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À PROFISSÃO:
EDUCAÇÃO FÍSICA
Cristiano Lozada
Tracy Freitas
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-260-7
Introdução
A educação física, mesmo tendo passado por muitos avanços nos úl-
timos anos, ainda não pode ser considerada uma das profissões mais
prestigiadas, pois a sociedade não consegue perceber com clareza os
serviços que são prestados por tais profissionais, ficando, inúmeras vezes,
com uma visão equivocada do profissional. Por esse motivo, é comum as
pessoas acharem que a educação física se resume em ter um belo corpo
e habilidades na prática de esportes.
Cabe esclarecer que, em alguns casos, o próprio profissional não conse-
gue se apresentar como uma identidade própria da profissão, pois, quando
é indagado sobre a importância da educação física para a sociedade, ou
até mesmo quais são os objetivos da profissão e quais os serviços que esta
tem a oferecer, ele por vezes responde de maneira vaga, apenas relatando
que seu trabalho e os serviços oferecidos buscam a melhora da saúde e a
qualidade de vida de quem se utiliza de seus préstimos.
Afirmações assim tão genéricas, em alguns casos, poderão expor a
fragilidade e a falta de certeza do profissional, pois ele não consegue
explicar qual é sua especificidade de atuação, e isso, quando comparado
com outras profissões, pode aumentar a descrença dos serviços ofereci-
dos pelo profissional de educação física.
Nesse sentido, tentando apresentar conteúdos que possam auxiliar
na construção de uma identidade profissional com status é que, neste
Licenciatura ou bacharelado?
Quando você busca o curso de Educação Física, logo lhe é apresentado, no
momento em que será feita a inscrição para o vestibular e/ou Enem, qual será
a formação que você deverá escolher, aparecendo duas frentes: Educação
Física – Licenciatura; Educação Física – Bacharelado.
Em alguns casos, efetuar a decisão naquele momento parece fácil e escolher
qualquer uma delas não afetará sua futura atuação como profissional, mas
é preciso ter cuidado, pois isso pode ser um grande engano. É importante
que as diferenças entre esses tipos de formação sejam entendidos, afinal, é
fundamental que o acadêmico tenha bem claro em sua mente quais espaços
e qual ocupação profissional que ele deseja buscar para, a partir disso, poder
escolher qual será a formação necessária.
É nesse momento que se deve ter cuidado, pois, dependendo da escolha
que você faça, seu futuro profissional poderá ser comprometido.
Mas não é tudo educação física? Sim, é tudo educação física, mas com
enfoques diferentes, com atuação diferente, com carga horária curricular
diferente, com mercado de trabalho diferente, e é por isso que você verá quais
são essas diferenças a seguir:
Os cursos de licenciatura são controlados por força de Lei pela Resolução
do CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002, a qual institui as Diretrizes Cur-
riculares Nacionais para professores de Educação Básica, em nível superior,
Curso de Licenciatura, de graduação plena, a qual descreve que os cursos
deverão (BRASIL, 2002):
Conhecimentos básicos
Os questionamentos que envolvem os conhecimentos básicos de um professor
têm sido debatidos em diversas áreas e pelos mais variados autores ao longo
dos anos (SHULMAN, 1987; MIZUKAMI, 2004; DARLING-HAMMOND,
2006; KIND, 2009).
Mesmo com as mais diferentes abordagens e o relativo avanço em pesqui-
sas, Graça (1997, p. 38-39) indica, em seus estudos sobre a atuação profis-
sional em Educação Física, que “a investigação sobre o ensino e a formação
de professores” ainda “não é capaz de dar uma resposta indiscutível [...] a
uma pergunta aparentemente tão inócua”, como: “o que é que o professor
necessita de saber?”
Algumas teorias são aceitas para responder tal questionamento e uma
das mais aceitas é a da base de conhecimentos para o ensino, apresentada,
primeiramente, por Shulman (1987) e depois sendo incorporada por outros
autores, como Grossman (1990) e Cochran, King e Deruiter (1991).
Conhecimento do conteúdo
O conhecimento do conteúdo está diretamente relacionado com o conteúdo
que será ensinado, sendo parte extremamente fundamental para o sucesso das
atividades que forem propostas, pois, ao mesmo tempo em que o conteúdo
é dominado pelo professor, ele também poderá ampliar as possibilidades de
intervenção, porém, a sua falta de domínio, de forma inversa, irá prejudicar as
atividades propostas, acarretando, assim, prejuízo na aprendizagem dos alunos.
Sendo assim, saberes são necessários para que professor possa efetivamente
ensinar. Saberes esses que são “construídos pelas ciências e tornados didáticos
a fim de permitir aos alunos a aquisição destes saberes”, conforme descrito
por Altet (2001, p. 29), ao mesmo tempo que há a necessidade de saberes para
ensinar (ALTET, 2001; RIOS, 2002), que deverão estar inclusos os saberes
didático-pedagógicos e culturais acerca daquilo que está sendo ensinado.
Com isso, pode-se admitir a existência de duas faces de conhecimento do
conteúdo: uma que será ensinada e outra que servirá para ensinar.
O conhecimento do conteúdo que será ensinado aos futuros alunos é pro-
veniente dos momentos que o futuro professor está no processo de aprender
(MIZUKAMI, 2004), compostos por saberes que necessitam ser aprendidos
(RIOS, 2002) e saberes que no futuro deverão ser ensinados. Sendo assim, o
conhecimento do conteúdo para ensinar é proveniente dos momentos em que
futuro professor está nas cadeiras da faculdade como aluno (MIZUKAMI,
2004), quando lhe são apresentadas diferentes formas pelas quais um de-
terminado conteúdo poderá ser ensinado aos seus futuros alunos, ou seja, o
professor primeiro precisa aprender para no futuro ensinar.
Segundo Schempp et al. (1998), essas duas faces de conhecimento do
conteúdo permitirão ao professor de educação física:
Conhecimento pedagógico
O conhecimento pedagógico “deverá ser aquele pelo qual o professor irá
manifestar suas concepções docentes e seus princípios educacionais quando
utiliza suas estratégias pedagógicas, planejando, organizando e gerindo as
situações de ensino e aprendizagem, de modo a superar o simples domínio
Conhecimento do contexto
Shulman (1987), quando abordou o conteúdo conhecimento do contexto, propôs
uma estruturação com base em três diferentes campos. Para ele, a atuação do
professor se dá por meio de trabalho com os alunos, individualmente, em peque-
nos grupos ou na totalidade da turma, devendo ainda cuidar as particularidades
sociais e culturais do meio em que os alunos estão inseridos. Shulman (1987)
relata ainda que o desenvolvimento desses três campos poderá potencializar
e qualificar a atuação do professor de educação física e, consequentemente,
auxiliá-lo no alcance dos objetivos educacionais que foram propostos.
Cabe ainda ressaltar que, além de assimilar os diferentes campos propostos
por Shulman (1987), outros autores, como Schincariol (2002) e Rovegno e
Dolly (2006) adicionam influências sob os aspectos sociais, políticos, culturais
e organizacionais da atmosfera que envolve a sala de aula e a forma como o
professor deverá ensinar.
Nessa linha, pode-se dizer que o professor deverá possuir uma profunda
compreensão do contexto em que atuará, pois assim irá adquirir as condições de
adaptação dos conhecimentos a serem ensinados às especificidades do contexto,
ou seja, a mensagem é de que deverão ser utilizadas as práticas pedagógicas
que se adaptem às características de cada circunstância do ambiente onde irá
desenvolver suas atividades laborais, tendo como base as peculiaridades de
determinado público.
Sendo assim, o contexto de ensino e aprendizagem deverá ser formado a
partir da interação do professor com os mais diversos tipos de alunos, os quais
poderão vir de endereços sociais particulares.
[...] a partir dos seus objetivos, da realidade dos alunos e das características
do contexto de ensino e aprendizagem, convocar, gerir e fazer interagir os
conhecimentos da base de conhecimentos para o ensino, visando à adaptação,
à transformação e à implementação do conhecimento do conteúdo a ser ensi-
nado, de modo a torná-lo compreensível e ensinável aos alunos. (MARCON;
GRAÇA; NASCIMENTO, 2011, p. 332).
O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C.) foi aluno de Platão e professor de
Alexandre, o Grande. Pode-se dizer que Aristóteles aprendeu a aprender e aprendeu
a ensinar.
(Continua)
(Continuação)
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Leituras recomendadas
BRASIL. Conselho Federal de Educação Física. Estatuto do Conselho Federal de
Educação Física – CONFEF. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 237, seção 1, p. 137-
143, 13 dez. 2010. Disponível em: <http://www.confef.org.br/confef/conteudo/471>.
Acesso em: 25 out. 2017.
DOYLE, W. Classroom organization and management. In: WITTROK, M. (Org.). Handbook
of research on teaching. New York: MacMillan Publishing Company, 1986. p. 392-431.
NASCIMENTO, J. V; FARIAS. G. O. Construção da identidade profissional em educação
Física: da formação a intervenção. Florianópolis: Ed. UDESC, 2012. v. 2.
Gabaritos
https://goo.gl/CgWHMp