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Resumo
Apresenta como objetivo geral investigar o processo mental de generalização e
abstração em 35 alunos com necessidades educacionais especiais que freqüentam
serviços de apoio à aprendizagem em uma escola da rede estadual da região noroeste do
Paraná. Esta pesquisa qualitativa discute a formação do conceito científico e duas das
principais operações racionais do pensamento: a comparação e a generalização e
abstração. Os resultados exibem que os alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem menos significativas demonstram melhor desenvolvimento intelectual
destas funções psicológicas. No teste de agrupamentos e classificação o conceito
espontâneo, vinculado ao cotidiano prático, determinou a classificação situacional das
palavras, 30 dos 35 participantes, somente chegaram à classificação taxonômica com a
intervenção do pesquisador. No teste de detecção de semelhança somente 9 dos 35
sujeitos determinaram uma única categoria para dois objetos. Conclui que em ambos os
testes a mediação foi, em essência, o que determinou a apropriação dos conceitos
marcando que o contexto escolar, por meio das relações que o estabelecem, promove a
passagem dos conceitos espontâneos aos conceitos científicos.
Introdução
As discussões de Góes (2002, p. 108) trazem que “a inclusão social está explicitamente
em pauta”; Capellini e Mendes (2003, p. 143) afirmam que “a inclusão é um processo
mundial que se apresenta para a sociedade [...]”, neste contexto, a escola está inserida
não como a principal instituição deste momento histórico e social, mas, como um
coadjuvante deste processo. Para garantir que a escola seja inclusiva e que não seja a
mesma escola para todos é indispensável compreender as especificidades do aluno
incluso, para assim, oferecer as condições diferenciadas para o seu desenvolvimento e
educação (GÓES, 2002; TORRES-GONZÁLEZ, 2002; MANTOAN, 2008).
Metodologia
De acordo com Severino (2007) trata-se de uma pesquisa de campo do tipo exploratória.
Em relação à técnica de investigação colhemos as informações por meio de entrevista,
que foram gravadas e transcritas em notas de campo. A orientação das perguntas seguia
uma ordem estabelecida baseando-se nos registros da pesquisa original de Luria (1990).
Sujeitos
Participaram deste estudo 35 alunos do Ensino Fundamental, com idade entre 8 e 17
anos. Foram selecionados os participantes que são atendidos pelos programas de apoio à
aprendizagem desenvolvido na unidade escolar. Estes programas de apoio referem-se a:
Serviço Especializado – Classe Especial (PARANÁ, 2003); Serviço de Apoio
Apresentam
Diagnóstico
reprova
Nº de Dificuldades
Programa de atendimento Egresso Distúrbio de
alunos de
D. I. de Classe TDAH Leitura ou Sim Não
Especial Escrita aprendizagem
Classe Especial 6 6 0 0 0 0 6 0
Sala de Apoio 1ª a 4ª séries 5 0 0 0 0 5 3 2
Sala de Apoio 5ª série 9 0 0 0 0 9 4 5
Sala de Recursos de 5ª a 8ª s. 15 4 6 3 2 0 15 0
Legenda: D. I.: Desenvolvimento intelectual abaixo da média; TDHA: Transtorno de déficit de Atenção por Hiperatividade.
Quadro 1 – Caracterização dos participantes do estudo (N=35).
Local
O estudo foi desenvolvido em uma escola da Rede Estadual do Estado do Paraná, que
atende alunos oriundos da região central e da periferia da cidade de Maringá. Os testes
foram aplicados individualmente no contexto escolar, em contra-turno da matrícula, em
uma sala reservada de modo a oferecer condições de concentração e foco na atividade.
Sujeito J. 13 anos, cursa a 6ª série e há dois anos recebe atendimento na Sala de Recursos.
P: O que o cachorro e o peixe têm em comum?
S: O peixe gosta de água e o cachorro não gosta muito.
P: Mas, esta é uma diferença entre eles.
S: O cachorro cuida do gato para ele não comer o peixe.
P: Esta é uma condição prática. Eu quero que você identifique uma característica que é igual tanto para
o peixe quanto para o cachorro.
S: Os olhos.
P: Pense bem.
S: Os olhos e a boca.
Predominam as características físicas dos animais.
P: Tente me explicar o que é o peixe?
S: O peixe é um animal.
P: E o que é o cachorro?
S: O cachorro é um mamífero porque ele mama na mãe dele.
Ser vivo
Canidae
Tobi Coordenadas
(nome do cão) Amplitude conceitual
Quadro 5 – Movimento do Pensamento
Fonte: Adaptado de Luria (1994).
O melhor índice de desempenho, quatro entre nove sujeitos, ocorreu no grupo de alunos
que apresentam menores dificuldades de aprendizagem. Conforme os estudos originais
de Luria (1990, p. 108) “é muito mais difícil estabelecer uma semelhança entre os
objetos (particularmente quando ela não é perceptível a partir das impressões
imediatas). Na medida em que isso implica uma capacidade de isolar e comparar
atributos [...]”. A dificuldade demonstrada pelos dados desta pesquisa consistiu em
desprezar as características físicas estigmatizadas na diferença entre eles. Houve um
grande esforço dos entrevistados em atribuir a semelhança em alguns detalhes como: os
olhos, a boca, até nariz e orelhas foram citados. Quando dirigidos a se concentrar nas
semelhanças retomavam a ênfase nas diferenças, com exceção dos nove entrevistados,
os demais apresentaram uma infinidade de possibilidades que não categorizam o
cachorro e o peixe em uma única situação. Os dados revelam que a mediação foi
essencial para o bom êxito na detecção das semelhanças.
Conclusão
Esta investigação se baseou nos métodos de estudos psicológicos dos conceitos
realizados por Luria (1994). Os dados revelados exibem que dos trinta e cinco sujeitos
entrevistados apenas cinco realizaram com autonomia a classificação categorial na
aplicação do primeiro teste, os outros trinta só a obtiveram após a mediação do
Neste sentido, cabe à escola realizar um trabalho pedagógico organizado e voltado para
a promoção do pensamento conceitual de alunos com necessidades educacionais
especiais.
Referências
PARANÁ (Estado). Deliberação Nº. 02/03, 2 junho 2003. Fixa as normas para a
Educação Especial. Curitiba, 2003.
PARANÁ (Estado). Instrução Nº. 05/04, 7 maio 2004. Estabelece critérios para o
funcionamento da Sala de Recursos para o Ensino Fundamental de 5a. a 8a. séries, na
área da Deficiência Mental e Distúrbios de Aprendizagem. Curitiba, 2004.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e atual. São Paulo:
Cortez, 2007.