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Apreciação

O Livro reflete a injustiça e o desamparo dos pobres explorados pelos senhores feudais
do Nordeste brasileiro. A lúcida perspectiva da personagem feminina, exemplo de
esperança, contrapõe-se ao mundo masculino, questionando as decisões que afastam os
homens das suas raízes. Os seus três filhos representam a tríplice resposta que pode ser
dada à crueldade dos poderosos: José vinga-se pela via do cangaço, João procura as
respostas messiânicas e Juvêncio, o grande herói deste romance, reage aderindo às lutas
sociais.
A obra está enquadrada na ótica explicitamente ideológica do escritor. Faz parte de sua
fase de militância política. Depois de tecer sobre a sorte do migrante nordestino que se
arrasta rumo à morte querendo chegar em São Paulo, ele mostra como nasce a violência
no campo e, inclusive, o fanatismo religioso. Os cangaceiros e os novos messias surgem
a partir das injustiças sociais e o desprezo do estado.
Referências Biográficas

Jorge Amado nasceu na fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna. Filho do


"coronel" João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado, foi para Ilhéus com apenas
um ano e lá passou a infância e descobriu as letras. A adolescência ele viveria em
Salvador, no contato com aquela vida popular que marcaria sua obra.
Aos 14 anos, começou a participar da vida literária de Salvador, sendo um dos
fundadores da Academia dos Rebeldes, grupo de jovens que (juntamente com os do
Arco & Flecha e do Samba) desempenhou importante papel na renovação das letras
baianas. Entre 1927 e 1929, foi repórter no "Diário da Bahia", época em que também
escreveu na revista literária "A Luva".
Estreou na literatura em 1930, com a publicação (por uma editora carioca) da novela
"Lenita", escrita em colaboração com Dias da Costa e Édison Carneiro. Seus primeiros
romances foram "O País do Carnaval" (1931), "Cacau" (1933) e "Suor" (1934).
Jorge Amado bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito no
Rio de Janeiro (1935), mas nunca exerceria a profissão de advogado. Em 1939, foi
redator-chefe da revista "Dom Casmurro". De 1935 a 1944, escreveu os romances
"Jubiabá", "Mar Morto", "Capitães de Areia", "Terras do Sem-Fim" e "São Jorge dos
Ilhéus".
Em parte devido ao exílio no regime getulista, Jorge Amado viajou pelo mundo e viveu
na Argentina e no Uruguai (1941-2) e, depois, em Paris (1948-50) e em Praga (1951-2).
Jorge Amado morreu perto de completar 89 anos, em Salvador. A seu pedido, foi
cremado, e as cinzas, colocadas ao pé de uma árvore (uma mangueira) em sua casa.
Resenha

É a saga de uma família de retirantes compulsórios, gente expulsa de terras nordestinas,


que toma o rumo de São Paulo. A pé. A viagem é um rol de aflições, de fome e de
morte. Do grupo inicial de onze retirantes, apenas quatro chegam a uma fazenda de
café. Além disso, o autor descreve as trajetórias de três filhos do casal de retirantes, que
tinham partido de casa antes dos pais: o soldado João, o jagunço Zé Trovoada e o cabo
Juvêncio, que serve na fronteira com a Colômbia, participa do levante comunista de
Natal (novembro de 1935), vai parar no presídio de Ilha Grande e, depois da anistia,
retoma os passos de sua vida militante.
O novo proprietário da antiga fazenda nos sertões do Nordeste baiano despede
sumariamente todos os agregados ali existentes, admitidos pelo antecessor, inclusive o
velho Jerônimo e sua mulher Jucundina, moradores radicados nas terras havia vinte
anos. Sem outra opção, decide emigrar "em busca do país de São Paulo" e, entrouxando
todos seus pertences nos costados do jumento Jeremias, partem, a pé, os onze parentes:
Jerônimo e a mulher, os dois filhos restantes (Agostinho e Marta), os três netos (Tonho,
Noca e Ernesto) órfãos ainda crianças, sua irmã insana Zefa e seu irmão João Pedro com
a família (Dina e Gertrudes), numa longa "Viagem de espantos", eles que jamais se
haviam afastado do lugar.
Padeceram perigos, doenças, luto, sede e fome até atingirem Juazeiro, para embarcarem
de navio em demanda a Pirapora pelo rio São Francisco. Ali chegam em péssimas
condições, alquebrados. Aí, ao enfim acomodarem-se numa fazenda de café, restam da
família apenas quatro: Jerônimo, Jucundina, João Pedro e o garoto Tonho - os outros
morreram ou desencaminharam.
Na segunda parte do romance, "As estradas da esperança)", o eixo narrativo se desloca
para os três filhos homens de Jerônimo e Jucundina: José, João e Juvêncio. E se ocupa
dos destinos dos três filhos do casal que haviam deixado a casa, na fazenda nordestina,
antes da dolorosa retirada. João, o primogênito, em família apelidado João, deixara o
campo para assentar praça na Força Policial do Estado, sendo posteriormente engajado à
tropa mandada ao sertão para liquidar o acampamento do beato Estêvão, ao qual acorreu
também, mas para defendê-lo, o célebre bandido Lucas Arvoredo, em cujo bando atuava
o famigerado Zé Trevoada, que outro não era senão José, o segundo filho do casal, que
ainda jovem abandonara o lar paterno e se fizera cangaceiro. Ao se dar o assalto da
força pública contra o acampamento dos fanáticos penitentes, em meio á confusão de
gritos, como animais em fúria, e o troar da fuzilaria, corpos varados a bala, João foi
mortalmente atingido e logo em sua percepção os ruídos se tornaram baixinhos, uma
nuvem em seus olhos: a última coisa que viu "perfeitamente vista era a face de seu
irmão José disparando o fuzil". O terceiro filho, Juvêncio, deixou os pais ainda
adolescente à busca do mundo distante, tendo-se alistado na Polícia Militar de um
Estado vizinho e de pronto incorporado ao batalhão de partida para sufocar a Revolução
Constitucionalista em São Paulo, onde, depois de tudo apaziguado, ingressa no
Exército, indo servir em Matos Grosso. De Campo Grande, já promovido a cabo, vai
para um posto de fronteira com a Colômbia em que, em condições desesperadoras,
assume o comando do sitiado posto, semidizimado, sistematiza caçadas para o
abastecimento, cava novas trampas, recompõe paliçadas e mantém a resistência aos
silvícolas até chegar a expedição de socorro. Transferido para Natal, conhece Lurdes e
participa do levante comunista como um dos seus líderes. Preso após a sedição é
condenado a cumprir pena no presídio da Ilha Grande, onde se casa por procuração com
Lurdes e cuida de ilustrar-se. Aí recebe a visita da velha mãe viúva, vinda de São Paulo
em companhia do jovem Tonho, com quem futuramente, após a anistia, participará
ativamente da militância comunista no Brasil.

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