Nesta apostila relembraremos o que é Concordância e como
ela funciona dentro da nossa língua, a língua Portuguesa; para que você entenda melhor este assunto, primeiramente, responda-me algumas perguntas...
1) É comum haver um poste no meio da rua?
2) É comum um ônibus andando sobre a calçada?
Certamente você respondeu “NÃO” para todas essas
perguntas feitas, não é mesmo? Por que essas situações colocadas não são comuns?
Porque, para que exista uma harmonia no mundo, é
necessário que as coisas estejam na ordem que elas foram pensadas para funcionarem. Ou seja, um poste precisa estar na calçada para ser útil no propósito para o qual ele foi criado, bem como um ônibus precisa estar na rua para cumprir seu propósito também. Dessa maneira, tem-se uma harmonia na rua.
Quando falamos de CORCORDÂNCIA, devemos pensar
nessas duas palavras-chaves em destaque acima – ordem e harmonia, pois é justamente essa a questão. Na língua Portuguesa, existe uma ordem ideal para a construção de uma frase e para que ela faça sentido, é necessário que ela esteja em harmonia. Para que isso aconteça, o usuário da língua precisa concordar os termos usados por ele. Caso isso não aconteça, ou seja, a frase esteja desarmoniosa, tem-se, então, um problema de concordância.
Para seguir adiante com este estudo, vamos tomar como base o segundo capítulo do livro “Ponciá Vicêncio”, de Conceição Evaristo.
Então vejamos abaixo!
TEXTO-BASE
O primeiro homem que Ponciá conhecera fora o avô.
Guardava mais à imagem dele do que a do próprio pai. Vô Vicêncio era muito velho. Andava encurvadinho com o rosto quase no chão. Era miudinho como um graveto. Ela era menina, de colo ainda, quando ele morreu, mas se lembrava nitidamente de um detalhe: em Vô Vicêncio faltava uma das mãos e vivia escondendo o braço mutilado pra trás. Ele chorava e ria muito. Chorava feito criança. Falava sozinho também. O pouco tempo em que conviveu com o avô, bastou para que ela guardasse as marcas dele. Ela reteve na memória os choros misturados aos risos, o bracinho cotoco e as palavras não inteligíveis de Vô Vicêncio. Um dia ele teve uma crise de choro e riso tão profunda, tão feliz, tão amarga e desse jeito se adentrou pelo outro mundo. Ela, menina de colo, viu e sentiu o odor das velas acesas durante toda a noite. Viu o braço inteiro do velho sobre o peito, Viu o bracinho cotoco dele. Sentiu o cheiro de biscoito frito, de café fresco dado para as mulheres e as crianças que estavam fazendo quarto ao defunto. Sentiu também o cheiro de pinga que exalava da garrafinha e da boca dos homens sentados lá fora com o chapéu no colo. Ponciá Vicêncio, mesmo menina de colo ainda, nunca esqueceu o derradeiro choro e riso do avô. Nunca esqueceu que, naquela noite, ela, que pouco via o pai, pois ele trabalhava lá na terras dos brancos, escutou quando ele disse para a mãe que Vó Vicêncio deixava uma herança para a menina. No dia em que Ponciá Vicêncio desceu do colo da mãe e começou a andar, causou uma grande surpresa. Ela, até então se recusava a assentar-se, e engatinhas, ela nunca o fizera. Um dia, a mãe com ela nos braços estava de pé junto do fogão a lenha, olhando a dança do fogo sob a panela fervente, quando a menina veio escorregando mole. Veio forçando a descida pelo colo da mãe e pondo-se de pé, começou as andanças. Surpresa maior não foi pelo fato de a menina ter andado tão repentinamente, mas pelo modo. Andava com um dos braços escondido às costas e tinha a mãozinha fechada como se fosse cotó. Fazia quase um ano que Vô Vicêncio tinha morrido. Todos deram de perguntar por que ela andava assim. Quando o avô morreu, a menina era tão pequena! Como agora imitava o avô? Todos se assustavam. A mãe e a madrinha benziam-se quando olhavam para Ponciá Vicêncio. Só o pai aceitava. Só ele não espantou ao ver O braço quase cotó da menina. Só ele tomou como natural a parecença dela com o pai dele. Primeira análise - gênero
linhas 2-3: “Vô Vicêncio era muito velho.”
Veja: • Sujeito da frase: Vô Vicêncio • Predicado da frase: era muito velho • Forma verbal: era
Na sua visão, essa frase está harmoniosa? Ela faz sentido?
Possivelmente você respondeu “SIM” a essas perguntas,
certo? Por que?
Porque seguindo-se a ordem natural que você aprendeu em
sua formação escolar até aqui, essa frase possui uma concordância plena.
Perceba que, “Vô Vicêncio” é um substantivo masculino, pois
para se referir a ele, utilizamos o artigo definido masculino “o”, correto?
Logo, se “Vô Vicêncio” é uma palavra no gênero masculino, é
correto (ou seja, é harmonioso) que o adjetivo atribuído a ele também esteja no gênero...? Masculino!
Esse é um dos motivos que faz a frase analisada estar
harmoniosa, correta; isso acontece porque os termos empregados no predicado, estão em concordância com o sujeito!
Vamos para uma segunda análise dessa mesma frase!
Segunda análise - número
linhas 2-3: “Vô Vicêncio era muito velho.”
Veja: • Sujeito da frase: Vô Vicêncio • Predicado da frase: era muito velho • Forma verbal: era
Perceba que, “Vô Vicêncio” é um substantivo singular, pois
refere-se apenas a uma pessoa, correto?
Em seguida, na construção da frase, temos o verbo “ser”
conjugado na 3ª pessoa do singular, assumindo a forma verbal “era”.
Na sua visão, essa sentença, “Vô Vicêncio era”, está
harmoniosa? Ela faz sentido?
Possivelmente você respondeu “SIM” a essas perguntas,
certo? Por que?
Porque seguindo-se a ordem natural que você aprendeu em
sua formação escolar até aqui, essa frase possui uma concordância plena.
Se “Vô Vicêncio” é uma palavra no singular, o estado ou ação
dele também precisa estar no...? Singular!
Esse é um o outro motivo que faz a frase analisada estar
harmoniosa, correta; isso acontece porque os termos empregados no predicado, estão em concordância com o sujeito!