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Perversidade, futilidade e ameaça.

Esses são os argumentos básicos que,


de acordo com Albert O. Hirschman, os conservadores utilizam para
criticar políticas que podem introduzir mudanças progressistas na ordem
social. Como tais políticas perseguem, em geral, objetivos nobres, os
conservadores não podem a elas se opor frontalmente. É necessário
desqualificá-las. Assim, tentase mostrar que elas produzem efeitos
inversos aos pretendidos (argumento da perversidade), ou que elas não
têm resultados (argumento da futilidade), ou ainda que tais políticas põem
em risco outras conquistas (argumento da ameaça).

A futilidade comparada à perversidade


No entanto em cada episódio o argumento da futilidade reduziu-se a uma negação ou
subestimação da mudança frente a movimentos aparentemente imensos e marcantes,
tais como a Revolução Francesa, a marcha para o sufrágio universal e as instituições
democráticas, no final do século XIX, e a subsequente aparição e expansão do Welfare
State.

Neste ponto surge uma diferença muito mais substancial entre a tese da futilidade e a da
perversidade. À primeira vista pode ter parecido que a tese da futilidade, bem como o efeito
perverso, baseia-se na noção das consequências imprevistas da ação humana. Mas quando se
invoca a futilidade, em vez do efeito perverso, os efeitos colaterais involuntários simplesmente
cancelariam a ação original, ao invés de chegar ao ponto de produzir um resultado oposto ao
desejado. A tese da futilidade, no entanto, não é de modo algum concebida, como se não fosse
mais que uma versão mais suave da tese da perversidade.

No cenário da tese da futilidade, as ações ou intenções humanas não são frustradas por
desencadear uma série de efeitos colaterais, mas por pretender mudar o que não pode ser
mudado, por ignorar as estruturas básicas da sociedade.

O efeito perverso vê o mundo como notavelmente volátil, onde cada movimento leva no
mesmo instante a uma variedade de contramovimentos insuspeitados; os advogados da
futilidade, ao contrário, veem o mundo como algo altamente estruturado, evoluindo
segundo leis imanentes, que as ações humanas são risivelmente impotentes para mudar.

O problema com a futilidade


O problema do argumento é que a futilidade é proclamada cedo demais. Agarra-se ao
primeiro indício de que um programa não funciona do modo anunciado ou pretendido, que
está sendo bloqueado ou desviado por interesses e estruturas existentes e apressa-se em
emitir um juízo, sem levar em conta o aprendizado social ou o planejamento acumulativo e
corretivo.

Enquanto o argumento do efeito perverso considera com extrema seriedade as medidas


sociais, econômicas e políticas que afirma serem contraproducentes, a tese da futilidade
ridiculariza tais tentativas de mudança como ineptas, se não pior.

A principal acusação contra a tese da futilidade, portanto, parece ser que ela não considera a si
mesma e a seus próprios efeitos sobre os acontecimentos com suficiente seriedade. A história
que ela conta acerca do abismo cada vez mais profundo entre as metas proclamadas e os
desfechos sociais reais não pode deter-se nisso. À medida que essa história vai sendo
absorvida pelos ouvintes, cria-se uma tensão e ativa-se uma dinâmica que ou é
autorealizatória ou auto-refutatória.

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