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Economia da Saúde

Pedro Pita Barros


•  Economia  da  saúde  é  um  tema  demasiado  
amplo  
•  Vamos  tratar  apenas  de  um  aspecto  –  
importante,  mas  apenas  um:  
•  Sustentabilidade  financeira  do  Serviço  
Nacional  de  Saúde    
•  O  que  dá  uma  ligação  à  mesa  redonda  
seguinte  
Figura 1.1. O diagrama de Williams

A: Saúde: O que influencia a


saúde? Padrão de consumo;
educação; rendimento, etc...

B: O que é saúde? Qual o seu


valor? Atributos apercebidos
da saúde; índices do estado de
saúde; valor da vida; escala de
utilidade para medir o valor
da saúde F: Equilíbrio de
mercado: preços
monetários e não
E: avaliação microeconómica ao C: Procura de cuidados monetários;
nível do tratamento. Análises médicos. Influências de listas de espera;
custo-efectividade; análise custo- A+B no comportamento racionamento
benefício de formas alternativas de procura de cuidados não preço como
de fornecer cuidados médicos médicos; barreiras ao mecanismo de
(lugar, tempo, quantidade; acesso (preço, tempo, equilíbrio.
detecção, diagnóstico, tratamento) formais); relação de
agencia; necessidade

D: oferta de cuidados
H: Planeamento, orçamento e médicos; custos de
mecanismos de monitorização; produção; tecnologias
avaliação dos instrumentos alternativas; substituição
disponíveis; normas; regulação; entre factores alternativos;
estruturas de incentivos remunerações e incentivos
geradas.

G: avaliação do sistema como um todo.


Critérios de equidade e de eficiência na
Fonte: Williams (1987) afectação de recursos. Comparações de
desempenho entre regiões e entre países.
•  Sustentabilidade voltou a ser um tema da moda
•  Mas cada um usa o entendimento que acha
apropriado
•  Não há qualquer garantia que estejamos a falar dos
mesmos assuntos
•  Necessidade de clarificar um pouco, antes de
avançar a discussão
•  Sustentabilidade
–  Técnica – ter a capacidade técnica de prestar os
cuidados de saúde necessários à população (exº: se
não houver médicos, não interessa quantos fundos se
tem…)
–  Financeira – de uma forma genérica “ter capacidade de
pagar os cuidados que querermos ter”
•  Sustentabilidade
–  Do Serviço Nacional de Saúde
–  Do sistema de saúde – que inclui mas não se limita ao
SNS
•  Em qualquer dos casos, a discussão de
sustentabilidade é sempre sobre o quanto estamos
dispostos a sacrificar de outros consumos para ter
mais cuidados de saúde
Circuíto simplificado

financia pagamen
€€€ mento   to  

€€€
popul presta
ação   Cuidados  de  saúde   ção  
•  Observação nº1: Sustentabilidade financeira
entendida como capacidade de pagar cuidados de
saúde não pode ser desligada das outras opções
de utilização do rendimento disponível
•  Quer se esteja a falar do sistema de saúde ou do
serviço nacional de saúde
Porquê se sente que é um
problema?
•  Crescimento das despesas em saúde
•  Menor crescimento recente do rendimento
disponível
•  Escolhas vão ser mais difíceis – percepção de
que será preciso abdicar de “algo” face ao
crescimento prevísivel das despesas em saúde
•  Vou-me centrar no Serviço Nacional de Saúde
Como medir sustentabilidade
financeira?
•  Não há um indicador universal
•  As afirmações baseiam-se muito em “impressões”
e na análise de um único indicador:
•  despesa pública em saúde / PIB
•  (ou despesa total em saúde/PIB)
Há sustentabilidade financeira?
cenário  1  
Rácio
35  
Despesa
pública em 30  
Saúde / PIB
(em %) 25  

20  

15  

10  

5  

0  
1980  1982  1984  1986  1988  1990  1992  1994  1996  1998  2000  2002  2004  2006  2008  2010  2012  2014  2016  2018  2020  2022  2024  2026  2028  2030  
Há sustentabilidade financeira?
cenário  2  
35  
Rácio
Despesa
30  
pública em
Saúde / PIB
25  
(em %)
20  

15  

10  

5  

0  
1980  1982  1984  1986  1988  1990  1992  1994  1996  1998  2000  2002  2004  2006  2008  2010  2012  2014  2016  2018  2020  2022  2024  2026  2028  2030  
Há sustentabilidade financeira?
35  

Rácio
30  
Despesa
pública em 25  
Saúde / PIB
(em %) 20  

15  

Olhar só para o valor


10  
absoluto em 2004 –
10% do PIB não dá
5  
informação suficiente
0  

cenário  2   cenário  1  
Rácio

(em %)
Despesa
pública em
Saúde / PIB

0  
5  
10  
15  
20  
25  

1980  
1981  
1982  
1983  
1984  
1985  
1986  
1987  
1988  
1989  
1990  
1991  
1992  
1993  
1994  

cenário  2  
1995  
1996  
1997  
1998  
1999  
2000  
cenário  1  

2001  
2002  
2003  
real  

2004  
2005  
2006  
2007  
O que é a realidade?

2008  
previsão  

2009  
2010  
2011  
2012  
2013  
2014  
2015  
2016  
histórico

2017  
Previsão
com base

2018  
no trajecto

2019  
2020  
Sustentabilidade financeira

•  Observação nº 2 – Para discutir a sustentabilidade


financeira seja do Serviço Nacional de Saúde seja
do sistema de saúde não se pode olhar apenas
para o valor num momento do tempo, tem que se
olhar para as taxas de crescimento
•  Observação nº 3 – se queremos alterar o padrão de
sustentabilidade financeira temos que actuar sobre
as taxas de crescimento
Sustentabilidade financeira do SNS

•  Definição: Existe sustentabilidade do financiamento


do Serviço Nacional de Saúde se o crescimento das
transferências do Orçamento do Estado para o SNS
não agravar o saldo das Administrações Públicas de
uma forma permanente, face ao valor de referência,
mantendo-se a evolução previsível das restantes
componentes do saldo.
(da Comissão para a Sustentabilidade Financeira do SNS)
Sustentabilidade financeira do SNS

•  De forma mais simples, existe sustentabilidade


financeira se for compatível com a evolução da outra
despesa pública e com a recolha de imposto que
cresce com o crescimento da economia
•  Hoje: crise => prestações sociais aumentam –
concorrência pelo espaço orçamental; actividade
económica reduzida – ainda menor espaço
orçamental => problemas conjunturais ou estruturais?
Situação actual
•  Dificuldades orçamentais exercem forte pressão
sobre a despesa em cuidados de saúde feita pelo
Estado
•  Pressão para medidas de efeito imediato
–  Medidas administrativas – perigos (com base na
experiência passada): descredibilização dos
mecanismos de controlo; acumular de dívidas;
reentrada nos ciclos de orçamentos rectificativos
Caminhos
•  Médio prazo
–  Actuar sobre mecanismos de crescimento da procura
–  Ajustar a oferta existente
•  Longo prazo
–  Promoção de hábitos saudáveis
–  Gestão da saúde
Que sabemos sobre médio prazo?
•  Procura de cuidados de saúde depende também do
rendimento – menor crescimento da economia,
menor pressão sobre os cuidados de saúde – mas
com desigualdades potenciais
•  Procura de cuidados de saúde depende pouco do
envelhecimento
•  Principal efeito no aumento de custos – nova
tecnologia
•  Interage com aumento de rendimento – populações
que se sentem mais ricas querem mais tecnologia
•  Parte substancial da inovação dirigida a população
idosa (mas é distinto to efeito demográfico puro)
•  Avaliação económicas das novas tecnologias –
análise custo – benefício (ou uma sua variante)
•  Significa que se for bem feita, introduzir vale mais
do que o respectivo custo de oportunidade – o
sacrificio de outros consumos
•  Voltamos ao inicio:
•  Observação 4 – se as intervenções e tecnologias
em saúde forem sujeitas a uma avaliação custo –
benefício adequada, então são financeiramente
sustentáveis por definição
•  (nota: se não houver recursos, o custo de oportunidade é muito
elevado, e logo não passa na avaliação)
•  Mas há muitos desvios e pontos do sistema onde
esta avaliação não é feita
•  Nesses pontos há que procurar melhorar
•  Exº: Medicamentos
–  Pelo facto de haver avaliação económica para a sua
introdução, e se for bem feita, não podem ser
considerados como pondo em causa a sustentabilidade
financeira
–  Mas se forem dados gratuitamente, estimula-se o seu
desperdício e neste aspecto vão contra a
sustentabilidade financeira
E no final?

•  Actualmente – pressão sobre SNS vem do espaço


orçamental
•  Procura de eficiência deve estar sempre presente
•  Identificar e actuar sobre os mecanismos que geram
aumentos de procura (desnecessários)
•  Deve ser uma preocupação constante, mas evitando
as medidas apressadas e de curto prazo
E no final?
•  Sustentabilidade financeira é um conceito que
obriga a pensar em termos dinâmicos: taxa de
crescimento e não nível da despesa
•  Soluções têm que passar por alterar taxa de
crescimento – se for só alterar nível, é apenas
“ganhar tempo”
•  Para cada solução, perguntar “como é que altera a
taxa de crescimento da despesa?”
•  E  para  a  Beira  Interior?  
–  Procurar  as  ineficiências  –  em  geral,  resolvê-­‐las  
poderá  melhorar  em  várias  dimensões  –  menos  
custos  mas  também  maior  equidade  e  acesso  
–  Questão:  sente-­‐se  que  uma  ULS  consegue  melhor  
arYculação  entre  cuidados?  
–  Questão:  qual  a  dimensão  críYca  para  ser  
eficiente  e  ter  qualidade  técnica?    -­‐  é  necessário  
concentrar  serviços  por  moYvo  de  qualidade?  
Como  pode  ser  transmiYdo  à  população,  mesmo  
que  a  distância  fisica  aumente  para  alguns?  
–  Questão:  quais  os  principais  obstáculos  para  que  
se  consiga  uma  dinâmica  mais  “sustentável”?  

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