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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO

CURSO DE ENFERMAGEM
SISTEMATIZAÇÃO DO CUIDAR EM ENFERMAGEM
Profª. Ma. Tatyane Andrade dos Santos
TÉCNICA: EXAME FÍSICO – SISTEMA CARDIOVASCULAR
ANAMNESE
1. Dor torácica
• Onde é a dor? Há quanto tempo você está sentindo essa dor? Você apresenta
episódios recorrentes de dor? Qual é a duração da dor? Com que frequência a dor
aparece? O que você faz para que essa dor melhore? O que torna a dor pior? A
respiração? Ficar deitado em posição com o tórax elevado? Movimentando os seus
braços ou pescoço? Como descreveria essa dor? Como queimação? Pressão?
Esmagamento? Pulsátil? Como uma punhalada? Perfurante? Ocorre em repouso?
Com esforço? Após alimentação? Com estresse emocional? Associada a falta de ar?
Palpitações? Náuseas ou vômitos? Tosse? Febre? Dor nas pernas?
2. Palpitações
• Há quanto tempo tem sentido palpitações? Você apresenta ataques recorrentes? Se
sim, com que frequência eles ocorrem? Quando o atual ataque começou? Quanto
tempo ele durou? Qual é a sua sensação? Alguma manobra ou posição o
interrompe? Ele para abruptamente? Já notou palpitação após exercícios vigorosos?
Ao esforço? Enquanto está deitado do lado esquerdo? Após uma refeição? Enquanto
está cansado? Durantes as palpitações, você já desmaiou? Teve dor torácica? Está
tomando alguma medicação para a tireoide? Alguém já lhe disse que você tem algum
problema com sua tireoide? Qual a quantidade de chá, café, chocolate ou refrigerante
que você consome por dia? Você fuma? O que você fuma? Faz uso de bebidas
alcoólicas? Já notou se, após as palpitações, precisou urinar?
3. Síncope
• O que você estava fazendo logo antes do desmaio? Apresenta episódios recorrentes
de desmaios? Com que frequência apresenta esses ataques? O desmaio foi súbito?
Chegou a perder a consciência? Em que posição estava quando desmaiou? O
desmaio foi precedido por algum outro sintoma? Náusea? Dor torácica? Palpitações?
Confusão? Dormência? Fome? Percebeu algum sinal de que iria desmaiar?
Apresentou evacuação preta após o desmaio?
4. Fadiga
• Há quanto tempo você está cansado? O início da fadiga foi abrupto? Você se sente
cansado o dia inteiro? Pela manhã? À noite? Quando é que você se sente menos
cansado? Você se sente mais cansado em casa do que no trabalho? A fadiga alivia
com o repouso?
5. Outras situações
• Hemoptise
• Dispneia
• Cianose
• Edema
EXAME FÍSICO
Métodos propedêuticos:
➢ Inspeção
➢ Palpação
➢ Ausculta
Materiais: estetoscópio e luvas descartáveis (quando necessário).

Preparo:
- A sala deve estar aquecida e em silêncio.
- Mantenha a privacidade do paciente.
- Higienizar as mãos.
- Solicite que o paciente retire a blusa ou utilize uma camisola de procedimento
com a frente aberta. Em mulheres é possível manter a camisola amarrada inicialmente,
descobrindo aos poucos apenas a parte que será examinada.
- Posicione-se em pé à direita do paciente deitado em decúbito dorsal.

INSPEÇÃO
1) Observe a aparência do paciente:

- Analise a coloração das mucosas, da região perioral e das porções distais dos dedos,
principalmente no leito ungueal. Procure alterações de cor como hipocoloração, cianose ou
palidez.
- Edemas subcutâneos também podem indicar alterações cardiovasculares e devem ser
buscados ativamente.
- Observe ainda a posição adotada pelo paciente, se ele parece mais confortável em
determinado decúbito ou se apresenta sinais de dor precordial (sinal de Levine – punho
cerrado sobre o precórdio com inclinação anterior do tronco).

2) Observe a região cervical:

- A região cervical é de extrema importância no exame do sistema cardiovascular por


apresentar um grande grupo de grandes vasos sanguíneos localizados superficialmente e
em comunicação quase direta com o coração. Dessa forma, alterações cardíacas podem se
refletir nestes vasos precocemente. Observe se existem pulsações mais intensas que o
normal ou ingurgitação jugular. Essa análise deve ser feita com o paciente sentado e em
decúbito dorsal, com a cabeça elevada a 30-45° e rodada levemente para o lado oposto ao
examinador.

3) Observe a região precordial

- Observe alguma má formação anatômica, lesões traumáticas, pontos de abaulamento ou


de retração e cicatrizes. Em casos de pulsações anômalas, analise-as em correspondência
com o ciclo cardíaco, observando se são mais evidenciadas na sístole ou na diástole e em
qual foco cardíaco.

4) Localização do Ictus cordis:


O ictus cordis representa a extremidade distal (ápice) do ventrículo esquerdo, que se choca
contra a parede torácica, causando uma propulsão na pele do paciente. Geralmente fica
próximo ao 5° espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular. Nem sempre é
observável, principalmente em pacientes obesos, com musculatura hipertrófica ou com
mamas proeminentes.
5) Observe a região epigástrica e abdominal:
Há grandes vasos na região abdominal, estando a aorta abdominal em posição medial
esquerda e a veia cava inferior à sua direita. Geralmente eles não são visíveis, de modo que
pulsações anormais e presença de veias colaterais podem indicar patologias.

PRINCIPAIS ERROS

A. Inspecionar apenas a região precordial no exame cardiovascular, uma vez que alterações
de função cardíaca de manifestam primeiro em regiões periféricas.
B. Examinar o paciente com roupa, o que oculta abaulamentos e retrações.

PALPAÇÃO

1) Palpação superficial
Inicialmente, palpe toda a região anterior do tórax de forma superficial, realizando
movimentos discretos com as polpas digitais. Procure deformidades, nódulos, pulsações
ou vibrações.

2) Localize o ictus cordis


Em alguns pacientes pode ser visto já na inspeção, mas é mais frequentemente localizado
pela palpação, geralmente com extensão de uma a duas polpas digitais. Com as polpas
digitais, faça movimentos leves entre os arcos costais (geralmente está entre o 4° e 6°),
iniciando medialmente à linha hemiclavicular e se deslocando lateralmente. Em mulheres
com mamas volumosas, peça que elas as apoiem em direção cranial. Ao localizar o ictus
você sentirá um impulso contra seu dedo. Delimite a localização desse ponto, sua
extensão (em polpas digitais) e características (intensidade, regularidade).
3) Procure sentir a propulsão do ventrículo direito
Enquanto o ventrículo esquerdo fisiologicamente causa um impulso na parede torácica, o
ventrículo direito raramente o faz. Para pesquisá-lo, coloque a sua mão direita espalmada
na região epigástrica do paciente, sobre o esterno e o processo xifóide. Se você sentir um
impulso sob a palma da sua mão, considera-se um levantamento sistólico do ventrículo
direito.

4) Pesquise o frêmito cardiovascular


O frêmito corresponde a uma vibração produzida pelo fluxo turbilhonar anormal
de sangue sobre uma superfície, pelo atrito de membranas ou por um fluxo turbulento.
Para examiná-lo, coloque toda sua mão espalmada sobre o precórdio. Se o frêmito estiver
presente, você sentirá um tremor discreto, semelhante ao ronronar de um gato. Anote sua
localização (em relação com os focos de ausculta).

5) Palpe pulsos centrais e periféricos


A análises dos pulsos deve ser feita em conjunto com o exame cardíaco (assunto descrito
em aula sobre sinais vitais).
- O início da sístole pode ser percebido palpação do pulso carotídeo. Por sua proximidade
com o coração, a onda de pulso nesta artéria tem boa correlação com a contração
ventricular.

6) Tempo de enchimento capilar


É avaliado comprimindo a polpa digital do paciente com seu primeiro e segundo dedo por 5
segundos. Com a liberação da pressão, a região fica imediatamente esbranquiçada e vai
recuperando sua cor rosada gradualmente, à medida que é preenchida com sangue.
Considera-se normal um tempo de enchimento capilar menor que 2 a 3 segundos.

PRINCIPAIS ERROS

A. Comprimir com muita força a região durante a palpação dos pulsos. Essa pressão pode
levar a um colabamento arterial, com cessação da pulsação que deveria ser analisada.
B. Examinar o paciente com luvas de procedimento. No exame físico as luvas são
fundamentais para tocar mucosas, áreas com secreções corporais ou sangue. Entretanto,
para a palpação se perde muito do tato utilizando-as, de modo que seu uso deve ser
evitado a menos que haja uma necessidade de precaução de contato.
AUSCULTA

Forma mais fidedigna de delimitação das fases do ciclo cardíaco pelo exame físico. Feita
com auxílio de um estetoscópio, deve ser realizada em todo o tórax, com ênfase nos
focos mitral, tricúspide, aórtico e pulmonar.
- O início da sístole é marcado pela ausculta da primeira bulha – B1 (TUM), que
corresponde ao fechamento das valvas atrioventriculares.
- Já a diástole se inicia com a segunda bulha – B2 (TÁ), formada pelo fechamento das
valvas semilunares. É importante analisar a frequência em que essas bulhas aparecem,
seu ritmo (se o intervalo entre as bulhas é regular ou não), intensidade e se existem sons
anormais (sopros, bulhas acessórias, desdobramentos).

PRINCIPAIS ERROS

A. Delimitar a sístole pela palpação de pulsos periféricos. O impulso sistólico demora algum
tempo até atingir vasos mais distantes, sendo pior correlacionado à fase do coração do que
pulsos mais próximo deste órgão.
B. Confundir a primeira com a segunda bulha. Uma forma fácil de evitar essa confusão é
fazendo a ausculta simultaneamente à palpação arterial, sendo que B1 coincide com o pico de
pulso nesses vasos.

ACHADOS E CORRELAÇÕES CLÍNICAS

Apesar de alguns componentes do ciclo conseguirem ser devidamente examinados


clinicamente, detalhes mais específicos das fases não têm boa correlação externa e dependem
de exames complementares para sua análise, geralmente solicitados quando se nota alguma
alteração ao exame físico. Os mais utilizados são o eletrocardiograma, que representa
esquematicamente a sequência de estímulos elétricos no coração, e o ecocardiograma, que
permite ver as contraturas musculares cardíacas por meio de ondas ultrassonográficas.

Exemplos de alterações que podem indicar a necessidade de um destes exames são:

• Bradicardia e taquicardia
São alterações na frequência de ciclos cardíacos que ocorrem em uma fração de
tempo. A bradicardia é definida como uma frequência menor que 60 batimentos por
minuto, enquanto a taquicardia é uma frequência maior do que 100 bpm. Podem ser
fisiológicos (como a bradicardia de repouso em atletas e a taquicardia após levar um
susto) ou indicar patologias como hipo/hipertireoidismo ou disfunção do nó sinoatrial.
• Arritmias
São alterações no ritmo do ciclo cardíaco secundárias a um defeito de formação ou de
condução elétrica. Ao exame pode-se notar uma assincronia entre as bulhas cardíacas
e o pulso carotídeo, alterações de intensidade de bulhas, intervalo irregular entre os
ciclos, tempo prolongado de uma das fases ou sintomas que denotam alterações de
débito cardíaco. Pode ser dividida entre arritmias com redução da frequência cardíaca
(bradiarritmias) ou com seu aumento (taquiarritmias). Geralmente as primeiras são
secundárias a defeitos de condução no impulso, como é o caso dos bloqueios
atrioventriculares (alteração na condução no nó atrioventricular, podendo levar até a
uma gênese de novo impulso neste local, com dissociação atrioventricular). Já nas
taquiarritmias há uma geração maior que a esperada de impulsos elétricos, que pode
se dar no próprio nó sinoatrial, em focos acessórios ou desordenadamente nas vias de
condução.

• Desdobramento de bulhas
Fisiologicamente, uma das valvas se fecha pouco antes de outra (a mitral antes da
tricúspide e a aórtica antes da pulmonar), mas com uma diferença tão pequena que é
imperceptível à nossa audição. Algumas alterações no ciclo cardíaco podem levar a um
atraso ou adiantamento de um dos componentes, gerando um maior intervalo entre os
sons e permitindo sua diferenciação à ausculta. Uma patologia que pode levar ao
desdobramento de B1, por exemplo, é o bloqueio de ramo direito, quando impulso
elétrico sofre um atraso nas vias de condução do ventrículo direito, levando a um atraso
em sua sístole em relação ao esquerdo. Já o desdobramento de B2 pode ocorrer
fisiologicamente na inspiração, quando a redução da pressão intratorácica aumenta o
retorno venoso para as câmaras direitas e o tempo de ejeção desse ventrículo, o que
atrasa o fechamento da valva pulmonar.

Dica prática: como diferenciar B3(TUM-Tá-Tá) de B2 desdobrada (TUM-Trá)

• B3
- é um ruído formado por poucas vibrações lentas e de baixa frequência (som grave –
audível com a campanula doesteto) na fase de enchimento rápido dos ventrículos. A
terceira bulha ocorre durante a fase de enchimento rápido do ventrículo, após a abertura
das válvulas atrioventriculares.
- Não é qualquer massa inercial de sangue que vibra a parede do ventrículo, senão a 3ª
bulha seria fundamentalmente fisiológica. Sendo assim, para a 3ª bulha acontecer, esse
ventrículo deve estar dilatado, mas com preservação da sua distensibilidade, ou estar
sofrendo alguma sobrecarga hemodinâmica, mesmo que fisiológicas. Isso explica por
que muitos atletas apresentam 3ª bulha (atletas que trabalham com grande sobrecarga
hemodinâmica do coração– maratonistas). Isso porque a mecânica circulatória desses
indivíduos é tão intensa, que eles trabalham com FC mais baixa e sístole muito intensa
(“inunda” o corpo de sangue). Nessas situações B3 é fisiológica.
- Pode ser patológica, em casos de miocardiopatia dilatada, ou fisiológica,
em indivíduos que possuem maior capacidade cardíaca de acomodar volume
(atletas).
- No hipertireoidismo, pelo metabolismo aumentado e maior velocidade hemodinâmica
(hipercinesia), pode haveraumento ou aparecimento de 3ª bulha.
- Na gravidez, a mulher manuseia um volume sanguíneo circulante maior, havendo uma
sobrecarga hemodinâmica fisiológica, podendo promover o aparecimento de uma 3ª
bulha fisiológica. Existe um tipo de doença, que é uma miocardiopatia, que pode
acontecer no último trimestre de gravidez: miocardiopatia periparto, que pode gerar uma
Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) e, com isso, 3ª bulha patológica (pode ser
confundida com uma 3ª bulha fisiológica da gravidez).
• B4
- É um ruído de baixa frequência e baixa intensidade (grave – audível com a
campânula). Ocorre na ponta do ventrículo.
- É uma bulha extra, que pode estar presente em casos patológicos, logo antes de B1.
- É formada pela contração atrial vigorosa, no final da diástole ventricular e está
relacionada à hipertrofia atrial ou a obstruções à passagem de sangue do átrio para o
ventrículo (hipertrofia ventricular, hipertensão).

• Parada cardiorrespiratória (PCR)


É uma falha completa na função de bomba do coração. Ao contrário do que muitos
pensam, nem sempre essa parada é resultado de uma cessação completa de
movimentos cardíacos. Na verdade, existem quatro ritmos de PCR, dos quais em três o
coração ainda recebe impulsos elétricos. Ao exame, o paciente encontra-se totalmente
arresponsivo, sem movimentos, sem respiração (ou gaspeando – respiração de peixe
fora d´água) e sem pulso.

REFERÊNCIAS:

BARROS, A. L. B. L. et al. Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de enfermagem no


adulto. 2ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2016. 440p.

JARVIS, C. Exame físico e avaliação de saúde para enfermagem. Rio de Janeiro, Elsevier
2012. 880p.

SWARTZ, Mark H. Tratado de semiologia médica. Elsevier Brasil, 2015.

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