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Coleção

TRIBUNAIS
PAULO LÉPORE E MPU
Coordenador
HENRIQUE CORREIA

DIREITO
CONSTITUCIONAL
PARA OS CONCURSOS DE TÉCNICO E ANALISTA DE
TRIBUNAIS E MPU


EDIÇÃO
revista,
atualizada e
ampliada

2022

00_Lepore- Col Tribunais -Direito Constitucional_8ed.indd 3 09/06/2022 17:36:14


Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

Capítulo II

Princípios fundamentais,
direitos fundamentais
e direitos e deveres
individuais e coletivos

Sumário: 1. Princípios fundamentais; 1.1. Fundamentos da República Federativa do Brasil ; 1.2. Poderes
da União ; 1.3. Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil ; 1.4. Princípios que regem a Re-
pública Federativa do Brasil em suas relações internacionais – 2. Direitos fundamentais – 3. Tribunal Penal
Internacional – TPI – 4. Direitos e deveres individuais e coletivos – 5. Ações constitucionais ou remédios
constitucionais; 5.1. Habeas corpus; 5.2. Mandado de segurança individual; 5.3. Mandado de segurança
coletivo; 5.4. Mandado de injunção; 5.5. Habeas data; 5.6. Ação popular – 6. Questões discursivas – 7.
Questões comentadas – 8. Questões objetivas para treinar

Depois de abordarmos a Teoria da Constituição no primeiro capítulo, passamos,


agora, ao estudo do texto constitucional.
É verdade que grande parte das questões cinge-se à literalidade dos comandos
constitucionais, principalmente nas provas da banca FCC. Por outro lado, outras
vezes o examinador aprofunda o nível de exigência, notadamente nos certames
organizados pelo Cespe.
Assim, nossa missão será organizar e sistematizar o texto constitucional para
facilitar o aprendizado e a memorização, mas também trazer contribuições doutri-
nárias e jurisprudenciais em alguns pontos.

1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Os princípios fundamentais compõem o Título I, da Constituição Federal, que
abrange os artigos 1º a 4º.
Cada um desses quatro artigos introdutórios à CF tem o seu papel, compondo
categorias de valores constitucionais.
O art. 1º, caput, da CF, versa sobre os fundamentos da República Federativa do
Brasil.
Já o art. 2º da CF enuncia a separação de Poderes.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

Ao seu lugar, o art. 3º arrola os objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil.
Por fim, o art. 4º traz os princípios que regem a República Federativa do Brasil
em suas relações internacionais.
O grande desafio para as provas de Tribunais e MPU é memorizar esses artigos,
sabendo exatamente em qual artigo/categoria cada valor se encaixa.
Sendo assim, abordaremos os artigos/as categorias e passaremos dicas para
memorização.

1.1. Fundamentos da República Federativa do Brasil


Art. 1º da CF: “A República Federativa do Brasil (RFB), formada pela união indis-
solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa; V – o pluralismo político”.

Para memorizar os fundamentos da RFB, o amigo leitor pode se valer da expres-


são mnemônica: SO-CI-DI-VA-PLU.

f FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


SO: Soberania
CI: Cidadania
DI: Dignidade da pessoa humana
VA: Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
PLU: pluralismo político
SO-CI-DI-VA-PLU

Vale destacar que o parágrafo único do art. 1º da CF enuncia ainda: “Todo o


poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição”.
Trata-se do que a doutrina denomina de princípio democrático.

1.2. Poderes da União


Art. 2º da CF: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

Fundado na ideia de Aristóteles e na fórmula política de Montesquieu, o princípio


da separação de poderes enuncia que o poder político do Estado não pode ficar nas
mãos de apenas um governante, pois deve haver uma difusão das decisões estatais
em prol dos interesses do povo.

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Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

Nesse ponto, merece destaque a lição de Uadi Lammêgo Bulos: “Veja-se que,
em rigor, o poder político é uno e indecomponível. Por isso, quando falamos em
separação de Poderes estamos nos reportando a uma separação de funções estatais,
conferidas a órgãos especializados para cada atribuição”.1

f ATENÇÃO PARA A PEGADINHA!


O Ministério Público é uma função essencial à justiça (art. 127 da CF), não um Poder.

1.3. Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil


Art. 3º da CF: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil (RFB): I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o
desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e redu-
zir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”.

Para auxílio na tarefa de memorização dos objetivos da RFB, trazemos mais uma
expressão mnemônica: CO-GA-ERRA-PRO.

f OBJETIVOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


CO: Construir uma sociedade livre, justa e solidária
GA: Garantir o desenvolvimento nacional
ERRA: Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais
PRO: Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação
CO-GA-ERRA-PRO

1.4. Princípios que regem a República Federativa do Brasil em suas relações


internacionais
Art. 4º da CF: “A República Federativa do Brasil (RFB) rege-se, nas suas relações
internacionais, pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – pre-
valência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não inter-
venção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica
dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre
os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político”.

1. BULLOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 396.

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Perceba que dentre os princípios fundamentais, os que regem a RFB em suas


relações internacionais são os que estão em maior número e, por isso, são de mais
difícil memorização.
Sendo assim, a dica é: memorize os artigos 1º, 2º e 3º. Dessa forma você terá
condições de acertar os princípios que regem a RFB em suas relações internacionais
quase que por eliminação.
Entretanto, é importante que você esteja ao menos familiarizado com as expres-
sões, para não cair nos famosos jogos de palavras e expressões que o examinador
costuma fazer. Por exemplo: ao invés de colocar que a RFB rege-se em suas relações
internacionais pelo princípio da não intervenção, o examinador pode apontar o
princípio da intervenção, induzindo-o a assinalar uma alternativa errada. Portanto,
fique ligado!
Para a memorização, podemos utilizar duas expressões mnemônicas: IN-PRE-AU-
TO-NÃO IGUAL e DE-SO-RE-CO-CO.

f PRINCÍPIOS QUE REGEM A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL EM SUAS RELA-


ÇÕES INTERNACIONAIS
IN I – Independência nacional
PRE II – Prevalência dos direitos humanos
AUTO III – Autodeterminação dos povos
NÃO IV – Não intervenção
IGUAL V – Igualdade entre os Estados
DE VI – Defesa da paz
SO VII – Solução pacífica dos conflitos
RE VIII – Repúdio ao terrorismo e ao racismo
CO IX – Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade
CO X – Concessão de asilo político
IN-PRE-AUTO-NÃO-IGUAL DE-SO-RE-CO-CO

Destacamos, ainda, o art. 4º, parágrafo único, da CF: “A República Federativa do


Brasil (RFB) buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

f ATENÇÃO PARA A PEGADINHA!


O examinador costuma modificar o texto desse dispositivo e afirmar que os povos são
da América (suprimindo o “Latina”), ou dizer que a formação será de um bloco econô-
mico de nações (em vez de comunidade latino-americana de nações). Não caia nessas
pegadinhas clássicas. Vamos em frente!

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Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

2. DIREITOS FUNDAMENTAIS
Os direitos e garantias fundamentais estão formalmente alocados nos artigos 5º
a 17, que compõem o Título II da Constituição Federal.
Denominam-se direitos fundamentais os direitos humanos que são positivados
nas Constituições.

2.1. Dimensões ou gerações dos Direitos Fundamentais


A doutrina costuma dividir os direitos humanos e fundamentais em gerações ou
dimensões de direitos.
a) Primeira geração/dimensão de direitos: é composta pelos direitos civis e
políticos, orientados pelo valor liberdade, e que pressupõem uma postura
negativa (absenteísta) do Estado.
b) Segunda geração/dimensão de direitos: tem como elementos os direitos
econômicos, sociais e culturais, fundados no valor da igualdade, garantidos
por um comportamento positivo (ativo) do Estado, que os garantem mediante
a efetivação de políticas públicas.
c) Terceira geração/dimensão de direitos: abarca os direitos difusos e coletivos
e é informada pelos valores da solidariedade e da fraternidade.
Nesses termos, pode-se afirmar que os direitos civis e políticos (de primeira ge-
ração ou dimensão, caracterizados pelo valor liberdade) juntamente com os direitos
econômicos, sociais e culturais (de segunda geração ou dimensão, caracterizados
pelo valor igualdade) e também com os direitos difusos e coletivos (de terceira
geração ou dimensão, caracterizados pelo valor solidariedade ou fraternidade),
formam um conjunto indivisível de direitos fundamentais, entre os quais não há
nenhuma relação hierárquica.

2.2. Características dos Direitos Fundamentais e vedação ao retrocesso


Os direitos humanos e fundamentais são caracterizados pela indivisibilidade
(devem ser garantidos em conjunto), irrenunciabilidade (ninguém pode abrir mão
deles, apesar de ser possível não exercê-los), incaducabilidade (não prescrevem ou
decaem) e essencialidade (são imprescindíveis à manutenção da condição humana),
que decorrem da exigência de atendimento do princípio da dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III, da CF).
Atualmente também se tem afirmado que os direitos humanos e fundamentais
se submetem ao Princípio da Vedação ao Retrocesso. Também chamado de “efeito
cliquet”2, esse princípio preceitua que, uma vez garantido em um ordenamento

2. Trata-se de uma metáfora baseada no uso do verbete francês cliquet por praticantes de alpinismo.
A expressão designa situações fáticas de um percurso técnico em que somente é possível avançar,
subir.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

jurídico, notadamente no texto constitucional, um direito humano (que se torna fun-


damental pela positivação na Constituição) não pode mais deixar de existir naquela
sociedade ou Estado. Tal princípio está implícito nos ordenamentos jurídicos de todos
os Países que reconhecem a importância e a validade do direito internacional dos
direitos humanos.

2.3. Aplicação e eficácia dos Direitos Fundamentais


Voltando a atenção ao texto constitucional, vale destacar o art. 5º, § 1º, da CF:
“As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação ime-
diata”. (grifos nossos)
Além disso, o art. 5º, § 2º, da CF estabelece que: “os direitos e garantias expres-
sos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa
do Brasil seja parte”. (grifos nossos). Essa norma é conhecida como cláusula de
expansividade do catálogo de direitos fundamentais.
Vale destacar que, em sede doutrinária, há importantes estudos sobre a eficácia
dos direitos fundamentais.
Tradicionalmente sempre se afirmou a eficácia vertical dos direitos fundamen-
tais, assim entendida sua aplicação nas relações entre o Estado e os particulares.
Nos dias de hoje também se vem sustentando a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais. Também chamada de eficácia privada, externa ou em relação a ter-
ceiros, trata da aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre particulares.
O STF já reconheceu a eficácia horizontal em pelo menos três oportunidades: a)
Exclusão de cooperado: cooperados não poderiam ter sido excluídos sem que fosse
respeitado o devido processo legal (RE 158.215, julgado em 1996 e relatado pelo
Ministro Marco Aurélio); b) Caso Air France: os franceses não poderiam conceder au-
mento salarial apenas aos seus funcionários franceses, discriminado os brasileiros que
exerciam as mesmas funções (RE 161243-6, julgado em 2006 e relatado pelo Ministro
Carlos Velloso); c) Expulsão de associado: associado não poderia ter sido expulso
da União Brasileira de Compositores sem que lhe fosse garantido a ampla defesa
(RE 201819, julgado em 2005 e relatado para acórdão pelo Ministro Gilmar Mendes).

2.4. Posição hierárquico-normativa dos Direitos Fundamentais


Complementando a disciplina geral dos direitos humanos e fundamentais, surge
o art. 5º, § 3º, da CF, incluído no texto constitucional pela Emenda Constitucional (EC),
de 30 de dezembro de 2004.
Segundo o art. 5º, § 3º, da CF: “os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais”.

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Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

Nesse sentido, os tratados e convenções internacionais sobre direitos huma-


nos que se submeterem a esse processo de incorporação terão força de norma
constitucional. Esse novo trâmite já foi concretamente aplicado para a incorpo-
ração ao ordenamento jurídico brasileiro da Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pelo Congresso Nacional em 2008
e promulgada pelo Presidente da República em 2009 que goza, pois, de status
constitucional.
O grande problema é que, antes da inclusão do § 3º ao art. 5º da CF, o Brasil já
havia incorporado inúmeros tratados de direitos humanos, a exemplo da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (também conhecida como Pacto de San José da
Costa Rica), cuja aprovação no Brasil se realizou em 1992. Assim, restou a dúvida:
qual seria o status normativo dos tratados aprovados antes da EC 45/2004 e, portanto,
sem a observância do novo procedimento de incorporação?
O Supremo Tribunal Federal (STF) acabou decidindo que os tratados internacio-
nais sobre direitos humanos incorporados sem a observância da nova regra do
art. 5º, § 3º, da CF gozam de status supralegal3, gerando a formação de uma “nova”
pirâmide normativa, pois difere um pouco da noção clássica de Hans Kelsen (vide
primeiro capítulo deste livro).

“NOVA” PIRÂMIDE NORMATIVA


(baseada no posicionamento do STF)

STATUS CONSTITUCIONAL: Normas da CF + Tratados


de Direitos Humanos aprovados de acordo com as
regras do art. 5º, § 3º, da CF (Após EC 45/04)
STATUS SUPRALEGAL: Tratados de Direitos Humanos apro-
vados sem observância das regras do art. 5º, § 3º, da CF
(Antes da EC 45/04)

STATUS LEGAL: Leis Complementares e Leis Ordinárias

STATUS INFRALEGAL: Demais atos normativos

3. A esse respeito vale destacar julgado do STF, “Sem prejuízo da supremacia da Constituição sobre os
tratados e convenções internacionais, a norma convencional internacional em vigor e aplicável no
Brasil e que disponha acerca de direitos humanos, não tendo sido objeto de processo legislativo
que a equiparasse a emenda constitucional (art. 5º, § 3º, da CF, nos termos da EC 45/04), tem força
jurídico-normativa suficiente para restringir a eficácia e indiretamente obstar a aplicabilidade da
norma constitucional paradigma, gozando de status supralegal. (RE 466.343, julgado em 2008 e relatado
pelo Ministro Cezar Peluso).

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DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

Apesar de não estar alocado no título relativo aos direitos fundamentais, vale
destacar o conteúdo do art. 109, § 5º, da CF: “Nas hipóteses de grave violação de
direitos humanos, o Procurador Geral da República, com a finalidade de assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal
de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou pro­cesso, incidente de deslocamento
de competência para a Justiça Federal”. (grifos nossos)

3. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL – TPI


O art. 7º do ADCT prevê: “O Brasil propugnará pela formação de um tribunal
internacional dos direitos humanos”.
Tal dispositivo gerou eficácia com a incorporação ao direito brasileiro do Tratado
de Roma, o que se aperfeiçoou pelo Decreto nº 4.388/02, responsável pela criação
do Tribunal Penal Internacional.
A incorporação desse tratado motivou até mesmo a inclusão do § 4º ao art. 5º
da CF, por força da EC 45/04, que pronuncia: “O Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”.

4. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS


Os direitos e deveres individuais e coletivos estão concentrados no art. 5º da
CF, compondo um capítulo próprio do título da Constituição Federal que versa sobre
os direitos e garantias fundamentais.
O caput do art. 5º da CF enuncia: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes: [...]”.
Segundo posição doutrinária pacífica, o caput do art. 5º da CF reconhece a igual-
dade formal (tratar a todos da mesma forma, independente de qualquer situação
de desigualdade de fato).
Entretanto, implícita ao texto constitucional também existe a igualdade material,
que significa conferir tratamento desigual a pessoas que estão em desigualdade,
com o objetivo de garantir a igualdade. A igualdade material leva em consideração
os sujeitos e valores envolvidos e busca equilibrar as relações de fato.
Apesar de o caput do art. 5º garantir os direitos e deveres individuais e coleti-
vos apenas a brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, a doutrina e o STF os
estendem também para estrangeiros em trânsito no território nacional, a exemplo
dos turistas. (HC 94.016, julgado em 2008 e relatado pelo Ministro Celso de Mello).
Ademais, segundo entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal, as pessoas
jurídicas também são titulares de direitos fundamen­tais (AC 2.032-QO/SP, relatada
pelo Ministro Celso de Mello e julgada em 2008).

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Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

b) as informações devem estar armazenadas em registros ou bancos de dados


governamentais ou de caráter público43.

f ATENÇÃO PARA AS PEGADINHAS!


Não confunda o mandado de segurança com o habeas data. São comuns as questões que
desafiam os candidatos quanto ao cabimento dessas duas ações constitucionais. Para
facilitar a compreensão, elaboramos a seguinte tabela.

f MANDADO DE SEGURANÇA f HABEAS DATA

1. Conhecimento de informações de inte- 1. Conhecimento de informações relati-


resse pessoal do impetrante vas/referentes à pessoa do impetrante

2. Obtenção de certidão que contenha 2. Obtenção de informações constantes


informações de interesse pessoal do em registros ou bancos de dados (não
impetrante em certidões)44

Ainda sobre o cabimento do habeas data, merece lembrança a Súmula 2 do STJ:


“Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra a) se não houve recusa de infor-
mações por parte da autoridade administrativa”..
Desta feita, para que o habeas data seja processado, deve haver a comprovação
do pedido e da recusa/negativa quanto ao conhecimento das informações pela via
administrativa.
Por fim, a exemplo do habeas corpus, lembramos que a ação de habeas data é
gratuita.

5.6. Ação popular


Art. 5º, LXXIII, da CF: “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação po-
pular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento
de custas judiciais e do ônus da sucumbência”

43. Nos termos do art. 1º, parágrafo único, da Lei 9.507/97: “Considera-se de caráter público todo registro
ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou
que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações”.
44. O habeas data também não se presta para obtenção de vista em processo administrativo, consoante
posicionamento do STF: “A ação de habeas data visa à proteção da privacidade do indivíduo contra
abuso no registro e/ou revelação de dados pessoais falsos ou equivocados. O habeas data não se
revela meio idôneo para se obter vista de processo administrativo”. (HD 90-AgR, julgado em 2010 e
relatado pela Ministra Ellen Gracie).

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DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

A ação popular é o remédio constitucional ajuizado por qualquer cidadão, que


tenha por objetivo anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que
o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judi-
ciais e do ônus da sucumbência.
Como o requisito para a propositura é ser cidadão, e formalmente isso significa
ter título de eleitor, aquele que, a partir dos 16 anos, estiver munido desse docu-
mento, poderá ajuizar ação popular.

f ATENÇÃO PARA A PEGADINHA!


Se a lei exige que a propositura seja realizada por um cidadão, então é errado dizer que
qualquer pessoa poderá ajuizar ação popular (como fazem algumas bancas examinadoras
para testar a memorização e a atenção do candidato).

Nesse sentido, é tranquila a compreensão da Súmula 365 do STF: “Pessoa jurídica


não tem legitimidade para propor ação popular”.
Importante, ainda, destacarmos a Súmula 101 do STF: “O mandado de segurança
não substitui a ação popular”. Ou seja, se o objetivo for a anulação de ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade admi-
nistrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, deve ser ajuizada
ação popular, não sendo admissível mera opção pelo mandado de segurança.

f ATENÇÃO!
A ação popular tem objeto restrito à anulação de ato lesivo ao patrimônio público
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Portanto, ela não se presta a nenhum
outro objetivo!

Vale anotar que, nos casos de ação popular movida contra o Presidente da Re-
pública, a competência originária para o seu julgamento não é do Supremo Tribunal
Federal, pois não há previsão no art. 102 da CF, que conta com rol taxativo (regime
de direito estrito). Nesse sentido, a jurisprudência do STF: “A competência para
julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente
da República, é, via de regra, do juízo competente de primeiro grau. Precedentes.
Julgado o feito na primeira instância, se ficar configurado o impedimento de mais
da metade dos Desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa
obrigatória, ocorrerá a competência do STF, com base na letra n do inciso I, segun-
da parte, do art. 102 da CF”. (AO 859-QO, julgado em 2001 e relatado pelo Ministro
Maurício Corrêa).
Por fim, registramos que a ação popular está regulamentada infraconstitucio-
nalmente pela Lei 4.717/65.

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Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

6. QUESTÕES DISCURSIVAS
(MPE-SP – Promotor de Justiça - SP/2008) Aponte, de forma sucinta, as principais
controvérsias sobre a hierarquia normativa dos tratados internacionais de direi-
tos humanos antes e depois da Emenda Constitucional 45/2004. Atualmente qual
é a orientação predominante no STF? Já houve aplicação concreta da nova regra
constitucional pelo Poder Legislativo? Exemplifique.

RESPOSTA
Segundo o art. 5º, § 3º, da CF, incluído no texto constitucional pela EC 45/2004: “os trata-
dos e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Nesse sentido, os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que se submeterem a esse processo
de incorporação terão força de norma constitucional.
Esse novo trâmite já foi concretamente aplicado para a incorporação ao ordenamento
jurídico brasileiro da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
ciência, aprovada pelo Congresso Nacional em 2008 e promulgada pelo Presidente da
República em 2009 que goza, pois, de status constitucional.
O grande problema é que, antes da inclusão do § 3º ao art. 5º da CF, o Brasil já havia in-
corporado inúmeros tratados de direitos humanos. Assim, restou a dúvida: qual seria o
status normativo dos tratados aprovados antes e, portanto, sem a observância do novo
procedimento de incorporação?
No bojo do RE 466.343 e do HC 87.585, julgados em 2008, que tinham como objeto a prisão
civil de depositário infiel, o Supremo Tribunal Federal (STF) acabou decidindo que, os trata-
dos internacionais sobre direitos humanos que foram incorporados sem a observância da
regra do art. 5º, § 3º, da CF, gozam de status supralegal, ou seja, valem menos do que as
normas constitucionais, mas são superiores a quaisquer outras normas infraconstitucionais.

(FGV – XIX Exame Unificado - 2016) A Associação Antíqua, formada por coleciona-
dores de carros antigos, observando que Mário, um de seus membros, suposta-
mente teria infringido regras do respectivo Estatuto, designou comissão especial
para a apuração dos fatos, com estrita observância das regras estatutárias. A
Comissão, composta por membros de reconhecida seriedade, ao concluir os
trabalhos, resolveu propor a exclusão de Mário do quadro de sócios, o que foi
referendado pela Direção da Associação Antíqua.

Questionada por Mário sobre o fato de não ter tido a oportunidade de contradi-
tar os fatos ou apresentar defesa, a Associação apresentou as seguintes alega-
ções: em primeiro lugar, não seria possível a Mário contraditar os fatos ocorri-
dos, já que as provas de sua ocorrência eram incontestáveis; em segundo lugar,
os trâmites processuais previstos no Estatuto foram rigorosamente respeitados;
em terceiro lugar, tratando-se de uma instituição privada, a Associação Antíqua
tinha plena autonomia para a elaboração de suas regras estatutárias, que, no
caso, permitiam a exclusão sem oitiva do acusado. Por fim, a Associação ainda

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DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

alegou que Mário, ao nela ingressar, assinara um documento em que reconhecia


a impossibilidade de solucionar possíveis litígios com a referida Associação pela
via judicial.

Inconformado, Mário o procurou para, como advogado(a), orientá-lo sobre as


questões a seguir.
A) O direito à ampla defesa e ao contraditório podem ser alegados quando regras
convencionais não os preveem? (Valor: 0,80)
B) É possível que o Estatuto da Associação Antíqua possa estabelecer regra que
afaste a apreciação da causa pelo Poder Judiciário? (Valor: 0,45)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação.

RESPOSTA
A) Sim, o direito à ampla defesa e ao contraditório pode ser alegado, mesmo sem pre-
visão estatutária para tanto. Tal direito encontra fundamento no art. 5º, inciso LV, da CF,
e pode ser objeto de tutela em relações privadas, visto que a garantia do contraditório
e da ampla defesa é decorrente do devido processo legal e, portanto, é preceito de
ordem pública. Assim, deve ser observado mesmo em relações de âmbito particular.
Justifica-se a observância desse preceito com base na eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, entendimento segundo o qual os direitos fundamentais não apenas de-
vem ser respeitados nas relações indivíduo-Estado, mas também nas relações indivíduo-
-indivíduo. A eficácia horizontal é, portanto, o que vincula os particulares em relações
privadas, decorrente do reconhecimento de que não apenas na relação indivíduo-Esta-
do existem assimetrias, mas também nas relações indivíduo-indivíduo.
B) O estatuto da Associação Antígua não pode estabelecer regra que afaste a apreciação
da causa pelo Poder Judiciário, porque constitui direito e garantia fundamental contido
no texto constitucional, positivado no art. 5º, inciso XXXV, da CF: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

PADRÃO DE RESPOSTA DA BANCA EXAMINADORA


A) No caso em tela, o direito à ampla defesa e ao contraditório, previsto no Art. 5º, LV,
da CRFB, consubstancia preceito de ordem pública e não poderia ser desobedecido,
mesmo no âmbito das relações privadas, configurando verdadeiro direito subjetivo
de Mário. Afinal, direitos fundamentais dessa natureza devem ser observados tanto
pelo Poder Público como pelos particulares. Nessa linha, o sistema jurídico-constitu-
cional brasileiro tem reconhecido a possibilidade de aplicação da teoria da eficácia
horizontal dos direitos fundamentais. Em consequência, as violações aos direitos fun-
damentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o particular e o Estado,
mas igualmente nas relações estabelecidas entre pessoas físicas e jurídicas de direito
privado. Assim, em casos análogos ao descrito, em que um ente submete uma pessoa
ao seu poder decisório, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vincu-
lam, diretamente, não apenas os poderes públicos, como também estão direcionados
à proteção dos particulares em face do poder privado.
B) Não. Se o inciso XXXV do Art. 5º da Constituição Federal estabelece que “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, por muito

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Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

maior razão, diploma normativo sublegal certamente também não poderá fazê-lo.
Acrescente-se que o dispositivo em referência tem natureza de direito fundamental, o
que aumenta ainda mais sua densidade normativa.

(FGV – XI Exame Unificado - 2013) Morales, de nacionalidade cubana, participan-


te de reality show produzido e divulgado por emissora de televisão brasileira,
alega que teve o seu direito fundamental à intimidade violado, ao serem ampla-
mente divulgadas imagens suas em ato de convulsão, decorrentes de disfunção
epilética que possui. Assim, após sua saída do programa, ingressa com deman-
da em face da emissora de televisão.
Considerando o fato acima descrito, responda fundamentadamente:
A) É possível invocar um direito fundamental, previsto na Constituição, em uma
demanda movida contra um particular?
B) Seria correto o argumento, posto em sede de defesa, que a norma constitucio-
nal que resguarda o direito à intimidade não pode ser invocado, tendo em vista
a ausência de lei disciplinando o dispositivo constitucional?

RESPOSTA
A) Sim, é possível invocar um direito fundamental em demanda movida contra particular.
Em primeiro lugar cumpre salientar duas características dos direitos fundamentais que
devem ser levadas em consideração no caso em questão: universalidade e essencialida-
de. Esta se refere à inerência dos direitos fundamentais aos seres humanos, destacan-
do-se sua dignidade. Aquela diz respeito ao fato de os direitos fundamentais alcançarem
todos os seres humanos, sem distinção. Portanto, considerando essas características, é
perfeitamente possível que Morales ingresse com demanda em face da emissora brasi-
leira, ainda que seja cubano, posto que, de acordo com a interpretação dada pelo STF
ao caput do art. 5º da CF, os estrangeiros também são titulares de direitos fundamentais
no Brasil. Em segundo lugar, mesmo que seja uma demanda contra um particular, é
possível invocar um direito fundamental com base na teoria da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais. Além da eficácia vertical, entendida como aquela que vincula o
Poder Público aos direitos fundamentais, a doutrina também reconhece a existência
da eficácia horizontal, como sendo a que vincula os particulares em relações privadas,
decorrente do reconhecimento de que não apenas na relação indivíduo-Estado existem
assimetrias, mas também nas relações indivíduo-indivíduo. A eficácia horizontal dos
direitos fundamentais se fundamenta na dimensão objetiva dos direitos fundamentais,
que exige a proteção do Estado em caso de ameaça aos direitos (verticalidade), ameaça
esta que pode ser decorrente de atos de particulares (horizontalidade).
B) Não, o argumento da defesa é completamente equivocado. Os direitos individuais têm
aplicação imediata, e, portanto, eficácia direta e independente de legislação infracons-
titucional, consoante art. 5º, § 1º, da CF.

PADRÃO DE RESPOSTA DA BANCA EXAMINADORA


O objetivo da questão é verificar se o candidato tem conhecimento das características
dos direitos fundamentais, bem como das teorias acerca de sua aplicação.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

A) Deve ser respondido que é possível a demanda, explicando o que vem a ser eficácia
horizontal dos direitos fundamentais, bem como esclarecendo que esta eficácia horizon-
tal decorre da dimensão objetiva dos direitos fundamentais.
B) Não é correto o argumento da defesa. Os direitos individuais, nos termos do Art. 5º, §
1º, da Constituição Federal, têm aplicabilidade imediata, prescindindo de edição de nor-
ma regulamentadora, salvo quando a própria Constituição assim o exigir expressamente.

7. QUESTÕES COMENTADAS

01. (Cespe – Analista Judiciário – Direito – TJ – PA/2020) Um grupo de pais apresentou


requerimento a determinado município, solicitando autorização para realizar
manifestação pacífica na praça pública onde está sediada a prefeitura, a fim de
protestar contra políticas públicas municipais. A autoridade pública competente
negou o pedido, sob o fundamento de que frustraria outra reunião anterior-
mente convocada para o mesmo horário e local.

Nessa situação hipotética, para realizar a referida manifestação, o grupo de


pais utilizou o instrumento
a) inadequado, porque o direito de reunião não requer autorização, mas apenas
prévio aviso.
b) inadequado, entretanto a autoridade competente não poderia ter negado o
direito com base no fundamento utilizado.
c) adequado, porque o direito de reunião requer prévia autorização administrati-
va, cabendo ao grupo ajuizar ação popular contra a decisão que negou o refe-
rido pedido.
d) adequado, porque o direito de reunião requer prévia autorização administra-
tiva, cabendo ao grupo impetrar habeas corpus contra a decisão que negou o
referido pedido.
e) adequado, porque o direito de reunião requer prévia autorização administra-
tiva, cabendo ao grupo impetrar mandado de segurança contra a decisão que
negou o referido pedido.

COMENTÁRIOS
Alternativa “a” (responde todas as alternativas): Segundo disposição do art. 5º, XVI:
“XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anterior-
mente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente;”. Ao fazer requerimento, o grupo de pais estava pedindo autorização, o
que é desnecessário segundo o texto constitucional. O correto seria fazer prévio aviso,
a fim de não frustrar outra reunião. Logo, o instrumento utilizado pelo grupo de pais
foi inadequado. Vale ainda observar que a autoridade agiu corretamente, pois já havia
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo horário e local.
Alternativa correta: “a”.

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Tribunais e MPU-Lepore-Dir Constitucional-8ed.indb 124 06/06/2022 11:32:49


DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

Alternativa “e”. A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX, da CF).

8. QUESTÕES OBJETIVAS PARA TREINAR


01. (FCC – Técnico Judiciário – Área Judiciária – TRF 4/2019) Adão desmaiou no jar-
dim de sua casa no momento em que Adelina transitava na frente do imóvel. A
pedestre então empurrou o portão e adentrou o imóvel, durante a noite, para
prestar socorro a Adão. De acordo com a Constituição Federal, Adelina
A) não agiu corretamente, pois não podia ter entrado no imóvel de Adão, já que a
casa é asilo inviolável do indivíduo, nin­guém nela podendo penetrar sem con-
sentimento do morador.
B) agiu corretamente, pois podia ter penetrado no imóvel de Adão, já que o fez
para lhe prestar socorro.
C) não agiu corretamente, pois podia ter entrado no imóvel de Adão apenas no
caso de flagrante delito, já que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do morador.
D) agiu corretamente, pois é permitida a penetração no imóvel de Adão sem o
seu consentimento apenas para prestar socor­ro e por determinação judicial em
qualquer horário, seja durante o dia ou à noite.
E) não agiu corretamente, pois podia ter entrado no imóvel de Adão apenas com a
sua permissão ou, durante o dia, por determinação judicial, já que a casa é asilo
inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador.

02. (FCC – Analista Judiciário – Área Administrativa – TRT 2/2018) Considere que trata-
do internacional que veda a prisão civil do depositário infiel seja aprovado em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros. À luz das disposições da Constituição Federal, trata-
-se de tratado
(A) incompatível com o direito brasileiro, uma vez que não poderia vedar a prisão
civil do depositário infiel, já que prevista na Constituição Federal.
(B) incompatível com o direito brasileiro, apenas porque teria sido aprovado atra-
vés de procedimento não previsto no texto constitucional, embora no mérito
não haja óbice à vedação de prisão civil do depositário infiel.
(C) compatível com o direito brasileiro no que toca ao procedimento adotado para
a sua aprovação, mas incompatível ao vedar a prisão civil do depositário infiel,
já que prevista na Constituição Federal.
(D) incompatível com o direito brasileiro no que toca ao procedimento de aprova-
ção, mas compatível ao vedar a prisão civil do depositário infiel, por se tratar
de norma de direito fundamental mais protetiva do que aquela acolhida no
texto da Constituição Federal.
(E) compatível com a Constituição Federal no que toca ao procedimento adotado
para a sua aprovação, ademais de não haver óbice material à vedação da

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Tribunais e MPU-Lepore-Dir Constitucional-8ed.indb 146 06/06/2022 11:32:50


Cap. II • Princípios fundamentais, direitos fundamentais e direitos e deveres individuais e coletivos

prisão civil do depositário infiel, sendo referido tratado equivalente à emenda


constitucional.

03. (FCC / Técnico Ministerial – Administrativa / MPE-PE / 2018) Segundo a Constitui-


ção Federal, NÃO haverá penas: I. de caráter perpétuo. II. de perda de bens e
valores. III. de banimento. IV. cruéis. V. de interdição temporária de direitos.
Está correto o que se afirma APENAS em:
a) I, II e III
b) II e IV
c) I, IV e V
d) II, III e V
e) I, III e IV

(Cespe / Técnico do MPU / MPU / 2018) Com base nas disposições constitucionais
acerca de princípios, direitos e garantias fundamentais, julgue o item a seguir.

04. (  ) Os tratados internacionais sobre direitos humanos possuem status de


emendas constitucionais, de maneira que a autoridade pública que a eles deso-
bedecer estará sujeita a responsabilização.

05. (Consulplan – Técnico Judiciário – Sem Especialidade – TRF 2 – 2017) “Iliel e Anel
travaram intenso debate a respeito da relevância da distinção, para a República
Federativa do Brasil, do conceito de nacionalidade, em especial sob o prisma
da fruição de direitos e garantias individuais. Para Iliel, os direitos e garantias
individuais são privativos dos brasileiros, natos ou naturalizados. Anel, por sua
vez, acresceu que somente quem tem direitos políticos possui direitos e garantias
individuais.” À luz do disposto na Constituição da República, é correto afirmar que
a) somente a afirmação de Iliel está incorreta.
b) as afirmações de Iliel e Anel estão totalmente incorretas.
c) somente a afirmação de Anel está incorreta.
d) as afirmações de Iliel e Anel estão totalmente corretas.

06. (FGV – Técnico Judiciário– Área Administrativa – TRT 7/2017) Osmar estava em sua
residência e foi informado de que deveria permitir a entrada de um policial que
estava portando um mandado judicial de busca e apreensão, a ser cumprido
justamente em sua residência. À luz da sistemática constitucional, é correto afir-
mar que o ingresso na residência de Osmar, sem o seu consentimento, para o
cumprimento do referido mandado:
(A) poderia ocorrer em qualquer dia ou horário;
(B) deveria ocorrer em certo horário, que deve ser indicado pela autoridade judicial;
(C) deveria ocorrer à noite, se autorizado pela autoridade judicial;
(D) não poderia ser realizado à noite, ainda que Osmar seja muito perigoso;
(E) não poderia ocorrer no final de semana.

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Tribunais e MPU-Lepore-Dir Constitucional-8ed.indb 147 06/06/2022 11:32:50


DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore

07. (FCC – Analista Judiciário – Área Judiciária – TRT 23/2016) Um grupo de populares
sem vinculação partidária avisou previamente as autoridades administrativas
competentes a respeito da manifestação pública que pretendem realizar, in-
formando o dia, a via pública a ser utilizada para tanto e o horário do evento.
Após ter sido dada publicidade a essa manifestação pelas redes sociais, partido
político organizou a realização de um comício no mesmo dia, local e horário da
aludida manifestação, sem, no entanto, comunicar o fato às autoridades admi-
nistrativas competentes. Considerando o texto constitucional,
a) a realização da manifestação e do comício pode ser impedida pela autoridade
administrativa competente, por falta de autorização prévia, requisito expressa-
mente previsto pela Constituição Federal para que seja garantido o exercício da
liberdade de reunião.
b) a autorização prévia dada pela autoridade administrativa competente não é
requisito para o exercício da liberdade de reunião, sendo que a realização do
comício pode ser impedida pela autoridade competente caso o comício frustre
a realização da manifestação anteriormente convocada para o mesmo local.
c) caso haja incompatibilidade de realização da manifestação e do comício, a ma-
nifestação deve ser impedida pela autoridade competente em benefício do
comício político, uma vez que as manifestações públicas de partidos políticos
devem prevalecer sobre as demais.
d) deve ser garantida pela autoridade administrativa competente a realização da
manifestação e do comício, ainda que o comício possa frustrar a manifestação,
uma vez que a Constituição Federal assegura a liberdade de reunião sem exigir
o prévio aviso à autoridade competente.
e) a autoridade administrativa competente não pode interferir na realização do
comício, nem da manifestação, ainda que o comício frustre a manifestação, uma
vez que todos têm direito de exercer a liberdade de reunião em lugares abertos
ao público e para fins pacíficos.

08. (FCC – Analista Judiciário – OJAF – TRT 20/2016) Fausto, empregado da empresa X,
exerce a função de operador de máquinas. Na semana passada, seu chefe hie-
rárquico, chamou todos os empegados no pátio da fábrica e ofereceu bananas
aos macacos que não estavam atingindo as metas, apontando como exemplo
Fausto. Fausto, sentiu-se humilhado e chegando em sua residência, consultou a
Constituição Federal sobre a prática de racismo e verificou que a Carta Magna
a) prevê dentre os direitos sociais que a prática de racismo constitui crime inafian-
çável, mas prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
b) prevê dentre os direitos e deveres individuais e coletivos que a prática de ra-
cismo constitui crime inafiançável, mas prescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei.
c) prevê dentre os direitos e deveres individuais e coletivos que a prática de ra-
cismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei.

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Tribunais e MPU-Lepore-Dir Constitucional-8ed.indb 148 06/06/2022 11:32:50

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