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A FILOSOFIA
E
A CIÊNCIA
Mecca Chiesa
ê
Editora
Celeiro
BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciência
Capítulo 8
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BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciência Capítulo 8
A Introdução ao Behaviorismo
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a primeira categoria consistindo em Watson, Holt, Tolman e Kuo, e a última
em Spence, Hull, Guthrie e Skinner, sendo o trabalho de Pavlov classificado
sob a tradição do Associacionismo (por exemplo, Hillix & Marx, 1974). Os
trabalhos de Watson, Perry e Holt, Tolman, Hull, Spence, Skinner e Mowrer
foram também discutidos sob o tópico Interpretações Comportamentais do
Propósito, com Hull, Spence, Skinner e Mowrer rotulados como Os Últi
mos Behavioristas, enquanto Pavlov obtém somente menção ocasional em
relação a Watson e Mowrer (Boden, 1978). Ocasionalmente, Skinner recebe
tratamento separado, nas discussões gerais do behaviorismo, como quando
Mackenzie (1977) dedica uma seção final de seu trabalho, Behaviorism and
the Limits of Scientific Method, para abordar “A Principal Contribuição Não
Sistemática do Behaviorismo Conforme Exemplificada por Certas Caracterís
ticas da Psicologia de Skinner”. E, conforme foi considerado na Introdução,
Smith (1986) compara e contrasta os trabalhos de Tolman, Hull e Skinner
com a visão de ciência do positivismo lógico.
Claramente, não é uma tarefa fácil traçar a linha do desenvolvimento do
behaviorismo. Alguns autores tentam puxar uma linha contínua desde Pavlov,
passando por Watson, para chegar em Skinner. Outros apresentam a psicolo
gia operante de Skinner como um desenvolvimento do trabalho de Pavlov so
bre o condicionamento clássico. Outros ainda sugerem uma descontinuidade
entre os primeiros e os últimos behavioristas (ou behavioristas e neobehavio-
ristas). Todas as apresentações compartilham uma característica comum, isto
é, de que são tratamentos do behaviorismo e é neste sentido que o behaviorista
skinneriano enfrenta um problema.
Para o novo estudante, o behaviorismo é apresentado freqüentemente
como uma visão estímulo-resposta ou caixa-preta da pessoa, uma psicologia
preocupada somente com o que entra e com o que sai do organismo e ig
nora o seu mundo privado. A contribuição de Skinner pode ser apresentada
puramente em uma perspectiva técnica, como não mais do que um mundo
de técnicas e dados experimentais descrevendo o comportamento de ratos e
pombos em caixas de Skinner e, assim, divorciada de sua filosofia mais am
pla. Mesmo em nível mais profundo, o sistema skinneriano, considerado sob
o rótulo do behaviorismo, é apresentado como uma seqüência dos sistemas
desenvolvidos e promovidos por Watson, Hull, Tolman e outros, como sendo
baseado na mesma filosofia da ciência, ou comprometido com a mesma visão
de objeto de estudo da psicologia e/ou a mesma visão de pessoa. Na prática,
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Ivan P. Pavlov
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A psicologia estímulo-resposta
dos organismos não pode ser demonstrada que estejam sob controle de estímulos
eliciadores simples. No caso dos reflexos adquiridos, as respostas condicionadas se
desenvolvem ao longo do processo de se emparelhar repetidamente eventos neu
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John B. Watson
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das ciências naturais. O status das definições de mente e dos conceitos men-
talistas era duvidoso, e as tentativas de estudar quantitativamente os conceitos
que nem mesmo podiam ser definidos lhe pareciam sem sentido. Ele sentia
que essas premissas profundamente defeituosas deviam ser rejeitadas. Se as
questões formuladas pela psicologia introspectiva não levavam a lugar algum,
então formule outros tipos de questões de outras maneiras. A sugestão de
Watson de que a psicologia devia ignorar os eventos internos, até que fossem
encontrados métodos melhores para descrevê-los e estudá-los, foi um desen
volvimento prático para a psicologia e sua posição foi adotada sinceramente
pelos psicólogos que tentavam desenvolver métodos com um grau de controle
experimental característico daqueles das ciências naturais.
Além do livro de Pavlov, Conditioned Reflexes, Skinner, quando es
tudante de pós-graduação, também carregava uma cópia do livro de Wat
son, Behaviorism (1924). Seu interesse por Watson deve-se menos por
seus estudos em psicologia do que por suas relações com a epistemologia.
Skinner foi introduzido no behaviorismo de Watson através do trabalho
de Bertrand Russell. Antes, Russell recorrera ao behaviorismo como base
para uma epistemologia empírica, ao extrapolar a formulação de Watson
para os problemas do conhecimento e foram, principalmente, as im plica
ções epistemológicas do behaviorismo de Watson que o aproximaram de
Skinner. De acordo com Smith: “Russell, ao aplicar a psicologia compor-
tamental ao problema do conhecimento, proporcionou um modelo que
Skinner seguiu desde então. Os detalhes da descrição de Russell foram,
logo após, rejeitados por Skinner, mas a noção geral do desenvolvimento
de uma epistemologia empírica, a partir de uma base behaviorista, foi
um tema persistente ao longo da carreira de Skinner” (Smith, 1986, p.
263). Skinner ficou impressionado com as possibilidades epistemológicas
sugeridas inicialmente pelo behaviorismo de Watson, mas questionou a
formulação de Watson sobre questões experimentais substantivas.
O programa de Watson usou a mesma unidade de análise do programa de
Pavlov, a mesma relação estímulo-resposta inata. Como Pavlov, Watson estava
também preocupado com o modo em que os reflexos adquiridos eram cons
truídos através do emparelhamento de estímulos condicionados e incondi-
cionados. O ponto de vista de Skinner, ao partir da relação estímulo-resposta
como uma unidade de análise, não precisa de mais elaboração.
Skinner considerou impraticável realizar o objetivo da psicologia, con
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forme concebido por Watson - “a descoberta de dados tais e leis que, dado o
estímulo, a psicologia pode prever qual resposta ocorrerá; ou, dada a resposta,
ela pode especificar a natureza do estímulo eficaz” (Watson, 1919, p. 10).
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Dispensando o dualismo
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o problema prático de como libertar a psicologia para tomar seu lugar como
uma ciência natural. Watson propôs deixar de lado os eventos mentais até
que métodos apropriados possam ser elaborados, quando então poderiam ser
reavaliados com base nesses avanços. Mas, como foi discutido nos Capítulos
2 e 5, a metodologia sozinha não é suficiente porque um sistema baseado no
dualismo irá, inevitavelmente, se preocupar com questões orientadas por essa
visão. Watson estava quase correto quando escreveu: “Alguma coisa está erra
da com nossas premissas e os tipos de problemas que emergem delas” (Hillix
& Marx, 1974, p. 205: Watson, 1913). Sua solução foi ignorar a metade
mais incômoda da dicotomia. Skinner também considerava que havia alguma
coisa errada com as premissas, mas, em vez de aceitar a dicotomia e ignorar
os eventos ocorrendo dentro do organismo, a metade incômoda, dispensou
a própria dicotomia, com base em que ninguém poderia negar seriamente a
importância do que pensamos e do que sentimos. Cada indivíduo é um mun
do de pensamentos, sentimentos, redes de relações que sustentam esses sen
timentos, e vice-versa. O que faltava era uma nova filosofia, um novo modo
de pensar sobre a pessoa que pudesse incluir os acontecimentos privados, seus
pensamentos e sentimentos, sem colocar essas coisas separadas como se per
tencessem a uma outra dimensão.
A solução de Skinner foi reavaliar a premissa de que existiam dois sis
temas, dois mundos, o físico e o mental e, como resultado, avançar para
além da visão dualista da pessoa: “O behaviorismo metodológico e algumas
versões do positivismo lógico excluíram os acontecimentos privados porque
não era possível haver um acordo público acerca de sua validade. A intros
pecção não poderia ser aceita como uma prática científica, e a psicologia de
pessoas como Wilhelm Wundt e Edward B. Tichtner era atacada por isso.
O behaviorismo radical, entretanto, adota uma linha diferente. Não nega a
possibilidade de auto-observação ou do autoconhecimento ou sua possível
utilidade, mas questiona a natureza daquilo que é sentido ou observado e,
portanto, conhecido. Restaura a introspecção, mas não aquilo que os filóso
fos e os psicólogos introspectivos acreditavam que estivessem espectando’, e
suscita o problema de quanto de nosso corpo podemos realmente observar”
(Skinner, 1974, p. 16).
O livro Sobre o Behaviorismo (About Behaviorism - Skinner, 1974) es
boça uma filosofia que se caracteriza pelo modo diferente de conceber a pessoa
e de incorporar os acontecimentos privados dentro do sistema como um todo.
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logia acerca da pessoa. Enquanto não for substituída a filosofia que separa o
comportamento voluntário do involuntário e os acontecimentos privados do
comportamento por outra que incorpora a experiência privada como parte de
um sistema unificado, permanecerão não resolvidas as mesmas dificuldades
que Watson tentou enfrentar.
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Edward C. Tolman
A psicologia S-O-R
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memória, e a psicologia animal como essa, mas também de tudo que era
válido nos resultados da antiga psicologia introspectiva. E essa nova fórmula
de behaviorismo que propomos com a intenção de estendê-la a toda a psico
logia - uma fórmula para trazer paz formal, não meramente ao trabalho ani
mal, mas também para incluir a imaginação e a tessitura afetiva” (Hillix &
Marx, 1974, pp. 221-222: Tolman, 1922). Em vez de aceitar a exclusividade
mútua entre o behaviorismo e a instrospecção como Watson teria preferido,
Tolman tentou reuni-los e preservar o tom objetivo do behaviorismo, sem
rejeitar o papel de mediadores internos entre o estímulo e a resposta. No
sistema de Tolman, o behaviorismo moveu-se de uma estrutura S-R para
uma S-O-R.
Uma ilustração simples de seu behaviorismo mediacional se encontra em
seu livro Cognitive Maps in Rats and Men (Tolman, 1948 - Mapas Cogniti
vos nos Ratos e Homens), onde questionou os psicólogos S-R que interpre
tavam a aprendizagem dos ratos nos labirintos como uma simples questão
de fortalecimento de conexões estímulo-resposta. Ele resumiu a posição S-R
assim: “A aprendizagem, de acordo com essa visão, consiste nos respectivos
fortalecimentos e enfraquecimentos de várias dessas conexões [sinápticas]; as
conexões que resultam no animal entrar no caminho correto se tornam rela
tivamente mais abertas à passagem dos impulsos nervosos, enquanto aquelas
que o levam a entrar em becos sem saída se tornam relativamente menos
abertas” (Tolman, 1948, p. 190). Tolman considerava esta visão inadequada,
que os processos cerebrais ocorrendo durante a aprendizagem no labirinto são
consideravelmente mais complexos do que essa descrição permite. Ele próprio
se classificou entre um grupo que chamou de teóricos de campo, que consi
derava a aprendizagem no labirinto como o desenvolvimento de um “mapa
cognitivo”. Esse mapa cognitivo, dizia-se, dirigia o rato para o seu objetivo.
Tolman contrastou as analogias entre uma sala de controle dos mapas e uma
central telefônica. Na descrição S-R, as conexões sinápticas parecem similares
às conexões de uma central telefônica, onde as informações que chegam (estí
mulos) são conectadas de um modo ponto-a-ponto com as respostas liberadas.
Na descrição de campo ou S-O-R, o escritório central (a central telefônica da
descrição S-R) é mais parecido com uma sala de controle de mapas. Quando
enfrenta uma situação nova (talvez alguma rota aprendida previamente foi
bloqueada), o rato perscruta seu mapa cognitivo e esboça o trajeto de outra
rota por onde pode atingir seu objetivo.
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Skinner foi crítico da alegação feita por Pavlov de que estaria estudando
o funcionamento cortical em seu trabalho sobre os reflexos condicionados,
argumentando que os dados de Pavlov não eram sobre o sistema nervoso, mas
sobre as relações comportamento-ambiente e que as interpretações teóricas
deviam referir-se somente a essas relações. Similarmente, a psicologia cogniti
va alega que seus dados são sobre processos ocorrendo dentro do organismo e
está sujeita à mesma crítica. Os dados da psicologia cognitiva são comporta-
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como fundamentais.
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