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Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Cargas de Vento em Edificações
• Introdução;
• Estudo do Efeito do Vento nas Edificações;
• Ações do Vento nas Edificações;
• Aplicações Normativas para os Carregamentos de
Vento em Edificações.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Conhecer a importância das cargas de vento para edificações;
• Conhecer o efeito do vento nas edificações;
• Conhecer as aplicações normativas aos carregamentos de vento em edificações.
UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
Introdução
O vento é uma ação da natureza que exerce pressões e sucções nas edificações,
devido à circulação de massas de ar atmosférico das regiões de alta pressão atmosfé-
rica para as de baixa pressão atmosférica. Essas pressões e sucções do vento ocor-
rem de formas variadas, podendo ser contínuas, intermitentes ou repentinas.
As ações do vento nas edificações podem causar efeitos indesejáveis, tais como
danos materiais e, algumas vezes, vítimas fatais.
Para o estudo da ação do vento nas edificações são utilizados dispositivos labora-
toriais como os túneis de vento, onde é possível analisar a sua ação nas edificações,
através da simulação em maquetes físicas em escalas reduzidas.
Instrumentos para
1 – Anemômetro determinação da velocidade 3 – Biruta
e direção dos ventos
2 – Anemoscópio
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As ações que podem ocorrer quando o vento atinge as edificações são as seguintes
(Figura 2):
Pressão Sucção
Edificação
Edificação
Pressão Sucção
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UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
O ar quente que sobe para maiores altitudes atmosféricas esfria novamente e re-
torna a altitudes atmosféricas mais baixas, substituindo o ar quente existente nessa
altitude. Esse ciclo de circulação de massas de ar forma o vento (Figura 5).
Ar quente Ar frio
Circulação do ar (descendente)
(ascendente)
na atmosfera
Vento
Camada quente
Região de alta pressão atmosférica – baixa altitude
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O deslocamento do ar atmosférico, da região de alta pressão para a região de
baixa pressão, não ocorre em linha reta; isto acontece porque existem outras forças
atuando na atmosfera como, por exemplo, a força de Coriolis, que acontece devido
ao movimento de rotação da Terra; provoca um desvio na trajetória do vento, fazendo
com que o deslocamento da massa de ar aconteça na forma de espiral, saindo da
região de “alta pressão” e convergindo para a região de “baixa pressão”.
A denominação força de Coriolis se justifica como homenagem a Gaspard Gustave
de Coriolis (1792-1843), engenheiro e matemático francês que descreveu as leis da me-
cânica para um sistema de referência em rotação. Demonstrou que em um sistema em
rotação, como ocorre na Terra, há uma força que afeta o movimento dos corpos de
maneira diferente nos seus hemisférios Sul e Norte do Planeta.
Em função da forma esférica do planeta Terra, a força de Coriolis tem sentido no
Hemisfério Sul oposto ao sentido no Hemisfério Norte, tendo a sua intensidade nula
na região do Equador.
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UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
Ar quente
(ascendente) Vento ascendente
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• Alísios: são as camadas de vento que se deslocam dos trópicos para as regiões
próximas à linha do Equador;
90º N
ZONA POLAR Ventos polares de leste
Ventos de oeste 66º N Círculo Polar Ártico
ZONA TEMPERADA
VENTOS ALÍSIOS
23º N Trópico de Câncer
ZONA INTERTROPICAL
0º Equador
ZONA INTERTROPICAL
90º S
30
30
35 30
40 45
35
45 40
50
45
50
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Nas áreas que são mais aquecidas o ar é mais quente. O ar que é mais quente se
expande, gerando movimentos. Este ar mais aquecido eleva-se, esfriando conforme
sobe. Na região mais aquecida da superfície se desenvolve um centro de baixa pres-
são, para aonde convergirá o ar das regiões vizinhas, através de deslocamento hori-
zontal. O ar aquecido sobe até atingir uma altura em que a sua temperatura e a do ar
atmosférico do local são iguais. Em altitude atmosférica se deslocará horizontalmente
no sentido oposto ao ar quente da superfície.
Vento de monções
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A brisa marítima ocorre durante o dia e a massa de ar atmosférico se desloca do
mar para a terra; isso acontece porque os raios solares aquecem a terra mais rapida-
mente do que a água, originando uma corrente de ar quente que sobe para maiores
altitudes. O lugar que ficou vago pelo deslocamento do ar aquecido é ocupado pelo
ar frio que estava sobre o mar.
A brisa terrestre ocorre durante a noite e se desloca da terra para o mar. À noite,
sem o calor do Sol, a terra esfria mais rapidamente que a água do mar. Assim, o ar
que está sobre o mar – sendo mais quente que o que está sobre a terra – sobe, e o
ar frio da terra se desloca para o mar.
Os ventos alísios são considerados ventos brandos, regulares e constantes. Sopram
constantemente dos trópicos para o Equador. Como são úmidos, provocam chuvas em
seus arredores.
Esses ventos brandos podem ser aproveitados para as atividades de lazer (tais
como empinar pipas, navegação à vela e a prática de windsurfe) e de trabalho
(navegação à vela para o transporte de mercadorias ou de pessoas, assim como ge-
rar energia utilizando a força do vento para fazer acionar bombas de água através de
moinhos de vento ou gerar energia elétrica).
Os ventos contra-alísios são secos; causam as calmarias tropicais secas e so-
pram do Equador para os trópicos, em altitudes elevadas.
Ventos de monções são os que, na estação de verão, sopram do Índico para a
Ásia Meridional; e durante a estação de inverno, sopram da Ásia Meridional para o
oceano Índico. As monções são classificadas como:
• Marítimas: são os ventos que sopram do Oceano Índico para o continente. pro-
vocam chuvas intensas na Ásia Meridional, causando enchentes e inundações;
• Continentais: são os ventos que sopram do continente para o oceano Índico,
provocando secas no Sul da Ásia.
Nas tempestades os ventos têm velocidade acima de 45 km/h. As tempestades
são relacionadas a chuvas fortes, raios, relâmpagos. Em geral, têm duração menor
do que 2 horas. Algumas tempestades intensas podem ser perigosas. Os tipos de
ventos mais perigosos são os seguintes: Ciclone; Furacão; Tufão; Tornado; Vendaval;
Willy-willy (Figura 12).
Ciclone Furação
Tipos de ventos
Willy-Willy Tufão
mais perigosos
Vendaval Tornado
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UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
Ciclone é a denominação genérica para ventos circulares que são fortes, sendo
caracterizado por ser uma violenta tempestade. Tratam-se de redemoinhos que ocor-
rem na atmosfera, girando em torno de um centro de baixa pressão atmosférica.
Furacões são ciclones que se formam nos oceanos tropicais. Têm origem nas
águas do Oceano Atlântico Norte e Oceano Pacífico Nordeste, a leste da linha inter-
nacional da data, e no Oceano Pacífico Sul, a leste da longitude 160° E. Geralmente
ocorrem entre os meses de junho a novembro.
Furacões perdem força quando chegam ao continente. Por isso, as cidades lito-
râneas são as que mais sofrem impactos com os ventos provenientes dos furacões.
Os ventos dos furacões são fortes e têm velocidade igual ou superior a 108 km/h,
podendo chegar a 360 km/h. A extensão dos furacões pode variar de 200 a 400 km.
No Hemisfério Sul giram no sentido horário e no Hemisfério Norte giram no sentido
anti-horário.
Tufões são também ciclones tropicais que têm as mesmas características dos fura-
cões. Ocorrem no Oceano Pacífico Noroeste, a oeste da linha internacional da data.
A sua incidência se dá principalmente ao sul da Ásia e na parte ocidental do Oceano
Índico, entre os meses de julho a outubro. Os tufões surgem no mar da China e atin-
gem o Leste asiático (Figura 13).
Tornados são menores e mais intensos que os outros tipos de ciclones. São con-
siderados os mais fortes dos fenômenos meteorológicos da natureza.
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em seu caminho. Forma-se em um intervalo de tempo entre 10 e 30 minutos, tendo
geralmente, no máximo, 10 km de diâmetro.
Os tornados têm dimensões menores e duração mais curta que outros tipos de
ciclones, cerca de alguns minutos como, por exemplo, os furacões. Geralmente
ocorrem nas zonas temperadas do Hemisfério Norte.
Vendavais são ventos fortes com grande poder de destruição. Podem atingir ve-
locidades de cerca de 150 km/h. Ocorrem, geralmente, no período da madrugada,
podendo ter duração de até 5 horas.
Por fim, willy-willy é o nome dos ciclones na Austrália e em outros países do Sul
da Oceania.
Vento
(Correntes de ar)
Vento Parede
A pressão causada na edificação pela ação do vento a barlavento pode ser sufi-
ciente para a derrubar. Caso a parede seja resistente à pressão de contato causada
pelas correntes de ar do vento, estas ascenderão para transpor o obstáculo.
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UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
Vento
(Correntes de ar)
Vento
Edificação
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Vento
(Correntes de ar)
Vento
Parede
Pressão de sucção
causada pelo vento
a sotavento
Figura 16 – Ação do vento a sotavento nas edificações
Devido à ação combinada de pressão e sucção do vento, devem ser tomados cuida-
dos adequados para que esses esforços não conduzam as estruturas ao colapso, princi-
palmente as mais leves como, por exemplo, as estruturas metálicas de galpões. Por isso
são colocados os contraventos verticais entre as colunas dos galpões (Figura 17).
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UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
Vento
(Correntes de ar) Teto
Vento Parede
Essa condição acontece nas edificações quando existem portas ou janelas abertas.
Se nesses ambientes existirem forros móveis, poderão ser deslocados para cima de-
vido à pressão interna exercida pelo vento.
A ação do vento com pressão interna nas edificações pode ser mais intensa se for
associada à ação do vento paralelo – esta situação pode ser verificada na Tabela 1:
Se não houver laje sólida entre as telhas e o ambiente interno, as telhas de barro
podem ser arrancadas devido à força combinada. Por exemplo, a telha de tipo
francesa pesa 43,2 kgf/m2 (432 Pa), podendo ser arrancada pela força combinada
(420 Pa). Em alguns locais com ventos fortes, torna-se necessário amarrar as telhas
cerâmicas nas estruturas com arame galvanizado.
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Tabela 2 – Exemplos dos pesos de telhas cerâmicas
Tipo de telha Rendimento Inclinação
Peso (kgf/m2) Peso (Pa)
cerâmica (peças/m2) mínima (%)
Norte-americana 12 a 13 30 36 360
Colonial 9 a 16 25 64 a 72 640 a 720
Francesa 16 40 44,8 448
Plan 26 25 39 390
Mediterrânea 13 a 14 30 39,7 397
Paulista 26 25 39 390
Portuguesa 15 a 17 30 41,6 416
Romana 15 a 16 30 41,6 416
No caso dos telhados executados com telhas de aço, alumínio e plástico, estas devem
ser fixadas às estruturas de cobertura através de ganchos – preferencialmente ganchos em
U (porque circundam o elemento estrutural e são fixados nas telhas em suas duas extre-
midades), através de porcas e arruelas – ou parafusos (no caso de estruturas de madeira).
Essa fixação com ganchos deve ser adequadamente calculada, a fim de que não ocorra a
ruptura do gancho, ou o puncionamento da telha no furo para a fixação do gancho.
Quando forem utilizados ganchos em J, devem ser dimensionados para que não
ocorra a sua abertura devido à força de sucção do vento nas telhas de cobertura.
Vento
Teto (Correntes de ar)
Vento
Parede
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UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
Assim, o vento que já passou pela edificação faz sucção a sotavento, puxando o
ar atmosférico que esteja dentro da edificação, criando uma região com pressão ne-
gativa. Nas edificações, os forros são puxados para baixo e nos galpões, o telhado.
As paredes são puxadas para dentro, podendo quebrar os vidros das janelas.
Vento Vento
(Correntes de ar) (Correntes de ar)
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Outras Possíveis Ações Combinadas do Vento nas Edificações
Na realização do cálculo estrutural deve-se analisar todas as possíveis combina-
ções, externas e internas, das ações do vento nas edificações.
Na análise estrutural da ação do vento devem ser examinados os condicionantes
locais, tais como o relevo topográfico do local do terreno, a possibilidade de existência
de obstáculos e edificações que possam aumentar a força dos ventos. Por exemplo, a
existência de uma depressão no relevo do terreno próximo à edificação poderá gerar
concentração do fluxo do vento, aumentando a carga de vento que agirá sobre as
superfícies a barlavento da edificação (Figura 22).
Vento
(Correntes de ar)
Vento Parede
Pressão de contato
causada pelo vento
a barlavento
Vento
(Correntes de ar)
Edificação
Vento
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UNIDADE Cargas de Vento em Edificações
Quando a edificação está isolada de outras construções, o vento tem o seu des-
locamento livre e age na edificação de forma uniforme. O vento atua a barlavento
e a sotavento.
Contudo, quando existem edificações próximas umas das outras, todas têm o efeito
de obstrução da trajetória do vento, gerando regiões de maior e menor pressão. Essa
condição cria vórtices e aumenta a velocidade do vento, provocando maiores pres-
sões nas edificações (Figura 24).
Vento
(Correntes de ar)
Edificação
Vento Edificação
Edificação
Para analisar condições mais complexas da atuação do vento, são utilizados mode-
los físicos em escala reduzida, que são ensaiados em laboratórios em equipamentos
denominados túnel de vento.
Nos túneis de vento é possível regular a velocidade do vento e a sua ação sobre
as edificações. Modelos físicos em escala reduzida são montados sobre plataforma
giratória, a fim de que seja possível avaliar o efeito do vento em qualquer ângulo
de incidência.
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Figura 25 – Pressão do vento em função da altura das edificações
Fonte: Adaptada da NBR 6123:2019
Considera fatores como a região do Brasil onde o vento é mais intenso, se o terre-
no no entorno da edificação é plano ou acidentado e a própria forma da construção.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Análise estrutural
KASSIMALI, A. Análise estrutural. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
Leitura
NBR 6118: projeto de estruturas de concreto – procedimentos
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: projeto de
estruturas de concreto – procedimentos. Rio de Janeiro, 2014.
https://bit.ly/2Qrt83R
NBR 6122: projeto e execução de fundações
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: projeto e
execução de fundações. Rio de Janeiro, 2010.
https://bit.ly/2EjW8aX
NBR 6123: forças devidas ao vento em edificações
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: forças
devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988.
https://bit.ly/3hxZqWG
NBR 6120: cargas para o cálculo de estruturas de edificações
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120: cargas para
o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 1980.
https://bit.ly/3gx0KIe
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Referências
PORTO, T. B.; FERNANDES, D. S. G. Curso básico de concreto armado: conforme
NBR 6118/2014. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.
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