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FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA

DANYELLE CRYSTINA FERNANDES

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO


BRASILEIRO

Diamantina-MG
2019
FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA
DANYELLE CRYSTINA FERNANDES

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO


BRASILEIRO

Artigo Científico apresentado à Faculdade Única


de Ipatinga - FUNIP, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em Direito de
Família.

Diamantina-MG
2019
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO

Danyelle Crystina Fernandes1

RESUMO

O presente estudo visa analisar a evolução do conceito de família no ordenamento


jurídico brasileiro. Sendo necessário, portanto, explicitar o conceito de Família e
suas especificidades, perpassando pela Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, pelo Código Civil de 2002, pelo Código de Processo Civil de 2015,
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, complementando com
doutrinadores expertos no assunto como Dias (2016), Diniz (2010), Madaleno
(2018), Pereira (2018) e Venosa (2013).

Palavras-chave: Família. Direito. Evolução. Direito de Família.

Introdução

Família é o nome dado ao grupo de pessoas com convivem sob o mesmo


teto, ou que tenham compatibilidade ancestral ou de mesmo interesse. É a relação
nascida do casamento. É também o grupo de coisas comuns.
Estudar-se-á a evolução do conceito de família no ordenamento jurídico
brasileiro, visando compreender suas atualizações e entender como se deu esse
processo.
Para tanto, necessário se faz, conceituar família, analisar o termo no âmbito
das legislações brasileiras como a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, o Código Civil de 2002, o Código de Processo Civil de 2015, o Estatuto da
Criança e do Adolescente e demais jurisprudências que tratem de família.
Buscar-se-á pela melhor compreensão possível das diversas formas de
família, suas classificações, direitos e deveres, tendo como base os doutrinadores
Dias (2016), Diniz (2010), Madaleno (2018), Pereira (2018) e Venosa (2013).

Desenvolvimento

1
Mestranda em Educação pela UFVJM – Campus Diamantina. Pós-Graduanda em Direito de
Família pela PROMINAS. Pós-Graduanda em Coordenação Pedagógica e Planejamento pela IMEAD.
Graduada em Direito pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG – Unidade Diamantina.
Servidora Pública efetiva da Prefeitura Municipal de Diamantina-MG.
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Família é um termo com diversas definições pela sua extensão.
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009, p. 1304) define Família
como

Família s. f. (sXIII)
1. grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto (...);
2. grupo de pessoas que têm uma ancestralidade comum ou que provêm de
um mesmo tronco;
3. pessoas ligadas entre si pelo casamento e pela filiação ou,
excepcionalmente, pela adoção;
3.1. fig. grupo de pessoas unidas por mesmas convicções ou interesses ou
que provêm de um mesmo lugar (...);
3.2. grupo de coisas que apresentam propriedades ou características
comuns (...);
• f. natural DIR. CIV família formada pelos pais, ou apenas um deles,
e seus descendentes;
• f. nuclear o grupo de família composto de pai, mãe e filhos naturais ou
adotados residentes na mesma casa, considerado como unidade básica
ou núcleo da sociedade (...);
• f. substituta DIR. CIV família estabelecida por adoção, guarda ou
tutela;
• ser f. ser honesto, recatado (nada de abusos...). (...). (grifo nosso)

Pereira (1988, p. 19) corrobora ensinando que

Uma família que experimente a convivência do afeto, da liberdade, da


veracidade, da responsabilidade mútua haverá de gerar um grupo familiar
não fechado egoisticamente em si mesmo, mas, sim, voltado para as
angústias e os problemas de toda coletividade, passo relevante à correção
das injustiças sociais.

Corroborando com os ensinamentos de Pereira (1988), a família é o suporte,


a base, o sustento de um todo. Sob a proteção integral do Estado, tem seus direitos
e garantias estatuídos nessa, que ano após ano, é atualizada através de Emendas
Constitucionais para se adequar às realidades, às modernizações da sociedade.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 226
e seguintes, trata, da Família, definindo-a como a base da sociedade.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do


Estado. (...)
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito
de suas relações. (grifo nosso)

Madaleno (2018), traz à baila uma análise do conceito de família a partir da


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, considerando a

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desconstrução da “ideologia da família patriarcal”. Citando Resende (2002, pp. 6-7)
com relevantes considerações como

(...) afeto é que conjuga. Apesar da ideologia da família parental de origem


patriarcal pensar o contrário, o fato é que não é requisito indispensável para
haver família que haja homem e mulher, nem pai e mãe. Há famílias só de
homens ou só de mulheres, como também sem pai ou mãe.
Ideologicamente, a atual Constituição brasileira, mesmo superando o
patriarcalismo, ainda exige o parentalismo: o biparentalismo ou o
monoparentalismo. Porém, no mundo dos fatos, uma entidade familiar
forma-se por um afeto tal – tão forte e estreito, tão nítido e persistente – que
hoje independe do sexo e até das relações sexuais, ainda que na origem
histórica não tenha sido assim. Ao mundo atual, tão absurdo é negar que,
mortos os pais, continua existindo entre os irmãos o afeto que define a
família, quão absurdo seria exigir a prática de relações sexuais como
condição sine qua non para existir a família. Portanto, é preciso corrigir ou,
dizendo com eufemismo, atualizar o texto da Constituição brasileira vigente,
começando por excluir do conceito de entidade familiar o parentalismo: a
exigência de existir um dos pais.

No que se refere ao Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de


13 de julho de 1990, a família é prioridade absoluta, principalmente no que se refere
às crianças e aos adolescentes, visando sempre sua segurança e seu
desenvolvimento, como discorre o artigo 19, §3º,

Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no


seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada
a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016). (...)
§ 3º. A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente à sua
família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso
em que será esta incluída em serviços e programas de proteção, apoio e
promoção, nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art.
101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada pela
Lei nº 13.257, de 2016). (grifo nosso).

Quando o artigo supracitado determina que a família natural “terá


preferência em relação a qualquer outra” insta salientar que o referido Estatuto criou
tipos de famílias para garantir que quando a situação do § 3º do artigo 19 não for
mais possível, no âmbito da família natural, o menor tenha garantida sua segurança,
educação, bem-estar, e seu direito à convivência familiar, através das chamadas
famílias substitutas, sejam elas ampliadas, extensas ou acolhedoras. Restando em
últimos casos o acolhimento institucional.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990
determina em seu capítulo III os direitos e deveres relacionados às famílias. A seção

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II desse capítulo estuda a família natural, a família ampliada ou extensa e o
reconhecimento de paternidade, cabendo destaque, no momento, o artigo 25

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos


pais ou qualquer deles e seus descendentes. (Vide Lei nº 12.010, de
2009) Vigência.
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que
se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal,
formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente
convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência. (grifo nosso).

A seção III, a partir do artigo 28, da referida Lei, organiza a família substituta
e suas especificidades, como por exemplo, a garantia da segurança e do bem-estar
do menor a ser atendido. A família substituta se dá através da Guarda, da Tutela ou
da Adoção, essa ocorre após exauridas todas as anteriores, principalmente a
possibilidade do retorno da criança ou do adolescente à sua família natural.

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda,


tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou
adolescente, nos termos desta Lei.

Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que


revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou
não ofereça ambiente familiar adequado.

Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da


criança ou adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou não-
governamentais, sem autorização judicial.

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida


excepcional, somente admissível na modalidade de adoção. (grifo nosso).

Dessa forma, entende-se que a prioridade é da família natural. Apenas


quando não for possível, ou seja, exauridos todos os procedimentos cabíveis, será a
criança transferida, por segurança, para uma família extensa, substituta ou para
instituição de acolhimento.
O Código Civil de 2002, Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002, trata da
família no Livro IV a partir do artigo 1.511, abrangendo assuntos como o casamento,
a proteção da pessoa dos filhos, as relações de parentesco, o poder familiar, entre
outros assuntos inerentes à família.

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Diniz (2010, p. 03) descreve que o direito de família regulamenta as relações
advindas do casamento, seja da consolidação ou dissolução, as relações entre pais
e filhos e demais vínculos de parentesco, inclusive os advindos da tutela e curatela.
Sousa e Waquim (2015, pp. 71-86) destacam que “tratar sobre o assunto
“família”, contemporaneamente, nos evoca a imagem de pais e filhos reunidos em
um lar acolhedor, em um ambiente de fortes laços, respeito e cuidado”, ou seja,
interliga a família ao ambiente, desmistificando, mais uma vez, a ideia de que família
é apenas o conjunto de pessoas com relação consanguínea.
Tratando-se da regulamentação dos direitos da família, Venosa (2013, p. 01)
narra que

A conceituação de família oferece, de plano, um paradoxo para sua


compreensão. O Código Civil não a define. Por outro lado, não existe
identidade de conceitos para o Direito, para a Sociologia e para a
Antropologia. Não bastasse ainda a flutuação de seu conceito, como todo
fenômeno social, no tempo e no espaço, a extensão dessa compreensão
difere nos diversos ramos do direito. Assim, sua extensão não é coincidente
no direito penal e fiscal, por exemplo. Nos diversos direitos positivos dos
povos e mesmo em diferentes ramos de direito de um mesmo ordenamento,
podem coexistir diversos significados de família. (grifo nosso)

Considerando, portanto, que não há definição do conceito família, Venosa


(2013, p. 02) continua expondo que há possibilidade de existir a família em conceito
amplo e em conceito restrito.

(...) importa considerar a família em conceito amplo, como parentesco, ou


seja, o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar.
Nesse sentido, compreende os ascendentes, descendentes e colaterais de
uma linhagem, incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do
cônjuge, que se denominam parentes por afinidade ou afins. Nessa
compreensão, inclui-se o cônjuge, que não é considerado parente. Em
conceito restrito, família compreende somente o núcleo formado por pais e
filhos que vivem sob o pátrio poder ou poder familiar. Nesse particular, a
Constituição Federal estendeu sua tutela inclusive para a entidade familiar
formada por apenas um dos pais e seus descendentes, a denominada
família monoparental (...).

E é com base nessas situações que a Lei 13.105 de 16 de março de 2015,


que instituiu o Código de Processo Civil, o qual regulamenta situações diversas em
que poderão existir litígios relacionados às diversas conceituações de família.
Para Dias (2016, p. 47) família está além da relação natural, baseada no
casamento, em pais e filhos, família é a relação existente entre pessoas com
mesmos interesses.

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(…) é um agrupamento informal, de formação espontânea no meio social,
cuja estruturação se dá através do direito”, ou seja, é a junção de pessoas,
com mesmo propósito. (…) não importa a posição que o indivíduo ocupa na
família, ou qual a espécie de grupamento familiar a que ele pertence - o que
importa é pertencer ao seu âmago, é estar naquele idealizado lugar
onde é possível integrar sentimentos, esperanças, valores e se sentir,
por isso, a caminho da realização de seu projeto de felicidade.

Entende-se, portanto, ser família parte da união de pessoas com


“convicções ou interesses” afins, seja por relação consanguínea ou não. Presume-se
que basta ter o afeto para ser considerado família. Família é ainda o ser honesto,
entende-se por pessoa de família, uma pessoa recatada, reservada, conservadora,
que deseja sempre o bem.
Pereira (2018, p. 38) considera “(...) família o conjunto de pessoas que
descendem de tronco ancestral comum. (...) acrescenta-se o cônjuge, aditam-se os
filhos do cônjuge (enteados), os cônjuges dos filhos (genros e noras), os cônjuges
dos irmãos e os irmãos do cônjuge (cunhados)”.

Conclusão

O termo família remete a tudo que é bom, prazeroso e certo.


Dizer que determinada pessoa é família, entende-0se que é honrada,
recatada, educada.
É com base nisso que se propôs esse trabalho, esclarecendo que toda
família, seja como for constituída, deve ser honrada e respeitada.
Indiscutivelmente será dada preferência à família natural, mas sabe-se que
se estadas todas as possibilidades, uma família extensa será formada. Não sendo
possível essa, a substituta surge, de forma sublime, garantindo os mesmos direitos e
deveres.
Os três tipos de famílias ora analisados, tem o mesmo “peso” na garantia da
educação, saúde, segurança e no desenvolvimento social do grupo.
No que se refere às instituições de acolhimento só ocorrem quando
exauridas todas as tentativas de famílias anteriores.
Quanto ao conceito de família propriamente dito, família não é apenas a
comunhão entre homem e mulher, mas a família constituída por apenas um deles e
seus filhos, ou por pares do mesmo sexo, ou por tutores ou curadores, além das
formações dadas através da lateralidade familiar.
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REFERÊNCIAS

BARROS, Sérgio Resende. A ideologia do afeto. Revista Brasileira de Direito de


Família. Porto Alegre: Síntese e IBDFAM, v. 14, 2002, pp. 6-7. In: MADALENO, Rolf.
Direito de Família. 8 ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2018, p.
45.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069 de 13/07/1990.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm.
Acessado em: abril de 2019.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2016, p. 47.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Direito de Família. v. 5. 25 ed.
São Paulo: Editora Saraiva, 2010, p. 03.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed.


Objetiva, 2009, p. 1304.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Direito de Família. v. 5.


26 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2018, p. 38.

PEREIRA, Sérgio Gischkow. Tendências modernas do direito de família. Revista dos


Tribunais. São Paulo, v. 628, pp. 19-39, fev. 1988.

PROMINAS. Direito de Família e Sucessões. Apostilas do curso de Pós-Graduação.


Faculdade PROMINAS, 2018-2019.

SOUSA, Mônica Teresa Costa de; WAQUIM, Bruna Barbieri. Do direito de família ao
direito das famílias: a repersonalização das relações familiares no Brasil. Revista de
Informação Legislativa. Ano 52. Número 205. jan./mar. 2015. pp. 71-86.

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