Você está na página 1de 32

NOVO

ENSINO MÉDIO
NOVO
ENSINO MÉDIO
WEBSÉRIE
Apresentação: Felipe Rodrigues
Cobertura dos Episódios: República Conteúdo

EBOOK
Organização: Fernanda Furuno e Felipe Rodrigues
Diagramação: Henrique Caravantes e Fernando Leite
Preparação e revisão: Victória Feijó

CONVIDADOS DA WEBSÉRIE E CO-AUTORES DO EBOOK


Ana Barduchi Ribamar Monteiro
Alexandre Mattioli Sandra Tonidandel
Denis Drago Téo Sidarta
Leonardo Veloso Valéria Souza
Renata Stort

APOIO
INTRODUÇÃO
No mês de agosto de 2021, a DreamShaper deu início a Websérie Novo Ensino Médio e reuniu
especialistas educacionais que compartilharam conhecimentos e experiências essenciais sobre
essa reforma tão importante para o futuro da educação brasileira!
Ao todo, foram 3 episódios transmitidos pelo canal da DreamShaper no YouTube e
também no Facebook e LinkedIn.

Os 3 episódios foram pautados, respectivamente, pelos temas:

Novo Ensino Médio na prática


Criação de Itinerários Formativos
Disciplinas Eletivas e Projeto de Vida

Os palestrantes trocaram experiências e informações relevantes sobre o futuro da educação


no Brasil. O primeiro episódio teve a participação de Denis Drago, sócio proprietário da LDrago
Inteligência Educacional; Leonardo Veloso, professor de empreendedorismo e inovação do
Colégio Nacional e Ribamar Monteiro, diretor de negócios da Santillana Brasil.

O foco da primeira conversa foi o Novo Ensino Médio na prática, benefícios, desafios e soluções
para a implementação da reforma no dia a dia das escolas.

O bate-papo do segundo episódio contou com a participação de Alexandre Mattioli, diretor


editorial para educação básica e ensino superior na Pearson Education do Brasil; Renata Stort,
assistente de direção e professora de filosofia na Escola Stagium e Sandra Tonidandel, diretora
pedagógica do ensino fundamental II e do ensino médio do colégio Dante Alighieri.

Os especialistas abordaram suas experiências e conhecimentos sobre a Criação de Itinerários


Formativos e a importância da participação dos alunos e professores na escolha de quais cursar.

O terceiro e último encontro, teve a presença de Ana Barduchi, gerente pedagógica na Saber
Educação; Téo Sidarta, professor e coordenador de projetos pedagógicos no Colégio Objetivo da
Baixada Santista e Valéria Souza, supervisora de ensino na Rede Estadual Paulista.

Na ocasião, os palestrantes discutiram sobre os conceitos das Disciplinas Eletivas e Projeto de


Vida e a forma de implementá-los na instituição de ensino.

Os episódios foram conduzidos e mediados por Felipe Rodrigues, Diretor de Operações na


DreamShaper. Agradecemos a presença de todos os convidados que foram imprescindíveis para
trazer reflexões e inspirar novas atitudes na reforma educacional do país.

Boa leitura!
SUMÁRIO
EPISÓDIO 1

Novo Ensino Médio na prática 5

ARTIGO

O Novo Ensino Médio e o desafio da gestão 9

ARTIGO

Faz sentido aprender empreendedorismo no Ensino Médio? 11

EPISÓDIO 2

Criação de Itinerários Formativos 14

EPISÓDIO 3

Disciplinas Eletivas e Projeto de Vida 17

ARTIGO

Reflexões acerca da implementação das unidades eletivas e do projeto de vida dos estudantes 20

ARTIGO

Projeto de Vida, flexibilização curricular e o Novo Ensino Médio: quais as interfaces? 22

ARTIGO

Currículo e prática para um Novo Ensino Médio: um diálogo que precisa ser aberto 25

ARTIGO SELECIONADO

Implementação do Novo Ensino Médio e as mudanças no Enem em 2024 28


EPISÓDIO 1

Novo Ensino Médio na prática

DENIS DRAGO LEONARDO VELOSO RIBAMAR MONTEIRO


Sócio proprietário na Professor de Diretor de Negócios da
LDrago Inteligência Empreendedorismo e Santillana Brasil
Educacional Inovação no Colégio
Nacional
O tema da vez é o Novo Ensino Médio. Em
três episódios, especialistas educacionais
compartilharam conhecimentos e experiências
essenciais para quem quer saber tudo sobre
essa reforma tão importante para o futuro da
educação brasileira.

O primeiro episódio foi mediado pelo diretor


de operações pedagógicas da DreamShaper
no Brasil, Felipe Rodrigues, contando com os
seguintes convidados:

• Denis Drago, sócio proprietário da


LDrago Inteligência Educacional;

• Leonardo Veloso, professor de


empreendedorismo e inovação do
Colégio Nacional;

• Ribamar Monteiro, diretor de negócios da


Santillana Brasil.

O foco desta primeira conversa foi o Novo


Ensino Médio na prática. Drago e Monteiro
apresentaram desafios e soluções para a
implementação da reforma no dia a dia das
escolas. Nesse contexto, o professor Veloso
trouxe sua experiência com a aplicação da
Aprendizagem Baseada em Projeto (ABP ou PBL,
na sigla em inglês).

Desafios do Novo Ensino Médio

O sócio proprietário da LDrago Inteligência


Educacional, Denis Drago, iniciou destacando
que a sequência tradicional de conteúdos – em
que todos os alunos trabalham os mesmos temas
ao mesmo tempo – não faz mais sentido.

NOVO ENSINO MÉDIO 6


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
Com o Novo Ensino Médio, os alunos cumprirão “Atualmente, os currículos têm 10
trilhas de aprendizado diferentes. Isso traz alguns quilômetros de extensão e 5 centímetros de
desafios para implementação e operação da profundidade. Essa é uma das razões para
a falta de engajamento e o desembarque
reforma. O primeiro deles é a associação dos
de jovens alunos do ensino médio”.
conteúdos aos projetos realizados no âmbito dos
itinerários formativos.
Daqui para frente, o caminho aponta para a
formação integral do estudante a partir da
“É necessário ter controle sobre o que
cada aluno estudou e quais atividades reforma em curso. A formação integral abarca
desenvolveu. Com isso, o histórico escolar aspectos cognitivos, físicos, sociais e afetivos.
passa a ser um portfólio das habilidades do
estudante”. “Com um currículo mais flexível e
tornando a aprendizagem ativa por meio
Para Drago, o mais importante é que a escola do ensino por projetos, os itinerários
formativos permitem que os alunos sejam
promova diversas abordagens para desenvolver
protagonistas das suas escolhas. Isso
uma competência.
aumenta o interesse”.

“Dar possibilidades de experimentação,


Segundo Monteiro, o Novo Enem terá um papel
materiais didáticos, ambientes e conteúdos
para o aluno entender onde ele se encaixa fundamental na consolidação do Novo Ensino
melhor”. Médio.

Outro desafio diz respeito à avaliação e ao “Será o grande impulso para que, daqui a
três anos, estejamos em um modelo que de
treinamento de professores. Afinal, os docentes
fato se comunique com os alunos através
podem não estar acostumados às metodologias
de uma proposta mais atrativa.”
ativas de aprendizagem, como a PBL, o que
também exige a superação do modelo de provas
tradicionais.
Benefícios na prática

Caminhos para resgatar o Titular da disciplina de empreendedorismo


e inovação do Colégio Nacional, o professor
engajamento
Leonardo Veloso diz que o Novo Ensino Médio é
responsável por alinhar a educação ao momento
Na visão de Ribamar Monteiro, diretor de
de transformação digital pela qual a sociedade
negócios da Santillana Brasil, o Novo Ensino
Médio é uma oportunidade para resgatar o está passando.
interesse do aluno por sua formação.
Dessa maneira, os alunos estarão mais
preparados para a vida coletiva e para o mercado
de trabalho.

NOVO ENSINO MÉDIO 7


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
“Não temos como prever quais profissões “Mas a partir do momento em que
existirão daqui cinco ou seis anos. Mas precisam identificar um problema,
sabemos que os alunos precisarão pesquisar, propor e criar um protótipo,
trabalhar em equipe, ser criativos, flexíveis eles têm mais interesse em sala de aula,
e empáticos”. dominam seu aprendizado e desenvolvem
habilidades e competências”.

Garantir a apropriação destas soft skills para


cerca de 600 estudantes é um dos objetivos da
sua disciplina. Através da aprendizagem baseada
em projeto, eles botam a mão na massa em aulas
realizadas duas vezes por semana.

“São alunos que estavam acostumados


com uma educação em que tinham um
nível de tomada de decisão muito pequeno”.

Veja o episódio 1 no YouTube

NOVO ENSINO MÉDIO 8


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
DENIS DRAGO
Sócio proprietário na
LDrago Inteligência
Educacional

O Novo Ensino
Médio e o desafio
da gestão
A mudança do formato de trabalho do Ensino novo sistema de avaliação do Ensino Básico e
Médio não é uma surpresa para escolas, ou não Exame Nacional do Ensino Médio. Na prática,
deveria ser. Desde que a nova Lei de Diretrizes temos até 2024 para fazer diferente.
e Bases da educação nacional foi promulgada,
O Novo Ensino Médio impõe um modo de
em 23 de dezembro de 1996, há o interesse em
fazer diferente, que privilegia as escolhas dos
mudar a forma com que as escolas educam os
estudantes, algo inexistente até então. Foram
estudantes. O ponto de partida foi a constituição
décadas de ensino de adolescentes baseados
de conselhos municipais, estaduais e federal de
em método expositivo, todos caminhando juntos,
educação. Em um processo gradativo de escuta
rumo a um único objetivo: o acesso ao Ensino
das necessidades locais para o direcionamento
Superior por meio de vestibulares ou ENEM.
dos interesses educacionais do nosso país, as
regulamentações foram elaboradas, adequadas Essa mudança leva às escolas a uma
e modernizadas. Recentemente demos o último nova organização curricular, que desafia o
passo para a mudança: a regulamentação do planejamento pedagógico, o trabalho dos

NOVO ENSINO MÉDIO 9


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
professores e a organização administrativa. No Capacitação de professores
que diz respeito à organização administrativa, o
impacto financeiro nas escolas pode ser grande, O professor não pode errar e, para isso, precisa
caso a escola não consiga se planejar levando ser orientado a trabalhar com metodologias
em consideração alguns aspectos essenciais: educacionais adequadas ao necessário no
momento. Eles precisam estudar e, portanto,
a escola deverá oferecer novos programas de
O desejo dos alunos
desenvolvimento. O que parece ser um aumento

Realizar um ótimo Projeto de Vida pode ajudar de custo, pode provocar justamente o contrário

na oferta de soluções para o Ensino Médio e em médio prazo. A metodologia educacional

nas escolhas dos Itinerários Formativos dos nunca foi tão importante para garantir a

estudantes. Não temos chance de errar e relevância educacional e de gestão da escola.

precisamos entender que o trabalho realizado Observar estes três aspectos pode levar a escola
deve ser integrado ao currículo e abranger o ao bom desenvolvimento educacional e a atingir
máximo de estudantes possível. seus objetivos de gestão.

Hora aula é diferente de tempo de


Referenciais Bibliográficos
permanência BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB). Brasília, 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso
Um dos maiores desejos dos estudantes sempre em: 07 de outubro de 2021.
foi o de ter tempo para conversar, brincar, jogar,
se divertir. Esse tempo é retirado do dia-a-dia
da escola ao longo dos anos, gradativamente
até que, no Ensino Médio, os estudantes apenas
assistam às aulas. As aulas de Educação Física
significam o único tempo em que eles não ficam
em ambientes confinados, como uma sala de
aula ou um laboratório.

O Novo Ensino Médio pede para que novas


competências e habilidades sejam desenvolvidas
com os estudantes, entre elas a capacidade de
trabalhar em grupo e de resolver problemas
da sociedade, o que é possível apenas se os
estudantes tiverem tempo para trabalhar, e não
apenas assistirem aulas.

Uma escola que converte tempo de permanência


dos estudantes em hora aula, certamente gastará
mais, já que precisará de professores para
auxiliar o tempo inteiro de permanência dos
alunos na escola.
LEONARDO VELOSO
Professor de
Empreendedorismo e
Inovação no Colégio
Nacional

Faz sentido aprender


empreendedorismo
no Ensino Médio?

Segundo estudos, ensinar sobre empreendedorismo A transformação digital pela qual a sociedade
desde cedo acende nos jovens uma mentalidade atual vem passando faz com que possamos
empreendedora que faz com que eles comecem a repensar modelos tradicionais de educação que
adotar práticas e ações empreendedoras em todos nos direcionam e orientam não só para a nossa
os aspectos de suas vidas. Assim, se comunicam profissão, mas também para a formação do
melhor, aprendem com os erros, aceitam as falhas e indivíduo. E como podemos aprender com isso?
se tornam mais flexíveis e adaptáveis para enfrentar
O empreendedorismo é o que move a economia
obstáculos, resultando em maiores chances de se
de qualquer país. No Brasil, segundo o SEBRAE
tornarem felizes e bem sucedidos em suas futuras
(2018), já são 52 milhões de brasileiros que
carreiras.
empreendem em algum negócio (Global
Entrepreneurship Monitor), ou seja, 2 (dois)

NOVO ENSINO MÉDIO 11


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
em cada 5 (cinco) brasileiros. Sendo que o A minha geração, considerada como Y (nessa
percentual de jovens entre 18 a 24 anos já sopa de letrinhas geracionais) também tinha a
representa 22% desse total. clara sensação que uma ideia seria que tudo que
precisaríamos para desenvolver um produto e
Atualmente, somos considerados um dos países
sermos os novos milionários (naquela época ser
com maior número de empreendedores do
bilionários era um pouco menos incomum que os
mundo. Se você pensar que numa sala de aula
atuais donos das startups, o que também é uma
da faculdade com 30 alunos, estamos falando
impressão equivocada).
que 12 serão empreendedores. E será que eles
estão aprendendo as habilidades e competências Entretanto, o modelo econômico atual, definido
necessárias para isso? como economia compartilhada ou colaborativa,
está quebrando esses padrões e mostrando
Então quando, onde e como aprendemos a
que as ideias, por si só, não valem nada! Isso
empreender e inovar? Na prática, o que acontece
mesmo. Quantas ideias de bons negócios já
é que esse ensinamento ocorre no dia a dia,
houveram até que fossem colocadas em prática?
após a abertura das empresas. Por isso, mais da
No mercado atual uma boa ideia, sem um bom
metade delas morrem em menos de 5 anos de
modelo de negócios que o suporte e a faça ser
vida (6 em cada 10 empresas fecham em menos
executada, mesmo que numa versão menor, será
de 5 anos - Data base Sebrae – 2016), 30% em
apenas uma boa ideia, ao passo que uma ideia
menos de 2 anos.
mediana suportada por modelo de negócios bem
Só por isso, já seria suficiente falarmos trabalhado e que direcione a sua aplicabilidade,
em investimentos em uma educação pode revolucionar mercados. Essa é a força dos
empreendedora, a saber, garantir aos novos negócios.
adolescentes e jovens da nova geração uma
Empreendedorismo é útil somente para
inserção produtiva no mercado de trabalho,
negócios?
indo além de uma profissão para ter uma
carteira de trabalho. Ademais, a atual geração Então, se quase metade dos alunos são
de adolescentes e jovens acredita que ser empreendedores e o mercado penaliza aqueles
empreendedor é criar um novo Facebook. que não conhecem as suas regras, por qual
motivo não ensinamos isso nas faculdades? Mas
Um negócio sempre começa de uma “grande
será que as habilidades empreendedoras são
ideia” que vem cercada de argumentos pessoais
úteis somente para os negócios? Empreender
que será um sucesso absoluto. Ninguém tem
é mais do que abrir o próprio negócio ou
uma ideia ruim, já percebeu isso? Entretanto, ter
desenvolver habilidades de gestão de empresas.
uma grande ideia e ser o novo Mark Zuckerberg
não é somente uma vontade dos Millennials A educação empreendedora incentiva o
ou mesmo da geração Z que está chegando autoconhecimento e a busca pelo entendimento
ao mercado de trabalho (os chamados nativos do outro, dos problemas sociais, com o objetivo
digitais). de criar soluções que impactem e transformem
a vida das pessoas e da comunidade. E porque
não ensinamos empreendedorismo para os

NOVO ENSINO MÉDIO 12


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
alunos, não nas faculdades, e sim no ensino
médio, desenvolvendo habilidades que os nossos
filhos usarão por toda vida, inclusive dentro das
empresas.

Por isso, vejo como fundamental desenvolver


nos alunos do ensino médio, competências
como: senso de responsabilidade, liderança,
criatividade, persistência e capacidade de
trabalhar em equipe — habilidades essenciais no
mercado de trabalho.

O ensino das habilidades socioemocionais por


meio das práticas de empreendedorismo trazem
para sala de aula um modelo de aprendizagem
“mão na massa”, no qual abre um campo enorme
de experimentação para os alunos.

É perceptível entre os alunos que aprendem


empreendedorismo, uma melhora de
pensamento crítico e analítico, comunicação,
criatividade, trabalho em equipe e resiliência.
Além disso, alunos envolvidos com
empreendedorismo julgam a experiência de
aprendizado como sendo mais significativa e
divertida.

Referenciais Bibliográficos
Empreendedorismo atrai 52 milhões de brasileiros em 2018.
AGÊNCIA SEBRAE, 26 de fevereiro de 2019. Disponível
em: https://www.agenciasebrae.com.br/sites/asn/uf/NA/
empreendedorismo-atrai-52-milhoes-de-brasileiros-em-
2018,74ec85e533629610VgnVCM1000004c00210aRCRD
Acesso em: 06 de outubro de 2021.
Seis em cada dez empresas fecham em cinco anos de
atividade, aponta IBGE. VEJA BRASIL, 17 de outubro de 2019.
Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/seis-em-
cada-dez-empresas-fecham-em-cinco-anos-de-atividade-
aponta-ibge/ Acesso em: 06 de outubro de 2021.

NOVO ENSINO MÉDIO 13


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
EPISÓDIO 2

Criação de Itinerários Formativos

ALEXANDRE RENATA STORT SANDRA


MATTIOLI Assistente de Direção e TONIDANDEL
Diretor Editorial para Professora de Filosofia na Diretora Pedagógica do
Educação Básica e Ensino Escola Stagium Ensino Fundamental II
Superior na Pearson e do Ensino Médio do
Education do Brasil Colégio Dante Alighieri

NOVO ENSINO MÉDIO 14


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
lembrando que os itinerários formativos são um
conceito amplo.

“Se observarmos 100 escolas, provavelmente


encontraremos 100 maneiras diferentes de criar e
implementar os itinerários formativos”, destacou.
“Pode ser um conjunto de disciplinas, projetos,
núcleos de estudo, entre outras situações”.

Além disso, os itinerários formativos podem


ser organizados por um viés acadêmico, com
foco nas disciplinas das quatro grandes áreas,
O segundo episódio da websérie Novo Ensino
ou através de quatro eixos estruturantes –
Médio tratou de um dos principais desafios
investigação científica, empreendedorismo,
impostos pela reforma às escolas brasileiras:
mediação e intervenção sociocultural e
a criação e implementação dos itinerários
processos criativos.
formativos.
Segundo Mattioli, trata-se de uma oportunidade
Pelas regras, estes componentes personalizáveis
para as escolas trabalharem com diferentes
do currículo devem ocupar 40% da carga horária.
metodologias de ensino. Sem deixar de lado
O episódio foi mediado pelo diretor de operações
os componentes curriculares tradicionais, mais
pedagógicas da DreamShaper no Brasil,
alinhados às necessidades atuais do Enem e dos
Felipe Rodrigues, e contou com os seguintes
vestibulares.
convidados:
“As escolas que estão preocupadas com a
• Alexandre Mattioli, diretor editorial para
adição de carga horária devem olhar para os
educação básica e ensino superior na
projetos que elas já fazem hoje e que podem
Pearson Education do Brasil;
ser adaptados aos itinerários formativos”,
• Renata Stort, assistente de direção e disse. “Mas não basta registrá-los. É preciso
professora de filosofia na Escola Stagium; definir suas etapas, objetivos, conteúdos,
atividades, carga horária e formas de avaliação e
• Sandra Tonidandel, diretora pedagógica
acompanhamento.”
do ensino fundamental II e do ensino
médio do colégio Dante Alighieri.
A importância da participação de
Itinerários formativos: um conceito alunos e professores
amplo Para a assistente de direção e professora de
filosofia da Escola Stagium, Renata Stort, não
O diretor editorial para educação básica e
adianta criar itinerários de qualidade sem
ensino superior na Pearson Education do Brasil,
preparar os estudantes para aproveitá-los de
Alexandre Mattioli, trouxe a experiência dos
maneira significativa.
sistemas de ensino para a conversa. Ele começou

NOVO ENSINO MÉDIO 15


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
“Meu convite é para que as escolas reflitam “A chave para articular áreas do
sobre as experiências que acontecem conhecimento, conteúdos, habilidades e
desde a educação infantil e que antecedem projetos são os professores”, afirmou. “Eles
o itinerário formativo”, provocou. “Em que conhecem os alunos e podem garantir uma
momentos os alunos são incentivados a formação básica forte ao mesmo tempo
ter pensamento crítico para que as suas que desenvolvem competências”.
escolhas sejam conscientes?”
No colégio Dante Alighieri, os docentes foram
O questionamento de Stort deriva do fato de convidados a participar ao lado de gestores e
que os próprios alunos são os responsáveis por diretores dos comitês de liderança responsáveis
escolher quais itinerários formativos pretendem pela estruturação dos itinerários formativos. O
cursar. Cabe às escolas oferecer no mínimo duas trabalho começou em 2019.
opções.
“Olhamos para a cultura da escola e
“O protagonismo do estudante deve ser o da comunidade; saberes e práticas de
ponto de partida na criação dos itinerários professores e coordenadores; e desejos e
formativos”, apontou. “A escola precisa caminhos dos alunos” resumiu. “Tudo com
aprender sobre protagonismo observando um norte alinhado ao projeto pedagógico
o que traz paixão e entusiasmo aos alunos”. da escola”.

Complementarmente, a diretora pedagógica


do colégio Dante Alighieri, Sandra Tonidandel,
ressaltou o papel dos professores neste
processo.

Veja o episódio 2 no YouTube

NOVO ENSINO MÉDIO 16


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
EPISÓDIO 3

Disciplinas Eletivas e Projeto de Vida

ANA BARDUCHI TÉO SIDARTA VALÉRIA SOUZA


Gerente Pedagógica na Professor e Coordenador Supervisora de Ensino da
Saber Educação de Projetos Pedagógicos Rede Estadual Paulista
no Colégio Objetivo da
Baixada Santista

NOVO ENSINO MÉDIO 17


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
deu autonomia aos professores e estudantes na
construção das eletivas. O resultado não poderia
ter sido melhor.

“Nesse período, floresceram eletivas muito


melhores daquelas que poderíamos entregar
como modelo pronto. Isso graças ao trabalho
coletivo e criativo de estudantes e professores, o
que gerou um arcabouço enorme de iniciativas”,
ressaltou Souza.

Hoje, mais de 3.500 escolas da Rede Estadual


Em seu terceiro e último episódio, os
Paulista oferecem eletivas. As disciplinas
participantes discutiram sobre dois conceitos
precisam seguir apenas três regras: serem
fundamentais para a reforma: disciplinas eletivas
interdisciplinares; atreladas às competências do
e projetos de vida. Na ocasião, também foram
currículo; e passíveis de escolha pelo aluno.
apresentadas formas de implementá-los.
A gerente pedagógica na Saber Educação,
Os convidados foram:
Ana Barduchi, destacou que os quatro eixos
• Ana Barduchi, gerente pedagógica na estruturantes que servem de base para os
Saber Educação; itinerários formativos também apontam
caminhos para a construção das eletivas.
• Téo Sidarta, professor e coordenador
São eles: investigação científica; processos
de projetos pedagógicos no Colégio
criativos; mediação e intervenção cultural; e
Objetivo da Baixada Santista;
empreendedorismo.
• Valéria Souza, supervisora de ensino da
“As eletivas devem permitir a ampliação
Rede Estadual Paulista.
da cidadania, da visão de mundo e das
competências socioemocionais, além de
A construção das disciplinas conectar diferentes áreas”, explicou Barduchi.

eletivas
O papel dos projetos de vida
A supervisora de ensino da Rede Estadual
Paulista, Valéria Souza, mostrou como São Paulo O professor e coordenador de projetos
implementou as disciplinas eletivas muito antes pedagógicos no Colégio Objetivo da Baixada
da chegada do Novo Ensino Médio. Há 11 anos, o Santista, Téo Sidarta, iniciou sua fala lembrando
sistema de ensino integral paulista foi pioneiro ao que, conforme o Fórum Econômico Mundial, um
inseri-las no currículo. bilhão de empregos serão transformados pela
tecnologia até 2030.
Em um primeiro momento, a ideia era que as
escolas recebessem ementas prontas para as “Quem ingressar no ensino médio em 2022 vai
disciplinas. Uma mudança de rota, entretanto, entrar no mercado de trabalho em 2030. Ou seja,

NOVO ENSINO MÉDIO 18


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
estamos formando os profissionais do futuro”, “É necessário coerência entre todas as etapas
disse. “A questão é como podemos olhar para o dessa trajetória, para que o aluno chegue
Novo Ensino Médio e criar mecanismos para que no ensino médio mais amadurecido na sua
sala de aula seja significativa para o resto da vida capacidade de tomada de decisão”, completou
do aluno?”. Barduchi.

Parte da resposta está no projeto de vida – que Como bem lembrou a gerente pedagógica na
deve fazer parte da carga horária dos itinerários Saber Educação, o projeto de vida não pertence
formativos. Seu papel é provocar reflexões à escola e tampouco aos professores. “O projeto
relevantes para a construção do que o aluno de vida é do aluno”.
deseja ser no âmbito pessoal e profissional. Isso
passa por estimular a curiosidade e naturalizar a
possibilidade de erro, segundo Sidarta.

Além disso, o projeto de vida não deveria ser


visto como exclusividade de um componente
curricular, disciplina ou até mesmo do ensino
médio. Trata-se de um conceito que precisa
permear todos os níveis da educação básica.

Veja o episódio 3 no YouTube

NOVO ENSINO MÉDIO 19


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
ANA LUCIA JANKOVIC
BARDUCHI
Gerente Pedagógica
na Saber Educação

Reflexões acerca da
implementação das
unidades eletivas e
do projeto de vida
dos estudantes
Muitos são os desafios na implementação de tratar da sua implementação, é importante
do Novo Ensino Médio nas escolas, mas é definir os dois conceitos e os conhecimentos
importante destacar que todos eles se tornam associados a eles.
convites à reflexão sobre o projeto escolar e os
O Projeto de Vida é um mapa, que orienta as
desdobramentos e avaliações permanentes dos
situações que desejamos alcançar na vida, é uma
seus planos de ação.
visualização antecipada da vida que desejamos
Fazendo um recorte para as unidades ter ou levar. Trata-se, portanto, da busca de
curriculares eletivas e o Projeto de Vida, antes um sentido na vida, de uma forma de pensar e

NOVO ENSINO MÉDIO 20


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
de posicionar-se no mundo, olhando para as mundos do trabalho e universitário, mas não se
diversas esferas ou aspectos que constituem limita a isso, se tomarmos como base os eixos
o ser humano, por exemplo, as amizades, o estruturantes e os temas transversais da BNCC.
trabalho, os estudos, a saúde, o lazer e outros.
Há outros aspectos que devem ser considerados
Tem como finalidade o autoconhecimento, a quando comparamos a implementação do
transformação dos sonhos em metas a serem Projeto de Vida (PV) e das eletivas. O P.V não
alcançadas, bem como permite o alinhamento é exclusividade de um componente curricular,
entre os nossos valores e aquilo que vamos nem mesmo apenas do Ensino Médio. Enquanto
realizar na vida. Muito importante, não é rígido! que os itinerários formativos preveem trilhas,
Deve permitir revisão constante e mudança de caminhos, processo, as eletivas podem ter
rotas. (Barduchi, 2009). fim em si mesmas, sem necessidade de pré-
requisitos, ao mesmo tempo em que podem ou
Conforme apresentados na Base Nacional não integrar mais de uma área de conhecimento.
Comum Curricular (Ministério da Educação,
2021), os pilares que sustentam ou permeiam São vários os arranjos na organização e execução
do currículo do Novo Ensino Médio, e tais
o Projeto de Vida do estudante e, portanto,
arranjos dependem da sensibilidade ao contexto
também precisam ser desenvolvidos, são:
escolar como perfil, recursos físicos, financeiros,
• O protagonismo (não apenas nos estudos, humanos, contexto loco regional, grau de
mas também na cidadania, na ética e no experiência em relação à BNCC, características
enxergar-se como agente principal da da comunidade escolar, intencionalidade e grau
própria vida, responsabilizando-se pelas de inovação para começar (que impacta, por
atitudes, com autonomia e autoconfiança);
exemplo, em escolha de materiais, sistemas,
• A autonomia, para fazer escolhas plataformas digitais, outros) e do status ou
conscientes; diagnóstico sobre a intencionalidade dos
• A aprendizagem com significado, desafiadora estudantes.
e contextualizada;
Para finalizar o projeto de vida e as eletivas são
• Envolve os aspectos profissional, pessoal e espaços adequados para explorar metodologias
social; diversificadas e um convite intencional ao
• Autoconhecimento, entendido como protagonismo dos estudantes. E, como sugestão,
conhecimento de si mesmo, das próprias comece ouvindo seus estudantes, faça um
características, sentimentos, pensamentos, projeto, cujas ações possam ser acompanhadas
gostos e outros, para cuidar de si e do outro. e rapidamente modificadas, avalie resultados
e escute muito para promover os ajustes
As unidades curriculares eletivas fazem parte necessários.
do pilar de “diversificação e flexibilidade” do
currículo, sendo de escolha dos estudantes.
Já o projeto de vida é COMUM A TODOS OS Referenciais Bibliográficos
ESTUDANTES e, portanto, não deveria ser uma BARDUCHI, Ana Lúcia Jankovic. Projeto de Vida. In:
eletiva. _____ (org). Empregabilidade: competências pessoais e
profissionais. São Paulo: Pearson, 2009. p. 15-29.
As eletivas complementam o itinerário formativo BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional
Comum Curricular. Brasília, 2018. Disponível em: http://
e são opcionais para a escola. Podem ser basenacionalcomum.mec.gov.br/ Acesso em: 07 de outubro
implementadas aproximando o aluno dos de 2021.

NOVO ENSINO MÉDIO 21


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
VALÉRIA SOUZA
Supervisora de Ensino da Rede
Estadual Paulista e Coordenadora
do Curso de Pós-Graduação do
Instituto Singularidades sobre
Ensino Médio em Foco

Projeto de Vida,
flexibilização
curricular e o Novo
Ensino Médio: quais
as interfaces?
As atuais mudanças trazidas pela BNCC e seus direitos. E mais, que garanta aos estudantes
o Novo Ensino Médio (NEM) têm dado a serem protagonistas de seu próprio processo
oportunidade para que possamos refletir de escolarização, reconhecendo-os como
sobre o papel da adolescência e dos jovens interlocutores legítimos sobre currículo, ensino e
em seus percursos formativos. Sabemos que o aprendizagem.
conceito de juventudes (isto mesmo, no plural!)
implica organizar uma escola que acolha as “Significa, nesse sentido, assegurar-lhes
diversidades, promovendo, de modo intencional uma formação que, em sintonia com
e permanente, o respeito à pessoa humana e aos seus percursos e histórias, permita-lhes

NOVO ENSINO MÉDIO 22


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
definir seu projeto de vida, tanto no que esse motivo, a contextualização é um
diz respeito ao estudo e ao trabalho como princípio pedagógico fundamental, pois
também no que concerne às escolhas de permite estabelecer vínculos e relações com
estilos de vida saudáveis, sustentáveis e
os conhecimentos, de diferentes naturezas
éticos” (BNCC, 2018, p. 463).
e campos, com a participação ativa dos
estudantes. Dessa forma, podem participar
Neste sentido, cabe às equipes escolares
da construção do seu próprio currículo;
que atuam no Ensino Médio proporcionar
da ampliação, diversificação de conceitos,
experiências e processos que lhes garantam
procedimentos ou temáticas de componentes
as aprendizagens necessárias para a leitura
curriculares e áreas de conhecimento; do
da realidade, o enfrentamento dos novos
desenvolvimento de ações relacionadas aos
desafios da contemporaneidade e a tomada
seus projetos de vida e/ou à comunidade a
de decisões éticas e fundamentadas. O mundo
que pertencem de acordo com seus interesses;
deve lhes ser apresentado como campo aberto
da preparação para a futura aquisição de
para investigação e intervenção quanto a seus
capacidades específicas e de gestão de seus
aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais
conhecimentos para continuidade dos estudos e
e culturais, de modo que se sintam estimulados
para o ingresso no mundo o trabalho.
a equacionar e resolver questões legadas pelas
gerações anteriores – e que se refletem nos Mas é sempre bom lembrar que as Disciplinas
contextos atuais, abrindo-se criativamente aos Eletivas são uma das estratégias de uma
desafios da atualidade. mudança mais densa na arquitetura do Ensino
Médio. A BNCC e os novos marcos legais do
As atuais mudanças propostas para a etapa
Novo Ensino Médio definem como principal
final da Educação Básica trazem os itinerários
estratégia de flexibilização do Ensino Médio os
formativos como forma de flexibilizar a
chamados Itinerários Formativos que tem por
implementação dos novos currículos que
objetivo aprofundar e ampliar as aprendizagens,
necessitam prever a articulação de estudos
consolidar a formação integral, promover os
e práticas mais próximas dos interesses dos
valores universais e desenvolver habilidades.
adolescentes e jovens. Portanto, articuladamente
à parte Comum da BNCC e aos itinerários
Os itinerários formativos – estratégicos para
formativos é possível oferecer aos estudantes a flexibilização da organização curricular
uma estratégia de flexibilização curricular com do Ensino Médio, possibilitam opções
a oferta de Disciplinas Eletivas que têm por de escolha aos estudantes – podem ser
objetivo promover o enriquecimento, a ampliação estruturados com foco em uma área do
e a diversificação do currículo. conhecimento, na formação técnica e
profissional ou, também, na mobilização de
Nas Disciplina Eletivas - que têm sido para competências e habilidades de diferentes
muitas escolas e redes de ensino o primeiro áreas. (BNCC, p.477).
passo para a flexibilização curricular - a
interdisciplinaridade é considerada um eixo Neste contexto, cada vez mais temos
metodológico para buscar a relação entre os compartilhado a ideia de que o projeto de vida
temas explorados, respeitando as especificidades dos estudantes que tem como objetivo central
das distintas áreas de conhecimento. Por apoiar suas escolhas – possam estimulá-los a

NOVO ENSINO MÉDIO 23


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
refletir sobre seus desejos, sonhos e objetivos, colocando, como educador, em uma perspectiva
mas também receber orientação dos professores de apoio e cooperação. Assim, todas as nossas
de como podem se organizar, estipular ações devem ser estrategicamente pensadas
metas, planejar e perseguir com empenho, para o desenvolvimento do Projeto de Vida dos
determinação, responsabilidade, autoconfiança e estudantes e o fortalecimento do protagonismo
perseverança seus projetos de vida presentes e juvenil!
futuros.

Para que isto ocorra, o desenvolvimento da Referenciais Bibliográficos


autonomia dos estudantes é fundamental. ABRAMO, H. W. Considerações sobre a tematização social
Assim, o desenvolvimento do Projeto de Vida da juventude no Brasil. In: ABRAMO, H. W.; FREITAS, M. V.;
SPOSITO, M. P. (Orgs.). Juventude em debate. São Paulo:
pode fomentar o sentido e significado ao Cortez, 2002.
aprendizado que uma sociedade considera BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera a
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
necessário que os estudantes adquiram ao longo diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 2017.
da sua escolaridade. Não se trata, portanto, em ______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
acumular conhecimentos descontextualizados Curricular: Ensino Médio. Brasília: MEC/SEB, 2018.

com a realidade, é imprescindível ter autonomia ______. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/SEB, 2018.
para tomar decisões, manejar informações
COSTA, A. C. G. Por uma pedagogia da presença. Brasília:
cada vez mais disponíveis, ser colaborativo e Ministério da Ação Social, 1991.
proativo, e ser capaz de gerar soluções para DAMON, Willian. O que o Jovem quer da Vida? Como pais e
professores podem orientar e motivar os adolescentes. São
problemas para viver e interagir na sociedade Paulo: Summus, 2008.
contemporânea e atuar no mundo produtivo de DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes? Reflexões
maneira responsável. em torno da socialização juvenil. Educação & Sociedade,
Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100> Acesso
Mas lembre-se, não se trata apenas de oferecer em: 06 set.2021.
aulas consideradas exitosas na concepção DELORS, J. A educação para o século XXI: questões e
dos adultos. O mais desafiador é despertar o perspectivas. Porto Alegre: Artmed, 2005.

interesse dos jovens em participar ativamente GIL, Carmem Zeli de Vargas. Participação juvenil e escola: os
jovens estão fora de cena? Revista Última Década. Santiago,
dos processos educativos e valorizar seu v. 20, n. 37, dez. 2012.
percurso formativo. Esse interesse recebe um GOMES, Cândido Alberto. Juventudes: possibilidades e
limites. Brasília: UNESCO, 2011.
importante reforço quando o adolescente ou o
MACHADO, Nilson. Educação: projetos e valores. São Paulo:
jovem tem um objetivo, um desejo, bem como a Escrituras, 2004.
consciência de que a realização de seus sonhos MENEZES, Luis Carlos de. Novo Ensino Médio de Bolso. A
depende daquilo que ele pode aprimorar em si BNCC e a nova Lei. São Paulo: Arco 43 Editora LTDA, 2020.

mesmo, com o apoio da equipe escolar.

As suas escolhas pessoais, sociais, políticas,


culturais e profissionais não podem e não devem
ser tuteladas por adultos e sim estimuladas a
serem cada vez mais autônomas dando destaque
aos processos decisórios dos jovens e se

NOVO ENSINO MÉDIO 24


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
TÉO SIDARTA
Professor e Coordenador
de Projetos Pedagógicos no
Colégio Objetivo da Baixada
Santista

Currículo e prática
para um Novo
Ensino Médio: um
diálogo que precisa
ser aberto
Dentre os poucos consensos que podem ser Há muitas expectativas acerca da implementação
estabelecidos em escala global, destaca-se o do Novo Ensino Médio e boa parte delas pode
entendimento de que não há precedentes para estar associada a interesses de natureza diversa.
a complexidade dos desafios que a educação Isto pode ser caracterizado no inciso I, parágrafo
enfrenta hoje. Neste contexto, a escola vem se 8 do artigo 3º da Lei federal nº 13.415[2], que
apropriando de terminologias oriundas do mundo preconiza o “domínio dos princípios científicos e
empresarial[1], ainda que com algumas décadas tecnológicos que presidem a produção moderna”,
de defasagem, em busca de respostas mais pois demonstra estar em consonância com
rápidas às demandas que a sociedade impõe.

NOVO ENSINO MÉDIO 25


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
desenvolvimento de habilidades e competências Em primeiro lugar, precisamos imaginar um
tidas como necessárias para o ingresso no aluno que ingresse no ensino médio em 2022.
mundo profissional que não foram devidamente
Este aluno se formará em 2024, cursará mais 4 ou
contempladas nas propostas anteriores[3].
5 anos de ensino superior e, em 2030, este aluno
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ainda estará no começo de sua vida profissional.
é clara quando ressalta a importância da Como preparar um aluno para uma realidade que
utilização assertiva de tecnologias, destacada desconhecemos? Como construir um arranjo
pela competência geral nº 5, Cultura digital[4]. curricular, proporcionar abordagens e espaço
Apesar da aceleração na utilização de recursos para a prática de um componente curricular que
tecnológicos na educação alavancada pela o aluno não precise mais perguntar: “Professor,
pandemia do novo coronavírus e guardadas as onde eu usarei isto na minha vida?”.
devidas diferenças entre sistemas de ensino e
Em segundo lugar, é primordial desenhar um
entre regiões, o que se viu em demasia foram
modelo de eletivas que contemple a realidade em
tentativas de impor o modelo tradicional de
que o aluno e escola estão inseridos, diversificar
ensino por meio da tecnologia. Por mais que
o currículo baseando-se em contexto é uma
precisemos de uma certa dose de segurança
contenda que precisa ser discutida de forma
e confiabilidade no modelo escolar, não há
aberta com quem é mais atingido no processo
nenhuma garantia que o modelo que deu certo
de ensino-aprendizagem, o aluno. Ao trazer
ontem dará certo hoje. Isso também vale para
fórmulas prontas e algoritmos pedagógicos
os profissionais da educação, a aula que foi
corre-se o risco de derrota para o reducionismo,
lecionada na semana passada já pode estar
o que significaria reduzir o conteúdo científico,
obsoleta e prescindir de uma atualização.
a criatividade e o pensamento crítico[7]. A
Precisamos olhar com maior estranheza para
saída é procurar a pluralidade, contemplando
as práticas antigas do que olhamos para as
jovens diferentes culturas e respeitando suas
práticas novas, mas, para tanto, a educação
expectativas em relação à formação escolar de
precisa revirar-se em suas entranhas, pois é
qualidade, pois um currículo que não dialoga
penduricalho de tempos pregressos[5]. Neste
com a prática, não promove autonomia nem do
sentido, a formação de professores torna-se uma
estudante e nem da escola.[8]
ferramenta indispensável para a implementação
de um projeto não de adaptação, mas de Para pensar em um arranjo curricular que faça
transformação do ensino médio e a escola deve sentido e tendo em vista a importância da
propiciar um espaço permanente de formação de democratização do processo de construção e
professores. escolha das eletivas, a escola deve prover um
ambiente que proporcione o diálogo entre os
Diante do exposto, é inexorável que a escola
atores que participam da prática pedagógica,
procure construir um currículo em conjunto com
(BOTO et al., 2020 p.55)[9]:
os atores envolvidos, que deixe de ser um corpo
de conhecimentos e torne-se um terreno profícuo
[...] “Para isso, precisa articular os
para confluência de práticas[6] que preparem
conteúdos, a metodologia de ensino e as
a aluno para um mundo em que a mudança é a demais ações escolares com a diversidade
única constante. Como podemos fazer isto? sociocultural dos alunos evidenciada nas

NOVO ENSINO MÉDIO 26


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
práticas socioculturais e institucionais que
vivenciam. Em síntese, atender a todos por Referenciais Bibliográficos
meio de um currículo de formação cultural e
[1] HYPOLITO, Álvaro & LEITE, Maria Cecilia. (2012). Currículo,
científica, articulado pedagogicamente com Gestão e Trabalho Docente. Revista e-Curriculum. 8. 1-15.
a diversidade sociocultural, e diretamente [2]BRASIL L Lei Nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.
enlaçado às condições sociais, culturais e Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm
materiais de vida dos alunos.”
[3]CIAVATTA, M. e RAMOS, M. (2011) “Ensino Médio e
Educação Profissional no Brasil: dualidade e fragmentação”,
E finalmente ter um olhar atento e realizar Retratos da Escola, 5(8), pp. 27-41. Available at: http://
retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/45
acompanhamento próximo do projeto de vida,
[4] BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
que deverá ser a cereja do bolo neste novo Curricular. Brasília, 2018.
ensino médio. Dar ao aluno a oportunidade real [5] DEMO, Pedro Rupturas urgentes em educação. Ensaio:
Avaliação e Políticas Públicas em Educação [online]. 2010, v.
de escolha não faz sentido se esta escolha não
18, n. 69
for subsidiada por um componente curricular que
[6] SACRISTÁN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre
proporcione a liberdade de escolher associada a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000.

à responsabilidade que uma escolha traz. Se [7] FERRETTI, Celso João. A reforma do Ensino Médio e sua
questionável concepção de qualidade da educação. Estud. av.,
admitirmos que faz parte da natureza humana São Paulo , v. 32, n. 93, p. 25-42, ago. 2018 .
garantir sua existência se adaptando à realidade [8] MACEDO, E., MACEDO, R. S., AMORIM, A. C. GT Currículo
natural, então, as atitudes humanas, além da 2008 Como nossas pesquisas concebem a prática e com
ela dialogam? disponível em: https://www.fe.unicamp.br/
questão de sobrevivência, devem transformar a gtcurriculoanped/documentos/LivroDigitalAmorim2008.pdf
natureza no sentido de propiciar esta adaptação. [9] BOTO, C.; SANTOS, V. M.; SILVA, V. B.; OLIVEIRA, Z. V. A
escola pública em crise: inflexões, apagamentos e desafios.
Para Saviani[10], esta adaptação natural, São Paulo: Livraria da Física, 2020.
traduzida como transformação da natureza, deve [10] SAVIANI, Dermeval. SOBRE A NATUREZA E
ser mediada pelo trabalho e tem sua origem no ESPECIFICIDADE DA EDUCAÇÃO. Germinal: Marxismo e
Educação em Debate, Salvador, v. 7, n. 1, p. 286-293, jan. 2015
momento que seu agente antecipa mentalmente
ISSN 2175-5604.
a finalidade da ação, ou seja, a ação é, primeiro
planejada no campo das ideias, para depois ser
realizada de forma intencional.

Esta intencionalidade transformadora, no


Projeto de Vida, é desempenhada dentro da
sala de aula pelo professor, quando este faz
a mediação entre o aluno e o conhecimento,
guiando o aluno pelo caminho que ele escolheu,
construindo este conhecimento junto com os
alunos, levando em conta o contexto da sala de
aula e do aluno. Devemos ter em mente que o
currículo ao mesmo tempo que é alvo de leituras
e interpretações, também constrói realidades
curriculares.

NOVO ENSINO MÉDIO 27


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
O que você precisa saber sobre a

IMPLEMENTAÇÃO DO
NOVO ENSINO MÉDIO
E AS MUDANÇAS NO
ENEM EM 2024

O Ensino Médio como conhecemos no Brasil não será pré-requisito para a viabilização do
está com os dias contados. Novo Ensino Médio. O tempo mínimo de aula,
contudo, passa para cinco horas diárias (1 mil
O Ministério da Educação (MEC) definiu em horas por ano). Até então, o mínimo era de quatro
julho, por meio da portaria n° 521, que a reforma horas por dia (800 horas anuais).
será obrigatória a partir de 2022. As novas regras
se aplicam tanto à rede pública quanto para a A ampliação do tempo de aula é um dos fatores
rede privada de ensino. que permite a reestruturação do currículo, a partir
da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
O chamado “Novo Ensino Médio” prevê Além das disciplinas obrigatórias, os estudantes
ampliação da carga horária e currículo mais poderão aprender conforme o contexto no qual a
flexível. Sua implementação será escalonada escola está inserida e de acordo com as próprias
– isto é, uma série por ano, começando pelo necessidades e interesses. A escolha do aluno é
1° ano. Todo o ciclo educacional deve ficar de batizada de “itinerário formativo”.
acordo com o novo modelo em 2024 (confira o
cronograma no fim do texto). O novo currículo deve cumprir com as horas
obrigatórias de Português, Inglês e Matemática e
o colégio deve oferecer itinerários formativos nas
Entendendo o Novo Ensino Médio áreas de:

A implementação do ensino em tempo integral • Linguagens e suas tecnologias

NOVO ENSINO MÉDIO 28


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
• Matemática e suas tecnologias uma prova igual para todos, uma parte do exame
será de acordo com o componente curricular
• Ciências da Natureza e suas tecnologias
escolhido por cada estudante.
• Ciências Humanas e sociais aplicadas

• Formação técnica e profissional Cronograma do Novo Ensino


Médio
As alterações são de responsabilidade dos
estados, que precisam submeter um plano 2017
de implementação para análise do Conselho
• Reforma do Ensino Médio foi aprovada pela
Nacional de Educação (CNE). Em sete estados
Lei nº 13.415/2017.
os referenciais curriculares ainda estão em
desenvolvimento; oito já enviaram o plano para o 2020
CNE.
• Elaboração dos referenciais curriculares por
No Distrito Federal e em mais 11 estados, os parte dos estados.
planos já foram homologados. São Paulo, por
exemplo, foi o primeiro a ter o novo currículo do 2021

Ensino Médio aprovado pelo CNE, em julho de • Aprovação e homologação dos referenciais
2020. Os alunos paulistas terão 12 opções de curriculares nos Conselhos de Educação
itinerários formativos. estaduais e formações continuadas de

“Eu acredito no projeto e que, lá na ponta, professores.

professores e diretores e secretários são os 2022


grandes responsáveis para que esse Novo Ensino
Médio possa acontecer e ser um sucesso para • Implementação dos referenciais curriculares
os nossos jovens e para o nosso Brasil”, afirmou no 1º ano do ensino médio;
em um evento recente o ministro da Educação,
• Escolha e distribuição de obras didáticas
Milton Ribeiro.
por área de conhecimento e de formação
continuada;
Atualização no Enem • Publicação da portaria do Enem prevendo
adaptação às diretrizes do novo ensino
Com as mudanças do Novo Ensino Médio, o
médio.
Enem também será atualizado com os itinerários
formativos. Atualmente, o Exame Nacional do 2023
Ensino Médio é baseado em quatro áreas do
• Implementação nos 1º e 2º anos do ensino
conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências
médio.
Humanas e Ciências da Natureza.
2024
Para 2024, a previsão é que o Enem siga as
novas diretrizes. Isso significa que, em vez de • Implementação dos referenciais em todos os
anos do ensino médio;

NOVO ENSINO MÉDIO 29


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
• Escolha e distribuição dos materiais e
recursos didáticos para os itinerários
formativos;

• Publicação de novas matrizes de avaliação


do Saeb;

• Aplicação do Enem conforme as diretrizes do


novo ensino médio.

Acesse nosso blog


Tenha acesso a conteúdos relacionados ao Ensino Baseado em Projeto e confira
entrevistas com profissionais conceituados no mundo da educação.

dreamshaper.com/br/blog-br/

NOVO ENSINO MÉDIO 30


dreamshaper.com/br/ebook-novo-ensino-medio
Obrigado!
APOIO
Telegram
Pensando na troca de experiências,
conhecimentos e conteúdos importantes
sobre a Aprendizagem Baseada em
Projeto, a DreamShaper criou um canal
no Telegram. Assim, nós temos mais
uma forma para estarmos em contato e
discutirmos sobre o futuro da educação.

PARTICIPE

Newsletter
Receba informações semanais sobre
o mundo da educação. Inscreva-se na
newsletter DreamShaper e fique por
dentro dos principais assuntos sobre
Aprendizagem Baseada em Projeto.

ASSINAR

Você também pode gostar