
setores-chave e uma forte tributação aos rendimentos mais elevados.
Rejeitavam a ideologia marxista e contentavam-se com a distribuição da
riqueza pelos cidadãos através do reforço da proteção social.

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Na Itália e na RFA o receio da ideologia dos socialistas deu vitória


eleitoral aos democratas cristãos.
A democracia-cristã tem origem na doutrina social da igreja que
condena os excessos do liberalismo capitalista, atribuindo igualmente aos
estados a missão de zelar pelo bem comum. Os democratas-cristãos
consideram que o plano temporal e espiritual, embora distintos, não se
podem separar. Os princípios do cristianismo devem influenciar todas as
ações dos cristãos.
Propõem uma orientação profundamente humanista, apoiada na
liberdade, na justiça e na solidariedade.

Sociais-democratas e democratas-cristãos convergem no mesmo


propósito de promover reformas económicas e sociais profundas. Na Europa
do pós-guerra, os governos lançam-se num vasto programa de
nacionalizações que atinge bancos, companhias de seguro, transportes, etc.
O Estado torna-se o principal agente económico do país, o que lhe permite
exercer a sua funcao reguladora da economia. Revê-se também o sistema de
importos reforçando o caráter progressivo das taxas e permite assegurar
uma redistribuição mais equitativa da riqueza nacional.
Estas medidas modificaram a conceção liberal do Estado dando
origem ao Estado-Providência.

 A afirmação do Estado-Providência
O Reino Unidade foi o primeiro país com o Estado do bem-estar, onde
cada cidadão tem asseguradas as suas necessidades básicas.
Beveridge confiava que um sistema social alargado teria como efeito
a eliminação dos “cinco grandes males sociais”: carência, doença, miséria,
ignorância e ociosidade.
A abrangência das medidas adotadas em Inglaterra e, sobretudo, a
ousadia do estabelecimento de um sistema nacional de Saúde assente na
gratuidade total dos serviços médicos e extensivos a todos os cidadãos,
serviram de modelo à maioria dos países europeus.
A estruturação do Estado-Providência na Europa do pós-guerra fez-
se rapidamente. O sistema de proteção social generaliza-se a toda a
população passando a acautelar as situações de desemprego, acidente,
velhice e doença; estabelecem-se prestações de ajuda familiar (abono) e
outros subsídios aos mais pobres. Complementarmente, ampliam-se as
responsabilidades do Estado no que pertence à habitação, ao ensino e à
assistência médica.
Este conjunto de medidas visa um duplo objetivo:

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- Reduz a miséria e o mal-estar social contribuindo para uma


repartição mais equitativa da riqueza;
- Assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas
drásticas da procura como a que ocorreu durante a crise dos anos 30.

Assim, o Estado-Providência contribuiu para a prosperidade


económica que o Ocidente viveu nas três décadas que se seguiram à
Segunda Guerra Mundial.

 A prosperidade económica
O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases
sólidas.
Os governos não só assumiram grandes responsabilidades económicas,
como delinearam planos de desenvolvimento coerentes, que permitiram
estabelecer prioridades, rentabilizar a ajuda Marshall e definir diretrizes
futuras.
Externamente, os acordos de Bretton Woods4 e a criação de espaços
económicos alargados (como a CEE) tiveram um papel semelhante,
harmonizando e fomentando as relações económicas internacionais.

O capitalismo, que na década de 30 parecera condenado pela Grande


Depressão, emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre
1945 e 1973, a produção mundial mais do que triplicou e, em certos setores,
como a produção energética e a automóvel, multiplicou-se por dez.
As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise.
As taxas de crescimento, especialmente altas de certos países como a RFA,
França ou o Japão surpreenderam os analistas, que começaram a referir-se-
lhes como “milagre económico”. Estes cerca de trinta anos de uma
prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os “Trinta
Gloriosos”.
A expansão económica dos “Trinta Gloriosos” conjuga o
desenvolvimento de processos já iniciados com aspetos completamente
novos. Entre os seus traços característicos podemos destacar:
- Aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os setores
desde as fibras sintéticas, aos plásticos, medicina, aeronáutica, eletrónica,
entre muitos outros. Rapidamente produzidas em série, as inovações
tecnológicas revolucionaram a vida quotidiana e os processos de produção;

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O dólar era a moeda-padrão e as restantes moedas tiveram sido convertidas
em ouro ou dólar.

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- Recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em


detrimento do carvão. A extração do “ouro negro” coubera até à Segunda
Guerra Mundial aos EUA e a partir dos anos 60 deslocara-se para os países
do Médio Oriente, que se tornam os seus principais fornecedores. A
abundância e o baixo preço do petróleo alimentaram a prosperidade
económica, permitindo uma autêntica revolução nos transportes, para além
de uma enorme gama de novos produtos industriais;
- Aumento da concentração industrial e do número de multinacionais,
verdadeiros gigantes económicos que fabricam e comercializam os seus
produtos nos quatro cantos do Mundo. Presentes em praticamente todos os
setores (matérias-primas, transportes, comunicações, siderurgia,
eletrónica, alimentação…) estas empresas investem grandes somas na
investigação científica, contribuindo para a aceleração do progresso técnico
a que nos referimos;
- Aumento significativo da população ativa proporcionado pelo reforço
de mão de obra feminina no mercado de trabalho, o baby-boom5 dos anos
40-60 e a imigração de trabalhadores oriundos de países menos
desenvolvidos. Para além disto, a mão de obra tornou-se mais qualificada, em
virtude do prolongamento da escolaridade, sendo somente os imigrantes a
desempenhar os trabalhos que não requeriam um alto nível de formação
profissional, e sendo por isso, mal remunerados;
- Modernização da agricultura, setor onde a produtividade aumenta,
de tal como que permite aos países desenvolvidos passarem de importares a
exportadores de produtos alimentares. Renovada por grandes
investimentos, novas tecnologias e uma mentalidade verdadeiramente
empresarial, a agricultura libera, em pouco tempo, grandes quantidades de
mão de obra, que migra para os núcleos urbanos. Este êxodo rural contribuiu
para alterar a relação entre os três setores de atividade;
- Crescimento do setor terciário, que tende a absorver a maior
percentagem de trabalhadores. O surto espetacular das trocas comerciais,
a aposta no ensino, os serviços sociais prestados pelo Estado e a
complexidade crescente da administração das empresas multiplicaram o
número de postos de trabalho neste setor. Assim, as classes médias
alargam-se, o que contribuiu para a subida do nível de vida e para o
equilíbrio social.

 A sociedade de consumo

5 Os efeitos do baby-boom fizeram-se sentir na década de 60, embora os seus


reflexos na economia sejam muito anteriores, já que o aumento do número de jovens,
para além de alargar o mercado consumidor, obriga à construção de equipamentos
importantes (hospitais, creches, escolas, etc.), criando numerosos postos de trabalho.

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O efeito mais evidente dos “Trinta Gloriosos” foi a generalização do


conforto material. O pleno emprego, os salários altos e a produção maciça
de bens a preços acessíveis conduziram à sociedade de consumo, que
transformou os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países
capitalistas.
Quando os gastos na alimentação e em outros bens essenciais
deixaram de absorver a quase totalidade dos orçamentos familiares, as
casas tornaram-se cómodas e bem equipadas. Os aparelhos de aquecimento,
o telefone, a televisão e toda uma vasta gama de eletrodomésticos
multiplicaram-se rapidamente e o automóvel tomou o seu lugar nas garagens
e nas ruas, proporcionando longos passeios de lazer. As férias pagas,
privilégio que se alargou nos anos 60, vieram acentuar a ideia de que a vida
merece ser desfrutada e o dinheiro existe para se gastar. O cidadão comum
é permanentemente estimulado a despender mais do que o necessário.
Multiplicam-se os grandes espaços comerciais. Uma publicidade bem
orquestrada lembra as maravilhas a que todos “têm direito” e que as vendas
a crédito permitem adquirir.
A oferta e a pressão publicitária são de tal ordem que os bens
rapidamente perdem valor, “passam de moda” e se substituem por outros
mais atualizados.

O MUNDO COMUNISTA
Em 1945, quando o segundo conflito mundial terminou, existiam no
mundo apenas dois países comunistas: a URSS e a Mongólia. Entre 1945 e
1949, o comunismo implanta-se na Europa Oriental, na Coreia do Norte e na
China. Nos anos 50 e 60 continua o seu progresso na Ásia e em Cuba. Na
década de 70, difunde-se na África Negra.
 O expansionismo soviético
A expansão do mundo comunista fez-se, em grande parte, pela URSS.
Após a Segunda Guerra Mundial, o reforço da posição militar soviética e o
desencadear do processo de descolonização criaram condições favoráveis
quer à extensão do comunismo, quer ao estreitamento dos laços de amizade
e cooperação entre Moscovo e os países recentemente emancipados. A
URSS saiu, assim, do isolamento a que estivera votada desde a Revolução de
outubro, alargando a sua influência nos quatro continentes.

Europa:
A primeira vaga de extensão do comunismo atingiu a Europa Oriental
e, com exceção da Jugoslávia, fez-se sobre a pressão direta da URSS. Em
meados de 1948, os partidos comunistas dos países de Leste tinham-se já
assumido como partidos únicos e, em pouco tempo, a vida política, económica

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e social destas regiões foi reorganizada em moldes semelhantes aos da


União Soviética.
Os novos países socialistas receberam a designação de democracias
populares. Por oposição às democracias liberais, julgadas incapazes de
garantir a verdadeira igualdade devido à persistência dos privilégios de
classe, as democracias liberais defendem que a gestão do Estado pertence,
somente, às classes trabalhadoras. Estas constituem a maior, exercem o
poder através do Partido Comunista que, supostamente, representa os seus
interesses.
Em 1955, os laços entre as democracias populares foram reforçadas
com a constituição do Pacto de Varsóvia, aliança militar que previa a
resposta conjunta a qualquer eventual agressão.
Considerando-se a “pátria do socialismo”, a União Soviética impôs um
modelo único e rígido, do qual não admitiu desvios. É assim que, quando
estalaram protestos e rebeliões contra o seu excessivo domínio, Moscovo
não hesitou em utilizar a força para manter a coesão do seu bloco. Os dois
casos mais graves ocorreram na Hungria, em 1956, e na Checoslováquia, em
1968. As ruas de Budapeste e de Praga viram-se, então, ocupadas pelos
tanques soviéticos. Este desejo de manter intocada a hegemonia comunista
na Europa Oriental conduziu também, em 1961, à construção do célebre
muro de Berlim, que rapidamente se tornou no símbolo da Guerra Fria na
Europa e no Mundo.

Ásia:
Fora da Europa, o único país em que a implantação do regime
comunista que ficou a dever à intervenção direta da URSS foi a Coreia.
Ocupada pelos Japoneses, a Coreia foi, no fim da Segunda Guerra
Mundial, libertada pela ação conjunta dos exércitos soviético e americano,
que, naturalmente, não se entenderam quanto ao futuro regime político do
país. A Coreia foi, por isso, dividida em dois estados: a norte, a República
Popular da Coreia, comunista, apoiada pela URSS; a sul, a República
Democrática da Coreia, conservadora, sustentada pelos Estados Unidos. A
posterior invasão da Coreia do Sul pela República Popular do norte, com
vista á reunificação do território sob a égide do socialismo, desencadeou
uma violenta guerra (1950-1953). Por fim, repôs-se a separação entre as
duas Coreias, que se mantêm estados rivais ainda hoje.
A China, onde, em outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a
instauração de uma República Popular. A tomada do poder pelos comunistas
chineses foi uma longa luta, que se iniciara nos anos 20 e se reacendera após
a Segunda Guerra Mundial. Embora o apoio de Moscovo aos revolucionários
não possa considerar-se decisivo para a vitória alcançada, poucos meses

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História A 12º Ano

decorridos desde a formação do novo Governo, Mao Tsé-Tung e o ministro


dos Negócios Estrangeiros, Chou En Lai, assinam, em Moscovo, um Tratado
de Amizade, Aliança e Assistência Mútua, que coloca a China na esfera
soviética.
Apesar de se ter afastado da URSS, a China seguiu o modelo político
e económico do socialismo russo. A China Popular assumiu, ao lado da URSS,
as suas obrigações na difusão do comunismo.

América Latina e África:


A influência soviética estende-se, nos anos 60 e 70, à América Latina
e à África (com a descolonização, nomeadamente Angola e Moçambique).
O ponto fulcral da expansão comunista na América Latina foi Cuba.
Em 1959, um punhado de revolucionários, sob o comando de Fidel Castro e
do mítico Che Guevara, derruba o ditador pró-americano Fulgêncio Batista.
As preocupações socializantes do novo regime cubano valem-lhe a
hostilidade de Washington, que apadrinha mesmo uma tentativa falhada de
retoma do poder por exilados anticastristas (desembarque na Baía dos
Porcos, com o objetivo de matar Fidel Castro).
Fidel Castro aceita o apoio da URSS e Cuba transforma-se num
bastião avançado do comunismo na América Central. A permanência soviética
em Cuba confirma-se quando, em 1962, aviões americanos obtêm provas
fotográficas da instalação, na ilha, de mísseis russos de médio alcance,
capazes de atingir o território americano. A exigência firme de retirada dos
mísseis, feita pelo presidente Kennedy, coloca o Mundo perante a eminência
de uma guerra nuclear entre as duas superpotências. Felizmente, a crise
acaba por resolver-se com cedências mútuas: Kruchtchev aceita retirar os
mísseis, enquanto os Estados Unidos se comprometem a não tentar
derrubar, novamente, o regime cubano. Cuba desempenhará um papel ativo
na proliferação do comunismo.
Tal como o continente asiático, a África, recém-descolonizada,
mostrou-se bastante permeável à influência soviética.

 Opções e realizações da economia de direção central


Logo que a guerra terminou, a URSS retomou o modelo de
planificação económica: planos quinquenais e a partir de 1958 septenais,
sendo a primeira prioridade a indústria pesada. Imensos complexos
siderúrgicos e centrais hidroelétricas fazem da União Soviética a segunda
potência industrial do Mundo e garantem-lhe o poder militar necessário ao
afrontamento dos tempos da Guerra Fria.

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História A 12º Ano

Nos países de Leste, a proclamação das Repúblicas Populares implanta


também o modelo económico soviético. Os meios de produção são
coletivizados e reorganizados em moldes idênticos aos da URSS, sendo a
prioridade absoluta a industrialização, baseada na indústria pesada.
Os novos países socialistas europeus, com exceção da Checoslováquia
e da RDA, eram essencialmente agrícolas, industrializaram-se rapidamente.

No entanto, o nível de vida das populações não acompanha esta


evolução económica. As jornadas de trabalho mantêm-se excessivas (cerca
de 10 horas), os salários sobem a um ritmo muito lento e as carências de
bens de toda a espécie mantêm-se. Negligenciados pelos primeiros planos, a
agricultura, a construção habitacional e o setor terciário avançam
lentamente. Nas cidades, que a industrialização fez crescer a um ritmo
muito rápido, a população amontoa-se em bairros periféricos, superpovoados
e doentias. As longas filas de espera para adquirir bens essenciais tornam-
se uma rotina diária.

Os bloqueios económicos
Passado o primeiro impulso industrializador, as economias planificadas
começam a mostrar, de forma mais evidente, as suas debilidades:
- As empresas não gozam de autonomia na seleção das produções,
equipamentos, trabalhadores, fixação de salários e preços ou na escola de
fornecedores e clientes;
- Gestão burocrática que se limita a cumprir as quantidades previstas
no plano, sem olhar à qualidade ou rentabilidade dos equipamentos e da mão
de obra;
- Bens de consumo escassos;
- Poucos produtos agrícolas, dado que a agricultura não é prioridade;
- Habitações caras, optando a população por viver na periferia sem
condições.

Para ultrapassar os bloqueios económicos a URSS permite realizar


reformas.
Nikita Krutchev vai alterar a planificação, tendo em conta o que levou
ao bloqueio.
Em 1959, inicia-se um novo plano que reforça o investimento nas
indústrias de consumo, na habitação e na agricultura. Paralelamente, a
duração do trabalho semanal reduz-se (de 48 para 42 horas), bem como a
idade de reforma, que se estende, pela primeira vez aos trabalhadores
agrícolas. Nas empresas procura-se incentivar a produtividade, aumentando

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História A 12º Ano

a autonomia dos gestores e iniciando um sistema de prémios aos


trabalhadores mais ativos.

No entanto, estas medidas não superaram as expectativas. Na década


de 70, sob a orientação de Brejnev, a burocracia reforça-se e o 9º e 10º
plano voltam a dar grande prioridade ao complexo militar-industrial e à
exploração dos recursos naturais (ouro, gás e petróleo da Sibéria). Porém,
os custos de exploração do território siberiano revelam-se excessivos e a
economia soviética entra num período de estagnação.
As dificuldades soviéticas refletiram-se, de forma mais ou menos
graves, em todos os países satélite.
Embora não podendo dissociar-se da crise económica que, na década
de 70, afetou o mundo industrializado, a estagnação das economias de
direção central reflete, sobretudo, as faltas do sistema, que se foram
agravando ao longo das décadas. Inultrapassáveis, estes bloqueios
económicos conduzirão à falência dos regimes comunistas europeus, no fim
dos anos 80.

A ESCALADA ARMENTISTA E O INÍCIO DA ERA ESPACIAL


 A escalada armamentista
Em 1945, após a Segunda Guerra Mundial só os EUA tinham a bomba
atómica. Em 1949, os Russos fizeram explodir a sua primeira bomba
atómica, desmoronando-se, assim, a confiança do Ocidente.
De imediato, os cientistas incrementaram as pesquisas de uma arma
mais destrutiva, testada em 1952 no Pacífico – a bomba de hidrogénio.
No ano seguinte, já a URSS tinha a bomba de hidrogénio.
Embora o caráter revolucionário deste novo rearmamento se encontre
na produção de bombas atómicas e no desenvolvimento de mísseis de longo
alcance para as lançar, o Mundo viu também multiplicarem-se as armas ditas
“convencionais”.
O poder de destruição das novas armas introduziu na política mundial
uma característica nova: a dissuasão. Cada um dos blocos procurava
persuadir o outro de que usaria, sem hesitar, o seu potencial atómico em
caso de violação das respetivas áreas de influência. Advertências, ameaças,
movimentações de tropas e material de guerra faziam parte desta
estratégia dissuasora que a natureza apocalíptica de um confronto nuclear
torno eficaz. O mundo tinha resvalado, nas palavras de Churchill, para o
“equilíbrio instável do terror”.

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 O início da era espacial


Cientes de que a superioridade tecnológica poderia ser decisiva, as
duas superpotências dedicaram grande atenção aos ramos da Ciência
relacionados com o equipamento militar.
A URSS colocou-se à cabeça da conquista do Espaço quando, em
outubro de 1957, conseguiu colocar em órbita o primeiro satélite artificial
da História, o Sputnik 1. No mês seguinte, lançou o Sputnik 2, de maiores
dimensões, levando a bordo a cadela Laika, que se tornou o primeiro viajante
espacial.
Os Americanos, na ânsia de igualarem, no mesmo ano, a proeza russa,
anteciparam o lançamento do seu próprio satélite, mas o foguetão que o
impulsionava explodiu e a experiência foi um fiasco. Só no início de 1958,
com o lançamento de Explorer 1, a América efetivaria a sua entrada na
corrida ao Espaço.
Nos anos que se seguiram, a aventura espacial alimentou o orgulho
nacional das duas nações. Nos primeiros tempos, os soviéticos mantiveram a
liderança e, em 1961, fizeram de Yuri Gagarin o primeiro ser humano a
viajar na órbita terrestre. No entanto, no fim da década de 60, coube aos
americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin o feito de serem os primeiros
homens a pisarem a Lua. Quando o Homem realizou o feito improvável de
alcançar a Lua tornou-se evidente que essa mesma tecnologia estava a ser
utilizada para a construção de armas capazes de aniquilarem toda a
Humanidade.

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