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O MESTRE IGNORANTE

C I N C O L I Ç Õ E S S O B R E A E M A N C I PA Ç Ã O I N T E L E C T UA L

JACQU ES RA N CÌ ERE

PATRÍCIA SANTOS DE OLIVEIRA


A LIÇÃO DO
IGNORANTE
A ILHA DO
L I V RO
O livro

TELÊMACO

"As Aventuras de
Telêmaco" é um romance
escrito por François
Fénelon no final do século
XVII.

Telêmaco na ilha de Calipso - Richard Westall


O livro

TELÊMACO
É uma obra de ficção que
conta a história de
Telêmaco, filho de Odisseu
da mitologia grega, e sua
jornada em busca de seu
pai, sua identidade e seu
lugar no mundo.

Telêmaco na ilha de Calipso - Richard Westall


TELÊMACO

Um livro que é um todo; com ele é


possível associar tudo o que se possa
aprender de novo;
O livro Dele é possível compreender cada
uma dessas novas coisas, encontrar os
meios de dizer:
O que se vê, o que se pensa
disso, o que se faz com isso.

ENSINO UNIVERSAL
Ensino Universal

O que se vê, o que se pensa disso, o que se faz com isso.

É necessário adquirir conhecimento em uma ampla variedade


de assuntos e aplicar esse aprendizado em relação a tudo o mais.

Primeiro Passo: APRENDER QUALQUER COISA


É preciso aprender tal coisa, e
depois tal outra e ainda uma outra
tal.

OS PRINCÍPIOS
O Velho Seleção, progressão, incompletude.

Alguns: Elementos, regras, trechos,


exercícios.
Outros: Elementos, regras, trechos,
exercícios.
O livro nunca está inteiro
a lição jamais acabada.

– Entendi isso, diz o aluno, satisfeito.


– Isso é oque você pensa, corrige o mestre. Na verdade, há uma
dificuldade de que, até aqui, eu o poupei. Ela será explicada quando
chegarmos a lição correspondente.
– O que quer dizer isso? pergunta o aluno, curioso.
– Eu poderia lhe explicar, responde o mestre, mas seria prematuro: você
não entenderia. Isso lhe será explicado no ano que vem.”
“Assim, Aquiles
triunfante passeia, em
torno de Tróia, com o
cadáver de Heitor
amarrado à sua
carruagem.”
Pequeno Cavalheiro

Algo lhe foi Ele pode


Ele aprendeu
ensinado esquecer.

Enquanto ele avança, um abismo de ignorância é criado atrás dele.


No entanto, essa ignorância é a dos outros a partir de agora.
O que ele esqueceu, ele superou.
A “Virtude” dos Explicadores

Inferiorizam para manter sua superioridade.

Se comove com a ignorância e trabalha para a


instrução dos menores.

Mas, se ele é devotado, ele saberá que há


um tipo de explicações adaptado para
cada categoria, na hierarquia das
inteligências:
ele buscará se colocara seu nível.
O Fundador
“Como compreenderia eu saber o que está escrito no livro?
– Da forma como compreendeste todas as coisas, até aqui: comparando
dois fatos.”

Primeiro fato: a primeira frase do livro.


Segundo fato: as palavras estão escritas aí.

Se sabe ver, sabe falar, sabe mostrar, se podes lembrar.


É um ser pensante.
O livro, está pronto e acabado
O mestre nada pode subtrair.
Não é necessário compreender.
Tudo está no livro.
Nada há de escondido, não há palavras por trás das palavras.

Dele é possível dizer: as aventuras, as lições. Ou mesmo que seja pra dizer:
“eu não sei”. Que possa dizer ao modo de Calipso, de Telêmaco.

O outro círculo já foi começado, o da potência.


O estudante é responsável por observar tudo por conta própria, realizar
comparações constantes e estar sempre pronto para responder às questões:

O QUE VÊS?
O QUE PENSAS DISSO?
O QUE FAZES COM ISSO?

Fazê-lo até o infinito.


Memória e Inteligência

O Velho não consegue ver o poder da inteligência humana.


Hierarquia de inteligências: crê em inferiores e superiores.

• Há etapas no desenvolvimento da inteligência;


• A inteligência da criança é diferente da do adulto;
• Não se sobrecarregar a inteligência da criança.

Isso é o suficiente para se manter a hierarquia das inteligências.


A Ilha do Livro
“O livro é uma fuga bloqueada: não se
sabe que caminho traçará o aluno, mas
sabe-se de onde ele não sairá – do
exercício de sua liberdade.”
Obrigada!

Referências

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante . Cinco lições sobre emancipação intelectual,


Trad. Lílian do Valle. Autêntica: Belo Horizonte, 2002.

BRITO, Tarsilla C. “ As Aventuras de Telêmaco: História Crítica e Releituras” , Revista


Criação & Crítica (online), n. 3, p.33-45, 2009.

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