Você está na página 1de 3

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Pós Graduação em Sustentabilidade Ambiental

Negócios de Impacto Ambiental e Social

Atividade 3: Resenha

Carolina Daemon Oliveira Pereira

1. Como sua cidade apoia os negócios de impacto social e ambiental?

Eu moro em um Estado rico com IDH alto e índices de violência e desemprego muito
baixos, Santa Catarina. Por coincidência, escrevi meu TCC na graduação em Pontos
Críticos da Cadeia de Suprimentos da Cooperativa de Reciclagem Local. Então, trago
minha experiência pessoal e acadêmica na área.
Apesar de carioca (nascida no RJ), moro atualmente em Blumenau, SC, município de
350.000 habitantes que conta com duas cooperativas de reciclagem, a que estudei foi a
RECIBLU, responsável por 90% da reciclagem dos resíduos locais. À época do
desenvolvimento do TCC, 2019, cada cooperado conseguia receber uma renda mensal
de 1,5 salários mínimos. A Cooperativa contava com imenso apoio da Prefeitura e
população local, que disciplinadamente tria seu lixo e o descarta nos dias certos da
coleta. A cultura de obediência às políticas públicas é muito forte na região,
notavelmente conhecida por seus mutirões organizados pela própria população para
pintar pontes e escolas públicas, limpar rios e manter o próprio bairro arborizado. Como
foram uma região um pouco esquecida e afastada do eixo RJ-SP, os próprios imigrantes
construíram essas cidades, abriram as estradas necessárias para suas fábricas e
plantações e como viria a acompanhar nos anos seguintes, a cultura local de
engajamento e cidadania se estabeleceu como uma regra seguida até pelas crianças.
Então, as políticas públicas acabam sendo um reflexo das necessidades reais daquela
população e não algo distante como eu realmente vi no RJ a maior parte da minha vida.
A população local de Blumenau, majoritariamente descendente desses primeiros
colonos tem muita consciência ambiental por ter uma relação próxima com a terra, já que
os primeiros que chegaram, ganharam uma gleba do Imperador e ficaram responsáveis
pela colonização da região. Mesmo entre as pessoas sem instrução, a noção de que o
esgoto não pode ser descartado in natura no rio, é forte. Ao mesmo tempo, a região é
muito industrializada, desenvolvida e como colocado com baixos índices de violência e
desemprego, o que fez em paralelo com que as muitas indústrias locais se certificassem
para as normas ISO (e então OHSAS) e toda a produção industrial seja segura e pouco
poluente, principalmente quando comparada aos rincões do interior brasileiro.
O que acaba acontecendo em todo o Vale do Itajaí é que as políticas públicas locais
são um reflexo sincero da cultura da região, que estimula esse engajamento por parte da
população.
2. Na sua opinião o uso intensivo de tecnologias pode resolver questões
socioambientais como a redução da desigualdade para buscar a questão da
Nova Agenda Urbana?

Ainda quando da elaboração desse mesmo TCC, entrevistei longamente o


responsável pela Cooperativa e o Gerente de Resíduos Sólidos da Companhia de
Águas e Esgotos local, Samae, que cede o terreno e é a maior parceira da Reciblu.
Pelo o que eu pude estudar, o maior gargalo em qualquer processo de reciclagem é
justamente a inexistência de novas tecnologias para reaproveitamento e
transformação de alguns resíduos específicos.
Mais uma vez, trago essa experiência e espero que a mesma contribua com a
discussão.
Grande parte dos resíduos triados atualmente, ainda que corretamente
descartados, não pode ser reciclado por falta de tecnologia. Um bom exemplo é o
saco de ração animal para cães e gatos vendido em supermercado. Segundo o
próprio responsável pela Reciblu, o saco de ração de cachorro é de um plástico
ultra resistente e ainda não existe tecnologia para reciclagem do mesmo. Como eu
tenho 2 cães, também pude observar que o plástico utilizado é mesmo muito mais
grosso justamente para evitar a degradação do produto, que é seco e não pode ter
contato com umidade para não apodrecer, além de não ser um produto
tradicionalmente acondicionado em boas condições, o que demanda essa
embalagem mais resistente. Outros resíduos que dificilmente são reciclados são as
latas de tinta usadas, fitas adesivas (durex, gomada etc), plástico filme, papel
celofane e metalizado, tubos de pasta de dente (uma liga composta de 2 materiais
plástico e alumínio), escovas de dente, esponjas de limpeza, vidros de esmalte etc.
Vou me ater então à apenas alguns exemplos que poderiam ser reciclados caso
as empresas produtoras cumprissem a Política Nacional de Resíduos Sólidos e
realmente se responsabilizassem pelas embalagens que produzem para faturar.
Latas de tintas usadas deveriam ser recolhidas pelos fabricantes após a
população descartar em supermercados e lojas de material de construção, as
mesmas seriam reaproveitadas para revenda de novas tintas após devidamente
higienizadas com removedor. O mesmo se aplica aos vidros de esmalte, que devem
ser higienizados com removedor antes de acondicionar novas cores.
Os tubos de pasta de dentes podem ser revendidos pelas cooperativas de
catadores às fábricas de telhas e placas do material prensado, substituindo com
imensa vantagem os antigos telhados de zinco e amianto, um material cancerígeno
e proibido em muitos países.
Esponjas de limpeza e escovas de dentes não reciclam, mas podem ser usadas
reaproveitadas como matéria prima na elaboração de novas ligas plásticas e até
como entulho sustentável ou na elaboração de ecotijolos de entulho reciclado.
3. Qual o perfil de liderança você acha adequado para dar conta de ESG e
RSC? E o líder para o governo?

O grande parceiro do livre mercado é sempre o setor público, a iniciativa


privada não caminha sem políticas públicas que permitam e norteiem suas ações.
Políticas públicas são basicamente tudo o que o Estado decide fazer pela
população, podem ser aprovadas após demanda popular ou não.
Nos últimos três anos, foram raras as vezes que o comandante de uma grande
companhia brasileira não fez um pronunciamento público sem citar, ao menos uma
vez, as letras ESG. A sigla em inglês para meio ambiente, ação social e governança
substituiu, no mundo corporativo, o termo sustentabilidade, bastante usado desde
os anos 2000 para resumir a responsabilidade social e ambiental. Com isso, na nova
sigla, o E e o S que correspondem a essas ideias são facilmente entendidos pelo
público geral. Mas o terceiro pilar, o G, mais afeito aos bastidores corporativos, é
mais complexo — e, na maioria das vezes, o mais importante. “A governança é o fio
condutor para que essa nova cultura de compromisso que vai além dos negócios
seja incorporada de fato nas empresas”, explica Luiz Martha, responsável por
pesquisa e conteúdo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
O conceito envolve a estruturação de comitês, conselhos e controles para a
equipe de gestão administrar a rotina empresarial e conferir transparência a suas
decisões e resultados. E, nessa linha, avança em paralelo a outro conceito, o de
compliance, que significa cumprimento às regras, sejam ambientais, sociais ou
éticas. É justamente essa conduta que reduz as chances de as companhias se
exporem a riscos e escândalos que impliquem danos para suas marcas e reputação
— e prejuízo aos acionistas e investidores.
Acredito que líderes, independente da área, devam ser antes de tudo
acessíveis, pessoas que acima de qualquer circunstância, escutam e ponderam.
Se não for acessível, não é líder, é chefe. E quem se subordina à chefe, se
preocupa em bater o ponto e não ser demitido. Enfim, a equipe não se engaja e os
resultados não aparecem.
Além das questões corporativas, a pessoa deve gostar do assunto, porque não
pode ser greenwashing, tem que ser sincero justamente para cumprir com um
compromisso que não é individual, mas coletivo.
Enfim, eu acredito que o líder nas áreas deve ter um perfil multidisciplinar,
alguém que dialogue e transite bem em vários setores, porque vai precisar ouvir e
ter empatia para se colocar no lugar de profissionais com perfis muito distintos, até
sem instrução alguma. Particularmente, defendo que em qualquer atividade de
laboral, os atores devam ter a experiência do trabalho de campo, isso também é
insubstituível justamente pelas demandas técnicas e muitas vezes inéditas.
De resto, liderança, seja em que área for, é um exercício diário de humildade,
disciplina e perseverança.

Fontes de consulta:
https://veja.abril.com.br/economia/um-bom-negocio-cresce-a-preocupacao-
das-empresas-com-governanca/

Você também pode gostar