Você está na página 1de 9

59

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

The Dialogical Power: from Arendt to Habermas

Maria Stella Brandão Goulart1

Resumo
O texto que se segue aborda o conceito de política, através de duas perspectivas teóricas que discutem a importância do diálogo e da
comunicação: a de Hannah Arendt e a de Jurgen Habermas. As duas perspectivas são apresentadas de modo que a discussão da segunda se
estrutura a partir de uma visão crítica da primeira. O objetivo do texto é o de problematizar o conceito de política de modo a estimular a
reflexão sobre sua aplicação no campo da Psicologia Social e da Psicologia Política - seu impacto na construção de cidadania e democracia.

Palavras-chave: política; democracia; público; privado; psicologia social; psicologia política.

Abstract
The following text approaches the concept of politics, by means of two theoretical perspectives which discuss the importance of dialogue and
communication: those of Hannah Arendt and Jurgen Habermas. The two perspectives are presented so that the discussion of the second is
structured from a critical view of the first. The aim of this paper is to question the concept of politics in order to stimulate the reflection on its
application in the field of Social and Political Psychology - its impact on the construction of citizenship and democracy.

Keywords: politics, democracy, public, private, social psychology, political psychology.

1
Doutora em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora Adjunta do Departamento de Psicologia
e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, FAFICH/UFMG. Endereço para
correspondência: Rua Expedicionário José Assumpção dos Anjos, 195, apto 203, São Luiz, Belo Horizonte, MG, CEP: 31.310-050.
Endereço eletrônico: goulartstella2011@gmail.com

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


60

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

A Psicologia como um todo e, mais que procuramos é também relativa aos limites da
especificamente, a Psicologia Social e a Política democracia liberal contemporânea e da teoria de
têm se nutrido de conceitos oriundos da Filosofia e escolha racional que a enraíza em uma perspectiva
da Ciência Política. Perguntamo-nos individualista e de racionalidade estratégica.
frequentemente sobre movimentos sociais, Entendemos que, aqui, a arte da política perde
exclusão, controle social. Inquirimos a democracia espaço para o jogo de interesses reduzido ao
e as possibilidades de autonomia que resistem na dispositivo do voto e de maiorias constituídas por
modernidade tardia. Pensamos o poder desde as agregação simples.
instituições até onde pulsa a mais delicada Trata-se de apontar teorias capazes de
manifestação de subjetividade. Todo esse incorporar espaços onde os atores sociais
movimento faz multiplicar as inquietações que democratizantes possam efetivar sua prática
concernem aos modos de poder. A Psicologia que política, de modo a tecer soluções para o problema
opera nos interstícios do Estado e sociedade, ou nos da desigualdade através do exercício pleno da
insólitos limites deles, enfrenta uma discussão de expressão comunicativa, da inventividade e da
caráter interdisciplinar. As publicações do Conselho racionalidade eticamente orientada. Nossa
Federal de Psicologia têm se empenhado em argumentação expressa a intenção de refletir sobre
discutir as políticas públicas e a propor a temática a possibilidade de se operar com a noção de sujeito
do compromisso social da Psicologia através de de forma não determinista e reducionista. Procura-
seus periódicos e em publicações específicas (Bock, se o sujeito social e político capaz de exercício
2003). Porém, a complexidade da discussão política democrático e não o(s) príncipe(s) e Leviatã(s) que
ainda é muito desafiadora, especialmente quando se oferecem a ordem sob o julgo da espada, do
trata de construir democracia e cidadania. autoritarismo ou do jogo estrategista
O texto que se segue discute o poder dialógico autointeressado.
a partir de duas perspectivas teóricas: a de Hannah Segundo Morin (1996), no século XX,
Arendt e a de Jurgen Habermas. No campo da
Filosofia e Política a discussão atual já avançou Expulsou-se o sujeito da psicologia e o substituímos
desde essas perspectivas emblemáticas e por estímulos, respostas, comportamentos.
fundamentais para discussão contemporânea em Expulsou-se o sujeito da história, eliminaram-se as
Psicologia. Pensamos aqui nas discussões acerca da decisões, as personalidades, para só ver
determinismos sociais. Expulsou-se o sujeito da
teoria da democracia e nos desdobramentos do antropologia, para só ver estruturas, e ele também foi
modelo deliberativo que se ancoram na expulso da sociologia. Pode-se inclusive dizer que,
possibilidade de produção de políticas e em determinado momento, e cada um a sua maneira,
reconhecimento a partir de processos dialógicos, Lévi-Strauss, Althusser e Lacan liquidaram de vez a
comunicativos, expressivos ou ativistas (Goulart, noção de homem e a noção de sujeito, adotando o
2010; Avritzer & Costa, 2004). Ou seja, interessa inverso da famosa máxima de Freud ...: “Aí onde
tudo aquilo que envolve maior participação e está o isto (Das Es) deve devir o eu”. (46)
incremento de capacidade de argumentação,
expressão e decisão, que se consolida por meio de Concordamos com Morin? Ainda vale a pena
compreensão crítica, debate, acesso a informação e procurar pelo sujeito sociopolítico capaz de
discussão. emancipação e autonomia? Ou isso se trata de um
Em Arendt, procurar-se-á destacar a ideia de mero idealismo? Há lugar para uma Psicologia que
política sem desvinculá-la do conceito de poder, estimule o protagonismo do sujeito coletivo?
focando a obra intitulada A Condição Humana (a Hannah Arendt, em sua exploração do cenário
primeira edição data de 1958). Habermas, por sua da pólis grega da antiguidade, cria condições para a
vez, será abordado na medida em que revê e amplia reflexão sobre os laços de mútua definição entre os
essa ótica arendtiana, em discussão específica homens, tomados em seu sentido mais generoso, e a
acerca dos limites do conceito de poder (sua prática política, num formato singular. E se de todo
gestação) e de dominação (sua preservação). Esse a crítica habermasiana à visão de política arendtiana
será o eixo do artigo, que se coloca a serviço das produz resultados um pouco desconcertantes, se
reflexões em Psicologia Social e Política, sem a salva, sem arranhões, a visão de um homem
pretensão de realizar uma revisão da obra extensa reconduzido a condição de produtor/inventor de
dos dois filósofos, tão caros às Ciências Políticas. mundos e utopias coletivas, no exercício pleno da
Assim, trata-se de retomar um dos diversos palavra e na interação no contexto da(s) esfera(s)
diálogos entre autores, sendo que aqui se trata pública(s).
basicamente de pautar uma apropriação que nutre a A crítica de Habermas a Arendt garante a
ideia de formação de consensos, que remete aos sintonia necessária para dar seguimento às
modelos de democracia grega e direta. A sintonia preocupações com o exercício da democracia para

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


61

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

além do Estado e dos partidos políticos. As ideias Paulo Freire nos legou a metáfora da “palavração”,
acerca da ação comunicativa e seus produtos que pode ser sintonizada com a concepção grega de
racionais, da ordem societária e suas incertezas e ação trabalhada por Arendt. “Assim como não é
das possibilidades de exercício emancipatório são possível linguagem sem pensamento e linguagem-
referência significativa para o estabelecimento de pensamento sem o mundo a que se referem, a
uma teoria social crítica voltada para os limites da palavra humana é mais que um mero vocábulo – é
modernidade (modelo neoliberal), contemplando as palavração” (Freire, 1976, p. 49). Trata-se de um
resistências sociais e a construção de respostas risco inerente não apenas aos processos de
alternativas. produção de conhecimento, mas à produção de uma
Acrescentemos que as Psicologias sociais comunicação autêntica que potencializa a geração
críticas encontram a sintonia imediata com essas de senso crítico, de entendimento compartilhado e
perspectivas, colhendo e revelando seu caráter de instrumentos potencializadores de
psicossocial e ofertando ferramentas participativas transformação. A citação de Freire remete ao
que focam a delicadeza das relações coletivas e dos diálogo entre educador e educando (que se faz
processamentos intrapsíquicos. Várias ferramentas sujeito do processo de aprendizagem). É um texto
participativas – dirigidas aos setores oprimidos militante. Transportar a metáfora “palavração” para
(Basaglia, 1985) e de clínica ampliada e social, o terreno da Filosofia Política exige ampliação do
alternativas aos modelos hegemônicos (Barbier, enquadramento. A horizontalidade das e nas
1985) – foram desenvolvidas nesse eixo. Exemplo relações é uma premissa, assim como o
disso seria a pesquisa ação, os grupos de discussão, reconhecimento mútuo em situação de igualdade
a pesquisa participante, as intervenções sustentada institucionalmente pelos dispositivos
psicossociológicas, o trabalho com pequenos democráticos necessários à autenticidade da relação
grupos e comunidades, as oficinas e rodas de dialógica.
conversas, entre outros. O diálogo com Arendt se sustentará, nos limites
Trata-se de uma Psicologia interdisciplinar que deste ensaio, no conhecido livro intitulado A
procura o protagonismo do sujeito, a ruptura dos condição humana (cuja primeira edição data de
compromissos com a ideologia ou a “cultura do 1958). Esse destaque recairá sobre suas definições
silêncio”, como diria Paulo Freire. A obra desse articuladas de política, violência, imortalidade,
educador deixou fortes marcas na Psicologia Social, natalidade, condição de cidadão da pólis grega,
como a ênfase na dialogicidade ancorada na ação e esfera pública. Posteriormente, abordaremos
autonomia do sujeito e na sua inserção a forma como Habermas entende, criticamente, o
sociocultural. A captura das perspectivas cultural, conceito de política (poder) da filósofa, considerado
social, política e educacional realizada por Freire no contexto destacado, de forma a sintetizar a
também significou a valorização dos processos discussão e conduzir para as conclusões que devem
comunicativos criativos e críticos. Em um artigo reverberar na Psicologia Social e Política.
que aproxima as ferramentas da educação de Paulo
Freire e as teorias e técnicas de grupo de Pichón- Notas Sobre a Filosofia Política de
Rivière (Afonso, Vieira-Silva, & Abade, 2009), o Arendt Acerca da Democracia Grega
método dialógico é apontado justamente em sua
potência desveladora e libertadora. Homens e mulheres, para Hannah Arendt
Essas ferramentas e discussões não se (1993), encontram, genericamente, sua
conectam visivelmente com a produção de Hannah singularidade na medida em que são capazes de
Arendt (1906-1975) ou de Jurgen Habermas (1929- “produzir coisas – obras e feitos e palavras – que
) e, no entanto, não são estrangeiras à filosofia mereceriam pertencer ... à eternidade” (p. 28),
política e à Teoria Crítica. Ao contrário, podemos consolidando assim seus “vestígios imorredouros”.
supor leituras mútuas, interstícios que são bastante Isso os distingue da condição animal (natureza
pertinentes à configuração das discussões que se biológica) e dos registros de mortalidade e
destacaram particularmente nos anos 1960. Fica fugacidade. Há sempre o desejo ou a expectativa de
sugerido, nessas aproximações, um modo de que algo de si seja mais permanente. Essa
compreender a condição e a ação humana que possibilidade seria o modo de vida do cidadão –
contempla o político justamente ali onde pontuamos que, como sabemos, não estava efetivamente
a emergência de processos de mudança de colorido disponível para todos os membros da sociedade na
democrático e emancipatório. Grécia antiga – e que remete ao bios politikos de
Remetemo-nos ao método reflexivo e dialógico Aristóteles, essencialmente voltado para o belo e o
na busca de fontes que configuram a postura divino. Essa atitude de transcendência efetivamente
democrática de escutar/ouvir, problematizar e viver acusa a especificidade de uma posição de produção
o risco da produção do conhecimento e, assim, agir.

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


62

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

da história, da perpetuação na memória, em que a termo agir como expressão da especificidade desse
ação humana encontraria seu sentido intencional. nascimento. O termo significa iniciar, começar,
Segue-se a essa posição, um elogio à esfera pública, imprimir movimento a alguma coisa, remetendo à
política, em oposição à esfera privada, social, como noção de natalidade instauradora da possibilidade
também uma compreensão bastante específica do inesperado, do novo, do improvável e inerente
sobre a ação e o poder que ela enseja. ao homem que, na ação e no discurso, se revelaria
Segundo Arendt (1993), plenamente. Negar essa revelação equivaleria a
deformar o próprio homem. Seria irreal.
De todas as atividades necessárias e presentes nas “O ser político, o viver numa pólis, significava
comunidades humanas, somente duas eram que tudo era decidido mediante palavras e
consideradas políticas e constituintes do que persuasão e não através da força ou violência”
Aristóteles chamava de bios polítikos: a ação (Arendt, 1993, p. 35). Forçar, influenciar, ordenar e
(práxis) e o discurso (lexis), dos quais surge a esfera
dos negócios humanos ... que exclui estritamente
recorrer a estratagemas eram consideradas práticas
tudo o que seja apenas necessário ou útil. (p. 34) pré-políticas e mesmo de puro exercício de
violência, supostamente impensáveis entre os
Note-se que ação e discurso eram enovelados, cidadãos da pólis em seus fóruns e só cabíveis para
sugerindo mesmo que as ações políticas eram além de seus muros ou em âmbito privado, ou seja,
realizadas através das palavras, ou mesmo a partir na organização doméstica (oikia). A práxis, o
da escolha de cada uma delas. Trata-se de um exercício da política, estava além de urgências e
elogio à capacidade de comunicação humana, necessidades. Era a mais digna e humana das
enquanto exercício reflexivo e decisório. capacidades.
Para Arendt (1993), retomando os gregos, não A esfera pública seria o espaço privilegiado de
havia coincidência ou superposição entre o político realização da práxis, onde a ação humana superior
e o privado: eram esferas distintas. A ação estava, se exporia e, consequentemente, a percepção plural
pois, destituída, na pólis, de qualquer caráter da realidade se traduziria em lucidez. “A presença
instrumental e se situava em oposição mesmo ao dos outros que veem o que vemos e ouvem o que
labor e ao trabalho. A ação é a ouvimos garante-nos a realidade do mundo e de nós
mesmos” (Arendt, 1993, p. 60). O lócus
única atividade que se exerce diretamente entre os compartilhado, construído e relevante da esfera
homens sem a mediação das coisas ou da matéria, pública asseguraria a realidade do mundo, em
corresponde à condição humana da pluralidade, ao oposição ao irrelevante que se situa na esfera
fato de que homens, e não o Homem, vivem na terra privada, espaço da futilidade da vida individual que
e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição separa os homens: “A esfera pública, enquanto
humana têm alguma relação com a política; mas esta mundo comum, reúne-nos na companhia uns dos
pluralidade é especificamente a condição ... de toda a outros e, contudo, evita que colidamos uns com os
vida política. (p. 15)
outros, por assim dizer” (Arendt, 1993, p. 62).
Um aspecto importante a ser ressaltado é que,
Através da ação, se engendrariam e
na esfera pública, a realidade do mundo “não é
perseverariam corpos políticos. Assim, a ação
garantida pela ‘natureza comum’ de todos os
estaria relacionada com a possibilidade de criação e
homens que o constituem, mas sobretudo pelo fato
legitimação do exercício do poder.
de que, a despeito de diferenças de posição e da
É com palavras e atos que nos inserimos no mundo
resultante da variedade de perspectivas, todos estão
humano; e esta inserção é como um segundo sempre interessados no mesmo objeto” (Arendt,
nascimento, no qual confirmamos e assumimos o 1993, p. 67). Há uma convergência simbólica
fato original e singular do nosso aparecimento físico pressuposta e uma finalidade que ultrapassa a
original. Não nos é imposta pela necessidade, como simples disputa silenciosa expressa no voto ou na
labor, nem se rege pela utilidade, como o trabalho. simples agregação de interesses.
Pode ser estimulada, mas nunca condicionada, pela
presença dos outros em cuja companhia desejamos Quando já não se pode discernir a mesma identidade
estar; seu ímpeto decorre do começo que vem ao do objeto, nenhuma natureza humana comum, e
mundo quando nascemos, e ao qual respondemos muito menos o conformismo artificial [apolítico] de
começando algo novo por nossa própria iniciativa. uma sociedade de massas, ... são todos prisioneiros
(Arendt, 1993, p. 189) da subjetividade de sua própria existência singular,
que continua sendo singular ainda que a mesma
Esse segundo nascimento se dá no campo da experiência seja multiplicada inúmeras vezes.
política, na medida em que se é capaz de realizar o (Arendt, 1993, p. 67)
exercício discursivo. A filósofa segue explorando o

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


63

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

Seria esse o limite do mundo comum. Não se Do ponto de vista de Arendt, Weber estaria
pode, portanto, derivar o público da mera junção de falando do que ela identifica, na pólis grega, como
indivíduos. O público é muito mais que o coletivo. violência, pois pressupõe um ator (individual ou
A esfera pública se comporta, para Arendt, coletivo) voltado para os próprios interesses, “para
como uma referência sincrônica poderosa. Mas não o próprio sucesso e não para o entendimento
se reduz ao imediatismo ou a urgência de tomada mútuo” (Habermas, 1980, p. 101). Habermas chama
de posições, pois nela se recupera e se cultiva a a atenção para o fato de que se trata de modelos de
atitude de imortalidade, de transcendência. “É o ação totalmente distintos.
caráter público da esfera pública que é capaz de
absorver e dar brilho através dos séculos a tudo o Arendt parte de outro modelo de ação – o
que os homens venham a preservar da ruína natural comunicativo: “O poder resulta da capacidade
do tempo” (Arendt, 1993, p. 65). humana, não somente de agir ou de fazer algo, como
O quadro que Hannah Arendt pinta se de unir-se a outros e atuar em concordância com
eles”. O fenômeno fundamental do poder não
contrapõe ao estado de natureza dos contratualistas. consiste na instrumentalização de uma vontade
Essa esfera pública não se orienta por necessidades alheia para os próprios fins, mas na formação de uma
“mortais”, perecíveis ou “consumíveis”. A sua vontade comum, numa comunicação orientada para
degradação tem consequências extremamente o entendimento recíproco. (Habermas, 1980, p. 101)
graves. A modernidade se opôs, historicamente, ao
mundo comum, tal como definido na pólis grega. A De fato, não haveria, então, um modelo
intensificação das emoções subjetivas e dos teleológico em Arendt ou uma finalidade última na
sentimentos privados, típica da modernidade, e a política senão o seu próprio exercício. O poder não
potencialização da esfera privada ocorrem “sempre teria finalidades ou objetivos específicos em
às custas da garantia da realidade do mundo e dos consonância com situações definidas. Ele é um fim
homens” (Arendt, 1993, p. 60). O aniquilamento da em si mesmo, em seu exercício, reafirmando a
esfera pública coloca-se como uma negação da práxis da qual é originário. É pura possibilidade de
condição humana. persuasão. Ele emerge da construção de convicções
comuns oriundas da esfera pública, de espaços de
O que torna tão difícil suportar a sociedade de legitimação que não coincidem necessariamente
massas não é o número de pessoas que ela abrange, com o Estado. Como sintetiza Habermas:
ou pelo menos não é este o fator fundamental; antes,
é o fato de que o mundo entre elas perdeu a força de
O poder (comunicativamente produzido) das
mantê-las juntas, de relacioná-las umas às outras e
convicções comuns origina-se do fato de que os
de separá-las. (Arendt, 1993, p. 62)
participantes orientam-se para o entendimento
recíproco e não para o seu próprio sucesso. Não
Arendt oferece o curioso exemplo de uma utilizam a linguagem “perlocutoriamente”, isto é,
sessão espírita: é como se, de repente, a mesa em visando instigar outros sujeitos para um
torno da qual as pessoas se encontram dispostas comportamento desejado, mas “ilocutoriamente”,
desaparecesse. É a falta de sentido que se instaura a isto é, com vistas ao estabelecimento não-coercitivo
seguir. O sentido que seria capaz de prover de relações intersubjetivas. (Habermas, 1980, p. 103)
identidades e que sustenta a ação política como
vital para a condição humana. Não se visaria imediatamente o êxito, mas
aspira-se, no exercício do poder, à validade daquilo
Habermas Interpela a Filósofa que se configura como razoável (racional). O
convencimento opera através da “verdade de uma
Ao abordar o conceito arendtiano de poder, proposição, da adequacidade de uma norma e pela
Habermas inicia contrastando-o com o de Max veracidade de um enunciado” (Habermas, 1980, p.
Weber: “a possibilidade de impor a própria vontade 102). A linguagem, fala livre de constrangimentos,
ao comportamento alheio” (Habermas, 1980, p. tem, em Arendt, uma importância central na ação
100). Essa contraposição permite importantes propriamente política.
deslocamentos. A perspectiva arendtiana seria A práxis arendtiana se consolidaria em poder
diametralmente oposta, uma vez que “concebe o político, segundo Habermas, “através de
poder como a faculdade de alcançar um acordo instituições que asseguram formas de vida baseadas
quanto à ação comum, no contexto da comunicação na fala recíproca” (Habermas, 1980, p. 103). Suas
livre de violência” (Habermas, 1980, p. 100). Em principais manifestações seriam os ordenamentos
ambos os autores, o poder se atualiza em ações, capazes de garantir liberdade política, as
porém o conceito de ação é distinto. resistências contra as forças que ameaçariam essa
liberdade e os atos revolucionários capazes de

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


64

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

fundar novas instituições da liberdade. Todas as da fundamentação revolucionária da liberdade


instituições políticas seriam, pois, produzidas pelo política (revoluções burguesas do século XVIII, a
consenso original. “Elas se petrificam e desagregam insurreição húngara de 1956, a desobediência civil
no momento em que a força viva do povo deixa de e o movimento de protesto estudantil dos anos
apoiá-las” (Arendt, 1970, citada por Habermas, 1960).
1980, p. 103). Nesse ponto da discussão, Habermas No primeiro eixo, a filósofa discutiu o fato da
se pergunta, reconhecido o conteúdo normativo do ordem estatal se degenerar, na medida em que isola
poder em Arendt, se ele seria “cientificamente útil” os cidadãos, mutilando o intercâmbio público de
e “apropriado para fins descritivos” (Habermas, opiniões ou ideias. Aqui, restringir a participação
1980, p. 103). dos cidadãos ao anonimato do voto poderia também
Habermas situa então o campo de preocupações operar como uma violência, na medida em que
de Arendt num esforço de renovação do conceito reduz os indivíduos a entidades privadas,
aristotélico de práxis, que ela desdobrou na forma desprovidos de espaços públicos para o exercício da
de uma “antropologia da ação linguística” em nada práxis.
comprometida com a ação instrumental (Habermas, No segundo eixo, Arendt enfatizou o poder da
1980, p. 104). No entanto, como a esfera da práxis convicção comum:
seria eminentemente instável, ela necessitaria, para
Habermas, de proteção, de garantias, de a desobediência com relação a instituições que
coordenação. São as instituições, nas sociedades perderam sua força legitimadora; a confrontação do
organizadas sob a forma estatal, destacadamente, poder, gerado pela livre união dos indivíduos, com
que garantiriam a esfera da práxis. As instituições os instrumentos coercitivos de um aparelho estatal
violento, mas impotente; o surgimento de uma nova
são, por sua vez, alimentadas pelo “poder que ordem política e a tentativa de estabilizar o novo
emana das estruturas intactas [não-mutiladas] da começo, a situação revolucionária original, e de
intersubjetividade” (Habermas, 1980, p. 105). perpetuar institucionalmente a gestação
A hipótese central de Arendt seria, no entanto, comunicativa do poder. (Habermas, 1980, p. 107)
a de que “nenhuma liderança política pode
substituir impunemente o poder pela violência; e só Habermas elogia a capacidade analítica e
pode obter o poder através do espaço público interpretativa de Arendt. Ele sugere que os casos
(Oeffentlichkeit) não-deformado” (Habermas, 1980, estudados por Arendt parecem confirmar a sua
p. 105). O espaço público operaria como fonte de hipótese central de que “ninguém possui
poder ou pelo menos de legitimação do poder que verdadeiramente o poder, ele surge entre os homens
se institucionaliza. Ressalta-se aqui o espaço de que atuam em conjunto e desaparece quando eles
formação de opinião e de convicções comuns. O novamente se dispersam” (Arendt, citada por
poder, assim, seria algo que não se possui ou retém Habermas, 1980, p. 108). Mas, em seguida, afirma
essencialmente, mas algo inerente à atuação que suas conclusões são fáceis na medida em que
comunicativa e articulada de indivíduos. Assim não se apoiam em pesquisas sistemáticas e sim em
sendo, a extinção das comunidades políticas construções filosóficas.
apoiadas na prática dialógica estaria imediatamente Habermas critica Arendt por transformar a
vinculada à perda de poder, ao seu esvaziamento, o pólis grega na essência do político, o que se
que geraria uma situação de impotência. O desdobra em dicotomias rígidas como as entre a
rompimento das condições de geração de poder o esfera pública e a privada, o Estado e a economia, a
conduziria ao seu necessário esgotamento. É o liberdade e o bem-estar, a atividade político-prática
cenário da violência política que redunda no e a produção. Dessa forma, a filósofa produz
desaparecimento da esfera pública que levaria em distorções em sua visão acerca das sociedades
seu bojo a possibilidade de consolidação de uma modernas. Ela teria excluído da esfera política os
ordem não-tirânica. elementos estratégicos e os conflitos de natureza
Arendt critica veementemente o privatismo – antagônica, isolando-a dos contextos econômicos e
enquanto negação da cidadania efetiva – das sociais. Ele afirma:
sociedades modernas por mobilizarem o apolítico
que, por sua vez, cria condições para o Assim, para ela, o mero fato de que com o modo de
totalitarismo. produção capitalista produz-se uma relação
Habermas procura demonstrar, então, que caracteristicamente nova e complementar entre o
Arendt, em suas obras, não explorou Estado e a economia é visto como um sintoma
adequadamente essa hipótese. Ela trabalhou, em patológico e como indício de uma confusão
destrutiva. (Habermas, 1980, p. 109)
suas pesquisas históricas em dois eixos: (a) os
temas do aniquilamento da liberdade política em
regimes totalitários (nazismo e stalinismo) e (b) os

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


65

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

O filósofo da teoria da ação comunicativa dá convicções comuns num processo de comunicação


razão a Arendt quando ela afirma que a superação não-coercitiva” (Habermas, 1980, p. 112).
técnico-econômica da pobreza não garantiria a A Teoria da Ação Comunicativa que Habermas
liberdade pública do ponto de vista prático-político. configurou propõe que o conceito de política
Mas considera seu conceito de política inaplicável à incorpore a dimensão estratégica e o sistema
perspectiva moderna de consolidação de político (Estado), não se reduzindo estritamente à
democracias, visto que ele exclui da esfera política possibilidade dos indivíduos de conversarem, se
todos os aspectos estratégicos, reduzindo-os à entenderem e agirem em comum acordo. Isso se
violência, desconecta a política do sistema relaciona com o problema da ideologia, com a
administrativo e não dá conta das manifestações de distinção entre convicções ilusórias e não ilusórias.
violência estrutural. A resposta a Arendt foi um sistema tripartite, que
No entanto, Habermas faz a ressalva de que o contemplou Estado, mercado e esfera
conceito comunicativo de poder “desvenda certos pública/sociedade civil – sendo essa última parte o
fenômenos-limite do mundo moderno, para os quais reino da expressão dialógica e da condição humana,
a ciência se tornou em grande parte insensível” por definição, que se vê permanentemente
(Habermas, 1980, p. 110). Ele prossegue ameaçado pela burocratização e mercantilização
exemplificando que a guerra, como paradigma da modernas.
ação estratégica, não seria política para Arendt e se
daria para além do espaço político da pólis, Conexões e Extrapolações Para a
operando no registro da instrumentalidade (em Psicologia Social e Política
analogia às atividades de labor e trabalho). Isso
seria, segundo ele, facilmente contestável. Arendt A conexão entre Arendt e Habermas coloca em
teria estreitado exorbitantemente o espaço da ação cena uma pauta de questões relevantes para a
propriamente política. Não se pode negar, como Psicologia Social e Política que nos projeta
esclarece Habermas, que a ação estratégica faz destacadamente em questões teóricas e
parte das operações inerentes à vida na pólis. Ela metodológicas. Afinal, consideremos que boa parte
pulsa “nas lutas pelo poder, na concorrência por dos esforços tecidos nesse ambiente não mede
posições vinculadas ao exercício do poder legítimo” esforços para a produção de comunicação livre de
(Habermas, 1980, p. 111). Habermas alerta para a violência ou da ruptura com os silêncios
distinção necessária entre o exercício do poder, socialmente produzidos e a favor dos silenciados
entendido como dominação – que envolve sua (em seus múltiplos contornos contemporâneos).
aquisição e preservação –, da gestação do poder – No que concerne à discussão teórica, os dois
que remete ao exercício dialógico livre de filósofos citados sinalizam uma proximidade com
ingerências. A instrumentalidade dos movimentos concepções que são caras à Psicologia brasileira
estratégicos é essencial, pois caracteriza o atual e ao mesmo tempo desafiam a abertura da
fenômeno da dominação. A ação política, no discussão (interdisciplinar) acerca do poder. Eles
sentido que lhe empresta Arendt, estaria sintonizada revelam diversas conexões entre intersubjetividade
nos modos de produção do poder e não e sociedade, assim como a esclarecedora, mas
necessariamente no seu exercício. Essa seria a sua sofisticada, disjunção entre as esferas pública e
contribuição mais significativa, na medida em que privada nas reflexões acerca da política ou sua
aponta para os problemas precedentes à dominação, ausência. Aqui, podemos concluir apontando para
que são o da legitimidade e o da sua própria os diversos conceitos de poder operantes no campo
criação. da política e nos perguntando acerca das definições
O exercício e a disputa de poder dependem das que nos orientam nas pesquisas e nos campos de
leis e instituições políticas e não se pode excluir a aplicação da Psicologia Social e Política. Não
ação estratégica desse domínio efetivamente precisamos nos ater ao ambiente das políticas
expandido nas sociedades modernas. Arendt teria públicas, que tem desafiado a Psicologia, para ver
operado um estreitamento do conceito do político e pulsar a metáfora da mudança societária e a
seria artificial retirar a violência de sua dinâmica. pluralidade dos projetos emancipatórios.
No entanto, ela estaria correta no que concerne ao Consideremos, a titulo de exemplo, a ênfase que
fato de que “as instituições políticas não vivem da recai, desde pelo menos os anos sessenta do séc.
violência, mas do reconhecimento” (Habermas, XX, na potência realizadora do sujeito coletivo que
1980, p. 112). Esse argumento é importante na sustenta as reflexões sobre processos instituintes e
medida em que lida com o problema da legitimação inclusivos (caros à Análise Institucional e à
e produção das instituições políticas, pois o poder Psicossociologia), mas que também contempla a
legítimo “só se origina entre aqueles que formam discussão sobre heteronomia e exclusão. A

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


66

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

inventividade humana e a ênfase nos processos colaborativos que podem se fortalecer a partir das
criativos podem nos projetar em posições analíticas perspectivas filosóficas exploradas neste artigo. Por
ingênuas diante dos fenômenos de participação, outro lado, enseja-se um convite, na breve retomada
violência e autoritarismo advindos de de Arendt e Habermas, para que nos conectemos
posicionamentos relativistas que pulverizam as com as raízes históricas e conjunturais de nossos
relações de poder à custa da perda da virulência e repertórios de exercício profissional democrático.
alcance do conceito. As inflexões acerca de Retomando a citação de Morin, no início deste
pertencimentos e articulações entre as esferas artigo, vale concluir destacando a valorização dos
públicas e privadas podem gerar perspectivas mais exercícios de consciência que as práticas dialógicas
ampliadas e efetivamente interdisciplinares e até ensejam, mesmo que saibamos que elas não são
transdisciplinares. monolíticas e conhecendo suas amarras
Arendt e sua teoria da ação política, tal como se inconscientes e ideológicas.
apresenta em A condição humana, é imediatamente É importante refletir se somos capazes da
capturável pela Psicologia Social e Política e isso radicalidade do debate ou se nos esgueiramos nas
pode ocorrer de forma a não se colher as afirmações e fortalecimento de particularismos,
consequências de seu pensamento. A filósofa, por operando às cegas, sem antever o desafio coletivo
sua vez, nos sintoniza com questões que pulsam, de grande monta que se insinua no delineamento de
para dizer o mínimo, em toda uma perspectiva horizontes universalistas.
utopista, necessária e vigorosa, mas insuficiente,
mesmo que nos conecte à condição humana tão Referências
atrelada ao exercício da política. Habermas, por sua
vez, tem sido pouco explorado e mal interpretado, Afonso, M. L. M., Vieira-Silva, M., & Abade, F. L.
atribuindo-se a ele a mesma ingenuidade da qual ele (2009). O processo grupal e a educação de
acusa Arendt, tal como procuramos evidenciar. O jovens e adultos. Psicologia em Estudo, 14(4),
filósofo nos traz esse alerta que, uma vez 707–715.
considerado, tem desdobramentos importantes, pois
sinaliza reducionismo que ignora a malha de Arendt, H. (1993). A condição humana. (R.
estruturas institucionais, mas sem perder de vista o Raposo, Trad.) (6a ed.). Rio de Janeiro:
sujeito que tece e constrói legitimidade. O tema é Forense Universitária.
oportuno na atualidade, quando tudo “se
desmancha” em fluxos e devires e o pragmatismo Avritzer, L., & Costa, S. (2004). Teoria crítica,
se recoloca como uma possibilidade, despido de seu democracia e esfera pública: concepções e usos
impacto político e reflexivo. na América Latina. Dados – Revista de
No que concerne à discussão metodológica, as Ciências Sociais, 47(4), 703–728.
práticas de intervenção comunitárias, institucionais,
grupais e psicossociais podem e devem se valer das Barbier, R. (1985). A Pesquisa-ação na instituição
perspectivas arendtiana e habermasiana, como um educativa. (E. dos S. Abreu, Trad.). Rio de
ponto de referência – complexificando a discussão Janeiro: J. Zahar.
eminentemente clínica ou educacional. A
valorização da intersubjetividade e das perspectivas Basaglia, F. (1985). A Instituição Negada: relato de
construcionistas fortalecem as ferramentas um hospital psiquiátrico. (H. Jahn, Trad.). Rio
desenvolvidas pela Psicologia, destacando tanto a de Janeiro: Graal.
complexidade na abordagem do sujeito, quanto o
delineamento de uma clínica que implica o Bock, A. M. B. (Org.). (2003). Psicologia e o
psicólogo como pesquisador e interventor. A compromisso social. São Paulo, SP: Cortez
vitalidade da discussão sobre identidade, formações Editora.
discursivas e reconhecimento se enriquece e
encontra algumas fronteiras relevantes. O sujeito Freire, P. (1976). Ação cultural para a liberdade e
sociopolítico se revigora consideravelmente nessa outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
discussão e podemos identificá-lo numa
multiplicidade de formas e contextos. Goulart, M. S. B. (2010). Democracia e Psicologia
De maneira muito especial, a Psicologia Social Social crítica. Psico, 41(3), 317-324.
e a Política se despem de sua neutralidade para
tomarem como seu principal mote de trabalho o Habermas, J. (1980). O conceito de poder de
estímulo ao exercício da palavra, do diálogo, da Hannah Arendt. In B. Freitag & S. P. Rouanet,
produção de entendimento. As respostas sociais e
políticas tendem a ser elaboradas em contextos

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012


67

Goulart, M. S. B. O Poder Dialógico: de Arendt a Habermas

(Orgs.), Habermas: Sociologia (pp. 100-118).


São Paulo, Ática.

Morin, E. (1996). A noção do sujeito. In: D. F.


Schnitman, (Org.), Novos Paradigmas, Cultura Recebido: 13/11/2009
Revisado: 15/09/2011
e Subjetividade (pp. 45-55). Porto Alegre:
Aprovado: 10/04/2012
Artes Médicas.

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho 2012

Você também pode gostar