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TEORIA DEMOCRÁTICA II

AULA 4
ROBERT DAHL E A POLIARQUIA
TEXTOS: POLIARQUIA (R. DAHL)
Semestre: 2023.1
Aulas: Terças e quintas, 09h30-11h10
Professor: Diogo Cunha
E-mail: diogo.accunha@ufpe.br
Notas introdutórias e elementos de
contexto

■ Roberto Dahl é um dos mais importantes cientistas políticos do pós-guerra ⇒


Contribuiu decisivamente para definir os contornos do que hoje se entende por
democracia.
■ Poliarquia ⇒ Democracias realmente existentes apenas se aproximam do ideal
democrático.
■ Democratização ⇒ Define-se como um processo de progressiva ampliação da
competição e da participação política ⇒ Definição com base nesses dois eixos torna-se
clássica pois oferece critérios objetivos para classificar regimes políticos.
Notas introdutórias e elementos de
contexto

■ Até o início da década de 1970 ⇒ Ausência de indagações sobre processo de


democratização ⇒ Chances de ocorrência da democracia e do autoritarismo de certas
características sociais e históricas fora do alcance da ação humana.
■ Pessimismo quanto às chances da democracia nos países subdesenvolvidos e afirmação
da excepcionalidade dos países desenvolvidos.
■ Constituição do objeto político transição de regimes foi concomitante à afirmação da
autonomia explicativa de variáveis propriamente políticas ⇒ Liberou a ciência política
da Teoria da Modernização
Notas introdutórias e elementos de
contexto
■ Modernização ⇒ Definida como o processo de transformações sociais pelo qual as
sociedades passam a transitar do tradicional ao moderno, processo em meio ao qual
ocorre a diferenciação e autonomização das diferentes esferas da vida social ⇒
Obtenção de uma democracia estável é o ponto culminante desse processo, marcado
pelo aparecimento e incremento prévio da urbanização, educação, comunicação de
massa, burocratização, etc.
■ Teoria da modernização ⇒ Regimes políticos independem da intervenção dos atores
políticos e das escolhas institucionais que fazem.
■ Poliarquia ⇒ Ruptura ⇒ Variáveis ligadas ao mundo político ganham autonomia e
poder explicativo.
SEYMOUR M. LIPSET
« SOME SOCIAL REQUESITES OF
DEMOCRACY: ECONOMIC
DEVELOPMENT AND POLITICAL
LEGITIMACY », AMERICAN POLITICAL
SCIENCE REVIEW, 53: 69-105, 1959.
BARRINGTON MOORE JR
ORIGINS OF DICTATORSHIP AND
DEMOCRACY: LORD AND
PEASANT IN THE MAKING OF
MODERN WORLD. BOSTON:
BEACON PRESS, 1966.
SAMUEL P. HUNTINGTON
POLITICAL ORDER IN CHANGING
SOCIETIES. NEW HAVEN: YALE
UNIVERSITY PRESS, 1968.
Democratização e oposição pública

 Objetivo do livro ⇒ Quais as condições que permitem uma democratização?


 Característica-chave da democracia ⇒ Contínua responsividade do governo às preferências de seus
cidadãos, considerados como politicamente iguais.
 Definição ideal de democracia ⇒ Sistema político que tenha, como uma de suas características, a
qualidade de ser inteiramente responsivo a todos os seus cidadãos (base para se avaliar o grau com que
vários sistemas se aproximam desse limite teórico).
 Para que um governo seja responsivo às preferências dos cidadãos, considerados politicamente iguais,
todos os cidadãos plenos devem ter oportunidades plenas:
1. De formular preferências;
2. De expressar suas preferências a seus concidadãos e ao governo através da ação individual e coletiva.
3. De ter suas preferências igualmente consideradas na conduta do governo, ou seja, consideradas sem
discriminação decorrente do conteúdo ou da fonte da preferência.
ALGUNS
REQUISITOS DE
UMA
DEMOCRACIA
PARA UM
GRANDE
NÚMERO DE
PESSOAS
Proporção da população habilitada a
participar

 Contestação pública e inclusão variam independentemente ⇒ Quanto


maior a proporção que desfruta desse direito, mais inclusivo é o regime.
 Sem direito à contestação, direito de “participar” é despido de
significado.
 Democratização é formada por duas dimensões ⇒ Contestação pública e
direito de participação
PROPORÇÃO
DA
POPULAÇÃO
HABILITADA
A PARTICIPAR
LIBERALIZAÇÃO,
INCLUSIVIDADE E
DEMOCRATIZAÇÃO
Hipóteses

AXIOMA 1 ⇒ A probabilidade de um governo tolerar uma oposição com a diminuição dos


custos esperados da tolerância.
Entretanto, um governo deve considerar também o quanto lhe custaria suprimir uma oposição;
pois ainda que a tolerância cobre um preço, a supressão poderia custar muito mais e ser,
obviamente, estúpida. Portanto:
AXIOMA 2 ⇒ A probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumenta na medida em
que crescem os custos de sua eliminação.
Assim, as possibilidades de um sistema político mais competitivo surgir ou durar podem ser
pensadas como dependentes de dois conjuntos de custos:
AXIOMA 3 ⇒ Quanto mais os custos da supressão excederem os custos da tolerância, tanto
maior a possibilidade de um regime competitivo.
HIPÓTESES
Poliarquia importa

1. Existência de liberdades clássicas;


2. Participação ampliada combinada com a competição política provoca uma mudança na
composição da liderança política, particularmente entre aqueles que conquistam cargos
públicos através de eleições ⇒ Tornam-se mais representativos.
3. Na medida em que regimes tornam-se mais competitivos ou mais inclusivos, os políticos
buscam o apoio dos grupos que agora podem participar mais facilmente da vida política.
4. Competição e inclusividade provocam mudanças no próprio sistema partidário.
5. Poliarquia ⇒ Aumento da variedade de preferências e interesses representados na política.
6. Poliarquias, em geral, não adotam políticas envolvendo alto grau de coerção e violência.
7. Diferenças de regimes podem agir sobre crenças, atitudes, cultura e personalidades.
Sequências históricas

■ Dois aspectos relevantes para a questão central:


1. O caminho ou a sequência específicos de transformações de um regime
2. A maneira como um novo regime é inaugurado.
O caminho para a poliarquia

■ Há sequências mais passíveis do que outras de conduzir à segurança mútua e, desta forma, facilitar a
mudança para um regime mais poliárquico? ⇒ Três caminhos possíveis para a poliarquia:
1. A liberalização precede a inclusividade (Inglaterra e Suécia):
A. Uma hegemonia fechada aumenta as oportunidades de contestação pública e assim se transforma numa
oligarquia competitiva.
B. A oligarquia competitiva transforma-se numa poliarquia pelo crescimento da inclusividade do regime.
2. A inclusividade precede a liberalização (Alemanha do Império até Weimar):
A. Uma hegemonia fechada torna-se inclusiva.
B. A hegemonia inclusiva transforma-se então numa poliarquia pelo aumento das oportunidades de contestação
pública.
3. Atalho (França, 1789-1792) ⇒ Uma hegemonia fechada é abruptamente transformada em poliarquia por
uma repentina concessão de sufrágio universal e direitos de contestação pública.
Síntese da argumentação

1. O primeiro caminho é mais passível do que os outros de produzir o grau de segurança


mútua exigido para um regime estável de contestação púbica.
2. Mas o primeiro caminho já não está aberto para a maioria dos países com regimes
hegemônicos.
3. Daí que a liberalização de quase-hegemonias correrá sério risco de fracassar devido às
dificuldades, sob as condições de sufrágio universal e política de massa, de construir
um sistema de segurança mútua.
4. O risco de fracasso pode ser reduzido, porém, se os passos no sentido da liberalização
forem acompanhados de uma busca dedicada e transparente de um sistema viável de
garantias mútuas.
Inaugurando um regime competitivo

■ Formas principais de inauguração:


I. No interior de um Estado-Nação já independente
A. O velho regime é transformado através de processos evolutivos: o novo regime é inaugurado por líderes
governantes, que atendem pacificamente (mais ou menos) às reivindicações por mudanças e participação na
inauguração da poliarquia ou quase-poliarquia.
B. O velho regime é transformado por revolução: o novo regime é inaugurado por líderes revolucionários que
derrubam o velho regime e instalam uma poliarquia ou quase-poliarquia.
C. O velho regime é transformado por conquista militar: depois de uma derrota militar, as forças de ocupação vitoriosas
ajudam a inaugurar uma poliarquia ou quase-poliarquia.
II. Num país até então dependente subordinado a outro Estado
D. O velho regime é transformado como parte da luta por independência nacional, no curso de uma “revolução” contra
o poder colonial: o novo regime é inaugurado por líderes de um movimento de independência nacional que
instalam a poliarquia ou quase-poliarquia durante ou depois de uma bem sucedida luta pela independência nacional.
Resumo da argumentação

1. O processo de inauguração mais auspicioso para uma poliarquia é o que transforma formas e
estruturas hegemônicas legítimas nas formas e estruturas adequadas à competição política,
evitando assim produzir clivagens duradouras ou dúvidas generalizadas sobre a legitimidade do
novo regime.
2. O processo inaugural mais passível de levar a este resultado é a evolução pacífica no interior de
um Estado-Nação independente ou de uma nação quase-independente que alcance a
independência sem um movimento de independência nacional.
3. O processo de inauguração menos auspicioso para uma poliarquia é o que deixa um grande
segmento de cidadãos contrário à legitimidade da política competitiva.
4. Este resultado é provável quando uma poliarquia é inaugurada por uma guerra civil ou revolução
em que um grande segmento da população, que sustenta a legitimidade do velho regime ou nega a
legitimidade do novo, é derrotado, mas ainda assim incorporado como cidadãos no novo regime.
Resumo da argumentação

5. O declínio dos impérios coloniais e a improvável repetição das circunstâncias que facilitaram a introdução
da poliarquia nos países derrotados pelos Aliados no final da Segunda Guerra Mundial significam que, no
futuro, as principais opções disponíveis são a evolução ou a revolução no interior de um Estado-nação já
independente.
6. A presença de modelos de poliarquia e de hegemonias de partido único, no mundo, provavelmente tem um
impacto no processo de inauguração de regimes, mas seus efeitos são imprevisíveis. No mínimo, sua
presença provavelmente eleva as expectativas de que os regimes podem ser rapidamente transformados em
qualquer direção.
7. Todavia, em países sem um legado recente de experiência no funcionamento de uma política competitiva, a
transformação de regimes hegemônicos em poliarquias provavelmente vai continuar sendo um processo
lento, medido em gerações.
8. A extensão do processo provavelmente pode ser reduzida e as perspectivas de uma transformação estável
aumentam se os processos inaugurais forem acompanhados pela busca de um sistema interno de segurança
mútua.

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