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Professor: Diogo Mendes

Exercícios Memórias Póstumas de Brás Cubas


1. (FUVEST – 2014) No breve “Prólogo da 3a edição” das Memórias póstumas de Brás Cubas,
assinado pelo autor, Machado de Assis, constava o seguinte trecho:

Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava: “As Memórias póstumas de Brás
Cubas são um romance?” Macedo Soares, em carta que me escreveu por esse tempo, recordava amigamente
as Viagens na minha terra. Ao primeiro respondia já o defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no
prólogo dele que vai adiante) que sim e que não, que era romance para uns e não o era para outros. Quanto
ao segundo, assim, se explicou o finado: “Trata-se de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a
forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de
pessimismo”. Toda essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett na terra dele, Sterne na
terra dos outros. De Brás Cubas se pode talvez dizer que viajou à roda da vida.
O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama “rabugens de pessimismo”. Há na alma
deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir dos seus
modelos. É Taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho.
Machado de Assis

Considerando esse trecho no contexto da obra à qual se incorpora, atenda ao que se pede.
a) Identifique um aspecto das Memórias póstumas de Brás Cubas capaz de ter suscitado a dúvida expressa
por Capistrano de Abreu. Explique resumidamente.
b) Em que consistem os “lavores de igual escola”, a que se refere o autor, no final do trecho? Explique
sucintamente.

2. (FUVEST 2013 - Adaptada) No excerto abaixo, narra-se parte do encontro de Brás Cubas com Quincas
Borba, quando este, reduzido à miséria, mendigava nas ruas do Rio de Janeiro:

Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, a menos limpa, e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele
recebeu-ma com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado.
- In hoc signo vinces!* bradou.
E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um
sentimento misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e
pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de
cinco mil-réis.
- Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
- Sim? acudiu ele, dando um bote para mim.
- Trabalhando, concluí eu.

*“In hoc signo vinces!”: citação em latim que significa “Com este sinal vencerás” (frase que teria aparecido
no céu, junto de uma cruz, ao imperador Constantino, antes de uma batalha).
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

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Tendo em vista a autobiografia de Brás Cubas e as considerações que, ao longo de suas Memórias
póstumas, ele tece a respeito do tema do trabalho, comente o conselho que, no excerto, ele dá a
Quincas Borba: “ Trabalhando, concluí eu”.

3. (UNICAMP – 2004) (...) Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p.101.)

Então apareceu o Lobo Neves, um homem que não era mais esbelto que eu, nem mais elegante, nem mais
lido, nem mais simpático, e todavia foi quem me arrebatou Virgília e a candidatura... (...) Dutra veio
dizerme, um dia, que esperasse outra aragem, porque a candidatura de Lobo Neves era apoiada por grandes
influências. Cedi (...). Uma semana depois, Virgília perguntou ao Lobo Neves, a sorrir, quando seria ele
ministro.
- Pela minha vontade, já; pela dos outros, daqui a um ano. Virgília replicou:
- Promete que algum dia me fará baronesa?
- Marquesa, porque serei marquês.
Desde então fiquei perdido.
(Idem, p.138.)
(...) Virgília deixou-se estar de pé; durante algum tempo ficamos a olhar um para o outro, sem articular
palavra. Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos
depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose,
mas enfim saciados.
(Idem, p. 76)

a) No romance, Brás Cubas estabelece vínculos amorosos, em diferentes momentos, com Marcela e com
Virgília. Explique a natureza desses dois vínculos, considerando a classe social das personagens envolvidas.
b) Considerando o último excerto, como o narrador Brás Cubas avalia sua vivência amorosa ao final do
romance?

4. (UNICAMP – 2013) Leia os seguintes trechos de Viagens na minha terra e de Memórias Póstumas
de Brás Cubas:

Benévolo e paciente leitor, o que eu tenho decerto ainda é consciência, um resto de consciência: acabemos
com estas digressões e perenais divagações minhas.
(Almeida Garret, Viagens na minha terra. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1969, p.187.)

Neste despropositado e inclassificável livro das minhas Viagens, não é que se quebre, mas enreda-se o fio
das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode
deslindar e seguir em tão embaraçada meada.
(Idem, p. 292.)

Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás íntimo, por
que o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo

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são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam
o céu, escorregam e caem...
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, em Romances, vol I. Rio de Janeiro:
Garnier, 1993, p. 140.)

a) No que diz respeito à forma de narrar, que semelhanças entre os dois livros são evidenciadas pelos
trechos acima?
b) Que tipo de leitor esta forma de narrar procura frustrar, e de que maneira esse leitor é tratado por
ambos os narradores?

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