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EDUCAÇÃO
DE
ADULTOS
2
SUMÁRIO
Introdução .............................................. 6
Estilos de aprendizagem na
Educação de Adultos...................................... 7
Jonathan SMITH
3
“A arte de ensinar adultos é uma arte flexível e bastante
diferenciada cujos princípios podem ser aplicados e adaptados a
uma extensa variedade de situações de ensino."
Jennifer Rogers
Edgar Fauré
4
INTRODUÇÃO
5
formadores numa perspectiva de autoformação e de heteroformação e,
consequentemente, para a dinâmica da formação contínua.
ESTILOS DE APRENDIZAGEM,
NA EDUCAÇÃO DE ADULTOS
Jonathan Smith
1. INTRDDUÇÃO
6
inseridos num quadro conceptual mais amplo. Enquanto certos alunos
apreciam a oportunidade de participar em discussões, e até de
começar a assumir responsabilidade pelas decisões, respeitantes às
actividades de aprendizagem e ao planeamento do curso, outros
queixam-se e ficam ressentidos se o professor permite aos alunos
"tomarem demasiado a palavra", ou se, na sua perspectiva, ele não
proporciona suficiente estruturação e controlo. Como diz Smith
(1982):
"Embora as preferências e disposições individuais
sejam, de há muito, evidentes, um volume crescente de
investigações vai emergindo, poucas dúvidas deixando de
que existe una base sólida para tomar a sério o que
acabou por designar-se como estilos de aprendizagem
[...] As pessoas tem estilos identificáveis de
aprendizagem, com importantes implicações para o
planeamento, o ensino e a aprendizagem do programa".
7
correlacionados com variáveis cognitivos particulares). É evidente
que, na prática, lidamos com dimensões relativamente "holísticas",
interessantes e importantes, na justa medida em que não se referem
apenas a uma área do funcionamento do aluno, tendo, pelo contrário,
implicações, ao nível de variados domínios: cognitivo, social e
comportamental. Para efeitos de análise, porém, examinarei,
primeiro, os factores cognitivos e, seguidamente, os
afectivo/sociais.
3. FACTORES COGNITIVOS
8
relações, sistemas, transformações e implicações), gera 120 aptidões
intelectuais (como pretende Guilford), cada uma das quais poderia,
com alguma razão, ser considerada como uma forma de estilo
cognitivo. Quem fosse dotado, em termos de "pensar de maneira
convergente acerca das relações simbólicas", digamos assim, teria um
estilo diferente de algum que apresentasse um bom nível na
"avaliação de sistemas semânticos". É certo que se diz, às vezes,
que o conceito de estilo cognitivo é preferível ao de aptidão
intelectual, na medida em que apresenta dimensões bipolares, ao
longo das quais é possível situar os indivíduos, em termos de serem
"diferentes" e não "melhores ou piores" uns que outros (Tennant,
1988; Witkin, et. al., 1977). No entanto, parece que o esquema de
Guilford oferece, em teoria, pelo menos, a possibilidade de traçar
um perfil de aptidões, indicando aspectos diferenciais fortes e
fracos, e que tal perfil poderia, com muita propriedade, ser
encarado como representação dos estilos cognitivos dos indivíduos.
Deve, porém, notar-se que o modelo de Guilford não foi associado a
outras variáveis sociais, de personalidade e educacionais, de forma
que se parecesse com outros estilos cognitivos.
Alguns estilos cognitivos mais conhecidos. Segue-se uma lista
se leccionada de alguns estilos cognitivos. Para uma visão mais
alargada e posteriores referencias, ver Messick (1978, 1986),
Squires (1981) e Kyllonen e Shute (1989). Mencionaremos, brevemente,
9 estilos e discutiremos, depois, 2 deles com mais pormenor.
9
conceptualização identificados, por exemplo, por Wallach e Kogan
(1965).
10
i) O esquema bidimensional dos estilos de aprendizagem de Kolb
e Fry põe em contraste convergência/divergência (em sentido
diferente do que foi referido em h) e assimilação/acomodação. Vamos
examiná-lo, um pouco mais adiante.
4. DEPENDÊNCIA-INDEPENDÊNCIA DO CAMPO
11
facilmente a figura embutida (independentes do campo, ao passo que
outras não são capazes de a achar, nos 3 minutos que, para isso,
lhes são concedidos (dependentes do campo).
12
Embora a dependência-independência do campo esteja
correlacionada com medidas da inteligência geral (por exemplo, Linn
e Kyllonen, 1981), parece que não pode ser considerada apenas uma
componente da inteligência. Justifica-se tal posição, graças à
quantidade de dados que Witkin e colaboradores recolheram, os quais
apresentam numerosas correlações entre a dependência-independência
do campo e outras variáveis sociais e de personalidade. Por exemplo,
as pessoas dependentes do campo são mais influenciadas por um quadro
de referência social, ao formarem as suas atitudes, gastam mais
tempo a olhar para a face daqueles com quem interagem e conseguem
também recordar-se melhor dessa face do que as independentes do
campo. Em geral, "apresentam uma imagem global de habilidades sociais
altamente desenvolvidas" (Witkin, 1978). Como veremos, adiante, Witkin
mostrou também como alguns destes factores sociais se reflectem nas
preferências educacionais e na interacção professor-aluno.
As implicações da dependência-independência do campo para a
educação. Witkin et al. (1977) extraíram as implicações da noção de
dependência do campo para a prática educativa, enquanto Tennant (1988)
elaborou uma tabela, a partir da sua análise.
13
sário, mediante feedback
negativo
3. Ambiente de ensino - Prefere a participação, um Mais eficaz na organização e
ambiente terno e pessoal orientação do ensino
Educação e planeamento da
carreira
1. Interesses - Prefere domínios Prefere domínios impessoais,
educacionais e interpessoais, de contacto analíticos, por exemplo,
profissionais com as pessoas, por ciências físicas, actividades
exemplo, ensino, técnicas
enfermagem, aconselhamento
14
Deve, porém, notar-se que nem todos os comentadores estão de
acordo em que tal equiparação constitua sempre a melhor política.
Wapner (1978), por exemplo, pergunta:
15
bastante para o aluno dependente do campo poder fazer a
experiência das relações humanas, tão importantes para
ele, tendo também a vantagem de poder beneficiar de
sugestões autorizadas [...] Ao depararem com um aluno
independente do campo, tais professores podem temperar as
suas orientações directivas, moderar a dimensão
interpessoal e fazer perguntas difíceis, que desafiem os
interesses e habilidades analíticas de que o mesmo aluno
é portador. É possível encontrar tais professores, mas
eles são raros (1976, pp. 87-88)
EA OR
EXPERIMENTAÇÃO ACTIVA OBSERVAÇÃO REFLEXIVA
CA
CONCEITOS E GENERALIZAÇÕES ABSTRACTOS
16
Os quatro tipos de aptidões são considerados necessários,
para que a aprendizagem seja eficaz, embora se pense que a
maioria das pessoas é mais forte numa ou duas do que nas outras,
em virtude das diferenças, ao nível da sua experiência anterior
ou da escolaridade.
Concreto
• Comércio
• História
ACOMODANTE DIVERGENTE
• Psicologia
Activo Reflexivo
• Enfermagem
• Economia
CONVERGENTE ASSIMILANTE
• Física
Abstracto
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FIGURA d. Os quatro principais estilos de aprendizagem. Mostra
também alguns escores médios de estilos de
aprendizagem de alunos de grupos disciplinares
diferentes (segundo Kolb, 1984).
1. CONVERGENTE.
2. DIVERGENTE.
3. ASSIMILANTE
4. ACOMODANTE,
18
riscos; capaz de se adaptar, rapidamente, a circunstâncias
mutáveis; solucionador intuitivo de problemas; se a teoria se não
coaduna com o factos, é mais propenso a abandonar a teoria;
confia nos outros, no que respeita à informação, mas pode parecer
impaciente e "insistente".
19
Os ambientes altamente simbólicos colocam problemas, quando
- como é habitual - há uma resposta certa ou "a melhor" solução.
O professor é o representante aceite do corpo de conhecimentos, o
perito no assunto e o garante das normas; o ambiente
comportamentalmente complexo dá ênfase à resolução de problemas
práticos; os estudos de caso e as simulações são actividades de
aprendizagem prováveis, sendo a realização das tarefas uma
prioridade. Cada uma das quatro dimensões ambientais se orienta
para um dos quatro modos de aprendizagem de Kolb (enquanto
opostos aos seus estilos de aprendizagem). Desta forma, um
ambiente afectivo põe em relevo o experienciar de acontecimentos
concretos; um ambiente simbólico coloca o acento na
conceptualização abstracta; o ambiente perceptivo sublinha a
observação e a apreciação, ao passo que o ambiente comportamental
dá ênfase à acção.
Fry (1978) mostrou como é possível avaliar os ambientes de
aprendizagem, em termos destas dimensões. Muitos cursos, ou
talvez a maioria, revelarão combinações destes tipos de ambiente.
Embora seja necessária mais investigação, que relacione os
ambientes com o estilo de aprendizagem, esta abordagem é
promissora.
O modelo de Kolb teve influência, não só na educação, mas
também nos círculos de gestão. Juch (1983) refere, por exemplo,
que a formulação original por Kolb dos estádios de aprendizagem,
quando apresentada aos gestores.
20
Ao mesmo tempo, Juch considerou a linguagem e a
conceptualização de Kolb demasiado limitadas e académicas para o seu
trabalho de formação de gestores, redefinindo os quatro estádios, do
modo seguinte:
21
duração, a atear o fogo do combate [...]; tendem a
progredir face ao desafio de novas experiências".
22
Honey e Mumford sugerem uma gama de actividades de
aprendizagem adaptadas a cada estilo de aprendizagem. Por exemplo,
que:
23
resultados, da forma nem sempre requerida aos educadores, aos
docentes de instituições escolares particulares, que podem, às
vezes, permitir-se continuar "teóricos", sem prestar suficiente
atenção à aplicabilidade das suas ideias. Assim, embora o esquema de
Honey e Mumford não tenha recebido o mesmo grau de confirmação
científica que o de Kolb, é dotado de um potente apelo "prima facie"
e, no que concerne ao autor destas linhas, diz, certamente, mais à
sua própria experiência, tanto da sua aprendizagem como da dos seus
educandos. A descrição das actividades de aprendizagem, em
particular, fornece material fértil de negociação com os problemas
dos educandos, relativos à metodologia a utilizar no curso e a
selecção de tarefas apropriadas de ensino e aprendizagem.
6. FACTORES AFECTIVO/SOCIAIS
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interiorização, que leva as pessoas a esperar delas próprias certos
comportamentos.
Foi elaborado um certo número de questionários e inventários
para avaliar algumas destas diferenças na motivação e nas
expectativas, entre educandos. Smith (1982), por exemplo, descreve
uma quantidade de tais inventários de estilos de aprendizagem: o
Productivity enviromental preference survey produz uma medição do
comportamento "motivado-não motivado" e da "persistência"; o
Canfield learning styles inventory mede as expectativas , em termos
do "nível de performance antecipada”, o Lafferty life styles
inventory inclui uma avaliação do "estilo de rendimento" , que
representa a preocupação dominante por "completar a tarefa" e a
"tendência para obter grande recompensa pelo próprio rendimento"
(Smith, p. 69).
A distinção entre motivação intrínseca e extrínseca emerge, no
esquema de Entwistle (1981) que, na sequência de Biggs (1978),
identifica três tipos de motivação pela aprendizagem: significação,
quando o educando procura compreender, pessoalmente (esta
aprendizagem é considerada intrinsecamente motivada); reprodução, em
que se procura memorizar, suficientemente, o material, com vista à
subsequente reprodução (diz-se motivada extrinsecamente, por receio
do fracasso); realização, quando o que se busca são classificações
elevadas (é também extrinsecamente motivada, mas há esperanças de
êxito).
Pode esperar-se que os educandos difiram, em termos do
modo como são predominantemente motivados, sendo possível que
o mesmo educando manifeste motivações diferentes, em ocasiões
e contextos diferentes.
7. APRENDIZAGEM AUTO-DIRIGIDA
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"O desenvolvimento das capacidades de
aprendizagem auto-dirigida é talvez o objectivo
mais frequentemente articulado por educadores e
formadores de adultos" (Brookfield, 1986, p. 40).
"Algo de dramático acontece ao seu conceito
de si, quando o indivíduo se define como adulto
[...]; o seu conceito de si torna-se o de una
personalidade auto-dirigida [...]; de facto, o
momento em que uma pessoa se torna adulto é aquele
em que se percebe a si mesma como auto-dirigida"
(Knowles, 1970).
26
auto-dirigida". Outra dificuldade potencial da noção é o seu viés
típico da classe média. A maioria das investigações empíricas sobre
a auto-direcção na aprendizagem baseando-se, por exemplo, em
instrumentos de avaliação tais como o Self directed learning
readiness scale (Guglielmino e Guglielmino, 1982), utilizaram como
amostras indivíduos da classe média e culturalmente favorecidos. A
existência ou a desiderabilidade da auto-direcção, em alunos
desfavorecidos, parece muito menos bem estabelecida.
Porém, com vista a consideração mais pormenorizada destes
problemas, reenviamos o leitor para outras fontes (por exemplo,
Brookfield, 1986; Candy, 1987; Tennant, 1988). A nossa preocupação,
de momento, é a realidade das diferenças individuais entre
educandos, no que concerne à sua preferência pela aprendizagem auto
ou hetero-dirigida e as correspondentes diferenças nos estilos de
aprendizagem. Por digno ou desejável que seja o nosso empenhamento,
enquanto educadores, pelo objectivo da auto-directividade dos
educandos, o facto é que estes, regularmente, reclamam e preferem a
orientação dos seus educadores. O próprio Carl Rogers, que devotou a
vida inteira a promover a auto-direcção e a auto-actualização, em
todas as áreas da vida, observou que só a terra ou a quarta parte
dos educandos são indivíduos auto-dirigidos, sendo a maioria
pessoas, que "fazem o que se supõe que eles façam" (Rogers, 1969,
citado por Candy, 1987).
Smith recorda-nos de que "as pressões actuais, no sentido da
chamada aprendizagem auto-dirigida, são bem intencionadas e
potencialmente úteis, mas igualmente simplistas". Ele observa que:
27
Um estudo anterior da autoria de Wispe (1951) tem hoje, a
mesma relevância que então, para os educandos adultos. Wispe
distinguiu os educandos, que desejavam "mais permissividade",
daqueles que queriam "mais orientação". Alguns membros de cada grupo
eram, então, colocados na situação de aprendizagem oposta, isto é,
alguns dos que "desejavam mais permissividade" eram postos numa
situação de ensino estruturado, enquanto a outros dos que "queriam
mais orientação" se lhes dava mais liberdade. As respostas a um
questionário revelaram que os educandos, que "desejavam mais
orientação", se queixavam de que os professores "nunca davam
lições", estavam "mal preparados" e "nem conseguiam sequer responder
a uma pergunta de forma directa". Os que "desejavam maior
permissividade", por sua vez, afirmavam que os professores "davam
demasiadas lições" e “desencorajavam pontos de vista diferentes dos
seus". É interessante que Wispe sugere, também, que, enquanto a
frustração, em ambos os grupos, era muito intensa, isso verificava-
se, principalmente, no grupo dos que "desejavam mais orientação",
que era o que tinha mais baixa opinião dos professores, como se a
necessidade de orientação, quando contrariada, gerasse mais
frustração que a necessidade de permissividade e autonomia.
A este propósito, Candy (1987) faz a salutar advertência de
que é bem possível que os educandos autónomos cheguem,
intencionalmente, à "suspensão estratégica" da sua independência, a
fim de serem ensinados, quando reconhecem que não estão equipados
com a suficiente informação para fazer escolhas fundamentadas, no
que concerne ao conteúdo ou aos métodos de ensino.
8. CONCLUSÕES
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Passámos em revista três aspectos dos estilos de aprendizagem,
com mais pormenor: a dependência/independência do campo, o modelo de
aprendizagem de Kolb e a preferência pela auto ou hetero-direcção da
aprendizagem.
Que implicações tem estas ideias para o ensino dos adultos? A
cada professor competirá decidir que importância tem estas
distinções para sua prática diária de ensino. A eles caberá,
igualmente, determinar que atenção dar a cada uma das diferenças
individuais, que reconhecem nos seus educandos. No mínimo, parece
importante reconhecer que os educandos não constituem um grupo
homogéneo, em que todos aprendem da mesma maneira (e ainda menos
necessariamente, da maneira preferida pelo professor!). Talvez que
uma das sugestões mais construtivas seja a de Tennant (1988), que
recomenda se partilhem com os educandos as informações sobre estilos
de aprendizagem:
JONATHAN SMITH
Center for Extra-Mural Studies
Universidade de Londres, Revista
Portuguesa de Pedagogia*, Ano XXIV, 1990
* (Tradução do Doutor António Simões)
29
O EDUCANDO ADULTO
ALGUMAS RAZÕES DE FRACASSOS EM EDUCAÇÃO DE ADULTOS
Johan Norbeck
30
Uma terceira razão é o facto de, na maior parte dos países, as
escolas construídas para crianças, parecerem ao educador o lugar
mais natural e apto para a educação de adultos. Assim, neste
contexto, a conjuntura física contribui para vários efeitos
psicológicos infelizes, tanto para o professor como para o próprio
adulto.
A segunda causa é a seguinte: Os adultos não sentem
necessidade de educação. Não estão motivados para ela. Ou então não
estão motivados para o tipo de educação que lhes é dada (ou
imposta).
Demasiadas vezes, os políticos e os educadores que vêem a
necessidade da educação de adultos, começam a planeá-la sem sequer
consultarem o adulto que a vai receber. Às vezes os adultos são mais
vítimas do que participantes dos programas de educação de adultos.
Pode parecer estranho às pessoas que não estão dentro do assunto
ouvir dizer que muitos adultos não ficam muito entusiasmados com a
ideia de aprenderem novos métodos para melhorarem as suas
actividades quotidianas e, muito menos, de aprenderem coisas
abstractas como ler, escrever e contar. Em contraste, os educadores
pensam que é evidente que os adultos querem estas e outras coisas.
Por vezes os programas foram executados sem se ter considerado
a motivação. Noutros casos os adultos foram levados a tomar parte.
Em ambos os casos, o número de desistentes é normalmente oscilante e
os que continuam, duma maneira geral, esquecem tudo tão depressa
como aprenderem.
A terceira causa está intimamente ligada à primeira: não
conhecemos os adultos. Não conhecemos as suas idades, profissões,
origens culturais, experiência, condições sócio-económicas,
condições físicas, etc. De novo, tudo isto é um erro muito grande,
fruto da nossa tendência natural para confundir estudantes adultos
com crianças. Com as crianças, temos o hábito de pensar que as suas
idades são mais ou menos iguais, que as suas profissões são
inexistentes, que a sua experiência quase nula e que as suas
condições físicas são boas. Quanto à sua origem cultural e às
condições sócio-económicas, há muito que se diga da maneira como nos
esquecemos delas, muitas vezes com consequências terríveis.
31
Esta questão de não se conhecer o adulto, tem muito a ver com
a manutenção da sua motivação durante o decurso do programa. Ela vai
afectar o modo como nós tentamos comunicar-lhe as coisas. Vai
afectar o material e o conteúdo das disciplinas que estão a ser
estudadas.
Deixem-me contar-vos um exemplo célebre de como um programa de
educação de adultos pode ser um falhanço total e drástico, quando os
educadores não conhecem os seus alunos adultos.
Havia um distrito de um país do Terceiro Mundo, nos Trópicos,
onde grassava uma epidemia de malária. A maior parte dos adultos
desse distrito não sabiam ler. As autoridades queriam ensinar-lhes a
utilizarem os medicamentos preventivos contra a malária, isto é, o
simples uso de comprimidos de quinino. Uma vez que os adultos não
sabiam ler, os educadores encarregados da campanha reuniram as
pessoas que podiam andar de aldeia em aldeia e puseram-nas a fazer
demonstrações e a distribuir os remédios, ao mesmo tempo que
colocavam cartazes impressos em troncos de árvores e paredes de
palhotas. O cartaz continha três imagens simples, alinhadas, um
pouco como uma mini-banda desenhada. As três imagens mostravam uma
cara de mulher, igual a cara de qualquer mulher dessas aldeias. A
mulher na primeira imagem tinha uma expressão de abatimento, de
infelicidade, de sofrimento. A imagem do meio mostrava a mulher a
tomar um comprimido igual aos comprimidos de quinino. A terceira
imagem mostrava a mulher com uma expressão saudável, feliz e
sorridente.
32
É claro que na maior parte dos casos, a causa e o efeito serão
muito mais complexos, mas este exemplo mostra a grande importância
de conhecermos muito bem os estudantes adultos.
QUEM É O ADULTO?
33
O facto de uma pessoa ter já ultrapassado a adolescência, deve
ser significativo para a nossa definição. É um conceito básico para
indicar que uma pessoa ultrapassou já certas fases do seu
desenvolvimento e que atingiu uma certa maturidade. Também nos diz
algo sobre responsabilidades sociais em potência.
Também conseguimos saber mais sobre as responsabilidades
sociais em potência quando incluímos algo sobre a "idade social". O
adulto é aquele que tem direito a voto, a casar, a empregar-se, a
ter carta de condução, ou é aquele que pode ser condenado à prisão?
O problema é que nestes diversos aspectos, olha-se para o adulto como
tendo idades muito diferentes. Num certo país, por exemplo, é-se
considerado suficientemente maduro aos 16 anos para se possuir carta
de condução, aos 18 anos para se casar e aos 20 anos para se votar.
Para atingirmos o nosso propósito é mais interessante
considerarmos as responsabilidades sociais reais do que as potenciais.
Será uma pessoa responsável por si própria, por uma família ou por um
certo trabalho? Estes factores é que vão influenciar definitivamente o
nosso programa educacional.
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países, não admitem estudantes nas suas universidades que não tenham
um ano de experiência de trabalho. Noutros países, os estudantes pagam
os seus estudos trabalhando a tempo parcial. Outros países, ainda,
admitem nas suas universidades estudantes que não fizeram os estudos
secundários, mas que, em vez desses, têm quatro ou cinco anos de
experiência de trabalho. Todos estes diferentes elementos exigem uma
mudança nos conteúdos e métodos de educação universitária, e
qualquer dia unificarão a educação universitária e a educação de
adultos.
*
* *
Alterações de audição
Alterações de visão
35
Não pensem, contudo, que todos aqueles que participam em
educação de adultos têm dificuldades de visão, audição ou reacção.
Estas características são muito individuais. Há adultos de 60 anos
que não manifestam alterações palpáveis nestes campos. Mas, como
educadores de adultos, devemos estar atentos e observarmos estas
coisas.
1
ERASMIE, T., Vuxenpsykologi och Vuxenpedagogik (Stockolm, 1976), p. 125.
36
que já se sabe, parece ficar mais eficaz por volta dos 25 anos e
mantém-se a este nível para além dos 60 anos. (2)2
Nem mesmo a aptidão para fixar números parece diminuir
substancialmente com a idade, embora haja uma alteração na memória
de que a maior parte das pessoas se queixam. A memória imediata
revela um certo declínio vagaroso. (3)3
2
Cf. STEPHENS, M.D. e RODERICK, G.W., Teaching techniques in Adult Education
(London, 1974), pp. 30-31,
3
BROMLEY, D.B., The psychology of human ageing (Penguin, 1974), pp. 184-186.
4
(4) PEERS, R., Adult Education (London, 1972), p, 200 e BROMLEY, D., op. cit. pp.
163, 174, 182-183,
5
ERASMIE, T., op. cit., p. 130.
37
ambiente que vai decidir sobre isto, é o tipo de educação que esta
pessoa recebe. Um outro factor é o ambiente familiar. Um terceiro é
o trabalho que consegue arranjar. Um quarto é o tipo de interesses
que ela procura, etc. Duma maneira geral, em que medida utiliza e
exercita ela o seu cérebro?
Para melhor compreender isto, podemos usar um exemplo
hipotético: Imaginemos duas pessoas A e B. Suponhamos que conhecemos
as inteligências potenciais que os seus quadros genéticos lhes dão.
Em circunstâncias ambientais óptimas A podia atingir um Q.I. 115 e B
um Q.I. 110. Num diagrama vamos mostrar o que na realidade acontece
aos seus respectivos graus de inteligência durante parte das suas
vidas adultas.
Embora A tenha um potencial intelectual superior a B, aos 20
anos, atinge um nível de Q.I. inferior, Porque? Porque ele nunca se
interessou pelos estudos e não utilizou muito o seu cérebro em
esforços intelectuais, B gosta muito de ler e tem um trabalho que o
mantém intelectualmente ocupado. Cerca .dos 30 anos. A interessa-se
pelos estudos, participa em programas de educação de adultos e
também consegue um emprego que lhe dá mais estímulo intelectual. O
exercício intelectual que tudo isto lhe proporciona faz com que o
seu Q.I. atinja e ultrapasse gradualmente o Q.I. de B.
Q.I
130 -
120 -
110 - B
A
100 -
90 –
20 30 40 50 60 70 IDADE
38
Nenhum deles utiliza as suas capacidades intelectuais
completamente. Provavelmente poucas pessoas o farão. E penso que
esta é a informação mais útil neste contexto. Muitas pessoas
certamente que não estão cientes do facto de que podem na realidade
aumentar a sua inteligência - ou que, estudando, podem aumentar a
sua capacidade de estudo. Pode interessar-lhes saber isto.
Alterações de perspectiva
39
Alteração dos papéis
40
sociais que o adulto desempenha estão associados com certas ideias e
atitudes que dificilmente se conseguirão mudar, o que pode ser um
obstáculo ao processo educativo.
Temos estado a considerar características gerais dos adultos
que são importantes para as formas e métodos da educação de adultos.
Mas o importante para nós não são apenas estas características
gerais. Raramente contactamos com adultos individualmente. Encontrá-
los-emos normalmente em grupos de vários tipos: classes nocturnas,
círculos de estudo, conferências, grupos de demonstração "in loco",
etc. Em que consiste um grupo de adultos? Costuma ser diferente de
um grupo de crianças? Em caso afirmativo, criará isto problemas
particulares aos agentes da educação de adultos e aos próprios
adultos?
Um grupo de adultos
41
*
* *
Alterações na audição
- falem alto;
42
Alterações na visão
43
de cerca de 10 a 20 anos mais curta. Naturalmente que os sintomas de
envelhecimento apareciam mais cedo. Se as pessoas estão doentes,
cansadas e gastas, a sua capacidade de aprendizagem é relativamente
baixa. Um adulto de 65 anos, hoje em dia, pode muito bem ter a
capacidade de aprendizagem que teria tido aos 45 anos, há cem anos.
Mas o preconceito cola-se-nos. Como educadores de adultos, devemos
primeiro libertar-nos desta noção e depois convencermos os adultos.
Quando o adulto participa pela primeira vez numa aula, pode
muitas vezes aumentar o seu preconceito. Tal como ele esperava,
aprender e muito difícil. Ele compara-se a alguns colegas mais novos
e verifica que eles trabalham e assimilam mais depressa. O educador
de adultos deve então adverti-lo do facto de que a aprendizagem tem
também de ser feita com exercício, hábito e técnicas. Leva tempo,
por exemplo, habituarem-se a ficar sentados durante horas se, no seu
trabalho, estão habituados a estar activos com o corpo. Estudar e
aprender tem as suas técnicas tal como qualquer outro trabalho. O
adulto de quem estamos a falar compara-se a um adulto mais novo que
tem uma experiência escolar mais recente. Nós podemos dizer ao
adulto que com treino ele pode firmemente aumentar a sua capacidade
de aprendizagem.
É importante, então, que mantenhamos a nossa promessa e o
ajudemos realmente a conseguir o treino necessário. Este é um dos
nossos principais deveres. Muitos professores de adultos esquecem
isto ou então não estão conscientes desta necessidade. Por isso,
eles apenas dão o conteúdo da disciplina. Assim as capacidades de
estudo dos adultos ficam desaproveitadas.
O conteúdo da disciplina e as qualidades de estudo devem andar
de mãos dadas. Isto é particularmente importante com estudantes
adultos uma vez que eles estão habituados a estar activos e a tomar
conta de si próprios. É uma questão de lhes dar cada vez mais
instrumentos para conduzirem estudos efectivos. Instrumentos, tais
como: como fazer perguntas, como encontrar e utilizar várias fontes
de informação, como ser crítico, como dar estrutura a uma massa de
informações, como fazer planos para o futuro, como tomar notas. Dar-
lhes estes meios é a melhor maneira de edificar a sua auto-
confiança.
44
As técnicas adquiridas por eles torná-los-ão mais auto-
confiantes. Eles começarão a tomar parte mais activa no planeamento
dos seus próprios estudos. E a sua capacidade de aprendizagem
melhorará.
Alterações de perspectiva
45
coisas à sua experiência concreta. É importante, então, que nós o
ajudemos a fazer essa ligação. De vez em quando nós devemos mostrar
a aplicação prática de certas coisas, as associações pessoais do
adulto em conexão com a informação fornecida, a sua experiência de
outras, etc. Uma das coisas mais importantes é que nós não devemos
dar-lhe coisas como se o tomássemos por um ignorante. Num grupo de
adultos há sempre muita experiência e conhecimento.
Utilize isso primeiro! Comente-o. Discuta-o. Depois complete o
quadro com o seu próprio conhecimento.
Já disse que é importante não impor coisas aos adultos.
Isto não é apenas importante para o conteúdo das disciplinas,
mas também para o exercício de técnicas de estudo e métodos.
Infelizmente, os educadores de adultos esquecem-no muitas
vezes. Parece que consideram as perspectivas dos métodos que usam
como sua área exclusiva. Mas, de novo, uma falta de compreensão aqui
pode muitas vezes dar origem a conflitos entre os adultos e o
professor. Pode parecer paradoxal, mas o adulto que não quer ser
tratado como uma criança, acredita mesmo assim que a educação da
criança é a "verdadeira" educarão. A sua perspectiva sobre outras
coisas pode ser ampla, mas a sua perspectiva sobe a educação é
normalmente muito limitada. Ele pensa que a educação significa estar
sentado atrás de uma carteira e concentrar-se na recepção do
conteúdo da disciplina transmitida pelo professor. Mas se continuam
com este tipo infantil de educação durante algum tempo, ele sentir-
se-á frustrado, enquanto que se se introduzir trabalho de grupo,
exercícios das técnicas de estudo, etc., a primeira vista, isto pode
parecer-lhe desvios desnecessários que o impedem de atingir
directamente o seu objectivo. Será precisa muita explicação,
discussão e prática antes que ele compreenda o seu valor. Eu disse
no capítulo sobre Capacidade de Aprendizagem que o estudo e o
exercício das capacidades devem andar de mãos dadas com ambas estas
coisas. Expliquem-lhes desde o início a vossa opinião sobre quais os
métodos a usar num determinado curso. Expliquem-lhes porquê.
Encorajem os participantes a verificarem durante o curso se vocês
estão realmente a seguir a vossa filosofia da pedagogia, e se o
grupo está realmente a atingir os objectivos estabelecidos desde o
46
princípio. Encorajem-nos a tomar parte activa na programação do
curso.
47
Outra dificuldade neste contexto é fazer com que o estudante
se sinta suficientemente confiante para fazer perguntas. Muitos
estudantes hesitam em fazer perguntas, com medo que o professor ou
os outros pensem que eles são estúpidos. O professor deve fazer
sentir aos estudantes que as perguntas são desejadas e bem-vindas.
Quando fazem perguntas, o professor deve tranquilizá-los com
comentários deste tipo: "Tenho a impressão de que não expliquei bem
este ponto"; ou "há muita gente que tem problemas com isso."
Como disse, a educação tem que competir com muitas das outras
actividades dos adultos, tais como, vida de família, trabalho
doméstico, actividades sociais, desportos, etc. Também tem que
desafiar o cansaço do adulto depois de um dia de trabalho. Apenas há
duas coisas que podemos fazer para combater isto: uma é ter a
certeza de que o adulto vê os benefícios do curso, isto é, ele deve
ser capaz de ver e apreciar o real objectivo (e deve haver um
objectivo real).
A outra coisa é a variedade. Devemos fazer com que o nosso
curso seja particularmente estimulante e atraente. Um dos melhores
meios para se captar a atenção é a variedade. Não faça apenas
reuniões ou debates. Introduza nova informação por vários meios:
cartazes, imagens, mapas, rádio, filmes, diapositivos, etc. Não
utilize apenas o quadro preto, mas também o quadro de feltro e
também o quadro tipo "flipboard". Faça visitas de estudo, estudos
"in loco". Convide conferencistas de fora. E incite o adulto a
ajudar a contribuir para todas estas coisas.
A atitude negativa para com a educação que o adulto encontra
muitas vezes no seu ambiente mais próximo é um desafio especial para
o educador de adultos. É muito difícil dar um conselho geral sobre a
maneira de atacar esta questão. Claro que se pode sempre dizer que a
melhor resposta é um antigo aluno bem sucedido. Isto é, um aluno que
regressa de um dos vossos programas e que é capaz de provar que
tirou benefícios dos seus estudos. (A pior coisa seria um antigo
aluno que regressasse com conhecimentos que não lhe foram úteis).
Mas como conseguir que este primeiro estudante venha para o seu
curso? Uma maneira é contactar agentes especiais tais como o médico
ou o padre, os quais têm a aceitação das pessoas para recomendarem a
educação, na sua conversa habitual, contando às pessoas o modo como
48
certas regiões se desenvolveram devido a ela. Se estes agentes tem a
confiança dos adultos, podem ajudar a quebrar barreiras e a mudar
atitudes. As campanhas de educação devem ser feitas através daqueles
que tem a confiança das pessoas.
O adulto tem muita responsabilidade tanto no seu trabalho como
na sua família, mas, especialmente no campo, ele não está muito
habituado à formalidade. Realmente, a formalidade da educação faz
muitas vezes com que ele se afaste. Um agricultor, por exemplo,
vindo directamente da vida que escolheu, já que é dono de si
próprio, para uma espécie de procedimento formal onde é registado,
interrogado, forçado a ter um horário, etc., pode ficar embaraçado e
assustado no princípio. A fim de convencermos adultos desconfiados,
em particular em relação à educação, nós devemos utilizar uma
aproximação suave, aumentando o grau de formalidade na medida em que
aumenta a motivação para a aprendizagem. Às vezes podemos começar
com actividades informais, tais como a projecção de um filme, uma
exposição, uma conferência. Depois, quando a motivação aumenta,
podemos introduzir discussões em grupo ,círculos de estudo e, uma
vez atingida uma forte motivação, estudos orientados pelo professor.
Johan NORBECK
Formas e Métodos de Educação de Adultos,
2ª Edição, Universidade do Minho, Projecto
de Educação de Adultos, Braga, 1981.
49
O QUE SENTE O ESTUDANTE ADULTO
Jennifer Rogers
INQUIETAÇÃO
50
Disseram-nos que íamos ter uma "discussão livre" e que se
esperava que todos falassem. Isso não punha problemas para aqueles
que tinham deixado de estudar há menos tempo, mas eu, que apenas uma
semana antes era uma simples dona de casa, decidi que ninguém me
arrastaria para a discussão. Sabia que diria alguns disparates.
O ponto culminante do drama é sairmos de nós próprios e era
isto que eu queria conseguir, mas a consciência de mim próprio que eu
esperava perder quando entrasse na primeira aula era a mais
intransponível barreira para essa fuga! Sempre que chegava à minha
vez sentia vómitos, embora tentasse desesperadamente ocultar os meus
nervos. Todos os que frequentavam o curso eram meus colegas e eu não
queria que eles vissem que eu tinha medo. Além disso, como nunca
tinha representado, sabia que as minhas actuações seriam más e não
queria fazer nada mal feito, especialmente em frente de pessoas que
me conheciam como uma pessoa eficiente noutros aspectos.
Inscrevi-me este ano em culinária - mas apenas nas
demonstrações. Não quero fazer nada eu própria. Fiquei farta o ano
passado - fiz centenas de erros que eram tema de riso para toda a
gente, o que não era nada agradável para mim.
Todos sabemos as dificuldades de conseguir dos alunos
composições escritas. Creio que a razão é o facto de um aluno, que
sabe que nos impressionou bem nas aulas, ter receio de que o
"conheçamos" se escrever algo no papel.
Há muitas vezes nos meus alunos um profundo sentido de inaptidão,
embora muitos deles sejam homens e mulheres profissionalmente bem
sucedidos: Associam sempre trabalho escrito a testes, notas e exames,
e portanto à um fracasso potencial.
Lembra-te que muito dos rapazes que vem frequentar o curso de
delegados sindicais deixaram de estudar aos catorze anos.
Aterrorizam-se com a ideia de "escrever"; por isso temos que resolver
tudo pela "discussão" e estabelecer uma atmosfera em que eles se
sintam livres para dizer o que quiserem sem receio de se sentirem
tolos. O problema é que é quase impossível descobrir se aprenderam
alguma coisa ou não, portanto no campo da educação o seu amor-próprio
é muito sensível.
51
As investigações têm mesmo mostrado provas físicas deste tipo
de medo e inquietação nos alunos adultos. Uma experiência mostrou
que se se fizerem testes de sangue em adultos, antes, durante e
depois de um momento de aprendizagem, há uma subida no nível do
ácido gordo do sangue à medida que a aprendizagem prossegue, uma
subida que se torna mais notória e que persiste tanto mais quanto
mais velho for o aluno. A quantidade de ácido gordo existente no
sangue é um bom padrão de medida da tensão emocional, e uma elevada
quantidade desse ácido pode só por si evitar que a pessoa aprenda
convenientemente. Assim, a inquietação do adulto que tem receio de
parecer ridículo, pode ser a causa de um rendimento pobre e pode
confirmar os piores receios do aluno. Pode ser particularmente
notável no caso do ensino de uma arte como a tecelagem ou o bordado,
pois a atrapalhação ou o tremor dos dedos, bem como as inaptidões
que causam, serão evidentes. Professores experientes em assuntos que
exigem maior participação do cérebro estão igualmente familiarizados
com manifestações como o corar, os olhares preocupados e as vozes
hesitantes dos alunos que não confiam nas suas próprias capacidades
e decisões.
Evidentemente que há excepções. Os estudantes mais jovens,
especialmente aqueles que acabaram de deixar a escola ou a
faculdade, podem não experimentar preocupações porque se sentem num
ambiente familiar. Uma jovem, que se tinha formado em sociologia
apenas alguns meses antes, descreveu as suas experiências numa aula
de literatura e filosofia de uma maneira decidida e confiante:
Eu estava realmente ansiosa por frequentar as aulas e aprender
um assunto novo. Não me sentia nada nervosa pois já tinha assistido
a muitas aulas e sentia-me capaz de aprender qualquer coisa que o
professor me pudesse apresentar.
Este tipo de aluno não espera encontrar um trabalho difícil e
considera evidentemente a educação como uma experiência aprazível e
estimulante. A juventude e a vitalidade estão do seu lado e, já com
um grau universitário, sente que não há razão para se preocupar na
sua aula de filosofia, porque é uma mera continuação informal de um
processo no qual já tinha sido posta à prova.
52
Há muitos outros estudantes que noa sofrem de sentimentos de
nervos e tensão - por exemplo, as mulheres que vão à mesma aula de
corte e costura, com a mesma professora durante muitos anos (sabe-se
que alguns cursos tem durado dezasseis anos); as pessoas que vão a
cursos onde há uma sequência no ensino mas não necessariamente uma
exigência de aprendizagem (conferências públicas de uma hora,
seguidas de cinco ou dez minutos de discussão seriam um exemplo
extremo). Qualquer curso onde não haja testes de qualquer espécie
tem alunos descontraídos; mas frequentemente nesses casos, embora
não haja inquietação, também não há aprendizagem porque não existe o
desejo de mudança quer por parte dos alunos quer por parte do
professor.
É evidente que, pelo menos na educação adulta voluntária, a
inquietação não será a emoção predominante no espírito dos alunos,
senão nem sequer se inscreviam. O interesse e a curiosidade serão
muito mais fortes na maioria dos alunos. Devemos também lembrar-nos
de que os nervos podem ser facilmente suavizados e que embora seja
na realidade desejável manter sempre uma atmosfera activa, a tensão
extrema dos alunos não costuma ser o maior problema depois das
primeiras aulas. Num grupo bem integrado o papel do professor na
redução da inquietação torna-se menos importante à medida que os
alunos descobrem que o trabalho está nas suas mãos.
No entanto, as investigações feitas e a observação comum
mostram que está sempre presente uma tensão enquanto os adultos
aprendem e que é provável que essa tensão aumente e se torne
desvantagem quanto mais velho for o aluno e maior a pressão exercida
sobre ele. É compreensível que homens e mulheres em cursos de
aperfeiçoamento técnico industrial se devam preocupar com o seu
rendimento, pois muito frequentemente os seus empregos ou promoções
dependem desse rendimento, quer seja uma reactualização para os de
meia-idade, quer um treino inicial destinado aos membros mais novos.
Teoria pessoal
53
precisamente daquela parte da população educacional mais
"experiente" e que portanto seria menos de esperar que se
atemorizasse com o regresso às aulas. Talvez as preocupações de
muitos adultos no seu regresso às aulas estejam ligadas à ideia
muito enraizada de que a educação é um processo que só diz respeito
às crianças. Alguns educadores de adultos têm desenvolvido
recentemente esperançosos conceitos de "aprendizagem permanente" ou
"educação continuada", em que uma educação básica mais extensa viria
a representar um papel mais importante ao longo de toda a vida, mas
isso ainda está longe de ser uma ideia geralmente aceite.
Presentemente parece ser quase com uma negação deliberada do seu
estado adulto que um aluno, já ultrapassada a sua infância, se
submete a uma educação suplementar.
Os adultos são, afinal, pessoas que adquiriram o seu estado de
maturidade aos seus próprios olhos e aos das outras pessoas como
maridos, esposas, pais, amigos, patrões e empregados. Talvez este
estado, e o amor-próprio dele decorrente, seja menos forte do que
parece, e seja facilmente ameaçado quando o adulto é obrigado a
recuar para o que pode parecer a posição subordinada de aluno.
Alguns psicólogos, procurando uma base teórica mais aceitável
para esta inquietação, encontraram-na na chamada "Teoria pessoal"
(Self Theory), e apontaram qual o conflito potencial envolvido
quando um adulto entra numa aula (principalmente, talvez, em
assuntos académicos ou quaisquer assuntos em que estejam envolvidos
valores).
54
jovem mãe poderá compreender que necessita aprender mais acerca do
desenvolvimento do seu filho e inscrever-se-á num curso de
psicologia infantil. Uma vez lá, pode rejeitar ou recusar
compreender tudo o que o professor e o resto da classe dizem, e com
que não concorda, pois isso seria equivalente a admitir que a sua
maneira actual de cuidar do filho era errada e que tinha sido de
qualquer modo uma "má" mãe.
Esta pode ser a razão porque os estudantes adultos se refugiam
muitas vezes no inconsciente subterfúgio de que o que estão a
aprender se destina a outrem. Lembro-me de um curso de
aperfeiçoamento organizado por todo o pessoal de uma escola onde eu
estava a ensinar, ao qual todos foram forçados, talvez desajeitada e
insensatamente, a assistir. Era um curso pequeno, estimulante e bem
planeado, de conferências e discussões, dado por um professor
experiente mas já reformado. Todos assistimos com vivos sinais de
descontente relutância. Embora a maior parte apreciasse aquelas
horas e aprendesse alguma coisa, teria sido impossível encontrar um
que quisesse admitir que as lições se destinavam a nós. Não,
destinavam-se a professores "inexperientes", "muito novos" ou em
"part-time".
55
fechar os olhos durante toda a sessão de noventa minutos, que
preparavam lições e escreviam cartas, e outras que simplesmente se
desculpavam no último minuto perante o professor para não assistirem
à conferência.
As lições para professores devem ser cursos devidamente
planeados para ajudar os alunos a preservar pelo menos parte da
"imagem de si próprios". O valor da experiência prévia dos alunos
deve ser generosamente tomado em consideração e utilizado como base
para construir uma maior experiência e adquirir mais conhecimentos.
Isto será particularmente importante nos cursos de actualização
industrial ou profissional, em que actuam elementos de
obrigatoriedade.
Os sentimentos dos alunos adultos diferem muito de um
indivíduo para outro, bem como de uma situação para outra. As
mulheres, no primeiro ano de um curso de aperfeiçoamento de
professores, sentir-se-ão provavelmente mais tímidas e mais
inquietas do que um grupo de directores experientes num pequeno
curso de gestão. Os adultos analfabetos, que frequentemente
atravessam cidades e estados para terem a certeza de encontrar uma
classe em que não sejam reconhecidos, terão mais necessidade de
coragem e apoio do que um grupo de adultos de todas as idades e
níveis de inteligência que entram num instituto uma vez por semana
para a descontracção e o prazer criador de uma aula de carpintaria.
Seja porém qual for a situação, é provável que haja uma tensão
se houver uma aprendizagem real, e visto que a aprendizagem se faz
melhor numa atmosfera calma, despreocupada e amigável, o professor
deve agir positivamente de modo a garantir que essa atmosfera seja
estabelecida logo desde o início e mantida durante todo o curso.
O papel do professor
56
alguma coisa certa" pode ser simplesmente obter comentários
favoráveis de outros alunos e do professor - "Sim, é uma ideia
interessante", ou "Como a Sra. Smith disse a semana passada", ou
"Lembre-se que o argumento do Sr. Jones foi ...". Estes pequenos e
aparentemente insignificantes indícios de interesse e respeito podem
ser modos importantes de diminuir a tensão e a inquietação dos
adultos. Inicialmente devem vir do professor, mas é notável que nas
classes de adultos mais produtivas e agradáveis, o papel de conceder
este tipo de recompensa é frequentemente assumido por outros alunos.
Por vezes serão necessárias maneiras mais directas de reduzir
a inquietação individual e os bons professores prestarão constante
assistência individual aqueles que admitam necessitar dela.
Evidentemente que há limites de tempo e de energia para este auxílio
intensivo que o professor pode realmente dar. Nem todo ele pode ser
dado na aula, pois os outros alunos sofreriam com isso. O auxílio
que pode ser devidamente oferecido fora do tempo da aula será, por
exemplo, a marcação de trabalho extra, a correcção de uma composição
previamente escrita, voltar atrás depois de uma aula para explicar
um princípio básico que alguns alunos não compreenderam, preparar
folhas de exercícios individuais para alguns alunos elaborarem nos
momentos livres, ou emprestar livros e revistas. A forma de auxílio
não interessa talvez tanto como a disposição do professor de o
oferecer e de o satisfazer quando lhe for pedido.
Jennifer ROGERS
Edição Patrocinada pela Direção-Geral
de Educação Permanente
Ensino de Adultos, Colecção Formação Humana,
Editorial Pórtico, Lisboa, 1974.
57
HISTÓRIAS DE VIDA
António Nóvoa
58
dos educadores actuais considera ainda que o seu trabalho consiste
em ... moldar a cera mole!
Todavia, é possível detectar nas últimas décadas três grandes
movimentos de contestação ao paradigma escolar: o primeiro,
conhecido por Educação Nova, irrompe do interior do sistema
educativo e atinge o auge no decurso dos anos vinte; o segundo, é
uma tentativa de resposta à crise social dos anos sessenta, tendo-
se exprimido através das perspectivas da Educação Permanente;
finalmente o terceiro, de contornos ainda mal definidos,
manifesta-se hoje em dia através da procura de uma nova
epistemologia da formação, tendo como expressões visíveis, por
exemplo, as experiências em torno das histórias de vida e do
método (auto)biográfico.
6
Escola Nova (Coimbra), Ano I, 25 de Julho de 1924
59
É verdade que a Educação Nova provocou uma autêntica revolução
pedagógica no interior do sistema educativo. A defesa da autonomia
dos educandos e dos métodos activos, o estimulo à espontaneidade e à
criatividade, a valorização da aprendizagem e do "aprender a
aprender" em detrimento do ensino, a procura de uma ligação entre a
escola e a vida, a tentativa de construção de uma "escola do
trabalho" como crítica à “escola do alfabeto", o realce dado ao
"aprender fazendo" o incentivo à participação activa dos formandos
no seu próprio processo de aprendizagem, a luta por um ensino
centrado nos interesses dos educandos, o esforço em prol da educação
integral, são apenas alguns dos princípios herdados do Movimento da
Educação Nova que, hoje em dia, ninguém ousa contestar (saber até
que ponto eles são efectivamente aplicados, tanto na educação das
crianças como na formação dos adultos, é uma questão completamente
diferente!).
Seria, no entanto profundamente errado interpretar a revolução
pedagógica operada pela Educação Nova como uma contestação efectiva
aos fundamentos do modelo escolar. A este título, a citação de
Adolfo Lima (um dos mais radicais pedagogos deste período), que
encima este capítulo é bem elucidativa; aliás, este mesmo autor, num
dos mais brilhantes textos da pedagogia portuguesa, não hesita em
afirmar que:
7
Adolfo LIMA, Educação e Ensino - Educação integral, Lisboa, Guimarães & Ca. Editores, 1914, p.135.
60
uma "estufa", reflectindo e reproduzindo em ponto pequeno todos os
aspectos da vida social?
De facto, a Educação Nova, pese embora a importante herança
pedagógica que nos legou, não pôs em causa os dois "pilares" do
modelo escolar: a existência de um tempo para aprender e de um tempo
para fazer; o encerramento das práticas educativas em espaços
próprios e específicos, em instituições especializadas.
Mas, ao aprofundar as contradições do paradigma escolar, a
Educação Nova constituiu o "canto do cisne" de uma certa forma
social de conceber a educação e abriu as portas a uma nova maneira
de entender a formação.
61
Doravante, o sucesso educativo passa pela capacidade de
formar indivíduos capazes de se reciclarem permanentemente,
aptos a adquirirem novas atitudes e capacidades, capazes de
responderem eficazmente aos apelos constantes de mudança.
Trata-se de uma exigência que não tem origem numa reflexão
pedagógica ou filosófica, mas antes numa inelutável evolução
sócio-económica. Assiste-se, então, a uma verdadeira
"explosão" da formação profissional (contínua) que invade
todos os domínios da vida social e económica.
Em sintonia com esta transformação, verifica-se a publicação
de uma série de trabalhos (importantes na medida em que revelam uma
alteração significativa na visão socialmente dominante de encarar o
adulto) que sustentam o "inacabamento do homem", entre os quais é
justo salientar o ensaio de Georges Lapassade (1963), intitulado "A
entrada na vida".
"O homem moderno aparece cada vez mais, em todos os planos da
sua existência, como um ser inacabado. O inacabamento da formação
tornou-se uma necessidade, num mundo marcado pela transformação
permanente das técnicas, o que implica uma educação igualmente
8
permanente" ( ).
Na esteira destas reflexões, o conhecido Relatório Faure
(1972), que se pode considerar o Manifesto da Educação Permanente,
sustenta que a educação para formar um homem completo, cujo advento
se torna mais necessário à medida que coacções sempre mais duras
separam e atomizam cada ser, terá de ser global e permanente: já não
se trata de adquirir, de maneira exacta conhecimentos definitivos,
mas de se preparar para elaborar, ao longo de toda a vida, um saber
em constante evolução e ... de aprender a ser.
E o Relatório continua afirmando que a partir de agora a
educação não se define mais em relação a um conteúdo determinado que
se trata de assimilar, mas concebe-se, na verdade, como um processo
de ser que, através da diversidade das suas experiências, aprende a
exprimir-se, a comunicar, a interrogar o mundo e a tornar-se sempre
mais ele próprio. A ideia de que o homem é um ser inacabado e não
pode realizar-se senão à custa de uma aprendizagem constante tem
sólidos fundamentos, não só na economia e na filosofia, mas também
8
Georges LAPASSADE, A entrada na vida, Lisboa, Edições 70, 1975, p.16.
62
na evidência trazida pela investigação psicológica. Sendo assim, a
educação tem lugar em todas as idades da vida e na multiplicidade
das situações e das circunstâncias da existência. Retoma a
verdadeira natureza, que é ser global e permanente, e ultrapassa os
limites das instituições, dos programas e dos métodos que lhe
impuseram ao longo dos séculos (9).
A Educação Permanente vem, portanto, pugnar por um
investimento educativo dos diferentes espaços sociais, pondo em
causa o encerramento da educação em instituições especializadas, e
defender uma visão do adulto como "um ser em mudança", retirando à
infância e à juventude o privilégio das preocupações educativas. O
modelo escolar era seriamente posto em causa... pelo menos no plano
dos princípios.
Em plena crise económica de meados da década de setenta, o
Manifesto de Cuernavaca proclamava, à boa maneira illichiana, uma
"sociedade sem escola" ou, melhor dizendo, a "descolarização da
sociedade", afirmando que:
9
Edgar FAURE (coord.) Aprender a Ser, Lisboa, Livraria Bertrand, 3ª edição,
1981
10
Manifesto de Cuernavaca, in H. DAUBER e E. VERNE, L'école à perpétuité, Paris,
Seuil, 1977, p.26.
11
Ibidem, p. 54.
63
generalização de um comportamento pedagógico ao conjunto das
práticas sociais: "Depois do sono, a pedagogia é a actividade mais
importante dos franceses; mais importante até do que a produção de
bens e de serviços." (12)
Será que estaremos hoje em dia, após os séculos da escola
(séc. XIX) e da criança (séc. XX), no limiar do século dos pedagogos
(séc. XXI)?
Na verdade, a grande força da Educação Permanente tem-se
revelado, simultaneamente, a sua grande fragilidade. Ao exigir
"menos escola", nem por isso a Educação Permanente deixou de
provocar "mais escolarização", pois ao intervir em todas as idades
da vida e em todos os espaço sociais ela estendeu-se a zonas da
sociedade ate ai imunes à acção pedagógica tradicional; e fê-lo,
veiculando frequentemente uma concepção escolarizante da formação. É
verdade que as perspectivas da Educação Permanente podem contribuir
para uma autonomização progressiva das pessoas e para o investimento
educativo dos espaços de vida e de trabalho. Mas, para que tal
desiderato seja atingido de forma criativa e estimulante é
necessário inverter uma certa lógica de raciocínio.
Tomemos como exemplo as instituições da Saúde. Devemos
formular as questões que nos permitirão definir uma estratégia de
formação adequada, do seguinte modo: Que potencialidades formadoras
se podem desencadear no seio de um espaço hospitalar? Ou, como é que
uma consulta se pode transformar num tempo de aprendizagem e de
formação? Ou ...
Trata-se, sempre, de inscrever a pedagogia numa prática
profissional que não é escolar e numa relação que não é pedagógica,
no sentido estrito do termo. A medicina e a enfermagem não são
pedagogia e os profissionais da saúde não são pedagogos: é esta
consciência que lhes permitirá não "derrapar" para um discurso
pedagogizante, que tenderia a acentuar os aspectos normativos e
normalizadores do modelo escolar e a desvalorizar os saberes e as
práticas das diversas pessoas e comunidades (13).
É importante que haja formação para a primeira e para a
terceira idade, para os pais e para os filhos, para se desinibir e
12
Jacky BEILLEROT, La Société pédagogique, Paris, P.U.F., 1982, pp. 24.37.
13
Cf. o número da revista Pratiques de formation (Analyses), intitulado "Imaginaire
et éducation II". Universidade de Paris VIII, n° 9, Abril de 1985.
64
para saber comunicar, para aprender a ouvir e a falar, para
controlar o corpo e para dominar a mente, para se preparar para
noivo e para ultrapassar o divórcio, para nascer e para morrer, etc.
Mas, no dia em que alguém não se sinta capaz de dançar por não ter
seguido o Curso A ou B ou em que alguém se sinta "mau" pai por não
ter seguido a Acção de Formação X ou Y, então estaremos a assistir a
uma desqualificação dos saberes e das capacidades de cada um,
obtendo um efeito contrário ao pretendido pela Educação Permanente.
De facto, com o advento das perspectives da Educação
Permanente produziu-se uma ruptura fundamental com o modelo escolar,
mas continuou-se a agir segundo uma lógica escolarizante, ainda que
não confinada a tempos próprios e a espaços específicos. A questão
central continuou a ser formar (Como? Quando? Onde?) e não formar-se
(O que é que é formador na vida de cada um?); continuou a reflectir-
se (e a trabalhar-se) fundamentalmente em torno da uma formação
institucionalizada.
Inventaram-se, então, as mais sofisticadas técnicas de
formação, conceberam-se instrumentos de formação tecnologicamente
muito avançados, elaboraram-se estratégias de formação inovadoras
que procuram integrar as teses da Educação Permanente, construíram-
se locais e centros de formação modelares, desenvolveram-se novas
estratégias pedagógicas preocupadas com uma definição rigorosa dos
objectivos educacionais e com uma avaliação adequada dos resultados
da formação etc. Tudo isto deu um contributo decisivo ao domínio da
formação de adultos, conseguindo a realização de avanços importantes
no decurso da última década. Mas, faltou uma interrogação
epistemológica sobre o processo de formação. É esta preocupação que
tem estado presente nos trabalhos inovadores de vários autores que
nos últimos anos, têm procurado construir uma nova epistemologia da
formação. Dentre estes trabalhos é justo destacar os que se tem
dedicado à utilização das histórias de vida ou do método
(auto)biográfico no domínio da formação de adultos.
65
AS HISTÓRIAS DE VIDA E A PROCURA DE
UMA NOVA EPISTEMOLOGIA DA FORMAÇÃO
14
Matthias FINGER, L’horizon bouché de la civilisation industrialisée avancée:
Repenser l'épistémologie de la recherche et de la formation à partir des adultes.
Genève, documento policopiado, 1986.
66
Simultaneamente, o adulto está implicado numa acção presente,
o que obriga a ter em conta um outro vector dominante da formação de
adultos a consciência contextualizada.
É muito interessante a forma como Alain Bercovitz interpreta
estes dois conceitos, sem se lhes referir explicitamente:
15
Alain BERCOVITZ, "Le savoir est dans le discours partagé", Education Permanente
(Paris), N° 49-50, 1981, pp. 97-99.
67
e antropológicas das histórias de vida concluindo que o impacto
social das autobiografias está intimamente ligado ao seu paradoxo
epistemológico fundamental: a união do mais pessoal com o mais
16
universal ( ). Situando-se numa óptica sociológica, Gaston Pineau
considera as histórias de vida como um método de investigação-acção,
que procura estimular a auto-formação, na medida em que o esforço
pessoal de explicitação de uma dada trajectória de vida obriga a uma
grande implicação e contribui para uma tomada de consciência
individual e colectiva. A biografia é, simultaneamente, um meio de
investigação e um instrumento pedagógico: é esta dupla função que
justifica a sua utilização no domínio das ciências da educação e da
formação.
Deste modo, a situação experimental necessária à investigação
coincide com a acção de formação devendo sujeitar-se ao seu quadro
institucional: "Vício supremo de um método que, segundo os critérios
científicos habituais, deve ser independente do seu objecto ou
abordagem inovadora que articula acção e reflexão com base em novas
relações entre os actores e os investigadores?" (17), Esta pergunta
de Gaston Pineau encerra uma das questões centrais das histórias de
vida e da sua utilização no âmbito da formação de adultos, na medida
em que concede ao formando o duplo estatuto de actor e investigador,
criando as condições para que a formação se faça na produção do
saber e não, como até agora, no seu consumo.
A abordagem biográfica reforça o princípio segundo o qual é
sempre a própria pessoa que se forma e forma-se na medida em que
elabora uma compreensão sobre o seu percurso de vida: a implicação
do sujeito no seu próprio processo de formação torna-se assim
inevitável. Deste modo, a abordagem biográfica deve ser entendida
como uma tentativa de encontrar uma estratégia que permita ao
indivíduo-sujeito tomar-se actor do seu processo de formação,
através da apropriação retrospectiva do seu percurso de vida.
Mas, a abordagem biográfica não deve ser entendida unicamente
nesta dimensão, pois ela procura desencadear uma reflexão teórica
sobre o processo de formação dos adultos, dando aos formandos o
16
Gaston PINEAU, Vies des histoires de vie, Montreal, Universidade de Montréal,
1980, p.50.
17
Gaston PINEAU, Vies des histoires de vie, Montréal, Universidade de Montréal,
1980, p. 50.
68
estatuto de investigadores. É por isso que nos parece pertinente
falar de uma nova epistemologia da formação, formação que não pode
deixar de ser entendida como um verdadeiro processo de produção-
inovação.
69
A ABORDAGEM BIOGRÁFICA ENQUANTO OPÇÃO METODOLÓGICA
PIERRE DOMINICÉ
70
uma herança intelectual pluridisciplinar, que lhe dá simultaneamente
uma legitimidade e uma fonte multiforme de inspiração.
Contrariamente às aparências, a biografia não pertence apenas ao
domínio da psicologia. Não se encontra encerrada na esfera privada
da vida individual. Embora a corrente psicanalítica tenha fornecido
uma contribuição decisiva ao campo biográfico é justo relembrarmos
com M. de Certeau (1981) que "a novidade do freudismo consiste no
uso que fez da biografia, para destruir o individualismo postulado
pela psicologia moderna e contemporânea".
Para se introduzir a abordagem biográfica no domínio das
ciências da educação era primeiro necessário, como o fez G. Pineau
(1980), um estudo aprofundado da sua utilização nas diferentes
ciências humanas. Depois deste exame crítico, teria sido sedutor que
ele fixasse o percurso biográfico mais adequado ao domínio da acção
educativa. Não o fez devido à especificidade do seu objecto de
investigação, a saber, na perspectiva da Educação Permanente, a
autoformação, "entendida como processo de apropriação de cada um do
seu próprio poder de formação." Reconhecendo, com G. Pineau, que era
importante construir uma abordagem biográfica que respeitasse o
contexto próprio da Educação dos Adultos, aventurámo-nos, em
estreita colaboração com ele, numa orientação metodológica à qual
demos o nome de biografia educativa. Tendo sempre consciência de
participar numa corrente de pensamento centrada na abordagem
biográfica, procurámos pôr de pé um estudo original que, com M.
Fallet (1981), distinguimos da autobiografia, da história de vida,
da história de vida social (M. Catani, 1976) e da narrativa da
prática (D. Bertaux, 1976).
71
A BIOGRAFIA EDUCATIVA E A COMPREENSÃO
DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO
72
entendimento dos elementos que intervém na construção e no
funcionamento deste processo de formação. Na medida em que o
definimos como um conjunto global de interacções sociais e
simbólicas constitutivas da personalidade do adulto e da sua
identidade, podemos reconhecer que enquanto processo geral, o
processo de formação está marcado por uma série de processos mais
específicos que as biografias educativas nos permitirão enumerar.
Com efeito, o nosso trabalho de exploração e de elaboração
biográfica em grupo conduziu-nos à identificação de alguns destes
mini-processos, como o da escolha profissional, ou a determinação de
registos de funcionamento reveladores de um processo específico
pertencente ao processo de formatação. O processo de autonomização
face à família de origem constitui um exemplo particulamente
significativo de um processo específico.
A biografia educativa, tal como é encarada por G. Pineau,
inscreve-se no objectivo de autoformação defendido pelo movimento de
Educação Permanente. Portanto, ao mesmo tempo que serve de revelador
do grau de apropriação do processo de formação, contribui para
reforçar as possibilidades de apreensão deste processo. Então, a
abordagem biográfica tem a sua origem num processo educativo, não
constituindo apenas uma orientação metodológica. Tanto para G.
Pineau como para nós, a biografia é um instrumento de investigação
e, ao mesmo tempo, um instrumento pedagógico. Esta dupla função de
abordagem biográfica caracteriza a sua utilização em ciências da
educação. A situação experimental necessária à investigação coincide
com a acção educativa e deve submeter-se ao seu quadro
institucional. "Defeito supremo de um método que, segundo os
critérios científicos normais, deve ser independente do seu objecto,
ou nova abordagem que rearticule acção e reflexão, segundo relações
novas entre investigadores e actores?”. Esta questão posta por G.
Pineau (1980) ressoa como um desafio. Sublinha uma das apostas
metodológicas da utilização da biografia no campo da educação,
particularmente da educação dos adultos. Todavia, é importante não
encerrarmos a abordagem biográfica num debate puramente
metodológico. Contrariamente ao que alguns esperam, a biografia
educativa não constitui um instrumento de investigação generalizável
73
a uma pluralidade de situações. O seu uso depende de um objecto de
investigação e de um contexto educativo favorável.
74
participantes. Trata-se portanto de um grupo no seio do qual pode
estabelecer-se um clima de confiança e estão criadas as condições
para um diálogo. O desenrolar das sessões no conjunto do ano
académico assegura uma reflexão de longa duração, enriquecida por
períodos em grupos restritos, que frequentemente ultrapassam as duas
horas oficiais. A avaliação académica, no final do ano, que poderia
aparecer como um aspecto perigoso, facilitou sobretudo a
continuidade da participação.
Claro que este contexto de formação contínua não é o único no
qual podem construir-se biografias educativas. No entanto, parece-
nos particularmente adequado, pelas razões que acabámos de apontar.
Propomo-nos, nos anos vindouros, retomar este estudo noutros
contextos de formação contínua, mas sabendo que estas primeiras
experiências universitárias nos facilitarão enormemente a tarefa.
Teremos então de redefinir um instrumento que tenha em conta outras
condições temporais e respeite a especificidade de novas populações.
75
postas pela transformação de uma situação de ensino num contexto de
investigação. Então, depois de uma informação sobre o estado actual
de exploração da abordagem biográfica em ciências humanas e em
ciências da educação, com a ajuda de textos de apoio, o grupo ou os
pequenos grupos de trabalho lançavam-se numa partilha oral da sua
narrativa de vida educativa. Esta apoiava-se num plano previamente
discutido, ou em eixos de elaboração mais ou menos estruturados
segundo a compreensão que os participantes tinham do estudo, ou
segundo a sua maneira de proceder. Esta fórmula flexível pode
parecer estranha. O plano ou o eixo proposto forneciam na realidade
uma base de partida, mas em caso algum deviam limitar a construção
biográfica desejada pelos participantes. Esta primeira fase de
elaboração oral era submetida à discussão e o grupo (ou o grupo
restrito) estava encarregado de reactivar a memória daquele que se
exprimia, levando-o a interrogar-se sobre sectores da sua existência
ou momentos do seu percurso educativo que não havia mencionado ou
que não tinha aprofundado suficientemente. O conjunto desta fase
oral era gravado para permitir ao estudante retomar tanto a
apresentação como a discussão que ela provocara, transformando-as
numa narrativa de vida educativa, posteriormente considerada como
material biográfico a analisar.
Uma vez todas as biografias redigidas pelo mesmo processo, o
grupo ou os pequenos grupos procediam a sua análise segundo uma
grelha proposta pelo professor e discutida pelos participantes em
vista à sua aplicação. Por fim, uma ou duas sessões finais eram
dedicadas ao balanço formador do caminho percorrido. Mas temos de
reconhecer que as fases de elaboração reduziram o tempo disponível
para a análise do material recolhido.
Quanto ao balanço formador, é impressionante constatarmos até
que ponto os participantes foram mobilizados por esta abordagem que
lhes permitiu levar a cabo uma reflexão crítica sobre o seu percurso
de vida e a sua educação, compreenderem melhor as razões da sua
escolha de uma formação universitária enquanto adultos e tomarem
consciência do seu modo de funcionamento e de expressão intelectual,
independentemente das normas de produção exigidas pela Universidade.
76
DUAS EXIGÊNCIAS CONTRADITÓRIAS:
A IMPLICAÇÃO E O DISTANCIAMENTO DO INVESTIGADOR
77
em relação, deixar-se interrogar pelo que ouve, ser interpelado no
seu estatuto pelo discurso do qual foi testemunha. Confrontada com a
dos outros, a sua própria biografia é posta em questão e interpelada
a sua função de professor.
78
OS ADULTOS E O PROCESSO DE ENSINO -
- APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS:
CRITÉRIOS PARA UMA IMPLEMENTAÇÃO ACTUALIZADA
José Orlando Strecht Ribeiro
INTRODUÇÃO
79
(sentimento de frustração). A taxa de insucesso escolar verificada
na aprendizagem das línguas estrangeiras tira as dúvidas a quem as
tenha: ronda sempre os 50%, independentemente do ano ou grau de
ensino. Estes dados são tanto mais surpreendentes quanto toda a
investigação mais recente aponta no sentido de considerar o adulto
pelo menos com tanta (ou até mais) capacidade para essa tarefa
específica como o aluno mais jovem.
80
Como alunos, os adultos revelam-se capazes de orientar a sua
própria aprendizagem e cabe ao professor a responsabilidade de os
guiar, fornecendo-lhes um conjunto de possibilidades realistas. Por
vezes, a experiência do adulto pode constituir impedimento, se o
tornou rígido, fechado a novas experiências, valores e atitudes. A
maximização do desenvolvimento intelectual tem necessariamente que
ter em consideração a maturidade física e neurológica do aluno, as
suas experiências, o contexto social e a sua capacidade de tomar
decisões. Diz Grabowski: "Aquilo que os indivíduos estão aptos para
aprender é o que eles identificaram como suas próprias carências
educativas". A taxa elevada de absentismo e de insucesso e o grande
número de desistências entre os alunos adultos poderão sem dúvida
reflectir a falta de congruência entre a sua vida e os motivos que
os levam à escola e os curricula essencialmente académicos a que são
expostos. O adulto tem um grande interesse em aprender para uso
imediato e não lhe interessa guardar para vir a usar, ou arranjar
respostas para perguntas a que não tem necessidade de responder.
Torna-se, pois, necessário dar mais ênfase ao prático do que ao
académico, ao aplicado do que ao teórico.
81
COMPARAÇÃO DE PRESSUPOSTOS E CONCEPCÕES DA PEDAGOGIA E ANDRAGOGIA
Pressupostos
Pedagogia Andragogia
Concepções
Pedagogia Andragogia
82
Também a memória, como função cognitiva, assume
características especiais no adulto, tendo vindo a ser muito
estudada nas suas relações com a idade, especialmente os conceitos
de memória a curto prazo e a longo prazo (também memória transitória
e memória definitiva). A investigação neste domínio mostra-nos que
os adultos não se utilizam tanto de mediadores, mnemónicas ou outras
estratégias para auxiliar a sua memória. São notavelmente mais
fracos a recordar séries, aumentando as suas dificuldades quanto
maior for o número de itens a recordar e a abrangência dos conceitos
envolvidos. A memória do aluno adulto melhora sensivelmente quando
se relaciona a informação nova com material aprendido anteriormente
e ganha mais problemas no caso de aprendizagem sem significado ou de
informação nova que requeira avaliação da informação processada
anteriormente.
83
O objectivo será demonstrar a esses mesmos alunos
(personalidades ameaçadas pelo insucesso) que, através do seu
próprio esforço, conseguem. O quadro seguinte mostra-nos como a
auto-estima e a motivação se articulam profundamente.
Entendemos como motivo qualquer condição dentro do indivíduo
que afecte a sua disponibilidade para iniciar ou continuar uma
qualquer actividade ou sequência de actividades. Desta forma, se o
aluno atribui o sucesso da sua aprendizagem à sua própria capacidade
e esforço sentirá orgulho e recompensa com a sua 'performance',
estando à partida motivado para continuar. Mesmo em casos de
insucesso, se o indivíduo atribui a sua falha a uma falta de esforço
ainda persiste uma esperança de que haja mudança em 'performances'
futuras.
84
REACÇÕES DO TIPO AFECTIVO E COGNITIVO EM SITUAÇÕES DE
SUCESSO E INSUCESSO
reacção
Orgulho aumenta
COMPETÊNCIA
afectiva
Causa Interna Estável
reacção
Expectativa de performance
similar no futuro
cognitiva
reacção
Orgulho aumenta
ESFORÇO
afectiva
Causa Interna Instável
reacção
Expectativa de mudança
possível em performance
cognitiva futura
SUCESSO
reacção
Orgulho diminui
COMPLEXIDADE DA
TAREFA afectiva
reacção
Orgulho diminui
SORTE
afectiva
Causa Externa Instável
reacção
Expectativa de mudança
possível em performance
cognitiva futura
85
REACÇÕES DO TIPO AFECTIVO E COGNITIVO EM SITUAÇÕES DE
SUCESSO E INSUCESSO (Continuação)
reacção
vergonha aumenta
COMPETÊNCIA
afectiva
Causa Interna Estável
reacção
Expectativa de performance
similar no futuro
cognitiva
reacção
vergonha aumenta
ESFORÇO
afectiva
Causa Interna Instável
reacção
Expectativa de mudança
possível em performance
cognitiva futura
INSUCESSO
reacção
vergonha diminui
COMPLEXIDADE DA
TAREFA afectiva
reacção
vergonha diminui
SORTE
afectiva
Causa Externa Instável
reacção
Expectativa de mudança
possível em performance
cognitiva futura
86
2. O ALUNO ADULTO: LISTAGEM SUMÁRIA DE DIFERENÇAS
E SEMELHANÇAS COM OS MAIS JOVENS
87
- Porque está num estádio de desenvolvimento mais avançado, o
adulto não deixa de aprender por processos menos
conscientes, que envolvam os seus sentidos. As operações
formais relacionam-se com a aprendizagem consciente da
língua que, segundo Krashen, tem afinal um pequeno papel
para se atingir a fluência nessa mesma língua;
- A codificação dupla de material a ser aprendido facilita a
tarefa dos adultos, tal como das crianças, por favorecer a
memorização;
- A consciência meta-linguística do aluno adulto é maior, o
que se revela na sua também maior capacidade de formular
juízos sobre a correcção das frases e este facto deve ser
pedagogicamente explorado;
- Os adultos utilizam maior número de estratégias
conversacionais: mantêm com mais facilidade uma conversa e
são capazes de esclarecer melhor o 'input' que recebem, o
que, também segundo Krashen, é muito importante para a
aquisição de uma língua estrangeira;
- É comum a crianças e adultos a utilização de rotinas com
facilitadores da interacção social: muito cedo surge o uso
de frases frequentes, sem que as regras para a sua formação
tenham sido abordadas;
- Os estilos de aprendizagem são mais diversos numa turma de
adultos, uma vez que as diferenças aumentam com a idade, e é
essencial que haja flexibilidade de estratégias tanto por
parte do professor como do alunos;
- A L1 (língua materna) é mais facilmente utilizada pelos
adultos para vencer as falhas que o adulto não consegue
ultrapassar com o recurso à generalização, por razões de
tipo cognitivo e afectivo; pode também ser usada como
facilitadora da aprendizagem;
- O adulto requer um ritmo mais lento, de acordo com o seu
tempo mental: quanto mais velho, mais lento, devido a um
abrandar das capacidades de processar informação.
88
3. OS CRITÉRIOS
89
1 - Congruência com as tendências actuais no campo da aquisição de
uma língua estrangeira
90
e) Estilos e estratégias de aprendizagem implicam atenção a:
1) diferença dos alunos - estilo indutivo ou dedutivo;
2) unidades de trabalho centrado em problemas;
3) capacidade de tomar decisões;
4) flexibilidade.
91
d) Necessidades vocacionais deverão ser tomadas em
consideração do seguinte:
1) motivação instrumental,;
2) pragmatismo (utilidade prática);
3) semelhança a tarefas na língua alvo.
92
PARA UMA EDUCAÇÃO SOCIALIZADORA DOS ADULTOS
(PONTOS-CRAVE PARA UMA REFLEXÃO)
93
mercados e a internacionalização da produção aceleraram a
alteração das tecnologias onde o saber se transformou num factor
da maior importância. A evolução demográfica e a diversificação
dos fluxos migratórios alteram os grandes equilíbrio sociais e
põem em causa esses mesmos mecanismos de equilíbrio social. Os
Estados-nações são confrontados tanto com o reforço dos
regionalismos como com o aparecimento de entidades supra-
nacionais, enquanto, simultaneamente, uma parte da Europa caminha
para uma transição para uma democracia pluralista e uma economia
de mercado. A "irrigação" das sociedades pela comunicação
informática modifica a sociabilidade e os seus valores
subjacentes.
94
novas tecnologias. Contudo, não é só a vida profissional que é
afectada por esta evolução.
10. A educação dos adultos continua a ser um dos meios através dos
quais tanto a sociedade como os cidadãos podem incentivar,
dirigir e controlar as alterações estruturais dos mecanismos
económicos, políticos e sociais desta sociedade. A Educação de
Adultos está ligada, em primeiro lugar, á autonomização dos
adultos, à sua qualificação e à sua capacidade de levar à
mudança. A tendência actual das sociedades torna vulneráveis as
95
pessoas devido à relação cada vez maior entre lucro, qualificação
e emprego. A lógica da educação é, evidentemente, exterior a este
processo. No entanto, ela pode ajudar as pessoas e os grupos a
dominarem, de algum modo, esse processo de progressiva
articulação. Nesse sentido, convém evitar, o mais possível, a
transformação desta educação socializadora num "sistema fechado",
destinado unicamente a certas categorias da população - o que só
as levaria a uma maior marginalizarção.
96
resultado das mutações sociais leva-nos a centrar a nossa atenção
nas tentativas de resposta as situações mais difíceis que são
também as que, até agora, ficaram sem solução.
17. Esta educação de adultos manifesta-se hoje sob formas novas que
lhe são conferidas pelos agentes educativos que se confrontam com
97
as mais evidentes e, às vezes, dramáticas consequências das
mutações sociais.
É, pois, importante observar que estamos perante tentativas
apenas. No entanto, já é possível detectar os traços comuns. Esta
educação é caracterizada essencialmente:
98
- porque integra e articula dimensões complementares do acto de
aprendizagem: acolhimento, orientação, balanço, avaliação,
reconhecimento e validação de saberes ... ;
99
21. É fundamental distinguir muito claramente o que diz respeito à
educação o que diz respeito à informação. É com esta última que o
mundo actual está melhor apetrechado.
A tarefa da educação é não, pois, limitar-se a fornecer
informações, mas proporcionar às pessoas os meios para melhor
seleccionarem as informações que recebem e das quais estão
saturadas.
100
(2) Este texto é parte integrante de um documento editado pelo
Conselho da Europa, no âmbito do projecto "Educação de Adultos e
Mutações Sociais", publicado em Estrasburgo, em 1992.
Dadas as perspectivas aqui desenvolvidas sobre Educação de Adultos,
pareceu-nos de interesse inseri-lo nesta colectânea. Pensamos, desta
forma, explicar referências a contextos aqui não muito explicitados,
por se tratar de exertos de um trabalho mais extenso.
101
BIBLIOGRAFIA
102
NÓVOA, António, FINGER, Matthias, (ORG.), O Método (Auto)biográfico
e a Formação, Cadernos de Formação, Ministério da Saúde,
Departamento de Recursos Humanos da Saúde, Centro de
Formação e Aperfeiçoamento Profissional, Lisboa, 1988.
103