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PULSOLOGIA
Dr. Wu Kwang

O exame dos pulsos permite analisar a distribuição da energia nos diversos meridianos. A pulsologia
junto com a Acupuntura dá aquele ar misterioso à Medicina Tradicional Chinesa (MTC), pelo menos
diante do povo ocidental. Embora não há dúvidas de que é possível diagnosticar com a pulsologia, a
importância do procedimento pode ser contestada. Na MTC, afirma-se que o interrogatório pode ser
responsável por 70% do diagnóstico, a inspecção por uns 15%, e a palpação do pulso por outros 15%.
Neste caso, a pulsologia serve para confirmar o diagnóstico já obtido através da anamnese. Para os
médicos acupunturistas modernos da China, com formação na medicina ocidental, a pulsologia é muito
subjetiva, não ajuda muito no diagnóstico. Muitos acupunturistas realmente aceitam o fato da pulsologia
ser subjetiva, e para vencer tal obstáculo, passaram a utilizar métodos eletrônicos para avaliar os
meridianos (Akabane, Ryodoraku, EAV etc.) Entretanto, para algumas pessoas privilegiadas com
sensitividade, a pulsologia constitui 90% do diagnóstico, permite dar o sexo do bebê, indicar câncer no
cólon sigmóide etc.
A pulsologia era muito importante na Medicina Ocidental até a invenção da eletrocardiografia. Os livros
de propedêutica do século passado dedicavam muitas páginas para o exame dos pulsos, usado não
somente para indicar frequência cardíaca, arritmias, hiper ou hipotensão, mas também era muito
importante a qualidade dos pulsos. Quando a Acupuntura foi introduzida no Ocidente, devido ao pouco
conhecimento sobre a MTC, principalmente do interrogatório, das síndromes energéticas e da teoria do
Zang-Fu, o diagnóstico energético era exclusivamente baseado na pulsologia. Por isso mesmo que a
pulsologia ganhou um papel muito mais destacado no Ocidente, pois era o principal meio diagnóstico;
enquanto no Oriente, serve para confirmar o diagnóstico já obtido no interrogatório.
O estudo dos pulsos é fácil, mas ao mesmo tempo difícil. É fácil caso interessar-se apenas com a
intensidade dos batimentos, indicando plenitude ou deficiência de energia. É difícil se o interesse for
avaliar a qualidade dos batimentos. Muito mais difícil quando quiser diagnosticar doenças. Para isso,
alguns falam em prática mínima de 10 anos. Para mim, julgo que nisso entra alguma sensitividade, nem
sempre possível de adquirir praticando a pulsologia.
No livro de Felix Mann, dizem que o pulso reflete o estado do órgão. Quando o órgão estiver contraído
por hiperatividade, cólica ou dor, o pulso também estará. Quando o órgão estiver relaxado ou dilatado, o
pulso também estará. Quando o paciente estiver nervoso, o pulso refletirá tensão. Quando o paciente
estiver tranquilo, o pulso ficará relaxado. Assim, uma das formas para aprender a pulsologia, é avaliar o
pulso em todos os momentos, antes ou depois das refeições, antes ou depois das defecações, antes ou
depois das micções; durante as dores ou cólicas, nas inflamações, no nervosismo, no relaxamento, nas
doenças etc.
Existe até uma piadinha no livro de 5 Elementos de Lawson-Wood: Um profissional conhecido nosso
disse, com certo grau de satisfação por sua perícia na leitura dos Pulsos Chineses, “Sempre encontro
deficiência no meridiano da Bexiga, por isso, tomo como regra tonificar Bexiga na primeira sessão”.
Naturalmente que sempre encontrava isso pela simples razão de haver um banheiro entre o vestuário e o
consultório, e os pacientes quase nunca deixavam de fazer uso do mesmo antes da sessão.
Na MTC, dizem que a energia circula por todos os meridianos e canais. A cada 2 horas, predomina em
um dos meridianos principais. E para verificar isso, a pulsologia pode ser útil, e deve ser um bom treino.
Tal fenômeno deve ser levado em consideração na avaliação pulsológica do paciente, isto é, caso
encontrar pulso do Estômago cheio entre 7 e 9 horas, deve dar algum desconto.

EVOLUÇÃO DO EXAME DE PULSOS


A pulsologia ganhou no século III a técnica atual. Era antigamente realizada comparando os batimentos
dos seios carotídeos (ao nível de E9, também chamado de Renying). Posteriormente, passaram a
comparar Renying e Qihao. Não estava claro onde se localizavam. Parece que neste caso, Renying
correspondia ao pulso radial esquerdo e Qihao, pulso radial direito.
No estágio seguinte, passaram a avaliar os “9 postos de observação das 3 regiões”. As regiões eram
cabeça (céu), tronco (terra) e membros inferiores (homem). Em cada região escolhiam 3 pulsos.
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O sistema de Qibo surgiu depois, utiliza somente os pulsos radiais. Pela facilidade em palpá-los, ganhou
popularidade. Além disso, naquela época, os médicos tinham acesso apenas às mãos das mulheres,
precisavam diagnosticar tudo através dos pulsos radiais. Qibo marca 3 posições sobre cada uma das
artérias radiais: proximal (pé), central (barreira) e a distal (polegar). Correspondem aos 3 Aquecedores do
corpo: o Aquecedor Yinferior (Rim) ao pé, o Aquecedor Médio (Fígado e Baço) à barreira, e o Aquecedor
Superior (Coração e Pulmão). Wang Chou Ro completou Qibo dividindo cada posição em 2 níveis,
superficial (vísceras) e profundo (órgãos), e assim, chegamos ao sistema mais aceito mundialmente.
Entretanto, há discordâncias:
1) Borsarello concorda com as posições de Wang Chou Ro mas coloca Baço-Pâncreas na superfície e
Estômago na profundidade;
2) Van Nghi acha que as posições dos órgãos e vísceras variam conforme os distúrbios energéticos: a
energia dos órgãos sobe da profundidade para a superfície e a energia das vísceras desce da superfície
para a profundidade, portanto, na palpação, os dedos não devem ficar parados nas diversas posições,
devem ir afundando para sentir a energia ascendente dos órgãos e em seguida, relaxar gradualmente a
pressão dos dedos para sentir a energia descendente das vísceras, assim, na maioria das vezes, encontrará
na superfície os órgãos e na profundidade, as vísceras.

TÉCNICA
O melhor momento para tomar o pulso é de manhã, quando o Yin ainda não se dispersou e o Iang ainda
está em plena atividade. O paciente deve estar relaxado, longe de jejum, refeição farta ou grandes
esforços. Tanto o acupunturista e o paciente devem estar confortavelmente acomodados. As mãos do
paciente devem estar levemente dorsifletidas para dar espaço aos dedos indicadores do acupunturista.
1º) Localizar a apófise estilóide do rádio e posicionar a polpa do dedo médio sobre a artéria radial;
2º) Posicionar o dedo indicador e o dedo anular;
3º) Elevar um pouco o dedo médio em relação ao dedo indicador e anular para acompanhar a saliência do
osso radial ao nível da apófise espinhosa;
4º) Avaliação global dos pulsos: a) apertar levemente os 3 dedos para sentir os pulsos superficiais; b)
apertar fortemente os 3 dedos até desaparecer os pulsos, então relaxar um pouco para sentir os pulsos
profundos. Com a prática, é possível sentir o pulso profundo diretamente, apenas afundando os dedos,
sem precisar fazer desaparecer o pulso para depois soltar um pouco a pressão.
5º) Avaliação individual de cada posição, superficial ou profunda, com 1 dedo por vez.
6º) Descontar as alterações fisiológicas decorrentes do funcionamento dos órgãos e vísceras, do horário
dos meridianos, do ciclo menstrual, da gravidez etc.
7º) Comparar o resultado da pulsologia com o interrogatório e a inspeção.

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS
1) Ciclo menstrual - O pulso do Circulação-Sexo fica fraco após a menstruação, normaliza do 13º ao
20º dia, e vai ficando duro e amplo até o 28º dia.
2) Na gestação - Desde o 2º dia, o pulso do Circulação-Sexo fica duro como pequena pérola. Se for
um pouco pontiagudo e os pulso esquerdos maiores do que os esquerdos, em geral é homem. Se for
um pouco arredondado e os pulsos direitos mais fortes, em geral é mulher.
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PULSOLOGIA

1. Procure uma posição confortável, para você e seu parceiro, deve usar coxins para apoiar os
antebraços do paciente.

2. Coloque as mãos do parceiro um pouco dorsifletidas.

3. Localize o trajeto da artéria radial no punho.

4. Localize a apófise estilóide do rádio com a polpa do dedo médio.

5. Avance a polpa do dedo médio sobre a artéria radial.

6. Analise as diferenças de altura e largura entre você e o seu parceiro.

7. Coloque em seguida o dedo anular e o indicador.

8. Eleve um pouco a polpa do dedo médio.

9. Aperte um pouco os dedos até sentir os batimentos, é a avaliação superficial.

10. Aperte o bastante para desaparecer os batimentos, solte um pouco em seguida para fazer
a avaliação profunda.

11. Caso houver dificuldade nesta avaliação tridigital, use um dedo de cada vez.
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DICAS GERAIS

1) Se os pulsos estiverem fracos, tornando o diagnóstico difícil, estimule o ponto TA4 para
aumentar a intensidade.

2) Quando os pulsos estiverem fracos, encoste levemente os polegares no Ponto de


Tonificação do horário, durante 15s.

Ex.: às 4h, estimular F8; às 16h, aplicar no ID3

DICAS DE PALPAÇÃO

1) Os principiantes devem se preocupar apenas com intensidade dos pulsos. A melhor forma
de anotação é classificar como muito fraco (-2), fraco (-1), normal (0), forte (+1) e muito
forte (+2).

2) Na MTC, onde 70% dos tratamentos são realizados com Farmacoterapia, usa-se mais a
Pulsologia da MTC, onde se faz avaliação tridigital, analisa-se o conjunto procurando decidir
os 8 Critérios (Excesso-Deficiência, Calor-Frio, Superficial-Profundo). Isto já é suficiente.
Podem ser percebidas algumas qualidades como Pulso em Corda, Deslizante, Largo e Fino.
Assim, na MTC, a Pulsologia corresponde a 10% da avaliação diagnóstica, serve para
confirmar.

3) Na Acupuntura, para aplicação da regra Marido-Mulher, definir Pontos Lo, escolher os


meridianos mais afetados, Meio-Dia / Meia-Noite, enfim, fazer ajustes entre meridianos e
órgãos, é mais útil a Pulsologia onde se estuda principalmente a intensidade em cada uma
das posições. Neste caso, a avaliação unidigital é mais conveniente, comparando direito e
esquerdo, superficial e profundo, proximal e distal.

4) Para trabalhar apenas com os meridianos mais alterados, tenta definir o meridiano mais
forte e o mais fraco, é suficiente para aplicar a Transferência nos Cinco Elementos.

5) Entre o meridiano mais forte e o mais fraco, para definir apenas um alvo, deve recorrer ao
interrogatório e língua, e aplicar então a Técnica dos 4 Pontos.
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TREINAMENTO

1. Palpar a cada 2 horas para perceber a hiperatividade dos meridianos e órgãos segundo
o relógio biológico.
2. Tomar o pulso antes e depois de cada evento fisiológico, por exemplo, nas refeições.
3. Palpar o pulso dos meridianos a serem tratados antes, durante e depois das sessões de
acupuntura. Sentir a melhora dos pulsos tratados. Perceber a harmonização entre os
vários pulsos depois das sessões.
4. Conversar com as pessoas palpando seu pulso, e procurar captar suas alterações
durante abordagem de assuntos diferentes.
5. Sentir o pulso de CS nas várias fases do ciclo menstrual, no diagnóstico da gravidez e
do sexo do bebê.
6. Pegar o pulso correspondente a situações patológicas, por exemplo, analisar o pulso
de B nas cistites.

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