01. Analise a realidade do trabalho na pandemia e suas variadas configurações
como o home office até o caso daqueles que não puderam se isolar. Você deve utilizar os conceitos presentes em dois ou mais textos que lemos até aqui.
Ao longo da história o estudo do trabalho visou e ainda busca desvendar os
aspectos e características dos agentes desse processo bem como os fluxos interativos que ali ocorrem, isto é, analisar o trabalho que como Marx discorre em sua obra “Manuscritos econômico-filosóficos” é essencialmente uma ideia livre e por isso distingue das demais como dos animais, pois não se faz em função da necessidade imediata, mas sim de uma vontade, através de consciência a respeito da apropriação da natureza. Porém, quando norteado pelo capital, o trabalho perde sua essência de caráter livre, pois o trabalhador passa a exercer seus atos condicionados a vontade do detentor dos meios de produção, do líder, do chefe. Logo, a compreensão dessa conceituação estabelecida por Marx e a correlação com as proposições levantadas por David Harvey em “O processo de trabalho e o processo de valorização” nos permitirão encontrar respostas para diversas questões que surgiram com a nova realidade do trabalho no atual cenário pandêmico que tem gerado diversos impactos e provocado mudanças que vêm exigindo maior adaptação por parte das organizações e de seus trabalhadores.
Os trabalhadores que foram impossibilitados de se isolar dividem-se em duas
vertentes: aqueles que permaneceram sobre o controle de capitalistas (denominados por Marx como os detentores dos meios de produção na explicação trabalhador-capitalista) e que de forma ilícita foram obrigados a trabalhar indo contra as imposições dos órgãos reguladores por estarem sujeitos a esse domínio e por necessitar suprir as suas necessidades básicas para sobreviver, e em segundo lugar aqueles que integram os setores essenciais (saúde, logística, abastecimento, etc.). No primeiro caso, percebe-se o processo de alienação do trabalho descrito por Karl Marx, decorrente da separação do homem e do produto de seu trabalho de forma intensificada, culminando na expansão e acumulação de riquezas que se concentram sobre a posse dos líderes detentores dos meios de produção, ao passo que os trabalhadores não enriquecem da mesma forma, mas sim tendem a ter condições mais precárias (expostos ao contágio) com o fato da ganância implícita dos seus líderes em querer ganhar cada vez mais e expandir sua margem de lucro mesmo durante a pandemia. Na segunda vertente, a exemplo dos profissionais de saúde torna-se aplicável a junção da contestação de Marx as ideias de Fourier quanto ao processo do trabalho. Porém, essa aplicabilidade não se dá pela divergência entre os dois autores, mas pela análise de uma perspectiva diferente onde as ideias de ambos se complementam, pois os profissionais da área da saúde durante o cenário pandêmico carregam consigo uma enorme dose de esforço e disciplina para execução de seu trabalho, mas também trazem a paixão contigo, não pelo cuidar de doentes (obviamente desejariam a saúde a todos se fosse possível), mas por trazerem consigo o prazer em se doar ao próximo.
Quanto ao home office parte das firmas e empresas buscaram transparecer
uma certa atitude de benevolência em relação aos trabalhadores como se a entrega dos materiais para trabalho e a flexibilização fosse uma espécie de favor concedido a estes, mas a realidade é que os detentores dos meios de produção estavam cumprindo sua obrigação cívica e moral. Isto é, cívica pela imposição das normas pelos órgãos reguladores e moral devido a “retribuição” para com os trabalhadores que agregaram determinada quantidade de valor e lucro para o crescimento da empresa ao longo de sua jornada nesta. Porém, nem todos tiveram a oportunidade de participarem desse processo devido a demissão no início dessa nova realidade.
De fato, a concepção burguesa que impera na sociedade contemporânea
precisa dar espaço para uma mentalidade mais consciente e relacionada a concepções mentais saudáveis para que os problemas sociais e resultantes do capitalismo possam ser superados de maneira a causar as menores sequelas possíveis.
02. De que modo os argumentos de Graeber nos permitem compreender os
fundamentos sociais das relações econômicas?
David Graeber ao longo do texto demonstra a correlação quanto a
classificação das relações econômicas de acordo com as relações socias, para isso, antes de se aprofundar na compreensão dos fundamentos sociais das relações econômicas se faz necessária a compreensão das relações socias por si só.
O antropólogo aponta a forma simplista que é aceita e disseminada perante a
origem e desenvolvimento do dinheiro, dívidas e trocas ao longo da história pelo senso comum, mesmo elucidando que todo o processo ocorreu de maneira muito mais complexa e que detalhes não foram retratados. Porém, Graeber deixa claro que estudiosos de destaque como Adam Smith (mesmo este sendo seu alvo de refutação) não eram munidos de diversas informações que atualmente estão disponíveis, logo parte dos preceitos defendidos naquele período traziam maior peso de aceitação. No entanto, mesmo com o conhecimento de novas informações antropológicas e estudos publicados como os ensaios de Mitchell Innes em 1913 e 1914, o relato que perdurava a respeito da história monetária não foi atualizado de acordo com dinâmica de tais acontecimentos e o autor destaca que as informações descobertas e apresentadas se quer foram refutadas pelos economistas, foram simplesmente ignoradas, mantendo assim, a aceitação profunda do mito do escambo, da teoria simplista pré-estabelecida pelo senso comum e nos levando ao início de sua argumentação onde discorre a respeito de que para todo problema complexo, há uma resposta simples, intuitiva, mas errada de acordo com o que havia sido revelado pelas novas descobertas (dinheiro e crédito para posterior surgimento do escambo).
Observa-se nos argumentos descritos por Graeber uma convergência no que
se refere a um dos principais pontos que resultaram nesse relato-padrão da história monetária invertido. Desde a citação da obra antropológica sobre o escambo escrita por Caroline Humphrey, os ensaios de Mitchell Innes e a tradução dos hieróglifos egípcios e escrita cuneiforme mesopotâmica (pontos chave para a quebra do que se havia enraizado pelo senso comum), percebe-se a escassez de informações (antes das primeiras décadas do século XX) e falta de profundidade das análises etnográficas que eram realizadas após as primeiras décadas do século XX, onde Graeber destaca uma espécie de negligencia por parte dos economistas. De fato, as relações econômicas constituem um importante fundamento das relações sociais e das atividades de interação entre os indivíduos de um grupo social. Logo, um recorte analítico raso (negligência aos costumes, período, localidade, generalização e sintetização em excesso das informações) sob determinado grupo social resultará numa teoria econômica sobre este repleta de lacunas. Tal descrição pode ser exemplificada pelos estudiosos que se pautaram através da descrição generalizada de Adam Smith ao estudar povos distintos e não alcançaram sucesso na busca pela terra do escambo como descrito pelo autor, devido a análise etnográfica rasa e aplicação de conceitos que já haviam sido destituídos pela descoberta de novas informações.