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BELO HORIZONTE
2022
Wong Kar-Wai é um renomado diretor chinês nascido em 17 de julho 1958 na cidade
de Xangai e, ainda criança, se mudou com a família para a cidade de Hong Kong. Foi nessa
época que Kar-Wai passou a ter um grande contato com o Cinema; por não dominar o dialeto
de Hong Kong, sua mãe o levava constantemente ao cinema para aumentar sua exposição ao
novo idioma. Se formou em Artes Gráficas pela Escola Politécnica de Hong Kong e,
posteriormente, começou a carreira como assistente de produção na televisão para, mais tarde,
se tornar argumentista de séries e filmes na área. Ingressou na indústria cinematográfica após
se juntar à equipe criativa de Barry Wong, um dos maiores roteiristas de Hong Kong, e, depois,
colaborou com o roteiro do filme de ação de Hong Kong The Final Victory (1987), dirigido
por Patrick Tam.
Wong Kar-Wai é considerado, juntamente com outros realizadores como Eddie Fong,
Stanley Kwan e Clara Law, pertencente ao movimento “Segunda Nova Onda” do cinema de
Hong Kong. A “Nova Onda” surgiu na década de 1970 com novos diretores revolucionando o
modo de fazer cinema, negando o aspecto comercial do cinema e trazendo visões mais artísticas
e experimentais, além de abordar a sociedade contemporânea de Hong Kong, ao invés da China
continental. A “Segunda Onda”, a qual Kar-Wai pertence, surge em meados da década de 1980
e conserva o experimentalismo da Primeira, mas traz visuais marcantes e um retorno aos anos
1960 - dois aspectos muito presentes no cinema do diretor. O cinema do movimento “Nova
onda de Hong Kong” é uma síntese da influência cultural entre a Grã Bretanha, Hong Kong e
A China continental. As sementes do movimento vieram do sucesso de filmes do gênero Kung
Fu nos anos 70, do impacto da guerra do Vietnam, e também pelo grande aumento da
popularidade do movimento chamado “Nova Hollywood”. Em Hong Kong há uma grande
variedade de pessoas de outras nacionalidades da Ásia, pessoas vindas da Índia, Vietnam,
Filipinas, Japão, Koreia, etc. Até o idioma falado na cidade é diferente do resto da China, uma
mistura entre inglês, mandarim e cantonês. A população consome filmes americanos, joga
jogos do tipo Arcarde vindos do Japão e até o governo e a moeda usada são diferentes. Isso
tudo se da devido ao controle da Grã Bretanha durante 150 anos da area hoje conhecida como
Hong Kong. Todas essas diferenças culturais e influências de outras culturas ajudaram a moldar
o movimento.
Em 1994, ele realiza “Cinzas do Passado”, também com um grande elenco: Brigitte
Lin, Tony Leung, Jacky Cheung e os já citados Maggie Cheung e Leslie Cheung - todos são
atores recorrentes nas obras no diretor . O filme venceu o prêmio de Melhor Fotografia no
Festival de Veneza e também ganhou quatro prêmios no Festival de Cinema de Hong Kong
(Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Figurino e Melhor Maquiagem) e mais
dois prêmios no Festival de Cinema Cavalo Dourado de Taiwan (Melhor Fotografia e Melhor
Edição).
A essa altura, o diretor já começava a ser notado pelo mundo por seu estilo diferente de
se fazer cinema. Também em 1994, Wong Kar-Wai dirigiu “Amores Expressos”, que o
destacou internacionalmente e lhe rendeu o apelido de “Tarantino Chinês” e, posteriormente,
em 1995, realizou “Felizes Juntos”, que lhe trouxe o prêmio de Melhor Diretor no Festival de
Cannes. Em seguida, fez “Amor à Flor da Pele”, em 2000, filme que é, provavelmente, seu
trabalho mais famoso e que rendeu o prêmio de Melhor Ator para Tony Leung em Cannes,
além do César de Melhor Filme Estrangeiro e de uma indicação ao BAFTA de Melhor Filme
Estrangeiro. Em 2004, dirigiu o filme “2046 – Os Segredos do Amor”, fechando a trilogia do
“Eterno Feminino” (composta, também, pelos anteriores “Dias Selvagens” e “Amor à Flor da
Pele”). Com carreira e reconhecimento internacional já consolidados, Kar-Wai presidiu o júri
do Festival de Cannes em 2006 e, no ano seguinte, fez seu primeiro filme nos Estados Unidos
chamado “Um Beijo Roubado”, com Jude Law, Natalie Portman, Rachel Weisz e Norah Jones.
Seu longa-metragem mais recente é “O Grande Mestre”, de 2013, sobre a história de um dos
grandes mestres do Kung Fu e mestre de Bruce Lee, Ip Man. Dentre as principais premiações
do Cinema, os filmes de Wong Kar-Wai acumulam quatro indicações à Palma de Ouro, uma
indicação ao BAFTA, uma ao Festival de Berlim, duas indicações ao Oscar e três indicações
ao Independent Spirit Awards, além de dezenas de indicações em outros festivais e premiações
ao redor do mundo.
“As relações humanas são uma benção e uma maldição. Benção porque é realmente
muito prazeroso, muito satisfatório, ter outro parceiro em quem confiar e fazer algo
por ele ou ela. É um tipo de experiência indisponível para a amizade no Facebook;
então, é uma bênção. [...] Por outro lado, há a maldição, pois quando você entra no
laço você espera ficar lá para sempre. Você jura, faz um juramento: até que a morte
nos separe para sempre. O que isso significa? Significa que você empenha o seu
futuro. Talvez amanhã, ou no mês que vem, ou no ano que vem, haja novas
oportunidades. Agora você não consegue prevê-las e você não será capaz de pegar
essas oportunidades, porque você ficará preso aos seus antigos compromissos, às suas
antigas obrigações. Então, é uma situação muito ambivalente e, consequentemente,
um fenômeno curioso dessa pessoa solitária numa multidão de solitários.
Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.” (BAUMAN,
Zigmunt, ano?, CINEMASCOPE, grifo nosso).
Os amores de Wong Kar-Wai traduzem bem a fala de Bauman e a sentença por nós
destacada em negrito: são pessoas solitárias, refugiadas em relacionamentos amorosos
ambivalentes e perdidas na multidão de Hong Kong. O amor é o momento vivido e eternizado
pelo casal, sem saber o futuro.
O filme selecionado para análise é “Felizes Juntos”, de 1995, estrelado por Tony Leung
e Leslie Cheung. O filme nos apresenta um casal homossexual que possui uma relação - como
classificamos hoje em dia - tóxica. Lai Yiu-Fai (Leung) e Ho Po-Wing (Cheung) estão sempre
brigando e “recomeçando”. No filme, que é narrado majoritariamente por Lai, acompanhamos
uma das tentativas de recomeço, em que o casal viaja de Hong Kong para a Argentina com a
pretensão de visitar as Cataratas do Iguaçu, mas, já no país sulamericano e na tentativa de
chegar às cataratas, se desentendem e a tentativa de recomeço falha. Cada um segue um rumo,
sem dinheiro para voltar ao país natal, e acompanhamos essa separação e a reaproximação
turbulenta - turbulência essa representada, em vários momentos, por uma câmera instável e
trêmula.
REFERÊNCIAS
ADORO CINEMA. Wong Kar-Wai. Disponível em:
https://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-20809/biografia/.