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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE ARTES E LETRAS | CURSO DE LETRAS LICENCIATURA


DISCIPLINA: PRAGMÁTICA DO PORTUGUÊS | PROFESSORA: CRISTIANE FUZER

CONTEXTO, ENUNCIADO, ENUNCIAÇÃO, REFERÊNCIA E DÊIXIS

Exercícios
Questão 1 – Analise o contexto linguístico (cotexto) da palavra ESCOLA nos textos a seguir e
identifique o seu significado em cada uso.

“A minha alegria de viver, que me


marca até hoje, se transferia de
casa para a escola, ainda que cada
uma tivesse suas características
especiais.” 
(Paulo Freire)
Questão 2 – Leia os textos a seguir e identifique as variáveis do contexto (contexto
sociocognitivo).

TEXTO 1
JC Online presta mais uma homenagem aos professores, em especial, àqueles que dedicaram suas vidas
à educação infantil, pré-escola ou jardim de infância. Segue abaixo, na íntegra, texto escrito pelo educador
Paulo Freire e publicado na Revista Nova Escola Nº 81.

Que saudade da minha professorinha

1 Eu já sabia ler e escrever quando cheguei à escolinha particular de Eunice, aos 6 anos. Era,
2 portanto, a década de 20. Eu havia sido alfabetizado em casa, por minha mãe e meu pai, durante
3 uma infância marcada por dificuldades financeiras, mas também por muita harmonia familiar. Minha
4 alfabetização não me foi nada enfadonha, porque partiu de palavras e frases ligadas a minha
5 experiência, escritas com gravetos no chão de terra do quintal.
6 Não houve ruptura alguma entre o novo mundo que era a escolinha de Eunice e o mundo
7 das minhas primeiras experiências – o de minha velha casa do Recife, onde nasci com suas salas,
8 seu terraço, seu quintal cheio de árvores frondosas. A minha alegria de viver, que me marca até
9 hoje, se transferia de casa para a escola, ainda que cada uma tivesse suas características especiais.
10 Isso porque a escola de Eunice não, me amedrontava, não tolhia minha curiosidade.
11 Quando Eunice me ensinou era uma meninota, uma jovenzinha de seus 16, 17 anos. Sem
12 que eu ainda percebesse, ela me fez o primeiro chamamento com relação a uma indiscutível
13 amorosidade que eu tenho hoje, e desde há muito tempo, pelos problemas da linguagem e
14 particularmente os da linguagem brasileira, a chamada língua portuguesa no Brasil. Ela com certeza
15 não me disse, mas é como se tivesse dito a mim, ainda criança pequena: "Paulo, repara bem como é
16 bonita a maneira que a gente tem de falar!..." É como se ela me tivesse chamado.
17 Eu me entregava com prazer à tarefa de \"formar sentenças\". Era assim que ela costumava
18 dizer. Eunice me pedia que colocasse numa folha de papel tantas palavras quantas eu conhecesse.
19 Eu ia dando forma às sentenças com essas palavras que eu escolhia e escrevia. Então, Eunice
20 debatia comigo o sentido, a significação de cada uma.
21 Fui criando naturalmente uma intimidade e um gosto com as ocorrências da língua - os
22 verbos, seus modos, seus tempos... A professorinha só intervinha quando eu me via em dificuldade,
23 mas nunca teve a preocupação de me fazer decorar regras gramaticais.
24 Mais tarde ficamos amigos. Mantive um contato próximo com ela, sua família, sua irmã
25 Débora, até o golpe de 1964. Eu fui para o exílio e, de lá, me correspondia com Eunice. Tenho
26 impressão de que durante dois anos ou três mandei cartas para ela. Eunice ficava muito contente.
27 Não se casou. Talvez isso tenha alguma relação com a abnegação, a amorosidade que a
28 gente tem pela docência. E talvez ela tenha agido um pouco como eu: ao fazer a docência o meio da
29 minha vida, eu termino transformando a docência no fim da minha vida.
30 Eunice foi professora do Estado, se aposentou, levou uma vida bem normal. Depois morreu, em
31 1977, eu ainda no exílio. Hoje, a presença dela são saudades, são lembranças vivas. Me faz até
32 lembrar daquela música antiga, do Ataulfo Alves: "Ai, que saudade da professorinha, que me ensinou
33 o bê-a-bá".

FREIRE, Paulo. Que saudade da minha professorinha. Revista Nova Escola, n. 81. Publicado em 15/10/2010,
às 10h38 | Atualizado em 30/07/2014, às 12h35. Disponível em:
http://ne10.uol.com.br/canal/educacao/noticia/2010/10/15/que-saudade-da-minha-professorinha-por-paulo-freire-
240103.php. Acesso em: 20 ago. 2018.
TEXTO 2
Meus Tempos de Criança
Ataulfo Alves

Eu daria tudo que eu tivesse Que saudade da professorinha


Pra voltar aos dias de criança Que me ensinou o beabá
Eu não sei pra que que a gente cresce Onde andará Mariazinha
Se não sai da gente essa lembrança Meu primeiro amor, onde andará?

Aos domingos, missa na matriz Eu igual a toda meninada


Da cidadezinha onde eu nasci Quanta travessura que eu fazia
Ai, meu Deus, eu era tão feliz Jogo de botões sobre a calçada
No meu pequenino Miraí Eu era feliz e não sabia

ALVES, Ataulfo. Composição samba, 1956. Disponível em: https://www.letras.mus.br/ataulfo-alves/84080/.


Acesso em: 20 ago. 2018.

TEXTO 3

BECK, Alexandre. Armandinho. Publicado em 30 abr. 2015. Disponível em:


https://www.facebook.com/tirasarmandinho/?ref=br_rs. Acesso em: 01 maio 2016.

TEXTO 4

Mais de 200 ficam feridos após ação da PM em manifestação de professores em Curitiba


Servidores protestavam contra votação do projeto de lei que altera previdência
29/04/2015 - 16h33min | Atualizada em 03/05/2015 - 21h42min

Professores em greve e policiais militares entraram em confronto em Curitiba. A confusão


começou por volta das 15h desta quarta-feira, no Centro Cívico, em frente à Assembleia
Legislativa, quando os deputados estaduais deram início à sessão para votar um projeto de lei
(PL) que altera a previdência estadual. São mais de 200 feridos, alguns com gravidade.
Os professores, que estão acampados desde segunda-feira no local, teriam tentado romper
o perímetro de segurança que a Polícia Militar (PM) traçou em torno da Assembleia Legislativa. A
PM reagiu com bombas de gás, balas de borracha e jatos de água. Os manifestantes recuaram,
mas os policiais continuaram jogando bombas de efeito moral.
ZERO HORA, 29 abr. 2015. Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/04/mais-de-200-
ficam-feridos-apos-acao-da-pm-em-manifestacao-de-professores-em-curitiba-4750212.html. Acesso em: 01 maio
2016.
Questão 3 – Releia o Texto 3 e assinale V na(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F na(s) falsa(s) com
relação à enunciação, referência e dêixis.
( ) Na tira, há quatro enunciados, dois quais dois estão na voz do menino e outros dois na voz de
um adulto.
( ) No primeiro quadro, o referente de “isso” não está expresso na sentença e depende de
informações contextuais.
( ) No segundo quadro, “alguns” é elemento anafórico por retomar “professores”.
( ) No terceiro quadro, “eles” é um elemento dêitico, por apontar pessoas a partir da situação de
fala.
( ) No segundo quadro, “Os professores” pode ser considerada uma expressão referencial
genérica e variável.
( ) No segundo quadro, “Os” e “Para” não se referem a coisas do mundo, razão pela qual não
têm sentido.
( ) Em “Para alguns, são sim...”, no segundo quadro, há o pressuposto de que para muitos os
professores não são perigosos.

Questão 4 – A notícia (Texto 4) auxilia a lembrar do contexto em que a tira (Texto 3) foi
publicada. Sabendo dessas informações sobre a situação noticiada na mídia, responda às
questões sobre a relação entre a situação e a tira de Armandinho.

4a) Qual elemento linguístico usado num dos enunciados de Armandinho, na tira, remete a tal
situação? Que outra palavra ou expressão poderia ser usada em substituição a tal elemento
linguístico de modo a explicitar, no enunciado, o referente?

4b) Uma vez conhecido o contexto a que a tira faz alusão, qual a implicatura que se pode
depreender da relação entre “perigosos”, no segundo quadro, e “ensinar o povo a pensar”, no
terceiro quadro?

Questão 5 – Ao longo do curso de Letras, vimos que o fonema é a unidade de estudo da


Fonética e Fonologia; o morfema é a unidade da Morfologia; a frase é a unidade da Sintaxe; a
sentença é a unidade da Semântica. E a unidade de estudo da Pragmática, qual é? Para
fundamentar sua resposta, utilize o excerto a seguir como exemplo para mostrar a diferença entre
essas unidades de estudo.
Os professores são assim tão perigosos?!

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