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CAPITALISMO SELVAGEM 3:
Crônicas da Vida Corporativa e do Trabalho
1ª edição
São Paulo
Edição do Autor
2016
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Copyright © 2016 Thomaz Wood Jr.
Todos os direitos reservados
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida por qualquer meio ou
forma sem a prévia autorização do autor.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98
pelo artigo 184 do Código Penal.
ISBN 978-85-914912-2-3
Edição do autor
Fone 55 11 38 46 06 01
E-mail thomaz.wood@fgv.br
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Para Ana e Daniel, que ajudarão a construir um mundo melhor...
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SUMÁRIO
Apresentação, 007
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APRESENTAÇÃO
verdadeiros escravos.
trabalho impôs limites às empresas. Entretanto, não se pode dizer que o sistema
pessoal por valores empresariais e pelas práticas de controle social e cultural nas
empresas.
Este livro traz reflexões sobre essa realidade. Seu conteúdo foi gerado pela
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críticas, proporcionadas por pesquisadores e jornalistas que se dedicaram a
A obra está organizada em cinco partes: a primeira parte apresenta uma leitura mais
Boa leitura!
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PARTE 1: O CAPITALISMO SELVAGEM E A SOCIEDADE
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O incrível Ponzi
No início, havia o capital, o trabalho e as máquinas. Então, surgiu
Charles Ponzi, prometendo riqueza fácil e rápida, e o mundo dos
negócios nunca mais foi o mesmo.
Seu nome completo era Carlo Pietro Giovanni Guglielmo Tebaldo Ponzi.
Ele nasceu em Lugo, na Itália, em 1882, e morreu no Rio de Janeiro, então capital
federal dos Estados Unidos do Brasil, em 1949. No começo do século XX, o
irrequieto italiano abandonou a Universidade La Sapienza, em Roma, e partiu para
a América. Em 1907, mudou-se para o Canadá, onde se empregou em um banco,
recém-criado para atender aos imigrantes italianos que chegavam a Montreal. O
banco atraía depositantes com a promessa de pagamento de juros convidativos
sobre os depósitos. Mal gerido, acabou por ir à falência, quando a captação de
novos depósitos revelou-se insuficiente para cobrir a operação deficitária. O dono,
Luigi Zarossi, fugiu para o México com o dinheiro que conseguiu tomar.
Em 1934, Ponzi foi deportado para a Itália, onde tentou, sem sucesso, criar
novos negócios. Terminou a vida debilitado, praticamente cego e miserável, no Rio
de Janeiro. Deixou para a posteridade o livro The Rise of Mr. Ponzi: The Autobiography
of a Financial Genius. Ponzi termina sua obra em grande estilo: “Meu castelo de
cartas entrou em colapso! A bolha estourou! Eu perdi! Perdi tudo! Milhões de
dólares. Crédito. Felicidade. E até minha liberdade! Tudo, exceto minha coragem.
[...] Vida, esperança e coragem são uma combinação que não conhece derrota.
Talvez, contratempos temporários, mas uma derrota final e permanente, jamais!".
O autor e a obra parecem ter inspirado muitos seguidores, acima e abaixo da linha
do Equador.
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Embora tenha sido descrito como um idiota financeiro por um assessor, Ponzi se
achava um mago, um visionário. Nunca admitiu que seu sistema estivesse fadado
ao fracasso ou teve clareza moral para admitir que fosse um charlatão. Ponzi não
foi capaz de sentir remorsos pelo que fez e pelas perdas e sofrimento que causou.
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Os mortos-vivos
Zumbis tornaram-se figuras onipresentes nas telas e em livros. Mas
agucemos o olhar e notaremos que a vida imita a arte: as paradoxais
criaturas estão tomando as escolas, as empresas e as cidades.
Juan de los Muertos segue a onda de filmes e livros que exploram, para fins de
parábola, metáfora ou sátira, os mortos-vivos. Nas telas, George A. Romero é
comumente apontado como o responsável pela popularidade das criaturas. O
diretor nova-iorquino realizou, em 1968, A Noite dos Mortos-vivos, que se tornou
objeto de culto entre os aficionados do gênero. Muitos outros seguiram seus
passos.
O que explica nossa fascinação com tais criaturas? Para alguns, nosso
interesse vem do medo da própria morte. Outros veem a popularidade dos zumbis
como reflexo de uma época na qual a humanidade se depara com os limites físicos
da própria Terra e com a possibilidade real de extinção da vida no planeta. Filmes e
livros são espaços vivenciais fechados, nos quais podemos projetar nossos medos e
angústias, reais ou imaginários, e vê-los resolvidos pela ação engenhosa de heróis.
Também no caso dos zumbis, a vida imita a arte. Basta aguçar o olhar o
mirar o mundo ao redor para constatar que vivemos cercados por hordas que
poderiam integrar os bandos de mortos-vivos de Juan de los Muertos ou estrelar
qualquer filme de George A. Romero. Cuba é aqui. Não tivemos cinco décadas de
socialismo, porém a combinação local de cleptocracia política, autismo social e
indigência cultural provocaram efeito similar.
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teclados de smartphones e a mente flana sem direção por espaços virtuais e mídias
sociais. Zumbis operários simulam trabalho nas estatais, nas linhas de montagem e
nas centrais de atendimento. Zumbis emergentes vagam pelos shopping centers, os
olhos vidrados nas vitrines.
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Voando solo
Sociólogo norte-americano revela que cada vez mais pessoas vivem
voluntariamente sozinhas. O fenômeno relaciona-se a mudanças na
sociedade e na vida profissional.
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Entretanto, segundo Klinenberg, tudo isso está mudando. Nas últimas
décadas, houve um aumento expressivo do número de homens e mulheres que
passaram a viver voluntariamente sozinhos. O fenômeno é consequência do
desenvolvimento econômico, que permite maior autonomia; da superação da lógica
econômica do casamento, que dá maior liberdade às pessoas para buscarem
arranjos alternativos; da urbanização, que adensa as comunidades humanas; e da
evolução das tecnologias de informação e de comunicação, que facilitam a interação
entre as pessoas. Resultado: estamos casando mais tarde, prolongando o período
entre o divórcio e o novo casamento, ou evitando um novo casamento, e
escapando o quanto possível da possibilidade de viver com outra pessoa. É o novo
solteirismo!
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Nas empresas, depois de seguidas ondas de reestruturações, enxugamentos e
terceirizações, os empregos “para toda a vida” estão quase extintos.
Paradoxalmente, empresários e executivos continuam esperando alto grau de
envolvimento e comprometimento de seus funcionários, e frustram-se quando não
os conseguem. Com a ajuda de asseclas de recursos humanos, tentam tapar o sol
com a peneira, programando palestras motivacionais, abraçando árvores e
promovendo interlúdios culturais. Pouco adianta.
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O self tercerizado
Mais um avanço do mercado sobre o indivíduo: a onda agora é
terceirizar atividades e responsabilidades da vida privada para prestadores
de serviços.
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O fenômeno da terceirização é substantivo e relaciona-se a mudanças
econômicas amplas. Curiosamente, conforme aconteceu com outras práticas e
termos originados na vida corporativa, também a terceirização invadiu a vida
privada. Como em outros casos, a nova onda deu-se pela oratória onipresente dos
gurus, por meio dos livros de gestão e pela ação da irritante mídia de autoajuda.
De fato, a facilidade com que acessamos hoje os mais variados serviços nos
impede de perceber o quanto foi transformada a noção do que deve ou não deve
ser alugado ou comprado. O que nos reserva o futuro? Muitas empresas avançaram
tanto na terceirização que se tornaram cascas vazias, a zelar pela marca e pela
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imagem, e observar a distância as atividades físicas de produção, transporte e
distribuição. Seguirão os indivíduos a mesma trilha? Seremos, no futuro, apenas
gestores de uma marca pessoal, terceirizando atividades físicas e emocionais para o
mercado? Ao observar o comportamento de torcedores de equipes de futebol, tem-
se a impressão que o futuro é aqui, agora.
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Compra-me ou devoro-te!
Mais um dia, mais um shopping center: no Brasil, como em outros países
em desenvolvimento, a onda consumista continua em alta, porém sinais
de ressaca pontuam o horizonte.
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maiores centros comerciais do mundo estão em países em desenvolvimento, tais
como China, Filipinas, Malásia, Tailândia, Turquia e Indonésia.
True Storie, filme de 1986, dirigido e estrelado por David Byrne, apresenta
uma divertida colagem de personagens e histórias passadas na cidade fictícia de
Virgil, no Texas. O centro comercial da cidade é o ponto de encontro dos
personagens, referência central de suas existências. Poderia estar em qualquer lugar
da Terra, ou aqui e agora.
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Reza uma jocosa definição que a cultura do consumo é um amálgama de
valores e comportamentos que se sustenta em três pilares: a mídia, o automóvel e o
cartão de crédito. A mídia, especialmente a TV, diz às hordas o que comprar e onde
encontrar; o automóvel as transporta até as fontes; e o cartão de crédito viabiliza a
transação, mesmo que o cidadão não tenha fundos.
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Procuram-se cidadãos
Ligeiras considerações sobre um grande país sul-americano de muitas
cidades e escassa cidadania.
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fazer jus a seus direitos. Em nações multifacetadas em termos de religiões, etnias e
culturas, a cidadania pode ser o elo a sustentar a sociedade.
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letra é simples e cativante: "Agora pode tomar banho, Agora pode sentar para
comer, Agora pode escovar os dentes, Agora pega o livro, pode ler...", e assim
segue, com pequenos prazeres e deveres: comer chocolate e fazer a lição, pular no
sofá e arrumar o quarto, sujar de lama e amarrar o sapato. O refrão segue a receita,
simples e direto: "É sinal de educação, fazer sua obrigação, para ter o seu direito de
pequeno cidadão". A singela canção representa a tênue esperança que a nova
geração do citado país sul-americano reverta o desalentador quadro criado pelas
hordas que a antecederam.
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Procuram-se trabalhadores
Muitos profissionais brasileiros precisam enfrentar um fato da vida: não
basta ter emprego; é preciso também trabalhar direito!
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o emprego, quer o salário, a segurança e o consumo que vêm do salário. Muito
justo. Mas não parece querer a labuta justa que vem com o emprego.
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Meritocracia tropical
A maneira como tratamos a questão da mobilidade por mérito reflete
busca de sínteses improváveis e coexistências inviáveis.
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No século XIX, os países europeus e os Estados Unidos superaram o
sistema de distribuição de cargos e funções públicas aos vencedores das eleições.
No Brasil, copiamos sem muita vontade os precursores: a meritocracia tornou-se
um critério apenas eventualmente aplicado, em permanente disputa com o
fisiologismo e as cotas políticas.
Lívia Barbosa conclui que o debate atual não vem acompanhado por uma
demanda coletiva pela meritocracia, seja na esfera pública ou nas empresas
privadas. Segundo a antropóloga, uma análise da história brasileira revela que a
introdução de critérios relacionados à meritocracia ocorreu em diversos momentos,
porém sempre de cima para baixo, sem nunca permear de maneira consistente o
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tecido social. Assim, passou a conviver com valores e práticas existentes,
frequentemente de maneira ambígua e paradoxal.
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Ignorância financeira
Pesquisas realizadas em 12 países sugerem que a maioria das pessoas não
sabe cuidar de seu dinheiro.
O tema das finanças pessoais chegou aos trópicos na década passada, pela
porta da autoajuda. A onda repetiu outras tantas, com livros, vídeos, palestras e,
obviamente, gurus. As livrarias de aeroporto encheram-se de títulos apelativos
como: Pai Rico, Pai Pobre, Como Gastar sem Culpa e Investir sem Erros, Casais Inteligentes
Enriquecem Juntos e Os Segredos da Mente Milionária.
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Annamaria Lusardi, da Universidade George Washington, e Olivia S.
Mitchell, da Universidade da Pensilvânia, publicaram no Journal of Economic
Literature, no início de 2014, um artigo sobre a importância da educação financeira.
O texto compila investigações realizadas entre 2011 e 2013 em 12 países. Os
resultados são preocupantes. As pesquisas foram baseadas em três questões
simples, envolvendo conhecimentos sobre juros, inflação e ações:
1. Suponha que você tivesse $ 100 em uma conta poupança e que a taxa de juros fosse
2% ao ano. Após 5 anos, quanto você acredita que teria na conta se deixasse o
dinheiro render? A. mais do que $ 102; B. exatamente $ 102; C. menos do que $
102; D. não sei, recuso responder.
2. Imagine que a taxa de juros na sua conta poupança seja 1% ao ano e a inflação seja
2% ao ano. Depois de um ano, você poderia comprar, com o dinheiro dessa conta
poupança: A. mais do que hoje; B. exatamente o mesmo que hoje; C. menos do que
hoje; D. não sei, recuso responder.
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educacional: as mulheres, os mais velhos e aqueles com menor nível de educação
formal tiveram piores resultados nos testes. No entanto, as mulheres parecem ser
mais conscientes de sua condição, o que as torna mais cautelosas e mais abertas à
educação financeira.
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A culpa não é só das estrelas
No debate sobre competitividade, as empresas, supostas vítimas, podem
não ser tão inocentes quanto parecem.
Não faltam índices e pesquisas para comprovar o que até os botões dos
ternos dos empresários sabem: fazer negócios no Brasil não é para principiantes.
Nos rankings de competitividade e assemelhados, ficamos sempre em posição
vexatória, incompatível com o porte e diversidade de nossa economia. Melhor que
a Ucrânia, a Síria e o Iraque, dirão os otimistas crônicos, mas longe de qualquer
parâmetro razoável. Bons exemplos não faltam, tanto entre países pequenos, como
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a Suíça e Singapura, como entre gigantes, como Estados Unidos e Alemanha, mas
parece haver uma resistência matuta a adaptar e incorporar boas práticas.
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mais confusão, e pela presença de numerosos agentes do caos, profissionais e
executivos turvos e confusos, que parecem não ter outra função a não ser criar
projetos impossíveis e iniciativas inviáveis.
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Sobre mentiras e estatísticas
A influência do consumo de margarina sobre a taxa de divórcios e outras
correlações espúrias.
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Alguns resultados transcendem a academia e são filtrados, reembalados e,
vez por outra, distorcidos pelas mídias de massa. O que é uma causa provável,
aplicada a uma amostra restrita, pode, pela força de uma manchete, tornar-se
verdade absoluta e influenciar opiniões e comportamentos. O uso espúrio que
fazemos da estatística provavelmente faria Disraeli e Twain contraírem cinicamente
a sobrancelha esquerda, ou a direita, ou ambas. Mas esta é correlação difícil de
comprovar.
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O espírito (em crise) do capitalismo
Pensamentos imperfeitos sobre a fortuita relação entre o aquecimento
global e o resfriamento da ética do trabalho.
Durante o século XX, o tal espírito capitalista levou a uma geração sem
precedentes de riqueza. Melhorou a vida de centenas de milhões de seres humanos.
Ajudou a vencer guerras quentes e frias. No entanto, no final do século, suas
conquistas já eram criticamente pesadas contra os desastres deixados em seus
rastros: a desigualdade, o esgotamento dos recursos naturais, o aquecimento global
e a ameaça às futuras gerações.
Roland Paulsen, autor do livro Empty Labor: Idleness and Workplace Resistance,
observa que, embora alguns estudiosos denunciem a intensificação do trabalho e o
aumento das patologias ocupacionais, outros argumentam que o culto à preguiça
está bem instalado nas empresas. De fato, algumas pesquisas revelam que
empregados gastam até três horas por dia de trabalho com atividades privadas.
Visitas a lojas virtuais e websites pornográficos acontecem principalmente durante o
horário comercial. Além disso, a proporção de profissionais que declaram que
nunca trabalham muito é sempre superior à proporção de profissionais que
afirmam o contrário.
Paulsen cita casos curiosos: um funcionário público alemão que declarou ter
passado os últimos 14 anos de sua carreira sem realizar nenhum trabalho real; um
inspetor de impostos finlandês que morreu no escritório, fato que foi descoberto
apenas dois dias depois de ocorrido; e o cartunista Scott Adams, criador do
personagem Dilbert, que afirmou ter trabalhado 16 anos em grandes corporações
fingindo “adicionar valor”.
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do trabalho é visto com curiosidade. No hemisfério sul, onde quase tudo está por
fazer e, quando é feito, é mal realizado, custa caro e destina-se à elite, o tema ganha
relevância moral.
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Soluções mágicas, mudanças incertas
Estudo veiculado pela revista científica Nature relaciona cultura de
negócios e desonestidade.
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Entretanto, não altera necessariamente as raízes do comportamento. Muitos
comportamentos percebidos de fora como desviantes são aceitos ou minimizados
internamente. Por outro lado, chegar ao extremo de extinguir a organização pode
gerar um custo considerado intolerável pelos agentes econômicos e sociais. A
alternativa é, portanto, iniciar um amplo e longo processo de mudança, fazendo
mover simultaneamente várias frentes: governança e transparência, controle e
punição, liderança e outras mais. Há, naturalmente, quem prefira opções mais
simples e diretas para mudar o estado das coisas, porém, para acreditar em sua
efetividade, é preciso crer também em fadas e duendes.
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Anarquia e controle
Lições para líderes: filmes de J. C. Chandor mostram a incerta batalha
dos homens para manter a ordem em meio ao caos ao redor.
David Denby, veterano crítico da revista The New Yorker, observou que a
forma como Chandor lida com o enredo clássico de ambição, tentação e violência
(que já rendeu dezenas de filmes noir, thrillers e filmes de gângsteres) é mais seco,
sutil, realista e com mais nuances morais que seus predecessores. A Most Violent
Year contém cenas de violência, porém o que sustenta a narrativa são negociações
duras e ameaças veladas.
Orr argumenta que a luta dos homens para manter controle em meio ao caos
ao redor tem sido o grande tema dos filmes de Chandor. Os personagens de Margin
Call tentam sobreviver, e até tirar vantagens, da tempestade na indústria financeira,
criada por eles mesmos. Morales quer mais e aprende rapidamente que nada é mais
perigoso do que tentar alterar o estado das coisas. All is Lost, longe dos escritórios,
é uma fábula sobre o mesmo tema.
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Universal, o tema aplica-se diretamente ao mundo dos negócios. Livros de
autoajuda e parte considerável da literatura científica sobre gestão vendem a utopia
de um mundo controlável, do sucesso que pode ser obtido por trabalho duro,
pensamento analítico e comportamento racional. Algumas dessas obras são
exercícios de puro ilusionismo. Outras apostam na simplificação da realidade e na
premissa de que a racionalidade do management pode salvar o mundo. Falta-lhes
contato com o mundo real, o que parece sobrar nos filmes de Chandor. Mais vale
um Chandor na tela que três Porters na prateleira.
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O trabalho nas telas
Documentários indicados ao Oscar fazem refletir sobre o sentido da
labuta.
The Salt of Earth e Finding Vivian Maier retratam duas trajetórias diferentes de
busca do sentido do trabalho. Sebastião Salgado projeta em deslumbrantes imagens
suas convicções, sua sensibilidade e a técnica de um incansável artesão. Tem na
companheira Lélia Wanick Salgado o par ideal, a construir a ponte entre a ideia e o
projeto, entre o registro e a audiência. Especular sobre a enigmática Vivian Maier é
um risco, mas não deixa de ser sedutor vê-la como profissional de pureza singular,
a preservar seu trabalho do mundo ao redor, um mundo que poderia ignorá-lo ou
celebrá-lo, ou pior, nele interferir.
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Sorte nossa que Salgado enfrentou seus fantasmas e continua a nos despertar
profundas emoções e reflexões. Sorte nossa que Meier preservou, durante décadas,
sua capacidade de captar com sensibilidade e sobriedade o cotidiano, e agora nos
ofertou um magnífico presente. Talvez Maier seja desconcertante porque, como
sugeriu Rose Lichter-Marck, na revista The New Yorker, ela não se ajusta à ideia que
fazemos do que um artista, uma pessoa ou uma mulher deveriam ser. Ela
aparentemente não se interessava por dinheiro ou por mostrar suas imagens.
Porém, garantiu a si mesma total liberdade para fazer seu trabalho: fotografar.
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A era da impaciência
Economista inglês sugere que a revolução da informação gera custos
cognitivos que podem comprometer o crescimento econômico.
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Qual a fonte primária do crescimento econômico? Em uma palavra:
paciência. É a paciência que permite poupar, o que, por sua vez, financia os
investimentos que resultam no crescimento. Combinada com a inovação
tecnológica, a paciência move montanhas. Existem também, lembra Haldane,
fatores endógenos: educação e habilidades, cultura e cooperação, infraestrutura e
instituições. Todos esses fatores se reforçam mutuamente e funcionam de maneira
cumulativa. Pobres os países que não conseguem desenvolvê-los.
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Os efeitos são preocupantes: a impaciência em crianças prejudica a educação
e cerceia o potencial. Nos adultos, a impaciência reduz a criatividade, freando a
roda que gera o desenvolvimento do capital intelectual e a inovação, e colocando
em risco o crescimento econômico futuro.
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Chamem as meninas!
Pesquisa científica sugere que a presença de mulheres em cargos de
direção reduz a probabilidade de fraudes.
Wall Street (de 1987, dirigido por Oliver Stone) traz Michael Douglas como o
lendário Gordon Gekko, filósofo da ganância, rei da informação privilegiada e
mestre da arte do enriquecimento fácil e ilícito. Others People’s Money (de 1991,
dirigido por Norman Jewison) tem Danny DeVito como Lawrence “Larry the
Liquidator” Garfield, uma ave de rapina que busca vítimas entre empresas da
economia real.
Rogue Trader (de 1999, dirigido por James Dearden), baseado em história real,
traz Ewan McGregor como Nick Leeson, um investidor jovem e “brilhante”, cujas
estripulias maravilharam seus chefes e levaram o mais antigo banco de
investimentos britânico à bancarrota. Boiler Room (de 2000, dirigido por Ben
Younger), com Giovanni Ribisi, Vin Diesel e Ben Affleck, retrata as façanhas de
um grupo de jovens corretores que mentem, chantageiam e roubam para ganhar o
primeiro milhão de dólares, enquanto vendem ações sem valor a vítimas
desavisadas.
Margin Call (de 2011, dirigido por J. C. Chandor), estrelado por Kevin
Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons e Zachary Quinto, disseca a lógica perversa por
detrás das operações de uma instituição financeira em crise. The Wolf of Wall Street
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(de 2013, dirigido por Martin Scorsese), com Leonardo DiCaprio, narra as
peripécias amorais e fraudulentas de Jordan Belfort, um corretor de valores que
atuou com sucesso até ser desmascarado e processado.
Agora, das telas para a vida real. Gillian B. White, escrevendo para o website
da revista The Atlantic, em fevereiro, trata da importância do papel do CFO (Chief
Financial Officer), ou diretor financeiro, no combate a fraudes. O autor comenta
estudo realizado pela empresa de auditoria e consultoria Ernst Young, em 2012,
que revelou que 15% dos CFOs reconheceram que cometeriam fraudes para
ganhar negócios. E o resultado pode ser apenas a ponta do iceberg. A mesma
pesquisa indicou que 39% dos respondentes acreditavam que práticas de suborno e
corrupção eram frequentes em seus países. Entre os respondentes brasileiros, o
percentual foi 84%. Nenhuma surpresa!
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O estudo faz eco a pesquisas anteriores, que demonstram que a composição,
em termos de gênero, dos profissionais da diretoria de uma empresa afeta a forma
como o grupo toma decisões. White observa que “mulheres são mais orientadas
pelo desejo de crescimento e desenvolvimento, enquanto homens são geralmente
mais orientados pela busca do dinheiro e do poder – o que pode levar homens a
tomar decisões baseadas estritamente em raciocínios econômicos em lugar de
outros fatores, tais como senso de justiça e de decoro”.
O trabalho de Yang, Kelton e Evans também sugere que ter uma mulher em
um cargo de liderança pode não ser suficiente para garantir comportamentos éticos.
Isso ocorre porque minorias podem ser alienadas ou ignoradas em processos
fechados de tomada de decisão. É preciso ter uma massa crítica, mais de 30% de
mulheres, para influenciar positivamente o comportamento do grupo.
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A igreja da diversão tecnológica
As palestras do TED, populares nas redes sociais, misturam ciência e
entretenimento.
Por detrás desse fenômeno, está uma entidade criada há pouco mais de 30
anos. O TED (Technology, Entertainment, Design) é uma organização privada sem fins
lucrativos, fundada no Vale do Silício, nos Estados Unidos. Seu lema é “ideias que
merecem ser disseminadas”. Os vídeos são gravados em seus eventos, que se
multiplicaram nos últimos anos na América do Norte, na Europa e na Ásia.
Megan Garber, uma jornalista da revista The Atlantic, certa vez argumentou
que o TED funciona como instância de validação para o caótico mercado de novas
ideias. Entretanto, as palestras e seus vídeos não são expressão direta e transparente
das ideias, mas, sim, conteúdos editados, empacotados e associados a um
personagem. Um show típico do TED tem narrativa didática, humor cativante e um
narrador simpático, intimamente ligado à ideia apresentada. Sugere, assim, que
grandes ideias estão sempre relacionadas a gênios criativos.
Megan Hustad, escrevendo para o jornal The New York Times, reconheceu nas
palestras TED a cadência adotada pelos missionários evangélicos, com suas
promessas vaporosas. Ela não considera adequado afirmar que as conferências e os
vídeos funcionam como uma igreja organizada. Entretanto, sugere que
compreender as similaridades entre os dois sistemas ajuda a entender como o estilo
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adotado nas palestras, com suas promessas de soluções para os problemas do
homem e do mundo, é manipulativo.
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A Plutonomia e o Precariado
A estrutura social está ficando cada vez mais parecida com a hierarquia
corporativa.
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A contrapartida da Plutonomia é o Precariado, formado por um contingente
que vive em condições de insegurança e incerteza, e tende a crescer e tornar-se
componente relevante da estrutura social. O economista Guy Standing é autor do
mais conhecido livro sobre o tema: The Precariat: The New Dangerous Class, publicado
em 2011. Standing advoga que a transformação global da economia está gerando
uma nova estrutura de classes, que substitui a anterior, cuja espinha dorsal era
formada pela burguesia e pelo proletariado.
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O pastor e os CEOs
David Brooks sugere o caminho para o caráter. Na contramão,
presidentes de empresas exibem seu narcisismo patológico.
Tivesse Brooks seguido outro caminho, e buscado ilustrar seu ponto de vista
com figuras que refletem e sustentam a sociedade narcísea, não lhe faltariam
exemplos. Em um texto publicado pela revista acadêmica Business and Management
Review, José Samuel de Miranda Melo Júnior e Carlos César Ronchi, dois
pesquisadores do Maranhão, realizam essa tarefa. Os autores tomaram como lente
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teórica a literatura que estuda o narcisismo nas organizações. Eles analisaram
dezenas de entrevistas de CEOs de grandes empresas brasileiras, concedidas a
revistas e jornais de grande circulação. O resultado é tragicômico.
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Parecem ser comportamentos comuns dos executivos buscar obsessivamente a
glória, inflar suas realizações e polir com esmero sua própria imagem.
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O fim do trabalho?
Tendências econômicas e tecnológicas sugerem a acentuação do declínio
dos empregos estáveis, de tempo integral.
A crise econômica do final dos anos 2000 e a presente recessão brasileira nos
relembraram do drama do desemprego. Quando cortam quadros ou encerram
atividades, as empresas projetam uma sombra sobre as comunidades: a arrecadação
diminui, o consumo cai, os serviços básicos são afetados, a coesão cultural é
enfraquecida e multiplicam-se patologias sociais e os dramas pessoais.
O trabalho preenche três funções sociais: é uma forma pela qual a economia
produz bens, um meio pelo qual as pessoas garantem seu sustento e uma atividade
que provê sentido e propósito para a vida das pessoas. O que ocorrerá se as três
tendências acima mencionadas se aprofundarem? A primeira função social parece
cada vez menos dependente de trabalhadores. A economia poderá continuar
produzindo bens, com menor número de empregos. Porém, sem salário, quem os
consumirá? A segunda função social poderá ser substituída, uma vez que há outras
atividades que podem prover sentido e propósito para os indivíduos. Mas o que
ocorrerá com a terceira função social? Como continuar garantindo o sustento sem
uma oferta condizente de empregos?
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madura e as redes de proteção social, aliadas a certa criatividade individual e doses
crescentes de empreendedorismo, poderão tornar a vida na informalidade laboral
passável, até recompensadora. Nos países em desenvolvimento, a transição poderá
ser mais dura e trágica.
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A polêmica arte da persuasão
Livro analisa obras seminais que ajudaram a moldar a visão crítica sobre
a publicidade e o consumo.
Experiente cientista social, Durand foi rigoroso em sua missão. Cada época
foi explorada em suas características econômicas, sociais e culturais. Cada autor
recebeu uma minibiografia, que contextualiza ideias e livros. A trajetória tem início
com os “anos dourados”, período que vai do término da Guerra Civil até o fim do
século XIX, marcado pela acumulação de capital e pela concentração econômica.
Cruza períodos de depressão e prosperidade. O epílogo traz o leitor aos dilemas e
grandes questões dos nossos dias: neoliberalismo, ordem corporativa, religião,
consumo e cidadania.
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De Vance Packard, o autor destaca o papel da publicidade de manter a
audiência atenta ao que se situa acima de seu nível de consumo: “Nos últimos anos,
[os publicitários] têm estado muito ocupados tratando de descobrir coisas
relacionadas com classe social e status, e aplicar suas descobertas para dar forma a
seus apelos de venda”.
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Procuram-se líderes
Divagações imperfeitas sobre o nebuloso fenômeno do colapso da
liderança.
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A partir dos anos 1990, ganharam popularidade os estudos sobre o carisma
dos líderes: sua suposta capacidade de inspirar os liderados a atingir níveis mais
altos de desempenho. Tomaram também a ribalta os estudos sobre o chamado líder
transformacional, aquele capaz de conduzir processos amplos e desafiadores de
mudança nas organizações.
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Quando o poder de definir a realidade é perdido, grupos de liderados
permanecem operando sem direção. Frequentemente, emerge uma disputa entre
aspirantes a líderes. Tais situações podem perdurar, gerando o caos.
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Uma nação de videotas
Muitos profissionais portam-se no trabalho como se estivessem diante da
TV, a aguardar estímulos para sorrir, sofrer e agir.
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A perspectiva da cultura leva a perceber que toda organização funciona
como uma tribo, habitando uma caverna, com costumes, rituais e comportamentos
específicos. O que é normal para uma organização pode parecer excêntrico ou até
mesmo absurdo para outra.
Ainda nos anos 1980, a Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, divulgou
estudo revelando traços negativos da “gestão à brasileira”: predomínio da visão de
curto prazo, desamor pelo planejamento, centralização das decisões, tendência para
o autoritarismo e delegação para cima, o impulso de empurrar as decisões mais
relevantes e arriscadas para outrem.
De lá para cá, muita coisa mudou, porém alguns traços resistiram ao tempo.
Em um texto publicado em 2015 no jornal Valor Econômico, Betânia Tanure, que
vem estudando a questão da cultura organizacional há décadas, conclama os povos
locais a trocar a passividade pelo protagonismo. A consultora refere-se a mais um
traço da cultura brasileira: a postura de espectador. Esse traço manifesta-se,
segundo ela, de modo independente do nível hierárquico e reflete-se em
comportamentos como passividade, baixa iniciativa e a tal da delegação para cima.
Tanure atribui esse traço à nossa longa convivência com o autoritarismo, que
cerceia a visão crítica e estimula o conformismo.
80
dessas listas são vazias e inócuas, frutos das mentes de redatores criativos. Outras,
entretanto, refletem desejos sinceros (quiçá ingênuos) de estimular mudanças. As
semelhanças entre as listas podem ser mais do que coincidência. Nove entre 10
listas contêm itens como capacidade de tomar a iniciativa, foco no resultado e
protagonismo. Na mira: o combate à postura de espectador.
81
O futuro do trabalho
Tendências observadas nas indústrias criativas sugerem o que está por vir
em outros setores.
82
Nas indústrias musicais, a tecnologia barateou a produção e transformou a
distribuição. As gravadoras e as lojas de discos deixaram o palco. Empregos foram
perdidos, mas não necessariamente os empregos dos artistas. Os músicos deixaram
de ganhar dinheiro com discos e voltaram seu foco para as apresentações ao vivo.
A queda de renda de uma atividade foi compensada pelo aumento de renda na
outra. Além disso, a redução dos custos de produção e de distribuição permitiu aos
músicos gravar e disponibilizar suas obras com facilidade e baixo custo.
83
A tendência da chamada “carreira portfolio”, na qual o profissional é
empreendedor de si mesmo e gerencia diferentes atividades e projetos, não é nova
nem é exclusiva das indústrias criativas. Muito antes da internet, músicos e outros
artistas dividiam seu tempo entre diferentes atividades. Médicos e consultores há
muitos anos administram múltiplas frentes de trabalho.
84
PARTE 2: O CAPITALISMO SELVAGEM E AS EMPRESAS
85
Os novos quebra-galhos
Pressões externas, combinadas com caos interno, estão levando à
transformação de uma velha prática social em uma nova função
gerencial.
No filme What Just Happened (no Brasil: Fora de Controle), Robert De Niro
interpreta Ben, um produtor de cinema de Hollywood. A obra, dirigida pelo
veterano Barry Levinson, registra as desventuras do acossado personagem entre
egos incontroláveis, personalidades excêntricas e tipos extravagantes.
Ben é o centro (vacilante) de forças opostas. Seu filme mais recente está
passando por testes cruciais de público, antes do lançamento. A plateia reage
friamente e choca-se com o final sangrento. O instável diretor inglês luta para
manter a concepção “artística” original. De olho no provável desastre de bilheteria,
o estúdio pressiona por mudanças no final do filme. O diretor reage como prima-
dona contrariada, mas simula aceitar os cortes.
87
Tornar-se um quebra-galho não é para qualquer um: é preciso reprimir o ego
e manter o autocontrole, mesmo diante de calamidades iminentes. Além disso, é
preciso adotar o estilo 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana). Ele (ou ela)
precisa estar permanentemente conectado. Seu melhor amigo é o smartphone. Seu
pesadelo recorrente é ficar confinado em um local sem sinal para o celular. Um
verdadeiro quebra-galho não relaxa jamais.
A dedicação total tem seu preço: o fim da vida privada. Com o passar do
tempo, a intensa atividade interfere no metabolismo e causa dependência. Fica cada
vez mais difícil viver sem o ritmo marcado pelos desafios e sem a satisfação das
pequenas vitórias. O seu trabalho é reconhecido, mas a recompensa não é certa. Os
lauréis costumam ser transferidos para os andares superiores da pirâmide
corporativa.
88
Afogando-se em números
Alguns gestores públicos parecem fascinados com certas práticas de
empresas privadas. Antes de adotá-las, seria prudente conhecer os efeitos
colaterais.
89
Há vários pontos comuns entre os dois casos: primeiro, o uso de sistemas
unificados de avaliação escolar; segundo, a utilização de indicadores de
desempenhos para medir e comparar resultados; e terceiro, a pressão pela melhoria
dos resultados, que podem condicionar os recursos alocados para as escolas. Até aí,
nada de errado: tudo soa racional e razoável. De fato, decidir de modo
transparente, com base em fatos e números, é premissa para realizar uma boa
gestão, alocando recursos da melhor maneira possível.
O observador acidental, que deitar sua vista sobre uma moderna corporação
privada, nela observará números em harmonia, cientificamente desdobrados e
controlados, cada profissional ciente de suas metas e responsabilidades. No
entanto, uma visita mais atenta possivelmente lhe revelará uma realidade
desconcertante, povoada por executivos que manipulam resultados financeiros para
engordar seus bônus, gerentes que escolhem deliberadamente indicadores que lhes
favorecem a avaliação de desempenho, e profissionais que distorcem metas e
90
escondem números conforme sua conveniência. Maior a pressão por resultados,
maior a tendência para maquiá-los.
91
A vista da cobertura
Pesquisa revela a visão de presidentes de empresas sobre oportunidades
e desafios do cenário econômico além das turbulências imediatas.
Presidentes de empresas compõem uma casta à parte. Eles têm funções vitais
similares às de outros mortais, porém algo genético, comportamental, astrológico
ou paranormal separou-os de seus semelhantes e colocou-os em um
compartimento especial do planeta, um andar superior. Um aspecto da vida no
topo é inegavelmente um privilégio: a vista. Pois os habitantes da cobertura estão
ao menos um andar acima de seus semelhantes. De sua torre de observação, eles
veem tempestades aproximando-se, aproveitadores espreitando, políticos
conspirando, corruptos tramando, lobistas interferindo e seus pares observando-os.
De fato, a vista da cobertura é parte essencial e estratégica de sua função. Sem a
vista ampla, eles não poderiam decidir e agir.
93
A questão do relacionamento com o governo emerge como tema essencial
para garantir a competitividade, em áreas tais como educação, saúde e
infraestrutura. Naturalmente, a relação com o poder público é delicada, um pântano
no qual vicejam lobistas inveterados e corruptos famintos. Ainda que não faltem
motivos para aproximação, a relação é difícil e cheia de interesses conflitantes.
Anda assim, conforme observou Marcelo Odebrecht, um presidente brasileiro
entrevistado, as parcerias público-privadas possibilitam fazer certos investimentos
com alocação ótima de riscos e responsabilidades, liberando os recursos do
governo para a área social.
94
A fatiga do decisor
Casar ou comprar uma bicicleta? Eis a questão. Estudos científicos
revelam como o cansaço mental interfere em nossa capacidade de tomar
decisões.
O prezado leitor deve lembrar-se de ocasiões nas quais foi torturado por
uma decisão, ou por uma série delas. Por exemplo, a compra de um novo
computador. O simples mortal que se aventurar em um site de compras ver-se-á em
um labirinto de informações e alternativas. Cansado e humilhado, talvez tenha que
ser salvo por um sobrinho nerd. Outro exemplo fatídico: as decisões de
95
investimentos. O feliz herdeiro de um tio-avô distante provavelmente verá a sua
alegria financeira transformar-se em profunda angústia quando tiver que enfrentar
um gerente de aplicações, com sua conversa cifrada, seus números disparatados e
suas taxas ocultas. E mais um exemplo, ainda mais tenebroso que os anteriores: as
festas de casamento. Organizar tais eventos, com restrição de recursos e sob
intensa pressão familiar, constitui desafio para o qual poucos estão preparados.
Fazer lista de convidados, escolher o local e a decoração, definir os pratos e as
bebidas: para decidir sobre todos esses detalhes, e outros mais, é preciso paciência
inesgotável e bolsos profundos.
96
informações necessárias estão disponíveis e são confiáveis. Um tomador de decisão
racional e criterioso pode facilmente se irritar diante da pressão para fazer escolhas
em meio a situações ambíguas. Além disso, por mais estruturados que os processos
se encontrem, depois de uma bateria de decisões, qualquer executivo ou
profissional pagará o preço do estresse, ou, como no caso dos juízes estudados,
transferirá o ônus de sua fatiga para terceiros. Quando estamos cansados, temos
dificuldades para tomar decisões e tendemos a seguir os caminhos mais fáceis ou o
que nos recomendam os supostos especialistas.
97
O desafio da inovação
Desde os anos 1990, a questão da inovação tornou-se central para as
empresas e para as nações. No Brasil, o tema vem avançando, mas ainda
nos faltam direção e ação.
98
Mas o que significa, afinal, inovação? Intuitivamente, relacionamos inovação
com gênios criativos e suas ideias maravilhosas. Entretanto, no mundo corporativo,
essa ideia romântica não faz sentido. Nas empresas, a inovação é um processo que
necessita de recursos, investimentos e, principalmente, talentos. Na indústria
farmacêutica, por exemplo, o desenvolvimento de um novo medicamento pode
levar mais do que uma década, ocupar dezenas de cientistas e consumir centenas de
milhões de dólares.
99
computadores pessoais e os primeiros telefones celulares foram inovações de
ruptura. O problema é que, para gerar uma inovação de ruptura, é necessário
romper com a lógica existente de fazer negócios, criando divisões totalmente
novas, com novos recursos, pessoas e processos. Fácil falar, difícil fazer.
101
sendo o paraíso dos cartórios e da burocracia, e o inferno dos empreendedores.
Temos sido distraídos e tímidos na definição de uma estratégia para fomentar
setores inovadores na economia. Terceiro, faltam-nos universidades. Nossas
instituições de pesquisa produzem pouco e mal, e estão, em geral, pouco alinhadas
com as necessidades das empresas. Muitos acadêmicos ainda veem com
desconfiança e temor qualquer tipo de aproximação com empresas. Quarto,
faltam-nos gestores que mirem horizontes mais amplos. Muitas empresas locais,
algumas de grande porte, sequer contam com áreas de pesquisa e desenvolvimento,
um primeiro passo necessário, embora insuficiente, para gerar inovações. Quinto,
falta-nos uma cultura profissional de inovação. Inovadores questionam o status quo,
correm riscos, falham e tentam novamente, levam à frente iniciativas sem garantia
de sucesso, criam redes de cooperação sem respeitar convenções ou fronteiras, e
fazem acontecer. Em suma, caminhar, nós caminhamos, mas ainda nos faltam
direção e ação.
102
Inovar ou imitar, eis a questão
Empresas e mídia de negócios vêm promovendo o culto da inovação.
Porém, pesquisador norte-americano argumenta que deveríamos prestar
mais atenção à imitação.
Uma edição recente do New York Times Magazine publicou 32 inovações que
vão “mudar o nosso futuro”. A lista contém itens curiosos. Cientistas estão
desenvolvendo roupas elétricas, capazes de gerar energia a partir das diferenças de
temperatura entre partes do corpo. Muito útil para carregar fones celulares. Resta
ver quantos dias precisaremos usar a mesma camiseta para completar a carga.
Copiar não é bom para o ego dos executivos, mas pode ser ótimo para o
bolso dos acionistas. O iPod não foi o primeiro reprodutor de músicas. O conceito
de tablet foi criado muitos anos antes do lançamento do iPad. Isso não impediu a
Apple de dominar o mercado e capturar enorme valor. Não se pode negar a
importância da inovação da empresa, mas seus lucros vêm de uma estratégia mais
ampla, que orquestra inovação com imitação, combinações inteligentes de
tecnologias, uma estratégia eficaz de marca e fabricação na China.
105
Vivendo perigosamente
Toda atividade empresarial implica correr riscos, mas nem todas as
empresas estão preparadas para gerenciá-los em um ambiente
competitivo e transparente.
106
A empresa foi também acusada de manter um sistema de evasão fiscal, de
1970 a 2000, usando um projeto, na Indonésia, de tentar bloquear o
desenvolvimento de carros híbridos e de provocar danos ambientais na Califórnia,
em Angola e no Equador (uma herança da Texaco). Como sabem até mesmo os
roteiristas de Hollywood, óleo e política misturam-se de maneira nem sempre
cândida, com resultados frequentemente cruéis para o meio ambiente e para as
comunidades.
107
operam em mercados pouco regulados ou com governos corruptos, tais empresas
encontram um ambiente propício para correr riscos. Quando o prêmio é grande e a
pena é leve, aumenta o apetite por riscos.
108
Os herméticos
É cada vez mais difícil entender a linguagem esotérica e abstrata de
certos profissionais e executivos.
O fenômeno descrito por Pallotta conta mais de três décadas. Desde os anos
1980, o mundo corporativo vem desenvolvendo dialetos peculiares. A origem tem
base comum, mas suas manifestações parecem ter se multiplicado. Primeiro, vieram
os consultores, apropriando-se inventivamente do vernáculo para embalar velhas
ideias com novos significados. Sua criatividade oral foi retratada com exemplar
ironia em uma anedota, popular nos anos 1990, na qual é perguntado a um
consultor porque, afinal, uma galinha atravessa a rua, ao que o profissional
responde: “A desregulamentação da economia estava ameaçando sua posição
dominante no negócio. A galinha teve que enfrentar desafios para criar e
desenvolver as competências essenciais para o novo mercado competitivo. Nossa
consultoria orientou a galinha a repensar sua estratégia. Usando um Modelo
Galináceo Integrado (MGI), a consultoria ajudou a galinha a usar seu capital social
para alinhar os recursos dentro de um framework de classe mundial. Um programa
de sete passos foi realizado para alavancar seu capital intelectual, tanto tácito
quanto explícito, e possibilitar um aumento da sinergia para agregar valor à cadeia
produtiva. Tudo foi conduzido em direção à criação de uma solução holística e
sustentável. Em suma: a consultoria ajudou a galinha a tornar-se uma galinha de
sucesso”. Em tempo, a resposta certa seria: para chegar ao outro lado da rua.
Que fazer? Talvez, no futuro, os softwares de tradução, que hoje já são bem
sofisticados, evoluam a ponto de permitir a conversão, em tempo real, dos dialetos
corporativos para a língua pátria. Mas não nos iludamos. Provavelmente, ainda se
passarão muitos anos até que um sistema de inteligência artificial seja capaz de
decifrar e consertar problemas oriundos do uso exótico que certos profissionais e
executivos fazem de suas habilidades verbais.
111
Pasárgada maculada
Pesquisa aponta quatro comportamentos viciosos, comuns entre
executivos, que minam o comprometimento e a relação saudável com o
trabalho.
Vez por outra, entretanto, a mídia da Pasárgada corporativa abre espaço para
tratar de desvios e desviantes. Uma edição recente da revista McKinsey Quarterly
trouxe artigo de Teresa Amabile, uma professora de Harvard, escrito em parceria
com Steven Kramer, um pesquisador independente, sobre o comportamento
vicioso de alguns líderes. Segundo os autores, muitos executivos de alto nível
rotineiramente minam a criatividade e a produtividade de seus liderados. Amabile e
Kramer analisaram mais de 800 diários eletrônicos de profissionais envolvidos com
projetos de inovação em sete empresas. A investigação resultou na identificação de
quatro comportamentos sabotadores.
112
O primeiro comportamento sabotador é a emissão de sinais de
mediocridade. Ocorre quando a alta gestão estabelece uma agenda audaciosa de
mudanças, baseadas em inovações em produtos e serviços. No entanto, no dia a
dia, os executivos continuam se preocupando com os gastos com as copiadoras e o
cafezinho. Amabile e Kramer citam o caso de uma das empresas pesquisadas, na
qual a alta gestão fomentou a formação de equipes autônomas multifuncionais,
voltadas para o desenvolvimento de produtos inovadores. No entanto, na prática,
os executivos cerceavam a liberdade dos grupos e preocupavam-se somente com
redução de custos.
113
visão audaciosa de futuro e informa objetivos agressivos, comumente envoltos com
um forte apelo emocional para os funcionários. No entanto, tais declarações
frequentemente não passam de artefatos de retórica, com pouco significado para o
pessoal da linha de frente. As visões de futuro costumam ser tão extremas que são
vistas como inviáveis. Forma-se, então, um vazio, que alimenta o cinismo e a
inércia.
114
A vida na gaiola
Os modernos escritórios empresariais foram supostamente projetados
para facilitar a comunicação e fomentar o trabalho coletivo. Na prática,
efeitos colaterais frequentemente superam essas vantagens.
Porém, como alerta Susan Cain, em artigo publicado pelo New York Times, é
melhor ir devagar com o andor porque o santo é de barro. Com base em diversos
estudos científicos, a autora coloca em xeque o pressuposto de que a colaboração e
o trabalho em equipe tornam as organizações mais produtivas.
117
Imagem apagada
Vítima de choques tecnológicos externos e dificuldades internas para se
adaptar aos novos tempos, a icônica Kodak foi ao solo.
Autópsias não são agradáveis, mas podem ao menos ser didáticas. Há não
muito tempo, a Eastman Kodak Company entrou com pedido de concordata nos
Estados Unidos. Foi vítima de duas gigantescas ondas de mudanças tecnológicas: a
fotografia digital e os smartphones, com câmeras embutidas. Na última década, viu
seus resultados minguarem sem conseguir encontrar a nova direção dos lucros.
A empresa, com sede em Rochester, nos Estados Unidos, foi fundada por
George Eastman no final do século XIX. Eastman introduziu o rolo de filme,
inovação que ajudaria a definir os rumos da indústria pelos 100 anos seguintes. Ele
acreditava que o sucesso viria de um produto barato e simples de usar: “você aperta
o botão e nós fazemos o resto”. Além do foco no cliente, a Kodak adotou os
princípios que fizeram dela um gigante mundial: produção em massa, custo baixo,
distribuição extensiva, propaganda intensiva e investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.
118
Em meados da década de 1970, o modelo ainda funcionava como um bom
relógio suíço e fazia com que a Kodak controlasse 90% do mercado de filmes e
85% do mercado de câmeras dos Estados Unidos. Foi no ápice que começaram a
surgir ameaças. Em 1981, a Sony anunciou o lançamento da Mavica, a primeira
câmera digital, provocando um terremoto emocional na Kodak.
119
O que explica a diferença? Enquanto os japoneses realizaram um processo
eficaz de diversificação, os norte-americanos perderam tempo e dinheiro com
tentativas malsucedidas. Analistas também apontam a cultura de complacência e
isolamento da Kodak, que teria impedido a percepção de ameaças e de
oportunidades, e a adoção de ações mais firmes de mudança.
120
Idiotas, estúpidos e simpatizantes
O mundo dos negócios está cheio de babacas em altos postos. Portanto,
é preciso ser estúpido para ter sucesso... Ou não?
122
Pergunta-chave: qual será o efeito da canonização de Jobs e da popularidade
de sua biografia? McNichol não acredita que a nova bíblia dos negócios afete o
comportamento de gestores de nível médio, de temperamento equilibrado. O mais
provável é que torne patrões que já são estúpidos ainda mais estúpidos, piorando o
clima em suas empresas.
123
Colcha de retalhos planetária
Estudos de cultura organizacional vêm revelando sistemas corporativos
cada vez mais fragmentados. No horizonte: grandes desafios para
gestores e líderes.
124
Tais estudos revelam uma colcha de retalhos planetária. Nossas atitudes e
comportamentos no trabalho variam substancialmente entre países, entre regiões e
até mesmo dentro de uma mesma organização. Até os anos 1980, as empresas
operavam em mercados regulamentados e relativamente fechados. O efeito da
diversidade era moderado por tais condições. Entretanto, as estripulias
globalizantes desmontaram fronteiras e levaram as empresas transnacionais e
operarem de maneira mais integrada. Tribos antes isoladas, com usos e costumes
peculiares, foram obrigadas a conviver e produzir juntas.
125
entre grupos étnicos e religiosos, entre classes sociais, entre gerações, entre
profissões, entre grupos de interesse... a lista é longa.
126
A arte de pastorear gatos
O planejamento estratégico sempre foi objeto de zelo e sigilo, tema
privilegiado do topo das corporações. Agora, para garantir maior eficácia,
algumas empresas apostam na participação e na transparência.
128
inclusive renomadas multinacionais, em organizações públicas, nas quais os gatos
são particularmente manhosos e estridentes, e em organizações sociais, nas quais
todos os gatos parecem ter opiniões definitivas sobre todos os assuntos.
129
A arte do tempo
Pesquisador da Universidade de Minnesota procura entender fenômenos
empresariais a partir da linguagem da música.
A historinha faz parte do livro When: The Art and Science of Perfect Timing, de
Stuart Albert. Albert é professor da Carlson School of Management, da
Universidade de Minnesota. O livro é fruto de duas décadas de pesquisa e reflexão
do autor.
Por que temos tanta dificuldade para lidar com questões relacionadas ao
tempo? Os suspeitos usuais são a complexidade e a incerteza ambiental. Entretanto,
Albert acredita que o problema principal é que a forma como nós descrevemos o
mundo ao redor não inclui as sequências, intervalos, sobreposições e outras
características temporais de tudo o que acontece: de cada plano e de cada ação. Ao
raciocinar de maneira estática, empobrecemos nossa percepção sobre a realidade e,
assim, corremos o risco de tomar decisões inconsistentes.
131
Os eventos desdobram-se de modo similar nas empresas. Muitas ações
ocorrem simultaneamente (a dimensão vertical), e cada indivíduo ou grupo segue
uma sequência própria (a dimensão horizontal), com seu ritmo e suas pausas. O
conjunto poderá produzir um resultado harmônico e prazeroso, ou apenas gerar
dissonância e ruído. Algumas empresas são verdadeiras orquestras sinfônicas, com
seus naipes perfeitamente sincronizados, produzindo música de alta qualidade.
Outras se assemelham a bandas de jazz, permitindo aos seus músicos criar e
improvisar, a partir de padrões predefinidos. Algumas outras, entretanto, perdem o
ritmo, atravessam constantemente a melodia e alienam sua audiência.
132
Panóptico corporativo
Empresas estão adotando arranjos com espaços abertos em seus
escritórios: alguns efeitos colaterais podem ser infaustos.
Eles vêm aos milhares. Nas primeiras horas da manhã, é possível vê-los
caminhando em caravanas, deixando as estações metroviárias ou descendo dos
coletivos. Alguns, mais jovens, tentam a sorte no trânsito com suas bicicletas. Os
mais graduados chegam de carro e desaparecem nos subterrâneos das torres de
vidro. O destino é um só: os escritórios das grandes corporações, onipresentes em
nossa paisagem econômica.
Até o século XIX, trabalhar era cuidar das coisas da terra. A revolução
industrial, iniciada na Inglaterra, tirou homens, mulheres e crianças do campo e
trouxe-os para os galpões insalubres das fábricas. O século XX testemunhou outra
grande migração laboral, dessa vez das fábricas para os escritórios.
Agora, uma nova mudança está em curso. Há alguns anos, grandes empresas
descartaram suas baias em prol de um novo (ou não tão novo) modelo: os
escritórios abertos. Maria Konnikova, em texto veiculado no início de janeiro de
2014 no website da revista The New Yorker, apresenta interessante compilação de
estudos científicos sobre a vida e o trabalho nos escritórios abertos.
134
Além do desempenho e da produtividade, a saúde dos indivíduos também é
afetada. Um estudo realizado na Dinamarca, por Jan Pejtersen e colaboradores,
revelou que quanto maior o número de pessoas trabalhando em um único
ambiente, maior o número de funcionários que tiram licença por motivos de saúde.
135
Tragédias anunciadas
Ex-profissional da indústria do petróleo explica por que as grandes
empresas não aprendem com os desastres socioambientais.
136
Em 2013, um prédio de oito andares em Bangladesh desabou, matando mais
de mil trabalhadores. O prédio era utilizado por tecelagens subcontratadas por
empresas ocidentais. Os responsáveis haviam se recusado a interromper o trabalho,
mesmo depois que rachaduras surgiram nas paredes do edifício. O proprietário do
prédio foi processado e diversas empresas ocidentais sofreram escrutínio público
por manter em suas cadeias produtivas fornecedores de baixo custo, operando em
condições aviltantes de trabalho.
No livro The Evolution of a Corporate Idealist: When Girl Meets Oil (Editora
Bibliomotion), Christine Bader conta suas aventuras e desventuras como
profissional de responsabilidade corporativa na BP. A autora representa um
crescente exército de profissionais que atuam dentro das grandes corporações,
frequentemente em litígio com seus pares, e ainda vistos com desconfiança por
ativistas fora das empresas.
137
transversais voltadas para melhorar as condições socioambientais. Terceiro,
segurança e responsabilidade social custam dinheiro. Despesas com prevenção são
difíceis de justificar, enquanto cortes de custos são facilmente aprovados. Quarto,
poucas pessoas dão testemunho, e, se os executivos não perceberem o impacto de
suas decisões, não se mobilizarão por causas socioambientais. Quinto,
responsabilidade corporativa ainda é um conceito vago, confundido com
filantropia, o que dificulta ações relacionadas ao impacto dos negócios na
sociedade. Sexto, os consumidores não querem pagar mais e, a menos que eles
reconheçam o custo envolvido com uma atuação socialmente responsável, haverá
pouca chance de as empresas se movimentarem nessa direção. Conclusão:
aguardemos a próxima tragédia.
138
Grande demais para o cárcere
A admissão de culpa de um renomado banco suíço pode ser um avanço
no combate à delinquência financeira... ou não.
Ter uma conta na Suíça sempre foi sinal de prestígio, coisa para
multimilionários reservados. Afinal, Zurique não é Nassau. Agora, entretanto, o
paraíso dos argentários discretos parece ameaçado. Em maio de 2014, o Credit
Suisse, centenário banco helvético, admitiu ter agido à margem da lei, preparando e
apresentando documentos falsos de seus clientes para o IRS, a receita federal dos
Estados Unidos.
A admissão de culpa foi o ápice de uma novela que se arrastou por anos.
Eric Holder, procurador-geral norte-americano, declarou que “esse caso demonstra
que nenhuma instituição financeira, não importa o porte ou a amplitude global, está
acima da lei”. Belas palavras.
140
utilizadas envolvem diversos expedientes, dos mais toscos aos mais sofisticados:
abrir empresas em paraísos fiscais, usar parentes e amigos como fachada, buscar
buracos nas leis, mudar de país ou simplesmente sonegar impostos.
A multa aplicada ao Credit Suisse pode ser vista como um alerta para bancos
e clientes envolvidos em práticas ilícitas. Porém, como lembrou um articulista da
BBC, pode também ser vista como uma vitória do status quo. Afinal, o banco suíço
não precisou revelar o nome dos sonegadores, nenhum alto dirigente teve que pedir
demissão e a licença para operação no mercado norte-americano foi preservada.
Segundo a revista The Economist, banqueiros classificaram a multa como mera
“inflação regulatória”. Portanto, nada para se preocupar.
141
Ritual anacrônico
A avaliação individual de desempenho é uma, entre várias, cerimônias
vazias da vida corporativa.
143
Há alternativas? Os críticos sugerem substituir a prática anacrônica por uma
relação contínua entre chefes e funcionários, pautada pela avaliação permanente do
trabalho e de seus resultados. As gerações mais novas, habituadas à interação nas
redes sociais, seriam mais abertas a tal conduta.
Resta entender por que as empresas adotam e mantêm práticas desse tipo. A
resposta está no que os estudiosos chamam de conduta isomórfica ou
comportamentos de manada: adota-se uma prática porque, aparentemente, todos a
estão adotando. Resistir pode parecer antiquado e passar a imagem de
incompetente. Resta, por isso, conviver com rituais anacrônicos, desperdiçando
recursos e fingindo que está tudo bem. Enquanto isso, os problemas reais
continuam sob o tapete.
144
Talentos ocultos
Muitas empresas reclamam da falta de bons profissionais, mas podem
estar privilegiando os falastrões em detrimento dos produtivos.
145
são capazes de enfrentar chefes despreparados, colegas invejosos e a caótica
burocracia interna.
No entanto, a suposta escassez de talentos pode não ser verdade tão absoluta
quanto sugere o discurso dominante. Em texto publicado no jornal inglês Financial
Times, Andrew Hill levanta uma hipótese instigante. O colunista lembra o caso de
Eric Roberts, que ingressou em um banco inglês com 17 anos de idade e seguiu
uma carreira apagada, na primeira metade do século XX.
146
Conforme observa Hill, muitas organizações têm dificuldade para identificar
o potencial e a capacidade de seus funcionários. Assim, a visibilidade
frequentemente triunfa sobre a produtividade. Uma forma de reverter a perversa
equação é reduzir a quantidade de reuniões, removendo o palco que favorece os
magos da gestão da impressão, e criar mecanismos para monitorar o trabalho que
está sendo conduzido.
147
O inimigo interno
A história de dois ícones da fotografia mostra a fragilidade das empresas
diante de crises e mudanças ambientais.
Todos os dias, umas tantas empresas são criadas. Outras tantas somem, e
com elas desaparecem sonhos, planos e empregos. Entre as infantes, a mortalidade
é assombrosa. As que vencem as dores do crescimento e a barreira da puberdade
enfrentam os monstros gêmeos da burocracia kafkiana e da indigência gerencial.
Quentin Hardy, do jornal The New York Times, revelou um retrato da vida
após a morte na Kodak. No seu ápice, a empresa chegou a ter 145 mil funcionários
148
em todo o mundo. Hoje, tem oito mil. Em 1990, a empresa faturou 19 bilhões de
dólares. Hoje, fatura menos de 10% desse valor. Dos 200 prédios que a empresa
ocupava na cidade de Rochester, 80 foram demolidos e 59 foram vendidos. O que
restou parece um museu da Revolução Industrial. O impacto na comunidade foi
dramático: desemprego, queda na renda e aumento da criminalidade.
Ellen E. Jervell, em texto veiculado pelo The Wall Street Journal, conta a luta
da centenária organização para vencer o desafio da digitalização. A empresa
continua vendendo máquinas fotográficas que se parecem com aquelas de seus
anos de ouro, celebradas por luminares da fotografia tais como Henri Cartier-
Bresson, Robert Capa e Robert Frank. A diferença é o recheio, que agora é digital.
149
Unir tradição, qualidade e inovação parece valer a pena. Na tradicional loja
B&H, de Nova Iorque, é possível comprar os modelos mais simples por 699
dólares. Entretanto, para ter acesso a uma “verdadeira” Leica, o entusiasta
desembolsará de 6.500 dólares a 15 mil dólares. Haja entusiasmo!
A empresa sofreu com a digitalização e quase foi à falência. Jervell conta que
a Leica foi salva por Andreas Kaufmann, um ex-professor , fundador do Partido
Verde alemão, que apostou parte da herança familiar na empresa. Sua direção e
seus investimentos resultaram em produtos digitais tecnicamente e comercialmente
bem-sucedidos. Não é pouco em um mundo poluído por centenas de milhões de
smartphones. As próximas décadas mostrarão se jovens gigantes como Microsoft,
Google, Amazon e Facebook terão aprendido as lições de antecessoras como a
Kodak e a Leica.
150
Dormindo com o inimigo
O ambíguo jogo de competição e cooperação entre empresas exige doses
maciças de diplomacia.
152
criaturas, parecem não se entender. Braços e pernas esboçam movimentos pouco
articulados.
153
O fim dos gerentes?
Após ceifar empregos na base, chegou a hora de a tecnologia ameaçar o
meio da pirâmide corporativa.
Nos últimos anos, entretanto, uma séria ameaça começa a rondar a resiliente
classe dos gerentes: a tecnologia. O filme é conhecido. No século XIX, o avanço
tecnológico ajudou a transformar sociedades agrárias no mundo urbano e industrial
que conhecemos. A mudança foi brutal e traumática, porém criou as bases para um
longo ciclo de desenvolvimento. Na segunda metade do século XX, novamente o
avanço tecnológico esvaziou fábricas e forçou a migração do trabalho para o setor
de serviços. Foi duro e doloroso, obrigando a esforços de reeducação e adaptação.
Agora, a tecnologia pode vitimar a classe gerencial. Leva algum tempo até
que novas tecnologias se combinem com novos modelos de negócios, resultando
em impactos reais. O processo é longo, com muitas tentativas e erros. No entanto,
nos últimos anos, a evolução das tecnologias de comunicação e de informação, o
desenvolvimento de aplicativos, o barateamento de custos e a criatividade de
empreendedores geraram frutos: surgiram empresas intensivas em conhecimento e
tecnologia, nem sempre exigentes em capital e extremamente econômicas em
trabalho gerencial.
155
empresas industriais, eles passaram a ser absorvidos por empresas de consultoria e
por instituições financeiras.
156
No reino dos amazonians
A dura cultura de trabalho da Amazon talvez sinalize o futuro para
outras organizações.
Cada época tem suas empresas ícones. General Motors, IBM, General
Electric e Microsoft tiveram seus momentos de ribalta. Hoje, as candidatas são
Google, Facebook, Apple e Amazon. Elas são admiradas e copiadas, porém vivem
sob o escrutínio de órgãos reguladores e do público. Seus líderes são vistos ora
como gênios visionários, ora como megalomaníacos obcecados com o sucesso.
158
Streitfeld, um experimento destinado a determinar o quanto é possível pressionar
funcionários para fazer com que eles ajudem a empresa a atingir suas ambições
cada vez maiores.
159
PARTE 3 – O CAPITALISMO SELVAGEM E A ACADEMIA
160
Festa agridoce
Uma das mais respeitadas instituições educacionais do País celebra um
feito extraordinário. Porém, há mais por fazer do que a comemorar.
161
ser um sistema fechado, trabalhando em torno de si mesma. Ela deve ajudar a
sociedade a identificar e solucionar suas questões mais prementes e relevantes.
Para o sistema, tudo que entrar deve sair. Então, muitos noviços seguirão
claudicantes pela linha de montagem, até que uma banca examine, com repugnância
162
reprimida e tolerância exacerbada, o produto de sua labuta. Muitas dissertações e
teses deixam a linha de montagem com lacunas teóricas e restrições metodológicas.
Poucas servem para desenvolvimento teórico ou aplicação prática. Seu destino é
mofar nos depósitos das universidades locais: as bibliotecas.
Para que serve tal sistema, que ilude e frustra os noviços, e ainda trai a sociedade
que o sustenta? Primeiro, para manter o emprego dos mestres e doutores. Segundo,
para legitimar as instituições de ensino diante aos reguladores brasilienses. Terceiro,
para perpetuar o próprio sistema, concedendo títulos (de duvidoso valor) a futuros
mestres e doutores. Quarto, para dar uma chance aos noviços de aprender alguma
coisa que deviam ter aprendido antes: ler, escrever e pensar em linha reta. E,
finalmente, na quinta prioridade, para gerar conhecimento útil para o País.
Infelizmente, mesmo à custa de sangue, suor e lágrimas, e do uso de fundos
públicos, são poucos os profissionais que chegam ao final dessa lista.
163
O caminho das pedras
Para enfrentar a dura prova de publicar nos principais periódicos
científicos internacionais, muitos pesquisadores brasileiros estão
recorrendo a assessorias cada vez mais sofisticadas.
Foi uma criança prodígio. Dissecava drosófilas aos seis anos de idade e
resolvia equações aos oito. A família exibia seus dotes para os vizinhos, e o avô
vaticinava: vai ser cientista. Destino marcado, carreira definida. Um quarto de
década depois, realizou a profecia do avô. Graduou-se com pompa e doutorou-se
com circunstância. Conquistou um posto em um templo do saber e colocou seu
cérebro a serviço da ciência. Agora, só falta aprender a escrever. Surpreendente?
Nem tanto.
164
Em um número publicado em abril de 2011, a revista Pesquisa Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) traz matéria sobre o
tema. O jornalista Fabrício Marques retrata o desafio enfrentando pelos cientistas e
sua consequência: a proliferação de serviços especializados em redação científica.
Para os brasileiros, uma das principais dificuldades pode ter origem em nossa
estrutura de pensamento. No artigo clássico "Cultural thought patterns in
intercultural education", de 1966, o linguista Robert B. Kaplan descreve como
indivíduos de diferentes culturas estruturam seus textos. O trabalho foi baseado em
sua experiência com estudantes internacionais. O autor constatou que, enquanto
estudantes anglo-saxoes aplicavam um estilo objetivo, indo direto ao ponto, os
asiáticos aproximavam-se em círculos e os russos seguiam uma trajetória titubeante,
com ideias malrelacionadas. Não há registro de estudantes brasileiros na amostra de
Kaplan, mas eles poderiam ser incluídos em um grupo de comportamento similar
ao dos russos.
165
organizar as ideias e produzir textos no estilo econômico e direto que se tornou
dominante na ciência. Se acreditarmos em Kaplan, então a tarefa das novas
assessorias de preparação de artigos científicos merece todo o respeito: vencer
certos estados de confusão mental é, de fato, uma tarefa hercúlea.
166
Inferno na torre... de marfim
As “modernas” linhas de montagem universitárias, que produzem
doutores e pesquisas científicas, são caras, frequentemente improdutivas
e estão se tornando insalubres.
167
futuro. De tempos em tempos, para ampliar seus horizontes, tem direito a um
período sabático, durante o qual, com apoio de uma agência governamental, leva
sua família para a Europa ou os Estados Unidos. É reconhecido por seus pares e
pela sociedade, que o tem na mais alta conta, por sua sapiência e dedicação
desinteressada ao bem comum. Afinal, ajuda a edificar os pilares do nosso
progresso tecnológico e a formar nossa futura elite intelectual.
168
brasileira, acerca da pressão por produção científica e pela formação de mestres e
doutores. A pesquisa comprovou que quanto maiores o número de publicações
científicas e o número de orientandos, maior o número de intervenções cardíacas,
doenças coronárias e acidentes vasculares cerebrais. Em suma: trabalhar, nessas
condições, faz mal! O quadro é agravado, segundo Santana, pela falta de dieta
equilibrada, de atividades físicas e de acompanhamento médico regular dos
docentes.
169
Slow science
Na França, pesquisadores abraçam um movimento contra a
“mcdonaldização” da ciência. Enquanto isso, nos trópicos, a slow
bureaucracy tenta implantar a fast science.
Agora, da terra do resistente Asterix, nos chega uma nova onda do slow
movement: a slow science. Seus arautos condenam a cultura da pressa e do imediatismo
que invadiu, nos últimos anos, as universidades e outras instituições de pesquisa. A
fast science, segundo os rebeldes franceses, busca a quantidade acima da qualidade.
Aprisionados pela lógica do “produtivismo” acadêmico, os pesquisadores tornam-
170
se operários de uma linha insana de montagem. E quem não se mostrar agitado e
sobrecarregado, imerso em inúmeros projetos e atividades, será prontamente
cunhado de improdutivo, apático ou preguiçoso.
171
Entretanto, os efeitos colaterais são consideráveis. A lógica fast está
condicionando os cientistas operários a comportamentos peculiares. Sob as ordens
de seus capatazes acadêmicos, ou por iniciativa própria, eles estão reciclando
conteúdos para aumentar suas publicações; incluindo, em seus trabalhos, como
autores, colegas que pouco ou nada contribuíram; e assinando, sem inibição, artigos
de seus alunos, aos quais eles pouco acrescentaram. Tudo em prol da melhoria de
seus indicadores de produção.
172
Universidades virtuais
A educação presencial não anda lá bem das pernas. Serão os modelos
virtuais capazes de responder aos enormes desafios atuais ou apenas
reproduzirão e ampliarão os vícios existentes?
George Bernard Shaw fuzilou: “Desde pequeno tive que interromper minha
educação para ir à escola”. Albert Einstein não ficou atrás: “É um milagre que a
curiosidade sobreviva à educação formal”.
173
educação do mundo, leia-se, aquela oferecida pelas melhores universidades. Por
enquanto, a empresa sobrevive graças a investidores.
O fato relevante foi o anúncio recente de que mais uma seleta lista de
universidades concordou em fornecer conteúdo para a Coursera disponibilizar na
internet. As parceiras da empresa agora incluem as universidades de Princeton,
Duke, Stanford, Pennsylvania, Michigan, Toronto e Edinburgh, entre outras. Uma
delas já declarou que reconhecerá créditos realizados na Coursera e outras duas
informaram que colocarão mais 3,7 milhões de dólares na empresa, elevando os
investimentos a 22 milhões de dólares. No próximo período letivo, a Coursera
pretende oferecer mais de 100 cursos on-line, visando atingir 100 mil alunos. Não é
pouco!
174
Naturalmente, as investidas da lógica de mercado sobre a educação superior
causam arrepios. Entretanto, iniciativas como as da Coursera não devem ser
temidas. Aulas ao vivo, para grandes plateias, como ocorre com frequência nos
ciclos básicos dos cursos superiores, estão se tornando anacrônicas. Alguns
professores tentam agir como animadores de auditório, usando anedotas e recursos
performáticos para manter a atenção das hordas de apedeutas. A vítima é o
aprendizado.
175
A vida na linha de montagem
Tese de doutoramento examina com lupa crítica os bastidores da
academia tropical na área de Administração.
177
anacrônica, comandada (segundo palavras dos entrevistados de Pegino) por
pseudopesquisadores, orientadores fantasmas, picaretas, primas-donas e cafetões
acadêmicos. Um dos pesquisadores ouvidos criticou a fixação dos colegas com o
acúmulo quantitativo de publicações e a dificuldade para publicar artigos em
periódicos de alta qualidade: "[é] igual o carnaval de Salvador: o cara está muito
mais preocupado em quantas ele pegou [...] do que com a qualidade da mulherada
que ele pegou, entendeu? [...] só que é o seguinte, meu amigo, pra pegar baranga é
um minuto de conversa, pra pegar gata tem que conversar, tem que levar". Bonito,
não? Sem comentários!
178
A USP (não) é várzea!
A mais importante instituição de ensino e pesquisa do País teve um ano
difícil. Em 2015, precisa trabalhar firme para recuperar sua boa
reputação
Toda nação têm, ou deveria ter, instituições de referência. Por sua conduta e
realizações, elas conquistam o reconhecimento franco e o respeito sincero dos
cidadãos. Elas são importantes porque sinalizam valores e norteiam
comportamentos, fomentando virtudes que alicerçam o progresso social.
180
percepção contamina a interpretação que, reforçada por seguidas más notícias, é
tomada por verdade.
181
O Lobo do Management
Pesquisadores da Holanda criticam a introdução de práticas empresariais
nas universidades.
183
pesquisadores “de topo” terceirizam o ensino para doutorandos e coagem
orientandos a conceder-lhes coautorias.
184
PARTE 4 – O CAPITALISMO SELVAGEM E A FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
185
Procuram-se estudantes
Além do mico-leão-dourado, do guigó-da-caatinga, do lobo-guará e do
macaco-prego-galego, outro mamífero tropical parece caminhar para a
extinção.
186
processo no qual deveriam atuar como protagonistas, como agentes do
aprendizado e do próprio destino.
187
Outros observadores apontam um fenômeno que pode ser causa-raiz do
processo de extinção dos estudantes: trata-se da dificuldade que os jovens de hoje
enfrentam para amadurecerem e desenvolverem-se intelectualmente. A
permissividade criou uma geração mimada, infantilizada e egocêntrica, incapaz de
sair da própria pele e de transcender o próprio umbigo. São crianças eternas, a
tomarem o mundo ao redor como extensão delas próprias, que não conseguem
perceber o outro, mergulhar em outros sistemas de pensamento e articular novas
ideias. Repetem clichês. Tomam como argumentos o que copiam e colam de
entradas da Wikipédia e do que mais encontram nas primeiras linhas do Google. E
criticam seus mestres, incapazes de diverti-los e de fazê-los se sentirem bem com
eles próprios. Aprender cansa. Pensar dói.
188
Virtudes perdidas
Ao longo de sua história, as escolas de negócios abdicaram de seus altos
propósitos originais, de formar profissionais voltados para atender os
interesses da sociedade, e abraçaram sem pudor o comercialismo.
No livro From Higher Aims to Hired Hands: The Social Transformation of American
Business Schools and the Unfulfilled Promise of Management as a Profession (Princenton
University Press), o professor e pesquisador de Harvard Rakesh Khurana analisa a
história centenária das instituições que formam esses exércitos. Seu argumento é
que, com o passar do tempo, as escolas de negócios abandonaram seu propósito
original, de consolidar uma nova profissão, formando gestores, e perderam o rumo,
deixando-se pautar exclusivamente pelas forças de mercado.
A primeira mudança foi uma orientação para pesquisa científica que, apesar
das boas intenções, afastou as escolas da prática empresarial e as transformou em
torres de marfim, voltadas para o próprio umbigo. A segunda mudança envolveu a
crescente prevalência de certas perspectivas econômicas e financeiras,
transformando o administrador em um operador da “mão invisível”, um
instrumento a serviço da obtenção de resultados de curto prazo. A terceira
mudança relacionou-se ao crescente processo de comercialização do ensino da
administração. De fato, o ensino da gestão deixou de ser uma atividade educacional
para se transformar em uma indústria, capaz de movimentar vastos recursos e gerar
invejáveis margens de lucro. Com isso, as próprias escolas passaram a ser geridas
como empresas, sempre buscando polir sua imagem, atender seus clientes,
racionalizar o uso de suas instalações e maximizar seus resultados. O Brasil seguiu,
com algum atraso e adicionando peculiaridades, o processo norte-americano.
190
Nos últimos anos, o modelo MBA perdeu fôlego e ganhou concorrentes.
Surgiram os Masters in Management, para profissionais em início de carreira, e
ganharam popularidade os Executive MBAs, mais curtos que os MBAs e destinados
a profissionais mais experientes. Os próprios MBAs, antes essencialmente
generalistas, passaram a ser oferecidos como programas especializados em finanças,
marketing e grande variedade de cores e sabores.
191
Investimento duvidoso
Análises recentes sugerem que investir tempo e dinheiro na realização
de certos cursos superiores pode ser divertido, porém um mau negócio.
Entretanto, não é preciso ser um gênio estatístico para notar que a linha reta
ascendente que correlaciona horas-aula e dígitos no holerite representa uma nuvem,
que é povoada em suas bordas por sucessos excepcionais e fracassos retumbantes.
Investir quatro ou cinco anos na realização de um curso superior pode ampliar o
ciclo social, alimentar a vida cultural e estimular as conexões mentais. Entretanto,
em muitos casos, pode não gerar retorno sobre o dinheiro investido em
mensalidades, livros e outras despesas.
193
Transparência nas informações, como aquelas oferecidas por PayScale, e o
avanço do ensino aberto a distância tendem a aumentar a pressão sobre as
instituições de ensino superior. Aquelas que não souberem responder à altura
sentirão a busca por vagas minguar e a qualidade do corpo discente decair. As
instituições que forem capazes de oferecer um futuro melhor pelo tempo e
recursos investidos por seus alunos terão mais chance de ser bem-sucedidas. Bom
para elas, para os seus egressos e para a sociedade.
194
Tiro no escuro
Para muitos jovens, prestes a realizarem exames vestibulares, a escolha
da futura profissão é uma verdadeira loteria.
195
supera a dezena e, vez por outra, aproxima-se da centena. O funil de acesso coloca
legiões de pais e filhos à beira de um ataque de nervos.
196
E, como se não bastassem as dificuldades naturais, as paixões e as ansiedades
envolvidas, as decisões são tomadas em um teatro de consumo, no qual escolas
secundárias competem pelas maiores taxas de sucesso no vestibular, cursinhos
vendem seus serviços e as novas instituições de ensino tentam atrair recrutas para
suas “propostas diferenciadas”.
197
Acertos e erros
Diretores das melhores escolas de administração do mundo revelam o
que os programas de formação de gestores têm de melhor... e de pior.
199
de marfim, distantes e desdenhosas da vida corporativa. Orientam sua pesquisa
para assuntos exóticos, ao gosto dos editores de prestigiosas revistas científicas,
porém sem considerar a possibilidade de usar o conhecimento gerado para
transformação da realidade.
200
O futuro da educação
Estudantes e mestres preparem-se! Vem aí a Air School e o Uber MBA.
Uber, o serviço de transporte urbano que tira o sono dos taxistas, e Airbnb,
o serviço de hospedagem que causa pesadelos entre donos de hotéis, alimentam a
febre atual de novidades movidas à tecnologia. Não se sabe se desaparecerão em
um ano ou se tornarão novos Facebooks. Por enquanto, hipnotizam a mídia de
negócios e atraem a atenção de usuários e investidores.
201
O que ocorreria se a criatividade nerd, que desenvolveu esses dois modelos
de negócios, mirasse a educação universitária? Uma amostra do resultado pode ser
avaliada nas iniciativas de ensino a distância que se multiplicaram nos últimos anos,
algumas delas em parcerias com renomadas universidades. Quem tiver a paciência
para assistir aulas virtuais, primeiro, ficará assustando com a má qualidade do que é
veiculado (será isso mesmo que se ensina nas universidades?) e, segundo,
comprovará que aulas virtuais são ainda mais aborrecidas do que aulas presenciais.
Em meio às montanhas de joio, talvez encontre algum trigo.
Mas o que seria uma Air School ou um Uber MBA? Uma reinvenção
completa do modelo de geração e de transmissão de conhecimento, hoje tão
criticado? Estudantes agendando módulos em diferentes universidades, por um
aplicativo? Motoristas professores explicando marketing e finanças durante o
trajeto?
202
quarta sugere a superação do modelo artesanal de geração de conhecimento,
pulverizado em múltiplas instituições, e a criação de polos especializados que
abasteceriam todo o sistema de ensino. A quinta diz respeito ao declínio e eventual
desaparecimento de instituições subsidiadas que apresentam alto custo e geram
baixo impacto na formação de quadros e na geração de conhecimento. A sexta
relaciona-se ao aumento da utilização de modelos mistos, combinando atividades
presenciais e atividades remotas.
203
PARTE 5 – ESCAPANDO DO CAPITALISMO SELVAGEM
204
Pensar dói?
O ensaísta Neal Gabler une-se a um seleto grupo de nostálgicos
polemistas, que valorizam as ideias e se colocam contra a corrente,
fazendo críticas à internet, às mídias sociais e ao culto da informação.
207
Redução do ego
O imperativo de melhoria da qualidade de vida no trabalho demanda a
institucionalização de uma nova técnica psicocirúrgica: a egoplastia.
Id, ego e superego são, na teoria freudiana, as três partes que constituem o
modelo estrutural da psique. O id é o conjunto de instintos e contém as paixões. O
ego é a parte organizada do modelo e contém a razão. O superego é responsável
pelo papel crítico e contém a moral. Para Freud (editado pela Wikipedia, a salvação
do escriba apressado), o ego atua de acordo com o princípio da realidade,
procurando satisfazer a demanda do id de maneira realista e considerando o longo
prazo. Seu papel é de mediador entre o id e a realidade.
De fato, a vida do ego não é simples. Ele serve a três senhores: a realidade, o
id e o superego. Assim, é pressionado pelo id, cerceado pelo superego e repelido
pela realidade. O ego precisa fazer o melhor para atender a todos, porém é
atormentado pelo risco de descontentar dois de seus senhores. Diz-se que tem uma
queda pelo id, preferindo agradar suas paixões, mas o superego não lhe dá tréguas e
o pune com sentimentos de culpa e inferioridade.
208
O pai da psicanálise ocupou-se do homem, de seus desejos e de seus
conflitos. Ele e seus conterrâneos não viveram em uma sociedade de massa como a
nossa, moldada por grandes corporações. Sua época conheceu muitas pragas, mas
não as que nos assolam hoje, como o consumismo e o hedonismo. Passado um
século de muitas mudanças, suas ideias continuam vivas e úteis.
209
Haverá solução para as patologias do ego? A gastroplastia ou cirurgia
bariátrica, mais conhecida como cirurgia para redução do estômago, é um
procedimento médico indicado em alguns casos de obesidade mórbida. Tal
condição ocorre quando o indivíduo tem um índice de massa corpórea superior a
40 kg/m2, ou pouco menos que isso, porém com o agravamento do quadro de
saúde provocado por doenças relacionadas à obesidade, tais como diabetes,
hipertensão e apneia de sono. O procedimento pode empregar diferentes técnicas.
Qualquer que seja o caso, o paciente necessita de cuidadosa preparação antes do
procedimento cirúrgico e de cuidadoso acompanhamento após o procedimento.
Seria a medicina, e a psicanálise, capaz de desenvolver solução similar para os males
do ego?
210
A cri$e do$ e$$e$
Um colap$o $em precedente$ ameaça a impren$a e a$ letra$. Em pauta, a
falta de uma con$oante e$$encial.
Claro, a cri$e poderia $er pior. $empre pode. A$ con$oante$, nó$ a$ temo$
em grande número. Uma a meno$, aqui e ali, não provoca grande dano.
Improvi$amo$ e encontramo$ uma $aída honro$a. Ne$te texto, por exemplo,
$ub$tituímo$ o e$$e, com con$trangida ironia, pelo cifrão. Mundo e$tranho: faltam
e$$e$, $obram cifrõe$. De$culpamo-no$ pelo incômodo. Dada$ a$ circun$tância$,
con$ideramo$ e$ta a $aída mai$ digna. Ma$ e $e começarem a faltar vogai$? Ela$
$ão mai$ e$ca$$a$ e, por e$se critério da ciência econômica, mai$ valio$a$. O que
$eria do$ croni$ta$ $em poder u$ar um único “a” e do$ en$aí$ta$ $em poder lançar
mão de um único “o”? $eria o cao$, uma tragédia para o mundo da língua e$crita.
212
Por aqui, a cri$e pegou o$ e$criba$ de $urpre$a. Fo$$e letra de menor u$o,
como um “y” ou um “w”, a dificuldade $eria menor. A troca de $obrenome de
Wood para Hood, tal qual o do arqueiro de $herwood, não apre$entaria grande
dificuldade. $ub$tituir o e$$e é outra coi$a. Intuitivamente, apelamo$ para o primo
“z”, ma$ $ub$tituir Bra$il por Brazil tornará o autor alvo da horda u$ual de
puri$ta$ e di$cordante$ nato$, a acu$á-lo de vendido, preten$io$o e muito mai$.
Melhor deixar o cifrão me$mo, que já não cau$a e$panto e parece ser o novo
e$peranto.
213
De Mozart a Sherman
Uma linha imaginária liga as trajetórias profissionais do genial músico
classicista e da renomada fotógrafa contemporânea. Em pauta: lições
para artistas e empreendedores em tempos de fetiche do mercado.
215
movimento, sempre capaz de avançar sobre seus próprios limites e provocar sua
audiência. Até 11 de junho de 2012, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque
(MoMA) apresentou uma ampla exposição do trabalho da artista, com mais de 170
obras, produzidas desde meados da década de 1970 até o presente. A exposição foi
mais um reconhecimento da importância de Sherman para a fotografia e para as
artes. O website do MoMA disponibilizou uma visita virtual à exposição.
216
A cultura do desdém
O caso recente do ex-diretor do Goldman Sachs, que denunciou os maus
modos de sua antiga casa, traz novamente à tona os genes selvagens do
DNA corporativo.
Smith abre sua carta aberta em tom confessional: “Hoje é meu último dia no
Goldman Sachs. Após quase 12 anos na firma [...] eu acredito ter trabalhado aqui
tempo suficiente para entender a trajetória de sua cultura, de sua gente e de sua
identidade. E eu posso dizer honestamente que o ambiente está agora tão tóxico
como eu nunca vi”. E segue: “Para colocar o problema em termos simples, os
interesses do cliente continuam sendo deixados de lado na forma como a empresa
opera e pensa na maneira como ganhar dinheiro”.
217
O ex-diretor afirma que ouviu diversos colegas chamarem seus clientes de
“muppets”, em referência, pouco elogiosa, aos personagens da série de TV. Smith
teme pelo futuro da organização, ao constatar que uma geração de novos
funcionários, muitos deles brilhantes, está sendo socializada na nova cultura,
autocentrada e viciosa. De fato, grandes corporações não têm dificuldade em
recrutar os melhores aprendizes e socializá-los em suas práticas. Não deve ser
motivo de surpresa que moços e moças de boas famílias e boas maneiras estejam
dispostos a trocar ideais e dignidade por status social e bônus anuais.
218
Somente os inocentes crônicos acreditam que bancos tenham outro objetivo
que não seja ganhar dinheiro para seus controladores e executivos. A indignação de
Smith pode soar tão crível quanto a eventual indignação de um deputado brasileiro,
que renunciasse ao mandato popular por ter constatado o declínio dos outrora altos
padrões éticos da Câmara.
Por detrás da denúncia de Smith, existe uma cultura do desdém, que permeia
muitas relações no mundo corporativo. Acionistas desdenham diretores, que
desdenham gerentes, que desdenham seus funcionários, que desdenham estagiários.
Executivos desdenham seus clientes e fornecedores, e a recíproca pode ser
verdadeira.
219
Correio maldito
Uma grande empresa de tecnologia anunciou uma meta de “e-mail zero”.
Serão iniciativas desse naipe capazes de contrapor os comportamentos
de conectividade insana e distração crônica nas organizações?
221
interno de mensagens eletrônicas. Em seu lugar, a empresa pretende utilizar
sistemas de mensagens instantâneas e mídias sociais.
O e-mail tornou-se uma praga, mas talvez seja apenas o bode expiatório de
uma cultura de trabalho que privilegia a conectividade e a capacidade de reação
instantânea, em detrimento da reflexão, do equilíbrio e da capacidade analítica.
Suprimir o e-mail poderá alterar atitudes e comportamentos? Ou talvez signifique
apenas a troca de um vício por outro? Ou, o que seria pior, a adição de outras
distrações, ainda mais indutoras de estresse?
222
Aula de produtividade
Uma ONG havaiana salva baleias, educa turistas e ainda dá lições de
organização do trabalho.
Pacific Whale Foudation (PWF) é uma ONG fundada em 1980, com sede
em Maui, no Havaí. Sua missão é conduzir pesquisas e educar o público, com o
objetivo de preservar baleias, golfinhos, tartarugas e recifes de corais. A
organização conta com 150 funcionários e integra a bem-estruturada indústria
turística da paradisíaca ilha.
O passeio dura cerca de cinco horas, com direito a uma segunda parada,
próxima a uma praia, para observar tartarugas. Em cada saída, a equipe da PWF
recebe cerca de 100 interessados em sua loja ao lado do píer, às sete da manhã.
Uma funcionária dá boas-vindas, fornece instruções e usa sua simpatia para vencer
o sono do grupo.
223
O embarque é rápido e tranquilo. A ida a Molokini é ocupada por um café
da manhã, instruções para mergulhadores noviços e pequenas palestras sobre a vida
marinha, dosadas para informar sem chatear. Pés de pato, snorkels e camisetas
térmicas (para os friorentos) são distribuídos com presteza.
No trajeto seguinte é servido um almoço, com direito a Mai Tai, que não é o
ponto alto do fantástico passeio. A segunda parada segue a mesma cuidadosa
coreografia da primeira, mas dessa vez com um guia: um mergulhador da equipe,
que conduz interessados por uma turnê subaquática.
225
The Bang Bang Club
Filme conta a história real de quatro fotógrafos que cobriram o fim do
Apartheid e ilustra o sentido mais profundo do trabalho.
The Bang Bang Club, produzido em 2009, parece não ter se encaixado em
nenhuma categoria. Se o filme foi exibido em algum cinema local, talvez tenha sido
por cortesia de algum organizador de festival. A película foi baseada em livro
homônimo, escrito pelos fotógrafos Greg Marinovich e João Silva, que formavam
o clube do título, com Kevin Carter e Ken Oosterbroek.
226
As imagens dos fotógrafos do Bang Bang Club provocaram polêmica, pela
violência crua que revelaram. Eles foram cultuados e criticados. O filme transita
entre temas pesados: os conflitos étnicos da África do Sul e os dilemas éticos dos
fotógrafos diante da sordidez humana. O roteiro é centrado na história dos dois
fotógrafos que ganharam o prêmio Pulitzer: Marinovich e Carter.
227
Os fotógrafos do Bang Bang Club ilustram o que pode ser o trabalho em seu
sentido mais profundo de realização, um trabalho que cria algo marcante e provoca
impacto social; que é recompensador, gera intenso prazer e sentimento de
realização; que provê experiências humanas recompensadoras; que estrutura o dia a
dia, de modo flexível, sem transformar a rotina em repetição mecânica; que
sustenta e garante a autonomia do indivíduo; que é moralmente aceitável e vai além,
questionando o status quo e possibilitando novas interpretações e visões da
realidade. Não é pouco e parece ser cada vez mais raro.
228
A semana de 15 horas
As predições otimistas de Keynes sobre o futuro do trabalho colidiram
com nosso apreço patológico pelo dinheiro e pelo consumo.
230
corporativo, às relações públicas e à gestão de recursos humanos. É o que Graeber
denomina de bullshit jobs.
231
Lucro verde?
Empresa testa a contramão do consumismo, unindo durabilidade dos
produtos e receita.
Saki Knafo, escrevendo para o portal da revista The Atlantic, informa que a
mesma empresa patrocinou uma viagem de dois empregados em uma velha
caminhonete, adaptada com uma minioficina no lugar da caçamba. A missão da
dupla era oferecer serviços gratuitos de reparo para clientes que tivessem roupas
velhas da empresa.
232
Mais um golpe? Parte de uma estratégia maior para iludir o consumidor?
Talvez não seja tão simples. O fato é que se trata de um fabricante de nicho, que
produz peças duráveis, para um público sensível à mensagem de responsabilidade
ambiental. Além disso, a empresa vende para seus clientes a mesma imagem que
vende para seus empregados, atraindo para seus quadros profissionais que também
acreditam em sustentabilidade e responsabilidade ambiental.
233
mais de três pacotes a uma revista pessoal: “Você precisa mesmo de tudo isso? Não
viu que essas peças foram produzidas por trabalho escravo?”. Ou, ainda, um
fabricante de bebidas, chocando a clientela: “Chega de cerveja, companheiro! A
barriga só vai crescer, a glicemia, piorar e a loira definitivamente não vai olhar para
você!”.
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Rituais antiquados
O momento é oportuno para as empresas livrarem-se de práticas
anacrônicas.
235
decisões, então a aposentadoria vai gerar considerável economia. Isso sem contar o
fim dos efeitos colaterais: irritação, cinismo e sensação de injustiça.
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O grande problema ocorre quando a empresa segue acumulando práticas
sobre práticas. O efeito é a ocupação crescente do tempo de trabalho, com
atividades que agregam pouco valor. Resultado: estresse, frustração e baixa
eficiência. E os indivíduos acostumam-se com o estado das coisas, moldam suas
atitudes e comportamentos ao status quo e tornam-se engrenagens da máquina que
parece existir apenas para preencher o tempo livre com atividades inócuas.
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Em busca do tempo perdido
A ciência administrativa deve aproximar-se da prática empresarial e
buscar maior impacto social.
A divulgação dos estudos foi seguida por mudanças substantivas nas escolas
de administração. Os resultados foram notáveis: os currículos foram reformados e a
atividade de pesquisa foi fomentada, dando impulso a um robusto desenvolvimento
acadêmico. A produção científica resultante alimentou a criação de manuais e
livros-textos para as principais áreas da administração, os quais passaram a ser
utilizados no ensino.
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em fóruns multilaterais e a coordenação de processos conjuntos para geração de
conhecimento.
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Emancipados e órfãos da CLT
Pesquisa científica identifica as diferentes tribos que surgiram da
flexibilização dos contratos de trabalho.
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elas apreciam a possibilidade de poder escolher o que fazem, como fazem, quando
fazem e com quem fazem.
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SOBRE O AUTOR
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ISBN 978-85-914912-2-3
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