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RAFAEL DE LAZARI

CESAR AUGUSTO ARTUSI BABLER


VIVIANE DE ARRUDA PESSOA OLIVEIRA
MARIA CAROLINA GERVÁSIO ANGELINI DE MARTINI

DIREITOS HUMANOS
UNIDADE 2

DIREITOS HUMANOS NA HISTÓRIA


DA SOCIEDADE

1 DIREITOS HUMANOS E SUA TERMINOLOGIA


Os Direitos Humanos são inerentes à sociedade. Desde que as pessoas convivem entre
si, códigos regulatórios (não necessariamente escritos) se fazem necessários. Com os
Direitos Humanos a lógica é, rigorosamente, a mesma: eles começam como direitos ine-
rentes ao homem e, gradativamente, fixam-se em documentos escritos (são positivados,
portanto), que ajudam a mantê-los na História. Neste material, serão vistas: percepções
formais e materiais dos Direitos Humanos, bem como as suas gerações (ou dimensões).

A terminologia “Direitos Humanos” serve, meramente, para fins de etiquetamento, que,


com finalidades formais, refere-se ao conjunto de normas, institutos e sistemas aptos a
protegerem a dignidade humana. Ainda para fins formais, os Direitos Humanos são um
“braço”, ou melhor, vertentes do Direito, tal como o são o Direito Civil, o Direito Penal, o
Direito Constitucional, o Direito do Trabalho etc.

Recomenda-se uma percepção dos Direitos Humanos pelo aspecto material, entretanto.
Não que a percepção formal esteja errada (pelo contrário, é bastante correta). Mas, a per-
cepção material é aquela que permite compreender para que servem os Direitos Humanos.

1.1 PRIMEIRO ASPECTO MATERIAL: DIREITOS HUMANOS E SUA


INTERDISCIPLINARIDADE
Por um prisma material, em primeira análise, pode-se verificar que os Direitos Humanos
não são restritos ao ambiente jurídico. Há forte multidisciplinaridade em torno da
temática. Da mesma maneira que um operador do Direito atua em sede de Direitos Hu-
manos, assim também o fazem Físicos, Matemáticos, Biólogos, Filósofos, Políticos etc.

Toma-se como exemplo os avanços da Ciência, que permitem que em um solo climati-
camente hostil “brotem alimentos” a moradores que, antes, sofriam com a fome e com
as secas. Ou, então, o desenvolvimento de purificadores portáteis de água, cada vez
mais eficazes, que conseguem combater doenças como a cólera. Ou, mesmo, as mo-
dernas técnicas de Engenharia que conseguem edificar casas com materiais de baixo
custo e alta durabilidade. Repare-se que tudo isso entra no conceito de Direitos Huma-
nos. Todas as vezes em que a dignidade das pessoas é assegurada, por qualquer que
seja o ramo da Ciência, aí estão os Direitos Humanos.

1.2 SEGUNDO ASPECTO MATERIAL: DIREITOS HUMANOS E


SUA DINAMICIDADE
Também pelo prisma material, é preciso lembrar que o conceito de Direitos Humanos é
dinâmico (e, não, estático).

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Direitos Humanos na história da sociedade U2

Todos os dias, ocorrem novas manifestações sociais, que desencadeiam novos


problemas, os quais, por sua vez, ensejam novas necessidades de proteção.

Há cinquenta ou sessenta anos, os Direitos Humanos se preocupavam mais com


questões atômicas, pois o mundo vivia bipartido pela Guerra Fria (de um lado esta-
vam os norte-americanos, do outro os soviéticos), ao passo que, nos dias de hoje, os
Direitos Humanos também precisam se preocupar com os avanços das redes sociais,
EXEMPLO

com a proteção de dados pessoais, com a disseminação de informações falsas, com


os riscos e benefícios da inteligência artificial etc.

O que há de interessante no exemplo acima? O fato de que, cinquenta anos atrás,


sequer se imaginava que um dia se viveria em uma sociedade da hiperexposição, de
modo que, de lá para cá, os Direitos Humanos precisaram evoluir para proteger, tam-
bém, tais novas necessidades.

Quanto a essa segunda abordagem material que se acaba de mencionar, juridicamen-


te, dão-se os nomes técnicos de historicidade/mobilidade/dinamismo (expressões
sinônimas), para designar uma disciplina que está, sempre, em movimento, com maior
ou menor velocidade.

1.3 TERCEIRO ASPECTO MATERIAL: DIREITOS HUMANOS E SUA


UNIVERSALIDADE
Finalmente, em última abordagem material, é preciso lembrar que os Direitos Humanos são
para todos, independentemente de suas crenças, etnias, ideologias, posicionamentos polí-
ticos ou condições financeiras. Isso remete a uma característica chamada universalidade.

A ideia é básica, mas precisa ser compreendida com cuidado: Direitos Humanos são
universais. Mas, a necessidade de cuidado decorre do fato de que indivíduos podem
estar em situação desigual. Há ricos e pobres no mundo; gente que vive em países
geograficamente estáveis e gente que vive em países que sofrem com vulcões e terre-
motos; pessoas que tiveram uma vida tranquila e pessoas que lidam com um histórico
de perseguições e discriminações negativas. Dessa maneira, exemplificativamente, é
preciso conferir doses especiais de proteção aos negros, índios, homossexuais, mulhe-
res e pessoas com deficiência, pois estes sempre tiveram de lidar com alguma situação
de diminuição da sua humanidade (enfim, conferir doses especiais de proteção a quem
está em situação desigual).

O termo técnico que se dá a essas “doses especiais” de proteção é igualdade subs-


tancial, que significa conferir tratamento jurídico pontual a quem sempre sofreu com
condições de desigualdade. Tratam-se de discriminações positivas, de ações afir-
mativas, de políticas inclusivas, que buscam reparar injustiças históricas praticadas
contra minorias e grupos vulneráveis. É por isso, dentre tantas ilustrações possíveis,
que existe um Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) ou uma Lei

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U2 Direitos Humanos na história da sociedade

Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), a saber, o fato de que, pessoas com deficiência
e mulheres em situação de violência doméstica/familiar, respectivamente, precisam de
uma atenção especial do Estado para que suas dignidades sejam protegidas (e, mais
do que isso, promovidas).

2 GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOS HUMANOS


Para lembrar quais são as gerações ou dimensões de Direitos Humanos, basta fazer
uma associação com o lema da Revolução Francesa: Liberté, Egalité, Fraternité (em
tradução livre, Liberdade, Igualdade e Fraternidade). Cada uma dessas palavras re-
monta a uma geração ou dimensão. A primeira geração corresponde aos direitos de Li-
berdade; a segunda geração corresponde aos direitos de Igualdade; a terceira geração,
por fim, corresponde aos direitos de Fraternidade.

É comum, além disso, que os livros de Direito tragam mais gerações para se referir
em democracia, informação, pluralismo, paz, água potável, informática, dentre tantos
outros. Essas outras gerações não são pacíficas, contudo, razão pela qual, aqui, con-
cerne-se, apenas, sobre as três que são absolutamente aceitas.

2.1 DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: LIBERDADE


A Liberdade é o princípio básico de todos os direitos (sejam eles humanos ou não).
Nele, engloba-se vários aspectos, como a liberdade de ir e vir; a liberdade de ter um
trabalho, ofício ou profissão; a liberdade de consciência e de crença; a liberdade de
definir um núcleo familiar; a liberdade de expressão; a liberdade artística etc.

Convém pensar, para facilitar a compreensão, no exemplo a seguir: a menos que haja
uma restrição de ordem pública, como aquelas decorrentes do enfrentamento da pan-
demia de Covid-19, todos são livres para ir e vir aonde quiserem, para entrar e sair do
país, dentre outros. Ou, então, um ser humano tem o livre direito a escolher sua religião,
a trocar de religião, bem como a não seguir qualquer religião.

A Liberdade, além disso, tem desdobramentos proibitivos, como a vedação da escra-


vidão, a vedação de que alguém seja preso ou privado de seus bens sem um devido
processo legal, dentre outros.

2.2 DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: IGUALDADE


Liberdade é essencial, mas, por si só, não é suficiente. É preciso que os direitos e deveres
sejam vividos em sociedade, nas suas múltiplas intensidades e variáveis. Posto de outro
modo, a cunho de exemplificação, um homem ou uma mulher, por exemplo, tem liberdade
para escolher um(a) companheiro(a) e, a partir disso, constituir uma família. Contudo, isso
não basta, se aqueles que compõem o núcleo familiar não puderem exercer, em igualda-
de de condições, a criação dos filhos. Ou, então, a todos os brasileiros são assegurados
os mesmos direitos políticos, com a ressalva de que alguns cargos eletivos são privativos
de brasileiros natos (como é o caso do cargo de Presidente da República).

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Direitos Humanos na história da sociedade U2

Em ambos os exemplos dados, verificam-se abordagens diferentes para a Igualdade.


No primeiro exemplo, trata-se da Igualdade formal (homem ou mulher, nas mesmas
condições, podem definir como será a educação de seus filhos). No segundo exemplo,
menciona-se a Igualdade material ou substancial (os cargos políticos são acessíveis
a todos os brasileiros, mas, para ser Presidente da República, o indivíduo deve ser bra-
sileiro nato, não se admitindo que o brasileiro naturalizado postule esse cargo).

2.3 DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: FRATERNIDADE


Liberdade e Igualdade são essenciais, mas, sozinhas, não bastam. É necessário lem-
brar que a vida em sociedade é, inevitavelmente, plural, diversificada. Em um am-
biente de trabalho, por exemplo, é comum que haja Católicos, Evangélicos, Espíritas,
Agnósticos etc. Do mesmo modo, é comum que haja pessoas “apartidárias”, “de direi-
ta”, “de esquerda”, “de centro” etc. E, para completar, é comum que estas preferências
sejam interligadas, havendo “Católicos de direita”, “Católicos de esquerda”, “Espíritas
apartidários”, “Evangélicos de centro” etc.

É aqui que entra a noção de Fraternidade. Não basta ser livre para escolher uma re-
ligião ou posicionamento, nem basta que as escolhas sejam feitas com igualdade,
se o indivíduo for incapaz de respeitar as escolhas alheias. Os direitos de Fraterni-
dade, por isso, pluralizam os Direitos Humanos, ao promoverem uma vivência cotidiana
dos mais diferentes tipos de escolha que os serem humanos podem fazer.

Como se pode observar, os Direitos Humanos observam um processo evolutivo cons-


tante. Eles evoluem junto com a sociedade. E, tão importante quanto, eles ajudam a
sociedade a evoluir. Trata-se de um processo de crescimento recíproco que permite à
disciplina ser plural, inclusiva e multidisciplinar.

MAPA CONCEITUAL

Há quem prefira a expressão “geração” de Direitos Humanos; por outro lado, há quem utilize
a expressão “dimensão” de Direitos Humanos. Para entender a diferença entre uma expres-
são e outra, convém trazer um singelo esquema.

Quando se trata de geração uma vem após a outra:

Figura 01. Gerações de Direitos Humanos

Primeira geração: Segunda geração: Terceira geração:

Liberdade Igualdade Fraternidade

Fonte: elaborada pelo próprio autor.

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U2 Direitos Humanos na história da sociedade

Quando se refere a dimensão, uma é somada à outra:

Figura 02. Dimensões de Direitos Humanos

Fraternidade

Igualdade

Liberdade

Fonte: elaborada pelo próprio autor.

A expressão dimensão parece mais interessante. Na verdade, os Direitos Humanos devem


ser somados e, não, substituídos (tal como ocorre com as gerações). Apesar de ser possível
encontrar nos livros quem fale, somente, em “gerações”, e quem fale, somente, em “dimen-
sões”, a segunda expressão é preferível, por ter um significado mais protetivo e abrangente.

Link

Recomenda-se a leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, um dos


documentos mais importante para a matéria (mas não do único, vale frisar), elaborado após
a Segunda Guerra Mundial, e que norteia todas as questões correlatas atuais.

Dados para acesso:

FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA – UNICEF.


Declaração Universal dos Direitos Humanos – adotada e proclamada pela As-
sembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217-A-III), em 10 de dezembro 1948.
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.
Acesso em: 31 out. 2021.

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Direitos Humanos na história da sociedade U2

Indicação de filme
A sugestão que se faz é do filme “Hotel Ruanda”, que descreve o conflito entre Tutsis e Hutus,
em Ruanda (país africano), e que encontrou o seu ápice em 1994. O filme é forte, marcante,
mas descreve o tipo de problema internacional que pode ocorrer quando se tem o desrespei-
to sistemático aos Direitos Humanos.

Dados do filme:

HOTEL Ruanda. Hotel Rwanda (Original). Direção: Terry George. Ano de produção: 2004. Du-
ração: 121 minutos. Filme não recomendado para menores de 14 anos.

Texto complementar

Uma discussão constante que existe atina à diferença entre Direitos Humanos e Direitos Fun-
damentais. Essencialmente, os Direitos Fundamentais nada mais são que os Direitos Humanos
internalizados nas Constituições dos países que se prezam democráticos. Para mais esclareci-
mentos terminológicos, recomenda-se a leitura de artigo a título de leitura complementar.

Dados do artigo:

TRIVISONNO, Alexandre Travessoni Gomes. Direitos humanos e direitos fundamentais:


questões conceituais.Espaço Jurídico Journal of Law, [S. l.], v. 21, n. 1, p. 7-18, jan-jun 2020.
Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/24359.
Acesso em: 31 out. 2021.

Caso de aplicação

Com base na matéria aqui indicada, tem-se ênfase à inclusão das pessoas com deficiência
(Igualdade em seu substrato material). Convida-se o(a) leitor(a) a reflexão: por qual motivo
as cidades começaram a se preocupar com acessibilidade, como a construção de rampas
de acesso e corrimãos em prédios públicos? Por qual motivo os programas televisivos têm
se importado tanto com a linguagem de sinais na transmissão de seus conteúdos? Tudo isso
tem a ver com os direitos relacionados à Igualdade, com a necessidade de ações afirmativas
e com a implementação de políticas públicas e privadas, a fim de que pessoas com os
mais variados tipos de deficiência tenham os mesmos direitos que aquelas que não
possuem deficiência alguma.

Isso ajuda a entender, aliás, como os Direitos Humanos transcendem ao ambiente jurídico.
Cada obra de Engenharia destinada a melhorar a acessibilidade é, também, uma manifesta-
ção de Direitos Humanos.

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