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A Superioridade Ilusória

Antes de pensar no seu chefe ou formar uma imagem mental daquele chato que sempre
conta vantagem em tudo, saiba que superioridade ilusória não é a mesma coisa que
complexo de superioridade.

A superioridade ilusória é uma viés cognitivo que faz com que as pessoas superestimem suas
habilidades positivas e subestimem suas qualidades negativas, em relação aos outros.

Antes de prosseguirmos uma breve pausa lexicômica.

Ilusões positivas são descritas como as atitudes positivas absolutamente e totalmente


irrealísticas que os humanos tem em relação a si mesmos. Existem hoje basicamente três
categorias diferentes e bem abrangentes de ilusões positivas:

1- a avaliação exagerada de nossas próprias capacidades;


2- o otimismo irreal sobre o futuro;
3- a ilusão de controle.

Fim da pausa.

A superioridade ilusória é uma ilusão positiva que vem sendo estudada de forma extensiva
dentro da psicologia social e costuma ser referida em termos leigos como o Efeito Acima da
Média. O Efeito Acima da Média faz as pessoas terem uma imagem própria mais positiva e
menos negativa do que a imagem que as pessoas que a cercam tem dela.

Mas e o que eu posso ter remotamente a ver com isso tudo?

Todo mundo, e eu digo TODO MUNDO MESMO, desenvolve opiniões baseadas em


comparações. Se não houve se algo com o que se comparar não saberíamos se uma coisa é
redonda ou quadrada, doce ou salgada, não haveria como formar uma escala de bom e ruim
e o mundo seria possivelmente um lugar ainda mais sem graça de se viver.

Muitas pessoas, e eu digo MUITAS PESSOAS MESMO, formam suas opiniões tomando como
base comparações sociais. Essas comparações podem ser baseadas no seu desempenho
acadêmico, nos seus ambientes de trabalho ou em seu ambiente social - ou seja em
qualquer lugar que não seja debaixo da sua cama ou dentro do seu lavabo[1].

Paralelo a isso, durante a vida uma pessoa tem uma visão bem específica a respeito de sua
popularidade, sua honestidade, sua confiança e outros atributos que possa julgar desejáveis.

Agora como esses dois fatores se combinam para termos nossa ilusão positiva?

[Todo mundo precisa de um comparativo] + a grande parte das pessoas faz comparativos
sociais] x [cada um de nós tende a ser mais otimista do que pessimista a nosso próprio
respeito] = nem fodendo eu vou fazer papel de idiota, só porque aquele cara é formado não
quer dizer que eu seja pior do que ele!

Assim, observe uma pessoa sem diploma de medicina, tentando discutir um diagnótico com
um médico. Ou alguém que não sabe nada de mecânica tentando discutir com um mecânico
na oficina. Ou tende reparar nos argumentos que um possível cliente usa para diminuir ainda
mais o orçamento que você pediu para fazer determinado trabalho. A idéia não é querer
mostrar que o outro está errado, mas que você - ou a pessoa - está em pé de igualdade,
mas tem uma visão mais clara. Acaba funcionando quase como um sistema imunológico
mental.

Já foi registrado que pessoas com um QI mais baixo possuem um senso de Superioridade
Ilusória muito forte. Mas por que isso acontece? Em um mundo que tem Darwin como um de
seus pilares não deveria favorecer os mais preparados? Por que os menos preparados são os
que geralmente tem uma sensação de superioridade mais forte?
Em 1999 Justin Kruger e David Dunning realizaram uma série de experimentos que
mostraram que quando falamos de habilidades como compreensão de leitura, operação de
veículos motorizados, e jogar xadrez ou tênis, a "ignorância, com mais freqüência do que o
conhecimento, gera confiança". Analisando os resultados de seus estudos, dada uma
habilidade típica que humanos possam possuir em maior ou menor grau, eles propuseram
quatro hipóteses interessantes:

1. Indivíduos incompetentes tendem a superestimar seu próprio nível de habilidade;

2. Indivíduos incompetentes não reconhecem habilidade genuína em outros;

3. Indivíduos incompetentes não reconhecem o grau extremo de sua inadequação;

4. Se treinados substancialmente para melhorar seu nível de habilidade, estes indivíduos


serão capazes de reconhecer e admitir sua prévia falta de habilidade.

Isso pode ser resumido da seguinte forma, a não ser que uma pessoa sem nenhuma
habilidade passe por um treinamento e condicionamento extensivo, ela permanecerá
tomando más decisões e chegando a conclusões errôneas e como bônus, sua incompetência
lhes impedirá de apreciar e aprender com seus erros.

Ok, agora parece que estamos falando do seu chefe, mas se atente à sutileza. Em um estudo
realizado em 2006, tentaram determinar o grau de inacuidade das pessoas em relação às
suas reais habilidades como motoristas, como resultado, os testes mostraram que os
motoristas sempre se qualificavam superiores à concorrência em mais de 18 ítens que
tinham relação com sua habilidade de dirigir, claro que eles não sabiam qual era a finalidade
do teste, que foi apresentado como um teste para determinar a percepção que cada um
tinha de perigos no trânsito.

Outro efeito da superioridade ilusória é se criar uma ilusão que envolve sua capacidade de
jogar e apostar. Por alguma razão as pessoas pensam com frequência que podem levar uma
vantagem sobre jogadores profissionais de poker, deixando de lado qualquer bom senso
relacionado às estatísticas sobre perdas e experiência, e claro que quando os jogos
terminam, a culpa sempre recai sobre alguma falha externa ou algo que sua expertize não
previu.

Tenha sempre em mente que provavelmente você não é tão esperto ou esperta quanto seu
cérebro diz que você é. A humildade afinal pode ser a melhor maneira de hackear seu
cérebro e não ser enganado por ele.

8 formas de hackear seu cérebro

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