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Não é exagero iniciar dizendo que “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo

Tempo” talvez seja o filme mais original que vi neste ano. Posso ir além e
dizer que longos anos serão necessários até alguém ter uma ideia ainda
mais original e maluca que essa aqui. 

Na trama, Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa nos EUA
que é dona de uma lavanderia com seu marido bem-humorado,
Waymond Wang (Ke Huy Quan). Apesar de ter uma família amorosa -
incluindo sua filha, Joy (Stephanie Hsu) - Evelyn está sempre pensando no
que poderia ter sido; em seus sonhos não realizados e em suas ambições
nunca realizadas. No entanto, seu mundo mundano e cotidiano muda no
dia em que seu pai chega da China e Evelyn é informada por uma
funcionária do governo (Jamie Lee Curtis) que está tendo problemas com
seus impostos. De repente, ela descobre que seu mundo faz parte de um
vasto multiverso e que uma versão alternativa de seu marido veio
procurá-la. 

A narrativa começa de forma bem lenta e básica, mas no instante em que


resolve se aprofundar... É uma verdadeira loucura. A produção consegue
ser emocionante e isso é um belo elogio tendo em vista que explorar um
multiverso infinito e cheio de possibilidades, poderia muito bem ter se
transformado em algo incoerente e desconexo. Porém, os diretores Daniel
Kwan e Daniel Scheinert conseguiram transformar esse caos em
sentimento. Essa desordem vira algo incrivelmente divertido e criativo.

A principal razão pela qual o longa funciona tão bem é que se concentra
principalmente nas relações familiares de seus protagonistas. O cerne do
filme é como Evelyn começa a reavaliar seu relacionamento com o
marido e a filha. Assim, o multiverso brinca como mesmo as pequenas
decisões geram ramificações inimagináveis. Como sua vida teria sido com
um SIM ao invés de um NÃO? Nesse conceito se cria uma rede de
universos que vão sendo conectados por cada pequena escolha. 

Com um orçamento pequeno, seria loucura não elogiar os figurinos e o


modo como a produção constrói a “viagem” entre universos para
economizar CGI. É tudo bem feito. Soma-se a isso as atuações brilhantes
(principalmente de Yeoh e Huy Quan) e as belas cenas de lutas
homenageando as artes marciais. 

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é a prova de que um bom


roteiro é a parte mais importante de um grande filme. Aproveitando
muito bem o conceito de multiverso, ele desenvolve o relacionamento
familiar ao mesmo tempo em que gera uma dúvida dentro de si mesmo
sobre sua existência e sobre como sua vida poderia ter sido com uma
decisão diferente. É um filme inteligente, cafona, engraçado, sério,
simples, complexo e sentimental. Ele é tudo em um só lugar.

Nota: 9/10

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