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ensinando

ensament

sabederia pråtica
Editora Elefante, 2o2o

Primeira edição, agosto de z020


Primeira reimpressão, janeiro de 2021
São Paulo, Brasil

Tíitulo original
Teaching Critical Thinking: Practical Wisdom, bell hooks
OAll rights reserved, 2010
Authorized translation from the English language edition published
by Routlegde, a member of the Taylor & Francis Group LLc.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cIP)


Angélica Ilacqua cRB-8/7o57

hooks, bell, 1952-


Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática /
bell hooks; tradução Bhuvi Libanio. São Paulo: Elefante, 2020.

288 p.

ISBN 978-65-87235-12-7

1. Educação 2. Ensino 3. Pedagogia crítica

4. Racismo 5. Pensamento crítico Estudo e ensino


. Título 11. Libanio, Bhuvi

CDD 370
20-2649

Indices para catálogo sistemático:


1. Educação

EDITORA ELEFANTE
editoraelefante.com.br
editoraelefante@gmail.com
fb.com/editoraelefante
@editoraelefante
ensinamento 1
0 pensamento
critico
Na capa da minha autobiografia, Bone Black,' há uma fotogra-

fia de quando eu tinha três ou quatro anos de idade. Estou


bíblicos de
segurando um brinquedo feito durante os estudos
brinco
férias, um livroem formato de pomba. Com frequência,
intitulada "um retrato
dizendo que essa fotografia poderia ser
minha versão de O pensador.
da intelectual quando garota"
-

retrato olha intensamente para o objeto em suas


A menina no
intensa.
estudo sobre concentração
mãos; sua expressão, um

ver a garota pensar. Consigo


Observando a fotografia, consigo
trabalhando.
ver s u a mente

Para todas as pessoas que pretendem


Pensar é uma ação.
laboratórios aandese vai
ker intelectuais, pensamentossão
o lugar onde se
encontrar respostas,
para formularperguntas e
do pensamento
crítico
unem visões de teoria e prática. O cerne

funcionamento
compreender o
é o anseio por saber- por o
predisposição para
da vida. Crianças têm, organicamente,

conhecido como "carvão de


(também
"carvão de osso"
2. Bone black, ou
de animais. E utiliza-
da queima de
ossos
resultante
animal"), é o resíduo para
descontaminação por
ou em processos
químicos
do como pigmento
absorção. [N.T.]

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as fronteiras de raça, clasce
pensamento crítico. Ultrapassando se

social, gênero e circunstäncia, crianças entram no mundo do

maravilhamento e da linguagem preenchidas pelo desejo por


conhecimento. Algumas vezes, elas anseiam tanto por conhe
cimento que se tornam interrogadoras incansaveis- exigem

saber quem, o quê, quando, onde e o porquë da vida. Em busca


de respostas, aprendem, quase instintivamente, a pensar.
Infelizmente, a paixo das crianças por pensar termina, com
frequência, quando se deparam com um mundo que busca edu-
cá-las somente para a conformidade e a obediência. A maioria
delas é ensinada desde cedo que pensar é perigoso. É lamentável
o fato de que essas crianças param de gostar do processo de
pensar e começam a ter medo da mente pensante. Seja em casa,

com pais e mes que ensinam (de acordo com um modelo de


disciplinae castigo) que é melhor escolher obediência em vez de
consciência de si mesmo
autodeterminação, seja em escolas
e

onde o pensamento independente não é um comportamento


aceitável, a maioria das crianças em nossa nação
aprende ia
suprimir da memória a lembrança do pensamento como
atividade apaixonante umaa
e
prazerosa.
Quando estudantes entram nas salas de aula da faculda-
os

de, a maioria deles s


já tem pavor de pensar. Os estudantes
padecem desse medo vão às aulas que
que não será necessário
supondo, com frequência,
pensar, que tudo
fazer é consumir
o que
precisarao
informação e regurgitá-la nos momentos
apropriados. Ao ascender nos
nosuperior, mais uma vez osespaços tradicionais do ensi-
mundo onde o pensamento estudantes se veem em um.
Felizmente, há salas de independente não é incentivagdo
aula onde
tem por determinados professores
objetivo educar como prática da liberdade. Nesses
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espaços, o pensamento, mais especificamente o pensamento

crítico, éo que importa.


Estudantes não se tornam pensadores críticos da noite
para
o dia. Primeiro, eles precisam aprender a aceitara alegria eeo
Y}poder do pensar propriamente dito. A pedagogia engajada é
uma estratégia de ensino que tem por objetivo recuperar a von-
A p e
d a

tade dos estudantes de pensarea vontade de alcançar a total


autorrealização. O foco central da pedagogia engajada é capa-
citar estudantes para pensar criticamente. No artigo "Critical
Thinking: Why Is It So Hard to Teach?" [Pensamento crítico:
por que é tão difícil ensiná-lo?], Daniel Willingham afirma que
o pensamento crítico consiste em

enxergar os dois lados de uma questão, estar aberto para novas


evidências que invalidam ideias imaturas, concluir com impar
cialidade, exigir que argumentos sejam fundamentados em evi-
dências, deduzir e inferir conclusöes a partir de fatos disponíveis,
ucionar problemas, e assim por diante

Em termos mais simples, o pensamento crítico envolve pri-


meiro descobrir o "quem", o "o quê", o 'quando", o "onde" e
o 'como das coisas-descobrir respostas para as infindáveis
perguntas da criança curiosa-e então utilizar o conhecimento
de modo a sermos capazes de determinar o que é mais impor-
tante. O educador Dennis Rader, autor de Learning Redefined
[O aprendizado redefinido), considera a capacidade de determi-
nar "o que é significativo" como o cerne do processo do pensa-
mento critico. No livro The Miniature Guide to Critical Thinking:
Concepts and Tools [Guia em miniatura para o pensamento
crítico: conceitos e ferramentas), Richard Paul e Linda Elder

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critico como
"a a
critico
arte
rte
deanalisar e
como

valiar
mento p r i m o r á - lo" Eles
ampliama
p e n s a m e n t o

a
aprimorá-lo".
definem objetivo
objeti de de ma
o p e n s a m c n t o
o com
com
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perIsamento
pensamento
crítico c
rítico como "autðno.
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do ee autocorretive
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a p r e s c n t a n d o

automonitorad
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autodisciplinado,

conscientemente sobre é un
mo,
o u pensar críticokPaulo
pensar,
sobre do p e n s a m e n t o
necessårio
componente

nos lembram que

a 0 propósito
apresen adoA

lucidcz quanto
têm
críticos
Pensadores
Eles
questionam foraçoes, conclu-
infe
questão.
em
pergunta para ser claros, acuradoss,
eà vista. Eles
sc esforçanm
de além do superficial,
e pontos
soes Buscam p e n s a r para
C r ucu y
relevantes.
habilidades na leitura
ura
e
precisos Utilizam
essas

ser lógicos e justos. escuta.


procuram
e na
como na tala
assim
escrita,
e na

interativo, queexigepar-
é um processo
crítico estudantes.
O
pensamento dos
quanto
professor de que
ticipação tanto
do a
compreensão
abrangem
definições forma
Todas essas d i s c e r n i m e n t o .
E uma

pensamento
críticorequer e n t e n d e r as
verdades

o objetivo
tem por superh-
abordar ideias que
verdade
a
de simplesmente
não
subjacentes,
e
motivos pelos quais
centrais, Um dos
mais óbvia. acadêmicos

cial que
talvez seja a nos
círculos
ficou tão popular muito,
com
desconstrução
a a pensar

é o fato de ela
ter
levado

crítico;
as pessoas

a
destrinchar; a
mergulhar
sob a
Mbrla
Aindaque muitos
senso
intensidade e
conhecimento.

trabalhar pelo intelectual ou aca


superficie; a realização
encontrem

críticos estudant
pensadores
não significa
que as
trabalho, isso aprendizado
dos
nesse
demica inequivocamente,
o
universal e
acolheram,

pensamento critico.
A maioria dos estudantes resiste processo do
ao
pensamen
to crítico; ficam mais à vontade com o aprendizado que lhes
permite permanecer passivos. O pensamento crítico exige que
todos os participantes do processo em sala de aula estejam
engajados. Professores que trabalham com zelo para ensinar
o pensamento crítico com frequência se desanimam quando
os estudantes resistem. Mas, quando o estudante aprende a
habilidade do pensamento crítico (e, em geral, são poucos os
que aprendem), a experiência é verdadeiramente recompensa-
dora para ambas as partes. Quando ensino estudantes a serem
pensadores críticos, espero compartilhar, servindo de exemplo,
o prazer de trabalhar com ideias e o prazer do pensamento
como ação.
Manter a mente aberta é uma exigência essencial do pensa-
mento crítico. Com frequência, falo de aberturaradical, porque
ficou nítido para mim, depois de anos em espaços acadêmicos,
que é fácil demaisse apegar ao próprio ponto de vistae protegê-
Ho, descartando outras perspectivas. Grande parte da formação
acadêmica incentiva os professores a acreditar que devem estar
"certos" o tempo todo. Em vez disso, proponho que os professo-
res estejam abertos o tempo todo, e devemos estar dispostos a

reconhecer o que não sabemos. Um compromissoradical com


a abertura mantém a integridadedoprocesso dopensamenta
crítico e seu papel essencial na educação. Esse compromisso
exige muita coragem e imaginação. Em From Critical Thinking
to Argument: A Portable Guide [Do pensamento crítico ao argu-
mento: um guia portátil], os autores Sylvan Barnet e Hugo
Bedau ressaltam que "o pensamentocrítico exige denós o uso_
de nossaimaginação,enxergandoascoisas de pontos de vista
diferentes do nosso, prevendo as consequências prováveis do

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nosso posicionamento. Portanto, o pensamento
crítico nãc
faz exigências apenas aos estudantes, mas também
nrofessores demonstrem por meio de exemplos que aprendi
pede gue
iza-
do ativo significaque não é possível todos nós estarmo ertos
em todos os momentos e que a forma do conhecimento está

emconstante mudança.
O aspecto mais empolgante do pensamento crítico na sala
de aula é que ele pede a iniciativa de todas as pessoas, convidan.
an-
do ativamente todos os estudantes a pensar com intensidade e
a compartilhar ideias de forma intensa e aberta. Quando todas
as pessoas na sala de aula, professores e estudantes, reconhe
cem que são responsáveis por criar juntos uma comunidade
de aprendizagem, o aprendizado atinge o m ximo de sentidoe
utilidade. Em uma comunidade de aprendizagem assim, não há
fracasso. Todas as pessoas participam e compartilham os recur-
sos necessários a cada momento, para garantir que deixemos a
sala de aula sabendo que o pensamento crítico nos empodera.

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