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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
PEDAGÓGICO NA ÁREA DE
SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL
GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3
2 A DEFICIÊNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA .......................................................... 4
2.1. Abordagens atuais sobre deficiência ................................................................... 9
2.2. Deficiência não é sinônimo de incapacidade .................................................... 10
3 INCLUSÃO SOCIAL .............................................................................................. 12
3.1. Diretrizes sobre educação inclusiva no brasil................................................... 12
4 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ............................................................................... 16
4.1. Evolução conceitual da deficiência intelectual ................................................. 18
4.2. Sinais indicativos de deficiência intelectual ...................................................... 20
4.3. Os principais tipos de Deficiência Intelectual ................................................... 22
4.3.1 Síndrome de Down .......................................................................................................................22
4.3.2 Síndrome do X frágil .....................................................................................................................23
4.3.3 Síndrome de Angelman ...............................................................................................................24
4.3.4 Síndrome de Williams ..................................................................................................................25
4.3.5 Síndrome de Prader-Willi ............................................................................................................26
5 POSSÍVEIS CAUSAS PARA A SURDEZ E A CEGUEIRA ................................... 27
5.1. Deficiência Visual e Cegueira.............................................................................. 28
5.2. Deficiência auditiva e surdez .............................................................................. 29
5.3. Classificação da deficiência auditiva ................................................................. 31
5.4. Deficiência da surdocegueira.............................................................................. 33
6 NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS ....................................................... 35
6.1. Alunos com deficiência visual e a educação ..................................................... 36
6.2. Orientação e mobilidade ...................................................................................... 37
6.3. Ensino do Braille .................................................................................................. 37
6.4. Alunos surdos e a educação ............................................................................... 40
7 DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL................................................................ 45
7.1. Atendimento educacional especializado ........................................................... 46
7.2. O atendimento educacional do aluno surdocego ............................................. 49
7.3. Desenvolvimento e implicações socioeducacionais da criança cega ........... 51
7.4. Desenvolvimento e implicações socioeducacionais da criança surda ........... 53
8 PRÁTICAS EDUCACIONAIS ................................................................................ 55
8.1. Profissionais envolvidos no processo da educação inclusiva ........................ 56
8.2. Os desafios das escolas brasileiras diante da inclusão escolar ..................... 58
8.3. A rede de apoio nas instituições de ensino voltadas à inclusão ..................... 60
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 62
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 A DEFICIÊNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA
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em locais afastados, em meio à florestas. Demonstra-se assim que as pessoas com
deficiência carregam consigo, ao longo de toda a história da civilização, marcas e
estigmas engendrados para excluí-las e segregá-las, sendo essas condutas justificadas
por ideias hegemônicas e preconceituosas (GOFFMAN, 1978).
Tais métodos eram justificados por códigos e escritos que relatavam os modos
de viver da época, conforme os registros de Aristóteles e Platão, sobre legislações ideais
na Antiguidade Clássica. Nesses registros, fica claro que os direitos individuais não eram
reconhecidos e, portanto, eram colocados em segundo plano em relação ao direito
público coletivo. Dessa forma, o Estado tinha o direito de não tolerar as deformidades ou
monstruosidades de seus cidadãos (COULANGES, 2003).
As religiões contribuíram para o entendimento de que as pessoas com deficiência
deveriam ser vistas como pessoas em uma situação passível de cuidado e atenção, ainda
que essa perspectiva tenha seus aspectos excludentes, por meio da criação de
instituições como asilos e hospitais, onde as pessoas acabavam ficando confinadas sob
a alegação de que deveriam receber assistência. Tal perspectiva contribuiu para um olhar
mais orgânico sobre as deficiências, inserindo a ideia de que a pessoa com deficiência
poderia ser curada, tratada ou desenvolvida de alguma maneira que a aproximasse de
um padrão de normalidade, atribuindo funcionalidade e independência aos sujeitos
(PIOVESAN, 2012).
No decorrer de todos os momentos históricos, da civilização mais arcaica até bem
recentemente, há registros de condutas excludentes e exterminadoras de pessoas com
deficiência. Esses indivíduos foram eliminados por meio de assassinatos, abandonados
sem qualquer cuidado, encarcerados e expostos a experimentos e pesquisas
desumanas — como visto em relatos da Segunda Guerra Mundial (LORENTZ,2006).
Percebe-se somente, a partir da segunda metade do século XX, uma mudança
de visão em relação às pessoas com deficiência. Dentro do contexto capitalista, ela
escapou do enquadramento de pessoas invalidas para o conceito de aptidão ou não
aptidão para o exercício de alguma atividade (CANZIANI, 1995).
A Educação Especial se desenvolve inicialmente na perspectiva do
assistencialismo de clínicas especializadas para a cura da deficiência. Nesses locais
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havia a preocupação com a reabilitação dessas pessoas como condição para sua
inserção social. Ainda com o surgimento das classes especiais nas escolas regulares
de ensino, elas entendiam que o processo de desenvolvimento passava pela
segregação desses alunos em função de prepará-los com antencedência para o
convívio social (LORENTZ, 2006).
Com a chegada da década de 1980, celebra-se um marco histórico em relação
ao reconhecimento das pessoas com deficiência, através da declaração do Ano
Internacional da Pessoa Deficiente, em 1981. É importante ressaltar nessa época a
nomenclatura utilizada era “pessoa deficiente”. Hoje utiliza-se o termo “pessoa com
deficiência. Esse evento é considerado por Figueira (2008) como um pontapé inicial na
tessitura das conquistas dos direitos humanos das pessoas com deficiência. Pois,
através desse fato, as pessoas com deficiência adquiriram maior consciência de si, de
suas condições e de suas potencialidades. Em consequência, elas começam um
processo de organização política.
De acordo com Bueno (1993), foi em 1986 que a nomenclatura “alunos
excepcionais” passou a ser substituída por “alunos portadores de necessidades
especiais”. Essa mudança foi significativa para promover a mudança de mentalidade da
sociedade em relação às pessoas com deficiência, concedendo-lhes o lugar de respeito
e de superação da ideia de necessidade de cura como requisito para sua inserção social.
Gradativamente, através de diversos estudios sobre as deficiências em várias áreas do
saber, os pesquisadores contribuíram com a compreensão da impossibilidade de cura
para algumas deficiências, possibilitando abertura para que as pessoas com deficiência
pudessem ter oportunidades de acesso no diversos campos sociais.
Por meio dos dispositivos internacionais como a Declaração de Salamanca, em
1994, que defende os princípios, as políticas e a práticas na área das necessidades
educativas especiais, e as convenções internacionais da Organização das Nações
Unidas (ONU) de 1996 e 1997, a educação especial ganhou novo delineamento e
potencializaram-se a lutas pelos direitos das pessoas com deficiência. Entretanto,
Piovesan (2012) afirma que mesmo com esses avanços legislativos, havia a concepção
de que a responsabilidade de adaptação parte da pessoa com deficiência e não da
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sociedade. Essa compreensão fortalece o olhar biomédico da deficiência, no qual os
fatores “doença”, “transtorno” “deficiência” prevalecem sobre o sujeito, negando sua
existência como pessoa, negando a sua subjetividade.
O Quadro 1 apresenta as diferenças entre os conceitos de inclusão, exclusão e
segregação.
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liberdade e à convivência familiar ecomunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão […].
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os
portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração
social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o
trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos,
com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de
uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir
acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
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especificidades de cada sujeito.
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condições mínimas para que as pessoas com deficiência possam de fato se inserir na
sociedade, com participação plena e efetiva, em que seja possível viver com
independência e dignidade (BRASIL, 2015).
As políticas públicas da atualidade utilizam um conceito de deficiência, de forma
geral, no qual o sujeito possa conquistar espaço para existir, sem precisar se limitar por
barreiras arquitetônicas, estruturais, sociais, culturais ou econômicas que o coloquem em
desvantagem em relação a quem não possui deficiência. Conforme o relatório mundial
sobre a deficiência, as pessoas com deficiência representam 15% da população
mundial, o que significa cerca de um bilhão de sujeitos. Dessa maneira, configura-se na
minoria mais presente no planeta, sendo esse fato promovedor de urgências para a
criação, priorização e seguridade dos direitos, além do estabelecimento de políticas
públicas específicas (OMS, 2012).
Outro ponto desse relatório pode ser relacionado às desigualdades encontradas
pelas pessoas com deficiência, como carências no acesso à saúde e à educação, além
das constantes exposições a violências e à vulnerabilidade social e econômica,
impactando negativamente no desenvolvimento desses sujeitos. As deficiências circulam
pelos mais variados aspectos dos sujeitos, no que se refere aos tipos e graus de
deficiência.
Em outras palavras, o sujeito pode apresentar desde alguma dificuldade ou uma
grande dificuldade até incapacidade de locomoção, visual, auditiva ou deficiência
intelectual. É possível ainda apresentar deficiências múltiplas, com duas ou mais
deficiências associadas, como na paralisia cerebral, na qual é comum que a pessoa
apresente deficiência intelectual, dificuldades para locomoção e audição e, em alguns
casos, até mesmo na visão. Tais aspectos tornam as pessoas com deficiências um
grupo social extremamente heterogêneo e com uma imensa diversidade de
manifestações (OMS, 2012).
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conceito de deficiência, interpretando-a como mera barreira ou incapacidade a ser
superada pela pessoa que a portava. Em seguida, instalou-se a transição para o modelo
social do conceito de deficiência, relacionado à inclusão da pessoa com deficiência e à
superação das barreiras estruturais. Atualmente, o paradigma dos direitos humanos é
inserido, no intuito de garantir a dignidade, a autonomia e o acesso a todos os direitos
sociais da pessoa com deficiência, bem como o combate à violação de seus direitos
(SCHMIDT, 1997).
Na atualidade, há uma preocupação para além das limitações impostas pela
própria deficiência: construir constantemente espaço para a superação de barreiras ao
pleno desenvolvimento do sujeito com deficiência. As políticas públicas direcionadas às
pessoas com deficiência, assim como as problematizações do contexto estimuladas
pelas convenções sobre os seus direitos, buscam distanciar o conceito de deficiência do
de incapacidade, a fim de não restringir o conceito de deficiência a aspectos médicos. Ao
mesmo tempo, são incorporados aspectos sociais, ou seja, a pessoa com deficiência
deve ser compreendida para além dos aspectos físicos, sensoriais, intelectuais e
mentais, destacando a conjuntura social e cultural em que o sujeito com deficiência está
inserido Assim, o sujeito, visto além da deficiência e de suas barreirasde natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, pode ser contemplado por meio de outros cenários para
o desenvolvimento integral de suas potencialidades (FONSECA, 2008).
Nesse sentido, as políticas públicas garantem à pessoa com deficiência o
recebimento de benefício assistencial (quando o indivíduo se encaixa em critérios
socioeconômicos), tendo garantia de benefícios como isenção de impostos como o IPI;
preenchimento do percentual de funcionários com deficiência em empresas com mais de
cem empregados; vagas destinadas às pessoas com deficiência em concursos públicos;
participação nas paraolimpíadas e atendimento prioritário (FONSECA, 2008).
Ademais, as políticas públicas promovem a garantia de espaço para que as
pessoas com deficiência possam demonstrar as suas potencialidades e os seus talentos,
especialmente nas áreas em que possuem maior desenvolvimento. A partir disso, o
deficiente poderá encontrar uma maneira de ser visto enquanto sujeito integral, para além
da deficiência.
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Ao longo da história, o conceito de deficiência e a visão sobre a pessoa com
deficiência enfrentaram muitos percalços. Nem sempre foi possível priorizar o
desenvolvimento do sujeito integral, com respeito e construção da autonomia. No
entanto, toda essa bagagem conduziu à consideração de aspectos fundamentais e
indispensáveis, como a compreensão do sujeito em sua integralidade e singularidade.
Nessa perspectiva, constituiu-se na contemporaneidade um novo conceito de
deficiência, o qual expõe a evolução da cultura e da sociedade para o respeito às
diferenças e à diversidade nos modos de ser e existir. Oportunizou-se assim que as
pessoas com deficiência tenham livre acesso aos seus direitos, participando da vida
social em igualdade e equidade. Tais aspectos atuam para a destruição das barreiras e
buscam atuar em favor de uma inclusão íntegra e plenamente satisfatória para todos
(FONSECA, 2008).
3 INCLUSÃO SOCIAL
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No Brasil, conforme Saviani (1992) por muito tempo a educação das classes
populares eram inexistentes ou precária, pois as minorias eram usadas como mão de
obra em zonas rurais ou fábricas. Dessa forma, as pessoas com deficiência que não
tinham grande dificuldade de locomoção eram condicionadas ao trabalho desde muito
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cedo, deixando passar despercebidas as suas necessidades educacionais especiais.
De acordo com Bueno (1993), a educação especial iniciou-se com as turmas de
classe especial dentro das escolas regulares, nas quais, as pessoas com deficiência
conviviam unicamente com seus pares, considerando faixa etária e fases de
desenvolvimento. Nessa modalidade de educação, ofertava-se o espaço escolar para
que se funcione a escolarização desse público, entretanto, aconteceu numa perspectiva
de integração, evitando-se a convivência e interação efetiva entre os alunos com e sem
deficiência. Nesse período, a educação especial continuava promovendo um processo
de exclusão social mesmo com intenção de permitir o acesso dessa criança no ensino
regular. Por essas razões, hoje não mais prevalece essa modalidade de educação.
Na atualidade, ainda existem algumas instituições nas quais os alunos com
deficiência convivem unicamente com seus pares, porem são bastante escassas.
Nesses locais, pelo menos, os alunos contam com um espaço maior, diferentemente
das classes especiais, e podem ter acesso às reformas e adequações arquitetônicas
para sua circulação com segurança e exploração dos espaços; prioriza-se também o
convívio e a socialização e visam o pleno desenvolvimento educacional das pessoas com
deficiência, possibilitando o convívio comos seus pares e estimulando a socialização.
No início dos anos 2000, o Conselho Nacional de Educação organizou, em
conformidade com os processos de mudanças, as Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001). Assim, por meio da resolução CNE/CEB
nº. 02/2001, ampliou o caráter da educação especial. Ainda em 2001, estabeleceu
também o Plano Nacional de Educação (PNE), via Lei nº. 10.172/2001.
A década de 2000 foi declarada como a década da educação, com o objetivo de
promovera educação inclusiva. Tais diretrizes, planos e metas apontaram ainda para
uma considerável implicação de todas as instâncias governamentais para sanar os
déficits referentes à oferta de matrículas para alunos com deficiência nas classes
comuns do ensino regular, na formação docente, na acessibilidade física e no
atendimento educacional especializado.
Esse movimento de mudança e ampliação da educação se inspirou também na
Convenção da Guatemala, a qual ocorreu em 1999. No Brasil, ela foi interpretada por
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meio do Decreto nº. 3.956/2001, produzindo uma reinterpretação na educação especial
e promovendo a eliminação das barreiras no acesso à escolarização. A partir disso, a
formação docente foi focada e predeterminada sob a perspectiva da educação inclusiva,
em conformidade com a Resolução CNE/CP nº. 01/2002, que dispôssobre as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. A
Resolução nº. 4, de 2 de outubro de 2009 definiu como responsabilidade das instituições
de ensino superior à organização curricular para a formação docente voltada para a
atenção à diversidade,contemplando saberes sobre as especificidades dos alunos com
necessidades educacionais especiais.
O “Programa Educação Inclusiva” (2003) e o documento “O Acesso de Alunos
com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular” (2004), ambos
abordando o direito à diversidade na educação, serviram como diretrizes para a
definição da educação inclusiva no Brasil. Essas diretrizes propõem ampliar o apoio à
transformação dos sistemas de ensino a fim de garantir a inclusão, por meio da formação
qualificada dos próprios gestores educacionais e dos professores. O principal objetivo
desses documentos é divulgar os conceitos e as diretrizes da educação inclusiva global,
reafirmando os beneficios da frequência escolar dos alunos com e sem deficiência nas
salas de ensino regular.
O programa “Brasil Acessível” de 2004 foi impulsionado pelo Decreto nº 5.296/04,
que por sua vez regulamentou a Lei nº 10.048/00 e a Lei nº 10.098/00. Esses dispositivos
regulam os processos de acessibilidade arquitetônica. O programa tem como objetivo
promover o acesso urbano bem como de todo espaço público para as pessoas com
deficiência.
Em relação aos direitos conquistados pela comunidade surda, existem dois
dispositivos importantes. O primeiro deles foi criado pelo Ministério da Educação e
Cultura (MEC), em 2002, com a portaria nº 2.678/02, que estabelece as diretrizes e
normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as
modalidades de ensino. Ao mesmo tempo, essa portaria abrange o projeto da Grafia
Braille para a Língua Portuguesa para todo o território nacional. O segundo documento
que beneficia pessoas com deficiência auditiva é o Decreto nº 5.626/05 que
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regulamentou a Lei nº. 10.436/2002, na qual se garante a inclusão de alunos surdos no
ensino regular, bem como o ensino de Libras como disciplina curricular e a organização
da educação bilíngue.
Em 2007, o MEC, por meio do “Plano de Desenvolvimento da Educação” (PDE),
validado pelo Decreto nº. 6.094/2007, conjuntamente com as diretrizes do
“Compromisso Todos pela Educação”, estabelece o acesso e a permanência de todos
os alunos com deficiência no ensino regular, bem como, do atendimento educacional
especializado (AEE). Trata-se principalmente, de um dispositivo que promove a
superação da oposição entre educação regular e educação especial. Esse movimento
de superação por uma educação inclusiva realiza-se com o incentivo de formação de
professores voltada para a educação inclusiva, com a implantação de salas de recursos,
assegurando a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares e com o acesso e a
permanência das pessoas com deficiência na educação superior (BRASIL, 2007).
Toda essa luta por direitos se vê coroada com a implementação da Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI) de
2008. Nesta política, regulamenta-se a inclusão das pessoas com deficiência no ensino
comum, independentemente de condição social, racial, cultural ou política e o acesso à
educação da comunidade de alunos com deficiência em igualdade de direitos e
condições dos alunos sem deficiência. Se institucionaliza o direito a classe regular dos
alunos com deficiência e ao atendimento educacional especializado, complementar ou
suplementar. Todos esses documentos são alicerces para uma profunda transformação
de mentalidade, de cultura e de paradigma educacional em prol de uma educação na
perspectiva inclusiva de ensino, ancoradas ainda nos princípios da dignidade e da
equidade social (MOREIRA, 2016).
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4 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
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estabeleceu a necessidade de permitir que o modo de ser dos sujeitos pudesse se
expressar, determinando o desencarceramento dessas pessoas com deficiências
intelectuais e indicando a criação de lugares específicos para tratamento com estímulos
adequados. Foi assim que Pinel se tornou também um dos fundadores da clínica médica
(FRAYZE-PEREIRA, 1993).
Apesar de todo o esforço para a condução de um tratamento moral das pessoas
com deficiência intelectual, houve, ao longo de todo o século XIX, um alastramento da
criação de asilos, os quais acabaram sendo concebidos como manicômios. Nesses
locais, os tratamentos visavam à cura e, para isso, não mediam esforços para aplicar
métodos que moldassem os comportamentos dos deficientes. Por meio de técnicas,
aparelhos e medicações, buscavam a contenção dos sintomas, sem considerar as
singularidades e peculiaridades de cada sujeito (DUARTE, 2018).
Os processos diagnósticos no campo da deficiência intelectual têm sido
realizados pela medicina e pela psicologia. Quando produzidos a partir da medicina,
referem concepções organicistas de deficiência, com ênfase na dimensão biológica
associada à etiologia. Quando produzidos a partir da psicologia, caracterizam-se por
serem diagnósticos psicométricos (CHEQUÍM, 2018).
Em termos conceituais, a partir de uma perspectiva clínica, o conceito de
deficiência intelectual apresentado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) envolve
dois componentes essenciais: a idade cronológica e a cultura social. Em essência, o
sujeito deve apresentar um funcionamento intelectual significativamente abaixo da
média, que se manifesta desde a primeira infância, assim como incapacidade de se
adaptar às demandas culturais da sociedade (OMS, 1993).
Ao considerar o “olhar clínico” da deficiência, observe que o foco dessa definição
está na incapacidade do sujeito. Em outras palavras, o indivíduo deve demonstrar
incapacidade tanto no funcionamento intelectual como na conduta adaptativa, na
comunicação, nos cuidados pessoais, nas habilidades sociais, no desempenho na família
e na comunidade, na independência na locomoção, na saúde e segurança, no
desempenho escolar, no lazer e no trabalho (CHEQUÍM, 2018).
Compreender a deficiência intelectual implica pensar a respeito das suas
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definições conceituais e refletir sobre como ocorre o processo de aprendizagem desses
sujeitos no ambiente escolar, considerando que compõem o maior percentual de alunos
atendidos pela educação especial (CHEQUÍM, 2018).
18
problema social permanentemente relacionado à funcionalidade expressa pela pessoa,
ou seja, é “o resultado de uma relação complexa entre a condição de saúde do
indivíduo e os fatores pessoais, com os fatores externos que representam as
circunstâncias nas quais o indivíduo vive” (OMS, 2004, p. 15).
Até o século XVIII, deficiência intelectual era confundida com doença mental e
estas eram tratadas integralmente pela medicina por meio da institucionalização. O
procedimento era retirar as pessoas com deficiência de suas comunidades de origem,
mantendo-as em instituições situadas em localidades distantes de suas
famílias, permanecendo isoladas do resto da sociedade, seja para proteção, tratamento
ou educação (ARANHA, 2001).
Em suma, a deficiência intelectual não é um transtorno médico, nem um
transtorno mental, embora possa ser codificada em uma classificação médica das
doenças ou em uma classificação de transtornos mentais. Também não é uma
condição estática e permanente. Refere-se a um estado particular de funcionamento
que começa na infância. Ele é multidimensional é afetado positivamente pelos apoios
individualizados (AAMR, 2006). Mas, mesmo tendo se avançado no entendimento
dessa condição, o processo de inclusão das crianças/adolescentes com deficiência
ainda tem encontrado resistência na sociedade (GARGHETTI; MEDEIROS;
NUERNBERG, 2013).
Segundo Mazzotta (2001), a primeira APAE foi fundada no Brasil no ano de
1954, na cidade do Rio de Janeiro, contando com apoio, estímulo e orientação do casal
norte-americano Beatrice e George Bemis, membros da National Association for
Retarded Chidren (NARC). Essa associação acabou impulsionando as autoridades do
executivo e legislativo a olharem pelos deficientes, propondo algumas leis em seu
benefício. A APAE também se espalhou pelo país e atualmente tem como principal
objetivo ser um centro de Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Em 2010, Associação Americana de Deficiência Intelectual e do
Desenvolvimento (AAIDD) alterou o termo de “Retardo mental” para “Deficiência
intelectual” e a define como “uma incapacidade caracterizada pela limitação
significativa no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, um conjunto
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de habilidades conceituais, sociais e práticas e origina-se antes dos 18 anos de idade”
(AAIDD, 2010, p. 1).
De acordo com o DSM-V (2014), a Deficiência Intelectual é definida como um
Transtorno do desenvolvimento intelectual:
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comunicação, autocuidado, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento
interpessoal, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas,
trabalho, lazer, saúde e segurança (DSM-IV, 2002).
No DSM-V (2014), o termo “Retardo Mental” foi substituído por “Deficiência
Intelectual” e se enquadrou dentro dos “Transtornos do Neurodesenvolvimento”,
apresentando como uma de suas características o déficit no desenvolvimento. Essa
característica provoca prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou
profissional, manifestando-se antes da idade escolar.
Conforme explicado no site Instituto Neuro Saber (2017), alguns dos sinais
indicativos de deficiência intelectual são:
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Além disso, pode haver dificuldades de estabelecer a comunicação que decorre da não
estruturação das representações simbólicas. Pode ocorrer, ainda, atenção limitada,
dificuldade na aquisição da fala e baixa criatividade em decorrência das defasagens
nas ações intelectuais (FERREIRA, 2014).
Entende-se, também, que nas crianças com DI, as habilidades sociais são
deficitárias, e esse indicador acaba sinalizando a existência de problemas
comportamentais, déficits de habilidades pró-sociais e agressão que pode desencadear
um relacionamento empobrecido com seus pares, entre outros (FERREIRA, 2014).
Nesse sentido, compreende-se que a existência de dificuldades específicas, que
causam um impacto no funcionamento social, como por exemplo, a dificuldade em
interpretar adequadamente as situações sociais, incluindo compreender os sinais
sociais verbais e não verbais. Além disso, tem sido sugerido que as crianças com DI
podem apresentar níveis mais baixos de interações sociais durante o jogo com os seus
pares e consequentemente mais isoladas durante o jogo, o que proporciona dificuldades
no relacionamento com seus pares (FERREIRA, 2014).
22
gastrointestinais, neurossensoriais ou endócrinos (KOZMA, 2007).
Fonte: https://prosense.com.br/
23
distorção entre os demais cromossomos (ARAÚJO, 2015).
Fonte: https://www.eudigox.com.br/
24
fletidos, hipotonia do tronco e ataxia, podendo perder a sua capacidade de andar, e
motricidade grossa e fina atrasada (MATOS, 2013).
Fonte: https://institutoneurosaber.com.br/
25
Figura 5 – Criança com
Síndrome de William
Fonte: https://www.fiocruz.br/
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5 POSSÍVEIS CAUSAS PARA A SURDEZ E A CEGUEIRA
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As causas das deficiências sensoriais, de forma geral, são variadas, podendo ser
congênitas ou adquiridas. No que se refere à surdez ou deficiência auditiva, Marchesi
(2004) aponta que, em cerca de um terço das pessoas, a origem da surdez não pode ser
identificada com exatidão e há uma incidência entre 30% e 50% de causas hereditárias.
Quanto à surdez adquirida, o autor aponta que as causas normalmente estão associadas
a ocorrências como doenças ou lesões no aparelho auditivo, que podem ser provocadas
por perfuração do tímpano devido ao uso de objeto perfurante, perda auditiva induzida
por ruído e traumas físicos que afetam o osso temporal, entre outros fatores.
Quanto à deficiência visual, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação, por meio do documento Saberes e Práticas de Inclusão (BRASIL, 2006),
explica que as causas congênitas incluem a prematuridade, por retinopatia da
prematuridade ou por excesso de oxigênio na incubadora; a toxoplasmose, que pode
levar a coriorretinite; a rubéola e infecções na gestação, que podem levar a catarata ou
glaucoma. A deficiência visual também pode decorrer de problemas durante o parto, que
envolvem hipoxia, anoxia ou infecções perinatais, as quais podem levar à atrofia óptica.
Aspectos hereditários como glaucoma congênito, degenerações retinianas (síndrome de
Leber) e doenças hereditárias como diabetes também são fatores causadores da
deficiência visual.
27
Com relação às causas adquiridas, podem ser destacados os traumas oculares,
as lesões cerebrais por acidente, doenças como diabetes, descolamento de retina,
glaucoma, catarata, degeneração senil, infecções virais, tumores cerebrais. Também
podem ocorrer lesões cerebrais em que o aparelho ocular se encontra em funcionamento
normal, mas as mensagens visuais não são corretamente interpretadas e processadas
pelo cérebro, o que leva à deficiência visual cortical (encefalopatias, alterações de
sistema nervoso central ou convulsões) (BRASIL, 2006).
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III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor
que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que
significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor
correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual
em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de
quaisquer das condições anteriores.
É importante destacar que essa definição não se constitui como uma tipificação
visual única. Dependendo das circunstâncias em que se encontram os sujeitos, a maneira
como cada pessoa enxerga pode variar (BRASIL, 2006).
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Do ponto de vista clínico, a pessoa surda é aquela cuja audição não é funcional
para todos os sons e ruídos ambientais da vida, apresentando altos graus de perda
auditiva, o que pode limitar a aquisição da linguagem oral e escrita (BISOL; SPERB,
2010).
De acordo com o Decreto 5.626, de 22 de fevereiro de 2005,
Art. 2º – Considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva,
compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais,
manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de
Sinais– Libras.
Parágrafo único: Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral,parcial
ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiogramanas
frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz (BRASIL, 2005).
30
Figura 1 – Cadeia ossicular
Fonte: ttps://mundoeducacao.uol.com.br
É necessário saber quais são os fatores etiológicos que originam a perda auditiva.
Isso porque existem diferentes classificações para cada tipo de perda auditiva, essas
perdas são identificadas por escalas em decibéis (dB). Essas informações são
necessárias, pois é por meio delas que o professor irá desenvolver estratégias de ensino
para esses sujeitos.
Identificar se o aluno é surdo ou tem alguma deficiência auditiva é fundamental,
isso porque todas as discussões voltadas para o seu processo de inclusão no ensino
31
regular serão determinadas por esse fator. Além disso, as práticas pedagógicas voltadas
para o ensino de pessoas com deficiência auditiva dependem das suas especificidades
linguísticas e comunicacionais. O volume ou intensidade dos sons é medido por
unidades chamadas decibéis.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2014), a deficiência auditiva
em adultos pode ser classificada conforme se apresenta no Quadro 1 a seguir.
32
5.4. Deficiência da surdocegueira
Fonte: https://br.freepik.com/
33
A pesquisa Bosco, Mesquita e Maia (2010) expõe que essa deficiência pode ser
congênita ou adquirida dependendo da idade que o indivíduo se torna surdo. Os autores
explicam os 4 tipos de causas da surdocegueira, a saber:
34
toxoplasmose, causas genéticas ou síndromes como síndrome de Goldenhar, síndrome
de Charge ou problemas pré-natais como a prematuridade, baixo peso ou trauma. Nos
casos da surdocegueira adquirida as causas podem ser acidentais, relacionadas ao
envelhecimento ou síndrome genética como a Síndrome de Usher.
Fonte: https://br.freepik.com/
35
necessidades educativas especiais específicas apresentadas por alunos com
deficiência auditiva e visual, indicando possíveis intervenções pedagógicas no âmbito
do atendimento educacional especializado.
Segundo Gil (2000), desde a tenra infância, aprendemos a lidar com as mais
diversas situações apenas por meio da observação. A criança que nasce cega
necessitará que as atividades que fazem parte do seu cotidiano lhe sejam ensinadas,
jáque não dispõe do recurso da visão para aprender pela observação. As atividades da
vida diária são uma área da educação especial voltada ao desenvolvimento de
competências relacionadas à autonomia na resolução de problemas cotidianos. São
procedimentos que fazem parte do nosso dia a dia, mas aos quais não damos muita
atenção, em função da facilidade que temos em realizá-los. Contudo, a pessoa cega
necessita de treinamento para executá-los com autonomia e independência.
Para Gil (2000), o desenvolvimento de um programa de AVD não se limita ao
objetivo de conquistar maior independência do deficiente visual, mas contribui também
para a sua autoconfiança e para que a sociedade possa enxergar as suas
potencialidadese capacidades, tendo em vista a sua participação social ativa.
A deficiência visual pode limitar a experiência da criança com o mundo. Por isso,
é importante que sejam oferecidas a ela oportunidades para desenvolver e aprimorar a
utilização dos sentidos remanescentes, assim como as habilidades que favoreçam a
suainclusão social e educacional. Isso se torna possível a partir da sua participação em
programas de atendimento educacional especializado e mediante as adequações de
acesso ao currículo escolar.
De acordo com o documento Saberes e Práticas da Inclusão (BRASIL, 2006),
os programas de atendimento especializado para deficientes visuais envolvem as áreas
de atividades da vida diária (AVD), orientação e mobilidade, e o ensino de Braille.
36
6.2. Orientação e mobilidade
Conforme apontado por Sá, Campos e Silva (2007), a leitura e escrita do aluno
cego têm como recurso o sistema Braille, que é um código universal de leitura tátil
inventado na França, em 1825. O Braille consiste na combinação de seis pontos
37
em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. As diferentes disposições desses
seispontos permitem a formação de 63 combinações ou símbolo Braille. Os símbolos
formados pelo Braille representam não só as letras do alfabeto, mas também os sinais
depontuação, números e notas musicais, permitindo ao cego uma comunicação ampla.
Ao contrário da leitura e escrita dos videntes, as pessoas cegas que utilizam o
Braille, leem com as pontas dos dedos, deslizando-os sobre os pontos em relevo. No
Braille, o aluno cego pode ler apenas um símbolo de cada vez, tornando a leitura mais
lenta.
Para Ochaíta e Espinosa (2004), o ensino do Braille deve ser priorizado como
forma de comunicação escrita para crianças cegas, devendo-se utilizar o sistema em
tinta para os casos de baixa visão, sempre que possível, já que existem tecnologias
assistivas,como lupas e computadores com ampliação de tela.
Além disso, segundo Ochaíta e Espinosa (2004, p. 164), a utilização desse
sistema:
38
aluno na localizaçãode ambientes; colocação de corrimões nas escadas.
No que se refere às adequações de acesso ao currículo escolar, o documento
Saberes e Práticas da Inclusão (2006) define algumas ações para a inclusão de alunos
cegos e com baixa visão. É importante que o professor familiarize o aluno com o espaço
da sala de aula, apoiando-o na locomoção e tomando cuidado para que a mobília não
seja alterada, a fim de que o aluno não seja surpreendido com modificações que possam
provocar acidentes.
Para a aprendizagem da matemática, além dos recursos em relevo que o
professor pode utilizar para a confecção de gráficos e elementos algébricos, um recurso
bastante utilizado por alunos cegos é o Soroban, um aparelho de cálculo adaptado,
quepermite a realização de operações matemáticas (adição, subtração, multiplicação,
divisão, radiciação, potenciação).
De acordo com Sá, Campos e Silva (2007), os desenhos, gráficos e mapas
devem ser adaptados e representados em relevo. Também são relevantes para a
inclusão do aluno cego o uso de alfabeto de madeira, lixa ou pano, bola de guizo (para
aulas de educação física), globo em relevo, gravador, mapa de madeira, miniaturas,
computador com sintetizador de voz, prancha, reglete e punção.
Conforme os supracitados autores, é importante que as atividades
predominantemente visuais sejam adaptadas com antecedência. Isso pode ser feito
com o apoio do professor que atua no atendimento educacional especializado. Outras
atividades requerem adaptação durante a sua realização, como o uso de áudio
descrição durante a exibição de filmes e outras informações que possam auxiliar o aluno
a identificar o contexto, seja na sala de aula ou em atividades externas, como excursões
e exposições. É recomendável apresentar um resumo ou contextualizar a atividade
programada para esses alunos.
O professor do aluno cego deve providenciar adequações de acesso ao
currículo da sala de aula, fornecendo recursos materiais e adaptando a avaliação
quanto ao instrumento utilizado, com a transcrição de provas para o Braille, provas
ditadas ou gravadas, avaliações orais. Além disso, deve ampliar o tempo de realização
da avaliação,para que o aluno não fique em desvantagem com relação aos demais,
39
entregar com antecedência para o aluno o material de leitura que será transcrito para
o Braille ou gravado. Para alunos que já enxergaram, é importante que se considere a
bagagem de informações visuais, a fim de desencadear novas associações que
favoreçam a compreensão.
Ainda segundo Sá, Campos e Silva (2007), a área da informática tem oferecido
recursos valiosos para a inclusão do deficiente visual, os quais facilitam muito o acesso
à informação e a comunicação com esses alunos. Alguns exemplos são os softwares
sintetizadores de voz, que leem o que está escrito na tela do computador para o aluno,
os teclados em Braille, os softwares que ampliam o tamanho das letras ou o próprio
textopara as pessoas com visão subnormal.
40
da sua língua natural: a língua de sinais. A autora defende que a educação bilíngue é
a que melhor corresponde às necessidades educacionais do aluno com surdez, pois
respeita a língua natural e permite construir um ambiente propício para a educação
especial na perspectiva da inclusão escolar.
A língua de sinais é uma forma de comunicação que se dá exclusivamente por
meio de sinais gestuais. É um sistema linguístico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical própria, mas que não é universal. Cada país possui a sua própria
língua de sinais, que varia regionalmente, conforme a cultura.
A língua brasileira de sinais (Libras) é reconhecida como uma língua oficial na
Lei nº. 10.436/2002. O direito à comunicação por Libras bem como aos recursos que
sirvam de suporte para essa comunicação são definidos no Decreto nº. 5.626/2005 que
preconiza a oferta obrigatória do ensino da Libras e da línguaportuguesa como segunda
língua para os surdos, desde a educação infantil, e prevê queos sistemas educacionais
devem contar com:
41
Alguns dos argumentos apresentados por Quadros (2008) são os seguintes:
42
língua, visando favorecer a sua aprendizagem, especialmente no que se refere
ao conhecimento e à aquisição de termos científicos. Esse trabalhado deve ser
realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo), de acordo
com o estágio de desenvolvimento da língua de sinais em que o aluno se encontra.
Atendimento educacional especializado para o ensino da língua
portuguesa: é o momento em que são trabalhadas as especificidades da língua
portuguesa para os alunos surdos. Deve ser um trabalho diário junto ao aluno, realizado
por um professor de língua portuguesa, graduado nessa área, preferencialmente.
A criança com audição normal aprende a ler decodificando o sistema de
símbolos da palavra, pela associação desses símbolos aos conceitos linguísticos já
adquiridos pormeio da fala. Na criança surda, essa base linguística é ausente; portanto,
o aprendizadoda língua portuguesa tende a ocorrer com maior dificuldade e em maior
tempo do que para as crianças ouvintes. Ela necessitará de condições especiais para
aprender essa língua, que não é natural para ela.
A escrita de crianças surdas tem sido caracterizada na literatura como
deficiente,quando comparada com a de crianças ouvintes. Observam-se dificuldades
em relação àflexão e à concordância entre os elementos da frase, e faltam elementos de
ligação, como preposições e conjunções. Além disso, os vocabulários não são
ordenados conforme determina a gramática.
Quanto à alfabetização da criança surda, a Libras é a sua primeira língua. Por
isso, para a alfabetização em língua portuguesa, é importante que a criança não oralizada
tenha se apropriado da língua de sinais, de modo que possa estabelecer uma
comunicação com o professor alfabetizador e associar os símbolos da escrita.
O professor que alfabetiza crianças surdas sinalizadas precisa se comunicar
comelas na língua de sinais, A alfabetização deve começar pela leitura: inicialmente o
professor deve provocar o interesse dos alunos por essa atividade, discutindo
previamente um assunto ou uma ilustração sobre ele. Deve primeiro apresentar o texto
ao aluno em termos gerais, discutindo sobre o que ele trata, e somente depois adentrar
os detalhes.
O professor pode listar palavras-chave e/ou listar um vocabulário, estimulando
oaluno a buscar o significado de algumas palavras do texto. Deve também disponibilizar
43
diferentes tipos de texto, que sejam adequados à faixa etária da criança surda. Na fase
da alfabetização, recomenda-se o uso de livros de histórias infantis e quadrinhos, pois
despertam o interesse da criança e favorecem o estabelecimento de relações entre as
palavras do texto e o contexto da história com o auxílio de ilustrações. Lembre-se de
que a criança surda não faz a associação entre os sons dos fonemas; porisso, precisará
memorizar visualmente a sequência das letras que formam uma palavra, associando-a
sequência a um objeto concreto.
A leitura é uma etapa que antecede a escrita. Assim, a criança precisa ser
exposta aos estímulos da escrita, interpretando diferentes textos, conforme suas
possibilidades e aquisições.
De acordo com Quadros (2008), a apropriação da leitura- escrita pela criança
surda passa pelos seguintes níveis:
1. Concreto – sinal: a criança deve ler o sinal que refere coisas concretas,
diretamente relacionadas com a criança. Exemplo: Existe um sinal (gesto) para árvore,
então a professora apresenta o sinal para a criança.
2. Desenho – sinal: a criança deve ler o sinal associado com o desenho que
pode representar o objeto em si ou a forma da ação representada por meio do sinal.
Exemplo: o professor apresenta o sinal árvore e o associa à figura de uma árvore.
3. Desenho – palavra escrita: a criança lê a palavra representada por meio do
desenho, relacionada com o objeto em si ou a forma da ação representada por meio do
desenho na palavra. Exemplo: apresentar a forma escrita da palavra “árvore”,
associando-a à figura da árvore.
44
Essas etapas compõem o processo de construção da alfabetização pela criança.
Observe que a criança surda precisa realizar diversas associações, até que sejam
internalizados os signos da escrita. Na fase inicial da alfabetização, o professor não deve
exigir da criança surda que realize uma escrita estruturada. O mais importante é que a
criança possa se expressar. À medida que ela vai se tornando mais segura, o professor
pode introduzir outros níveis de exigência para o desenvolvimento de um texto mais
elaborado (QUADROS, 2008).
7 DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
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45
privada de visão ou audição. Além disso, o modo como essa restrição opera sobre o
seu desenvolvimento depende de alguns fatores desenvolvimentais, educacionais
esocioemocionais, os quais serão abordados a seguir.
46
Básica, na modalidade Educação Especial — define, em seu artigo 4º, quem são os
alunos a quemse destina o atendimento educacional especializado:
47
É importante destacar que a partir da Nota Técnica nº 04/2014 - MEC/
SECADI/DPEE cai a obrigatoriedade da exigência de um laudo médico para incluir os
alunos com deficiência ou dificuldades no Atendimento Educacional Especializado -
AEE.Nesse sentido, muitos alunos com diversas dificuldades de aprendizagem têm a
garantiade ingresso no AEE, mesmo não tendo nenhuma deficiência diagnosticada.
(CHEQUÍM,2018).
A partir da compreensão do grupo de alunos que poderá frequentar o AEE, esse
serviço é organizado de forma complementar e/ou suplementar ao ensino regular — ou
seja, não substitui a escolarização. Portanto, o atendimento educacional especializado
caracteriza-se como um serviço pedagógico que opera na oferta de recursos de
acessibilidade que visam à participação e aprendizagem dos alunos público-alvo da
educação especial no ensino regular. O Decreto nº. 7.611/2011, no Art. 30, dispõe sobre
os objetivos do atendimento educacional especializado:
48
A orientação desse fragmento sublinha que o AEE deve ser realizado,
prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da escola em que o aluno com
deficiência, transtorno global do desenvolvimento ou altas habilidades/ superdotação
estámatriculado. Isso se justifica pela interlocução necessária entre o professor do AEE
e os professores do ensino comum, considerando que essa articulação beneficia o
processo de aprendizagem do aluno, uma vez que possibilita que o professor do AEE
acompanheativamente esse processo.
Desse modo, ele pode identificar os recursos pedagógicos e de acessibilidade
necessários para a promoção da aprendizagem e apoiar o professor do ensino comum
no gerenciamento das estratégias necessárias para apoiar a aprendizagem do aluno.
Ideais que caminham ao encontro das perspectivas inclusivas desenvolvem as suas
práticas no sentido de colocar-se à disposição do aluno que por muito tempo foi
considerado como um fracasso escolar (CHEQUÍM, 2018).
49
Na pedagogia escolar com alunos surdocegos, é relevante fazer adequação nos
métodos pedagógicos para desenvolver o ensino-aprendizagem desses estudantes.
Sendo assim, necessário usar materiais e fontes de referência, que anularam os sentidos
da visão e da audição. É preciso valorizar as diferentes técnicas, assim como outros
modos de comunicação e socialização na compreensão desses alunos.
Para Bosco, Mesquita e Maia (2010), os surdocegos demandam de um espaço
adaptado a eles, proporcionando a interação com objetos e pessoas, de modo a
preverem as atividades que se esperam fazer por meio de pistas.
O ambiente para indivíduos com surdocegueira, de acordo com Bosco, Mesquita
e Maia (2010), deve ser estruturado em prol da interação deles com os indivíduos e
objetos, isso ajudará na antecipação da atividade de mobilidade e orientação.
Sobre a educação escolar para surdocegos aborda, Ropoli (2010):
[...]hoje em dia, a escola, para melhor atender a todos tem de sofrer alterações,
pois a escola ainda não é completamente inclusiva. Diante desse trabalho
constatamos que as escolas poderão a partir de novas estratégias apropriadas a
perspectiva da inclusão, encontrar recursos para seus desafios. Tais mudanças
devem ser adotadas e decididas pelo grupo escolar. É imprescindível que os
professores e demais educadores escolares, compreendam e possam estar
organizados para a inclusão e para o desenvolvimento do aluno surdocego,
necessário também que uma pessoa possa estar intercedendo e apresentando
informações de maneira integral e coerente para escola a fim de tornar o
ambiente adequado e acessível ao aluno com surdocegueira (ROPOLI, 2010, p.
10).
50
atenção, pois a partir delas é possível implantar estratégias adequadas para cada aluno
tendo em consideração a estrutura física do local, iluminação, entre outros aspectos. Uma
estratégia usada é os objetos de referências, para Maia et al (2008) são objetos com
significados especiais, cujo dever é substituir a palavras e assim poder representar
pessoas, coisas, lugares, atividades ou conceitos a elas associados.
Em estudos Bosco, Mesquita e Maia (2010) afirma:
As caixas de antecipação devem ser utilizadas com crianças que ainda não têm
nenhum sistema formal de comunicação. Ela permite conhecer os primeiros
objetos de referência que anteciparão as atividades e o conhecimento das
primeiras palavras (BOSCO, MESQUITA E MAIA, 2010, p. 16).
51
estarreduzido, pela restrição de experiências que, adequadas às suas necessidades
de maturação, sejam capazes de minimizar os prejuízos decorrentes do distúrbio visual
(BRASIL, 2006).
O impacto da deficiência visual sobre o desenvolvimento do indivíduo depende
de vários fatores que, de acordo o documento Saberes e Práticas de Inclusão (BRASIL,
2006), devem ser observados pelos educadores, a fim de promover intervenções
pedagógicas mais adequadas. Eles serão analisados a seguir.
52
A capacidade de aceitação da deficiência depende, em grande parte, da estrutura
emocional, bem como das condições oferecidas pelo meiosocial e familiar, em especial
quando a perda da visão ocorre de forma súbita.
53
Um fator de influência sobre o modo como ocorrerá o desenvolvimento da
criança surda destacado por Marchesi (2004) é a idade em que se produziu a perda
auditiva, queo autor diferenciou em dois tempos: antes dos três anos e depois dos três
anos de idade.O primeiro caso denomina-se surdez pré-locutiva, pois a surdez ocorre
antes que a criança tenha consolidado a fala; o segundo denomina-se surdez pós-
locutiva, pois ocorre posterior à consolidação do desenvolvimento da fala. Com isso,
as estratégias educativas devem levar esses dois fatores em consideração.
Segundo o autor, pesquisas indicam que as crianças que se tornam surdas
antes da consolidação da linguagem oral não conseguiram consolidar, organizar
neurologicamente e internalizar a fala. Já as crianças que perderam a audição depois
possuem melhores condições de aprimorar a competência linguística verbal, se forem
estimuladas a isso. Cabe ressaltar, no entanto, que a oralização como método de
comunicação para surdos não é um consenso entre os autores, como você verá mais
adiante.
Os fatores ambientais também são destacados por Marchesi (2004) como
capazes de influenciar o desenvolvimento de crianças surdas, como a atitude dos pais
diante da surdez, a sua aceitação e busca de uma forma legítima de comunicação, que
possibilite à criança interagir plenamente com o seu meio social, bem como a
possibilidade de estimulação sensorial e a utilização da linguagem de sinais. O autor
destaca ainda que crianças filhas de pais surdos tendem a ser mais bem-estimuladas
emtermos comunicacionais do que as que nascem de pais ouvintes.
Alguns estudos sobre o desenvolvimento da linguagem em crianças surdas
indicam, segundo o autor, que a progressão da linguagem ocorre de maneira
semelhanteà dos ouvintes: as crianças surdas escolhem inicialmente um membro de
uma classe para representar a classe em seu conjunto. Por exemplo, criam um sinal
ou um gesto para a classe “animal”, que pode representar qualquer animal (cachorro,
gato, leão, etc.) e, aos poucos, vão refinando a sua comunicação, como ocorre com as
crianças ouvintes.
Marchesi (2004) ressalta que a competência cognitiva dos surdos também é
semelhante à dos ouvintes, pois passam pelas mesmas etapas do desenvolvimento,
54
podendo ocorrer uma evolução um pouco mais lenta devido às deficiências
experimentais/comunicacionais que o surdo vive. Então, em se tratando da educação
de crianças surdas, o desenvolvimento comunicativo e linguístico é um elemento
decisivo àsua inserção social e cultural, influenciando também na sua aprendizagem.
8 PRÁTICAS EDUCACIONAIS
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55
indivíduos. Tem-se uma exigência curricular inflexível que não contempla as diferenças
individuais e, segundo Aranha (2003, p. 33):
[...] a escola para todos requer uma dinamicidade curricular que permita ajustar
o fazer pedagógico as necessidades dos alunos. Ver as necessidades
especiais dos alunos atendidas no âmbito da escola regular requer que os
sistemas educacionais modifiquem, não apenas as suas atitudes e
expectativas em relação a esses alunos, mas, também, que se organizem para
constituir uma realescola para todos, que dá conta dessas especificidades.
A rede de apoio que busca a plena inclusão interage de forma a desenvolver uma
prática inclusiva em diferentes níveis. Dessa forma, as redes de apoio se constituem
entre os educadores e os especialistas, entre os educadores e as famílias, entre os
educadores e os educandos, entre as famílias e a comunidade, entre os próprios
educandos. Além disso, essas redes também se constroem por meio da aprendizagem
compartilhada entre as instituições de ensino e asinstâncias governamentais, buscando
56
garantir que o processo de inclusão se dê de maneira efetiva (STAINBACK;
STAINBACK, 1999).
Como referido por Stainback e Stainback (1999), as articulações entre os
diferentes agentes facilitadores deverão resultar em um trabalho sistemático e
conjunto,com o objetivo de atender às necessidades específicas de cada educando.
Devem estarenvolvidos nesse processo desde pessoas físicas, educadores, famílias,
educandos, atéinstituições de ensino, representadas por sua gestão e coordenação,
bem como instâncias governamentais, representadas pelos órgãos reguladores e
mantenedores, como as Secretarias de Educação.
Dessa maneira, um ambiente que proporcione a participação de todos é um
fator que contribui para a construção de redes de apoio, possibilitando assim vias
efetivas de comunicação, que colaboram para uma gestão democrática da educação
e, consequentemente, para a efetividade de uma educação inclusiva (BELLONI, 2001).
Historicamente, a formação de profissionais especializados em educação
inclusiva tinha como enfoque a chamada educação especial, a qual estava voltada
apenas ao ensino das pessoas com deficiência — organizado, portanto, a partir de uma
vertente médica pedagógica (JANNUZZI, 2004). Esse fato acabava por negligenciar os
aspectos mais específicos dos educandos e não permitia que profissional
desenvolvesse um olhar mais inclusivo sobre os sujeitos, os quais precisavam ser
compreendidos também a partir de seus aspectos contextuais.
Conforme Mendes (2006), a formação do profissional para a educação
inclusivapreferencialmente deve se expandir para além do aprendizado específico do
educando e considerar o sujeito em desenvolvimento de suas capacidades e
potencialidades educacionais. A proposta da educação inclusiva diz respeito a todos
aqueles tradicionalmente excluídos. Dessa forma, a educação inclusiva, além de incluir
pessoas com deficiência, também deve incluir as minorias: pobres, negros, indígenas,
imigrantes, pessoas expostas à vulnerabilidade social, em conflito com a lei, em
situação de rua, entre outros.
Para isso, os educadores, orientadores e coordenadores educacionais, como
profissionais diretamente envolvidos no processo da educação inclusiva, buscam
57
manifestar com as suas práticas uma flexibilização, uma escuta empática, um olhar
atento e aberto às mudanças e adaptações necessárias no ensino, sob a perspectiva
dainclusão. Por serem os profissionais mais diretamente ligados à educação inclusiva,
elesbuscam priorizar a interação e a cooperação nas suas práticas cotidianas em sala
de aula, oportunizando equidade no desenvolvimento (SEKKEL, 2003).
O papel do educador é imprescindível para a efetivação de uma educação
legitimamente inclusiva, pois a sua atuação rompe as barreiras do compartilhamento
deconhecimentos e se expande sobre a maneira como manifesta o seu ensino e a sua
relação com o saber. Munido de suas técnicas, mas não se restringindo a elas, ele se
engaja e se torna cúmplice no processo de aprendizagem do aluno, sempre por meio
deprincípios éticos (CAMARGO, 2017).
Uma educação inclusiva e de qualidade coloca forte ênfase na efetivação de
uma aprendizagem cooperativa, por meio de um ensino colaborativo, em meio à
interação, tanto em atividades cotidianas, no espaço físico, quanto entre os educandos,
educadores e entre eles, e a equipe gestora da instituição. Assim, Sekkel (2003)
destaca como atitudes favoráveis dos educadores disponibilidade, persistência,
confiança em seu trabalho e presença para atuar no manejo das diversidades — ainda
que tais atitudes não devam ser encaradas como atos assistencialistas, considerando
o desenvolvimentopleno de suas habilidades para ensinar todos os educandos.
58
a atuação participativa, avalorização da educação e a consequente conscientização
para a formação integral dossujeitos. Nesse sentido, os desafios das escolas brasileiras
para se adequarem às exigências da inclusão escolar no Brasil podem ser vistos sob
as lentes da cidadania constituída por meio das relações sociais e, portanto,
compreendida de acordo com os sujeitos que dela participam, com as suas
características e especificidades.
Em essência, a inclusão será delineada com esforço tenaz e enérgico para
atravessar o que está previamente instituído e precisa ser ajustado: o olhar sobre as
diferenças e diversidades. É necessário para isso que as instituições educacionais, os
educadores, gestores e especialistas se engajem também nas medidas necessárias
para a efetivação da educação inclusiva, com vontade e coragem para mudar a
realidade (SAVIANI, 2017).
As diretrizes, os planos e as metas estão postas há décadas. Os direitos das
pessoas com deficiência estão em diversos artigos da Constituição Federal brasileira.
Existem inúmeros esforços e construções para a instrumentalização e constante
formação dos educadores e gestores para a consolidação da educação inclusiva. No
entanto, apesar do desenvolvimento de um olhar sobre os direitoshumanos e de um
conceito de cidadania fundamentado no reconhecimento das diferenças e na
participação dos sujeitos, existe na sociedade certa identificação com mecanismos e
processos de hierarquização e diferenciação em relação a padrões ideaisde atuação e
funcionamento dos sujeitos, operando para a regulação e consequente reprodução de
desigualdades (MOREIRA, 2016).
Nesse sentido, a escola e os ambientes educacionais e formativos
preferencialmente devem possibilitar espaço para a problematização dos processos
normativos de distinção dos sujeitos. Esses espaços podem atuar como
esclarecedores das diferenças como potencialidades, permitindo o conhecimento da
diversidade de características intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre
outras, como criadoras de rupturas dos modelos padronizados e como possíveis pontes
para aampliação da diversidade, respeitando a igualdade e equidade.
Como um caminho para a adequação às exigências da inclusão escolar no
59
Brasil,a formação dos educadores e gestores deve se manter adequada e atualizada,
com efeitos de motivação e no sentido de atuar cooperativamente com toda a
comunidade escolar. A aprendizagem cooperativa pode se apresentar como uma
metodologia capaz de proporcionar a interdependência e a reciprocidade. Ao mesmo
tempo, pode se configurar como uma possibilidade de os educandos aprenderem e
experienciarem os valores da cidadania democrática desde a mais tenra idade e
de maneira sistemática, de forma que absorvam o respeito às diferenças e a
diversidade nos modos de ser e existir.
A flexibilização das atividades e do currículo é outro quesito significativo que
constitui possibilidades educacionais de atuar em conformidade com as necessidades
específicas de aprendizagem dos educandos. O envolvimento de todos — educadores,
gestores, família, comunidade — para dar voz aos educandos, escutar as suas
necessidades e percepções sobre o processo educacional é um processo que atua
como ação política. Por meio dessa ação, estimulam-se a criação e ofortalecimento de
práticas para a visibilidade das pessoas com necessidades educacionais especiais,
bem como para a garantia de seus direitos e melhoria na qualidade de vida (MOREIRA,
2016).
61
contribuem para a boa qualidade das relações no ambiente escolar, fomentando o
desenvolvimento de laços éticos, de confiança e de colaboração (STAINBACK;
STAINBACK,1999).
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
ASSIS, O. Q.; POZZOLI, L. Pessoa com deficiência: direitos e garantias. 2. ed. São
Paulo: Damásio de Jesus, 2005.
BISOL, C.; SPERB, T.M. Discursos sobre a surdez: deficiência, diferença, singularidade
e construção de sentido. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. 1,jan./mar.
2010.
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doAdolescente e dá outras providências. 1990.
63
MEC/ SEESP, 1994.
BRASIL. Lei nº. 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação
e dá outras providências. 2001.
BRASIL. Lei nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais
– LIBRAS e dá outras providências. 2002.
BRASIL. Lei nº. 13.146, de 6 de julho de 2015. Dispõe sobre a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência. 2015.
65
DAMÁZIO, M. F. M. Atendimento educacional especializado: pessoa com surdez. São
Paulo: MEC/SEESP, 2007.
DINIZ, Maria Helena. Direito de família. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
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