Você está na página 1de 126

Pedro Demo obteve PhD em So-

ciologia pela Universidade de Saar-


brücken (Alernanha). Atualmente, é
professor titular da UnB (Departa-
mento de Serviç o SÔcial).
Até 1994, foi técnico de planeja-
mento e pesquisa do lpea, qu~u1do
se aposentou. Também ocupou vá -
rios cargos na administração fede-
ral, sobretudo no Ministério da Edu-
cação. É consultor de várias institui-
ções p(1blicas e privadas, sobretudo
na esfera da recapacitação perma-
nente de proíe8snres e da inovação
de cursos.
Possui mais de 30 livros nas áreas de
política social e metodologia cicntíficçL
Publicou pela Papirus: Educaçi1u e
qualidade (4~ ed., 1998), Al::JC: Inicia-
ção à competência reconstrutíva do
professor básico ( ·1995), Avaliação
sob o olhar propedêutico (1996), A
nova LDB: Râl~.li e avanças (~ ed.,
i 999) e Educação e dessnvolvimen-
to (1999).
,
POLITICA SOCIAL,
EDUCAÇÃO E
CIDADANIA
COLF:ÇÃU
MAGISTÉRIO: FORMAÇÃO B; TRABALHO PEDAGÓGICO

Esta coleção que ora apresentan1os visa reunir o 111elhor do


pensaruenl.n teórico e critico sobre a wforrnaç(1o do P.ducador e sobre
seu trabalho, expondo atravé.s da dtoersidade de experiências dos
autores que dtdu parltctparn um leque de queslüt1s de grn nde
relevâ,wia para o clebate nacional sobre a Educação.
Traballtu.ndn a partir de duas vertentes básicas - magtslé-
í •io/Jormação projissional e magislé, io/lrahnlllo pedagógico -os
vários autores e11.focarn djferenl.P.s ângulos da problemática ecluca.-
cional, tais cumo: a orlenlaçãu na pré-escola, a es<.:ola dP. 1 S! grau:
currículo e P.rtsino. a escola no n1eio rural. u prática pedagógica e
<> r.otidiano da escola, estágio superi,l.c:.lonaclo. didática do ensino
superior etc.
Esperarnos assinl contribuir µu.ra a rt>Jlexáo dos prqflssio-
nais da área de educação e do p1íhlico leitor em geral, visto qttt:
neste campo o questionamento é o primeiro passo na clireção da
rnel/1orla du. qualfrlacle do ensino, o que qfela a tudos nós P. ao pais.

Ihna P. Aleucastro Veiga


Coorde:nadora
PF.DRO DEMO

;'

POLITICA SOCIAL,
EDUCAÇÃO E
CIDADANIA

PAPIRlJ S
--
- ..
.
·•

EDITORA
C;:aps:1 · Fer.nando Com~cchía
Futr.:r. Aennaco ·,esta
Coplrl~q,~~ Lúcia Helona Lahoz MoreUi
f l d ~ o : c,i::::>liiirte Auretsen ~ n ~ v i n i

Oa<fos 1nternaoi<>nal~ ct.... Catatogaç:ão na r u b l i ç a ~ o (CIP)


(Câm.era Bn:nsíl~lra do Livro. SP, Bn1sil)
Demo. Pedn>. 194 1- - -----
Polítk-.a social. ~<:?-~º-- e cidadania / Pedro Demo. -
~ r n p i ~ . SP : Paplrus. \._§94. ·- (ColP.ÇAo Magistério: Founo-
çAo A Trabalho Peda.gógicÔ) _.,·

Bihliog~fla.
ISBN 65-306-0273-X

"1- Brasll - PoUtk;a social 2. Política soei.ai L Titulo- U. 66,ie.

94•1024 coo 361.6"10901

endlCOG para cat61ogo i:>i:::.t~mtltlco:

1. Brasil : Político social 361.G"f0981

3ª edição
2000
--·
DIRElºJ u ~ AESEAVAOOS PARA A LÍNGUA ronTUOUESA:
dM. A. Coma.cchfa Livnuia e Editora Lt<Ja. - PapinJ-S Fditora
Telefones: (019) 272-4~00 e 272- 4534 - Fo.x: (019) 272-7576
Caixa PO$tal 736 CEI"' 1 ~ 1 - 9 7 0 - Campinas - St-> - Brasil.
E - n-.ail; pHpfrusOlexxa.c<Kn.br - http·#vuww. papit'uc.com -b,

rroibida a ,e,p.-o<Juçao total ou pa.-cial. Editora afilia.da à ABOA.


Pa,r a Lúcia:
a dedicação err1, pessoa.
SUMÁR(O

APRESENTAÇÃO 9
1. O QUE É POLÍTICA SOCIAL 13
Eliminar, reduzir uu cunvulidar 14
O que é pobreTA 19

2. TRÊS HORIZONTES DAPOLITICASOCJAL 25


Polí1.icas assiçtenr.iais 26
PoLiticas socioeconômicas 3i
Políticas participativas 37

3. A QUB5TÃO DO ESTADO 43
Do capitalismo liberal ao sociul~mo real. 44
O Estado que temos e de que precisamos 49

4. DEM-ESTAR SOCIAL E SUAS COMPARAÇÔES TORTAS 55


No plano assistencial 61
No plano socioeconômico 61
Nn plano participativo 62

5. PIANEJAMENTO.SOCTAT, 67
Mito e realidade do planejamento social 67
Planejamento assistencial . 73
Planejament(l socioeconômico 81
Plallejatnento participai ,vo 89

6. DESENVOLVIMENTO 99

CONCLUSÃO 109

BIBLIOGRAFIA 111

..
APRESENTAÇÃO

Política social continua senc..lo d~afio fun<lan1ental e contradi-


tório da sociedade e do sistema produtivo. No pano de fundo emerge
sempre a questão social, ou seja,, o prohJcma das desigualdades so-
ciais, tomado aqui como componente históriço-c~trulural. Quer dizer,
as desigualdades sociais perfazem a própria dinâmiC3 histórica em
termos de resistência e necessidade de mudança. Do ponto de vista do
grupo dominante, polítka ~ul;ial tenderá a ser tática de desmobiliza-
ção e controle, enquanto do p9nto de vista dos "desiguais", assoma
como contraposição. Todavia, se os desiguais chegarem ao poder,
poderão reduzir consideravelmente as discriminaçõc...c:;, mas continua-
rá havendo sufic.iente desiguald~de para ressurgir a necessidade de
mudança. O capitalismo represcnla uma <las sociedades tnais discrin1i-
natórias. Sua superação todavia não inaugura o fim das desigualdade-~,
mas introduz outras formas possivelmente mais a<.:ciüivei~, ou seja,
mais democráticas. Democracia, por sua vez, não cxtennina o fenô-
meno do poder, apenas tenta "domesticá- lo"".
A promessa de uma sociedade igual geralmente provérn do grupo
dominante para a1nansar os dominados. Na teoria da emancipação, os
espaços de renda e poder não estão disponíveis. Ao co'ntrário, são
9
duramente disputados, fazendo e&53 <.Jisputa
parte integrante da din~-
1nica dialética da história. ~irn, política social poderia reduzir o
espectro das desigualdades, e isso a define, no fundo. Não será
"social" a política, que não tocar as desigunldades ou dcscon~entmr
renda e poder.
'Tal posicionamento permite definir pobreza como repressão do
acesso às vantagens sociais, não apenas como carência material.
Donde segue 4u~ não, é p~sívcl enfrentar a pobreza sem o pobre.
Ademais, assistência social, direito fundamental dos grupos que não
podem auto-sustentar-se, não é estratégia de confronto com a pobre-
za. Em termos emançipatórios, dois horizontes são essenciais:
inclusão adequada no mercado de trabalho e cidadania.
O E.~tado detém papel relevante na política social:, muito emho-
ra no espaço participativo sua função seja de in~lrumcntação, jamais
de condução. De um modo geral, Estado é instância delegada de
serviço público, e nisso poderia tornar-se lugar importante de equaliz.a-
ç,,o de oporluni<lad~..s. O problema principal nunca será seu tamanho ou
sua presença, mas a quem serve.

NoÇ<io mais moderna de desenvolvimento define-o como oportu-


uitlm.lc, ou seja, como capacidade de cada sociedade de o construir,
dentro do contexto histórico concreto. Uma das estratégias mais efetivas
é cduca<s~o, sobretudo como formaÇ<~O básica, que deve ser universali-
zada na população. A qualidade educativa popular emerge como fator
crucial das chances de construir projeto de desenvolvimento moderno e
próprio, a par da ciência e tecnologia. Inclui-se aí também o desafio rle
sua sustentabilidade, coan realce para a fat=c ..tmbicnla1.
Polílica social, no conlcxto capitalisLa subdesenvolvido, é tão
importante quanto contraditória. Seu alcance é limitado, alé1n de não
ultrapassar a lógica do sistema. Entretanto, à medida que souber
acionar iniciativas mais estruturais, con10 edu(;(a~ão, cidadania, ciên-
cia e tecnologia, pode aumentar sensivelmente a oporlunidadc de
algum redirecionamento e mesmo a1 imentar potencialidades de supe-
ração. São arcaicas alituu~~ maniqueístas condenar toda e qualquer
política social ou esperar délo a redenção. O próprio fato tão recorren-
te de que a participação comunitária sempre aparece cm órgãos de
assist~ncia já denota o truque desmobilizador.
10
Por fim, re,..~ salte-se a importância da formação técnica. adequada
para tratar de política social com a devida profundidade, interdiscipli-
naridade e (auto)crítica. Planejamenlo social lcm sido tarefa a1nadora,
que ora não vai a)én1 de lances teóricos dispersos, ora se fecha cm
setores parciais, ora cspargc inseguranças repetidas cm termos de
competência instalada e renovada. Sem nunca desprestigiar a boa
teoria, é mister saber operacionalizar propostas e_ críticas.
A visão histórico-estrutural colocada como hipótese de trabalho,
aqui:, evita aproximações fáceis do funcionali~mo da dircitc~ e do mani-
qneí~mo soterinlógico da esquerda.

11
1
O QUE É POT .ÍTICA SOCIAL

Este trabalho inlcnciona elaborar, de modo introdutório, con-


cepção sistematizada de política social, que possa servir para estudos
e propostas de planejamento. Não existe preocupação específica de
di_tiJ.n.j.J.: polê111icas, até porque são academicamente saudáveis, mas
apenas de oferecer maneira possível, teórica e praticamente pertinente
de pensar e fazer política social. Tal elaboração não sugere qualquer
pretensão de exaustividade, pois não vai além de alinhavar um modo,
entre outros, de ver a questão, bem como de sclecion*l r, no campo
infinito de temáticas e ternas, alguns tópicos rclevanles (Franco 1981,
1983, Dcn:10 1978, 1988c, Dobb 1971, Abranches 1987).
,
E escusado dizer que este trabalho reflete, mal ou bem, não
somente o trajeto teórico do autor, mas ig.unlmcnte a prática, como não
poderia deixar de ser. A coerência entre tcoría e prática é algo essencial,
embora não exista nenhuma vantagem cm submeter u1n termo ao outro
de modo rnecânico. Mas 1cva a adiantar que não faz sentido imaginar
política social cxtrcmaincnlc avançada, dentro de práticas concretas
modestas. A teoria só pode ter o la1nanho d:~ prática, ainda que deva
ultra passar a esta no sentido da utopia (Deu10 1988a, 1988b).
13
Assim, e)dgir que, para fazer q'uãlquer coisa aceitável, primeiro é
condição fataf mudar o modo de produção, acaba transformando-se em
álibi, ou e1u posi~o _<lc e8peclador, ou em desconversa, de toei~ os
modos uma estratégia de usufruto privilegiado. Nem va1e o reverso, sem
mais, como se toda política s.o cial devesse ser significativa ou compul--
sorian1ente retrógrada. Sempre é possível fazer alguma coi.~, porque
nunca a história .é completamente monolítica. A coerência que se pede é
que, primeiro, não se mistifiq'ue o que se faz através de discursos que
nada têm a ver :com a~·prática, ou se mistifique o discurso através de
práticas contraditórias e, segundo, que não se unilateralize nem discur-
1

so, nem prática, mas se '6nha a ambos na mesma conta.


Toda política social de orige111 '":;uperior" (páblica, empre:sarial,
acadêmíca, religiosa etc.) corre o r~o intrínseco de ser estratagema de .
controle social e desmobili2.ação dos "desiguais", segundo a lógica do ·
poder (Bordenave /k, 1980, Caldeira 1984, Covre 1983).

Eli1ninar, reduzir ou convalidar


I

fQJ.íljça soçial r>9f.1.c ser- cpn textuada, de partida, do. ponto de


vista do Estado, como proposta planejada de cefrentamento das desi-
gualdades sociais. Por trás da política social e_xist~ a qúeslão s~ial,
definida desde sempre como a busca de composição pelo menos
tolerável entre. alguns privjléglados que conlrolam a ordem vigente, e
a maioria marginalizada que a~-su8lcnla.
É acerba a discu5-5ão sobre o caráter apenas hi~tórico, ou históri-
co-estrutural, ou apenas estrutural da desigualdade social. Na primeira
postura, dcsigualclacte foi algo historicamente inventado, digamos a
partir ~a introdução da propriedade privada e em scgµida do trabalho .
assalarru<.lu, por meio dos quais os donos dos meiQS de produção. redu-
zem os outros a mero instrumento de acumulação de riqueza,
expropriando a maior parte do valor·gerado pelo trabalhador. A força de
trabalho \orna-se também. 11\ercadoria, cristal izanclo forma de subn~issão
scvcra1ne11t.e llcsigual, já que o "bem-esla~ de alguns se funda na
espoliação do ~sforçq da maioria (Engels 1971, Sandroni 1985)~
14
Se desigualdade social tem origem histórica, é, por ·decorrên-
cia, suprimível na histórfa., desde que se atue sobre sua. causa.
Indigitada a causa - geralmente resumida no modo de produção
.c,Jpitalista - , é o caso de agir no sentido das condições de transfor-
mação hist6rica, levando a outro.modo de produção já não marcado
pela "mais-valia". Seria possível chegar a um tipo não-desigual de
sociedade, geralmente chamada ~e
s0cialista (comunista), na qual os
LrabalhadÓres livres lrabaihariam para si mesmos, em total ~utoges-
tão: "Cada qÜal segundo suas possibilidades e a cada qual segundo
suas nec~idades." Aí11 logicamente, não haveria mais por q.ue t·a1ar
cm política social (Marx 1973, 1975, Demo 1989).
Na segunda postura, toma-se desigualdade ~ocial como marca
estrutural de qualquer história, precisamente no sentido de que a histori-
cidade n5o é algo conjuntun\!1 mas da essência da realidade sacia 1. A
história 6 di~âmica porque é dcsigual.-~f>nna.~J.é!1.t.!C.ª-é ~~fi-
cie~[e c'!.E/f/1Yosa, J?.!!!E-!..<1.-1:_91,4C_ $.~. .S.Yll.f:.l.ª-.( .C.0.!JlO [ase. Uma
história sem conflitos radicais coincidiria com a destruição da própria.
dinâmica hi~lórica, o que sempre não passa de ardil do poder: ~omcnle
quem esL1 no ·poder pretende ilintar a história como não-conflituosa,
dentro do estratagema miJcnar de dcsmobili?.ar os marginalizados.
Assim, passando para 011tro modo de produção, mudam os
conteúdos históricos da desigualdade social, mas não a dcsigualdàde
em si que, como forma , continua estrutural. 'No socialismo âitó
7

"real", não bá classes sociais, porque não enconh11!nos a relação


capitalista de produção entre. capital e trabalho que marca o fenômeno
da mais-valia, n1as h:í desigualdade social com outros conteúdos
específicos. A contestação do social ismo real na ex-União Soviética,
no Leste Europeu, em Cuba e apenas a 1nais recente insistência
histórica da marca estrutural da desigualdade social. Não vale a pena
1nascarar a desigualdade social, sempre presente sob alguma forma.
O que interessa é çomo enfrentá-Ia, tomando-a como ponto de partida
estrutural.. As revoluções não muda1n a forma estrutural da desigualdade,
mas podem transformar as relações históricas entre iguais e desiguais,
introduzindo democracias mai<; e menos viávci~. O realismo da demo~~
cracia eslc:1 cm não escamotear as clivagens do poder, mas buscar formas
de controle d~ baixo para cima (Bahro 1980, GUly 1985).
15
Aí, logicamente, · fl_~ig_ual~ade --~ia!.. p~<!_e ~r redu~i~, nao
eliminada. Política social é necessária e importante.
A terceira postura corresponde à visão tipicamen~e conservado-
ra, embora seja apenas o extremo da primeira, desdenhando a
capacidade histórica de modificação darealidade. A história é .co1n-
preendida como simples roupagem subjel.iva de um fenômeno que
ohjetiva1nentc se impõe. A história é determinada, repetitiva, nos
moldes dos fenômenos npturais. Não existem conquistas históricas, a
não ser como falsa consciência, que se im'.ngina livre porque ignora as
determinações (Lévi-Strà~1ss 1967). .
No contexto de uma renlidade social determinada, a intervenção
humana é sempre algo secundário, o que leva a assumir que dcsigu~lda- ·
de :-;ocial é dada e invariante. Política social poderia reconhecer a
desigualdade social, e, a partir daí, arquitct.'lr modos de ncomodação,
mas nunca chegar· a propostas de redução sup.stancjal. Facil~ente de-
sen1boca e1n visões funcioualistas ~ sblêmi<..·as, que consagram ordens
vigentes como sagradas, no sentido da convalidaçfio (Dnhrcndorf 1982).
Nossa posição -se1n aguçar polêrnic}ls -alinha-se à percepção
histórico-cstrulurnl da ucsigualúadc social, pelo que a.ceita política so-:
cial como esforço necessário e possível de redução·, també{ll .
revolucionário, de acordo cotn as circunslânci:-as históricas. _Dentro _d e
propos~$..jnstitucionais típicas, con10 são políticas ~o<;fais públicas,
óu de entidades específicas, co1no e1nprcsas, as iniciativas curacteris-
ticamente não ultrapassam possíveis reformas, predominando. de
modo tendencial cuidados por vezes ca1nufla<lus de controle social
dos desiguais (Falciros 1985, 1986, Pinto 198'1).
· Falamos de proposta planejada de enfrcntamcnto, por várias
razões: , ·
I
a) trata-se de proposl<'\ planejada, ou seja, de iniciativa expressa
e organizada, não de.ações pai::cclarcs, intermitentes, casuais;

b) trata-se de c.nfrcnL'\n1ento, porque entre iguais e desiguais a


relação mais típica ó. a do confronto dialético, no sentido da
unidade de contrúrios; não preciso ser guerra, mas é sempre
dinâmica cm termos de polarização;

16
e) política social supõe, de modo geral, planejamento, ou se_ja,
a percepção de qu·e é possível intervir no processo histórieo,
não o deixando a_c onteccr à revelia - "quem sabe faz a hora,
não espera acontecer:,.
Essa maneira de ver coloca como primeiro datlo a desigualda-
de estrutural, e, em decorrência, considera a possibilidade histórica
de uma sociedade menos designai como processo de conquista por
parte dos interessados. Uma conclusão vital é: n~o se pode enfrentar
a pobreza sem o pobre.

Opõe-se à idéia 1nccanicista d~ que política social é decorrência


não-problemática de outras políticas, particularmente a econômica.
Entre política social e cconOniica.t::xi~te condiciunamcnlo natural, não
determinação necessária. Ambos os lados sfio da mesma relevância,
e, no fund(), formam nma realidade s6. Não se conseguem mudanças
soc"iais sem mudanças econômicas, e vice-versa. A economia que é
forjada sem co1npro1nisso social não o recupera jamais, a não ser por
intervenção forçada. A _distrihuiçflo dos be nefícios econômicos só é
viável se houver a devida produção.

Em termos concretos e duros, a hisLória não permite sociedades


propriamente igu().is, mas talvez tolcnívcis, como se dá na democra-
cia. Sociedades de1nocráticas são muito imperfeitaS mas apresenL~m
7

pelo menos a vantagem de uma convivência marcada por regras de


jogo capazes de reduzir substancialn1cnte a discri1ninação social. O
poder democrático também é poder, mas é ra<licalmente diferente do
poder discricionário, porque seu acesso é relntiva1nenlc equalizado,
sub1netc-se ao veredicto popular regulanncnte, considera-se d~lcga-
do, presta conu1s, e assim por diante·(Bobb_io 1982, 1986).
,,
E comum a preocupação de que no capitalismo é inviável -
por definição - qualquer políLica social efetiva, pois nele a regra da
convivência é a exploração do trabalho alheio. Embora essa definição
do capitalisnio seja realista, L~uuu ~111 vbta ~cu notório l:ullivo da
pobreza e da marginalização, a outra ilação é maniqueísta, pois assu-
me a intocabilfdadc · hislórica de um fenômeno histórico. Leva
facilmente ao imobilismo ou à teoria do "quanto pior, melhor", que
no fundo somente interessa a quem não está na pior, além de inslilar
17
postura voluntarista cslérH, como se· fosse possív~I '"decidir" a morte
repentina de um sistema de produção. Segundo o próprio Marx,
nenhuma 6poca se supera sem antes csgol:1r suas possibilidades, ou
seja: o capitalism~ vai acabar, coua l:erleza, pois é apenas f~se histó-
rica, mas precisa esgotai-se na história, como toda fase. · E se1nprc
possível apressar a história> mas não pular por cima 1. "

Assiin, não putlcria surpreender que, fazendo política social cap:iz ·


de reduzir d~igualda~es sociais, ao mesmo te111po aperfeiçoamos o ·
sistema e o arnndnrccemos para sua superação. Outra coisa é colocar-se
con10 d~afio exclusivo .a revolução, reclamando intervenção iadical na
reulidade. Tal postura não só é possível, <.:umo viável, mas não será
coerente, se ficar apenas na expectativa do discurso privilegiado.
Dentro de um sistema lfln desigual como o capitalismo subde-
senvolvido, a polítk:a social recobra ainda maior necessidade,
assumindo desafios obvinmcntc muito arriscados. N~nhum sistema é
tão fechado e monolítico que não rache em algum lugar. Dentro da.
compreensão da realidade histórica como unidade de contrários, a
desigualdade não aparece apenas con10 u:ucsgraça'" social - porque
cl<Si nos desiguais - , mas ~unbém como fJ dinâmica estrutural das
mudanças, porque é a parli,r dos desiguais que se constrói a nova fas~
(Castro 1979, Gorz 1989, Moniz 1987, Rodrigues 1988).

Logicamente, "reduzir" as dcsigualda<lt:s é Lermo que se presta


às mais sonsas banaJizaçõcs, parlicularmontc ao oportunismo de en-
cobrir controles sociais refinados. A começar pela freqüente sugestão
de que é tarefa do Estado, ou dos técnicos, ou dos professores, ou dos
Hdere..c; partidários, ocultando :'l realidade prirncira de que desigualda-
de se enfrenta a partir dos desiguais. Dentro dessa ótica, tarnhém no
copitalismo é possível - e necessária - política social (Demo 1985a).
'
1. .. Uma org:miz.'\ção soci:11 ounca d~;aparcec antc3 <1uc se d~cuvoJvam locl;is as rorças produ-
ltws que ela é c-ap..,z de conter; uum:" relações <.lc produções novas e superiores se lhe
=>u~Litucm antes c1uc as oon<.liçóçs n1a1crfais de c.xiscência destas rcla,õcs se produzam no
próprio scio da velha sociroadc."(Marx 1973, p. 29)

18
O que é pobreza

Sob o prisma do bem-estar socia~, ~~e -~ J({l~~.z .e~r


pobreza.
. ... . .. Na linguagem corrente, as auloridndcs públicas e, sobretudo,
novos governos prometem "combater a pobreza,,, "erradicar a pobre-
za absoluta", "acabar com a n1iséria", e assitn por diante.
• Entretanto pobreza não se restringe ao problema da carência
rnnteria-1, percebido através da fome sobretudo. Olhando bem as coisas,
nossa visão comum ele pobreza é n1uito '·pobre". De urn lado, ficamos
apenas com a rtu\nifcstação física, m_atcrial, deixando de lado a "pobreza
de espírito". De outro1 ignoramos aquilo que é marcadamente seu cerne:
o fundo político da marginalização opressiva. Pobrc7..a é o proca~so de
repressão do acesso às vantagens sociais (Dc1uo 1980, 1988b).

Se todos passam fome, ninguérn é pobre. A carência, de si, não gera


ncce~~c;.ariamcntc uma situa~-ão de pobreza social. O que faz pobre é ser
obrigado a pnS&1r fo1nc, enquanto al1,JUns comem.bem f1custa da fome da
rnaioria. Pobreza social aparece no contexto de vantagens clcsiguahnente
di~lribuí<las. No fundo, pobreza é injustiça, o que leva a ressaltar, por outro
lado, a ncccss-idadc da consciêncül polílic1· da pohrc7.a.

Porquanto é comurn a capacidade das oligarquias de produzir o


po brc inconscicn te, que não sabe que é pobre, pois não chegou a
descobrir que é mantido pobre. O que revela, no reverso, a essência
política do fenômeno. O pobre mais pobre é aquele que sequer sabe e
é coibiuo uc :-;abcr que é pobre.
Diante dessa percepção, podemos distinguir dois horizontes
mais típicos da pobreza> ainda que no fundo seja um fenômeno só:
pobreza sociocconômica e pobrc7..a política.
Por pobreza soeioeconô1nica compreendemos a carência ma tcrial
irupU:>la, traduzida na precariedade comumcnte reconhecida do bem.es-
tar socfal: fome, favela, dcsc1nprego, mortalidade infantil, doença ... Esse
horizonte é mais tratado e possui a vantagem metodológica de caber
facilmente nos trâmites acadê1nicos, do tipo '~indicadóres sociais,,,
19
voltada para essa problemática, recdnhcccndo-se na esfera materfal a
principalidade do e1nprcgo e da renda, já que oul,ds necessidades são
dependentes e até mesmo decorrentes. Ainda, tornou-se praxe entender
política social como "cohmn do E.'stado, como política pública, compro-
metida cm essência com a pobreza material.
Nesse qu«dro surgiram distinções insinuantes, en1bora ccr:ta-
mente estranhas para as vítimas, de pobreza rclativ.a e absoluta,
pobreza crítica,, pobre75a extrema, e também de "estratégias de sobre-
vivência"', todas voltadas pard a capacidade de sair da miséria via
trabalho e produção. É inegável o avanço acadêmico, cm termos dç
pesquisa e conhecimento, e mesmo de arsenal de propostas de políti-
cas, planejamento, avaliação~ ainda que - na ironia típica desta
dialética histórico-estrutural - a pobreza tenha se reduzido ~m lermos
absolutos,·mas dificilmente cm lermos relativos (Haguette 1982).
Para fazer teoria da pobrc7.a é mister não ser _pobr~. Não há
correlação c!-;pera<.la visível entre o aumento histórico dos estudos
sobre pobreza ou n multiplicação de programas sociais, de un1 lado, e
a rcduç;in d:,1·pobreza, de outro. Parece haver outra correlação: ambos
os lados au1ncntam na mcs1na proporção relativa. O q~c leva a colocar
que não é possível enfrentar a pobreza sen1 o pobre. E preciso voltar-
se també1n p~ua a pobreza política.
Por pohreza política compreende-se a dificuldade histórica de
o pobre supcn1r a condi<;ão cJc objeto manipulado, para atingir a de
sujeito consciente e organi,..ado cn1 torno uc seus intercs~es. Manifes-
ta-se na di1nensão da qualidade, ctnbora seja sempre condicio.nnda
pelas car.ências mn teria is também. Mas a essas ja1nais se reduz,
apontando pnra o déficit c.lc cidadania.
,
E politi.c..amentc...pobrc o povo que é massa de manobra, ºt!
1
seja, não é propria,ncutc povo, 1na~ objeto de manipulação das
oligarquias . Esse horizonte é menos estudado e leva a desvantagem
metodológica de que sua captação se coa<.lun:i con1 muita dificulda-
de aos tríin1ilcs ncadêrqicos, porque qualidade polftjça por
definição não se mede. Além do mais, o F.slado quase sempre "mete
a pata» nessa esfera, a cou1c~ar pela dificulúadc de entender que nem
toda política social deve ser cslatal. Por cxetnplo, a política sindical é
. -
20
certamente social, mas jamais deveria ser estatal, pois necessita
confrontar-se tarnbém com o Estado. Mais do que nunca> a superação
da pobreza políLica só pode S(:;f iniciativa prinaeira do real interessado.
A própria definição de pobreza revela o campo contraditório da
nolX~~a sociaLe.m. v.ários_~entidqs:
a) c~nfrontos entre ~xp_çcfa:tiyas disparatadas, desde propostas 4ue
kaginam eliminar, outras que imag.inàm rcduz,r,-•até aquelas que
"normalizam" as desigualdades sociais~ a expectativa diante da
política. social não poderia fugir ao confronto ideol6gioo, porque
o ator social não pode ser neutro, principalmente diante de algo
que o atinge a toda hora e em todo lugar, como é a desigualdade;
b)_fácil menosprezo...pelo..'.horizon~ político da pobreza~ levando a
políticas tecnocrálkas, parliculannenlc sagazes crri rcooilar for-
mas de controle social: a tendência típica insistente da política
social é criar mecanismos de controle e dcsmobili1.aç.ão social;

e) dificuldade inerente de um produto elitista, como são teorias e


progm1nas sociais, de corresponder às reais necessidades dos
inlcrcssndos; é desafio extremo compor a "ciência da pobreza"
corn a rcdn~~o prálic.., da pohre7a, em cujo proccs..~o o pohre .seja
o agente central;

d) banalização constante das possibilidades e dos limites da


polf tica social, coincidindo quase todos na ineficácia tcimo-
s~ d<~ prnpo~tas no máximo compcnsat<lrias, seja pela via d~
abstenção oportunista seja pela via da ofcrla residual.
Sobro o pano de fundo da d~c;igualdade soe ia], podornos dizer que
política social autêntica precisa implicar co1npromissos evidentes de
atingimento do espectro da desigualdade, reduzindo-o. Caso contrá-
rio, não será "social'>. Daí decorre, primeiro, que política social
carc;cc ser preventiva, no scnlido <l~ ir às raízes do problema,
evitando que se processe. Políticas curativas são incvit.:íveis diante
da pobreza vigente, mas não debelam o mal, e podem, nessa insistên-
cia, incenLivá-lo. Aparentemente, políticas preventivas podem parecer
mais caras, porque irnplitlm inicialmente invcstitnentos significativos . .,
21
Mos .tornam-se mais baratas, porq·ue evitam a proliferação poste-
rior de problemas cujo tratamento curativo é se1npre mais
dispendioso. Assim, oferecer creche às crianças pobres seria progra-
ma prcven tivç, cujos r~cursos implicados renderiam efeitos
multiplicativos post<friores, à medida que o aproveitamento do 1'2
grau seria 1nais amplo, poderia diminuir o risco de proliferação de
"meninos de rua", a vida ativa poderia transcorrer mais produtiva e
prolongada, haveria menor-incidência de uso da previdência etc.

Em segundo lugar, política social precisa ser redistributiva d~ renda
e poder, não apenas ~istributiva. Se distributiva, não toca a desigual -
dade social. R~nda e pod~r neces.s itam ser desconcentrado.~, o que
implica atingir as concentrações de privilégios, os processos de enri-
quecimento e de acumulação de poder, as central izaçõcs
administrativas. De rnodo geral, política social é manticfa na mera
distribuição, o que supõe:
a) é feiu. na medida das sobras; seu papel é de "bon1bciro.~,
sobretudo diante de uma econon1ia recessiva; ·
b) tende a beneficiar a quem já é privilegiado, mantendo o
sistem.9 imperturbável;
e) m~tifica a pobreza como sina, fall.a de sorte, n1au j~ito, esca-
moteando que é causada, m<lntida, cultivada, e por isso injusta;

d) descarta o pobre como agente principal do projeto de cnfrcnta-


mento da desigualdade, tornando-o objeto das distribuições.

Ern lcrcciro lugar, política social necessita ser equalizadora de


oportunidades, partindo-se de que as oporlunid,tdes foram apropria-
das pelo grupo dominante. Uma face importante desse desafio é a
univcrsa)ização da educação lle 1° grau: todos devem ter acesso de
modo incondicional, recebendo a mesma qualidade. A desigualdade
receberia aí um corretivo importante, à medida qu~ todos teriam
chance de dispor de urna ..formação básica coinuin, como arma de luta
no espectro das desigualdades.
22
Em quarl.n lugar, política sf1cfal deve ser, sempre que possível,
!1nancipat6ria, unindo autonomia econômica com autonomia política. O
,roccsso de emancipação funda-se, simplificadamcnte, em duas pilastras
1uttuamente condicionacJ~Ls: uma econômica, volL'lda para a auto-sustcnta-
;:10, outra política, plantada na cidadania. 'frabalhar/produzir e
larticipar dcfiniria1n as oportunidades históricas das pessoas e sociedades,
lcsde que almcje1n projeto próprio de desenvolvimento. Não é ideal
,ncial ser as.~istido, ,l menos qne seja inevil:ávcl. lJma sociedade se faz
lc sujeitos capazes, não de objetos de cuidado.

23
2
TllliS HORIZONT~ DAPOLÍTICASOCIAL

Para fins de sistematização, convém distinguir no campo da


política social pelo menos três horizontes teóricos e prnticos:
• p9líticas assistcncia-i s,
• políticas socioeconô1nicas,
,,. • políticas participativas.
Tais horizontes se interpenetram, e1nbora cada .qual tenha sua
densidade própria. Do ponto de vista da desigualdade soei.a i h_~st6ri-
co-estrulural, caberia acentua~ que toda política social - para ser
social - n~cessita atingir a condição concreta de redução da desi-
gualdade. Nesse sentido, precisa ser emancipatória .
. Política social não é. ajuda, piedade ou voluntariado. Mas o
processo social, por meio do qual o necessitado gesta consciência
política de sua necessidade, C7 em conseqüência, emerge como sujeito
de seu próprio destino, aparecendo como condição essencial de en-
frentamcnto da desiguàldade sua própria atuação organizad1- Política
25
. .
social emancipat6r.ia é aqu_cla que se funda n~ cidadania organi7..ada·.
dos interes~ados/ Ou seja,.nãq tr~balha conl objetos u1anipulac.los, mas
com sujeitos co-participa.~tes. e ·~o.
. ,. dccisorçs.
.
.
O proees.~o rle en:i; o,cip~ç~o hist.6r~ca ~nhece sobretudo duas via~
mais típicas: a via econ·õmica, traduzi(]a pc:lo lrabalho e pela produção,
que .pode garantir aut~-sus·tcntaçã<:>; e . ·a via p91ílica, traduzida pela
formação da cida<.fan-ia organizada,
. que
.
pode .garantir·a autogestão.

Políticas assistenciais ·

Acei~-se que -em todas as sociedades existem grupo$. popula-


cionais qué não se auto-:sustcntam, ou que não deveriam se preo.cupªr
com isso, cabendo ao Esta.d.o so~rctu<lo a obrígnção de assistênc-ia.
Trata-se, nesse sentido, de _as.~jstências c~evicfas por direito de cidadania.
E rcconhccilJo o direito, d~ modo formal ou iRformal, à sobrevivência
condigna, c~)mprometendo--se a sociedade a ass.istir tais. grupos, parti-·
cularmente por intermédio do Estado, criado e mantido, ,cntre outras
coisas, para isso ta111bé1u. A Con'>lilui~ão incorporou, entre os direitos
sociais, também o direito à ass_i..c:;tãncia, englobado no conc~ito de segu-
ridade social - saúde, previdência e ~ssistêncfa (Sposati 1988, 1989,
Aureliano .& Draibe 1989, Chahad & Cervini 1988, Demo 1990,
Jaguarihe 1985, Pinto 1984). ·
...
Ohvi~mente, surgem nesse campo muitas delimitações discutí-
v~i~. Sem dcva~sar a questão, pode1nos pelo menos ressaltar o
problema dos grupos com direito a assistênoia permanente ou cmcr-
gencial, e o problema da distinção fundamental entre assistência .e
assisténcialis1no (Flora 1987, Castro 1985).
, Quanto ao problema dos grupos, alguns sfto bastante consen-
suais, con10 a criança e o adolescente. Podcm-:,;e .d isculir limites de
idade, mas sohrctud<, criança vítima de pobreza material tem direito
à assistência. Na Coustilui(_.ião, criança é declarada ''prioridade abso ..
luta". Não se trata, por oulra, de qualquer criança, mas daquelas
estigmatizadas pela dificutdáde de sustentaÇ<10, ou seja, pobres. Aceita-
se, então, que o Estado deve assistência às crianças e aos adolescentes
que buscam sustento na rua.
26
Otttro grupo típico pa.re'ce ~er o dos deficientes, tolhidos de
tra'-'alhar e prodqzir. Dé ~ovo .ó preciso acentuar que se· trata sempre
de categorias pob_rcs, pois' se~ia. uma irnposição privilegiada obrigar o
cstirdo a manter componenté~ ricos ·desse gr_upo:> embora deva entrar
na ct:na colno ü1slânc.:ia·.dc' nonuatizaçãó~ p·1ai1ejau1en_to e apoio.
· Oibe p95se esp~ço,~·_idos0•;ern condições socia~s precárias~ Em
si, após os anos de.vic.J:~ (itill' ad~ite-se que não deve~iantpreocupar-se
çom a auto-sustentação, via apqs·cntadoria. Na reali4ade,·porém, mui-
. tos deles nccessi~ni traha-lhar, para comp_lementar-a aposentadoria ou
para colaborar no ' orçamento doméstico, QU precisam ·ser mnntidos
por outrem, já que
. não podem . mais dedicar-se a tarefas
.
produtivas. .
Sem sugerir que esses lrê:s grupos ·esgotem· a lisla, trata-se de
impossibilidnde ou· inconveniência de· assumir a auto-sustentação,
pelo que o direito à assist~ncia faz parte da de,mócraéia e da cidadania.
Ao lado ·desse reconlrecimcnto, existe ou~ro inquestionável em si,
referido a emcrgênci_as graves, que incide111 sobre pessoas ou grupos
retirando-lhes condições de se auto-sustentar, como seriam vítimas de
enchente:> terremoto~ peste_, seca etc.
Todavia, há diferença substancial entre os dois casos: no pri-
meiro, o direito à assistência é estrutural, no sentido de que cabe ao
· grupo sempre; nq segundo, trata-se de assistência conjuntural, en-
quanto perdura a emergência grave_. No segundo caso, a assistência
·· tem por finalidatle recompor a capach.lac,Je de aulO-suslcntação, não
· substituí-la. Deve ser feita de tal modo que se lornc dispensável. O
ílagelaclo da enchente deve poder voltar à vida nor1na~.
Com isso, podemos estabelecer alguns pontos cru eia is da d is-
cussão sobre assistência:
a) é direito devido (estrutural) por questão de democracia e cida-
1

dania, a grupos populacionais que não se auto-sustenta1n, sendo


a forma concreta de realizar o direito à sobrevivência;
b) é direito conjuntural de pess.oas ou .grupos vítimas de emer-
gência grave, tendo aí a finali~ade de recompor ns condições
normais de sobrevivência;

27
e) a~s.istê1n;i'a ·signifiQl ili-rciut·à~·sobreviv.ência, em sua essên-·
eia, nã·o· s.e ·. apres~n.tando ~orno estratégia válida de
cnfrentame.nto .d ilS .desigualdades sociais; ..,
d) pa.ra comhat~r pQbt~za, é mister introduzir outros compo-
nc n tcs. . ~a, ·. .política. social voltados
.
a process9s
em.a nc1patonos. :

A tradiçãó brasileira as.~istenciar (do. tipo Legião Brasileira de
Assi~téncfa - LBA) ~plica a~sistência- ·a inúmeros outros grupos,. e,
no Iundo, a todo$ O$ ·pop~es. Entra~ aí migrantes, gestantes, pedintes;
enfermos, e at~ microprodutorc~. Embora seja muito polê1nica a
delimitação da emergê.ncia grave . ou da vulnerabilidade, por uma
quc.s tão prática é funçlamcn.tal saber, ·ao n1es.1no terupo, defender e
limitar a assistência. Tomar a pobreza inteira como alvo de assistência
já é notável assistencialismo, pelas.seguintes razõe.": ·
a) banaliza-se o conceito dé pobreza: não se pode tratar adequa..
damente de pobreza estrutural. cóm. meios conjunturais, ou ~
incorreto mànter lra lamentos E:mergenciais a situaçõ~s tipi-
camente estruturais, co~o vítimas da seca no Nordeste~

b) en1 sociedades com pobrez.a majoritária, é idéia alucinada


pretender manter, digamos, 80 milhões de pessoas sob assis-
lênci'.a: é impossível ati~gir a todos de_modo digno, corre-se
extremo risco de corrupção e, sobretudo, se houvesse orça-
mento para isso, 1nclhor seria investir na geração de emprego
e r_
enda;

c)'mistifica-se a assistência, ao fantasiar a promessa de sair da


pobreza.pela via das ajudas residua~; um país de assistidos
coincide corri a falência de tudo, sobretudo da economia;
c•h egados a tal ponto, a assistência não passaria de cortina
d e 'rumaça. . . . ·. .
' .
Em termos teóricos, ~ também e1n térmo~ de d'i reito, não seria
difícil defender o direito à assist.encia para todos os pobres, sobretudo
em regiões mais carente.s. O problema é sobretudo de ordem prática,
em cujo bojo acabaria transpirando tambéJ!l a desvirtuação do próprio
28
direito: querendo atacar tudo, fat-se-ia a distribuiç~Q já tipicamente
assislenciçli:sla llos·. resíduos~ para uma população considerada resíduo·.
Por exemplo, à primeira vista, ·podé parecer ~uito pertinente introdu_-
zir, via lei, o direito ~• um sahírio mípimo para todas as famílias ou
p_cssoas p(?brcs. Entretanto o lado práti~o da questão coloca limites
cruciais. Primeiro, sobrevém a per.gu·nta de . onde tiriam recursos.
Como s~. origem é · o setor produtivo, se existissem, o· melbor uso
seria contribuir para· o processo de ger<1ção de emprego . e renda.
Segundo, á gestão de um sistema -desse porte traria gargalos incontro-·
Iáveis, a começar pelo limite e pela prov~ de p.obreza. Dentro de no!'.isa
cultura, muitas fam•ílias fora do lirnite "dariam um jeito" de entrar
nele. Terceiro, O (JCréscin10 de ·um saiáriç. mínimo poderia ,apenas
minorar a situação, sem representar aporte significativo;J no fundo
fantasiando ar.remedos de soluçãq. ·
Existem ainda outras demandas assislénciais que. recaem sobre '
o Estado, ::;obretudo ,ª ananute~çã~ dos presos, o trntamen to de doen-
ças contagiosas ou epidêmicas· (tipo Aids, cólera etc.), mendigos e
pessoas "per(f i~as" nas ruas. Entretanto> trata-se sempre de· grupos
bem-delimitados. Não se pudt ainda d~ixar de registrar que facilmen-
te surge, como sarcasmo de uma sociedade absurdamente desigual e
capitalista, a indústria da mendicância e da assistência, para substituir
o esforço de produzir/trabalhar, vivendo à custa da ~mola alheia.
, É fun<.lamcnlal saber defender a necessidade de ·assistência
devida, feita pelo E..:;uido, bem como a imporlânc.:ia de desenvolver
compclência adequada em sua ofertH e manutenção. Pode-se afirn1ar,
sem sombra de dúvida, que não sab<;1uos planejar e cxec'1lar política
conveniente de assistência social, a começar pela confusão lamentá-
vel com o assistencialismo. De modo geral, a:s políticas são
dispararaúas,. coutradil6rias em suas fundamentações, extremamente
residuais, e assim .por diante (Bierrenb~ch 1982, Liina 1982, Lima
1983, Batista Neto 1990).
Entretanto, urge consolidar o espaço da assistência social em
termos de dotação orçamentária, competência técnica e gerencial, e
inslilucional. Para tanto, algumas providências são estratégicas. Pri-
m~iro, seria oportuno re~tri.l)gir assistência social para os grupos
.. 29
inquestionú:ve.is (criança, deficiente, •iuoso), não porque devam ser
excll:Js.ivos, mas para arquitetar uf(;rlas un!versalizantes, condizentes
com a ~oçiio de direito à sobrcviv€ncia. E pr.eciso atender à grande
maioria, não a res{duos, toruandoQ alendimcnto siste1n~tico, incluído
no orçamento · nonnal. Segundo,' é esse,ncial construir competência
adéquada cm ca,111pos que exigem hahiÍid;1<les muito específicas, re-
vendo o trajeto fonnalivo do assistente social e outros profissionais
afins. Terceiro, é decisivo cstal)elcccr o espaço institucional como
conquista dcfjnitiva e.la dcmocracia·e da c idadania, sem mistificações,
sobretudo se1n pretender atacar a pohrcza em si. Assistência que isso
pro,net~, nisso se destrói. Deve, antes, saber fazer o essencial. De-.
pois, poderia avcncurar:.se em outros campos.

Nos tempos aluais, um estranho conluio da esquerda e da


dircitJt torna assistência objeto de veleidades insustentáv~is. De um
lado, usa-se para clicntelismo típico, recriando a n1assa <.Ie manobra
num supermercado de ações tão múltiplas quanlo insignificantes. De
outro, inventa-se atendimento universal de tal on.lcm pretensioso, que
tudo que se faz nfio ultrapassa a n1igalha. Pelos dois lados chega-se ao
1nes1no resultado: a LBA nunca leve, até hoje, qu:ilquer program~
realmente i1nportantc. Piorqu~ í~o, cada nova chefia inventa aventu-
ras disparatadas, ou pela dircila, multiplicando cestas básicas e outras
bengalas que 1uistifican1 emergências e ;itendem a minorias mínimas,
ou pela esquerda, fanlasiando·ofcrtas tiio megalômanas que não per-
mitem scq ucr s~r começadas.
Seria, assim, quesl:io de estratégia consolidar.alguns espaços
inquestioniivci.c., co1n atcncJitncntos universalizantes. Por exemplo,
um atendimento a crianças pobres, dn ordetn de 80%, cm creche~ e
pré-escol,ls, signific}1ria a conquisL'l de um tipo irreversível de atua-
ção, da maior dignidade, formidável invcstitnento no futuro do país,
preventiva. Ao mcsrno tempo, seria "abac~xi de bom tamanho"', que
consu1niria 'forças, competênci~ e recursos significativos.
Quanto à distinção entre assistência e assistencialismo, é ·deci-
sivo não confundir os dois planos, porquanto o assistencialismo
significa ::;cmprc o cultivo do problema social sob a aparência da
ajuda. Hu111ilha <l pess0a que rcc_e hc hencfícios, em todosos
sentidos:
30
- porque. lhe reserv~ apenas sobras~ esmolas;

. .- porque. .provoca a,,.., dependência diante do. doador;


. _,.__, . •,.
- porque desmobiliza o potencial de c~~ac.lania no assisl~tlu;
- porque escamoteia o contexto duro .da desíg~aldade social,
inventando aJarsa da ajuda; •
- porque vende.soluções sob a capa de -m eras cómpcnsaçõcs. ·
·Assim, enquanto o assistencialismo é·eslraLég•ia de manutenção
das desiguafdades sociais, a assistência corresponde a um direito
h1unano. c;ertamente, devemos acci~1r que assistência. não é propria-
mente solução, pois assistir não é solucionHr. ·Toda :1ssis1êncià significa
atendimento tendencialmente emergencial, exceto naqµeles c~sos em
que precisa ser mantjda até o fi1n da vida ou do ciclo de idade. Em
linguagem popular, ·assistência apenas •~quebra ó galho7'. Mas existe
o direito a e·s se quebra-galho. Cabe ao J!st~1do cumprir adequadamen-
te esse dever, sobrctudq não rebaixar assistência a assistencialismo.
ToÍnando-sc precisamente crn conta a tendência avassaladora por
parte dó Estado e das camadas ricas· de realizar assi<;tências de modo
assistcncialista, é fundan1cntal insistir em estratégias emancipatórias.
Por intenuédio delas a assistência lotnada cuidados-específicos, não
para hucnilhar , o assistido, 1nas para colaborar. crh .rola poS!)Ívcl de
emancipação. E nesse conlexlo; que hoj~. st discute muilo mclotlulugias .
produtivas e parlicipativas no campo das assistências, como expedientes
criativos emaocipalórios, scsnpre que possível. A meta dá assisiência é
assL<;tir, obviamente, mas, sempre que possív_el, deve-se ass·istir de tal
forma q uc se t'avorcça1n atividades de produção e participação..
. .
Por exemplo, um asilo está incluído na política assistencial
normal, 1nas poderíamos conceber nele atividades produtivas, não
apenas s9b a forma de terapia ocupacional, senão sobretudo como
fonte de re~<.la, betn como atividades parlicipalivas, a -l:omcçar pela
t=O-gc~Uío lia casa ou pela organização associativa dos idosos. Assin1,
a assistência estaria vollada a reforçar a cidadania produtiva.
31
Uaua fa·c~ aguda do assist.~à'cinlismo é a percepçiío muito típica
dos pa íscs.dô bem-estar social ( welfur(t state) de que pobreza é algo
mais ou mcnos·rcsidual, podendo ser tratada dv modo compensatório,
via migalhas ~r.çamentiriâs. Se é certo que em muitos países avan-
çados pobreza é residual, aqui não é Q caso! Ao contrário, pobreza
aqui não é emergência, mas profunda estrutura. P.olíticas emcrgcn-
ciais - justificáveis em emergências, é claro - não se ajustam ·a
tratan1entos siste'111;áticos de estilo estrutural. 'lalvez o exemplo
mais conhecido aq'lli é o tralamento emergencial da seca. ·rodos
sabem que seca não é emergência, n1as parle integrante do fenôrne-
no climático. A pr-6x.i ma seca vem con1 certeza. Mc~n10 assim, será
tratada como emergência; que. é forma cei:ta de a cultivar. Pur~
assistenciaJisrno (Faleiros 1985). ' ·

A di~tribuição de costas básicas, nQ fundo, interessa apenas a


quem fornece e aos gestores públicos. No pobre não passa de um
périplo além de o atendimento ser s·e,npre espas~ódico e residual.
7

Em casos de cmergênci~extrema, o Est;1.do deve prover ;issistêncfa·,


por ex~1nplo, por. meio da distribuição de cest~s de aliinentos, mas
isso não cabe para tra~uncnlo da pobreza estrutural. Se existirc'm
recursos para cestas, rnclhor· seria, de toJo~ os modos, investir em
creche. Esta pelo menos poderia representar atcndi111cnlo duradouro,
com efeitos estruturais.

Pt>liticas socioeconômicas

. .
O carnpo sociocconômico da política social re~cte ao re.laciona-
1n~nlo condicionante entre o horizonte social e econôrnko na sociedade.
Volta-se para o en"rrcutan1cuto tia pobreza material (pôbre7..a sociocconô-
1nica), pnrlindo de modo geral da relevância do en]j,rcgo e da renda pa_ra
qtmlquer tentativa de reduzir as dcsigu~J<l:1dcs sociais. ·
Ao lado da ~ssistência, o Estado tem presença marcnntc tam-
bé1n nt=:;sc espaço, emb9ra sua ação devesse ser apenas de apoio e
normalização, jamais de substituição dos ageptcs produt,ivos. · De
todos os modos, -foi nlgurn avanço entender que
o crcsciq1cnlo econô-
mico é instrumento - mesmo sendo instrume_n to indispensável - e
32
que o "social" é a finalidade. Concretamente, o crescimento precisa
da"r conta ·das inclusões ·quantitativa e qualitativa no · mercado de
trabalho para toçla a população ativa. Tarefa funda~cntal do _Estado é
plàn.cjar direcionamentos do crescimento econômico e incentivar
tipos de investimento volh1dos à ger.<1ç~io de emprego e renda. Pois., sem
1
gerar rcnd~, ·n üo há como, nem o que distribuir, ainda que a redistribui-
ção seja típica conquista política,- não efeito econômico (Duarte &
Miranda 1985, Oliveira Nclo 1985, Toma-zi 1986, Villaça 1986).
. .

São pQlílicas lipi<;arueute sociocconôniicas:


a) polft~cas de emprego, que ~ão ao te1npo a fonna 1nais
n 1cs1110
estrutural de rcdislribuir renda, seja no setor dito formal seja
. no setor dito informal; sair da pobreza significaria, cm gran-
de parte, trabalhar/produzir adequaclnrnente ;
b) políticas de apoio às formas de micro produção, com vis.tas a
ocup;lr espaço sóljdo no rpcrcado agrícola ou urbano (indús- .
tria, cotnércio, serviços), conto ·caminho possível de
superação d~1 pobrcz~1;
e) poljtica~ c.Jc pro(issional ijzaçflo dii mãn-dc-ohr~, algo certa-
_' ~ e n Lc dcpcndcnlc do mercado de trabalho (a
, , p_r9fissionaliz'açfio não cria emprego), mas relevante cotno
pslratégia
. . de·11rcparação, adequação, rclr~inamento
. eh.:.;
.
~ iJolíticas de habilaçã_o p~ra bai~a renda, voltadas a enfrentar
a d ificu Idade extrema de acesso habitac"iunal por 1mrte das
gran~c~ 111a~sas que acorrc1n às cidades e nelas se aglomeram
·cn? t~lvclns; o aces so à habitação dcpçndc tatnbém essencial-
n1cntc da renda familiar ou individua);

e) políticas de saúde, nut.riçfio, snncamento, com vistas a en-


frentar sobretudo as doenças da pobrcZ:1, caracterizadas, por
9xc111plo, pela mortal idade infantil;
t) políticas de previdência, desde aquelas diretamente ligadas a
acesso rné<lico-hospitalar até aquelas voltadas para aposen-
{atlorias ou pnra fundos co,npulsórios~ do tipo FGTS ou
PIS/Pasep;
33
g)_itol.ít~cas de ·..transporte urbano, sobretudo o transporte de
massa e o transp?Ft~ para o trabalhador;
ti) poífticas · de · urbanização, soQréludo voltadas para bairros
distantes e faveías, .<lc tal sorte que a população menos
favorcçida possa ter néesso a equipamentos urbanos funda-
. mentais (ruas., esgoto, iluminação comunicação etc.); ·
7

.. i). ·:políticas de fundos·sociais, com vistas a criar fontes sistemá-


ticas de firi:a11cia1Íle11to~ úe programas sociais, alguns de
estilo assis·tencial; mas sobretudo como expedien.t~ de
financiamento de atividades produtivas particul:3rmente...
empregadoras de mão-de-obra ou de sustentação de desem-
pregados.
A 'lógica desse espaço é agir numa das vias emancipatórias
típicas, que é trabalho/produçâo, evitando-se assistir·. A in~erç:io .ade-
qua~a no mercado de trabalho por parle do trabalhador ou a inserção
adequada em co11diçõcs cl'c produção e com~rcialízação por parte do
microprodutor são os CHÍl'ii~1hns considerados mais estruturais. Pobre
é entendido como a pessoa que não consegue trabalho (desemprega'-
do) ou qU;c se insere' mal nó mçrcado · de trabalho, s~ja ·no ~etor
informal deprimido sçja em níveis mínimos de remuneração (Victoria
1988) Wells 1987, Cepal 1987, Pena 1981, ~ID 1987, T.ehfeJd 1988).
En, teoria, ~sa proposta parece consi~tente, mas na prática
depara com o capitalismo concreto, no qual o crescimento econô,nico
é insuficiente para absorver a mão-de-obra disponível, tornando o
desernprego e o sube1nprego fenômenos crônicos. .Por outra, parece
claro também que o desenvolvimento, à medida ·que vier e se vier, não
se caracteriza pela capacidade crescente de absorção da mão-de-obra,
1nas· pelo contrário, como condição tendencial do uso.de tecnologia.
Esta torn~-sc se1npre mais a fonte principal de lucro e crescimento,
não o uso de mão-de-obra. ·

Aindn, o processo de esvaziamento do cainpo é inelutável,


porque corresponde à mflrca fat;1J da vida modero~. Se o a·g ricultor
se encontrar ~1n pobr~za extrema, é expulso da terra e acaba apare-
cendo em alguma cidade, para sobreviver na periferia. Mas s·c ·.
34
1nelhorar de ·vida, por q~alqucr razão, t1mhém deix~rá o campo,
atraído peh1s··behesscs urbanas que os meios de comunicação e ·ª
conlpulsão do consu1no se encarregam de fantasiar. Só existe a chance
parece - de r_eter, n5o de fixar ~ homem no campo, :e . isso se
houver efetiva descentralização urbnha e industria~, para que o'agricul-
lor se aloque cm centros 111enores e aí possa sobreviver adequadamente.
. .
. .
Por ·.t.udo isso, inserir de modo satisfatório toda a :mão--de-
obra di.sponível no mercado de t'rabalho supõe condiç.ões
extremamente favoráveis de crescimento• econômico, que é quase
iplpraticável .gara_ntir, sobretudo no Terceiro Mundo. Mesmo as-
sim, é possível reconhecer o caráter mais estrutural de políticas
socioeconômic·a s, porque podem tocar melhor a pob.reza em sua
raiz. Por exemplo, em vez de dar alimentos a populações.subnulri-
<las (o que certamente pode ser defendido co1no direito,
particularmente no caso de crianças), seria mais eficaz montar uma
política de produção de alimentos,.principal mente .a partir dos que
deles mais prccisarn, . ou uu1a política de canprcgo produtivo, por
meio da qual as famílias pudessem comprar o pão e o leite, para não
recebê-los corno esmola _(C:-l1sing 1986).
No fundo, instala-se a discussão central cm torno da fácil e
tendencial degeneração de pol fticas sociocconômicas cm assistcncia-
li~tas, pois isso corresponde à propensão do Estado de se Jegitimar por
meio <le doações co1npcnsatórias. Aprecia dnr casas, remédios, manti-:
mentos, bem como ··~c1nprcgu" .públic.:o. São todos expedientes
assistcncialistas que criam o parasitismo social, no sentido de obsta~
culizar a emancipação social. Em vez da auto-sustentação, via
emprego e renda, a manutenção para!->ilária pc1o Estado, o que revela,
no outro lado, um Estado larnhóm parasitário.
Já é público e notório: toda pessoa que deixa de trabalhar ou
próduzir acorre ao Estado, seja para procurar aí u1n emprego qualquer
seja para hJrscar as.(dstências. Talvez se pudesse afirmar que uin dos
fcnõm·enos mais alarmanlcs Ô<; regiõc~ pobres é a decadência produ-
tiva cm geral, e em parficular no interior: grande parte das cidades
menores não sustenta mais pródtJção própria, vivendo apenas do
co1nércio
. estacionário
.
ou <lc empregos públicos. A vida econômica ~o
35
município nãó pode.sequer viahilizãr deveres públicos fu,ndamentais,
como a educação de ·1 2 grau, o acesso à água potável, o atendimento
hospitalar e s~nitário e.te. A dependência é genérica e acaba transfor-
mando-se em forma normal de vida. ·. .
·oe qualquer forma, esse campo &ocjocc·o nômico guarda 1u1;:n...
sagerri de expressão política fundamcntal: sendo (!1ÍSter priorizar pOlílicas>
porque a pobreza é demasiada. em vi<;ta dos recursos disponíveis, um
começo essencial é não permitir que se dcsfau;a qualquer posto de
trabalho existente, .ou qualquer rnicroemprcsa. Principalmente a pe...
quena produção ucu'p a papel sensível na geração de emprego e renda
de caráter popular, por mais que muitas deJas . sejam arcaicas ou
d~fasaclas no tempo. Porquanto, o 1nic:roprodutor é o último que ainda
não quer ser parasita, num p~ ís já eivado de parasitismo público. . ..
A política social precisa dialogar com clarividência conl a
política econômica. A maneira ma is rápida de in-viabilizá-la é desgar-
rá-la do mun<Jo econômico, recaindo nas sobras, bcn1 co1uo tefrna ~
progresso econômico perverso se não assun1ir compromisso social
desde o .início. Prin1ciro, políqca social <..:arcce de financiamento e este
provém dos setores produtivos. Scguu<lo, existem propostas que su-
põem o concurso fatvorávcl tia economia, como seria, por exemplo, o
atcndi111ento assis tçncial à criança i1nplicando que as respectivas
fa1nílias tenham acesso a cm·p rego e renda. Terceiro, a questão produ~
tiva ~empre aponta r<ira questües de raiz, ainda que instrumentais, o
que permite às polític~ls sociais tornarem- se mais decisivas. Por
exemplo, é fundamental acentuar que educação básica, hoje, não
significn apenas a instrumentação mais efe tiva da cidadania, mas
igualmente da produtividade. ·

Esse reconhecimento leva. a comprccndcr·melhor outras fa- ·


ees· da q'testão, sobretudo a tecnológica. Não faz mais sentido, por
exemplo> det"ender para .o Nordeste uma agricultura adap_tada às
misérias dos seus habitantes, ou seja, in:iprodutiva. Ao contrário, ~
própria preocupação social indica a necessidade da tecnologia mais
avançada, para termos alimcn tos mais· abundantes, m~is qualit'ati-•
vos e mais• baratos, ac.rescendo-se que ge raria maior excedente para
aplicar cm política social. O mesmo se diga da reformá agrária,
36
que, a pardç lado evicfcntementc social:, cteve signi fic~r t~mbém uma
cx)gên~ia da produtividade agrícolâ. Não·_adianta assentar ~olonos
se~ que possam produzir adcquaçlamcnte (Martine & Garcia 1987).

Políticas participativas

~te espaço a qucsL:10 da política social se complexifica ainda


mais, desde sua imporL1ncia imprescindível como exigência emancipa...
tória até o papel contraditório do E~tado, que não poderia ser ~xerife" da
'p~rt.icipação_(Abramowicz 1986, }\breu 1987, Akcelrud 1987, (~ta
1989, Lopes-19.8 91 Marcondes Filho 19861 Pietrocolla 1986, Roio 1986).
, .
,Trata-se . de iniciativas voltadas ao cnfrcnromcnto ~a ·pobreza
política da população, dentro do ·reconhecimento de que não se p9de
enfrentar a pobreza sem o pobrç. Po]~Lica social tem n~s pobres' não seu
alvo, objeto, paciente, mas seu sujeito propriamente, entrando o Estado,.
ou qualquer outra instância, cop10 instnuncntação, apoio, inotivaç~o.
Nesse espaço, c1ncrgc a oportuni~a<le inclu<lível de forn1ação do sujeito
social, consciente e organ.iza<lo, capaz de definir seu destino e de co1n-
pree11dér a pobreza cu111u injl~~li~a social (Dcn10 198&).
~ohreza política manifesta-se sob inúmeras faces, mas pode ser
condensada didaticamente na precariedade da cidadania. Garantia do
Estado '..é · o cidadão, não o contrário. Não se· pode ter um Estado
''melhõrt' do ·que a sociedade civil _q ue o cria e mantém. Cidadania
organizada é o que poderíamos chama.r de qualidade política da
popuhi'ção (Alves 1980, Schneider 1982, Puoli 1982, Gohn 1985,
Silva 1989, Pcrrot 1988, Reis & 1988).
Nesse sentido, o papel do Estado poderia ser assim desenhado,
em poucós·traços:

~) pri1neira função é não esto.rvar; dilo de outra maneira, o


. · Eslado não deve capturar a cidadania popular, como se fosse
. p~~pel se.u produzir a cidadania, escondendo-a estratégia de
eyitar que-a participação popular se volte contra o Estado;

37
b) sabendd não estorvar, é possível ocupar a posição de instn1-:-
. me-ntação, sobretudo no sentido de garantir às associações
popularcs.ac_esso à informação estratégica, à justiça e à segu-
. rança, a seryiços .pú.blicos d~ qual idacle1 para o exercício da
cidadania; · ·
e) por fim, é função d_o Estado garintir outros serviços públi-
cos adequ:1dos, dirigidos a. -instrumentar o processo · de
formação da cidadania, ·cm particular educação básica., pro-
moção cultµral e acesso _à cou1unicação.

. .
A cidadania organi7.ada dt~lcga ao Estado funções importantes
e1n tcnnos ue ~cc.limcntação de canais de participação, a c9mcç:lr pela
educação. A escoln pública tem como Junção imprescindfv~l garantir
acesso irrestrito ao ) ~ grau, c;omo r~za a Constituição, porquo se
ad1uitc cumo C(?ndição b:isica de exercício da cidadanül. Entretanto, é
fundamental perceber que educação não_é propriamente ..coisa" do .
Estado, ·mas exigência da sociedade civil organizada. O Estado á
efetiva sob dclcgaçâo, e a qualidnde d.a ofcr~a educacional csUi espe-
cificamente na cap~lcidadc de-controle e avaliaçüo da sociedade m}lis
do que cm alguma virtude prévia pública. Ao contrário, o Estado
abandonado à sua lógh;a do pqdcr, obstaculiza processos democráti-
co~, pois prefere o Jãcaio ao cjdad;ío (Siebcneichler 1989, Raichels
1988, Silva 1988, Rcymão 1986, Wulff 1990). ·
O espaço participativo revela, ademais, que políti<.:a social _
não
pode ser apenas pública·. Parte dela - ~ m~titos diriam: sua 1nelhor .
parte - provén1 da própria sociedade, sob o-signo do controle demo-
crático do· Estado. ;i>olítica sindical, defesa da cidadania, idenlitlatle
cullural, assoc.iativiscno e coopcrativistno são ink~iatjvas que dc:vem
ser normatizadas pelo Estado, 1nas não ~ubmctidas a ele. Em gra_n de
par.te se f:r.1.cm Hpcsnr do Estado, à revelia do Estado, e mesmo contra
o &tado (Nozk:·k. 1991 Souza 1987, Caldart 1987, Gadotti & Pcrei~a
7

1989., Pereira 1990, Amman n 1991., Demo 1990).


. ~

A qualidade do E<:;la<lo está prccipuamcnle na cidadania organi7..ada


que o funda. Onde falta sociedade civil organizada, temos· tipicamente
, massa de manobra, seja sob ~1 forma de lct}irgia cullivada e ~antida
38
seja sob a forma oc
ditadurâ opressora.. São a~ rnanifestaçõ_
1
es n1ais
drásticas de pobreza ·p.o lííica '(Lüstosa 198~) : ' · . ·
. . . '

·. , Rcsumidamc~tc, siio componentes 4e polí~ica.s parti.cipa.ttv3s


típicas ou pelo meno, de serviços públicos cxigid9s pela ~idad~nia·
urgan i~a<.la: · . ' · · · : ·
. a) P.Olítioas cduci1cionois, :Sobrel~do a univcrsaH~ção do 1Q
grau, compreendida <;orno instn,mentação primÍlria. para o
exerciçio da cidadania, porque o.fcrece alguns meios de des-
do~ramento da -consciência críticá, via saber sistematjzado
(Bitffa 1987);
,
h) poJ.íticas culturais, principalmente aquelas que se dirigem ao
cultivo das identidades cuJturais, tomadas como condição
csscncinl •pnra a construção de um projeto próprio de de·s en-
_volvímcnlo (Chauí 1987, Coelho 1984, 1986); .
e) políticas de ·comunicaçao, mormente úe comunicação de
m~,s~a, pelas quais passa a infonnaç_ão, inslru1nento -funda-
mental
. , para se exercer cidadania crítica, cmborá, prevaleça
. a
indíístria cultural; consumista e manipulativa (Cohn 1978);.
' .. .
·d) políti.cas de <Jcfesa da cidadania, sob a fonna cie defesa do
consu1nidor, ou de defesa.da qualidade do meio ampiente, ou
dos direitos humanos funda1nehtais;
I • •
e) políti.c as ~e conqüisl~• <le d.ifcitos, sobretudo por parle .de
minorias ou assemelhados: direitos da mulher, do idoso, da
. . . .criaU:ça, do aposentado, do deficiente, do índio, posseiro do
etc.; · \ ·
f) poHlkas uc organização da sociedade civil, seja sob o pris1na
.comuni~írio ( organização de interesse~ localizados) seja sob
o .Prisma social (organização de interesses dispersos), com

L "Socic.d,,dc civi I" é u ru lcnno impreciso. lomado a(lui na are~ão 2enérica de _erupo dominado
e não orgaoiz~do, cm contmposiçiio ao dominante,..

39
. , yistas a f om1àr · traiu~ associativà resistenl~ às in terveriçõcs
_a utoritárias; ca.bem aí ·comunidades eclesiais do base, nsso-
·Ciaçócs de b(iirros ~ favelas, condomínios, associações de
1niéroen1prcsári~, associaçõ_e s de pais, assoei~ções dc. em-
Bregadns doméstic~s etc: (Bobbio 1982);

g) polílie..c~s partidárias, çomo órgãos civis de defesa dos direi-"


tos pol-~icos', nos_q.uais se con~agca .º direito à Qpiniã~),. -à_.
reunião, à. id~ologia ctç.; . · .
. .
h) políticas ~indicais, como órg;ios.civis de defesa do direito ao
trabalho, tombdo este como c_xpr~~são essencial da vida cm
sgciccJ,Mic·,. nao apenas com.o ganha-pão, mas igualmc·nte
como forma d'c realização humana;
i) políticas t{c jusliç;1, por intermédio das quais o Estado garan-
te instru1~co laçfio aúcqtfada para o exercício dos d ireitos e
·dos deveres,
. can csu1do d~ direito (Marques 1986,.
J -
.
. 1987);·
j) políticas de segura~~ pública, por tneio das quais o E,s tado
garante o c\rt"eito de todos de antiar pela rua, de morar, de se
divertir com·tranqüilidadc, bem como de proteger seus bens
contra.violências externas (Coelho
. 1987).
Olhando pelq outro ludo, todos esses itens dão uma idéia n1ais
ou menos· rca Iista . da imensa · pobreza política q~e ainda nos assola. ·
Mais do que nunca, cscanca.p un o estado de injustiça no qual vive ~
maioria , sem acc~o à cducacão ,
. ~ à cuUura' à :-;cgurança . '·
à J'ustiça' à
cidadania organizada. Descrevem ostensivamente os traços crus da
situação 'de massa de manobra, na qual é manietada a população
mnjoritária. Rcvcla1n uma sociedade inaccil<ivcl, tipican1cnte intole-
rável. ·Desigualdade ·ctema is.
, . . .
E pr~i!';;o rcconhec~r certamente a complexidade desse espaço
político, também a difículda<lc maior de o . do1ninar, ·_por tratar-se de
dimensões qualitativas que ~aparo a planejamentos clássicos. Por exem-
plo, no campo da cullur-J Glãcil cair nos·cxtrcn1ós ç.lo provincianismo,
transformando identidades culturais cm projetos de subdesenvolvimento,
e do iutcrvcucionisn10 c..-cntralisla, éomo se sorncntc o centro dclivésse
40
cultura, restando para a periferia a incultura. Por outra, a política de
segurança pública pode_t.aml?6rn l>~dançar cnt_re extremos da repressão
_
pura e simples, na qual manter a ordem é pr~licar tcr_rorismo, e .do
"s~lve-se-quem-pudct", ·permanecendo _o órgfao poHcial píthlico na
situa9io de espectador. ou de comprometido com a contravenção.
. .
Políticas participativas recolocam,. n<lcmais, a q~estão da de-
mocracia, to~nad~ ta1nl>ém componente func.Íamental do bem-estar
social.- A característica prin,~ip~1 dessa visão é de réconhecer que
bem-es~r não é d;-ídiva, mas conquista. O mercado, <lcixaúo à :sua
própria dinâmica, jamais redistribuiria rendn, pois a J_ógica do capita_!
é de sua c-0nccnlração e maximização. O E.~lado, dci,xad0 à s·u a
própria dinâm~ca niio tem vocação dcmocnHica original, mas discri-
7

uiinalúria, dentro da ·n1cs1na lógica de çoncçnlração e maximização de


poder (WclTórl 1985, Coutinho 1984). ·
Ac;.<;im, não existe pnrlicipação dada, i1npost,i, prévia ·ou sufi:.
ciente. Dada, imposta, prévia e suficicnlc (<lcinais) é a desigualdade
social. Participação vem depois, se conquistada. Prcci<;a ser construí-
da, todo o dia recuperada. Enfrentar politicarncnfe .a pobreza significa
partir do rcar interessado, do pobre. PoJítica socfal necessita, por
cerlo, de tç<.:nicu, Ú<.; pcsqubador, de plancjac.Jor, de Estado e-universida-
de, mas tudo isso é inslrurncntação._Dccisivà é somente a presença
consciente e organ i7..ada cio po hre. Nc~sc pia no não h~ como tergiver-
sar, suhstituir escamotear (Alves 1984, Giroux 1986).
7

Sot1rctu<.lo, isso é exigência . do co1npromisso emancipatório.


E~ancipaçáo social e,
c1n seu â1nago, descobrir-se capaz de realizar
o pr.ocesso emancipa tório por si mesmo, dçntro de circunstâncias
dadas. Por isso, participação é a alrna da educação, compreendida
comp. processo ele dr,sdohramcnlo criativo do sujeito social. Porque
educa~de vcrdadé é mt>livar o novo 111t:slrc, não repelir d iscípul<;>s.
. Importante nin<la é afast:1r a questão participativa de possíveis
isolamentos teóricos e prálkos, sobretudo diante da queslfio econômica.
A dcsco11·c cnlraçfü) de renda;· ou o desafio rcdi-;trihutivo, ê sobretudo
conscqüêricia e.la cida.<fanin, ao conlr:írio <lo que ainda se coloca como
crença comum, segundo a qual seria decorrência cconôu1ica. O surgi-
m.cnto do welfare state nfío·cxprcssa aponas o dinamismo cco_n ômico
41
capaz d~ gerar cx<.:cdcntcs aprcchíveis, mas iguahnen.te o processo de
conquisln política, que foi capaz de subjugar a riqueza g~ratla, cm
parte, ao hem comum.

Essa imbricação reaparece se1npre no dcs}1 fio da qualidade políti-


ca associativa, geraln1cnlc ,<lc~atcnla à auto-sustentação. Participação
sem auto-sustentação é farsa, porque sucumbe a dependências. E" incor:-
rcto definir cidadania cnrno fenômeno mera1ncntc político, como se ·a
qucsu1o se ~~goLasse na participação. Faz parte, na mesma relevância: a
c~pacidatlc produtiva. Cidadão pleno participa e trabalha/produz.

42
3
AQUE5TÃo·oo ESTADO

E n1ho ra n c 1n toda p o lítica socia l sej a e d eva se r esta tal, é


impossível deixar d e reconhecer a presença a vassa la dora do Es tado
cm nossa sociedade. Discutir essa problemática é ~s~en<.;ial, até
porque, c1n lc rrnos d e bc1n -cs tar so<.: ial, s empre se supõe que o
agente principal seja o Es tado, pelo 1nc nos aos o lh os d o welfare
state (Bobbio & 1987).
O E~ta<lo é, ü c s i, iu!>lâ ucia uclcgaua, criatura da socieda de a
se u serviço. Serviço público scri:l s ua d e fini ção, não dis tante da
concepçiio clássica da res publica. Por 1nais que se critiquem seus
dcs1nandos, ao fi1n é n1is tc r rcc:o nhcccr que é inevitável e necessário,
muilo 1hrlis que 1nnl ncccss<frio, pnrq11e nelr. é possível cons truir
espaço estratégico de equnlizaçfio das oportunidades. A ilnportância
funda1ncntal do Esl~1do cs tfi c Jn seu ca ráter público: é ma ntido po r
todos por interméd io d(? trabalho e da prod uçüo, e o acesso deveria ser
irrestrito. Na prá ti ca, te nde a ser todo o con tr,í rio , pois não é ne m
serv iço, nem público. M <,s issn n:io lhe retir:-i ~u:1 rc1cvâ ncia (Pcnna
1988, Bobhio 1987, 1987a, 1988).
43
Assim,. de-u.m lado é miste-r saber defender o lugar do Estado,
do serviço público, pois toda sociedade necessita dessa instância,
competente e dc1nocr.:1tica. De outro, é fundamental manter o controle
do Eslado de baixo para -cima, pois sua qualidade não está nele, mas

na cidadania orgauiz<lda que o sustenta. Ademais, nessa ótica acentua-
se sua itnportânciá para a política social, não desprezando, com isso,
outras funções, como defesa, relações exteriores, incentivo econôm_i-
co seletivo, plancj~unento, normalização, concessão etc.

Vo capitalismo liberal ao socialis1no real

Podemos caricaturar as posturas mais dicotômicas vigent~ -


deixando de lado dH.aduras ahjctas em si-como sendo a do capitalismo
liberal, de un1 lado, e a do socialismo real, de outro (Bohbio 1988).
Ern torno de um conceito mais ou menos vago de liberalismo,,
existe a poslura de certo 1nodo sauuosista, referida aos bons ,,tempos
de um Estado ainda pequeno, a serviço da inidativa privada. E muilo
mais presente em nossa sociedade do que se imagina, perfazendo
patrimônio ideológico de toçlas as frações do grupo do1ninan\c, sobre- •
ludo t.lctcnloras d t) capital (terra, bancos, indústrias, grande comércio
etc.), mas igualmente tle organizações tradicionais ligadas à ordem
vigente, como o Exército e a Igreja, sem falar cm partidos atuais qu~
o defend em com clareza n1:iior ou mcnof.
,
E uma evidente caricalurn c1npurrar todos c~~cs segmentos
sociais para o c;1mpo <lo capil~llis1no liberal c1n sentido ncgalivo,
porque é possível sc1nprc delinear aí b1mhé m componentes modernos
de um liberalis mo que j~í não se confundiria com a inicialiva privada
impune, na qual I ibcr<ladc não pn$saria de carnpo livre P<tra explorar.
Todavia, ficando na tendência típica apenas, parece-nos que.o capita-
lismo liberal representa algo anacrônico, cm vá.rios sentidos:
,.
a) o capitalismo é e não é ruais aquele: de um lado, possui
idcntidndc histórica no scnlido da exploração privada do
Iucro e da r,não.!'dc-obra, embora le1~do pi1ssado por várias
I

frise~ ~ignificalivas, sobressaindo talvez sua lêinpcra tecnoló-


gica atual; de outro, ,i presença do Es tado na economia já é
44
dado definitivo, seja porque cm muitos países é o maior
investidor financeiro seja porque se reconhecem áreas de
típica intervenção estatal, ou mesn10 monopólios;
b) recupera posição tendenciahnente perversa, quando defende
liberdade para os que possuem condições e_c onômk~s para
tanto, o que leva a "mereantili7..ar" direitos humanos fundamen-
1:lis: resiste-se à regulaÇ<10 pítblica da iniciativa privada~ que lhe
permite '~usar"tt o Estado à vontade; nega-se a "função social,.
da propriedade, dificullanuo uu inviabilizando reformas funda-
1ucut.ais cotno a agrária, a do solo urbano, a da cxploro~--ão
mineral etc.; impõe-se o contexto da ''empresa lucrativa" em
áreas de direitos básicos, como da educação primária e da saúde
preventiva; dcterioram-.se certos campos de atuação pública,
como o da justiça e o da segurança, cujo ;1ce..<;so fica entregue
ao poder do dinheiro; ,~ assirn por diante;
e) recupera - pelo menos até ccrlo ponto - traços "sclva-
gcn.~,., do capilnlis1no, marcados pelo lucro desmesurado,
pelo desconhecimento de direitos trabalhisla!) e prcviueuciá-
rios, pela ronna~ão de oligopólios capazes de adininistrar
preços etc.; sobrcluuo, é incapaz de reconhecer a importân-
cia e.lo cons u111i<lor útil para a própria lógica do cnpital, o que ·
supõe sah1rios ú<lcquados, itnportantc iniciativa para não
exacerbar até níveis jotolcráveis as dcsigualdacJcs sociais.
A p<,r de lados pcrlincntcs, como a defesa do controle e da
pequenez do Estado por parte cJH sociedade, lransparcc_c o lado possi-
velll'.lcnte mais conservador dessa postura, na aceitação de que os
direitos c.slão economicamente condiciom,<los. E1n parte, existe um
reconhecimento realista, no sentido de que nada é gratuito cm qual-
quer S()cicdadc: o mero funcionar de tuna sociedade já custa alguma
coisa. Ma:-; conlrabandcia-sc faci1111entc un1 tipo c;5pccífico de prepo-
tência ~apilalis ta, que 6 a "liberdade <lo bolso". E certamente muito
complexo combinar H ncc~ssidadc produtiva co1n o acesso irrestrito
aos direitos. De um lado, não é difícil reconhecer, por cxe1nplo, o
direito de todos à justiça. Mas isso precisa ser rriediado pela ~iabili-
zaç5o c~onôtnica, pois não h~í justiça sem tribunais, magislrnclos,
processos de defesa e de aeusação, todos acarretando dcsp~sas.
45
Nesse sentido, o direito incon<licional, embora expressão es-
sencial da democracia, pode decair em teoria vazia, s~ não for
viabili~ldo econômica e politicamente. Ainda assim, é decisivo poder
defender tais ~ireitos, senão por outras razões, pelo menos para
marcar n subordinação finaJística da produção à democracia. O capi-
tálismo liberal facilmente inverte essa relação: coloca uma prctcns:a
democracia a serviço do cnriquet;imcnto.
Tal conservadorismo aparece, cm conseqüência, no caráter ti-
picamente compensatório das políticas sociais, feitas com sobras
orçamentftri:a~ e apenas como tática de des mobilização cmergcncial,
sobretudo diante ele percalços da economia. Primeiro, pobreza é
entendid:t como percalço apenas, a partir de gente. que niio sabe, não
quer ou res iste a trabalhar, retirando-lhe a marca social de injustiça
historica mente causada. Segundo, o "socinl" não é colocado como
fim político e econômico, mas como contingência estratégica para
garantir a necessária trnnqüilidade <lc atuação da iniciativa privauµ.
Terceiro, rcaparcccrn com ins is tência típica nas políticas sociais efei-
tos Cúncentradorcs de renda, a coancçar pelos fundo~ !'>Ociais
revertidos ern alavancas da iniciativa privaua, s~1n falar cm seu tom
cmergcncialisla, marcatlamciltc a:,;sis tcncial ista.
Hoje busca-~c pintar o capitalismo com as cores da sociaJ-de-
n1ocr,1ciH, na esteira do we/Jêzre staLe, rcn lçando o fenômeno europeu
<la formação de sociedades qicnos d~siguais com teores significati-
7

vos <.lc parLicipação política e cconôanica. A pobreza tornou-se, por


44
vezes, residual, canbonl tenha s ido dcspachada" para o Terceiro
Mundo. Ccrt:uncnte) existem aí fcnô rncnos relevantes que é anistcr
reconhecer, con10 a visível ci(hldnnia capaz de impingir ccrt:ts don1es-
ticações ao capital. A sclv:iecria dn mais-valia absoluta foi
substituída, via domínio tecnnl<'Sgico,. pela relativa, permitindo situa-
ções bc1n mais tolcrnvcis para o trabalhador. A ncccssida<lc de sóH<la
fonnaç5o tl,ísica para fins de produtiviunuc fez o sistema valorizar a
educação, até ao ponto uc lonüi-la pública cm todos os níveis. Sobre-
tudo diante dos pcn;alços e.to socialisrno real, tais rcsulL-1dos são
facilrncntc conclnn1ados, 1nas uão se pode esquecer que, de novo e
sc1npre, por ra:1-õcs de crise cconôanka, u welfare state tem encolhido
visivelmente. Continua, no fundo, a 1nesn1a Jôgica: o econômico
46
<.:umanua o político (a produtividade con1anda a cidadania). Essa
relação pude ser afct<ula furt~111cnte por urna ci<la<lania organizada e
aluante, mas não chtga a ~obrepor-se à lógica do capital (Aureliano
& Draibe 1989, Jaguaribc 1985).
No outro extremo, existe a postura do social i~rno rea1, indicati-
va da situação alualincnte vivenciada pelas sociedades socialistas,
particularmente <la sociedade soviética e do dilo Leste Europeu. A
expressão usociaJismo rcnl'• prové1n da análLc;c crítica de Bahro,
segundo a qunl, à revelia do que "deveria" ser o socialismo, as
sociedades socialistas reais apresentam vários problemas de funcio-
·namento e de recriação da.s dcsiguakladcs sociais. De acordo com a
ortodoxia original, dcveria1n ocorrer a morte natural do Estado ou
pelo menos sua redução a instância restrita de serviço público, e
sobretudo o desaparecimento das desigunl<la<les sociais (Bahro 1980).

Não aconteceu nem uma, nc111 outra coisa. O Estado, desde a


versão lcninista, passou a instância avassaladora <la socic<.ladc, não
permitindo qualquer espaço para a sociedade civil, pervertendo a
~ditadura do prolct.arja<lo" no sentido de ser na pr:ítica apenas ditadu-
ra do partido. As clnsscs sociít i~ n;io existem à maneira capitalista,
mas é ingênuo teimar em não perceber extremas desigualdades nas
sociedades socialistas, mediadas por outras relações sociais, sobretu-
do pelo acesso burocrático: h[l clivagem discriininatória forte entre os
"donosn do partido e do Es tado, <lc urn lado, e a população, do outro
lado (Bcttclhcim 1976).

Adc1nais, o socialisano, na postura original1 deveria ser um


1nodo de produção engendrado no seio do capilalismo avançado,
capaz <le gerar a abundância material, sobretudo via tecnologia. Sur-
gindo, poré1n, cm socic<la<lcs pobres, impôs-se no sociulisrno tarefa
mais típica <lo capilnl.is1no, que é capaci<l:,dc produtiva. O cnpiwlismo
"devora" o trabalhador, mas incgnvclincntc é produtivo. O socialismo
revelou-se incapaz disso, por ler sua vocação dirigid:1 à redistribui-
ção. Con1 isso, nfio alcançou resolver as questões econôrnicas,
embora tenha apresentado propost."ls sociais de incg:,vcl valor, como
educação, saúde, <.lcsporlo:, habitação etc.
47
Os problen1as gerados foram d·e tal monta que o sistema entrou
em colapso, chegando 30 saudosismo de pretender reinventar o capi-
talismo. O asfixiamento da sociedade civil é sua marca histórica,
repercutindo em çonseqüências cada vez mais intoleráveis, tJlis como:

a) improdutividade crescente da burocracia pública, quando


inacessível ao controle democrático por parte da sociedade
civil;
b) tlificuklade càda vez maior de proceder à produção econômica
necessária, prejudicada por um tipo de colctivi7.ação dt:sintc~da;
e) recorrência insistente de emergência da sociedade civil, sobretu-
do dos sindicatos~ acompanhad~ de intervenções ditatoriais
n1onolíticas, coibinll<;> o desenvolvimento político da sociedade;
d) frustração das expectativas de bem-estar social, relida~ em
níveis muito inciricntes, sobretudo por causa do tolhimento
da produtividade;
e) impasse político cada vez ,nai::s rçprcsado, diante de transpa-
rências democráticas .que preferem liberdade de expressão,
direito de voto, diversidade ideológica, e sobretudo o rcco-
nhccimcnlo do pluralismo socialista, totalmente contrário ao
monolitis mo.
A c rítica ao socialismo real é hoje a fundamentação mais viva
das reformas - por vezes muito radicais - procedidas na ex-União
Soviética. ·scu ton1 111ai~ fundamental chama-se certamente redesco-
berta da cidadania popular organizada. Decorre, de imediato, repulsa
forte do tipo vigente de Estado:, tolalitiírio, refn1t.ário ao controle
dcmocrálico de baixo para cima. Não está e1n discussão sua "morte",
porque é instância inevit~vel e necessária, mas é mister colocá-lo a
serviço da socicuade, e esta é que deve definir seu tamanho e sua
função. De. instrumento de serviço público, leria passado a fi1n de si
mesmo (Dcmo/jan. 1988).

Mnis do que nunca,"ficou evidente a tcm.Jênt:ia histórica de urn


Estado que escapa ao conlrolc de seu avalista básico: o cidadão
organizado. A burocracia volta-se para si mesma., e surge a praga do
48
o rporativismo, definido como a imposição à sociedade como um
c_
todo c.Jc benefícios particulares de um grupo organizado, a título de
conquista democr:ítica. Forma-se uma casta, e o compromisso com o
serviço público clesaparccc da cena. Antes de qualquer discussão,
trata-se de garantir privilégios própriu.s. A sociedade, de fin1 da res
publica, passa a instrumento do manutenção do parasitismo· estatal
(Habermas 1980, 1983).
Políticas sociais também passam a perfazer a função precípua
de Lática <lc controle e dcs,nobilização, tendo como preocupação
essencial a manutenção da ordem vigente. Se, ele um lado, consegui-
rám implanL1çõe~ de espaços públicos notáveis, como o acesso
universal à educação básica, à saúde preventiva, à segurança - o
que é demonstração relevante da imporu1ncia do Estado na sociedade
- , de outro, prcvalc.cc o hori'l-ontc capcioso em termos políticos,
porque esse bcrn-cs tar social é pago pela subtnissão política das
massa!S. Sobr~ludo, coíbe-se o 1novirncnto natural de organização da
sociedade civil, a começar pelo s indicato, em nome de um Estado
que tudo rcgnln e que define o cidadão (Marx/Engels 1975 - texto
da comuna, vol. t, 504 ss).
So1nando-sc as <luas crises - <lo •velfare statc e do socialis -
mo real - , p:1rccc ca<la vez 1nais claro que é mislc.~r abrir a cabeça
sern reservas, para podcrn1os discutir todos os milos aí incrustados,
de amba!-> a~ parle:-;. Não se trata ncrn <lo estado total, nem do
mínimo, 1na~ daquele de que prcci::;amos. A questão é sua qualidade
e a quc1n serve. Não faz mais sentido preservar tabus da privatiza-
ção ou da estatização, porque, sendo o prublcrua a satisfação
adequado <los
., inte re~ses da sociedade, há o que privali7..ar e o que
estnlb·.;n. E ingênuo acreditar que o estatizado é patrimônio do
povo bcn1 CtHllú que o privatizado funciona melhor (Mundcl 1989,
Nove 1989, Offc t 984, Lcforl 1987,. J aguaribc 1989) _

O Estado que Jetnos e de que precis,unos

Se tivéssc111us Iibcnladc de escolha, não deveríamos escolher nem


o capilalisn10 liberal, nem o·sociali~mo re:-11. Se o Estado é inevitável e
49
necessário, a questão que importa é seu controle den10<.;rático. Para
que exista controle democrático do Estudo, é mister o ator insubstituí-
vel da democracia: o cidadão organizado. Somente ele é capaz de
dizer que Hstado l,he convém. Em conseqüê ncia, a primeira discussão
não é sobre seu tamanho, mas sobre a formação qualitativa da cidada-
nia popular, da qual o Estado retira sua possível qu~llidadc política.
Assim, em termos de política social é fundamental colocar dois
desa rio~:
a) defender o lugar do Estado, como serviço púbfico necessário,
estrategica1ucntc equalizador;
b) defender" nc(;cssidade includível de controle dcmocrátieo
popular, por meio cfa ciJauaniu organizada.
Depreende-se de imedia to a in1porlância extrema dessa discu.<;-
são para n política social. No lado do Estado, é funtlan1ental definir
seu papel, principalmente sua possibilidade histórica de apar~c;~r
como espaço estratégico de cqualização de oportunidades e de agente
relevante de assistências e serviços públicos. No lado da sociedade, é
decisiva a ocupaç:ío do espaço pol i'tico p!tra além do espaço econômi-
co, mormente como insHlnf~ia fundante do Estado, em todos os
~cnlidos: o Estado não tc1n autoridade prôpria nem recursos próprios;
te1n-nos dcl~gaúos e deve manter-se jungido ao controle da base
(Wolkmcr 1990).
O Es tado que temos é mistura corrupta e autoritária do capita-
lismo liberal e do socialisn10 real, sobretudo naquilo que os dois têm
de pior. Do capit:llis1no liberal traz a tradição de desigualdades eco-
nômica~ extremas e re lativamente crescentes, que .tronsp~lrcccm na
plêiade de crianças carentes e ab,indonnd,1s, na miséria social no
ca1npo, no favclu1nçnlu marginalizado nas cidades, nos índices drás-
ticos de subnutrição ·e 1norlali<ladc in{~lnlil, na denegação normal e
sisterníitic~ de direitos mínimos, na mnnipulaçiio política de todos os
espaços sociais, tambén1 o cconômicn, tornan(!o, na lógica da revelia,
o Estado instrumento n1ais ou menos exclusivo das classes cJominnn-
tcs. Do socialismo real tem - es tranha e logican1cutç - a figura do
Estado p,uasitií rio, cncttr<l ida1ncntc ineficiente e corporativista, sem
50
relação adequada entre o que oferece e o que custa, além de sagaz na
produção de esquemas de controle e desmobilização da sociedade
civil. Profundainente burocratizado, sem controle mínimo de gastos e
de admissão de pessoal, marcado pelo autoritarismo de oligarquias,
"famílias reais" e "e.asas grandes", perdeu a noção de serviço público
como direito da população que o mantém e legitima.

Olhando criticamente, é difícil descobrir um programa social


estatal significativo em quantidade e quali<.lm.J~. At.lcsigualdade social
lcm se avolumc1úo de tal fonnn, que as ofertas p(1blicas se tornam cada
dia mais apequenadas e insalisfatórias. Sequer a oferta pública do 1ª
grau - garnntida nn Constituição como direito universal na respecti-
va ida<lc •- atinge hoje pelo menos a 1neladc dos interessados, cm
termos <le alunos que entrara1n na li1 série um dia e concluírnm a RB.
Os programas e as instituições dedicados à criança e ao adolescente
aharc:un parcela pequena <.la dc1nanda, sc1n falar em casos de cuslo~
contraditórios da m:íquina, o que já recomendaria 4ue, e1n vez de
manlcr a burocra<.;ia, seria preferível repassar os recursos às respecti-
vas fa1ní1ias. Entra1n e saem progratnas como o <lo leite, o da cesta
básica, o <la merenda também para os irmiiozinhos, cujo atenditnento
tende scinprc a ser residual.

Temos sempre desculpas objetivas também, a começar pela


dificuldade de adn1inistrar u1n país tão grande e tão desequilibrado.
Não é desprezível essa alegação, é claro. Por exemplo, é uma fnç:.nha
nol!'ivel montar progr~m:1 <lc merenda escolar que deva atingir a todas
as escolns públicas de 1 Q grau cm lodo o país, precisando defrontar-se
corn sistc1nas complexos de transporte de bens pcrccívch, cou1 siste-
rna~ 1uuilo preocupantes de pressão por· parle de fornecedores de
aJirncntos ou de conccnlrndos, cotn distâncias imensas e acessos
complicados, sem fnlar na dificuldade dü rrrnntcr padrão nutritivo de
qualidade acciliivcl. Nesse sentido, o que a Fundação de A<;sistência
ao Estuda n lc - FAE - está fazendo lcm seu lado positivo como
esforço público de garantir 1ncrcnda todo <lia ao longo do ano.
Mas não se pode esconder :.1 crític:1, c1n muitos sentidos. Primeiro,
não seria rccomcndftvel urn progratna ccntmlizado que~ além de ferir
suscetibilidades cullurais, co1ncrciais, prúdutivas locais, emaranha-se
51
cm çlesafio gerencial quase impossível de do1n inar. A descentralização
pode até encarecer a merenda no primeiro momento - esse é o argu-
mento politi7..adn pelos fornecedores dos grandes centros - , mas parece
óbvio que seria preferível ter no centro í1pcnas um órgão normatizador,
' que é, aliás, o que co1npctc à União. Segundo, a FAE
de estilo ft:ucrativo,
será tanto 1nais siguifkaliva quanto mais souber sair de cena, procurando
ocupar seu espaço próprio na posição uc apoio, motivação e nonnatiza-
ção. Em vez de esquema importante de poder, no qual se deciucm forças
partidárias e se acomodn1n a1nigos do rei, é mi~tcr que seja apenas
serviço púhl icn> cn1 sentido federativo. Quanto ao problcmn da corn1p-
ção, dificilmente será menor no centro. A melhor maneira de coibir a
corrupção a inda é a dc1nocracia de base, que ohriga o Estado a ser
transparente. Se isso aiutla é 1nuito prcc<frio nos municípios - o que é
un1a realidade inegável - , a centralização concorre mais facilmcnle
para agravar do que para itnplantar processos adcqua<.Jo~ úc formação da
cidadonia popular.
Em termos dos vícios do socialisrno real, nosso E~Lado tem de
coinurn ademnis a crença tecnocnítica de controles ccntrali~tas, como
é, por cxc1nplo, o controle de preços, escamoteando, desde já, as
artificialid,ulcs cio mcn:;id o, c1n que os preços são sohrctud() adminis-
trndos pelos ol igop61 ios, e não regulados po r pretensas leis de
. u1crcado. Contribui para artificializar a inda ma is a cconom ia, instala
con10 regra uc jogo a cspcculnção, e avassala a todos a formas
impossíveis de controle, porq ue é controle sem controle. O assitn dilo
cornbale à intlaçiio, para além de téc nicas possívcb uc estilo econô-
mico que o Esuido deve dominar, depende cn1 pri1nciríssi1no lugar da
cidadania popular organiz:1da, que func iona co1no regulador básico .
Não se potlc sobrepor sc,n n1:1is c~sc rcgulndor ao ,ncrcado, é cl~1ro.
Por cxc1nplo, se o produto é escasso, fica caro incvilnvc ltnc nte. Isso
parece objetivo. Mé1s con10 la1nbé111 h;í produto abundante caro, é
preciso entender que inflação Lc1n iguahncnte seu lado pnlí'tico,
através do quaJ 1nuita ge nte sai ganh:1n<lc) ·e até mesmo vive desse
<.lcscontrolc. Sc1n u n ilalcra I izar as coisas, o cxpcd ientc 1na is efetivo
de cnfrcntarnento da inria~ão é a l:ida<.Jania organizada. O controle por
parle do Estado scr:í tanto 1nais efetivo quanto n1ais for c:-;cuuado
na autoriclaclc oriunda da base popular. A força do controle estatal
52
está propriamcnt~· na força da cidadania. Aí s im, é possível trazer a
inflação a índices ba ixos, també rn no sentido de que, para tanto, é
mis ter controlar gastos públicos s upé r11uos ou corruptos.
Essa discussão leva clanunentc a recolocar a questão do Estado
sob outra ótica. Não se tral'l da ins is tência do capitalismo Jih~r~I cm
privatizar ações do Eslac.lo ou c m diminuir seu tamanho, pura e
s i1nplcsmc nle. Ne m se trata ele pendurar tudo no cabide do Estado,
como quer o socialismo real. Trata-se de recuperar a relevância
insubstituível do serviço públko, de u111 lado, e da cidadania organi-
zada, c.lc outro. Esta é que deve de finir o tamanho <lo Estado, qu e não
u~vc ser ncn1 grande, nc1n peque no a priori.
Nu <.;apitalisano há Estados grandes, como nn Esca ndináv ia, e1n
que a ofe rta púhlica é 1nuito significa tiva: a educação é pública em
toda s ua extensão, bc rn como a saúde. Há, por o utra, Estados manti-
d os pequenos, corno nos Estados Unidos. Isso 1nostra que a qualidade
democrá tica desses E.<; l ~1clns nfio csHi c rn runçào c.J o ta1nanho cio Esta-
do, 1nas da c:ipac i<..lade de controle <.Jemocrá tico do Esta<.Jo por parle
ela c i<.Jadania orga nizada ( Leite 19~2).

F.,n termos co1npa ralivos> o Brasil não possui urn Esulllo parti-
culanncntc g ra nde, pelo rncnos t1 primeira vista. O Es tado é gra nde,
poré1n, no conlt;xlo concreto de s ua his tória: porque a inda é prcpotcn-
L~ diante uos n1ovin1c nlos <lc base; gasla mai:; do que nrrcca<la; é
clicntc list.a e corrupto; invade dcsncccssnria1ncnlc espaços produtivos
o u apadrinha produtores <lc tal fo rrna a incrementar seu pa ras itis mo
social; ~ohrc ludo é cncar<li<la1ncn lc inefic ie nte . Essa rnarca ncga tiv;i
pode ser visu:1liza (hl, por cxc1nplo, no rato de que o país gasta ern
prograrnas sociais quantias rnuilo significativas, c111 tc nnos 1nundiais
re lativos, c 1nbora conviva corn <lcsigua lc.fadcs sociais e regionais
cornparávcis aos países rna is pobres do inundo (Pnud 1990). Aprirnci-
ra conclusão é que grnnclc parte~uns recursos soc iais fica na máquina:
serve para t)aga r Lécn icos, ,Hltnin istradorcs, apoio!), c!)truturas físicas
e propina~. A !'icgunda co nclusão é que rcali~a1n o eco concentrador e
dcs1nobil izador: sob ling uagcrn socia l, rclard~l-SC o u obstrui-se o
processo de fo nnn ção da ciuacJania org~ niz:1da, hem como drena-se
para os privil egiados a maior parle dos recursos. Esse Estado tem

53
con10 prohlc1ua principal não st!lJ tamanho nem sequer a pretensa
urgência de JHiyatiza<;ão, ma:-; certamente sua precária qualidade de-
1nocrática. E nisso 4 uc não presta, decepciona e se torna espaço
eslrdtégicu <lo acirramento das desigualdades sociais.
Fundamental é, pois, restabclc.ccr o confronto dialético entre 1

Estado e sociedade civil. Não dicotomia, porque um é cria da outra,


e as pessoas e os grupos se entrelaçam nos dois. Mas relação federa-
tiva de controle d.c mocrático, de baixo. para cima. Até porque
somente assim podemos fazer a defesa crítica do ·Estado, algo hoje
de importância fundamental.
De um lado, é preciso - critil:a111c;ntc - reconhecer a tendêil-
cia histórica típica do Eslado uc rcprcscnlar as forças dominantes, o
que torna o controle llc1uocrálko por parte das bases um desafio
cxtraonJináriu. De uulro, a relevância do serviço público, entendido
co1no espaço ~stra tégko de cqualizaçflo de oportun idnclci~. A~sim
colocada a qucst.:1o, fica mais inteligível a defesa da escola públ iça,
por exemplo. Não pode ser confundida, de modo nlgnm> com a defesa
da escola de segunda catcgori,1 parn gente de segunda categoria. O
VHlor fundamental da escola púhl ka cstií, pri1nciro, cm defender o
direito incondicional - nisto público - à educação de 1º grau, que
nfio pode estar à mcre~ e.la co1nc.rcialização; e segundo, cm defender
c~strntc:;gin de cqualiznçfio de oportuni<la<lcs, pelo que deve ser gratui-
ta, para garantir acesso irrestrito. Se assim for, não cnbc ao Estudo
apenas a imagc1n negativa de devorador irres ponsável da sociedade.
Cabe, sobretudo, a função social <lc serviço público, nu qunnli<lndc e
na qu:,li<la<le convenientes, de acordo con1 cuúa sociedade (Çarnoy
1986, Offc 1983, 19811, Multi & 1979, Moore 1974, Miliban<l 1972,
Mnrcusc 1964, Slcpan 1980). · ·
O Estado não é o que diz ser ne,n o que quer ser, 111as o i1ue a
cidadania popular organizada o Jaz ser e querer.

54
4
BEM-ESTAR SOCIAL
E SUA~ COMPARAÇÕE<i TORTA~ .

Política social vem cada vez mais associada ao Estado de


Bem-Estar (welfare state), do tipo Escandinávia, Alemanha, Inglater-
ra, Suíça etc. Pelo visto, países muito pouco compnrávei~ aos países
do tipo brasileiro. No fundo, insinua-se a necessidade de nos aproximar-
mos de seus padrões uc ~csenvolvimento, tomando-os como modelos.
Ultin1t'lmentc, sob i1npacto da cri..<;e recente, j:-1 estamos nos contentando
em nos co1npnrar con1 a Grécia, unt país dotado de certo bem -estar
social, cmborn levan<lo a icnagem de um dos (11limos vagões do trem
do descnvolvi1ncnto (Jaguaribe 1985, Kochlcr 1967, Marshall 1967a,
1967b, He i1 broner 1969).
A pobreza deveria ser pelo 1ncnos não-majoritária e, se possí-
vel, m·inor~tária. Nos países desenvolvidos há pobreza, mas
tendcnci:\hnente decrescente, e em alguns relativamente residual.
Dentro da modéstia a que somos compelidos a reconhecer, coloca-se
primeiro apenas n tcnt~ltiva de supcr:1r a pobreza absoh1ta, definida
como aquela situação soei:-~) na qual a sobrevivência n,1o é possível.
55
O problema já começa a(, porque 'pohrc7.a ahsoluta não é ele poucos,
de alguns deserdados, mas de muita gente, por vezes da maioria. Essa _
condição já está revelada no salário 1nínimo, quando é mínimo (abai-
xo de 100 di>bircs), e .pnr isso n.adu tem a ver com a sobrevivência
mínima. É simplesmente impossível un1a família sobreviver con1 ele,
por mais que represente pata1nar legal de remuneração.

Entretanto, a comparação mais certeira talvez seja aquela da


Belíndia, tomando <:t país como
.
algo .entre a Bélgica, e a lndia, dentro
da ironia de uma Bélgica muito pequena e uma India tipicamente
enorme (Racha t 976, 1978). Muitos garantiriam que, nessa compara-
. ção no espaço do Terceiro
, Mundo, fica scn1pre n1cuor a Bélgica, ,,
enquanto cresce a India. O que se chamou de elusive deveiopment
desereve c.om crueza crítica a tendê.ncia crcsccn te de o desenvolvi-·
mcnto nos escapar. Nossos padrões de bc111-estar deverão decrescer,
acomodando-se à condição de periferia, na qual a desigualdade social
é tão exacerbada que apenas ínfima minoria mantém provocativos
privilégios à cus ta da extensa 1uaiuria (Wolfc 1976, 19~ 1).
Processos de empobrecimento parecem claros, ~astando com-
parar o poder aquisitivo dos mesmos snlários em épocas diferentes.
Parte significativa da classe 1nédia, que antes ostentava certo bcn1-es-
tar material, agora já não consegue morar e1n bairros mais nobres; não
pode manlcr os filhos cm colégios particulares de nível elevado, não
a]cança conservar os padrões <.lc consu1no cn1 lcnnos de alimentação,
lazer, férias, acesso a carro novn e ~ssim por diante. ·
Em lcnnos cnpih,lis111s, wclfare .-.·talt~ se traduz concretamente
na presença cle classe 1né<lia majoritária, quo é seu fiel da balança.
Estabilidade social no capit'1lbmo significa prcc.Jo1ninfincia de classes
·médias, entre classe rica rclativatncntc pequena e classe pobre também
rcla~ivamcntc pequena. Essa é a figura da pirâ-mide sociocconômic:l ·d a
Alemanha, por exemplo (Dc1no 1978).

A par dfsso, por ser forte o din::i-mi.~mo econômico, o trabalho e a


produçfiu ~u capazes de..fonnar or<_;a1nentos sociais significativos, que
incluem, para além dos serviços públicos atribuídos ao Estado, o dever
de assistência aos grupos populacionais que não cnnscgucm auto-susten-
tar-se. Sondo ;1 pobrc1~1 rclalivnmcnlc pequena, é possível atendê-la de
56
modo as.sistencial na sua lotdkfad~ ou 4uasc, sc,n acarretar pesos orça-
mentários cxc~siv~. Formam-se programas compensatórios dirigid~ a
populações e_(jpocíficas, que encontram na Cúmpcnsação cmergencial sua
própria raláo c.Je ser. Essa ra7Jio de ser busca-se na (prcltm~a) constatação
de·que, não hnvendo solu<:s"í1o parJ toda forma de pobreza, há sempre uma
fímbda que tem de sobreviver com tais artifícios (Abranches 1987).
Ncs~~ países, a presença majoritiiria de classe média significa
pelo11nenos três ganhos estabilizadores para a ordem vigente:
á) forma-se o consumidor útil, ~quela massa representativa
capaz de con1prar tudo que se produz na sociedade, manten-
do o ritmo econômico cm alta;
h) forma-se o conservador político, pois o desfrute de certo
nível <lc bem-estar é a motivação mais fácil para a adesão ao
sistema; ao mesmo tempo, as greves perdem seu sentido de
contcst.nção política, permanecendo na contestação inclu-
den tc, traduzida quase sempre por ganhos mnterinis
crescentes;

c) forma-se o cidadão acima de qualquer suspeita, socializado


co1no figura normal de uma ordem já interpretada como vigen-
te, porque vantajosa (Dahrcndorr 1982, Miliband 1972).
Para o capitalismo avançado, a proliferação da classe média foi
no fundo o grande achado histórico, pois apareceu como f6rmu la
possível de viabilização de u1n sistema produtivo muito desigual. De
fato, jamáis ocorreu na Europa e cm raíscs similares presença de
classe tão conservadora e cstabili7..adora como essa classe média,
retirada do processo de proletari'l.flÇão e guindada no nível do consu"
mo (Marcuse 1964). A'-> sociais-democracias desempenharam papel
funda1neni<'ll nesse processo, porque eram sustentadas por partidos
compron1ctic.los corn alguma cidadania, popular e com alguns padrões
míni1nos de bem-estar _social. Naquele ambiente, foram possíveis
pactos sociais relevantes, com os· quais gostaríamos de sonhar hoje
em nosso meio. O capitalista moderno, motivado também pela pres-
são da cidadania popular organizada, percebeu que seria mais
vanLajoso ceder ao pleito salarial, pois, o que se perdia agora, seria
possível colher cm dobro no fuluro, na sociedade de consumo .
• r
57
'
Entretanto nunca se puuc esquecer que essa visão é européia.
To1nando se a Europa e país es similares con10 u111bigo do mundo, por
Já existe bem-estar. social, ao lado de dcrnocracias razoáveis, pelo
menos capazes. de resistir de modo impressionante ao tempo. Mas se
trouxermos à cena o ' l'crcciro Mundo - pois é parte necessária desta
cena-, percebemos logo que t:-.m~nho bem-estar se funda tipicamen-
te e111 relações de drástica dependência econômica, social, cultural,
política, tecnológica. Não é possível manter salários comparativamente
tão elevados por lá, sem a vigência av.as~aladora de salários 1nínimos por
aqui, de rnatérin-prima baruta, ou sem a rclaÇ<ío de dominado no con-·
fronto dos preços, das 1noedas, dos mercados e das crises.
A fonnaçfio de extensas classes médias não teria :si<.lo possível
apenas co1n cid~.Hlania popular, ou com inigualável tino ad1ninistrativo,
não fosse a vantagem econômica do centro. A pobreza foi diminuída no
centro, porque sua 16gic~ formativa foi deslocada para as periferias. O
Ttn.:ciro Mundo em grande parte tmh~lltrn e produz para sustentar o
bem-estar social uo <.:entro. Dizemos ... c1n grande parle'\ porque seria
postura monolítica inadequada reduzir o Terceiro Mundo a mer() fundo
de quintal, até porque, no contcxlo tecnológico a riqueza do centro
depende cada vez rncnos de relações com o Terceiro Mundo. O Japão -
tipica1ncntc 111n pní...:; Iiinita<lo cm malérin-pri1na e n1ão-dc-ohra - che-
gou cn1 nutilos scntiuos ao pritnciro Jugar no capitalismo pelo do11iínio
tecnológico que é hoje, de longe, a fonte mais propícia de lucro.
Essas cnlocaçôcs cst5o sencJo arrol:1das aqui, com u intenção de
revelar o quanto as con,parnçôcs, em tcnnos de bc1n-cslar social, são
torta~. Nelas sobressai a expectativa ingêmrn dH osmosc: tornar-se
menos pobre vivendo à sou1hr~ do rico. Algutnas incongruências
dessas comparnçõcs s5o:

a) nfio temos economia nem cidadania para essa pretensão; uern


se vê, a curto pnl'l.O, como podcrfa1nos correr-nessa direção,
1ncsn10 se fosse possível abstrair ela cri~e atual;
I

b) esquccc1uus quase sempre de que bc1n-cstar social não se


esgota cm sua f'ace cconô111ka, uml<;rial, traduzida por carro
novo, apartamento de pelo menos três quartos, férias lautas,
mesa cheia etc.; p:-ira niém disso, o bem-estar social europeu
58
encontrava adequado eco político nn cidadania organizada,
representada vivarnentc cru ~im.Hcatos atuantes, e1n partidos
compro1ncti<.10~ cu111 ideologias populares, em associações
n1últiplas que faziam cotidiano o exercício <la <lc1nocracin;
e) não te1nos a 1ncsma origem <lo Est.ad<) e da nação; aqui primeiro
houve Estado, ontes da formação historicnmcnte madura do
povo; não tivernos sequer uma guerra civil que colocasse a
história c1n rota democrática a partir da pressão dns h::ascs; de
modo gcrnl, '~conquist1s" democráticas são, sobretudo, conces-
siio das cúpulas;
d) $"I situaç~io de periferia é cssencialrncnte uirercntc (desigual) da
situação de centro, por tnais que utn país como u Brasil s~ja
uma periferia menos pcrifé1 ica; isso se percebe sobrctu<lo na
<lcpcndênci,1 tecnológica, que hoje é o 1naior divisor de águns;

e) para cu111plicar a situação, é fundamcnlal colocar a condição


típica <le capitalis1no sclvagc1n predominante, co1nprovada
ostensivamente na des igualdade cxtrcn1a entre regiões ricas
(as 1nais ricas da An1érica Latina) e regiões pobres (compa-
rc'ivcis às rna is pobres do rnundo), hem como t1}1S distâncias
astronômicas c~nlre menores e maiores salários;
t) a expectativa de certo be1n-cst:1r ~oci;1l disscrninada nos anos
70, porca usa do rápido cresci1ncnto econômico, foi falsa, cm
grande parte, porque o prôprio crescimcnlu cco11ô111ico era
unilateral; isso se cornprova hoje pdo iuq,assc da dívida exter-
na - não há 1natc111álica que viabilize seu pngamento - ou
pcln nrtificiali<ln<lc <la vida cconô,nico-financcira do p:1ís -
gnsta 1nais do que arrecada, intl<1ção galopante, sistc1na cspe-
cu ,~ tivo sobrepondo-se ao in teres.se cm investimentos
produlivos, <.Jesconlroll; uos gastos públicos etc. (Singcr 1976).
Volta sc1npfc a alegação de que no Brasil haveria· algo scmc-·
lhantc ao welfare state, o que pcnniliria analisar políticas sociais soh
esse prisma. Considcrnn1os equivocada essa postura. Pri1nciro,jamais
existiu wclfarc stt1te entre nós, a não ser arrc1ncdos e tli~cursos jurídicos.
O fato ue lcnuus uni sistc1na prcvi<lcnchirio enor1nc, com pretensões de

59
cob~rlura unJversal, não quer diZ-et que ele seja comparável aos
sisteinas do centro. A presença sindical existe, além de estar em
evolução positiva 7 valendo o mesmo para a estrutura partidária, mas
é pura pretensão nos comparar com o centro. Sobretudo não temos
cidadania e produtividade para ttu1lo.
Pior que a comparação é a suposição gratuita de que "deveria
existir'>, como é o c:iso da Constituição. O desfile de direitos sociois
encoutnuia devida viabilização se houvesse cidadania e economia na
dimensão necessária. O Estatuto da Criança e do Adolescente, daí
deriv~do, retrata essa suposição gratuita até o extremo do.pedagogis-
mo, imaginando que problema dessa gravidade pode ser enfrentado.
apenas com assistência e educação. Oferece proteção,. náo oportuni-
dade. Tem medo do trubalho produtivo, porque o adolcscenl~ não
"deveria'? trabalhar, pretendendo emancipá-lo apenas pelas vias polí-
tica e assisten<.:htl. Chama de "prevenção especial" o cuidado em
torno da degradação provocada por espetáculos ilnµrúprios, ambien-
tes prostilnícios etc., o que tem seu lugar, mas nem de longe seria
"prevenção especial". O Esta tu to representa avanço drástico e1n com-
paração ao antigo Código de Menores, mas é no mínimo ingênuo
diante do desafio de enfrentar tamanho problema. Uma conseqüência
dessa postura pedagogista é o protecionismo extremo que deixa a
criança e o a<lolescente inatingíveis a sanções, como se tivessem
apenas direitos, não deveres, deixando com isso tan1bém inatingíveis
gnngues que usam "menores" para atuar impunemente.
Nesse contexto, é fundamental chamar a atenção para a visão
geralmente 1nuito restrita Lle bem-estar social, reduzido a quantidade
de vida, por mais que se aduza freqüentemente a noção de qualidade
de vida. De certa maneira, isso reflete postura tecnocrática economi-
cista, que continua ncrcdirondo que o dcscnvolvi1nento ~ocial aparece
em decorrên.cia do crescimento econômico. Na verdade, ainda não
exis~ a convicção pulílica, por exemplo, da hnportância da un iver-
sa Jização da educação ·de 1u grau, do papel decisivo do controle
democrático dos meios de comunicação, da sensibilidade ela identidade
cultural, da relcvânciá do processo associativo popular, <la significa-
ção histórica de processos de conquista de dir~itos básicos, e assim

60
por diante. Esse outro lado p~rfaz propriamente o que chamamos de
qua,lidade de vida (OIT 197.5> C.epaur 1986, Ghai 1977).
Sumariando a questão, poderíamos diZer que~faz parte da noção
teórica e prática dc.hc1n-cstar social, do ponto de vista da política social:

No plano assistencial
.
1. garantias de sobrevivência condigna a grupos populacionais
que não se auto-sustentam, particularmente ·a crianças, ido-
so.s e deficientes;
2 capacidade instalada de atendimento a calamidades, dentro
de estratégias cmcrgenciais, nfio, porém, o tratamento emer-
gencial de ocorrências estruturais, como seca;
3. co1npetência técnica em assistência social, traduzida tam-
bém em mctotlulogias produtivas e participativas, dotadas de
impulsos concretos e1nancipat6rios.
1

No plano socioeconô1nico

1. condições de emprego e de acesso a renda; capacidade da


economia de gerar empregos; participação equilibrada da
renda gerada por parte dos segmentos populacionais;
2. condições da microproduçfio, da pequena produção, agrícola e
urh;:tn::t; impor~1ncia econômica e social (einprego gerado, renda
gerada, consun10 popular, mercados emergentes, decadentes);
3. condições habitacionais;

4. condições previdenciárias;
5. condições de saúde, nutrição, saneamento;
6. condições de preparação da mão-de-obra, em termos de qua-
lificação profissional;
61
7. cond.ições de vida urbana: transporte de massa, equipamen-
tos urba nos, faveias;
8. gasto~ sociais, fundos sociais: como repercutem nas popu-
lações mais pobres;
9. condições de consumo de bens: acesso a vários tipos de
hens, móveis, imóveis, duráveis, eletrodomésticos etc.;
10. condições dos desequilíbrios regionais: bem-estar material
nas várias regiões.

No plano participativo

1. realização do direito à educação de 1~ grau e acesso a outros


., .
111ve1s;
.
2. expre:,;:soc~ de i<lcnlidade cullural, produção cultural, cultu-
ra de elite, patriinônio hi~tórico;
3. sisterna úe comunicação de massa, acesso à informaÇ<10,
indústria cultural, liberdade de expr~ão, censura~
4. procc~o úc conquista de direitos em todos os sentidos: movi-
mentos sociais organizados; processo as.5ociativo popular,
representação organizada de minorias e asscmcihados; defesa
do consumidor; defesa da qualidade do meio ambiente; d irei-
tos humanos fundamentais; '
5. evolução do sindicalis1no e da estrutura partidária: condiçõ-
es dos direitos trabalhistas e dos direitos políticos;
6. acesso popular à justiça e ·à segurança pública; criminalidade.
Talvez chame a atenção o fato de colocannos a di1nensão qualita-
tiva como parte do bem-estar social. A razão disso não parece estranha,
se tomarmos como referência um conceito globali7..ante de desenvolvi-
1nento. E1n pri1neiro lugar, não há 1notivo para sccun<larizar a questão
material, bem como para hipostasiá -- la como única central. Em
62
segundo lugar, não faria sentido fantasiar o lado n1aterial como sendo
C-Opaz de gerar por si, como dccorrêncin, n qualidade política da
população. Antes, é misler compor os dois lados, que no fundo são a
1nesma coisa. Sem-estar social significa a conjunção complexa e
t°t1li7.antc ~o desenvolvimento socioec?nômico_e político, para que
se supere nao somente a pobreza malenal, mas 1guahueote a pobre-
za µo lítica. .- ·
Há ainda oulra razão funda1nentaJ: não se pode conceber o
bcn1-estar social apenas como concessão do Estado, como é comum
entender no quadro do weffare state. Em boa medida - na seu )ado
1nais digno historicamente - , bem-estar precisa ser conquista dos,
interessados, construção própria, elaboração consciente. e crítica. E
decorrência necessária da cidadania. Esta não substitui o "bom em-
prego,, nem lhe é superior. E vice-versa.

Por outra, deve entrar na concepção de bem-estar também o


lado assistencial, porque seria contraditório deixar au largu os grupos
populacionais qu~ não conscguc1n se auto-sustentar, pelo menos do
pouto de vista da cidadania. Entre as conquistas políticas está também
aquela que atribui ao Estado o dever de equalizar chances, sobr~ludo
cm favor dos que seriam esmagados pela crueza do mercado.
Por fim, é tnister recolocar o lado torto das comparações com o
weffare slate, no contexto da polílica social: ·

a) nunca houve aqui qu~lqucr coisa semelhante ao estado de


bc1n-cstar social, a não ser como euforia efêmera e falaciosa,.
artificialmente produzida por momentos de excitação econô-
mica, nos quais, a bem da verdade, a política social ~cmprc
ficou à deriva da política econômica, além de tipicamente
tccnocrútica;

b) por imitação empobrecida, passa-se facilmente a tratar a


pobreza como Hlgo emcrgencial, uma eventualidade infeliz,.
invocando direitos sociais; é meia verdade, porquanto, de um
la<.lo é certa1nentc direito sobreviver, mas, de outro, é realismo
reconhecer que pobreza não é emergência e que o direito à
sobrevivência necessita ser economicamente viahili7.ado;

63
e) esquece-se (ou cscan1otcia-s~) qu~ u <.lcscnvulvimcnto socioe-
conômico é inseparável do desenvolvimento político, ou seja,
o que transforma o crescimento cm de.~envolvimento é a cida-
dania urganiuu.Ja; o que impressiona nos países de bem-estar não
é somente a abundância de bens, mas sobretudo a democracia;

d) hipostasia-se o Estado co1no super-herói da distribuição so-


cial, esquecendo-se que cm países avançados a disponibilidade
de recursos .é 1nuito niaior, ao laüu úc uma pobreza proporcio-
nalmente muito menor; é ingênuo e antiemancipatório querer
que num país pobre como o nos.c;o o F~~do possa dar a todos
os pobres pão, leite, casa e emprego; para o Estado poder
tornar-se um equalizador relevante das desigualdades sociais
preci.c;a pelo menos de duas condições fundamentais: economia
competente e cidadania exuberante;
e) fantasia-se a possibilidade de pactos fál:ci~ entre capital e
tr:ibalho, a comcç:u pela intcrprctaçiio frouxa de que nos
países de hem-estar os pactos sociais não foram problcmáti-
t:os; na prática f0Ct1m árduas conquistas, cm meio a abalos
por vezes 1nuito profundos, que zcraréun a história, rcco1nc-
ça ndo-sc tudo de novo; pactos satisfatórios supõem
ncgocindorcs equalizados, sobretudo do lado do trabalho
(Abcndroth t 977).
Bem-estar social é menos a posse de algumas benesses mate-
riais, estereotipadas cm alguns shnbolos de status da classe média, do
que a evolução positiva do proccs.so de redução tia~ <.fc!)igualuades
sociais, cm sentido econômico e político. Como processo, não tem
hora para L~rutin<1r, principalmente cm seu lado polílico, no qual as
gerações precisam construir seu patrimônio de cidadania prática.
No contexto de uma visão interdisciplinar (matricial) de desenvol-
vimento, os fatores aparecem intcrligodos. A questão social toca 'a
tecnológica à 1ncdida que esta pode facilitar excedentes econômicos,
melhorar e baratear produtos, aperfeiçoar a formação bá~ica. Toca a
questão ambiental, porque é direito das gerações futuras poderem viver
num planeta habitável. Toca a questão instilucional, sobretudo do Estado,
porque é crucial sua atuação como instiincia delegada de serviço público.
64
Vendo assim, nüo é correto pintar o bc1n-est.ar social como
aquela situação em que un1 Esia<lo prolclor cobre o cidadão de bene-
fícios, ou em que só existem dir(.~itos, não deveres> ou em que os
serviços públicos se aperfeiçoam
, por si, sem cobrança de baixo para
ci~a, e assim por diante. E parasitária essa visão. O "social" não pode
isolar-se nem imngin~lr que tudo somen le adquira sentido a partir dele.
Embora seja fim, é vazio fim ~cm n1cio (Aureliano & Draibe 1989,
Jaguaribc 1985, 1989, Boschi 1987, Coelho 1987, Doimo 1984, Fis·-
cher 1985, Jacobi 1989, Lamounicr 1990, Leite 1982) .

..

65
5
PIANEJAMENTO SOCIAL

Mito e realidade do planejamento social

Está sob suspeita o planejamento social, e oão sem razão. Após


anos de crendice tccnocrátka, bem como após os recentes abusos de
slogans participativos, mas sobretudo em_visL'l da pobreza que não cede,
antes aumenta relativamente, é muito compreensível que já não se espere
n~da de significativo do planejamento social. Muita conver.;a fiada,
promessa Hitua, diversão para sol:iúlugos, assistentes sociais, pedagogos
e economistas, que todo d ia inventam novas e brilhantes palavras, teorias
e cenários, sem que possamos de fato vislumbrar o que tudo i~o tem a
ver com a realidade dura elas desigualdades sociais (Bianchi 1988).
'lbdavia, há um lugar para o planejamento social, que não
podemos nem supcn.lirnc1Lo;;ionar, ncn1 desprezar. Não precisa ser apenas
tecnocrático nem apenas fo.lastrão. Diuntc da excessiva pobreza socioe•
conômica e política, o que podemos fazer-deixando de lado afrontas
radicais - é cerL'lmentc pouco. Mas poderíamos fazer melhor esse
pouco. E" disso que se trata, na devida modéstia (Mannhehn 1972).
67
Aprendemos tan1bé1n que planc::jar .significa muitas vezes saber
retirar-se, no sentido de reduzir o aspecto se1npre intc::rvencionista do
plancja1nento. Esse é o caso no campo participativo, uo qual seria
~bsurdo - embora por demais freqüente -querer planejar a participa-
ção dos outros, reduzindo-os a objeto de condução. Está nn alma do
Estado conduzir as rnas.c;~s, pois quer delas subserviência e voto favorá-
v~I. O técnico que nele trabalha incorpor:l ~Ac.;sa alma, e sua competência
será avaliada pela capací<.lade de, sob belas palavrns, sempre científicas,
elaborar estratégias refinadas de cunlrole social e desmobilização.
Basta olhar para propostas co1nuniu1rias.. Há governos esta-
duais que se dizen1 co1npromcti<los con1 a 1uubilização co1nunitária, e
se 1netem no interior dos movi111entos sociais de base. Cria1u grupos
de técnicos encarregados da "ação socinl", ou da "ação conu1nitária'9,
e mes1no da "clernanda comunitária''. Por vezes criom até mcs1no uma
Secretaria de Ação Comunitária, eom a finalidade estranha de promover
a organiz.ação popular democrática para controlar o próprio governo. Se
der certo, terá q u~ ~cr fechada!. ..
Os grupos técnicos são por vezes hc1n-inlcneion:1dos, se dizem de
esquerda, 111as, na práti<;a, servem à direita. Olhando hem ;1s coisas, a
prirneirn função do governo é não estorvar, porquanto uma das pilnslras
dos movi1nentos sociais é controlar o governo. Imaginar que o próprio
governo construa seu controle é ,tlgo contraditório cm excesso: ou é
"jogada'' esperta, retirando com u direita o que dn com a esquerda, ou é
.:·santidfüle" impraticável (Schcrcr-Warrcn 1984, Sadcr 1987, Dias 1977,
Schwarlz1nan 1982, A1n1nann 1977, 1980, Gr~ybowski 1987).
Os ngolpesn são inúmeros, todos técnica e cientificamente
bcn1-fundaLlo~, mas na prfitica pcrfozcndo a captura rios movimentos
sociais de base. Por cxcn1plo:
a) realizar l.4ação co1nunil;Íria" a partir do governo é invadir o
espaço próprio das comunidades, encobrindo sob linguagent
de esquerda novos cnpí1t(\zcs; sobretudo, confundem-se duas
lógica!) <.:unlrári~1s: a do governo, que é c.lc con<111ção, legitima-
ção e sobrevivéncia poHtica, ~ a da cornunidade, que é de
auto-s ustentação, emancipação, controle dc1nocrático; a con-
fusão~ entrc~nto, é estratégica, porque serve p3ra apresentar
68
o representante do Estado com o '"a1nigo» do povo, e até
com o «:pov o"" proprian1e ntc, d esenhando a farsa mile nar d e
que e nlrc E !')tado e sociedad e há coope ração, compreensão,
co1nplc n1e ntação, não co n f ro nto dia lé tico; para co mple tar a
sa la da , acrescen ta-se a pime nta do ''inte lectua l o rg~ nico ",
a ra u to insuspeito das boas inte nções do gove rno; o resultado sa i
na medida: as comunidade.~ ~u'lham inclina ndo-se dia nte da
presença do Estado, reduzindo e a té eliminando seu pu tcnc ial
de m obilização contestadora e críLicu; a~ão conn1nitá ria, no
duro , sern fanla~ia, dialc tj ca1nentc, é es tratégia d e cimél, d e
c u1nu se a nna ideolog ia m o d erna d e pa rtic ipação p opular,
p a ra nisso c olocar os m ovime ntos socia is sob co ntro le; o ra,
c idadania po pular não se o rga niza d e c ima, p o rq ue j á te ria
p e rdido sua pr6 pria lógica; o Est.aoo f;)z muito, se não esto r-
v a (Rezendc l9X6, l:3off 1986, Boff & 1986); ·
b) inven ta rn-se ''conselhos pa rit;í rios' , com rnembros comuni-
tários e m c mhros do gov erno, sem a tc nuir para a fa rsa 4uc
isso c ncohrc, a com eça r pelo " pari tá rio>\ p orquanto não 6, d e
m o do a lg um, pari uírio o confro nl o cnlrc os do is lad os; não é
o caso d e condenar, pura e s in1plcs mc nte, ta is inic ia tivas ,
p o r4 uc pu u c 1n co nter co mpo ne ntes a pro ve itá ve is, pe lo m e-
nos no sentid o de reduz ir a imposição tecnoc rá tica, m as
parece c la ro de1na is que essa mis tura a docicada, a lé m d e
co nfund ir de no v o as lógicas, serve p ara "c1nho ls}tr"' as lide -
ra n ças comunitá rias, to rnadas c1csd c já c úmplices; ad en1ais,
quando se r~t1 ,1 c1n pe rsona lidades rcprcsentalivas da socie-
d ad e, nunca se co nsegue de finir bem o 4uc G isso, po rque a
~uc ic d a dc, sobre tudo a ma is po bre, não dis põe d e mcca nis-
1nos his tó ricos capazes de indig itar rc prcscntnçõcs legítimas
à v o nta d e; no a paga r das lu 2cs - po i~ é na no ite que o
Es ta d o tra ba lha rnc lho r - , ~liS rcprescnt:tntcs acabam scnuu
indica dos pelo pró p r io gov e rno;

ç) <lc repe nte, a pa rece o governo inte ressado e m planeja r a


partir d a assirn dit.i " de ma nda co rnunitá ria " , vendendo a
idé ja cap c iosa de q ue d esej a fazer ex;1t..1 m ente o que o pov o
q uc r ; ve lho c hav âo, agora rev estido de teo ria crítica ; c x: is te 1n

69
gov~rnus que inclusive fonnam secretaria específica, com sen-
tido de articular essa dctnanda; a~ t;Onlradições são abundantes:
- vende-se a iuéia fanlásLica de que o governo é capaz de
resolver' toda a demanda, o que é cvid~ut~ banalização da
pobreza extrema da n1a ioria das con1unidadcs;
- procura-se ccntrali7..ar num lugar.só pretensa compctancia
de articulação, emprestando a uma secretaria, por exe,nplo,
tarefa impossível de o governo coordenar na área social -
esta passa a enfrcn~H todos os problemas comunitários (in-
finitos cm princípio, além de gravíssilnos), sobretudo os que
não lhe dizem respeito;
- forja-se a quimera técnica de um grupo '4e.~pecializado" em
1niséria <..:omunilária, insinuando divisão odiosa de trabalho:
desgraça da grande fit.:a com essa secretaria, enquanto a parte
melhor fica com as outras; assitn, n1esu10 havendo uma
secretaria dedicada ao problcrna habitacional, habil.ação de
baixa rendn é atribuição dos especialistas cm miséria;
- c1nbrulha-sc um pncole co1nuni~írio incrível, quando se
reserva para um grupo de iluminados - que se intitulam
espcci<tlistas em ação comunitária, todos de esquerda, críticos,
atualiz;1díssimos - o rnonopólio da competência democrática
de um governo, confundindo 1'1canh:1mc~nte meta com método:
lrab.alhar com as comunidades não pode ser c~pccificidade
de un1a secn;t,Jria ou de um grupinho ucntro dela, mas meto-
dologia connun de un1 governo dcn1ut,;rático;
d) por conseqüência, rica prejudicada a fun':são técnica de pla-
ncj<1mcnto, que, d:l supcrvalorização tecnocrática, passo de
repente a alivi<.Jadc cnvcrgonhncla; irnngina-sc diminuir a
vergonha, lravcslintlo-a de n1uJambos parLicipativos - daí
saem muitos planos participativos, cont cvidcnle abuso dos
tennos; o plancjador conversa co1n algumas "lideranças" da
sociedade, sohretf1do empresários, políticos, autoridades mi-
litares e eclcsitísticas, 1nais algumas representações de base
(sindicatos, sobretudo), e co111 i:-;so à mão decreta seu plano
70
como pnrticipativo; n.a verdade, houve apenas um acumpli-
ch1mcnto da sociedade, enquanto se deixa de v:-a1ori7.ar :tlgo
natural em qualquer governo legítimo: entre suas funções
está a de planejar; tal planejamento tem que ser, de si,
tecnicamente compctenlc:, capaz tlc avaliar cientifica,ncnte a
situação social e üc propor os devidos enfrcntamcntos; não
preci.5a de subterfúgios participativos, até porque planejamento
participativo é algo totalmente diverso, nem seria praticável no
nível do país ou de um Est..'ldo e mesmo ele um município;
e) ademais, as comunidades tendem a ser sobretudo "usadas'>
nas propostas ditas comunitárias; se olharmos a atuação
recente da Seac (Secretaria Especial de Ação Comunilári~)>
tais contr~diçôes são patentes:

- é inteligente por p,1rte do governo usar as lideranças


comunitárias para distribuir leite> não só porque isso bara-
teia custos e runt=iona 1iza a chegada do produto, 1nas
princip<-1lrncnlc purquc ucaplura', o n1ovimcnlo social, cer-
ceando pelo 1ncnos sua ação de controle democrático e de
crescimento nuto-suslcnlado; u1na jogada "tecnicamente"
perfeita, na qual n políticn social alcança com eficácia quase
direta a decorrência controladora e desmobilizadora;
- vende-se uma proposta apenas compensatória, tipicamente
assistencialista - o atendimento não é signific~tivo di:inte
das carências e da demanda - como democracia das emer-
gências, co1no resgate da dívida social; o resultado mais
pnílico, no entanto, é o processo de base de legitimação do
poder, algo inteligente por parle do governo, mas sem signifi-
cação histórica maior para as comunidades;
- inventam-se cornunidadcs e movimentos comunitários, sob
pressão de recursos disponíveis> já que a urgência da miséria
obriga a faz~r qualquer coisa para conseguir recursos, mesmo
que sejam ínfimos; o que revela a "disparidade'"' flagrante entre
as lógicas do poder e dos excluídos do poder, acarretando prejuí-
zos irreparáveis na scdimentaçiio qualitativa de tnovimentos
participativos, fcilos a loque t.lc ~•ixa, tipica111cntc ad hoc;
71
t) por fím, chamamos a atc.it«s'iío para outro resultado negativo
desses "golpes~~ refinados~ que é o cnred~mento do planeja-
mento em propostas inirabolantcs, que vão desde promessas
fá tuas - "'~rradicar a miséria'-, por exemplo - até a perda
de compromissos técnicos con1 ,netas e uaélotlos:
- a título de atender "à dcumnda comunitária'", toma-se como
meta a população toda (pois quase toda é pobre), sendo inipl~Í-
vcl descrever isso como ''meta", pois nem começa, nem acaba;
toma-se impraticável a avaliação, pois o atcndi1ncnto é tipica-
mente desordenado, perdido no biscate diário, dcsorganiz.ado
esLrulurahnente sob a imagem ele um "supermercado de ações";
- invadem-se ii rcns estranhas, tornando metodologias ações
finalísticas: c1n vez de apelar para metodologias produtivas,
conl vista::; a garantir efeitos emancipatórios em assistências
devidas, fazcin-sc prognuna!) produtivos diretos, sem noção
sufkicntc de inves timentos estratégicos, redes pru<luliva~,
vocações cconô1nicas, problemas de matéria-priina, co1ncr-
cialização, lccnologfo e quali<Ja<lc dos produtos, e assim por
d iantc, o que leva à pulverização de recursos parcos que,
somados c1n cadH C8SO, dão n1ci11ncnte zero;
- vagueia-se perdidamente entre "grandes teorias" e "ativis-
mos baratos'>: de um laclo, teóricos incorrigíveis, que fazem
teoria da participação discutindo de longe a participação dos
outros; <lc outro, técnicús mais pedestres, curtindo a farofa
de cada dia, na ilusão de co111pc1drio comunitário, forçando
identidades aprossudns; nada é mai-, conservador do que
teorias radicais se m prática ou do que práticos sem teoria.
Caractcrislic:unente, o interesse govcrnarncntal pelas comunida-
des aparece sistc1natia1mcntc c1n espaços institucionais assistenciais:
LBA, Secretarias de Ação/Assislência/Pro111u~o Social etc. Teorica-
mente, seria difícil buscar pnrenlcsco, porque, no fundo, se contrapõe1n,
sem diootomias. Praticam.ente, a charada se desvenda logo: trata -se de
comandar o processo associativo, para, via migalhas assistenciais, des-
mobilizar e controlar. Aulçs que as associações pressionem o ~lado,
72
este as '(amansa!". C.Ocu isso ·.atinge-se o objetivo clássico: faz parte da
"cultura" associativa nacional depender de auxílios públicos.
Dito isso, faren10s agora o esforço de sistematizar algumas
propostas em termos de planejamento social, conservando o esquema
inicial dirigido aos espaços assistencial, socioeconômico e participa-
tivo. Daremos alguma ênfase ao dito planejamento P"rticipativo, pois
o c.onsideramos fundamental, embora muitas vezes extremamente
b~naJi:,.ado (Santos & 1986, Carvalho & 1984, Monteiro 1987).

Planejamento assistencial

Talvez o lado toais relevante da discussão sobre o welfare state


seja o reconhecimento das assistências devidas. Faz parte da dignida-
de social de qualquer sociedade não abandonar à sua própria sorte ou
às ditas leis do mercado segmentos populacionais que niio lê1n chance
de auto-~ustcn~'lÇ<lO. Entre as assistências tnais fundamentais~ porque
significam conquista dcmocrálica dcchsiva, c....:;tá, por exemplo, o scgu-
ro-dcscn1prego, compreendido como cstralégia de preservação do
direito à sobrevivência. Esse tipo de assistência, todavia, faz parte
daquelas cmcrgcnciais e que, por isso, devem desaparecer. Com
efeito, se o dcscmpreg~do fosse de tal modo assistido que não valesse
mais a pena trabalhar, estaríamos plantando o parasitismo social. O
benefício deve representar quantia inicial que reponha certa altura do
salário perdido, e a seguir decrescer no te1npo.
Como é cslru Lural o desemprego no capitalis1no - s.:ío excepcio-
nais fases de pleno e1nprcgo - , o problema gerencial mais complexo é
cslahelcccr o número de desempregados que é viável assi~lir. Rc,1pa-
rccc aqui a lógica típica do sistema: trata-se de um benefício que é
tanto mt1L'> acessível quanto menor for o número de desempregados.
Em época de rccessáo, quando seria mais neccsSc1rio, será tanto mais
<lifícil atender, porque diminui o excedente econômico. Adcn,ais, em
economias subdesenvolvidas o fenômeno do desemprego aberto não
é o fenômeno mais visível, mas o subemprego, sobretudo no setor
informal. Um sislcrrm de dcscanprcgo não tem qualquer condição de
atender todos os trabalhadores "mal-cmprcg~1dos". Restringe-se ao
setor formal (C<1v:1lc~nli 1978, Max-Necf 1985, carvalho & 1984).
73
Seja como for, a questão ·do -desemprego geraltnente é Lrat.ada
em órgãos I igados ao setor trabalbo 7 inclusive para denotar sua liga-
ção com a questão produtiva. Essa ligação torna-se ainda m~is forte
quando o se~ro-desemprego é gerado pel~ próprios sindicatos.,
prevalecendo sobre assistência, a idéia de seguro.
Sobreviver não pode ser contingência do mercado de trabalho
apenas. Não se put.leria aceitar sem mais o mercado de trabalho como
regra da vida, pretepsamentc objetivo, decidindo quem merece ou não
sohreviver. Aí entra o fator político que, embora sempre reconhecen-
do a importância da base econômica, traz à baila o direito à
sobrevivência, o qu~ significa criar mecanisnios tle assistência em
horas nas quais o mercado não corresponde.
Entretanto as t·ormas mais usuais de assistência voltam-se para
o alenditueuto d~ populações marginalizadas por intermédio de outras
características, sobretudo pela impossibilidade física ou ancntal úe
produzir e trabalhar: crianças, idosos, deficientes, flagelados ...
Atendo-nos a esses grupos, que por vezes ~ão incrivelmente
numerosos, a questão do plan~jarnenlo assistencial poderia admitir
considerações do seguinte teor:
a) a primeira providência é superar o "supermercado de nçõcs",
um eslilo de tiroteio no escuro, que apenas pulveriza re-
cursos cm frentes excessivas, sem atingir qualquer
significação prática no en(rentamcnto dos problemas; é
comum que inslituições dedicadas a assistências inc)uom
c1n seu cardápio programático ações em educa~ío, em
saúde, em habitação, em encaminhamento ao mercado de
trabalho, em lazer, cm cultura, cm orientação familiar e assim
por diante, sem fazer nada de importante cn1 qualquer lugar;~
evidente redupl ic.ação de esforços, alétn de pulverizar parcos
recu~os, cum o agravante típico da contradição de orientação
programática: enquanto de um lado se insiste cm não cultivar
assistcncialismos (dar casa, dar emprego, dar comida etc.),
de outro faz-se sistematican1entc isso, lcn<lo cm vista re-
su llados pol it iq ueiros;

74
b) deve ser compn:lmi~~o da área assistencial atingir a demanda
de modo significativo> cm quantidade e qualidade; tomando
o exemplo das crianças de/na rua, dificilmente se encontram
programas que vão além de cobertura mínima; na prática,.
isso não tem qualquer relevância, sem falar em que por vezes
os gastos per capita rccomendclriam doar os recursos direta-
mcn te à família; qualquer enlidade deveria a tender a pelo
menos 50% d.H demanda para poder se justificar,. o que levaria
logo a reconhecer que não pode dc<lk.:ac-sc <1 infinitas iniciati-
vas - todns em si importan tcs - que levam apenas a dispersar
esforços e recursos; csta1nos totalmente distantes de qualquer
atendimento razoável aos menores de rua ou aos idosos ou aos
deficientes (Dal-Ros.-so 1986, Macedo 1985);
e) no fundo, o ossistcncialismo grassa cm todos os cantos das
assistências> porque n tratamento é tipicamente emergenciaJ
de uma realidade cncardidamcntc estrutural; não há propria-
mente assistência, mas bülcão de doações, magras, arduamente
disputadas, por vezes motivadoras de certa "indústria"' das
esmolas públicas:> quando sempre os mesmos são atendidos,
várias vezes, cn1 vários lugares, sc1nprc de novo;
d) é preciso - urgentemente - colocar metas concretas de
atcndi1ncnto, do tipo: passar d.a cobr~rtur~ de eri~ nÇ<lS em
creche de 20% a 80"tó cm cinco anos, sob processo intenso
<lc avaliação e cobrança, para podermos indigitar melhor
por que sislcmnticamcnte tais programas pintados con10
assistências devidas passa1n tão ao largo dos problemas-
parece que servcn1 1nuito 1nais à n1anutcnção de uma má-
quina burocrfltica do que ao cnfrcntamcnto da questão;
planejamento assistencial há de significar, tccni(..~mcntc, a
cnpacidude de, por exemplo, mapear a demanda de assis-
tência por parte da população deficiente (física e mcn tal)> na
capital e no interior, e, a partir daí, projclar de modo con1pe-
tcnte o atendimento rc~dista e crescente para o futuro, ano
a ano, com 1nctas concretas, com recursos definidos, com
ncccs..c;iúa<lc de pessoa] e de instaJação física, e assim por
diante; hoje, de modo geral> i1npcra o amadorismo, que no
75-
fundo é pura irrcsponsahilidaúc de um Est1do destituído de
compro1nisso para co1n a~ popttla<:s'ôes mais carentes, embora se
apresente :10 contrário no discurso;
e) do po1úo de vista do Estado, é fundamental a conjunção
entre co1npctên<.:ia técnica e compromisso político; não
temos nem um:l, nem outro; e1n termos de competência
técnica, a assistência social devida ainda é problema n1ar-
ginal na formação de cicotistns sociais; cm termos de
cornpromisso polf lico, impera <dnda a linguagcn1 de esquer-
da, pretensamente radical, n1us longe da prática cocrcnlt;, o
que tc1n levado inuitas instituições assistenciais a se po-
voar de figuras quixotcs(;aS e contn11.lilúrh1~ .. que discutem
o <lia lodo "n1atcrialis1no histôrku", sem perceber que isso
nada te m a ver con1 sua prálil:a, íl;dundando cm parasitis-
mo sochll dos 1uai~ vazios;
() sobretudo é 1ni<;lcr inlrnchr,dr, sempre que possível, mcto<lologfos
produliva~ e participativas, pnrn <.pie as a~islências <lcvitlm; não
dcgcncrc1n tüo facihncntc c rn tissistcndalisrno, para cultivar, adc-
m:1 is, conccp«;ão e prática int<.:rl igatla co1n as faces econômica
e política, e parn alinhar-se ~H) s des afios c1nancipatórios <la
sociedade;
g) i1npo rlanlc ainda é <lcM.:cnlralizar as políticas, sobretudo mu-
nicipalizar; para tanto , con11n;tÜ11(;ia Lécnic;} e apoio
financeiro ~ão cruciais, lt;tH.lu en1 vis la lrn nsfcrir condições
de aulnnontia local, para <11.e c~1dn 111unkípio possa construir
e gerir s ua p1úpria políLica de assistência.
Aqucst1o ruclo<.lológica ligada ao <.Jcsafio produtivo e p:1rlicipa-
tivo é lilo fundan1cntal que <.:onvé1n c1nprcstar-lhc a devida atenção.
Em priinciro lugar, não é o caso <lc tmnsfonuar as~islência cm produ-
ção ou p:1rticipaçiio, porquanto, se consi<lcraua co1no dcvi<ln, cube Ut;
qualquer 1nodo, mc::;m<.> sem produção e parlicipaçiio. Uma criança
de/na run tern direito à assislência, co1no ser humano que é, e tendo em
vista sua idade e suu ncccssiuadc. Assislir ~,í é algo crn si nobre, que se
ba:-;la a ~i 1ncs1no. Introduzir tnclotlologias produtivas e part.i,~ipativas
não pode ser inlcq>rct1du c;o1no cxpccJicnlc inventado para di1n inuir a

76
;

vergonha de assistir7 porquanto não há nenhuma vergonha nis~o. F.


função clara do Estado dc1nocrát.ico, e pnrn L:1nln deve haver técnicos
competentes disponíveis.
Em segundo lugar, faz parte de toda política social emancipa-
tória não definir as populações necessitadas como objeto, mas como
sujeito principal, como real interessado. Aí, é essencial colimar resul-
tados c1nancipatórios, no sentido de superar, <le todos os modos,
sempre, assistências que humílhatn, que replicam a dependência, que
obstruem a cidadania e a auto-sustentação.
Em terceiro lugar, procura-se unir a meta cspecíficé1 - que é
~ssistir - com metodologias emancipatórias, reconhecidas de modo
geral como scoclo duas: produzir e participar.

Falan<lo de crianças de/na rua, para cxcinplificar, a assistência que


se lhes deve só tem a ganhar cm qualic.Ja<le, se for acompanhada de
cuidados participativos e pro<lulivos. O adolescente infrator, para come-
çar, deve entrar nas <lcpcm.lGncias da respectiva inslituiçfio de assistência
trabalhando, e sair lrahalhan<lo, alé1n <lc ser cho1nado a participar da
organização de seu trabalho, sobretudo da gc::,tfio de possíveis lucros ~
de prc.)ccsso~ educativo!->. Não foz ncnhutn scnli<lo <lcix<1r, por exemplo,
o 1ncno r infrator 15 <lias fcd1a<lo c1n uan cotnparlitncnlo, a título imbecil
de descarregar a agressão, por<1uc essa situação de ociosida<lc apenas
exm.:crba a úificul<lauc de recuperação :;odal.

Ao eontrári0 deve ocur~1 r seu lempn ele modo integral, por


7

meio do trabalho e da cduca4s:10, porque trabalho é :1lividadc es...~cneial


de rccupcra<_são so<.:ial: é tcrapi:l ocupacional, é valoríiação da pessoa,
;

é tnodo de participação nn sociedndc> e é a incl:l cm:;tign. F, totnl


picgu kc perder tetnpo com teorias que prcle ndc1n <lcfc1u.lcr o infrator
apenas corno víli1na da sociedade - c1nbora seja correta essa visão
em si- e que por isso deve tr:~balhar :-;e quiser, se se sentir motivado,
porque isso supõe visão funcionalista, picdo:-:;u e :-;upcrficial uo que é
trabalho na ~ocicuauc. Não lrahalha1n0s sobretudo porque gos~a1nos
e nos <livcrtin1os coan is::;o, 1nas p or sobrevivência c.slrila. E1n tennos
duros, n1as rcaHs ta.s, o adolescente infrato r deveria cntcn<lcr que
trabalhar para a co1nunida<lc seria seu cnsligo - o que, no fundo,
apenas dignifica o homem. Se olhannns pnra socicda<lcs socialistas,

77
que. quase sc1nprc está() no pano de fundo dessas teorias m:itcrnalistas,
elns são implacáveis em aplicar o trabalho como método funda1ncntal
de ressarcimento da infra<_sfto e de recuperação social.
Por outrâ, seria erro considerar o trabalho como meta, pois é
metodologia cmancipatórin . Quer dizer, vê-se no trabalho seu valor
pedagógico, como instrumento de reintegração do infrator na socie-
dade. A~sim, será boa idéia se o adolescente infrator puder participar
da produção de algum hem comercializável, em cujo processo apren-
da a co-gcrir lucros, investi1ucnlos, tempo de trabalho, encomendas
regulares e assim por diante. Com isso - lraha1lrnndo e participando
- pode recuperar o Cl1minho de sua cidadania produtiva, até pon.1ue
é sabido que a<lolcsccntc infrator assistido cm entidade pública difi-
cihncntc lcni no futuro inserção adcquad:1 nn mercado formal, tendo
que sobreviver como autônomo.

No mcsino espaço da criam;a de/na rua, é inacrcdillivcl que


técnicos dcfcndarn - na maior pjcgui<:c e irrcspon~ahilid.1dc -
espaços nrtificiais clc convivênci:1, nos quais o assis tido apcnns co1ne,
<livcrtc-:;c, passa o tcn1pu, .scn1 qualquer prcocupnçüo ctn colaborar de
algiuna forma para a 1nanutcnção do program:1, pelo menos das
insl·: tlaçõcs físicas. A contra<.Iição é flagrante, porque, de uni hnlu,
parte-se de n1odo geral da teoria das classes sociais para explicar o
surgimento da criança dc/nra rua, rnas a seguir inventa-se gratuita-
mente urn espaço itnpunc, picdosatncnle prcscrvatlo, no qual o
aúolcsccnlc faz o que quer; chega-se n1csmo a reconhecer tun ' direi-
4

to'· de depredar as instalações físicas, como prctensn estratégia de


cxtn1vmmr a ansiedade provocada pela agr~são capitalista. Na ~casa
de couvivên<:i:i"' fica suspensa a luta de classes, por decisão dos
técnicos de esquerda, sc1n alinar que isso apenas cristtli'l.a ainda
n1a is nos meninos a cond içiio de p:"iri~•S <l~• sociedade, porque se
suprime a chHncc pedagógica de introduzir cstrat6gias emancipató-
ria~. Apesar de Lodo discurso de esquerda, é proposta típica da
direita, que náo se diferencia no fundo da política social volunL.1ria
de primeiras-damas.
Evidcnlc1ncnlc, toda proposta emancipatória dentro de socie-
dades cxtrc1na1ncntc <lcsiguais aponta para coulrauiçõcs óbvias:

78
a) 6 se::111µ rc possível lransfo n na r traba lho e partic ipação em
expl o ração de 1não-dc -o bra ba ra la, bc 1n co m o e1n exped iente
d e libc r~ção d as o brigações do E stado;

b) não se pode fa zer rnilag rcs de ntro de un1 mercad o muito


restrito : enco ntrar ronnas rcnlávc is de pro tlu <são 6 pur vezes
u 1n malnhnr ismo to ta l;

e) <l ific ilmc ntc co nscgui1nos ag ir nas ca usas, qu e eslflo no


s is tcn1a p ro d u livo e po lí lko uc.
c ada oci c<la <lc, rnas é
possível ser menos ass istenc ial is ta, o u aproximar-se de
efeitos c n1n nc ipató rios;

d) exige-!)C pr<;scnça de técnicos públicos pa rtic ula nnc ntc dota-


dos de competê nc ia téc nic a e de co1n pro1n isso po lítico:
paras itas <lo Est:1do <li ri<.: il1ncn lc são ea p él ZCS d e lrnns rni t ir
n1ctod o lngias pn>Llu ti vas e pa rtic ipa ti vas ;

e) é cxlrc1na 1ncntc co mp lexo co ns truir co n1p ro 1n isso fi nnc de


serv i~o público po r p:irlc de insti tuições assistenc iais, que
por vezes v ivem o 1ncsrno a 1nbicntc pate rna lista do pa te rna
l ismo que pro paga1n.

An 1ncs1no te mpo, é i 111p ortantc ressa ltar o atendi1ne nto sis-


tc 1n,íti co· a ssiste nci al , s c 1n o qu ~d o i1n pac to é dc!-; prcz ívcl, a lé 1n de
na
i n r c i rras o ri e i a i s de modo i 11acn.:tl itávc;l. A ss is tê nc ia nflo-s is tc -
1n á ti ca so 1nc n tc se j us ti l"i ca se fo r e1nc rgênc i a, p o rq ua nto es ta,
por d e fini ção, n no se ria s is tc 1n :ític a. Es. a c o ns i d c raçflo l~vn n
í CC<J Il h CCC l :

a) não va le s upc n.J i1nc n:-i io 11a r a tiluu cs vol un Uí rins c m po líticas
ass is te nc ia is, do ti po ~'pri n1c irn- c..ta ma''; p r imeiro, po líticas
~1 s.· istcnc ia is, do po nto de v i sta de um Estad o de dire i to, não
são facu lta t ivas, m:1s es trita m e nte. o briga tó ri as; segundo,
n a da 1G111 a V(.;f co 1n co m iscração, c 1n bo ra não se possa
d esde nhar que pcs. oas ric as raçarn sua. cs1nolas - apenas é
n, i~tc r acentua r q ue po r aí nfio se reso lve nntla de i1nporta nte,
n nno ser a mií consc iência; 1ncsmo a~s irn, é d irei to d~
cil.t1u,111 i,1 d o rico dedicar-se a assis tê ncias, sej a lá q ual fo r a
a legação j li=-> l i ficac..l o ra ;

79
b) atendimentos c111crgcnciais pa!>sam facilmente a idéia total-
mente errônea <lc que pobreza é cmcrgcnciol; é um desacerto
fatal esperar soluções mais ~ignificativas de tratamentos
cmcrgenciais, cx.cclu ~e se tratar <lc emergências;
e) pcrdo--se de vista a importância de ,nctodulugia.s produtivas
e p:1rticipr1Livas, que ja1n~1is se coadunam com eventos cfê-
1ncros, inlcnnitcntcs> pontuais; podem encher relatórios,
mas não rcsolvcn1 nada.
A título de exemplo, desafio essencial é o atendimento cn1
creche ~lS crianças pobres, dentro da concepção constitucional (scrn-
pre de zero a seis), porque aí assistência conjuga-se co1n cducaçâo,
lrnnsfnrman<lo-sc possivelmente no investimento estratégico preven-
tivo mais eficaz. Hoje esse :Hcnditncnlo está cm torno de 25%, no
múxitno. E1n 1985, nas regiões rnctropnlitanas tlc Forta)c:,..a, Bclé1n e
Recife, cnnsl:1lnu-sc alcnúiincnto <l~ quase 30%, com prioridade para
crianças carcnlcs, o que revelava a presença de inslitu içõcs como a
LBA. Embora a quali<l~u.lc do atcndiincnlo ~cnlprc lenha sido qucstio-
nad,l> esse rato n1ostra que seria possível avHnçar nessa direção,
incluindo lngo la 1nhéln o probleana da q u:1 lidadc.
Entretanto, n cobertura <lcvcria chegar aus 80%, digan1os, conso-
lidando con, isso dcliniliv:uncnlc u1n tipo de {lSSistência dos mais
1ncrhórios, ur~an1~ntado naturah11cntc e fazendo parle de 11rnn paisagem
talvez intocável. A 1nc<li<la que a LDA rct.:uou, permeou-se de outras
inúmeras ações residuais, n1alb~1ral,1ndo sua chance cúmo instituição,
sc111 falar na relegação de tun úircilo conslitucion:11. Até hoje a LBA
posta-se ~) 1ncin catninho, co1no :-;e tivesse dúvitla <la ilnportância da
tarefa. De LHn lado, continua a '~creche coanunit:íria" obnubilad(i por
rclaciona1ncnto d(1bio con1 as conn111icJac.lcs, sobretudo com participação
financeira institucional aviltada. De oulro, emerge sempre o afã de
utcndi1ncnto in tcgral, a1npl iado ~. l~uuíl ia, porq uc de pouco adiantaria
cuidar da criança e deixar a fon1í1ia na pobreza de scinprc.

Ora, a foruília nfio pode ser trntada com assistência. Prcci!=ia de


emprego e renda. E isso deve ser enfrentado cm outro lugar do sislc1na,
coll'l o qual se deve diÚlogar insjstcntc1ncntc, 1nas ja1n:ds substituir.
Ainda, sc1nprc é possível trabalhar <.:om as co1nunidatlcs, utas é mister
construir rclaciona1ncnto a<.!ullo, que i1nplica rc~sarci-las pelo trabalho.

80
Por fim, o comprometimento orçament.-írio será de vulto, mas também
teria a chance de mostrar se inqucstion:ívcl se pudéssemos mostrar
que é invcstirncnto, não mero gasto_ Enquanto a LHA atirar para todos
os lados, não accrw nada.

Em suma, o plnncjamcnto assistencial ainda é incipiente e


amador, embora corresponda a uma das funções essenciais de um
Estado dcmocrtitico. Sem imitar o welfare state, aqui temos uma das
aproxi1naçõcs fundn1ncnlais.

Pfaneja,nento socioeconô11út:o

Esta é ccrtan1cntc a parle 1na is conhecida e dominada do planc--


jamcnto social, até porl1uc gcralancntc entendemos política social
como resultante 111alcrial <.lesse espaço. Em certa medida, restringe-se
a qut.:sfüo social ao plano da quanti<latlc, que passa incvit.avchncnte
pe la inserção no tncrcado <lc trabalho e pelo processo produtivo,
pc~rn1 itindo r<~speclivo~ n fv eis de consumo.
Nc.ssc scnlido, ,l preocupação fundamental do planejamento
será garantir d ircciona1ncnlo a o processo produtivo para que se volte
à geração de emprego e renda, n5o como decorrência posterior, mas
como final iuadc específica, considerando-se o crescimento instru-
mento, ainda que indispensável. Deve haver concJicionatncnto mútuo,
<lc estilo tipicatncnlc sociocconô1nico, de lal sorte q uc o '~econômico"
se dirija ao '4soci:il" e por ele se oriente, enquanto o "socfol" busque
no hcconü1nko'~ sua v iabilização instru1ncntnl.

Duas preocupações aparccc1n nesse cspnço. A primeira refere-


se ao rcconhccitncnto de que, no capita]h,mo cm geral, e mais ainda
no subucsc..:nvolvitlo, polílica soc ial tcnllc ( 1 suhn1clcr-sc à lógica
cconô1nic(1, por rnais que, cn1 teoria, se <lcfcn<la como fina]idade. Seu
financi:uncnto se J)rcn<..lc ao excedente econômico e seu funcionamento
faz parte da viahilizaçfio cconô1nicn principalmente. Isso não impede
política social pcrlincnlct nc1n mcso10 o welfare state, mas o rcalis1no
um1H..la 1cco11hcccr que o bc1n-cstar con1u,n sc1nprc terá apenas o
tam:1nho c.1:1 economia é será perpassado pela lógica econômica.

81
A segunda preocupação volta-se pnra a lógica tecnológica. A
modernidade produtiva, capaz de gerar excedentes econômicos muito
mais significativos, não se volta à geração de emprego. Isso introduz
desafio acerbo, porque, de um lado, não se pode 1nais confundir o
"social'' com atividades econômicas intensivas de mão-de-obra e
atrasadas, e, de outro, parcela pequena da população ativa tem condi-
ções de ser incluída no processo 1noderno. Ton1an<lu-sc ainda em
conta nossa defasagem em educação básica, a transição, além de
demorada:, traz fricções consideráveis.

Tendo cm vi~la que normalmente entendemos subdesenvol-


vimento con10 pobreza sociocconômica, é comurn visualizarmos o
problema do planejamento corno comprometido cm buscar cami-
nhos, q uc cncon trariam na dcf iciênc ia do mercado <lc tra ha lho ~eu
desafio principal. Daí decorreria a falta de renda, nrn~ ~ubrcludo
sua concentração, pautada por parârnetros extremos <lo tipo: os
lO'ífJ mais ricos detêm 90% da renda 1 enquanto que os 90% restan-
Lc~ <.la população :-;e apropriam de apenas 10% da renda (Bacha
1978, Calsing 1985, 1987, 1983). O índice <lc Gini aproxüna-sc Jc 0,7,
c1n escalada eonslante.

Para sin1pl ificar a qucskio, poucrnos "venL'lr que h~ problemas


significativos de qua11Lida<lc e de qualidade. No plano quanlitalivo, o
fcnôrneno fun<lamcnt.1I é a dcspropor~ão crônica entre demanda de
postos de trahnl ho e stw oferta por parte da economia. Para superar tal
desproporção, seria 1nistcr a geração anuHI de perto de dois milhões
de novos c1nprcgos, o que suporia riln10 de crcscin1cnlo 1nuilu eleva-
do, hoje inatingível.

De certa maneira, a pri1ncira preocupação da área econôanica


sequer é o crcscin1cnto, rnas as condições prévias para crcs<.;cr, ou
seja, o sancatncnto da cconomi;L E~t.c indui reforma fiscal, arruma-
ção Jas <.;ontas púhlica.s, rcfonna do Estado, 1nancjo da dívida externa,
co1nbate à inflação etc. Por incrível que possa parecer, trata se de
conseguir urn mínimo de funcionamento adequado do mercado, sem
protccionis1nos, monop61.ios e administração <le preços. O Estado não
pode gastar rnais do que ílrrcc1da ~, corn o que nrrccada, deve prestar
serviços públi<.;o~ at;cilávcis. o~ preços, ,nuitas vezes, não representam
82
custos re:lis, acima ou abaixo. De um lado, por excesso de intervencio-
nismos (sobrctuc.Jo choques), a indústria l~1brica preços preventivos,
d1ega11uu cru 111uitos casos a cobrar nuds que hon1ôniinos estrangeiros,
co1n menores custos e menor qual idade (autornóvcis, por exemplo). De
outro, incentivos dcgcncn11n f:ieilmente em produto~ obsoleto~, ge-
rando reservas de mercado que induzem à improdutividade. A ironia
está principaln1entc no falo de que nossa cconornia se assc1nclha mais
àquela dos socialis1nos reais - protegida, artificial, cartorial - do
que àquela do capitalismo liberal - marcada pelo mercado competiti-
vo. Acresce ainda cultura <la corrupção, que facilmente corrói metade
dos rccursús. Cúlll isso, con~cguin1os falir financcinuncnlc o Estado,
que, c1n cond içõcs saneadas, poderia rcto1nar o papel de inccntivador
~eletivo e sinalizauor de cé1n1inhos do crcscin1<.,;nlo alérn d~ n1anlcr
serviços públ kos <lc qualic.Ja<le. Nessas horas percebe-se a importân-
cia da h:ise ceonc1mica para :-t política social: sc1n crescimento, o
social dcfinh.i con1 a própria recessão. Medidas assistenciais são
apenas paliativa~.

Sorne-se a isso a dinân1iea c.lc urhanizaçfio co1npulsória <la


cconorni:t (lllC> aW1n de ~grnv~1r problemas ditns snci~is ela habitaç5o,
do sanca1ncnto ou uos serviços públicos c1n geral pela concentração
de gente nas ci<la<lcs, esvazia o can1po, exigindo dos setores urbanos
de produçfio, co1nércio e serviços capacida<lc impraticável de geração
de novos postos de trabalho (Lchfclc.1 1988).
O resultado é típico: não havendo possibilidade de inserção
adequada no rncrcac.Jo fonnal de trabalho, cria-~c o 1ncrca<lo infonnal
pohn~ 1 mareado pelo ~uhcn1prcgo 1 definido co1no posto de trabalho
prcc{irio e insalisfatôrio cn1 vários sentidos: porque não oferece rernunc-
ração suficicnlc, porque não garnnlc protc<_;fio prcvidcnciiírin, po rque
provoca desgaste físico excessivo, porque cxplüra menores e idosos
e ass iin por diante. O ucsc1nprcgo aberto não é fcnôrncno <lc tnaiorcs
prnpnrç,1cs >nfio pnrq11e nfío tenh:, graviclndc\ 1n~1s simples,nentc por-
que, não havendo conc.Jiçõcs de sobreviver cJcsc1nprcgado, é 1nistcr
invonl:1r quall1ucr negócio, sujeitando-se a ludo. Tn1balh~1-sc de qual-
quer 1nancira, e essa é a sina <.los 1nigranlcs (Prcalc 1987, Prcalc/OIT
1978, Raczyn~ki 1977).

83
Muitas vezes·se fantasiou uni pouco essn pretensa versatilidade
do 1nigrante pobr~, (.";Xpulso da zona rural, chamando-a de "'estratégia
de sobrevivência", como se ele fosse estrategista. E111 certa n1edida é,
de falo, e em tom sarcástico diz-se que esse é propriamente o «milagre
brasileiro··: como sobreviver sem renda adequada. Mas ~, expressão
pode conter uma pitada piegas, puxando a chanue, como se pobreza
tivesse charme (Hu1nphrcy 1982, Haguette 1982, Demo 1980).
Olhando para nossos estados ma is avan<_;ados, como São Paulo,
a absorção da 1uão-ú~-obra já acusa perfil de país desenvolvido: apenas
por volta de 10% esU'io em atividades agrícolas e congêneres; por volta
dos 40% estão no setor induslrial, ficando 50% cm comércio e serviços.
Parece claro que esse equilíbrio cslá sobretudo no setor indu."trial, que
deveria absorver parte significativa da ruão-<le-obn1 disponível. Mas São
Paulo não serve como modelo nacional, porque tenue ma is a ser exce-
ção. Estados mais pobres podem ainda acusar maioria da população
ativa (ou quase) nu ~çlor primário da c..-conomia, o que significa um
desafio <lc crescimento econô1nico muito difícil de in1aginar.

Nc) plano da qualidade, o problema volta-se paro os níveis


muito b,1ixos de remuneração, além das <.lislfincias ~stronô1nicas entre
menores e 1naiorcs salários. São con~umidorcs cm sentido concreto
talvez
, 20% da população; os outros 80% são tipicamente sobreviveu-
tcs. E certo que 20% aqui sieniricam por volta de 30 milhões de
consu,nidore~, o que já consegue 1novímcntar mercados considerá-
veis, mas é impressionante o outro lado, que 1narca profun<.laincnlc o
subdcsenvolvimcnlO.

A qualidade insatisfalória niio Hparccc, todavia, somente na


economia informal, na qu~I seria mais cornprccnsívcl a depressão
salarial, bem como subterfúgios para nfio pagar tudo que manda a lei.
Ela existe igual,ncntc na economia fonnnl, a começar pelo salário
mínimo, que e1n absoluto é adcquaclo no sustento de uma família.
Embora estatuído cm lei, não é real.

A massa de subcniprcgados e descn1prcgados é u fator mais


complexo para a i1np)ant.1ção do seguro-desemprego, pois não have-
ria capacidade proporl;i<.>nal tlc gerar recursos para cobrir tamanhas
ncc~-ssidndcs. Embora já tenha sido instituído entre nós, o que signi-
84
fica de to<los os mo<los algo positivo no C(.\.nário laboral, move-se em
direção fantasiosa, pri1nciro porque se volta para o desempregado,
em vez <lo subc1nprcgado, sendo este figura muito mais típica;
segundo, porque dispõe de recursos pcq ucnos diante das necessidades
reais; terceiro> porque se esconde atrás de mecanismos seletivos e
burocráticos, cuja finaliuudc é evitar excesso de den1anda.
Complica ainda mais essa cena da qualidade pr13cária a vigência.
de distâncias exorbitantes entre menores e maiores salários, o que
sempre leva a colocar o país entre os dclentorcs dos contrastes sociais
mais ~•ccrhos no 111u11do. Há diferenças gritantes entre salários do
Centro-Sul e dos interiores, sobretudo <lo Nordeste, mas há diferenças
também enormes dentro do próprio setor púh Iico. Com o surgimento
dos ditos .. marajás .. , ficou escancarado que o direito ao trabalho é
passível de manipulações inacreditáveis, precisamente onde deveria
haver decoro social inquestionável: no centro do Poder Executivo> do
Poder Legislativo e do Poder Judiciário. Se levarmos cm conta que o
funcionalisu10 público é n1antido pelo trabalho e pela produção da
sociedade, esta só pode sentir-se csbulhada.
Pass!1ndo p~1ra ~• esr,~n• prncl11tiv;1, em termos de planejamento
social é significativa a rnicroprouução. Ern parte é floração típica do
1nercado inr~)nnal, quando se refere a pequenos cmprccn<litncntos de
qualquer tipo, de estilo fa1niJiar e mesmo pessoal, à revelia de qual-
quer legislação. c1n parle já süo rnanifcslaçfies formais, sobretudo
após a introdução da po:ssibilida<lc <lc se urgunizar fonnalmcnte atra-
v·é s <lc estatutos simplificados, prcvi~los cm lei. Seja como for, é fato
que rarlc ~igni ficaliva do c1nprcgo e da renda da populaç~o provém
desse setor (Max-Nccf 1985).
Em certos cspa<;os, a microprodução não tem apenas importân-
cia social (porque absorve mão-de-obra), mas igualmcnle cconômicat
como no caso da pequena produçfío agrícola: parte relevante dos
alirnenlo~ populares provém dela. Nfio se diz isso para insinuarsuper-
dimensionamento da 111kruprouu<;são, pois está claro qu~, se o país se
desenvolver e se modcrniY..ar, esse setor decrescerá. Não csli nele o
futuro do país> 1nas ainda cslá seu presente. E L~so é razão suficiente
para lhe emprestar a devida itnportância.

85
Seus grandes problcmns sflo, rcsumic.b1ncnlc:

a) dificul<.J,1dc cJc acc~~o a n1atéria-pri1na, que não pode com-


PT<lr por atacado;
b) dificul<.Jadc de capital, cm virtude da situação de pobreza
ca ra<.:lcrística;

e) llifkuluadc de co1ncrcialização, poi~ snris condições de con-


corrência são bem rncnorcs;

d) dificullla<lc uc a<.:csso às tecnologias e à qualiclnclc dos produtos;

e) llificuluadc de gcrcncia1ncnto;
t) dificul<.JacJc cJc organizaçho polílic}1, ~oh forma associativa,
para poucr úcfcn<.Jcr o direito à produçfio.
Talvez nflo fosse exagero d izcr que é funçfto cio Estado, não dar
emprego, ,nas planejai por Louo~ os 1ncios po~sívcis o espaço cslrnlé-
gico ua rnicropro<luçfio, prccisau1c11lc pela sua in111ortância social.
Cada 1nicroc1nprcsa que fecha as portas signific\1 ll~scmprcgo, dhni-
nui<_;no de consu1no e 1nais um candidato a cn1prcgo púhlko. O
tnicroc mprcsá rio é o úlli1no que ~linda tci1na cm produzir, recusando-
se a ser assalari;1do. R epresenta nesse sentido tun dos cidadãos mais
úteis que a socictlaue possa Ler, ao lado do trabalhador produtivo.

O plancja1ncnlo social nessa área c.k.veria prever:

a) nle n,)io p:t ra invcsti1ncntos estratégicos, definidos como


aqueles que corrcspondcan a rc:1is VOl'açõcs cconôrnicas (e
lan1bén1 çul tt11 ais), que podc1n constituir redes produtivns
co1n cxtcn:·><.>s e inlcnso:-i cfc.:ilo:-; nn11lipJjt,;auorcs, fundam-se
c1n 1natéria-pritna existente, coincrcial iznção garantiua e
infio-dc-obra d isponível~ n:ão leva a n:u.Ja n pulvcrizaçfio de
rec ursos c111 i11ki~1tivas isoladas, ,unatloras, 1ninúscnlas, que
não rcpresc ntan1 chances concreta~ uc aulo-susLcntação;

b) n tcn<_sfio para invcstin1cn tos de <.:ará ler coletivo, uãu 110 scnti-
d o de produçfio co1nt11n, 1nas ele organização coletiva de
determinada produ<,.;ão, por viiri:as razões:
86
- pürquc isso polcncia a chance de rcsislência a crises;
- porque pode ro1nentar 1nanifestaçõcs pertinentes de cida-
dania organizada;
- porque po<lc ocupar c~paços mais significativos no comér-
cio, sctn falar no acesso facilitado à matéria-pri1na;

e) apoio s n estratégias de n1arkcting (fcirns, sobretudo), para


que a produção tenha acesso a mercados, consiga viabilizar-
se cm termos cconô1nico- flnancciros, além de avançar na
qual idade <los prod u los ;

d) reserva c.Je dernandas públic~lS, pelo menos e.tn parle (cartei-


ras para ns escolas, roupas funciona is, orgiln i'l.ação e
produção de mcrcnc.Ja ele.), co1n o sentido de equilibrar as
for~as con<.:orrenciais nu rncrcado.

Essa pn;o<.:upação co1n a mkroprouução nflo pouc, uc 1nodo


algu1n, obs curecer a i1nportfincia da grande pro<lução, que sc111prc é
muito lcva<l.a c1n conta cn1 qualquer política de crnprcgo. Talvez seja
nesse espaço a horn de.~ cha1nar a alcnçfío para a importância da
dinê11nka cc onô1nica e de seu conhccirncnto adequado, parn qunlqucr
planejamento social rca]isla . Avançar na gcraçflo de riqucz;is que se
traduza1n crn cn1prcgos a<lcqua<lo.s, cslc 6 um cujdado essencial do
Estado, pois no fundo 6 a raziío de ser úo plancja1ncnto. É claro que
c~tn1nos :\qui nos restringindo ao vezo eo1nu1n <lo planejamento so-
ciocconôn1ico, na expectativa si1nplificada tio bczn-cstar rnatcrial.
Co1no c.:ol o<.:~Í va 1nos ço1n frcq üênda, ao lado tla pobreza ma tcrial
existe a pobreza políti<.:a, <.pie ccrlamcnlc passa pelo sociocconômico,
tnas possui tcssilura pn>pria (Marlinc & 1987, Martinc 1988).
Na cslcira tia prcocupaçflo co1n cn1prcgo e renda encontramos
tu<los o!'i uutros co1nponcnlcs sociocconônticos, tlc!->t.lc a qualificação
profissional, passando pela hahilaçãn, saúde, sancnmcnto, nutrição~ pre-
vidência, urbanizaç:in, até o consurno co1nn é C(Hntuncntc entendido e
rcalizauo: élos olhos tia cconocnia soinos todos con~mnitlorcs. Prcvidên-
cin no fundo é comprada por incio <la utivi<la<..lc labornl, embora cm
n1omcnlos :lt.lquira a tonal idade pol iliqueira de assistência púhlica. Ac~s-
so à saúuc e ao sanca1nento tarnbé1n depende da capacidade aquisitiva,

87
exceto naquilo que já for oferta pública (Lanumann 1982, Neto 1982,
Anluniassi 1981). Hahitaç:io evidencia ain<l~ n1~lis sua relação cconô-
1nica, por a<.:,arrctar invcsti1ncnto ,1llo, cn1bora muit1s vezes se cerque
a questão com apoios públicos a populações pobres (uua~fio de lote,
urbanização etc.).

Sem rebuscar Ji1nilcs conceituais, o importante é não perder de


vista o lugar estratégico ua inserção salisfotúria no mercado tlc traba-
lho ,~ ela microprouução, como sendo, cm algu1na medida, o "social"
no "econômico», e o --cconômjco'' no '~soci:tl". Isso não secundariza
os componentes subscqiicnlcs, que la111bém exigem competência no-
t:íve) <lc plancj;1mcnto. As caruuci:t8 e os défkits são assustadores, não
só pela pohrc1/Ál que exprcssr1m, mas igu:.tl1ncnlc pela precariedade do
plancjnn1cnto: ~ão muilo 1nalc.Jhncnsionados a moradia popular, a
dinâmica <los nluguéü;, a condição cstralégka de supcr.açfto de cnde-
mias, a contnbilicJa<le da previdência, a ad1ninistração de fundos
sociais, o desdobramento de favelas e as~im por diante. O país acon-
tece à revelia do plancja1ncuto :-;uçial, o que colabora no sentido de
que sc1nprc cslruno8 apenas correndo atrá~ dos uéfkiL~, tapanuo bura-
cos e o sol con1 a pene ira ( C.:1 rlcy 1985, Carlcy & 1Q8'1, Carvnlho
1978, Bursztyn 1984, Brioncs 1985).

/\clczna is, é funda1ncnlal o cuidado <.:ú1u o finandaincnto social, cm


nívc~is orç:Hnenl:'irío e de fundos {,>spccíficos, o <1uc representa, cm termos
concretos.. a importfinci:i que se alrihui :ln social. A manutenção de
serviços públkl>s Jt,; tt uai ilfac.lc incide sobre a rcdistribuiçáo da renda, à
1nc<li<l:, que pode ~ignificar saHirios inúircto~ para fon1flias 11mis pobres.
Ao 1ncsn10 tc1npo> fundos ~ncia is po<lc1n ser dirccion~H.los a invc!>limcn-
tos ccnnu111it:os ,na is sensíveis fl absorção de crnprcgo.

En1 lcnnos <lc lé<.:nicus nlo<lcn1&1s de plancja1ncnto, ainda somos


cm parte tlilclantcs, se olhannos para a incit)iência de nns."os indicadores
sociais, seja c1n quantidade seja cn1 llua] klade. Programas se superpõem
e se conlra<lila1n; recursos se pcrdctn na lrmna burocroticn; fundos
sociais são g.,stus ~~1n repercussão visível. Rcsultauo: c.Jificilmente se
encontra algum progr:1n1a.soci:d significativo cm lermos <lc cnfrcntan1eu-
to efetivo das tlcsigual<.Jaucs sociais (Bird 1987, Pnucl 19<.JO).

88
Planeja,nento participativo

Como planejar a rcduçfio da pobreza política é algo extremamente


1nais con1plcx:o que touos os <lcsafios anteriores, a corncçar pelo rcco-
nhccimcnlo inevitável de que <.:i<fa<fania proprb1ncnte não se planeja,
mas se conquista. O papel do Estado nesse espaço é profundamente
diverso, pcJas cuntraúi~ú<.;~ hisLúrit=as típicas que p1ccisa adu1itir: Estado
democnítico 6 aquele que favorece seu próprio controle a partir da base
- nes~e prcs..~upnslo luí umil 4~:-mntíd,ldc" hist6ric~ que jamais poderia
ser imposta ou conecdida, mas exige. construção acc.rba de baixo para
ciina e pcnnanccc intrinsecamente periclitante (Demo 1988c).
N~1 vcrd~1dc, a dificuld~1dc maior está no manejo das condições
subjetivas das mudanças sociais, scin sccundarizar as objetivas. Uma
t:úba é niancjar, prever, planejar fcn(uucuus 111alcriahucule (ubjcliva-
1nentc) con<l iciona<los, que u ciência usual sabe fazer com olguma
competência funnal; outra coisa é rnctcr-sc na rota da construç.ão
hist6rka de cada sociedade, na qual o p:1pcl do ator político é essen-
cial. Ccrlatncntc há condições subjetivas, corno acesso à infonnação,
sufictcnlc i<lcnli<ladc cultural, movimentos socfois de hasc, quaUdadc
polític:l do povo, p;)rtí<los e sindkatos atuantes e assirn por diante. São
essenciais para a fonnação de un1a !-iocicdadc dcrnocrática, einbora
niio funcionc1n de mo<lo 1nccílnico ou aulo1nlilico. Seriam planejáveis
• - ·>
. con<11çocs.
tn is
A müc que educa seu filho tem um ~~planoº na cabeça, pelo
n1cnos no :-;cn tido de ohj<;livo:-; a ~cr a tingidos. Diga1nos que ela se
faça a proposta c.Jc que o filho <leva crescer de 1no<lo criativo, para um
dia tornar-se sujeito aulollclcrn1inado, fundar fainília própria e decidir
sohrc seu fuluro. Para tal objetivo há ações prclcrcncjajs, 1no<los mais
eficazes de influência, instrurnenlos mai<; garantidos e assim por
diante. Pode <t<.;011lct.:cr, 6 t:laru e Llc1nouslra<lu, que, 1ncs1110 proc.;uran-
do tnis objetivos, acabe saindo un1 filho parasit~, acomodado. Mas é
possível .. investir- no processo de cmancipaçflo (MEC/SG 1980).
Esse tipo de plancjan1cnlo é possível e foz parte da hist6ria.
Mais que isso: é o plancja1ncnto cm sentido próprio, porque significa
cspccifican1cntc llflo aceitar suh1nctcr-sc ;1s condi~õcs objetivas con10
89
sina, destino, carma. Ao contnírio, parte-se delas, pois são as circuns-
tâncias objetivamente dadas, e sobre elas tenta-se construir um futuro
influ~nciado, modelado? construído, conquistado.
No primeiro estilo de pJancjan1culu, bu~ca-sc conhecer o andar
objetivo <la carruagc1n, <ls tendências que so impõem na realidade,
cabendo a intervenção mais crn to1n adaptativo, aind:e que nisso possa
haver grande inteligência. De l;crta m,lncira supõe-se que condições
objetivas são c.lctcrminanles, ou pelo 1ncnos se atribui n1aior impor-
tância a elas por razão de tnétodo: ~om~n1c a elas podemos captar
cientifica ,ncntc bc1n.

No segundo estilo, trazem-se à cena condiçõ~s ~ubjclivas, não


(lílra c~ir no extremo oposto, mas para equilibrar os fatores. Assim,
por exemplo, para se planejar a possibilidade de um merendo de
trabalho n1cnos dcsigunl, são ncccssárins uua~ <.:ondiçõcs igualmente
e~scnciais: produção econômica adcqunda (ludo objetivo) e cidadania
organizada do trabalhador (lado suhjctivo).
No prirneiro csLilo, é mais níLic.Jo o planejamento como inter-
venção <lc cimn para bníxo, ~cja porque ú Estado entra ua cena como
conclulor dele~ seja porque o a1nhicntc científico é ele dctcnninaçõcs
externas, cabendo aos técnicos essa funç:in (lc!nclência dita tecnocrá-
tica), seja porque mudar cur:-;os consi<lcrados metodologicamente
<lctcrmina<los significa cnfatica1ncntc intervir. No segundo estilo, o
rumo <Ja história é enlcndiclo c1n parte cú1no construção conquistada,
tksllc que não se cscan1otcic o ponto de partida: o nuno é impo~to
pelo grupo dorninanlc, pelo que, 1nudar o run10, não acontc<.;c por
acaso ou descuido, mas pnr ,~onquista <lura.

Dito is:-;o, é fundauiculal <tccntuar que pl<.1ncjamcnto participa-


tivo não pode c~cnndcr sua tcssilura típica <lc proposta de intervenção
na rcaliuauc. Touo plancjan1cnto significa intcrvcnçiâo, pois parte da
convicc_;fio de que é possível dírccionnr o curso da história, pelo menos
cm parte. O que diferencia planejamento participativo de outros não
é uma pretensa supress~o da inlcrvcnção, n1as atitude altcrn:ttiva ante
a intervenção: consciente de que é intervenção, trata de reduzi-la,
compondo uma cena de atores produtivos na qual a discriuiina~ão
entre sujeitos e objetos dirninua ao rnínimo possível. Pb1ncjamento
90
participativo, cm lermos realistas e dialéticos, é aquele qu~ ucu1ocra-
tiza a inlcrvcnçiio. Corno na <lcmot;rncia, não se suprime o poder, mas
se husca cJnrncstica r o poder, por meio de controles federativos
(Demo 1985c, Moua 1981).

Se c~se quadro crítico for possível, o ploncjnrnento participativo


pode ser vüívcl, ou pdo tncnos pode ser proposto corno tentativa de
aproximaçüo. Sua l6gica aprcscnl.a pelo menos três faces essenciais:

a) for_1nu~·ão du consc.:iência crftica, por n1cio de autodiagnósticos,


nos quois n co1nunidadc descobre traços fundamentais de sua
condição histórica; descobre sobretudo que pobreza é oprcs~io,
injustiça, ou que é objeto de 1nanipula~-ão das oligc1ni uias;
descobre que não pode esperar dessa~ mcs,nas oligarquias sua
cm~1ncipaçfio; c111ancipaçüo tem qul~ ser construída por ehl
mesma, dentro das circunstâncias dadas; o autodia.gnóslico
gcrahncutc se co1npõc de <ll)i~ horizontes típicos:
- entra nele conhcci1ncnlo de teor aca<lêrnico, <lo tipo lcvantn
tncnlos, ~lnáliscs, pesquisas, estudos; é função do ~'inteleclu:.l"
colaborar nessa parte, no sentido da ··contra-ideologia·· -saber
a sei viçu das 1nudanças de base (Gra1nsd 1978, Macciocchi
1976, Coutinho l 98 l );

- e ntra nele conhecimento de teor popular, pela ra'l.ão óbvia de


que ,l co1nunidauc é sujeito do processo: todo uiagnó!->Lh.:o
prec isa tornar-se aulo<.liagnÓ!iti<.:o; o cons()rcio entre conhcci-
mc n to s istema lizado e saber popular é fenômeno muito
co1nplcxo, que serve a 1nonu1ncnlais banalizações> mas é
condição do trajeto de ronnação dn consciência crítica, que
tem co1no u1na das finali<lac.Jcs centrais clahornr a post11n1 de
sujeito histórico na co1nunidadc (Brandão 1982, 1984, Bortle-
navc 1985, Dallari 1984);
b) se esse processo for bc1n-succtl ido, da teoria segue a pnitica:
co11zo enfrentar os problen,as detectados no <1utodiagnóstico;
foz parle desse procc~so o reconhccimcnlo crítico das forças
concretas do grupo, a aceitação de que não é pos!-iívcl atacar
ludo, mas igualmente que é preciso co1npor as pnSprias forças;

91
não se trata de supervalorizar nem teoria, ne1n prática, 111as
de compor os dois momentos, que no fundo form3m um todo
só; o resultado mais visível desse momento é a capacich1de de
criar projeto próprio, de ocupar lugar próprio, de se propor a
sair da siluação de objeto de manipulação externa (Borda 1986,
Gajardo 1986, Demo 1985h, Gro~<;i 1981,, Gow 1983);
<.:) aí surge o terceiro momento, que é o descobrimento lógico
da necessidade de se organizar: para enfrentar con1 conipe-
tência os problemas e montar projeto próprio é indispensável
a cidadania organizada; a cidadania organizada representa
meio e fim: é n1eio, porque é fonua Ul! se organi✓..ar, por
intcnnédio do assocfativismo e de suas variantes; é fi1n, porque
rcali7.a a democracia possível (On illcrm & . Bourdc.t 1980).
Em Lermos metodológicos, é sempre muito coinplicado avaliar
fenômenos participativos, naquilo que revelam sua intcnsidau~ quali-
tativa. Esta pode tra nsparcccr cm fenômenos ,, extensos, n1as c~tcs sõo
sempre apcnêlS urna insinuação indireta. E claro, por <~xcrnplo, que a
cfc1neriua<le das orgauiza~úcs populares é algo visível, e ao mesmo
tc1npo transparece um problema profundo de qualidade política. To-
d:-ivia, é possível afirmar que qualidade formal <lc uma associação não
precisa coincidir com qualidade política: ela pode ter 1nuitos sócios,
reunir-se regularmente, oslcntar c:-;l.atulos lcgalrncutc co1 tclos e reco-
nhecidos, possuir uma sede bonita, e assin1 por dü1ntc. Mesmo assím,
é possível que nho funcione coino dcmonstnlção pr;j lka de ocupação
de espaço <lc po<.h;r, no sentido lia conscWncia crítka, da capacidade
de definir projeto próprio, <la compct6ncia organizativa inllucnte
(Demo 1986, 1987a~ Oliveira 1985, Pctrini 1984).
,,
E scn1plc urna pcrgunla angusLiantc, co1no saber da qualidade .
política de. uma associação, de um :,;jndicato, uc u1n pnrliuo. A tílulo
de proposta Lenlaliva, uma aproxirnaç~io possível seria por tncio dos
quatro critérios sogu in tcs:

a) os líderes devem ser representativos> ou sc-Ja, ohliuos por 1neio de


processos abertos e dc1nocrático~ úc eleição, porquanto somente
por cleiç5o se chcg~l ao poder, de prcforênci,i por intcnnédio de
chapas c()ncorrcntcs; é preciso evitar a vit1Iicicdadc=- a u;família
92
real'', o coronel, bem co1no é. essencial Ílnplantar a idéia de
que a cúpula nada tem que n:-io tenha sido delegado pela base;

b) o processo organiza Livo e.leve ser /egftirno, ou seja, conslruí-


d o dentro da noção uc estado de direito, geralmente
codific~da nos est~lutos; nestes devem constar as regras de
jogo da associação: qucrn é tncmbro, quais são os direitos e
os <lcverc.s, coino se fazctn chefes, como se a<l1ninislra a vida
associativ;t etc.;

e) a qLwlidadc política 1naís densa é a participação da base,


partindo-se da noção uc que democracia é ~pccificamcnle
poder controlado pela base; é cxlrcinamcnlc difícil mobilizar a
b<1sc, pelo que as assod:u;ôcs, de lnodo geral, funcionam ape-
nas na cúpula; as assen1bléias gerais são vazias e o processo
cai nns n1iios de umn ·~vanguar<lu revolucionária" que, a par
de possíveis tnéritos - tnanlcr viva a chama participativa,
por cxcn1plo - , exerce influência manipulativa visível;

d) é funda111cnlal que a associa~ão =-;e auto-sustente, co1no prova


de eo1npclência cn1 resolver os problcrnas a partir de si mesma;
" consciência crític:1 pol ít.ica deve vir.acompanhada, na mesma
proporção, do compro1nisso de auto-sustentação, como estraté-
gia fun<laincntal de combate a assislcncialismos, paternalismos
e todas as <lcpcn<lências; isso não <-1ucr <lizcr que a associação
não possa obter recursos públicO!-i, porquanto cslcs provêtn da
socicda<.Jc, mas dcve1n ser colo~ados no ~cnLido c.Jc conscruir a
rola de ctnandpaçfio, não de so lnpnr ns condições úe sujeito
capaz dentro <..la história (Dcrno 1988a).

Por intcrcnbJio e.lesses qu.atro crilçrius 6 possível 111onlar tuna


idéia, ;d1H.b q uc prcl i1n inar, da q ua 1id:H.lc política de um fcnô1neno
pê1rticipativo cnn1 caraclcrísticas organizativas. Na outra face, mos-
tra 1n nossa cxlrcina pobreza políticn. Nem associações de
intelectuais 1nanil'csta1n satisfatória qu:llidade política: as associaçõ-
es de professores univcr~il{írio:-i sofrc1n do 1ucsn10 ,nal autoritário,
abscntcísta, manipulador. A <lc111oc racia que nelas é praticada é tão
precária coino aq ucla cxcrdda nas organizações populares (Haudad
1980, 1-Iirschman 1983, Rczcnde 1986).
93
Entrctanlu não ~e lrala de denegrir o fcnõineno por causa disso.
De urn lado, é algo cxlrcmatncntc pos itivo que os movimentos sociais
tenham se proliferado nos últimos lcmpns, mesmo que quantitativa-
mente. Isso denota que a so<.:ic<.lauc já nfio é tota]mcnte aquela> pois
vai se forman<lo cap:ici<l:1<.Jc mais visível de reaçflo. De outro la<lo, a
qucsH.ío qualitativa continua um desafio totnl, representada na
pequenez <lc nossa dc1nocracia, na sua cfcmcri<la<lc, na massa de
mannhra que é a maioria cJa população, nas manipulações eleitorais,
na diriculdac.Jc de acesso fl justiça e assiin por diante. 81) na letra existe
u1n estado de direito. Na pnítica ainda ú Lípko cslado de exceção, de
impunic.lndc, de~ privilégio (Fundação João Pinheiro 1986, Demo t 987b).

Embora nunca se possa acentuar crn c>Cecsso que a cidadania popu-


lar organizada não pode ser obra <lo Eslauo, ou de técnicos e professores,
há uin lugar próprio para eles no prOCC$SO. Quanto ao Estado, desde que
saiba n:io estorvar, seu lug~,r poclcrin ser nssim <lclincado:
a) colocar i1 disposição dos 1novi1ncnlos sociais inforrnação estra-
tégica para o exercício da dt.la<lania, <lo tipo: quais süo as
fonnas <lc assocfa~ão, como se fonnaliza; úircitos específicos
de grupos, minorias; infnrm:1ç:io sobre or<_;:Hncnto disponível;
prcsta<;ão de l:ontas sobre 1nctas con1promclidas e gastos e
assin1 por diante;
b) m~nutcnção de instâncias públic:1s que garantam os direitos
h ásicos, corno tribunais, lue:irc~ par~ rcdamaçrío, instru-
n1cntação auu1i11islraliva e assim por úiantc;

e) 1nanutcn~üo de scrvi<so público, c1n gera[, parliculanncntc da-


quele <.lcrinido na Constilniçfin co1no obrigatório: educação de
1° grau, saúu(; prevt;nlivêl, justic;a, segurnn<;a pública ele.;
d) prcscrvaçno <lo espaço público <lc cqualizaçiio das üpúrluni-
dadcs, na COJH..liç5o deres publica> principahncntc no ~~ntido
<lo :,cesso a direitos func.Ja1ncnlais, que nfio podl;IU estar
jungidos a condi<.;fics prc!vias de teor cconô1nico ou político.
Quanto ao professor, ao intelectual, ao pc!->quisador, seus luga-
res serão de n,olivação e apoio, n,as c1n sentido específico esse tapoio
não é algo l;Vl;nlual, volunt.írio ou casual, 1nas dirclatnentc pertinente
94
a processos de mudança, po rque a eles cabe a formuh1ç~n da contra-
ideologia. Dificilmente é viável o processo de conscienLização <.;rílka
sem a motivação de u1n inte lectua l que sabe manipular idéias -força,
pintar estratégias de ação, intc rprctnr clialelic<lmente a realidade e
assitn por (.Jiante. Por isso dizía,nos que no auLotliagnósti<.:o (;Onsla
sempre o diagnós tico oriundo dessas figuras.
O intclcctua] não pode jamais substituir o comunit1rio. Ainda é
forte sua tendência a falar por ele, a comandar o processo, a capturar
o mov irncnlo co1no produto seu. No confronto, é muito mais fácil o
intelectual cx~rcer sim prepotência sobre a comunidade do que a
comunidade colocá-lo no seu ucvitlo lugur. Qu~r dizer: µara se chegar
à cond içfto de in telcctual a serviço da co1nunidadc, sobretudo para se
c hega r à identidade ideolúg ica com a comunidade, assumindo o mes-
1110 proj çtu cu u1 u 11 i t,1rio con1 to dos os riscos e conseqüências,
s upõe -se trajeto de cxtrc1na crítica e a utocrítica, compromisso políti-
co ostensivo e forte, cnvolvência to taliza nte, quase uma santidade .
.,
E toU1hnentc falsa a ins inua~ão consu-mlc d~ qm; intelectuais
o rgnnicos nasccrn como grama no fundo de qualquer quintal. Eles
cxistcin, mas são raros. Po is <l tendência típica do intelect ual - como
figura privilegiada na sociedade - não é de identidade popular. Sorncn-
tc a constró i ~e a!)~umir o prucc:-;so de couquisla política. Ncs.sc sentido,
é figura esse ncial do mov irnenlo da contra-ideologia, o que leva a
reconhecer que não há rcvoluçfio polític}l sem intelectual, embora sua
posição seja de bastidor. Na cena estão os comunitários, é claro.
Touas c~sas prcocupa<;õcs são fundaincnlais nos outros hori-
zon tcs do ca rnpo parlic ipa livo, ta is co1no:

a) na educação, sobretudo na educação de P1 grau, é essencial,


para a lén1 da ncccs~idadc informa liva, ins is tir no processo
fonna tivo; a questão inronnativa nunca é secundária, pois os
1I1ç11i11os prcc isa1n aprender un1 lo te de conhecimentos, cm
se ntido qualitativo fo rma l; mas a questão formativa 1J1rnhém
nã o poderia cair c1n segundo plano, po is a educação não
resolve prop rin1ncntc problc1nas cconô1nicos, a não ser de
modo indireto, mas pode ser instrmncntação fundamental para
~~ enfrentar a pobreza política; n1csn10 quando os níveis

95
educaciom1is se volt;.1m 1nais para o 1ncrcado de trahalho, não
se tra ta apenas c.lc prol.luzir '' recurso~ humanos.. competentes,
mas <le criar também coinpctência política, seja como elite
inteleeltrn I seja como ocupa~-ão do trabalho de coordenação,
supervisão, planejamento, seja como grupo de influência especí-
fica na sociedade e assim por diante; principahncnle, continua
mar<..""n fundamental ela hboa educação" o processo de dentro paro
fora, a criação de novos mestres, não a reprodução de discípulos
- um fcnô1ncno csscndahncntc polílico---parlicipativo, que exi-
ge igualmente profossorcs ao n1csmo le1npo dotados de qualidade
fonnal e de qualidade política (Barreiro 1980, Relotti 1979, Bour-
dicu 1975, Brandão 1986, Butl~l 1979, Oirnciro 1985, O1rr-HiU
1976, Fletcher 1985, Libânio 1986, Ribeiro 1987, Ribeiro 1982);
b) na área da cultura, é re levante partir de po líticas d e dentro
para fora, evitando-se ··tcvar"" cullura para incultos, porquan-
to toda con1unidadc lern tra~os cullurais prôprios; quem tem
suficiente identidade cullurnl snbc aprender de outras; quem
não tc1n, copia; todavi:-1 idcn t.idndc cultural não é intocável,
7

corno se fosse antiquário vcncrüvel, o que faz dela facillnen-


tc tuna propo:-;la s ubc.Jcscnvolvirnc ntis ta; ao ladn de p1c::;crvar
idc nti<lac.Jcs culturais, como patri1nônios comunitários essen-
ciais, é preciso co111biná-Jas co1n o dcsenvolvin1cnto, a partir
<lo cotnpro1ni~so <lc <lc;finir dcscuvolvi1ncnto corn identidade
cultural, ou seja, participativo, construído colctiva,ncnte,
distribuído razoavelmente; o índio, por exemplo, quer sua
i<.k;nlidadc, 1nas quer tarnbé1n trator - identidade que cultiva a
pobreza está cn1 direção errada; ao mcs1no tempo, é mister
saber equilibrar os tennos nas pol ític:1s: nfío h,í pnr que se voltar
contra cultura c.Jc elite, à n1cdiua lfUC é ~unbém patrimônio social
e his tórico i1nportantc, 1nas é rnistcr não cair ctn seu elitismo,
co1no se o povo fosse apenas analfabeto; la1nbém não vale
hipostasinr o ''po pular", como se por si já fosse criatividade
(Arantes 1982, Brandüo 1980, 01ncl ini t 981, F~ij6 1983 Ortiz7

1986, Rczcnde l 983, Ribe iro 1987, Ribeiro J r. 1982);

e) na área da co1nunicação, é central conseguir preservar espaços


públicos d e seu acesso, porqunnto acesso a info rmação não é só

96
poder, mas sobrcludo condição de vida democrática; os mo-
dernos meios de comunicação intcrrcrem na formação de
nossa pc~onaliLlade, na cristalização de ideologias dominan-
tes, na estabilização do consumo, no processo educativo
muito 1nais do que se i1nngina; sua democratização é essen-
cial., o que leva a evitar 1nonopólios privados e estatais,
censuras ou irnpun idndcs, invasões de fo~a ou provincianL5-
mo de dentro e assim por diante (C.()hn 1978);

d) na área da justiça, temos um fiel da balança da qualit.lade


dcmot:rática de urna sociedade, porquanto, se é co1nprada,
corrupta, mnnipula<la, será cega, não porque. deva ser impar-
cial, mas porque de fato nada vê, a nüo ser o grupo dominantt:
ao qual serve; quando mínimos direi lo~ ~ão denegados impu-
nemente, temos a sociedade i1npossívcl, fundada na desgraça
da maioria (Marques 19861 1987);
e) na :írea da segurança pLihlica, ternos a marca do rcspçilü aos
direitos alheios, o que ucuola a capacidade de construir a relativa
tranqüilidade do cic.Ja<lão por ele 1ncsn10, aparecendo o aparato
policial corno instr11mcnt;1ção <.Jc apoio sobrcludo (Coelho 1987).

O dcsal'io principal scr,í ccrtamcnLe de combinar a profundi-


dade nc<.:c~s,íria do processo~ participativos corn o tempo de sua
ges tação. De rnodo geral siio lentos, rnu ito lentos, co1no tocfo scdí-
mcntnc.;ão cultur~l, pnr cxc1nplo. N ~io se fazem cidadãos como se
faz tijo lo. A ação da política de c<.llH.:a~ão, ou de cultura, ou de
comunicação exige propostas de 1nuilo largo prazo , o que não
combina com ges tões políticas de qualro anos, que apreciatn de ix.ar
o no me na his tória a qual4ucr preço. Prcfcrcrn-.sc políticas quonti-
ta tiv ns. O cuidado com a qu3lidac.lc po lítica do povo cai
tcndencialtncntc para o plano de deco rrências possíveis, sc1u alcan-
çar a detcnninação ncccss,íria à s ua gcstoção crescente ao longo de
uma hist6 ria d~ c id:1dania.
Atuahncntc, rccru<.lcsccu o interesse pelo concurso comunitário
cm esferas de gcst5o pública, s inali✓-ado pela Con~Liluição (sobretudo na
ordcn1 social). Primeiro>é preciso acentuar que o papel da co1nunidadc
não é substituir o Estado ou s ustcntiÍ -lo como rnulcta, mas pressioná-lo

97
p;lr:1 cumprir o que deve à sociedade. Segundo, a confusiio da lógica
comunil<iria com a estatal serve ele engodo para reafirmar a prepotên-
cia do Eslado, à medida que fahric:i a dcpen<lência. "Conselhos
paritários'~ podem ~er idéia conveniente para tornar mais trnnsparen-
tcs processos decisórios e alol:ações <..lc recursos, mas facilmente
induzem à farsa da paridade. O Estado tcrn sempre maior poder de
fogo, dificilmente divide rcnlmcntc decisões, e no fundo quer co1npa.rsas
para dividir fracassos. O que a socicdodc decidiu, pela Constituição,
atribuir :10 r::st.ado como serviço público não faz sentido devolver.
Dados de 1988 do IBGE indicam que a cidadania brasileira é
n1uito precária: dentre as pessoas de 18 anos ou 1nais, estavam filiados n
partidos ou associações comunit.:íri~s apenas 17%. No Sul essa cifra
subia para 33%, no Sudeste pcnnanccia c1n 16'~ e no Nor<lcsle era de
9%. Todas as cifras sfio urnilo baixas, embora impressione a posiçáo do
Sul. Nc:jsa região possivchncntc o fator mais importnnlc se encontra, a
par de 1narcas culturais, na educação básica, a 1nclhor do País. Em 1988,
o analfabclisrno rural j;í era inferior õ ~1xa n1édia nacional, e a procura
por cscol:1 particular <lc 1u gnn1 era a menor <lc todas (10%).
Isso leva a colocar a itnportância da c<lucoçrto básjca como
inslrumcn lí1çflo mais eficaz <la citln<lania, ao lado do. produtividade
moderna. O aproveitamento cio 1S2 grau csl.aria por volta de 1/3 (con-
chtintcs da 8° série), e deveria ser elevado pan1 85% c1n dez anos, não
só para cuinprir a Constituição, .tnas igu:il1nenlc ()ara h:1vcr cidadania
e tnodcrnidadc adcquad<1s.

98
6
DESENVOLVIMENTO

,
E ainda co1uun1 a alcgaç5o de que "crescimento" é fenômeno
apcuas cconô1nico, enquanto "<lcscnvolvi1nento>' seria crescimento
co1npromcti<..lo cotn o social. Conlinua sendo válida essa percepção, mas,
hoje, a questão <lo dcscnvolvi1ncnto ganhou dimensões bem mais múlti-
plas e rnati'l..adas (Moycr 1989, Santos 1990, Scil7 1988, Dcrno 1991).
1-louvc época c1n que descnvolvilncato se reduzi~• fül lado econó-
mico, predominando aindn c~s::. vis:io e1n meios econômicos, sobretudo
da área de política cconô1nica dos governo~. Interessante é notar 4u<; tal
postura encontra apoio o~lcnsivo no ~ocialisrno e no capitalismo, por
razões nn1ilo diferentes, é claro. No socialismo acredita-se que "a reali-
e.fade 6 dctcnninac.la, pelo 1ncnos cm última instância, pelo econômico".
Embora o nl:1tcrial is1no histórico tenha sofrido retoques consideráveis, a
cxc1nplo de Gra1nsci, to1nado a ~ério, atril,ui à infra-estrutura cconôm,ca
o pnpcl de 1nóvcl suhslancial <la realidade e das mudançns históricas.

O 1na tcrial i!-;n10 histórico tende a cxdusivizar folores objetivos da


rcali<la<le (M:1rx [contrib.} in Dc1no 1989), deixnndo na sombra a participa-
ção política (fatores subjetivos), cm teoria. Na prática, os ~'suchilisn1os

99
reais" in1pri1niran1 atenção concentrada L:1mbtm ao lado social, ten-
do-se destacado, na verdade, pela cqualização <lc oportunidades via
acesso popular a cducu~ão, saúde e snncamcnto, habitação cll:. Não
resolveram, por6m, por ironia, n questão das produções econômica e
tecnológica, permanecendo, nessa parle, socicd~ldcs obsoletas.
O capitalisn10 atribui ao crescimento papel dctcnninantc por força
da lógica da concentração elo capital, rescrvnndo para o social a conces-
são acomodadora e controladora dos prohlcrn~s da pobrc7..a. Soluções
socfajs são C!'itrilamcnlc uccorrcntcs. Dois cxcmpJos marcar-tim época
entre nós. Quan<lo Delfim Nctto era ,niui~tru ua Economia (começo da
década de 70), dizia ser mister pri1nciro fazer o bolo crescC!r, p'1ra depois
pensar ein rc<listribuição. Rcccnlcn1cntc, a ministra Zélia Cardoso de
Mcllo costumava afirmar que o social era o combate à inflação, tendo
cm visl}l qtm esta atingiria sobretudo os humikJes.

São meias verdades. Num lado, é óbvio que polftica social


depende do excedente ,~conômieo parn seu financiamento - aí está a
base instnnncnlal inuispcns:ívcl - , bcn1 co1no que, num contexto
inílacionário desordenado, os pobres levam a pior scrnpre, corroendo
sobretudo seus 111agros rcudiu1cnt<.>~. No outro, loúavia, é incorreto
esperar, como conseqüência natural, (IUC crescimento se traduza em
desenvolvimento. Pode acontecer o contrário. No <.:apitalisn10 sul>d~-
scnvolvido, tende a suceder o conlnírio.

Tendo cm visui que a pobreza relativa tc1n autncntado (índice


crescente de Gini já quase atingindo 0,7), isso 1noslrn que os resulta-
dos do erescirncnl'o po<lcrn conlinu:\r conccnlr~ldos cm poucas mãos.
Por outro lado, gcrahncntc o cornbalc?. infl:,ção rcct)rrc à redução da
atividade produtiva (rcccs~fio cconôtnica), que causa estragos consi-
deráveis sobretudo aos pobres, a con1cçar pelo dcscrnprcgo e pelo
1
s3Jário 1nínimo abaixo dos US$ 100 •

L l'obrc~a rd.1tiva si~nifit.·.i o confronto cntrt' estratos nrnL'> altos e urnis h:\ixos. uns rr.lativosaqs
OUI ros. l'~tada 1rn1hcnt:mclo. 1xm1uc- ;i ui:-:tâ11d:l cnlru tai~ grupo$ cro~co: 4..•nd11 vez mais gcato
po~.:;ui mc.:noli e ~1Ji1 v,,~ menos !;C:nh.; i><>~:-.ui ,uai:-;. N:1o aumt't\la, normalmente, a pobreza
al>:iolurn, ou seja, <.:onsic.lcrn<.la no próprio grupo. Também os grupos pobres obtêm ganhos de,

100
A pr<'>pria lógica <.1;1 concentração do capital impede na prática
considerar o social como filn> mantendo o econômico como meio.
Isso leva a reconhecer que a dcsconccnlração da renda não p.-ovétn do
lado cconôu1ico, 1nas do lado político (pre~são e conquista da cidada-
nia organizada). Niio se trnla apenas de i1npor a questão instrumental
como fim, mas sobretudo da dificuldade de subjugar a busca do lucro
ao interesse comum. Entretanto o capitalismo possui seu faro hish1ri-
co pela sobrevivência, transitando da mais-valia absoluta à relativa.
Enquanto a pritncira supõe o enriquecimento do capitalista à custa da
espoliação física do l~tbalhaJor (salários tnfuiinos, desgaste físico
tutd, t~uipo excessivo de trabalho etc.), a outra consegue enriqueci-
mento ainda 1naior pcln via do investimento tecnológico, atribuindo
ao trabalhador compelente lugar de destaque no processo qualitativo da
produç3o e no consu1no, incluindo remunerações mais significativas.
Aí tcn1os algo novo, de fato. O creschncnto econômico moder-
no precisa, para ler chance no mercado co1npctitivo e quali1;ltivo,
cssencia I n1en te rn;·1ncjaón pelo dotn ín io tecnológico, de Lrabal hadores
ctotadn.s de coinpetência básíca consiuenível. A acumulação oe capital
depcnc.lc, sempre mais:. de educação, ciência e lccnolugia, sobretudo
da quali<lauc clluct1tiva popular. Educação, para além de sua fun~ão
tradicionaltncnlc reconhecida <lc bc1n cm si e de instrumentação
eficaz da cí<ladania, ossu1nc papel decis ivo no processo produtivo
moderno. Todo lrabalhndor precisa <lc form~ção básica adequada,
univcrsaliza<la, na con<liçflo de palrhnônio fundnmcntal da nação.

Em outras épocas, vantagens co111p:1ralivas eram dcfinid:is pela


disponibili<lndc de recursos natunds, parque industrial inst:llado, b1-
manho do país e rnesn10 abundância de 1não-de-obra scmiqualificada.
Adn1itia-sc Wmbétn que o crc~cÍlncnlo ct:ouôutico se fazia à revelia
da escol.l, tendo cstn i1nporlfincia <lccisiva em lermos de formação

rcnd;i no tcmJJO. por exemplo. diminuindo o monlantc de l~1mílias c.om rendimentos mínimos,
ou o nú moro de lrabalh:ldorcs tiu~ g:rnh:un ap<.'n:t~ sal.frio mínimo r,I~. N}1 cY1m11:lr~ç:io rcb1tiV;\,
1>ur~m. o fosso prossegue.. fn,H<:l~ Jo úiní ç mc~füfa Jc c-on<:l·ntrl\~Úo Jc ro1lJt~, que vni do zorQ
(iguald:1dc lotai) a um (<lisparidaúc tot:il). O Brasil possui uma d.is maiores conc:cntra~'Õcs de
rcndn do mundo (Pnud 1990).

101
polflica da população, mas não econômica. Acrescentava-se ainda a
insinuação de que o cnpiüllisrno - o perverso - se comprazia em
dispor de 1não-dc-obra pouco qualificada, cn1bora bem -treinada (do
tipo Scnni/Scnac), porque produzia muilo e não se metia c1n contes-
tação (Salin 1980).
Hoje, entra c1n cena u1na vilntagcm cornparativa rcaln1cuw
decisiva; cllul,;a<sfto, ciCncia e tecnologia. Ac;sitn, essa face social
começa a fozcr p<1rlc do econômico, não m.é,iS apenas como apelo
finalfstico teórico, mas co1no condição de produtividade, l:omputên-
cia d~ 111cr<.:ado, diálogo internacional. O c.Jcscnvolvimento capitalista
não muda a essência, mas a<lcptirc matiz social intrínseco, embora
com tcn<lência instrumcnlnlizanlc. No contexto da nrnh;-valia relati-
va, a relação de cxploraçao continua, mas a cornpctência do
trabalhador pode clc~hordnr a face <le uso por parle do capitalista,
entrando con10 condição de inrlu6ncia nas relações de trabalho e no
espectro das desigualdades.

Se o que inove o capiLHI is1no é o lucro, o social nfio consegue


iinpor-so coino finalidade. Se o que dcci<lc a oporluui<.ladc de lucro é
o cornplcxo ·'educação, ciência e tecnologia~', o tr:,balhador cornpe-
lcntc l~lZ parle crucia l dn jogo, na pro<lu<;ão e no consumo, embora
pcnnancçn operário, sem alcançar ser llouo do c,;lubc. O welfare state
ilustra bc1n WI condiçüo histôrica. De u1n lado, teve pnpel importante
cm seu ~urgimcnto, ao lado do progresso econômico, a cidadonia
organizada, con10 cxpc<licnlc c.lc do1nesticação da fúria do capital.
Exige-se o ... estado de direito'>, cuja estruturação nfio poderia suhme-
1~r~sc ao mercado, scn1 anais. Rcconhccctn-sc <lircilo~ incondicionais,
por <lc1nocrnciil e cilladania, co1110 o direito a assistências devidas. De
outro, advinda a crise, os cortes comcça1n sen1pre na esfera social,
cujo t~unanho está dclcnninado pelo excedente econô1nico e pela
1nargem de lucro. Ass iln, c~nlrc cst:-.tlo <le direito e condição de merca-
do h(l inco1npatibilidadc típil.:a, <lon1cslk,'ivd ,JJH;nas até certo ponto.
Na ho, a H, o capitalismo rnostra sua real face. Não tem propriamente
vocação social. O social precisa ser i1nposto pclí1 vi.a da cidadania,
cmbOréi seu fin:1n c ia1nc1ito sc1nprc dependa <la pro<lução e dos interes-
ses do capital. No fundo, se educação uão h<lcssc lucro~, não teria

102
Ainda assim, representa "gancho" fundamental cm termos de
valorização do social, à medida que educação, de gasto geralmente
duvidoso aos olhos dos ··orçamentciros., e dos capitalistas retrógrados,
passa <l invcsti1ncnto mais cstrntégicn. N ;1 penumbra d:1 produtividade é
possível avançar na cidadania, co nquistando para o trabalhador lugar
mais condizente com suas pretensões justas de sujeito social.

Mais relevante que tudo parece ser o reconhecimento cada vez


mais generalizado de que cducaçflo inco rpora a oportunidade mais
efetiva de mudança histórica. Sern reviver cxpecwtivas mecânicas e
automáticas, educação, sobretudo sob a condensa~~º da formação
básica, representa a potenc ialidade 1nais visível de mudança, com a
vantagem de que seria mudança 1nai$ accilávcl, porque é possível
:Hingi-l:1 cnrTin s11júilo. Por isso, modernidade é, na cssêncin, educação.
Outras modernidades reproduzem o objeto, são cáuslicus, detergentes,
agressivas ao homc1n e à natureza.

Não é mister reviver velhas lcorias dos recursos humanos~ que


valorizavam o trabalhador apena~ na ótica do ins un10 para o capital.
Essa situação 1nudou consideravelmente, ctnbora não cs~cncial1ncntc.
Antes, o lrahnlhador cm, 1ilcraltncn lc, " força tlc tra balho~'. Agora,
desde que bem-educado (detentor de fQrrna<_;ão blisica qualitativa),
torna-se protagonista decisivo desta história, porque faz parte ncccs-
sraria da estratégia de lucro dn c.mprcsa m oderna, e, nesse contexto,
crcsccn1 scnsivcltucntc ~uas chances de cid<tdania, evidenciadas cn1
remunerações hc1n mnis s ignificativns, participação decisiva no con-
sumo (os snlários torna1n-se condicionante principal <la dctnand:i),
mubilizaçfío mais efetiva ~inuical ele.
Educação aparece co1110 c:-;ln1légia funuacucntal c.Jc rnuc.Jauça no
e do sjslcrna. Pode hu1nanizar o sislcrna, à 1ncdiua que runda1nenla o
estado de direito, restringindo fortemente, via instrumentação da
cjd~1dania, a vo racidade do cnpital. Pode levar à superação do sistema,
à medida que planta <.:ondiçõc:-3 subjetivas de ultrapassa r o capitalis-
mo, corno fase hist6rica. Todavia nao cabe cspcna da educação
1nilagrcs, sobrcluuo o 1nilagrc i1nposs ívcl <lc, 1nantendo o sistema
capitalistn, desfazer strn rnarca de objetiva r o lucro aci1na <le ludo.
Ta n1bé n1 não cabe iin~ginar ilações tnccankislas, como se educação,

103
sozinha, salvasse o mundo. As maiores agressões ao homem e à
nnturc2a são maquinadas por pessoas~ sociedades "bcrn-cducadas".
~

ê sempre possível construir uma ciôncia para imbecilizar.


Esta uiscussão sinali~..a concepção mais alualizada de descnvol-
v ime n to, que. a ONU ~1c;lbou definindo como questão do
oportunidade. Primeiro, desenvolvimento é visto uc modo interdisci-
plinar e matricial, onde todos os componentes guardam sua
importância pri>pria, mas num todo intcrHgado. Em vez de setores
(educação, saúde, ccono1nia, energia ct<.:.), são destacados problemas
ou desafios do desenvolvimento, para cujo cnfrentamento desenha-se
uma matriz de ação articulada.
Segundo, aceita-se um rol de componentes estratégicos do
desenvolvimento, entre eles: econômico, tecnológico, social, ambien-
tal, político, institucion:l l etc. Se a n1c.h1 <lo desenvolvimento for o
atingiincnto de urna sociedade 1n~is justa ~ habitável, pelo menos
mais tolcnívct, é necessário atuar sobre tais estratégias em bloco.
Terceiro, fala-se hoje rnuito de "desenvolvimento cstralégico"
para significar que, ao cnfrcnlnr desafio tfto co1nplcxo e cxigl:nlc, é
essencial termos noção do que seria prioritário e mais decisivo.
"Estratégia" apontn p;1n1 a articuktção do esforços e recursos cm torno
de desafios assumidos co1no cruciais. Supõe urn diagnóstico profundo
da situação vigente, suas potencialidades e seus conslrangilncntos,
perfis históricos e cullur:1is, para se poder lançar proposta de caminho
viável. Para au<.J,lr esse <.:un1inho, alguns pontos focais silo destacados,
por deter posição sensível <.: decisiva na condução planejada. Tornnm..
se prioridade, absorvendo recursos significativos e rcprcscnLindo os
pontos de aco1npanhnmcnlo e nvaliaçfio con:ilante.
São, <lc 1nodo geral, estratégias de <lcscnvolvi,ncnto:
a) educação, ciõncia e tccnúlogia;

b) crcscim~nto econômico;
e) modernização ·da produção e do E.~t._1do;
d) sustenta hil idade (a111hientnl);

104
e) cq uai ização de oporlu nitladcs;
t) cichiclnnia .
Representam desafios comuns de toda sociedade que deseja
desenvolver-se, variando a maneira de lraluu1cnto, que repercute en1
velocidade maior ou menor de efetivação. Etnbora todas as estraté-
gias sejnm r(-}levnntcs, admite-se que a primeira (educação, ciência e
tecnologia) detém posição mais prioriL1ria, por p~n~Lrnr as outras
matric.i:,lmcntc de forma mais completa e garantir maior velocidade
de atingimento das metas. O <lifercncfol de desenvolvimento aloja-se
na coinpctência hist6rica de dotar a população de formação bá!-;ica
adequada como pntrimônio universalizado, e no domínio científico e
tecnológico, encerrando u vcrdadcirn v~nt.1gcm comparativa atual.

O conceito tle oporlunidauc cJa ONU é feliz por incorporar es..c;a


gama matricial, desde o cconô1nico até o político (cidadania). O
horizonte de úportunidudcs pode ser alargado, apressado, construído
de acor<.lu com capacic.la<.Jc de plancjnmcnto, vonlac.Ic polflica, uso
racional dos rccursc)s etc. Ain<la, oporluni<ladc realça a esfera <.Ja
libcr<la<.Je e <la cidn<lania, tnn1bé1n (;Omponcntcs essenciais de uma
sociedade ha hitiivcl.
É freqüente, .iintla, falar-se de .... desenvolvimento sustcntávcr·,
cxprcssno típi<.:a <.los movimento~ arnhicnt.\lislns. Indui-sc nela tam-
bém visão tipicamente 1natricial, cnglobauuu o lado aanhienlal,
cconôm ico e social. O lado social é indicado sob o tcrrno "qualidade
de vida .. , <,;on~tituindo se prcocupnçfio da mcs111a ordc1n de importân-
cia. Tnl posturn dctétn inéríto fundamcnlal na ui~t;ussão do
dcscnvolvi1nenlo, inclusive c;on10 ma neira 1nais conscnlânca de equi-
librar os desa rit>s da n1odcrn id:-Hlc. Ser rnndcrno inclui ta rnbém saber
con.scrvar o meio atnhicntc, sobretudo saber conduzir co1no sujeito o
próprio processo de mo<lcrnizaç5o. Não é ac;cilávcl q uc u crcscitncnto
cco-nôtn ico, sobretudo produção e uso uc tecnologia, tenha como
decorrência a tkstru ição das nporluni<ladcs da geração futura.
Assim, a suslcntabilicl:lcle recolocou temas essenciais de um
desenvolvimento comu1n, como a rclcvfincia <lc i<lcntidadcs, patrimô-
nios e potcncialic.ladcs culturais, a cqualização das oportunidades e a

105
ci<la<lunia, a hahil.ibilidadc <los espaços, a educação como fator de acesso
tccnol<lgico transformn<lo cm bcin-cstar co1nunl etc. Em certa medi-
da, lêll prcocupnçflo pode inclinar-se n representar o pensamento de
país~:s avançados, que jêí Htcriam tempo" p~ra se ocupar de tamanhas
filigrnnas, sem falar que a depredação a1nbicn1al mais devast'ldora
provém deles. Na verdade, é questão crucial cm todos os lugares,
porque o dircilo de crescer não pode implicar o <le destruir. As
pretensões de dcscuvolvimenco em países avançados são h~m mais
sofisticadas, até o ponto <lc se rcssallarc1n, não ruais rcptos materiais,
mas anseios de outra orclcm1 como superar a solidão, participar cultu-
ralrncntc, aceder à ~ducaçfto conlinuada e à univcr.sidnclr. à dist5ncia
etc. Entrct~nto, a sustcntubilidadc tornou-s~ ~o,npromisso comum,
como parte tio mundo moderno tornado urna pequena aldeia.
O desenvolvimento não resolve todos os problemas. Falando de
maneira irônica e sobrcludo c.lialética> o dcscnvolviincnlo apenas
muda os proble1nas. Considerando a cena nHHH.lial, essa contraúição
parece clara . Oc um lado, o mun<lo c<lpit.alista conseguiu constl'uir
so<.:ictlaocs intcrcssunlcs no centro, dcnlro dn welfare s/afe, apesar da
crise atual cm paísc:-; que não alc..:au~aratn 1no<lcrnizar-sc convcnicntc-
mcnlc. Todavia, 1nuito c.Jifcrcnlc é a condi<;rio nos pélbcs t.:é1pi~11istas
subdesenvolvidos, enredados crn níveis de pobrc~m cxlrcn1a. Seu
sucatcaanc nto é crcscculc, principahncnlc porque o capitalismo mo-
derno depende cada vez menos de matéria-prhna in1portada, fonte
tradicional de <.;otnércio corn o Terceiro Mundo. De outro lado, o
n1un<lo socialisL~• estaria ucsabanc.lo e alinlwndo-s<~
,, ao capitalismo, e
mcsino vollanJo para o capit.tlis1uo. E difícil prever tais ru1nos
cm lcnnos de vislutnbrarmos alternativas ao cnpilalis1no e ao
social is,uo (real).

U1n:\ lição que rc:-;la é ccrt.1mcnlc o rccouhc<:imcnto de que o


social (.)csgnrrado e.lo cconô1nico/l.<~cnológico nfio se sustcntn, como
sucedeu no::s socialis1nos reais e ta1nbé1n no welfare slate. E vale o
reverso: cconnnli:•s c-01no a japonesa e :a alc1n5 valoriza1n cxtrcnla-
1ncnlc o acesso à educação (JUalilativa, recuperando, nn cxpcct.,tiva
chi produtividade, valores sociais relevantes, con,u u inclusão no
consumo, c1n saHirios bctn n1,1is elevados, cln hcrn-cslar gcncrnli~do.

106
A~ oportunidades de desenvolvimento do Terceiro Mundo con-
tinuam sendo expectativa d.ifícil, co1n tendência crc~ccnlt ao
desencanto, <liantc do tamnnho do desafio. Primeiro, o carninho é de
longo prazo, significando o sacrifício de gcr~1çõcs e a superação de
obst:iculos prementes. Scgunc.Jo, a n1odcrnidadc traz co1npulsoricda-
dcs incôcnoda.s que podem, ainda, agravar mais a condição de objeto
sucateado. Tcrccirü, são necessárias mudanças profundas que passam
por revisão do Estado, dcsconccntraç~ío e.la renda, câmbio ue elite:-
supcração do palcrnalisn1u, alLmliza~ão Lias t.:Onuiçõcs de produção,
manejo da <lívida externa, esvaziamento do campo o inchamento das
cidades ü1.c . A solução do prohle1na cclucacional de base, ao lado do
acesso à ciência e l1 lccnologia, parece ser a peça 1n;1is scnsfvcl dessa
cngrcnagctn.

107
CONCLUSÃO

Da história sempre se pode aprender. Temos uma história de


política social malsuccdida e vitupc.rada duramente pelas Nações
Unidas no rclat6rio de 1990 (Pnud 1990). Entretanto nesse mesmo
relatório são datlus excrnplos t.lt países con1 1naiorcs dificuldades
econôn1icas e sociais, e que, ainda assim, conseguiram patamares
mais aceitáveis de desconcentração de renda.
Dificilmente se aceitaria a idéia de que o país seria, tout court,
inviável. Ao contrário, acredita-se geralrnentc cm ampla viabilidade,
dentro do sistema capitalista. Trata-se de viabiliuatlc capilali!:>ta, no
contexto <lc urna ccono1nia de mercado, cujas chances dependem, em
grande parte, da cotnpctênt~ia cicnlífica e tecnológica, e, no fundo,
da qualidade educativa popular.
Na verdade, um dos problemas cruciais estaria na marca per-
versa desse capitalismo, ainda alimentado na mais-valia absoluta e
dotado ain<.la dos males do socialismo real. Urgente seria ultrapassar
tal 1narca do atraso, con1 conseqüências sociais muito graves, entre
elas: salário mínimo baixíss imo, ascendente curva do índice de Gini,
prcscnç.-1 excessiva de subc1nprcgo e mercado informal, aproveita-
mcn Lo incx.prc~~ivu tia educação básica, isolaincnlo do social etc.

109
Os problemas, entretanto, nfio advêrn apena~ dns hases econô-
micas, mas igualn1cntc <la área :-;ocia], co111u lal. Continuam vigentes
c()ncepções assistencialis~1s, rcsi<lualistns, compensatórias do social,
alimentadas pelos órgãos dedicados ao problema. A competência
técnica é prccúria, resultado de un1 processo furmalivo arcaico. O
corporativismo tomou conta, misturando dircilos essenciais com
iuopcrânc..: ias gri tan tcs.
Sobretudo, continua 1nalposta a vi~flo <lc pobreza. Fazendo
parte da estrutura <lo sistema, seu combate tende u ser cortina de
fumaça. Em certa 1ncdi<.ln, isso é componente sistêtnico, e nn capita-
lh-;mu ~igniflên reconhecer que pol'ítica social tende. a ~cr " bombeira'•
da ccono,n i.a e depende do excedente oconô 1nico para tudo. Essa
dctl:rrninação sobrepõe-se, na prütica> à noçüo de clircito,. por mais
que, cm lcorfa, se diga o utra coisa e cslcja escrito na Constituição.
A dcsconccnlrnçflo da renda depende n1ais c.fo ci<l:1dania <lo que
da cco110111ia. A <:i<.lauania é conquista sohrctuúo. 'lbdavia continua-
n1os acreditando •parte é crendice, parle é rnnnobra -que u Estado
(o governo) l'az a dcsconccnt.n1çflo da rcnc.Ja, e que a cidad,1nia é
dada/o utorgada. No rum.lo, ainda nrío <.Jcscobritnos e nho elaboramos
nosso pn.>ccs~o de cn1ancipaçiio.

110
BIBLIOGRAFIA

AOEND!H)Tll, W. A hisLória so<:i"l do movimento lr<1ball,ista europeu, Rjo de


Janeiro. Paz e Terra, 1977.
Al3RAMOWJ<'Z, B.S. Greves, Sfio Paulo, GJoba), 1986.
ABRANCIIE<:;. S.II. eL lllii. Polílicll social e combllte ,, pobreza, Rio de Jc1nciro,
Zilrn 1, 1987.
AUREU. S .F.J\. Consl itui~·iio, Sfio Paulo, Glob.il, 1987.
/\KCELRUD, I. Reforma agrtfria - a !11u1 pelil terra no Brasil> São P,1ulo,
Global, 1987.

ALVES. M .M. A força do povo - democracfrr represenLcfliva em Lajes, São


Paulo, Brasiliense, 1980.
ALVES, V .M.B. Vllnguar,la operária: elite de classe?, Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1984.
AMMJ\NN. S.B. Partic:ipaçiío socia/ São Paulo, Cortcz & Moracs, 1977.
7

_ _ __ . lcleologia do d esenvolvimenlo Je comunidades no Brasil, São


Paulo, Cortcz, 1980.

111
_ _ _. Moi imento popular de b<1irro -de frente para o Estado, em buscu
1

do pdrlamento, São Paulo, Corlcz, 1991.

ANTUNES, R.L.C. O que é sindic,tlismo, São Pnulo, Brnsilicn$C, 1985.


ANTUNI/\SSJ, M.11.R. Tn1ballwdor infantil e escolarização no meio rural, Rio
de Janeiro, Zah;1r, 1983.

ARAN"ll~S. A.A. O q111J. é Cu/Jura Popult1r, São Paulo, Bra~H icnse, 1982.

AURELIANO, L .~. ORJ\IBE, S.M. "A cspccificid:1<lc do 'wc]farc statc'


brasileiro".
ln: Economia e Desenvolvim,mto3,. Brasília, MPAS/Ccpal, 1989, pp.
86- 179.
BACIIA, 13.L. & UNOER, M. Os mitos de uma década, Rio cl<~ Janeiro, Paz e
Terra, 1976.
____ . Pcrrticipaçiio, salário t: voio: um projeto de desenvolvimento
para o Brasil, Rio de Ja nciro, Paz e Tc,rn, 1978.
_ __ _. Polftica eco11ômic,1 e distribuiçliu tle renda, Rio de Janeiro, Paz
e Terra, 1978.
BAl[RO, R. A alternativa - parlt um,t crítica do socialismo real, Rio de
Janeiro, P.iz e Tcrr<1, 1980.
BAlUtEIRO. J. Ed11c,1ç,10 popular e consch•ntizaç'1o, Pctr<>poli~, Vozes, 1980.

BATISTA NETO, F. A geraçfro dos anos ')0 - (perfil do adolescente), Floria-


nópolis, Promover, 1990.
l3ELOTrI, E.n. Educar p,1,a a su!Jmissc1o o ,fo.-;c:ontlicionamenlo d,r mulher,
Petrópolis, Vozes, 1979.

J3ETTEUIEIM. e . A /11111 d,~ ,:lt,ssl!s na Uni'1o So,,iétic,1 1 Rio de Janeiro, Paz e


Terra 1976.
1

BE'J"TO, F. O que é uJ1r11u1it.lat.le eclesial de b,ue, São Paulo, Brasiliense,


1985.
BlANCHI, /\.M. A pré-história tia economia - de M<rquiavel o Adam s,,,ith,
Siio Paulo, Hucitcc, l 9XX.

13ID (BancoImcramcrkano de DcscnvolvimcrH()). Progresso soc:ioeconômi-


co na América Latina - Relatório de 1987 (Parle especial:
"Mfio-dc-obrn e cmprcg{ln)> Wn:;ldngtou, 81 D, 1987.
112
DtERRcNBACH, M.I.R.S. Política e planejamento socit1I -BrasiT: 1956-1978,
São P:,ulo> Cortez, 1982.

13IRD. Program,1 socioeconômico na Anufric,1 L(1lina -Re.últnrio 87, Was-


bineton, Hird,. 198'/.
oonnro, N. O conr.eito d~ .tndedade civil> Rjo de Janeiro, Graal,. 1982.
_ __ _. O futuro da demr":r11r.ia -uma defesa das regras de jogo, Rio
de Ja nciro, P:12 e Tcrrn, 1986.
____. Liberalismo e democracia, Brasiliense, São Paulo, 1988•

-. Qual
- - -P;1z socialismo-discussào de uma lllfernativa, Rio de Janeiro,
e Terra, 1987.
_ __ _. Estado, governo., soc:iedude -paru urna tcorill Ke,-al da política,
Riu tlc J,u1t;Í10, Paz e Tcrrn, 1987a.
_ _ _ _ & OOVERO, M. So<:ied<1úe e Estado na filosofia política moderna,
São Paulo, Dra:silicu~c, 1987.
DOl-;-F, e. Como trabalhar com o povo, Petrópolis, Vozes, 1986.
BOFF, L. & llOPf. e. Como fazer teo/ogi,i da libertação, Pctró1>0lis, Vozes,
1986.
BORDA, o.r. & nRANDÃO. C.R. /nvestigaciân participatiwi, Montcvidéu, Ban-
da Oriental, 1986.
DORDEN/\VE. J.D. & CARVALHO> 11.M. Conwnicaçiio e planejamento, Rio de
J;u,ciro, Paz e Tcrrn, 1980.
_ _ __ . O que é parlicipaçâo, Sfío Pnulo, Brasiliense, l 98S.
uoscrn, R.R. A arte d,1 associ11çiin - po/lLicll de bllse e democnzcia no
Brasil, São PauJo, Vérlil'c, 1987.
BOURülclJ, 11 • & PASSEl<.ON, J.C. A reproduçiio -elttmentos para uma teoria
do sis1e11ll1 de ensino, Rio de Janeiro, Fr. Alvc.~, 1975.
DR/\NDÃO, C.ll. A questcio poUtica da educaçlio popular, São P,rnlo, Brasi-
liense, 1980.
_ ___ . O que é e,lucaçiio, Sfio P.iulo, Brasiliense, 1982.
_ _ _ _ (org.). Pesquis,r participante, São Paulo, B1.1:silicnse, 1982a.
113
_ _ _ _ (org.). Repensando,, pesquisa participante., São Paulo, BrasHicu•
se, 1984.
_ _ _ _. A educaçâo como cullura, Sfio Paulo, Brnsilicm;c, 1986.
filUON~. o. Eva/11c1ci6n de programas sociales -ic!orü1 y metodo/ogía de
la investigaci6n educativa, Sauth,go, PHc, 1985.
8Ul-'FA. E. Ideologias em conJJiLo: escola públi<~,, ,~ escola privada, São
Paulo, Corlcz, 1979.
_ _ _ _ et alii. Educ"çlio e cid"rlonit1 - qu<!m educa o cidad,lio?, São
Pnu)o, Corlcz, 1987.

BURSZTYN. M. O poder dos dnntJs -planejamenJo e clienJelismo no Nordes-


te, Pctr6polis, Vol.c!), 1984.
CALDART. R.S. Sem Lerra r.om poesia, Petrópolis, Vozes, 1987.
CALDEIRA, T.P.R. A pulílicu dos 011,ros - o cor idiilno dos mortzdores da
JH1riferia e o que pensam do poder e dos poderosos, Siio Paulo,
BrnsHicnsc, 1984.
CAL<;ING. E.F. "Üimcusjo1rnmcnlo e <.~nm<.:lcriznc;fío dn pobrcztt no Dra~H''.
BrnsiJia, lpca/JpJ:in, nov. 1983, mimco, 60 pp.

____ el ,1/ii. Desigualdt1Jes soc:i,,is 110 Nordeste, lplau/ lpca-Uniccf-Su-


dcnc, Brnsília. 1985.
_ _ __ . O m<:nor e ,1 pol>reza, Drn=->í1ia, lpca, 1986.
_ _ _ _ et alii. "Iufornrnc:<>cs gcrnis sobre: a pobreza das fomílfr1s e dos
mcnorc~ no Drn!-;iP', Brn~flia, Jpca/[plan, mar. 1987, mimco.
CANCUNI. N.G. As c11/t11ros popular,~.~ no capiJalismo, São PHulo, Brasilien-
se, 1983.
CAltLEY. M. /11dic:aclore~ ~ociais - leoria e prtÍtic,1, Rio tlc Ja n~ir<>, Za bar,
1985.

CARU2Y, M. & IHJSTEL<), l.:.S. Social imp,1cl (IS.W!SS/Jll!nl Cllld monitoring - a


guiJe lo the liferaitlrt~. Nova York, Wcstvicw Prcss, 1981.
CAltNElRO, M./\. Educ:aç,70 comr111i1.âria: fases e formas, PctrópoJJs, Vozes,
1985.
,-"', • •' ., •"'', ~ , r. .. • . . I •• .. • • -- - ! ... . . t .,• • "' .
114
CARR-HILL. R.A. HPartidpatory pJanning in cducalion: 1cscing some con•
CC))ts. Djvision of cdu<:ntion.1] policy Hnd plauning", Paris, Unesco,
1976, mimco, 117 pp.
C/\RVALl'IO. T1.M. l11troduçcio ,l teoria do planejamento, São Paulo, Brasilien-
se, 1978.
CARVALHO, J.M.M. & IIAGUETTE, M .T.f. (org.) Trab,1lho e condições de vida
no NordesJe brasileiro, Sfio Paulo, Hucitcc, 1984.
CASTRO. A.O. O capitalismo ainda é uquele, Rio de Janeiro, Porcn.">c, 1979.
CASTRO. G.í3. Relaçlio de ajuda l! serviço sru:i11I> São Pau)o, Cortez, 1985.
CAVJ\LCI\NTI. e. Viabilidade do setor informe,{, Recife, Sudcnc/Fundélção
Jonqujm Nabu<.·o, 1978.

CEPAL Ef desarrollo de America la1in,1 y e/ Caribe: e$cvl/us, requisitos y


opc:io,ws, Sautfogo, C~paJ, 1987.
CEP/\UR/Fund. D<1g 1-lammarskjold. Desarrollo "escala hu"u1na, Santhigo,
Ccpaur, 1986.
CIIAIIAD. J.P.Z. & Cl:RVINI. R. (org.) Crise e inftincêlt no Bn1sil, Sãü Paulo,
U niccf/USP, 1988.
C llAUÍ, M .Conformismo é resistê11c:ia - aspeclos dtt cultura popular no
Brasil, São Pm'1o, Bra~ilknsc, 1987.
com.,110, E.e. A oficina do dialio - ,:ri....-e ,~ confíilo no sis1ema penitenciário
do Rio de J,111eiro, Rio ele Jauciro, E~paço e Tempo, 1987.
GOELilO, T. O ,zue é itullÍstrit1 c11!t11ral, São Paulo, Brnsiljcnsc, (()84 .
_ _ _ _. Usos de cu/turll - políticas d~ uçâo c"lturul, Rjo de Janeiro, Paz
e Tcrrn, 1986.
COIIN, o. (<>rg.). Comunicti~/io t · indústria cultural, São Paulo, Com1>anhia
Ed. Na<:ional. 1978.
COSTt\, M.C.C. Demo1.:racia, Srto Paulo, Glol>.il, 1989.
COlJTlNJlO. C. N. Gramsci, Porto AJcgrc, LPM, 198 l.
. A tl,?mocracia como valor universal, Rio de J~1nciro. ~alamandra,
- - --1984.
COVRE.• M.L.M. A fala dos homens - anlili.<u:~ do pensamento tecnocrático,
São Paulo, Brasi)kn.se, 1983.
DAIIRENDORP', R. As classes e seus conflitos 11a sociedade industrial, Bra:;í-
lia, Ed. UnB> 1982.
D~ROSSO. S. & RESENDE. M.LS. As condições de emprego do mP.nor traba-
1/,ador, São Paulo, Thesaurus, 1986.
DALLARI, D.A. O que é participação política, São Paulo, Brasiliense, 1984.

OHMO, P. l)P.!U?nvnlvimentoR política social no Brasil, Rio de Janeiro, Te1npo


Brasileiro, 1978.
_ _ _ _. Pobreza sociooco11ômica e políticu, Florianópolis, Ed. Uruv.
Federal, 1980.
_ _ _ _. ''Planejamento p~rtidpativo - visão e. revisão'>. ln: Fórum
Educacional~ abr./jun. 1985, pp. 3-22.
_ _ _ _ . Soci.ologia - uma i11.trodução critica, São Paulo, Alias, 1985a.
_ _ __ . /nvestisaci.ón participante - mito y realidad, Buenos Aires,
Kapelusz, 1985b.

- - - -. Cil!ncias sociais e qualidade, São Paulo, Almcd, 1985c.


- - - - · "Precariedade.'> de prátkas partidp<tliva~/'. ln: C<1dernos de Es-
tudos Sociais, jul./dez. t986, pp. 473-483.
_ _ _ _ . "Ri~cos e desafios de processos participativos". ln: Cadernos de
E.ftudos Soclt1is.• Jan./jun. 1987a., pp. 75-92.

_ _ _ _ . "Avaliação quaJitaliva V - purisn1<>:> e po(>ulisn1os•', Brasília,


lpca/Iplan, jul. 1987b, mhueo, 43 pp.
_. "Escado inevitável e necessário - conton1os de uma polêmica
relevante", Brasílio, lpea/lplnn, jan. 1988, mimco 33 pp.
_ _ _ _. Awzliaçiio qualitativa, São Paulo, Cortr.z, 1988a.
_ __ _. Pobreza política, São Paulo, Curte~, 1988b.
_ _ _ _. Parlicipação .é conquista -noções de política social participa-
tiva, São Paulo, Concz, 1988c.

116
_ _ _ _. Mt!todologia c.ümtifica em ciências sociais, São Paulo, Alias,
1989.
_ _ _ _. "Cidadania & ctnnncipaçfio». ln: Tempo Brasileiro, n~ 100,
jan.-mar. 1990, pp. 53-72.
_ _ _ _."Educação & desenvolvimento: algumas bip61cscs de trabaJho
frcule à questão tecnológica». ln: Tempo Brasileiro, ng 105, abr.-jun.
1991, pp. 149-170.
DIAS, E. História das luta.t ·"nciais no Brasil, São Paulo. Alfa-Omega, 1977.
OORH, M. Economia dei bienestar e economía dei socialismo, México, Siglo
21, 1971.
DOIMO, A.M. Movimento social urbano, Igreja e participn.çiío pnpu.Jar, Pe-
trópolis, Vo7.es, 19~4-
DUAHTE, A. & MIRANDA, O. Trabalhismo e social-democracia, Sõo Paulo,
OlobaJ, 1985.
ENGOI.S, F. Do socÍtllismo 1116pic.o on .~ncitlfismo cienJifico, Portugal. Estatn-
pa, 1971.
FJ\LElROS, V.P. PoUlica sociul do estado capitalista, São Paulo, Cortcz, 1985.
_ _ _. O que é poUtica social, Siio Paulo, Brasi]iensc, 1986.
FEIJÓ. M.C. O que é polúica cultural. São Paulo, Brasiliense, 19x:,.
r-1sc 1mR, R.M. O direito d,1 população à segurança. Pctr<>polis, Vozes, 1985.
FLETCHER. P.R. <'Os mitos, as cscrncégias e as priorit.ladcs para o ensino de 1°.
grau,,, B1asília, Ipca/Iplan, mni. 1985, mimco, 22 J>P·
FLORA, M.C.D. Mendigos: pnr que surgem, por onde circulam, como siio
tratados?, Petrópolis, Vozes, 1987.
FRANCO . R. (coord.). Planificación social en America Lalina y r-d Cnrihe,
Santiago, llpcs/Unkct I 981.
_ _ __ & ZAV/\L A. J.C.C. (coord.). Desarrollo social an los 80, Santiago,
Ccpal IJpcs-Uniccf 1981. 1

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Associaçoes popufores e agêrtcias goven,amen-


ta.is: as relaçlJes do Es1t1do com a economia dos peque nos, Belo
U - -=-- -• -- 1f\O.t:: '"),.,,1

117
G/\DOTTJ, M. & Pcf<EJ KA, O. Pra que PT - origem, prnje.to e consolidaçilo do
Partido dos Trabalhadores~ São Paulo, Cortcz, 1989.
GAJARDO, M. Pesquisa participante na América Latina, São Paulo, Rrasi-
liénsc, 1986.
GHAI, D.f'. "What is a basic-nccds appn:,ach to devclopmc1lt alJ about'!''. ln:
D.P. Ghn i ct al., The Basic-needs approach to development, Gcncbra9
OIT, 1977.
GlLLY, A. Sacerdotes e burocratas: introdução ao socialismo reul, Sio
Paulo, Brasiliense, 1985.
Teoria crÍlica e resistência a,11 educação, PctrbpoJis, Vozes.
Cil~OlfX, JI.
1986.
OOJ IN, M.G.M. A força da pt?rift?.rin - a lula d,1s mulheres por crechas cm
sao Paulo,. Petrópolis, Vozes, 1985.
GORZ, /\.Criticada divisao do irabal/uJ, Sao Paulo, Martins Fontes, 1989.
GOW, D.D. & v AS/\NT. J. "Bcyond thc rhct.oric of rural ck.vclopmcnt JHHticipa-
tion: Jmw <:<til it bc donc?". ln: ~Vor"J Deve!opment, nº..">, 1983, vol.
11, pp. 427-446.
GR/\MSCI, A. Os intelecuulis e a org,rnizaçtio da cullura, l{io de Janeiro,
CiviJiz.,ção Brasilcirn, 1978.
GROSSI, F.V. "Sociopolitkal implil:atio1L'> of pa rtidpatory rcscan·h». ln: Con-
vcrg<:ncc, 14(3): 44 ss., Cana<lá, 1981.
GRZYDOWSKJ, C . Caminhos e descilmi11hos dos movimentos socit1is no cam ..
pn, Pctrópol is, Vozes, 1987.
(ilHT .LERM, A. & UOlJRDET. Y. Autogesliio: umll mudanç,1 radical, Rio de
Janeiro, Zahar, 198U.
IlABERMAS, J. A cri,s e de legitimação do capitalismo 1ar1lio, Rio de J~•neiro,
Tempo Ora:-;ilciro, 1980.
_ _ _. Ptlra a rcconstruçiio do materu1/ismo ltistórh:o, São Paulo, Brasi-
l Íc lt~C, 1983.
HADDAD. P.R. Pariic.ipnçtio, justiça social e planejamenLo, Rio c.Jc Janeiro,
Zallar, 1980.

118
HAGUETTE, M.T.F. O mito das estratégias de sobrevivência, FortaJeza~ Edit.
Univ. Federal, 1982.
HEII .BRONER. R.L. Meios econômicos e fins sociais> México, Expressão e
CUitura, 1969.
HíRSCHMAN. A.O. De consumidor a cidudc1u - atividade privada e partici-
p11çüo nu vida pública, São Paulo, Drasilicnsc, 1983.
1-IUMPIIREY, J. Fu°L.elldo o "milagre" - co11trole capitali,s ta e luta operária
na indústria automobil(stica brasileira, Pctr6polis, Vozes, 1982.
JACOBI, P. Movi1ne11Jos sociais e polúicas JJ1íblicas, Sõo Paulo, Cortcz> 1989.

JAGUAlUBE, H. et alii. Brasil 2000 - para u,n novo pacto social, Rio de.
Janeiro, Paz e Tt?rra, 1985.
_ _ __ . Brasil - reforma ou caos, Rio de Janeiro, Paz~ T~rra, 1989 .
KOEHLER. H. P"1nificaciôn y bieneslar - est11dio comparativo de lns .~i.\·l.1?-
mas capitalista y sor.i,lli,\•f.(I, Rur.nos Aires, Amorrortu. 1967.

1..AMOUNIER. o. Partidos & ulopias - lJ Brasil no limi11r ,Jo.(; n.no.r. 90, S;\O
P.lulo, Loyol-a, 1990.
LANDMJ\NN . .r. 1:vil(lnrln
1
a saúde & promovendo a doença - o sistema de
s,uíde no Brasil, São PauJo> Achicuné> 19~2.
LEFORT. e. A invençao democrática - os limites do 1otali1arismo, São
Paulo, Brn~ilkusc, 1987.
r.EIIFEI .D, N.I\.S. Uma "bordagem 1u,pid11(:iorwl para u.111 {Jroblema e."itrutu-
r<1I: lwbitarii.o, Pct ro1)0Jis, Vozes, 19H8.

E:,candinâvia -m,odc/o de tlc.w.:nvolvim<1nto, democracia e bem-


LEl'fl1, P.S.
eslar, São P~ulo, Hucitcc, 1982.

LÉVI-STRAllSS, e . Antropologia e.\•fr11l11ral, J<io d~ Janeiro, Tempo BrasiJci-


ro, J96 7.
LIBÂNIO, J.r:. Democnuizaçâo dll e:-;colt1 pcíblicu - u pcc1aJ::ogia crítico•so-
cial dos contelÍdos, São Paulo, Lôy()ln, 1986.
UMA. S.A.B. Participaç,ío social no cotidiano, S;io Paulo, Cortcz, 1983.
UMA. T .M. A política socitll no dia.a-di,1, São Paulo, Cortc7., 1982.
119
LOPES. C.L.E. Sindic,ltos nn BrLl.'âl, Sfio P,wlo, Glob;d, 1989.

LUSTOSI\, P. ''Dcsburo<:ratiz,1~·ão e c:icJadêlllia - textos para discussão»,,


Brnsílin, PrND, Prc.1j<lêm:ia <1" República, 1985.
MACCIOCCIII, M.A. A fal'or de Gramsci, Rio de J:rnciro, Paz e Terra, 1976.
MACEDO. e.e. A reprodução d,1 desig1111lrl111le, São Paulo, Vértice, 1985.
MANDl;L, ê. Além da perestroika, São Paulo, Busca Vida, 1989, voJ. 2.
MANNI m1M. K. Liberdade, poder e planific<1çcio demucrtítica, Rio de Ja~eiro,
Mestre Jou, 1972.
MARCONDES FILIIO. e. Violêncit1 dnx m,1.f;.\'IIS no Brusil, São Pauto, Global,
1986. '
MARCUS E. 1l. Soviet-Marxism: '1 critic,1/ analysis, Columbia Univ. Prc~~,
1964.
MARQUES. J.8 .A. Direilo e democracia - o papel do minisl<~rio público, São
P" tdu, Curk:t., 1986.
_ _ _. Dcmocrt1cia, viol<Jncia e direitos hum,,110,\·, São Paulo, Cortez,
1987.
MARSIIALL. 'l'.11. Cidadania, classe social e s1at11s. Rio cl,~ .Janeiro, Z:1har,
1967a .

----. Política social, Rio c.k J.,nciro, Zt1har, 1967b.


MARTlNE. G. & GARCIA. R.C. Os impaclos sm.:iais da modernizaçtio agrícola.,
Siio Pc1ulo, Cactés, 1987.
_ _ _ _ . "A poJítica :sul'ial, o çrc~dmculo e a pobreza - o pa!->sado, o
prcsc.nlc e ( o futuro)», Brnsília> Iphl n/lpc.i, ju n. 1988, mi1nco

MARX, K. ConLri/Juiçao p,,ra acrílica da economü1 polftica, Portugal, &-


tnmpu, 1973.
MARXléNCiEL~. Obras esco>-:ilÍtH, Madri, F.cti1ori;1l Ayuso, 1975, 2 tomos.
MAX-N1:m:, M. Lll economia descalza - se/tule~ desde el mundo invisible,
Estocolmo, Ccpaur/ Nord,lll-Conurnidnd , 1985.
MEC~G. "Subsídios ao plancjamcnlo participativo", Brasília, Série Pfan~ja-
mc.oto 3, 1980.
120
MILIRAND. R. O listado na sociedade capitalista, Rio de Jaueiro, Zabar,
1972.
MONIZ, E. A orig inalidade das rcvoluçiJes - uma visão abrangente do
socialismo no s~culo XX, Rio de Janeiro, Espaço e Tempo, 1987.
MONTHIRO. J.V. EconomilJ do seror público, BrasfHa , Ipca, 198 7.
MOORE, s. Crítiça de la democracia capitalis1e1, México, Siglo 21, 1974.
MOITA, f'.C.P. Barocr,1ci,1 e autogestéio, São Paulo, Brasiliense, 1981.
MOYER, H. Planificación ,~stralégica situaciona/ Maracaibo, Unívcrsidad
7

dei Zulia, 1989.


MUTrJ, A . & SêG/\TTI. P. A burguesia de Estt1do - estrutura e funções da
empresa pllblicti, Rio de Janeiro, Zahar, 1979.
NETO. M. Os hu:rns da fom e, São Paulo, Achiamé, 1982.
NOVE. A. A economia do socialismo possível, São Paulo, Átka, 1989.
NOZI CK, R. Anurquia, Estado e u topi,1, Rio de Janeiro, Zahur, 1991.

OfFE, K. "A dcnio crncia J>,l rli<lária t'Ompctiliva e o wcJforc statc hcyucsiano:
fatores d<'. cs1:1bilicfo<lc e dcsorganíza<;ão ln: Rev.. Ciências Sociais,
71

1983, nS2. 1. vol. 26, pp. 29-51.


__. Problemas estruturais do Esiado capitalista, Rio <lc Janeiro,
Tempo Brasileiro, 1984.
OIT. Employment, growtl,, anti basic-needs, Devefopment strategies ln
Tflree lVorlds, Genebra, aug . 1975.
OLIVEIRA NETO . J.('. Salúrio, preço e inflaçcio, São Pnulo, Global, 1985.
OLIVEIRA. C.A .S. "Assoc:iaçôcs d e morndor<~~= uma luta pcJa
desprivatização
do Esrndo,,. ln: Rev. Administraçiio Muni<:ip11!, julJsct. 1985, pp.
30 -35.
ORTIZ. R. Cultura /Jrusileira <.~ identidade nacional, São Paulo, Bras iliense,
1986.
PAOU, M.C. et ,1/ii. A viólência l>r11s ileir11 1 Sfao Paulo, Hrasiliensep 1982.
PENA, M.V J . Mulheres trt1balhadon1s - presenç11 f eminina rw constituição
d o sistema fabril, Rjo de J.u1ciro , Paz e Terra, 1981.
121
O dinossauro -uma pesquisll sobre o Estado, o 1uurimnnia..
l..lJNNA, J.O.M.
/ismo selvag(tm e a nova clt1sse de i11tel1.:ctuuis tt burocrlltas, São
Paulo, T.A. Queiroz Editor, l 988.
PEREIRA. W.C.C. Associação de puis e mestr,~s - urn11 experiência de vida,
Pcllópolis, Vozc!>, 1990.
PERROT, M. Os excfo{dos da história - operúrios, 111ul/1eres, prisiuneirus,
Rio de. Janeiro, Paz e Terra, 1988.
PETRINI, J.C. CEBs: um novo sujeito popu!,1r, Rio d('. Janeiro, Paz e Terra,
1984.
PJETROCOLLA. L.G. Sociedade de consumo, São Pc1ulo, Global, 1986.
PINTO, L.F.S. "O socinl jnadiávcl", São P~1ulo, Fund. SaHm Maluf, 1984.

PNUD. "Hunrnn dcvclop1ncnt rcport 1990'\ Nova York, ONU/Pnud, 1990.

l>REALC. "Brnsil: ajuste es trutural e distribuição de renda". Documento de


trnbn lho 308, Suntingo, 1987.

PREALC/OIT. Sector informal - fundonamicnto y politkas, Santingo, 1978.


RACZYNSKf, D. "EI scclor informal urbano: interrogantes y controversias",
Prcak, Santiago, 1977.
RAICJIEL'>, R. Legiti111idaJc: popular e pvúer pâ/Jlic:u, Sflo Paulo, Conez,
1988.
REIS. F.W. & O'DONNELL G. (org.). A democracia no Brasil - difemas e
perspectivas, Siiu Paulo, Vértice, 1988.
REYMÃO, M.E.(i. et alii. Org,inizaçiio popule1r e mudc111çu, Sãu Pitulo:s Loyo--
la, 1986.
REZENDE. A.L.G. S,uíúe - dialétic,1 do pensar e do flrzer, Siio Paulo~ Corte~
1986.
REZENDE, A.M. Crise cultural e subdesenvolvimento hr11.4.ileiro,. Campinas:,
Papirus, 1983.
1H~ZENDE. J. Como se fa1z a luta de bairros, Petrópolis, Vozes, 1986.
RIBEIRO, J. u. Politica - quem manda, por q"e "wnda, como manda, São
Poulo, Novu Frontdrn, 1987.

122
RIBECRO JR., J.C. A festa do povo - ped'1gogi1.i du resistência, PctrópoJis,
Vozes, 1982.
RODRIGUES . E. Os lil)(~rtárins - idéias e experiências anárquicas~ Petrópo-
lis, Vozes, 1988.
ROIO, J.L.D. Movime11tos populares no Brasil, São Puu1o, Global, 1986.
SAl)ER, E. (org.). MoPimentos sociais nll tnrnsiçiio damocrâlica, Sflo Paulo;,
C.or1 cz, 1lJX7.

SALM, C.L.~ Escola e trab,1/flo, São Paulo, Brasiliense, 1980.

SANDRONI, P. 0 que é mais-Víllia, São Pítulo, Bra~ilicnsc, 1985.


SANTOS, r.A.
• Emergência da modernidade - atiludes, tipos I! modt!los~
Pctr{lpol is, Vozes~ 1990.
~AN"fUS, ll.R. & NUNES, o.s. ''Norôcslc -
o ú1,;scuvolvimcnto do homc111
rurnl1', Snlv<ador, Nobel, Fund. Emílio Odcbrecht, 1986.
SCllERER WARREN, I. Mol,imentos sociais, FlorianópoHs, Edit. lJniv. Fcclc-
ra 1. 1984.
SCHNclDER, L. Mt1rgirwlídade e delinqüência juvenil, São Paulo, Co,tcz,
1982.
SCHWARTZMAN, s. Bases do c111loritarisn10 brasileiJ-o, São Paulo. Campus.
l lJX7..
Sc!TL, J.L. A política do desenvolvimenLo - uma intrucluçüo "proúlemas
globais> Rio de Janeiro, Zuhar, 1988.
SlEBENEJCJ u.rm.. F.B. Jürgen Habermas: raz,ío com11nic1.11iva e emt,11ciparãoJ
Rio de Janeiro>·r·cmpo Bra:-;ilciro, 1989.
SILVA, J.l.A. E:.tuda11tese po/íJic,z - estudo de um rnovimento (RN I960-
JQ69), Sfio Paulo, Cor1e7.. 1989.

~lLV/\, l'.N.N. Autorilarismo e impunidade -


um perfil do dernocratismo
bn,sifoiro, São Paulo, Alfa-Omega> 1988.
SlNGUR. P. A crise do ..milagre '·, Rio de J<1ncjro, Paz e Terra, 1976.

SOUZA, M.L. Desenvolvime nto de comunidade e participaçüo, São Puulo,


Co rtcz, 1987.

123
SPOSA'TI, A. Vida urócmu e gestc1o da pobrezll, São Paulo, Cortcz, 1988.
eJ alii. Os direitos (dos dcsussistidos) sociais, São Paulo, Cortez,
----
1989.
STErAN, A. Esu1do, corporativismo e t111Loritarismo, Rjo de Janeiro, Paz e
Terra, 1980.
'J'OMAZI, Z.T.Saúde e Estado /Jn1sileiro, São Paulo, GJobal, 1986.
VICTORIA. c.r.. ,u alii. Epídemiologit, d(l desig1u1/dade, São Paulo, Hucitec,
1988.
VILLAÇA. F. lle1bitc1ç'10, São Paulo, Global, 1986.
WC:FFORT. F. Por que democrllcia?, São Paulo, Brasiliense, 1985. \

WELLS. J. t:mpleo en Am/rir." L,1tina: una búsqueda de opcio11es, Santiago,


Prcalc (OIT), 1987.
WOLfê, M. Desenvolvi111e1110: parei que e paru quem?, Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1976.
_ __ . t;/usive developrtMnl~ Gt.~ll<.~bra. Unrisd, 198L
WOLFF, R.P. A tniséria do liber,1/ismo. Rio de J41nciro, P.,z e Terra, 1990.
WOLKMER, /\.C. Eleme11Los para u11w crílica do Estado, Porlo Alegre. Scrgio
Antonio Fabris Editor, l lJl.>O.

124
MAGISTÉRIO: FORMAÇÃO E TRABALHO PEDAGÓGICO

ABC: INICIAÇÃO À COMPETÊNCIA • CONHECIMENTO EDUCACIONAL


RECONSTRUTIVA DO PROFESSOR BASICO E FOflMAÇÃO DO PROFESSOR
Pedro Vemo - 212 pp Antonio Flavio B. Moreira (org.) - 140 pp
AOMINISffiJ\Çt,0 COLEGIADA CONTROVÉRSIAS EM DIDÁTICA
NA ESCOLA PUBLICA MariTda da Sifva- 100 pµ
Maria de Lourdes Melo 1-'rais • 112 pp
O COTIDIANO DA ADMINISTRADORA ESCOLAR
ADMINISTRAÇÃO EDUCACIONAL: Glaci de Oliveira r. Va,yas • 112pp
UM COMPROMISSO DEMOCRÁTICO
Dirce Mendes da Fonseca (org.) - 136pp CRfTIC~ DA ORGANIZAQÃO DO TRABAlliO
PEOAGOGICO E DA OIDATICA
Luiz Ca,lus de Freitas • 288 pp
APLIOAÇÕC:S DE VYGOTDl<Y À
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CURRÍCULO: PotlTICAS E PRÁTICAS
Lllr.i~ MnyAAS - 176 PP Antonio Flavio 8. Moreira (org.) - 184 pp

A AULA: F.SPAÇO OF. CONHFCIMFNTO, CIJRRÍCllLO: QUESTÕES ATUAIS


LUGAR DE CULTIJRA Antonio Flavio B. Moreira {org.) - 14,t pp
Sonla T. de sousa Penln - 184 pp
CURRlcULOS E PROüHAMAS NO 8HA::ill
AVALIAÇÃO NA ESCOLJ\ DE 1 GRAU: 9 Antonio Flavio Rarl:Josa Moreir:¾ - Z?li rr
UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA
Menga Lüdk6 e Zéfia Mediano (coords.) - 164. pp DECISÕES PEDAGÕGICAS E ESTRUTURAS DE
PODER NA UNIVERSIDADE
Denise B. e. Leile
AVALIAÇÃO NA ESCOL.A OE 29 GRAU Maria Isabel da Cunha - 96 pp
Zacarias Jaegger Gama • 172 pp
OESMISTIFIÇANílO P. PROFISSIONALIZAÇAO
AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO ESCOLAR DO MAGISTERIO
Clanlza Prado de Sousa {org.J - 180 pp flma Pil.SSOS A. Veiga
Maria isabel da Cunha (orgs.J - 264 PP
AVALIAÇÃO SOi:j U ULHAK PROPEDÊUTICO
Pedro Demo • 160 pp A DIDÁTICA E AS CONTRADIÇÕES DA PRÁTICA
o.
Pura Lúcia Martins - 176 PP
O BOM PROFESSOR E SUA PRATICA A DIDÁTICA NO ENSINO SUPERIOR
Maria Isabel da Cunha - 184 pp Maria Manuela Alves Garcia - 104 pp

CAMINHOS DA HISTÓRIA ENSINADA DIDÁTICA: O ENSINO F SUAS AFJ AÇOF.~


Selva Guimaraes Fonseca - 172 pp lima PD!:So:; 11/cncaslro Veig.1 (org.) - 184 pp

DIDÁTICA: RUPTURA,
CAMINHOS Ç)A PROFISSIONALIZAÇÃO
OOMAGISTERIO
COMPROMISSO E PESQUISA
Maria Rita N.S. Oliveira (org.} - 144 PP
lima P.A. Veiga (ora.) • 176 PP
A DIMENSÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO
CAPITALISMO E ESCOLA NO BRASIL Mauro Guimarães - 108 pp
Maria Etizabete S.P. Xavier• 184 PP
EDUCAÇÃO, CULTURA E CRIANÇA
A CAUSA DOS PROFESSORES C:Jrmcn Maria Aguiar - 112 pp
Eglê Pontes Franchi (ore.} - 172 pp
l:UUCAÇÁO E DESENVOLVIMENTO
Pedro Demo - 96 PP
COMfNIO OU UAAH rt: Ot:. t:.NSINAH
TUDOATODOS EDUCAÇÃO E ESCOLA NO CAMPO
Joáó Luiz Gasparin - 188 PP Jaoqves Therfien
Maria N. Oamasceno (coorós.J - 252 pp
CONCEPÇÕES DE MUNDO
NO ENSINO DA HISTÓRIA EDUCAÇÃO E QUALIDADE
Sífma do Carmo Nunes - t32 pp Pedro Demo - 160 pp
EDUCAÇÃO INFANTIL: INt-OKMÁ I IÇA t:DUGATIVA: DOS PLANOS
UMA PROPOSTA DE GESTÃO MUNICIPAL E DISCURSOS À SALA DE AULA
Ana Mana Costa de Sousa - 160 pp Ramwl útt Oliveira - 176 pp

ELEIÇÃO DE DIRETORES: A ESCOLA PÚBLICA INTERDISCIPLINARIDADE:


EXPERIM~N IAA IJ.tMOGHACIA HISIÓHIA, TEOHIA E PESQUISA
Vitor Henrique Paro - 144 pp lvani Catarina Aranres Fazenda - 144 pp

ENSINANDO A LER SEM SILABAR: LICENCIATURA EM PEOAGOOIA: REALIDADES,


ALTERNATIVAS METODOLóGICAS INCERTEZAS, UTOPIAS
Teresa Mana M. Borges - 96 pp Jlma Passos A. Veiga e oulros - 136 pp

ENSINAR OU APRENDER? EMÍLIA FERREIRO A LINGUAGEM E O OUTRO NO ESPAÇO


E A ALFABETIZAÇÃO ESCOLAR: VYGOTSKY E A CONSTRUÇÃO
Vera Masagão Ribeíro - 88 PP DO CONHECIMENTO
Ana Luiza l:J. Smolka
Maria C.R. de Góes (orgs.) • 18U pp
ENSINO OE LÍNGUA PORTUGUESA:
UMA AOORDAGEM PRAGMÁTICA
Livia Suass,ma • 240 pp A MENINA REPETENTE
Anete Abfamowicz - 112 pp
ENSINO MÉDIO: DESAFIOS E REFLEXÕES
Maria. Laura P. Barbosa Franco · 188 pp
O MÉTODO DIALÉTICO NA DIDÁTICA
Lilian Anna Wachowicz • 144 pp
ESCOLA: ESPAÇO DO PROJETO METO0OL OGIA OA PF.SOUISA
POLÍTICO-PEDAGÓGICO Elisabete Matai/o M. de Pádua • 96 pp
llma Passos A. Veiga
Lúcia Maria G. de nesende (orgs.) • 200 pp
METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR
Neusi Aparecida Navas Be1bel - 208 pp
ESCOLA FUNOAMl:NlAL:CUHHÍ<.;ULO E ENSINO
lfma PélSSUS A. Veiga
Maria Helena F. Caa:Joso (urys.) - 216 µp A MONOGRAFIA NA UNIVERSIDAOC
Geraldo Inácio Filho 200 pp

ÉTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL:


A CONEXÃO NECESSÁRIA MUNICIPALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
Mauro Grun • 120 pp Ivo José 80th · 215 pp

A NOVA LUl:S: HANÇO~ E AVANÇOS


FICA SEM RESPOSTA O QUE OS LIVROS DIZEM...
Pedro Demo • 112 pp
Cleiza Quadros Afonso - 136 pp
NOVE OLHARES SOBRE A SUPERVISÃO
A FORMAÇÃO 00 PROFESSOR DE ARTE: Mary Rangel
DO ENSAIO... À ENCENAÇÃO Celestino A. da Silva Jr. (org5.) • 200 pp
Carmen Lúcia Abadie Biasoli - 216 pp

FORMAÇÃO E rnÁTICA DO OnlCNTAÇÁO EDUCACIONAL NA PRÉ-ESCOLA


EDUCADOR E DO ORIENTADOR Regina Célia de Santis Feltran - 172 pp
Vera Maria Nigro de Souza Plaa:n - 1~8 pp
PARA ALÉM 00 FRACASSO ESCOLAR
GEOGRAFIA, ESCOLA E CONSTRUÇÃO Anele Abramowicz
DE CONHECIMENTOS Jaquebne Mo// (oros.) - 208 pp
Lana de Souza Cavatcan(i - 192 pp
PARA UMA POLÍTICA EDUCACIONAL
GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA: DA ALFABETIZAÇÃO
ARTES E OFÍCIOS DA PARTICIPAÇÃO COLETIVA Dinorá Fraga da Silva (org.) - 244 pp
Dinair Leaf da Hora - 144 pp
PEOJ\G.OGIJ\ DO RISCO
S11vin Ga/1<> - 19? pp
INFÃNCIA E LINGUAGEM:
BAKHTIN, VYGOTSKY t l:U::NJAMIN PEDAGOGIA DOS CONFUTOS SOCIAIS
Solange Jobim e Sou~a • 176 pµ Oder Jose dos santos - 200 pp
PEDAGOGIA. PEDAGOGOS E RELAÇÕES OE PODER
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO COTIDIANO ESCOLAR
Iria Brzezinski • 244 pp Lúcia Maria Gonçalves de Resende - 168 pp
REPRESENTAÇÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO
O PFNSAMFNTO DF. VYGOTSKY E
NHda Teves '
BAKHTIN NO BRASIL
Mary Rangel (orgs.) - 176 pp
Maria Teresa de Assunção Freitas • 192 pp

O PENSAMENTO PRIVATISTA EM EDUCAÇÃO fü:H l"HOFESSOR NO BRASIL:


Ditce Mendes da Fonseca • 224 pp
HISTÓRIA ORAL DE VIDA
Selva GuimotBes Fonseca • 232 PP
rOLÍTICA SOCIAL, EDUCAÇÃO E CIOADJ\NIJ\ /\ SIGNIFICAÇÃO NOS ESPAÇOS EOUCACIONAIS
Pedro Demo 128 pp Maria C.R. Gól1S
Ana Luiza 8. Smo/kR (aros.)• 180 pp
PÓS-GRADUAÇÃO: EDUCAÇÃO E
MERCADO OE TRABALHO SOU rflOFESSOR. SIM SENHOR!
Fáb"ma Bayma de Oliveira· 204 pp Aparecida Neri de Souza • 236 pp

A PRÁTICA DE ENSINO E O
TFCNlr.AS DE ENSINO: POR QUE NÃO?
ESTÁGIO SUPERVISIONADO llma Passos A. Veiga (O(Q.) • 152 pp
, S1elê:1 C. Be,tholo Pioonez (coord.J • 140 pp O TRABALHO COMO PRINCIPIO AHTl(.;ULAUOH
NA PRATICA DE ENSINO t NUS ESTÁGIOS
PRECONCEITO E AUTOCONCEITO: Helena Cosia ae Frei/as· 248 pp
IDENTIOAUI:: 1:: IN 11::HAÇÃO NASALA OE AULA
Ivone Martins de Oliveifa • 120 pp TRABALHO OOCENTC, CLASSE SOCIAL
C nctAÇÓC$ DE GÊNERO
Álvaro Luiz M. Hypolito • 120 pp
PROFESSOR: AGENTE DA EOUCAÇAO?
Renato Luiz Wenzel • 120 pp TRARAI HO ESCOLAR E CONSELHO OE CLASSE
Ángela I.L. de Freitas Dalben · 208 pp
1 PROFESSOR DE 19 GRAU:
IDENTIDADE EM JOGO A TRANSMISSÃO DO GONHt:(;IMtN ro
Ezequiel Theodoro da Silva • 132 pp E O ENSINO NU TURNO
Maria Bemarclete s.c. Caporatini • 204 µp
O PROFFSSOR OE EDUCAÇÃO FÍSICA
UMA ESCOLA SCM/COM FUTURO
E A CONSTRUÇÃO DO SABER Nelson De Luoa Prctto · 248 PP
Cecília M. Ferreira Borges
UNIVERSIDADE À NOITF.: FIM OU
O PROFESSOR EM CONSTRUÇÃO COMEÇO DE JORNADA?
Maria da Glória flimentel • 96 pp Maria Éugênia Castanho - 128 pp
UNIVtHSIOAOE FUTU~NTE: PRODUÇÃO
PROJETO POLÍTICO-PFnAr,ó~1r,o DA ESCOLA:
DO ENSINO E lNOVAÇAO
UMA CONSTRUÇÃO POSSÍVEL Dcni$o 8.C. Leite
llma Passos de A. Veiga (org.) - 192 pp Marftia Morosini (oros.J · 200 PP
QUAL A SUA FORMAÇÃO, PROFESSOR? UNIVERSIDADE PÚBLICA: Pülh ICA,
Ana C. Baptiste/la de óliveira - 256 pp DESEMPENHO, PERSPECTIVAS
Jacques Velloso (org.) · 256 pp
A RECONSTRUÇ~O DA DIDÁTICA: .
ELEMENTOS TEORICO-METOOOLOGICOS VIOI. F.NCIA E EDUCAÇÃO
Maria Rita N. Sales Oliveira - 172 pp Regis de Morais· 136 pp
Outros títulos da Papirús

Administração educacional: Um
con1promisso dernocrático
Dirce Mendes da Fonseca (org.)

Cidadania e educação
Luis Albala-Bertrand (org .)

Desmistificando a
profissionalização do rnagistério
lima Passos A. Veiga
Maria Isabel da Cunha (orgs.)

Docência na universidade
Marcos Masetto (org.)
Educação e desenvolvimento
Pedro Demo
Educação para uma sociedade
em transição
Ubiratan D'Ambrosio

Gestão democrática na escola


Dinair Leal da Hora

Municipalização da educação
Ivo J osé Both

Poder e cidadania
1-'aulo Martinez

Representação social e educação


Nilda Teves
Mary Rangel (orgs.)

Solicite catálogo
Caixa Postal 736
13001 -970 - Campinas-SP
papirus @lexxa.com.br
http://www.papirus.com .br

Você também pode gostar