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História Medieval I - Avaliação 2

Aluna: Ana Clara Taveira de Castro Lima


Matrícula: 20210005142

Esse trabalho se propõe a realizar uma breve análise dos pontos centrais
propostos nos capítulos “Constantinopla: poder e queda”, de Renato Viana Boy e “Da
expansão árabe à Era dourada”, de Aline Dias Silveira, ambos partes da obra Ensaios
de história medieval: Temas que se renovam. Apesar de partirem de temáticas
inseridas dentro de um mesmo período histórico geral, é possível observar sob a
abordagem dos autores supracitados as especificidades e as correlações entre seus
objetos de estudo, o Império Bizantino e o Império Islâmico, os quais fogem da
historiografia tradicional que condicionou durante muito tempo os estudos medievais
somente à região da Europa Ocidental.
Através de uma discussão sucinta que nos leva a compreender algumas das
particularidades do Império Bizantino entre os séculos IV e XV, desde sua ascensão
até sua queda, Renato Viana Boy traz à luz de debate durante todo o capítulo X da
obra citada anteriormente o fator crucial que distingue a natureza do Império em
questão dos demais territórios da época: a autocracia bizantina e suas relações
pautadas pela crescente influência do cristianismo como elemento fundamental da
sociedade. Travando um debate acerca das relações de poder empregadas entre as
forças do imperador e da igreja, o autor exemplifica com a Vita Constantini o início do
que se concretizaria como uma agregação da esfera política e espiritual,
demonstrando a impossibilidade de que se haja a consciência de uma individualmente
à outra.
De acordo com Viana (p.136), os elementos que constituíam o poder autocrático
dos imperadores bizantinos detinham da espiritualidade cristã, o que legitimava suas
ações para além de um viés somente político, sendo também de caráter religioso. Por
meio dessa análise, o autor pontua mais à frente o reflexo desse tipo de governo na
população bizantina, onde para pertencer ao império indispensavelmente teriam de
se atribuir dos preceitos cristãos exteriorizados pela figura do imperador e das
instituições eclesiásticas. Do contrário, suas condutas seriam condenadas como
práticas heréticas as quais as esferas de poder se atentavam a combater.
Através do questionamento acerca da queda de Constantinopla em 1453 ter se
dado unicamente como uma conquista e tomada de poder das tropas turcas, Viana
ressalta novamente o papel fundamental que se configurava na manutenção de
negociações constantes entre o autocrata e as entidades religiosas do medievo para
o pleno funcionamento dessa estrutura singular do governo bizantino, uma vez que
para o autor o fim do Império é conjuntamente fruto das instáveis relações que vinham
perpetuando desde o começo do milênio entre essas instituições de poder, citando
como exemplos de respaldo a seu ponto a Grande Cisma (1054) e a Quarta Cruzada
(1204).
Sob análise de um diferente eixo temático da historiografia medieval, no capítulo
VIII do livro em questão, a autora Aline Dias da Silveira se aprofunda na compreensão
da Expansão Árabe entre os séculos Vll e XI utilizando de uma abordagem que visa,
primordialmente, demonstrar a natureza heterogênea da cultura em que se fundou o
Império Islâmico. Partindo desde a apresentação do contexto de intensas relações de
trocas culturais em que se insere Maomé, profeta da religião islâmica, a autora
demonstra ao longo do texto a forma como se perdurou as confluências culturais
enquanto se procedia a anexação de territórios distintos ao Império, nos levando a
compreender a complexidade dessa sociedade em expansão.
Por meio de exemplificações de diferentes conquistas territoriais árabes, como
o domínio de regiões da África e de parte da península Ibérica, Dias enfatiza a
complexidade supracitada nos norteando com a questão da tolerância muçulmana.
De acordo com a autora, a expansão árabe não ocorre de maneira conjunta à
islamização das populações conquistadas, isto é, os conquistadores não impunham a
fé muçulmana imediatamente, a conversão dos povos ocorreu de maneira lenta e
gradual, possibilitando e coexistência de grupos que detinham de diferentes crenças
religiosas. Trazendo essa pontuação, percebe-se o quão significante se fez essas
trocas de elementos originados de povos distintos para o desenvolvimento do Império,
tanto nas esferas culturais quanto políticas.
Diante desses aspectos, é passível de observação que os autores de ambos os
capítulos buscaram explicitar em seus textos a construção de Impérios que se
fundaram em suas infinitas particularidades, porém, tecem suas análises sob
abordagens distintas. Através de seu capítulo, Renato Viana Boy centra boa parte de
sua discussão em frisar o poder da autocracia bizantina, nos levando a perceber a
condição da fé cristã como um fator necessário para o funcionamento e coesão do
território imperial, tanto dentro das próprias instituições de poder quanto como
característica compartilhada pelos habitantes do Império. Em contrapartida, Aline Dias
de Silveira se aprofunda em sua temática da expansão árabe a partir de exemplos de
algumas das conquistas territoriais que se deram para além da península arábica.
Dessa forma, a autora nos propõe observar em segundo plano a expansão da fé
muçulmana como fundamento para a grandiosidade do Império, travando uma
argumentação que propõe a coexistência de diferentes grupos que compõem uma
sociedade altamente diversa e interrelacionada que gerou, para além das confluências
culturais em si, uma vasta produção de conhecimento científico.
Portanto, conclui-se que os autores cumprem com a função de apresentar as
singularidades de Impérios constituídos fora da lógica medieval da Europa ocidental,
ressaltando suas especificidades marcantes perante às estruturas que os precederam
e reafirmando a importância de se reconhecer nos estudos sobre a Idade Média a
complexidade em que essas sociedades foram organizadas.

REFERÊNCIAS:

- BOY, Renato Viana, “Constantinopla: poder e queda” in: NASCIMENTO, Renata


Cristina de Sousa; SILVA, Paulo Duarte. Ensaios de História Medieval: temas quese
renovam. Curitiba: CRV, 2019, p. 179-194.

- SILVEIRA, Aline Dias, “Da expansão árabe à era dourada” in NASCIMENTO,


Renata Cristina de Sousa; SILVA, Paulo Duarte. Ensaios de História Medieval: temas
que
se renovam. Curitiba: CRV, 2019, p. 141-162.

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