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Gugu: Exatamente. Ele viaja no simbolismo.

Então, corremos muito esse risco [de nos apegarmos ao


simbolismo]. Se eu perceber isso, vocês voltarão para o trabalho de quebrar pedra. Por que é quebrar
pedra? Porque a mente humana não gosta de fazer [a depuração dialética], não é uma atividade
espontânea da mente humana; é uma habilidade que deve ser treinada.

Aluno: Isso porque a tendência do sujeito é ficar preso nesse conceito que o sujeito aprendeu na escola e
carrega com ele a vida inteira, não é?

Gugu: É lógico! A escola é autoridade; é a igreja que existia há quinhentos anos. “Eu tinha senso crítico
com seis anos de idade, ouvia os professores...” Você não tinha senso crítico, era pura lavagem cerebral.
Ou você acreditava que eles eram uma autoridade, ou não estava nem aí [para eles]. “O negócio é que na
hora do recreio dá para a gente jogar bola...” Se você alguma vez prestou um pouco de atenção naquilo
[que o professor dizia] não foi por senso crítico, foi porque pensava: “Espera aí, vamos confiar, porque
esse cara pode saber algo que eu não sei, ele falou algo e parece mesmo que ele sabe.” A escola virou, na
infância, uma espécie de autoridade parecida com a autoridade dos pais. “Meu pai falou que só posso
brincar na rua até as oito e que eu tenho que ir para a escola; e o professor falou que a Terra gira em torno
do Sol.” Está tudo dentro da mesma categoria. Se a criança se interessa por alguma matéria, ela pode vir a
ter um interesse de pesquisa. Mas até chegar nesse ponto, toda informação que ela recebe é na base da
autoridade. Quando você pergunta: “O que é a Lua?” A sua mente não quer quebrar a casca da autoridade
[escolar] consolidada. Você pensa: “Eu já estudei isso. Encheu o meu saco por tantos anos... Já aprendi
essa lição. Não venha perturbar essa zona da minha mente que já está pacificada. Tive que aturar isso tudo
e a minha recompensa é que eu sei o que é a Lua, sei o que é química...” Perceba que você tinha a
mentalidade infantil naquela época. E você não tinha a mentalidade infantil por um defeito; é que você
era criança, você era infantil. Depois disso você cresceu e adquiriu algum senso crítico, senso de juízo,
alguma autonomia interior - somente depois dos vinte anos (ou mais) você adquiriu essa autonomia. Mas
quando você a adquiri [a autonomia interior], pensa que ela se aplica retroativamente a todas as
informações que você recebeu antes de maneira automática. Porém, não é o que acontece. “Acho que os
políticos e os professores são gente como eu, eles não estão entendendo é nada.” Antes de entender isso,
você recebeu muitas de informações que não receberam esse filtro e que foram aceitas. Essa é a pedra que
terá que ser quebrada; e a mente não quer fazê-la. “Fiquei onze anos na escola obedecendo alguém só
para escolher uma profissão?” Sim!

Aluno: Pense pelo lado positivo: a culpa não foi sua.

Gugu: Aceite esse fato agora, pode chorar em casa depois. Esse é um fato real da vida, aceite.

Aluno: Você não terá como fingir que está quebrando aquilo para, ao mesmo tempo, conviver com essas
duas concepções diferentes. Você terá que sinceramente saber... “Realmente, isso não tem nada a ver...
Mas não jogarei isso aqui fora, deixarei guardado na gaveta; e se um dia eu achar que estou ficando louco
volto para lá.”

Gugu: Realmente, o sujeito pode fazer isso; mas o professor saberá que é isso que ele está fazendo. Ele [o
professor] saberá porque, supondo que explique uma coisa hoje - como isso daqui se trata de um processo
de educação a cerca de um assunto -, daqui a seis meses ele levantará um tema que dependerá do sujeito
ter feito esse trabalho nos seis meses anteriores. Aí o indivíduo fará a mesma pergunta que havia feito há
seis meses atrás. E o professor saberá que ele não está fazendo esse trabalho corretamente. Conhecimento
é algo que você ganha pelo que você faz.

Aluno: [Inaudível].

Gugu: Todo ano meus pais tinham que ir à escola para dizer o seguinte: “Você não vai reprovar o meu
filho por faltas.” Pois nós sempre estourávamos o número de faltas.

Aluno: Naquela época, estourar de faltas era ter cem faltas no ano.

Gugu: Nos primeiros oito meses do ano não havia um dia em que pedíamos à nossa mãe para faltar à aula
que ela dizia “não”. No fim do ano eles diziam: “Não, agora é bom começar a freqüentar um pouco mais
para termos um argumento pelo menos.” Tínhamos faltado metade do ano. Quanto às notas, se havia
alguma matéria que gostássemos, ela saía alta naturalmente. Não éramos forçados a estudar para provas.

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