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EUCARISTIA E CORPUS CHRIST.

❑ Reflexão inicial: Jo 6,32-40 – “Eu Sou o Pão


da Vida”.
❑ Segundo o CIC nº: 1324: “A Eucaristia é
fonte e ápice de toda a vida cristã. Os demais
sacramentos, assim como todos os ministérios
eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à
sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a
Santíssima Eucaristia contém todo o bem
espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo,
nossa Páscoa.
❑ O que significa a palavra Eucaristia? -
Eucaristia significa ação de graças a Deus.
as palavras ‘eucaristeiri (Lc 22,19; 1 Cor
11,24) e ‘eulogeri (Mt 26,26; Mc 14,22) –
lembram as bençãos judaicas que proclamam
– sobretudo durante a refeição - as obras de
Deus: a criação, a redenção e a santificação
(CIC 1328). Assim ela deriva do hebraico
berakah.
❑ O termo “eucaristia” não aparece no NT
para indicar o rito sacramental do ofertório
e da consumação do pão e do vinho. Ele é
usado pela primeira vez na Didaqué (fim do
século I
❑ Não podemos deixar de ressaltar a relação
entre Palavra e Sacramento. A Exortação
Apostólica Pós Sinodal Verbum Domini afirma
em seu nº 53: “É muito oportuno aprofundar o
vínculo entre Palavra e Sacramento, tanto na
ação pastoral da Igreja como na investigação
teológica”.
❑ Por isso nesta relação Deus age na história - a
Palavra proclamada torna-se realidade, por
meio da ação sacramental – por isso dizemos: “
a Palavra de Deus é viva e eficaz – Hb 4,12.
❑ Nesta perspectiva entendemos o conceito de
Dabar – força criadora da Palavra na concepção
judaica. Logo a Palavra é uma proclamação
restauradora, criadora, atuante e eficaz.
❑ A passagem de Jo 6,22-69 – tem como pano
de fundo o “confronto” entre Moisés
(aquele que falou face a face com Deus) e
Jesus (aquele que revela Deus).
❑ O texto mostra a ligação entre Moisés e o
Maná – a própria Palavra de Deus que
sustenta o povo no deserto.
❑ Agora em Jesus – Lei – transforma-se em
pessoa – o Verbo de Deus – se faz carne e
habita entre nós – Jo 1,14.
❑ O jogo de palavras: Verbo- Carne – Pão.
“Assim, no mistério da Eucaristia, mostra
assim o verdadeiro maná, o verdadeiro pão
do céu é o Logos de Deus que se fez carne,
que se entregou a Si mesmo, no Mistério
Pascal”
❑ Apresentaremos aqui algumas
prefigurações eucarísticas no AT:
❑ Ligar a Eucaristia com a apresentação das
oferendas no altar – algo corriqueiro na
vida do hebreu. O ofertório prefigura o
sacramento da Eucaristia – o gesto de
Melquisedec, sacerdote e rei que oferece
para Deus os dons do Pão e do Vinho – Gn
14,18-19 – relacionar com Hb – sacerdócio
de Melquisedec a Jesus.
❑ Ligar a Eucaristia a dimensão da mesa –
banquete – aliança – Gn 26,30-31ª; Ex
24,11b – a ceia, o comer e o beber fazem
parte de um rito de aliança – a Nova e
Eterna Aliança selada por Jesus na Quinta
Feira Santa é selada com uma ceia.
❑ O Novo Testamento apresenta 4 relatos que
instituem a santa Eucaristia, são elas:
❑ Mt 26, 26-29: “ Enquanto comiam, Jesus tomou
o pão e tendo abençoado, partiu-o e distribuiu
aos discípulos disse: “Tomai e comei, isto é o
meu corpo”[...]
❑ Mc 14, 22-25: “Enquanto comiam, ele tomou
um pão, abençoou, partiu-o e lhes deu, dizendo :
“Tomai, isto é meu corpo” [...]
❑ Lc 22, 19-20: “ E tomou um pão, deu graças,
partiu, e deu-o a eles dizendo: “Isto é o meu
corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha
memória”[...]
❑ 1 Cor 11, 23-25: “Com efeito, eu mesmo recebi
do Senhor o que vos transmitiu: na noite em que
foi entregue, o Senhor Jesus tomou o Pão e,
depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o
meu corpo que é para vós; fazei isto em memória
de mim[...]
❑ Uma das expressões mais significativas para a
Eucaristia como fração do Pão – esta tradição
usada desde os primórdios da Igreja – está
ligada ao costume judaico da benção do Pão –
hebraico Berakah.
❑ O rito é judaico, mas o termo é apostólico –
Lucas denomina celebração eucarística como
Fração do Pão – Lc 24,35 e At 2,42.
❑ Essa prática encontra uma de suas bases na
tradição profética de Jeremias – Jr 16,7 – Jesus
será o paradigma por excelência do rito – Mt
14,19 – 1ª multiplicação dos pães – relato da
benção e a partilha do pão.
❑ No mesmo sentido – Mt 15,36 e Mc 8,6.19
❑ A origem da fração do pão – Palestinense – o
pai de família pega o pão –profere a benção
(Berakah), parte o pão e distribui – no
Cristianismo toma o tom primordial com a
prática de Jesus na Ceia.
❑ Pontos teológicos sobre a Eucaristia:
❑ Eucaristia como Páscoa de Cristo: A Eucaristia
– ação de graças – é a memória viva da Páscoa
de Jesus – a Eucaristia concentra a atualização
– um viver de forma atual o sacrifício de Cristo
– Paixão, Morte e Ressurreição – O
Sacramento Eucarístico é “Memorial da
Paixão e da Ressurreição do Senhor” (CIC
1330)
❑ Os Sinais Centrais da Eucaristia: Pão e Vinho:
é a matéria que Jesus usou para possibilitar a
transubstanciação – muito se especula se Jesus
fosse de outro lugar usaria outra matéria – no
âmbito teológico, como nunca poderemos saber
se a atitude de Jesus seria diferente, o fato é:
não poderemos adulterar e alterar utilizando
outras matérias.
❑ Para um israelita – pão lembra Deus –
doador desse dom – oração do Pai Nosso –
Mt 6,11: pedido do pão cotidiano – dom de
Deus e do trabalho do homem – Gn 3,29.
❑ Vinho: sinal da alegria – Israel considera o
vinho como as alegrias que Deus concede
aos homens na terra – Eclo 31,27-28 – Pr
31,6-7. também o vinho fazia parte das
oferendas e libações - 1 Sm 1,24; Os 9,4.
❑ Presença Real de Cristo na Eucaristia:
assunto pertinente e cabe a pergunta: sendo
a Eucaristia a presença real de Jesus, as
outras formas de Jesus estar presente são
irreais?
❑ Lógico que não – segundo a Encíclica
Mysterium Fidei , Paulo VI deixa claro:
❑ Não há exclusão da realidade presencial de
Cristo através dos outros sacramentos, dos
ministros ordenados, da assembleia reunida
e da onipresença de Cristo.
❑ Ao falar de presença real, o Papa fala de
presença substancial – o Cristo completo –
Deus e homem, é a Eucaristia.
❑ Para a filosofia aristotélica-tomista –
presença substancial é presença concreta –
não simbólica – nem espiritual somente,
mas real.
❑ Quando tocamos na Eucaristia – tocamos
(sangue, corpo, alma e divindade de Cristo
– Deus e homem.
❑ Na presença real temos: a substancia e o acidente
(pão e vinho) transubstanciados – mudança de
substância – o que vimos na consagração - há a
ausência do pão e do vinho e temos o corpo e
sangue de Cristo.
❑ Eucaristia como Sacrifício: ao falarmos de
sacrifício recorremos a etimologia da palavra –
sacrifício – junção de duas palavras latinas – sacro
e facere – significando: sagrado e fazer, tornar.
❑ Sacrifício significa: fazer sagrado, tornar sagrado.
❑ Sentido atual – dificuldade – “que sacrifício limpar
a casa”.
❑ Quando saímos do sentido genérico e mergulhamos
no sentido real – sentimos maravilhados, pois a
palavra sacrifício está ligada intimamente a
palavra consagração – separado para Deus –logo
tornar sagrado para Deus.
❑ Outros sentidos da palavra sacríficio:
❑ Sinal da súplica do homem e Deus que o
recebe – Massure.
❑ Homenagem a Deus sob forma de objeto
(oblatio) sofrendo este objeto um
tratamento por vezes destrutivo (immolatio)
que materializa sua transferência para o
domínio de Deus – Baciocchi.
❑ Oferenda a Deus para lhe prestar
homenagem e obter favores dele – J. Galot.
❑ A Palavra de Deus apresenta 3 tipos de
sacrifício:
❑ Holocausto: queima da oferta de animais
(machos) – exprimia ação de graças (1 Sm
6,14)
❑ Sacrifício de comunhão: termo hebraico –
zebah shelamim – sacríficio cruento com
refeição religiosa e também um sacrifício para
estabelecer uma intimidade com Deus – Dt
14,26.
❑ Sacrifício expiatório: termos hebraicos: Hattat
e Asaham – sacrifício pelo pecado – Lv 4,1-5;13
e ato de reparação pelas ofensas cometidas –
Lv 5,14-16 – chama a atenção – expiação ligada
ao sangue – sentido de vitalidade – Lv 17,11.
❑ Ligando ao sacrifício de Cristo na cruz – 2 Cor
5,21 – a ação de Deus que torna Cristo
solidário com o homem pecador – tornar esse
homem solidário – obediência e a justiça de
Cristo – em 1 Jo 2,2 – sentido sacrifical de
vítima pelo pecado.
❑ Eficácia da Comunhão: a união a Cristo e a
união entre os cristãos.
❑ Ministro da Comunhão: somente o sacerdote
validamente ordenado –se faz as vezes de
Cristo, é capaz de realizar o sacramento da
Eucaristia – Cân 900.
❑ Rito da Comunhão: dois momentos: Liturgia
da Palavra e Liturgia Eucarística – “um só e
mesmo ato de culto” – consagração das
espécies + rito da comunhão e a benção final.
❑ Sinais e Símbolos: pão de trigo e vinho de uva –
transubstanciação – pão no corpo e vinho no
sangue de Cristo – matéria e forma do
sacramento.
❑ Pão de trigo sem fermento e vinho de uva,
podendo ser vinho branco – desde que seja de
uva.
❑ A Festa de Corpus Christi foi instituída
pelo Papa Urbano IV com a
Bula ‘Transiturus’de 11 de agosto de 1264,
para ser celebrada na quinta-feira após a
Festa da Santíssima Trindade, que acontece
no domingo depois de Pentecostes.
❑ O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago
Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido
Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu
o segredo das visões da freira agostiniana,
Juliana de Mont Cornillon, que exigiam
uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.
❑ Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava
da paróquia Saint Martin. Com 14 anos, em
1206, entrou para o convento das agostinianas
em Mont Cornillon, na periferia de Liège. Com
17 anos, em 1209, começou a ter ‘visões’,exigindo
da Igreja uma festa anual para agradecer o
sacramento da Eucaristia.
❑ Com 38 anos, em 1230, confidenciou esse
segredo ao arcediago de Liège, que 31 anos
depois, por três anos, será o Papa Urbano IV
(1261-1264), e tornará mundial a Festa de
Corpus Christi, pouco antes de morrer.
❑ A festa mundial de Corpus Christi foi
decretada em 1264, 6 anos após a morte de
irmã Juliana em 1258, com 66 anos. Santa
Juliana de Mont Cornillon foi canonizada
em 1599 pelo Papa Clemente VIII.
❑ O Concílio de Trento (1545-1563), por causa
dos protestantes, da Reforma de Lutero, dos
que negavam a presença real de Cristo na
Eucaristia, fortaleceu o decreto da instituição
da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a
realizar a Procissão Eucarística pelas ruas da
cidade, como ação de graças pelo dom supremo
da Eucaristia e como manifestação pública da
fé na presença real de Cristo na Eucaristia.
❑ Em 1983, o novo Código de Direito
Canônico –cânon 944 – mantém a obrigação
de se manifestar ‘o testemunho público de
veneração para com a Santíssima
Eucaristia’e ‘onde for possível, haja
procissão pelas vias públicas’, mas os bispos
escolham a melhor maneira de fazer isso,
garantindo a participação do povo e a
dignidade da manifestação.
❑ FONTES:
❑ SÁ, Wilson Cardoso. Sacramentos I:
Iniciação a Vida Cristã. Campo Grande:
UCDB, 2017.
❑ https://formacao.cancaonova.com/divers
os/o-que-e-corpus-christi/acesso em:
21/06/2002.
❑ VATICANO, Catecismo da Igreja
Católica. Várias editoras. 2011.

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