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A Didática no Ensino de Ciências

Publicado em 19 de February de 2009 por Isolde Inês Wagner Konzen

A DIDÁTICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS

Isolde Inês Wagner Konzen¹

Resumo:

No presente artigo busco apresentar algumas contribuições relevantes para a formação


profissional dos professores em ciências e de que forma estes devem ter a preocupação
permanente de utilizar, da forma mais ampla possível, os conhecimentos didáticos desenvolvidos
em ciências bem como em outras áreas interdisciplinares.

Palavras-Chave: formação profissional, investigação, natureza, desafios.

1 - Introdução:

Ao considerar as diversas possibilidades e métodos de como desenvolver e ensinar Ciências no


Ensino Fundamental (séries iniciais), é importante considerar a impossibilidade do educador, ter
todas as respostas, quando se tratam de temas tão abrangentes quanto estes, que se referem à
compreensão de um estudo mais amplo sobre Ciências Naturais. De acordo com (BORGES,
R.M.R. e MORAES, R., 1998, p.15), "O conhecimento prévio dos alunos deve ser o ponto de
partida para a sua aprendizagem".

Para isso é importante que os professores estejam bem preparados e seguros de sua prática
docente, para terem condições de orientar e preparar seus alunos para a aprendizagem,
colaborando com eles na construção do conhecimento, encarando as dificuldades do cotidiano
dos alunos, e que a aprendizagem escolar assuma um significado mais amplo e permita que este
aluno melhore suas próprias condições de vida e desta forma possa modificar também o meio
onde vive.

A verdadeira educação, para Paulo Freire (1987), consiste na educação problematizadora, porque
ela objetiva o desenvolvimento da consciência crítica e a liberdade de superar as contradições da
educação bancária. Em relação ao material

________________________________________________________________

¹ Graduada pela Faculdade de Educação, do curso de Pedagogia, habilitação em Séries Iniciais


na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul)

de ensino este se deve prestar a todas as possíveis combinações e realizações, podendo ser
adaptável a qualquer faixa etária. A exemplo, as experiências jamais devem ser feitas na frente
do aluno, e sim, devem ser feitas pelo aluno.Desta maneira o professor assume o papel de ser o
facilitador da aprendizagem.

Em razão da rapidez dos avanços tecnológicos e da mídia, uma grande parte de professores não
conseguem sequer falar a mesma linguagem dos alunos e a comunicação e o ensino-
aprendizagem ficam comprometidos. Muitas vezes estes professores sofrem com a má formação
que tiveram, outras vezes por comodismo não buscam alternativas, desafios nem a formação
continuada. Este professor despeja as coisas prontas, não desafiando seus alunos a buscar novos
conhecimentos, que ainda não tem respostas.

Neste artigo pretende-se apresentar uma proposta que auxilie estes professores a estimular seus
alunos a construírem e formularem conceitos significativos por si mesmos, destacando algumas
habilidades e atitudes através da observação, do questionamento e da experimentação.

2 – Ensino e Aprendizagem por meio das inteligências múltiplas.

Inteligência é um conjunto de habilidades. Ela é construída e formada através da estimulação de


diversas habilidades. Por isso, o educador em Ciências Naturais deve ter este conjunto de
conhecimentos relacionados a Ciências como: biologia, botânica, zoologia ou entomologia,
porque através destas, pode investigar junto com os alunos, as origens, o crescimento e a
estrutura dos seres vivos.

Ao ensinar Ciências o professor deverá alimentar e excitar seus alunos que ao aprenderem a
desvendar os mistérios do mundo natural também serão capazes de explorar o mundo que é feito
e transformado pelo homem, e desta forma, terão condições de entender como este mundo
funciona. No momento que esta criança começa a interagir e a explorar o meio em que vive, vai
adquirindo autoconsciência e conhecimento do mundo a sua volta.Segundo (Campbell, L.;
Campbell, B.; Dickinson,D., 2000, p.205), "Todos nós usamos habilidades da
inteligêncianaturalista quando identificamos pessoas, plantas, animais e outras
características em nosso ambiente". Com este estudo a criança passa a compreender a si
mesmo e a natureza como um todo dinâmico e aprende que faz parte do mundo em que vive.

Para que isto realmente aconteça o professor deverá dar oportunidades aos alunos de melhorar a
sua observação, estimulando-os a fortalecer suas percepções para que eles possam realmente ser
capazes se concentrar e prender a atenção, e com isto terem condições de desenvolverem não só
a concentração, mas terem condições de observar e despertar para novas idéias.

Na medida em que o professor está atento aos alunos e a eles dá oportunidades de


desenvolverem habilidades, deixa-os mais livres para fazerem perguntas e questionar sobre os
mistérios do mundo naturalista, com isto, estes alunos passam a ter condições de observar,
refletir e experimentar ao mesmo tempo em que passam a integrar estas habilidades do
pensamento naturalista em várias outras disciplinas.

2.1 Meios e processos de ensino-aprendizagem

O trabalho com diferentes fontes de informação deve ser competência de o educador saber
utilizá-las, objetivando o ensino de maneira geral, quanto o ensino de Ciências Naturais. Ao
planejar suas aulas, onde a busca de informação é importante, além de conhecer seus alunos ele
também precisa prepará-los para tal atividade, procurando ser coerente com o trabalho de vai
desenvolver.

2.1a- Diários de Classe e de Campo

O sentido fundamental do diário é o de ele se converter em espaço narrativo dos pensamentos


dos professores, na medida em que também proporciona aos alunos um instrumento de apoio e
avaliação e que estas anotações resolvam certos problemas dos próprios alunos. Segundo
Zabalza (2004), deixa bem clara a finalidade do mesmo, de poder voltar às anotações em outro
momento e analisá-las com tranqüilidade, construindo uma imagem mais completa da situação a
partir da narração. Considera-se importante, em relação aos diários dos alunos, que cada um
possa ter sua privacidade garantida, caso não queira que algum parecer venha a público.

2.1b - Fazer Coleções

Incentivar os alunos a colecionar é uma maneira estimulante de ensinar. Este recurso permite aos
alunos criarem suas próprias preferências na medida este recurso permite observação e
classificação e desta forma os alunos terão condições de detalhar quaisquer tipos de conteúdos
trabalhados.

2.1c - Entender as cadeias alimentares

Por mais chocante que possa parecer é necessário que os alunos aprendam o processo da cadeia
alimentar. Que todos os seres vivos de um ecossistema alimentam-se um do outro. Geralmente
animais maiores alimentam-se dos menores. Que há os produtores, os consumidores e aqueles
que decompõem.

2.1d - O desenho como observação atenta

O desenho é um meio eficiente que os professores podem utilizar com seus alunos para facilitar
o aprendizado e registrar observações. "Aprendi que aquilo queeu não desenhei, jamais
realmente vi e que, quando eu começo a desenhar uma coisa comum, percebo com ela é
extraordinária". (Campbell, L.; Campbell,B. e Dickinson, 2000, p.211).Os professores ao se
auto-avaliarem: ação-reflexão-ação, precisam perceber que muitas vezes os alunos têm em mente
uma idéia e esta passa a existir a partir de um desenho e/ou para os menores simples rabiscos,
cabendo a ele neste momento a sensibilidade de descobrir o sentido de cada desenho.

3 – O ensino-aprendizagem como investigação

Vamos analisar uma situação que, apesar de ser fictícia, pode ser muito comum em nossas
escolas. Duas professoras de séries iniciais ao abordarem o tema de ciências, utilizam-se de
métodos diferenciados. Percebe-se que as duas professoras tiveram as melhores das intenções ao
abordar a proposta de ensino com seus alunos, as professoras Silvia e Cátia.

Para uma melhor compreensão cito(Campos, M.C.C..; Nigro, R.G.,1999 p.2), "Silvia éuma
professora bastante preocupada com a motivação de seus alunos. Ela acredita que sempre é
importante incluir atividades práticas ou de observação em suas aulas".

Já a professora Cátia, que tem muitos anos de experiência como professora, quando planeja suas
aulas de ciências, não precisa se preocupar com a didática que irá utilizar. Ela se refere aos
trabalhos anteriores em outras turmas de 3ª séries. Sabemos que cada professor deve ter em mãos
propostas concretas e estratégias que utilizará e que realmente contribuam e sejam significativas
para a aprendizagem, e estar ciente de cada turma tem suas diferenças e peculiaridades.
Retomando a metodologia que cada professora utilizou ao trabalhar sobre o mesmo assunto e
com alunos da mesma faixa etária, foi muito grande, porque cada uma utilizou recursos e
estratégias muito diferentes para desenvolver o trabalho.

Comparando os métodos que cada professora aplicou, considera-se que os professores que
realmente querem fazer a diferença em relação ao ensino-aprendizagem precisam ser criativos.
Não há razões para lamentações do tipo: não tenho material didático em sala de aula, a escola é
muito pobre, os pais não participam. Os próprios alunos poderão criar e desenvolver materiais de
estudo, sempre há uma saída, uma maneira, quando se educa com responsabilidade. Deve-se
sempre motivar os alunos para que as aulas sejam mais interessantes, incluindo diversas
atividades que realmente prendam a atenção e que eles também possam interagir entre si, numa
troca de experiências.

4 –Educação em ciências nas séries iniciais

Ao ensinar ciências é importante o professor considerar a realidade onde as crianças vivem,


porque disto vai depender à maneira de como cada aluno vai perceber o mundo em que vive e
servirá de ponto de partida para sua aprendizagem.

Para que isto aconteça o professor de ciências precisa desenvolver métodos e técnicas
interessantes e adaptar o estudo a realidade dos alunos e levá-los a desafiar, refletir as diferentes
propostas que envolvem a compreensão do nosso corpo e do meio ambiente.Segundo (Borges,
R.M.R.;Moraes,R.,1998, p.20), "As ciências nos desafiam justamente a encarar os paradoxos
e buscar o desconhecido. O que torna isso possível é a criatividade e a invenção". Por isso
dá importância do professor ao ensinar ciências possuir conhecimentos e ter acesso a um novo
conhecimento, partindo de algo que já sabe e conhecee isso dá a ele base para pesquisar junto
com os alunos e ir a busca do novo, do diferente. Isso será possível na medida em que os alunos
exercitam sua criatividade num espírito de superação das ciências que limitam a realidade e vão
em busca de diferentes maneiras de perceber e interpretar o mundo. As crianças tornam-se mais
criativas quando não forem tolhidas de suas aspirações, sonhos, imaginação e fantasia.

Outra proposta interessante, que os professores proporcionem aos seus alunos atividades em
grupo, para que eles tenham condições de se expressar melhor. Através de jogos, desafios,
brincadeiras, eles constroem e ampliam seus conhecimentos. O resultado deve ser explorado e
discutido de maneira que envolva toda a turma e é através deste fechamento que o professor
saberá se o conteúdo foi apreendido ou até retomá-lo novamente, podendo a partir daí surgirem
novas perguntas.

Conclusão:

Um educador, mediador, de conhecimentos em Ciências Naturais precisa ser um profissional


competente, reflexivo e gostar do seu trabalho. Segundo Paulo Freire ter amorosidade pelos seus
alunos. Ter autoridade sem ser autoritário. Saber desenvolver e analisar as práticas educativas e
pedagógicas, propondo atividades com o propósito de refletir e problematizar sobre os conteúdos
propostos, e que este professor se auto-avalie constantemente para ter condições de saber onde
falhou e como vai planejar melhor. Procurar alternativas, rever os conteúdos, fazer ajustes para
que o ensino-aprendizagem, esta reciprocidade,aconteça todos os dias e a sala de aula se torne
um ponto de encontro na troca de conhecimentos.

Referências:

BORGES, R.M.R.; MORAES, R. Educação em Ciências nas séries iniciais. Porto Alegre:
Sagra-Luzzatto, 1998.

CAMPBELL,L.; CAMPBELL,B.; DICKINSON,D. Ensino e aprendizagem por meio das


inteligências múltiplas. Porto Alegre:Artes Médicas,2000.

CAMPOS, M.C.C.; NIGRO, R.G. Didática de Ciências. O ensino-aprendizagem como


investigação. São Paulo:FTD, 1999.

FREIRE, PAULO. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.


ZABALZA, MIGUEL A.. Diários de Aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento
profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.

O que ensinar em Ciências


A tendência atual da disciplina é fazer com que o aluno observe, pesquise em diversas
fontes, questione e registre para aprender
POR:
Beatriz Santomauro
01 de Janeiro | 2009

Por quê? Essa é uma das perguntas que as crianças fazem com bastante frequência. Elas têm
curiosidade em saber a origem das coisas e as causas dos fenômenos da natureza e em explorar
aquilo que lhes parece diferente, intrigante. A disciplina de Ciências, quando bem trabalhada na
escola, ajuda os alunos a encontrar respostas para muitas questões e faz com que eles estejam em
permanente exercício de raciocínio.

Pela importância da área para a Educação, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos


(Pisa) - exame que mede o nível de ensino em diversos países, de três em três anos - investiga
como os estudantes de 15 anos estão em relação ao aprendizado desses conhecimentos.
Infelizmente, o resultado do Brasil deixa a desejar: em 2006, o país ficou em 52º lugar (de um
total de 57 nações participantes). Uma das principais causas apontadas para o fracasso é a
maneira de ensinar a disciplina, que muitas vezes é apoiada em concepções equivocadas e não
desperta o interesse das turmas.

"Trabalhar os conteúdos de Ciências é dar oportunidade a crianças e jovens de entender o mundo


e interpretar as ações e os fenômenos que observam e vivenciam no dia a dia", diz Luciana
Hubner, formadora de professores e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Com a tecnologia mais presente na vida das pessoas, ter conhecimento científico também
significa estar preparado para analisar as questões da contemporaneidade e se posicionar frente a
elas - alguns dos objetivos da disciplina.

A percepção sobre a importância da área de Ciências na escola e na formação dos alunos é


relativamente recente. Basta notar como ela demorou para ser incorporada ao currículo. Na
concepção que vigorou do século 19 à década de 1950, impregnada de ideias positivistas,
predominava o pensamento de que essa área do conhecimento era sempre neutra em suas
descobertas e que os saberes delas decorrentes seriam verdades únicas e definitivas.

A maneira de ensinar também passou décadas apoiada na reprodução dos mesmos padrões.
Acreditava-se que os fenômenos naturais poderiam ser compreendidos com base apenas na
observação e no raciocínio, bastando para isso que os estudantes fossem levados a conhecer todo
o patrimônio científico produzido até então e a memorizar conceitos. A metodologia que tem no
professor e no livro didático o centro da transmissão de saberes ficou conhecida como tradicional
ou conteudista - e ainda hoje está presente nas salas de aula.
Investimento em tecnologia e reprodução de procedimentos

Somente nos anos 1960 é que essa prática pedagógica começou a ser questionada. O movimento
que se contrapôs a ela surgiu nos Estados Unidos, estendeu-se para a Inglaterra e a França e
chegou, com menos força, ao Brasil. No cenário mundial, havia uma disputa econômica acirrada
entre os países e entre blocos econômicos. Portanto, desenvolver tecnologias e saber usá-las para
produzir riquezas começou a ser fundamental para o sucesso de uma nação. Era preciso formar
mais e mais pessoas com capacidade de criar produtos, métodos e procedimentos que gerassem
divisas. Nas escolas, era necessário incentivar a formação de profissionais com esse perfil e
acreditou-se que o caminho para isso era levar os alunos a reproduzir os passos que cientistas já
haviam trilhado ao fazer suas descobertas.

Mitos pedagógicos

Aula deve ser experimental


Uma atividade prática não carrega em si todos os conteúdos que se quer ensinar, assim como não
é necessariamente o procedimento principal ou obrigatório no ensino de Ciências. As aulas em
laboratório devem fazer parte de uma sequência didática que envolva exposições teóricas,
registros dos alunos e confrontações de ideias.

Experiência, só em laboratório
Aula prática não depende de equipamentos de alta tecnologia. Com material alternativo também
é possível produzir experimentos que levam à construção de conceitos pelos alunos. Observações
de fenômenos podem ser feitas no pátio da escola ou na vizinhança.

Memorizar nunca mais


É um erro reduzir os aprendizados de Ciências a apenas uma lista de enunciados a serem
decorados. Porém a memorização às vezes é importante depois de entender os conteúdos. Nem
toda terminologia deve ser abandonada. Ela tem sentido e deve ser valorizada por meio de
objetivos claros.

Teoria e prática juntas no processo de investigação

O ensino tornou-se experimental, no chamado modelo da redescoberta ou tecnicista: a prática


seguia roteiros preestabelecidos, num passo-a-passo encadeado para chegar aos resultados
previstos. Ele se contrapôs ao tradicional ao valorizar a ação científica, mas manteve o aluno na
passividade e continuou a dar ênfase às definições acabadas.

Somente nos anos 1970, em estudos feitos com base em descobertas sobre como a criança
aprende, se percebeu a necessidade de o aluno fazer seu próprio percurso, respeitando as ideias
que ele já tinha sobre o conteúdo. Diferentemente da abordagem tecnicista, o fundamental
passou a ser se apoiar em questões que fizessem sentido para o aluno e assim despertassem a
curiosidade e o interesse pelo conhecimento. A chamada perspectiva investigativa começou a
tomar corpo e hoje é apontada como a mais adequada para o ensino da disciplina.

Maria Teresinha Figueiredo, coautora das Expectativas de Aprendizagem de Ciências da


prefeitura de São Paulo, explica que Ciências só se aprende quando há uma situação para
resolver, um problema bem colocado que incentive a busca de respostas que não sejam óbvias
nem organizativas ou classificatórias: "Não é prática versus teoria, mas é prática com teoria o
tempo todo. Os conteúdos não precisam necessariamente estar dispostos de maneira linear, mas
organizados como uma rede de informações". Para entrar em contato com essa maneira de
estudar, o aluno deve aprender a levantar hipóteses, interpretar os resultados, elaborar problemas,
recolher dados, pesquisar, fazer registros, planejar a ação e aplicá-las a novas circunstâncias.

O pontapé inicial é a exposição de uma situação-problema, um impasse do diaa- dia para o qual a
turma mobiliza o que já sabe para tentar solucioná-la. Perguntas do tipo "por que o leite derrama
quando ferve?" e "por que os alimentos cozinham mais rápido na panela de pressão?" são alguns
exemplos.

Para encontrar a solução, o aluno se vale de ideias e conhecimentos que já tem antes de procurar
explicações nos livros. Ele agora participa ativamente da aula, planejada para propiciar e
valorizar sua iniciativa. O professor, além de ser fonte de informação, passa a ter a função de
orientar as ações. O livro didático tornase apenas um dos materiais de consulta. Para Antonio
Carlos Pavão, docente da Universidade Federal de Pernambuco e diretor do Espaço Ciência,
tanto o estudante como o docente assumem o papel de pesquisador, ficando esse último com a
função também de conduzir a investigação e instrumentalizar a criança para que ela aprenda com
autonomia. Internet, museus, revistas, livros científicos e paradidáticos e programas de televisão
fazem parte do material de pesquisa. "Cabe ao educador ensinar a turma a usar essas ferramentas,
filtrar os dados, contrapor informações e auxiliar a criança a elaborar uma versão adequada para
o que acabou de aprender", afirma Pavão.

O valor didático da experiência depende da forma como é feita

Falar e escrever sobre as descobertas é parte do caminho para dominar e usar a linguagem
específica que aparece em textos científicos, gráficos e tabelas. "Enquanto o aluno re-elabora sua
percepção anterior de mundo, ao entrar em contato com a visão trazida pelo conhecimento
científico, ele também se apropria de novas linguagens", diz Luis Carlos de Menezes em um dos
capítulos do livro O Desafio de Ensinar Ciências no Século XXI.

A observação e a investigação são fundamentais para entender os fenômenos naturais ou


produzidos em laboratório. Contudo, o valor didático da experiência ou de uma saída da escola
para estudo depende da forma como elas são realizadas. Os experimentos (antes usados somente
para comprovar conhecimentos já recebidos em aulas teóricas) agora assumem a função de
permitir o relacionamento entre conteúdos e de facilitar a formulação de conceitos, sempre com a
intervenção do professor.

Pela metodologia investigativa, a avaliação faz parte do processo de aprendizagem do aluno e do


redirecionamento do planejamento do professor: mais do que verificar se os conteúdos foram
aprendidos, ela contribui na identificação das dificuldades e no trabalho de aperfeiçoamento dos
procedimentos de ensino. As Orientações Curriculares propostas pela prefeitura de São Paulo
dizem que "erros, conf litos e soluções de problemas se mostram como aspectos positivos na
aquisição de novos conhecimentos e fazem parte do cotidiano da escola". Mais que as respostas
corretas ou erradas, o processo de avanço de cada um dos alunos também deve ser levado em
conta.
5 perguntas para Eduardo Schechtmann

Professor do 8º e 9º ano e coordenador de Ciências na Escola Comunitária de Campinas, em


Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo.

Quais os objetivos da disciplina no Ensino Fundamental?


Entender a área do ponto de vista conceitual e procedimental e desenvolver habilidades que
formem indivíduos autônomos e seletivos na aquisição do conhecimento.

Como devem ser as atividades?


Elas precisam desenvolver a capacidade de ouvir, falar, argumentar e respeitar diferentes pontos
de vista.

Quais as melhores estratégias para ensinar os conteúdos?


Observação e registro, estudos do meio, aulas expositivas, confecção de mapas conceituais,
leitura, produção de textos e discussão em grupo.

Quais são as priorizadas em suas aulas?


Todas as que estimulam uma postura mais pró-ativa e criativa e que façam os alunos
participarem.

Como a maneira de ensinar impacta a formação dos alunos?


Espero que minhas aulas ajudem a garotada a compreender a realidade dentro da sua
complexidade.

Linha do tempo do ensino de Ciências no Brasil

1879 É fundada a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro. Professores seguem o pressuposto de


que o aluno descobre as relações entre os fenômenos naturais com observação e raciocínio.

1930 A Escola Nova propõe que o ensino seja amparado nos conhecimentos da Sociologia,
Psicologia e Pedagogia modernas. A influência desses pensamentos não modifica a maneira
tradicional de ensinar.

1950 Os livros didáticos são traduções ou versões desatualizadas de produções europeias, e


quem leciona a disciplina são profissionais liberais. Vigora a metodologia tradicional, baseada
em exposições orais.

1955 Cientistas norte-americanos e ingleses fazem reformas curriculares do Ensino Básico para
incorporar o conhecimento técnico e científico ao currículo. Algumas escolas
brasileiras começam a seguir a tendência.

1960 A metodologia tecnicista chega ao país, defendendo a reprodução de sequências


padronizadas e de experimentos, que devem ser realizados tal como os cientistas os fizeram.

1961 Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), passou a ser obrigatório o
ensino de Ciências para todas as séries do Ginásio (hoje do 6º ao 9º ano).

1970 A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência critica a formação do professor em


áreas específicas, como Biologia, Física e Química, e pede a criação da figura do professor de
Ciências. Sem sucesso.

1971 A LDB torna obrigatório o ensino de Ciências para todas as séries do 1º Grau (hoje Ensino
Fundamental). O Ministério da Educação (MEC) elabora um currículo único e estimula a
abertura de cursos de formação.

1972 O MEC cria o Projeto de Melhoria do Ensino de Ciências para desenvolver materiais
didáticos e aprimorar a capacitação de professores do 2º grau (hoje Ensino Médio).

1980 As Ciências são vistas como uma construção humana e não como uma verdade natural. São
incluídos nas aulas temas como tecnologia, meio ambiente e saúde.

1982 Surge o modelo de mudança conceitual, que teve vida curta. Ele se baseia no princípio de
que basta ensinar de maneira lógica e com demonstrações para que o aprendiz modifique ideias
anteriores sobre os conteúdos.

2001 Convênio entre as Academias de Ciências do Brasil e da França implementa o programa


ABC na Educação Científica - Mão na Massa para formar professores na metodologia
investigativa.

Fontes parâmetros curriculares nacionais / inovação educacional no Brasil: problemas e


perspectivas, Walter Garcia (coord.) / história da educação e da pedagogia, Maria Lúcia de
Arruda Aranha / formação continuada de professores de ciências no âmbito ibero-americano,
L.C. Menezes (org.) / o livro didático de ciências no Brasil, Hilário Fracalanza (org.)

Metodologias mais comuns no ensino de Ciências

O ensino de Ciências dos últimos 50 anos adotou estratégias diferentes. Confira.

TRADICIONAL
Também chamada de conteudista ou convencional. Predominou desde o século 19 até 1950 e,
embora não seja considerada a mais adequada para as práticas atuais, ainda é adotada.
Foco: Tomar contato com os conhecimentos existentes sobre determinado tema.
Estratégia de ensino: Aulas expositivas, sendo o professor e o livro didático as únicas fontes de
informação. Incentivo à memorização de definições. A experimentação em laboratório serve para
comprovar a teoria.

TECNICISTA
Surgiu na década de 1950 para se contrapor à concepção tradicional.
Foco: Reproduzir o método científico.
Estratégia de ensino: Aulas experimentais, em laboratório, com ênfase na reprodução dos
passos feitos pelos cientistas.

INVESTIGATIVA
Criada por volta de 1970, mesclou algumas características das concepções anteriores e colocou o
aluno no centro do aprendizado.
Foco: Resolução de problemas que exigem levantamento de hipóteses, observação, investigação,
pesquisa em diversas fontes e registros ao longo de todo o processo de aprendizagem.
Estratégia de ensino: Apresentação de situação-problema para que o aluno mobilize seus
conhecimentos e vá em busca de novos para resolvê-la. Disponibilização de várias fontes de
pesquisa.

Expectativas de aprendizagem em Ciências do 1º ao 9º ano

As orientações curriculares da prefeitura de São Paulo recomendam, entre outros itens,


que ao fim do 5º ano os alunos sejam capazes de:

 Localizar os órgãos internos do corpo humano, reconhecendo as relações entre as funções


biológicas.
 Reconhecer a necessidade de manutenção das atividades básicas do corpo para a
preservação da saúde.
 Identificar doenças contagiosas e epidemias que aconteceram na cidade em passado
recente, assim como as formas de preveni-las.
 Comparar elementos físicos e biológicos de ambientes urbanos naturais e transformados.
 Pesquisar os destinos dados aos resíduos sólidos urbanos - lixões, aterros, incineração,
reciclagem - e comparar benefícios e riscos.
 Conhecer a importância do saneamento público para a saúde e a qualidade de vida da
população.
 Argumentar sobre as vantagens e desvantagens da utilização de diferentes meios de
transporte.
 Realizar experimentalmente formas simples e domésticas de tratamento de água, como
filtração e cloração.

O documento prevê ainda que os estudantes, ao fim do 9º ano, saibam:

 Organizar, individualmente e em grupo, relatos orais e registros sobre questões


ambientais, estabelecendo relações entre as informações obtidas em fontes diversas e
elaborando sínteses em tabelas, gráficos, esquemas, textos e maquetes.
 Relacionar a fotossíntese, a respiração celular e a combustão nos ciclos do carbono e do
oxigênio para compreender o papel da vegetação, do desmatamento e das queimadas na
atmosfera.
 Relacionar os sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) ao sistema nervoso.
 Reconhecer os agravos à saúde física e mental no uso e abuso de drogas, no sexo
desprotegido, nas ações violentas e nos esportes radicais, considerando fatores
psicológicos, culturais e sociais.
 Compreender o corpo humano e sua saúde como um todo integrado por dimensões
biológicas, afetivas e sociais.
 Identificar símbolos e outras representações de aparelhos elétricos, como potência e
tensão.
 Compreender a relação entre velocidade e energia de movimento.
 Comparar diferentes combustíveis, suas origens e seus usos.
 Sequenciar algumas transformações de energia que ocorrem em máquinas e
equipamentos, como nos veículos, na iluminação e em eletrodomésticos.
 Comparar principais fontes e consumos de energia presentes na matriz energética
brasileira.
 Investigar e comparar diferentes modelos explicativos da constituição da matéria ao
longo da história.
 Identificar e estimar ordens de grandeza de espaço e tempo em escala astronômica,
situando a Terra e o sistema solar.
 Reconhecer a existência da força gravitacional, associando-a à atração entre objetos na
Terra e no universo e relacionando-a às suas massas e respectivas distâncias.
 Comparar os modelos geocêntrico e heliocêntrico do sistema solar, relacionando-se a
diferentes visões e a aspectos sociais, culturais e filosóficos.

Novaescola. https://novaescola.org.br/conteudo/48/o-que-ensinar-em-ciencias

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