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terminam o colegial com a impressão de que entenderam alguma coisa.

Pura impressão, pois ele pensa


que estava na escola para compreender melhor as coisas. Isso é mentira, pura ilusão subjetiva.

Aluno: Na escola ele aprendeu muitas coisas também fora da aula, quer dizer [inaudível]...

Gugu: Exatamente, talvez também tenha aprendido a conviver com pessoas, tirar informações e
comunicá-las a elas.

Aluno: Apenas porque a escola está no mundo e não porque é escola.

Gugu: Exatamente, se todos estivessem no campo trabalhando, teriam aprendido essa parte do mesmo
jeito. Procure o dilema dos bons professores: por um lado tem que preencher um currículo dizendo o que
o sujeito aprendeu; mas, na verdade, a grande luta é achar dois alunos que se interessaram por esse
assunto. Porque esse é o propósito da escola. Quando um aluno tem aulas com um professor bom, eles
cursarão, na universidade, a mesma matéria que o professor ensina - ele usou os alunos, todas as aulas
foram uma perda de tempo. É ou não é?

Aluno: É, ele vai sair dali repetindo elementos do crédulo.

Gugu: Exatamente. O aluno acredita ter saído com conhecimento, mas isso é uma piada. Se o mundo
estivesse tão cheio de sábios assim, seria um lugar maravilhoso - todo mundo entenderia os seres vivos,
os elementos... Poxa vida! Um dos maiores prejuízos, uma das primeiras reclamações que os pais faziam
sobre a escola - quando esta passou a ser obrigatória - era que os filhos começaram a ficar metidos e a
pensar que sabiam mais do que os pais sobre a vida, a humanidade e etc. Antes, ninguém se arrogava o
direito de chegar e dizer para um advogado que sabia mais do que ele. Se ele havia estudado dez anos e
trabalhado na área por mais vinte, ele sabia mais que você naquilo. Isso não era arrogância, mas um fato.
Agora, o sujeito que passa em uma prova de química não tem razão de ser metido.

Quem duvida, pegue algo em que é bom. A matemática, por exemplo. Coloque uma placa na porta da sua
casa com o escrito: “Dou aulas de matemática para o segundo grau”. Comece a dar aulas para você ver.
Tive alunos assim... Um deles veio com o seguinte problema: “Dado cinco pontos num plano cartesiano,
calcule a área do pentágono inscrito.” Ele dizia não entender como o cálculo deveria ser feito. Perguntei:
“Quais são as coordenadas dos pontos? O que é um plano cartesiano? O que é um pentágono?”
“Pentágono é um triângulo de cinco lados!” “Só que é o seguinte: como é que você chegou ao grau em
que está, como você está estudando o cálculo de áreas a partir de coordenadas de um plano cartesiano se
você não sabe essas coisas?” Essa era uma formulação para se ter no primeiro ano de geometria. Ou seja,
ele não havia aprendido nada. E mesmo o cara que estudou direitinho ainda não sabe nada. No máximo
foi despertado um interesse em estudar aquela ciência ou arte. Os dados todos que vocês aprenderam na
escola não valem nada, não devem ser levados em conta, pois não serão úteis para você aqui.

Na segunda vez que demos o curso de astrologia, um dos alunos havia participado de um clube amador de
astronomia - tinha estudado bastante astronomia até. Em certo momento eu estava explicando e comentei
sobre a variação do dia e da noite. Então ele disse: “Mas o dia mesmo não varia.” Perguntei: “Como
assim? De que dia você está falando? O dia varia sim.” Então ele disse que os dias tinham sempre vinte e
quatro horas. Eu: “Não. O que é vinte e quatro horas? O dia de vinte e quatro horas é uma abstração
mental que nós inventamos, não existe dia de vinte e quatro horas.”

Aluno: Na Noruega os dias duram menos.

Gugu: Isso aí ele entendia – que a relação entre noite e dia é variável, podendo a duração da noite, por
exemplo, ser maior ou menor do que a do dia. Então continuei: “Mas, cara, você não é do clube de
astronomia? Você não conhece a equação do centro? A equação do tempo?” Ele: “Não, o que é isso?” Eu:
“Caramba, que diabo de astronomia você estudou? A equação do tempo! Ela é assim... Todo dia o Sol
passa pelo meridiano, que é uma linha imaginária que vai do norte ao sul. Isso ai é o meio dia local. Qual
a diferença entre o meio dia local e o meio dia médio? Se o Sol fosse uma bolinha que girasse em torno
da terra e fizesse um círculo pelo equador regularmente...” Daí ele: “O do relógio?” Eu: “Não, o relógio é
feito para reproduzir o mais próximo possível o dia médio - que é essa abstração matemática. Mas você
não precisa usar um relógio, porque ele não mede exatamente o dia médio.” Tudo isso são dados da
astronomia.

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