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Universidade Federal de Ouro Preto

Escola de Minas
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais

Tratamento Térmico dos


Metais

Capítulo 4 – Recozimento de
Recristalização

Prof. Dr. Geraldo Lúcio de Faria


e-mail: geraldofaria@ufop.edu.br ou geraldolfaria@yahoo.com.br
Laboratórios de Tratamentos Térmicos e Microscopia Óptica
https://geraldolfaria.wixsite.com/ltmemufop 1
Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

1. Estrutura do Metal Encruado


Os tratamentos térmicos de recozimento de recuperação e de recristalização são
procedimentos amplamente aplicados em metais puros ou ligas deformadas a
frio, ou seja, em estado encruado.

Deformação
Permanente de Um
Cristal
Aplicar uma Deslizamento de Planos Cristalinos
quantidade de
energia sobre
uma estrutura Maclação Mecânica
metálica de
forma a Difusão
modificar as
suas dimensões Transformações de Fases
Acompanhadas de Grande Variação
de Volume

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

Alguns Processos de Deformação a Frio ou a Quente

Amostra

Energia

C
Laminador
a
l
o
r
Amostra Deformada
(2% a 10% de Energia
Armazenada)

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

Durante a Deformação Plástica de Estruturas Policristalinas Ocorrem:

I) Os grãos (cristais) mudam de forma:

Laminado a Frio

Estado Inicial 60% Deformada

II) A orientação dos grãos mudam e eles geralmente adquirem orientação preferencial
(textura de deformação):
Tendência de
Laminado a Frio Planos e direções
deslizamento do grão
cristalográficas
se dar em
paralelas ao plano e à
determinados planos e
direção de laminação
direções cristalográficas

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

III) A quantidade (área) dos contornos de grão por volume aumenta:

Laminado a Frio

Estado Inicial 60% Deformada

IV) A quantidade de defeitos puntiformes e de discordâncias por unidade de área


aumentam de várias ordens de grandeza:

Laminado a Frio
106 a 108 cm-2 1011 a 1012 cm-2

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

Alguns fatores afetam a microestrutura do metal deformado:

a) Energia de Defeito de Empilhamento (EDE):

A distribuição de discordâncias em um metal ou liga encruada é fortemente


dependente da energia de defeito de empilhamento.

Baixa EDE Alta EDE


As discordâncias têm baixa mobilidade e As discordâncias têm elevada mobilidade e
estão mais afastadas umas das outras. estão mais próximas umas das outras.

Arranjo Plano de Arranjo Celular de


Discordâncias Discordâncias

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

b) Átomos de Soluto: Aços inoxidáveis austeníticos (sistema Fe-Cr-Ni):


Alterações na EDE.
• Aumentando o teor de Ni, aumenta-se a EDE;
• Aumentando o teor de Cr, abaixa-se a EDE.

Geralmente diminui a mobilidade


das discordâncias.

Amostra deformada de aço inoxidável Amostra deformada de aço inoxidável


austenítico de baixa EDE. (Microscopia austenítico de elevada EDE. (Microscopia
Eletrônica de Transmissão). Eletrônica de Transmissão).

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

c) Influência do Tamanho de Grão Inicial:

Segundo Keh e Weissman, para um mesmo grau de deformação, quanto maior o


tamanho de grão, menor será a densidade de discordâncias.

Modelo desenvolvido para o Fe puro:

Onde,

r – densidade de discordâncias;
d – tamanho de grão;
e – deformação;
k1 e n – constantes;
b – módulo do vetor de Burgers.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

d) Temperatura e Velocidade de Deformação:

A densidade e distribuição de discordâncias, assim como a energia armazenada na


deformação, são fatores que dependem fortemente da temperatura de deformação e
mais suavemente da velocidade de deformação.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

Diminuindo a EDE a formação das subestruturas é dificultada, dando origem a


células menores e com baixa definição. O aumento da temperatura,
conseqüentemente implica no aumento do tamanho das células e melhora
suas definições.

Cobre OFHC 10% deformado à 25oC mostrando a Cobre OFHC 10% deformado à 500oC mostrando a
presença de pequenas células de deformação com presença de grandes células de deformação com alta
baixa definição (Microscópio Eletrônico de definição (Microscópio Eletrônico de Transmissão).
Transmissão).

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

As heterogeneidades de deformação na microestrutura do material dão


origem a importantes características microestruturais:
I) Bandas de Transição ou Deformação:
Estas bandas são heterogeneidades
caracterizadas por deformações
heterogêneas do reticulado cristalino.
Elas são formadas entre partes
diferentes de um mesmo grão que
sofreram rotações diferentes durante
a deformação devido à utilização de
diferentes sistemas de
escorregamento.

Bandas de deformação na superliga à base de ferro


INCOLOY MA 956 com grãos muito grandes após
deformação de 50% por forjamento (Microscópio
Óptico).

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

II) Bandas de Cisalhamento:


Mathur e Backofen propuseram um
modelo onde as bandas de cisalhamento
são provenientes de escorregamentos em
regiões de máxima tensão macroscópica
de cisalhamento e em planos nos quais a
deformação encontra pequena
resistência. Essas regiões formam ângulos
de aproximadamente 30o a 60o em
relação à direção de deformação.

Bandas de
cisalhamento em
amostra
nanocristalina de Pd Bandas de cisalhamento em metal deformado, vistas no
(Microscópio corte longitudinal (macroscópico): a) uma única família;
Óptico). b) três famílias em camadas.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Metal Encruado

III) Maclas de Deformação:

A maclação mecânica é uma maneira


alternativa de deformação plástica. Ela
ocorre em situações em que a deformação
plástica por deslizamento de planos se
torna difícil .

Maclas visualizadas em uma determinada liga de bronze


(Microscópio Óptico).

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Propriedades

2. Alteração de Propriedades Físicas


De forma geral, com a deformação plástica do material e o aumento da densidade de
defeitos pontuais e de discordâncias, os índices de resistência à deformação aumentam.

Dureza Limite de Escoamento Limite de Resistência Ductilidade

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Propriedades

Densidade de Defeitos Densidade de Discordâncias


Pontuais

Grau de Deformação

Mobilidade Eletrônica

Condutividade Elétrica Condutividade Térmica

O MATERIAL GANHA UM CARÁTER ANISOTRÓPICO!

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação

3. Recuperação ou Restauração

Estado Encruado Estado de Não-equilíbrio

Tratamento de
Recozimento de
Restauração e
Recristalização

Tratamento de
Tratamento de
Recuperação ou
Recristalização
Restauração

Diminuição da energia livre no processo de


recristalização. DA é a energia de ativação e DP é o
potencial termodinâmico para a recristalização.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação
OBJETIVO
Restaurar as Mas... PROBLEMA
propriedades do Barreira de potencial associada à
Material dificuldade de mobilidade dos
átomos à temperatura ambiente.

Logo
SOLUÇÃO
Tratamento Térmico de Recozimento
T
de Restauração e Recristalização.

Diminuição da energia livre no processo de TH


recristalização. DA é a energia de ativação e DP é o
potencial termodinâmico para a recristalização.
TH = 0,2 a 0,4 Tf

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação

Antes que a recristalização ocorra, o conjunto de todos os processos de


modificação da densidade e redistribuição dos defeitos nos cristais deformados
denomina-se recuperação ou restauração.
Recuperação

Primeiro Tipo ou Segundo Tipo ou


Relaxamento Poligonização
A recuperação se dá sem a formação e Durante a recuperação há migração e
migração de subcontornos dentro dos formação de contornos de baixo
grãos deformados. ângulo.
Mas, como medir a evolução da recuperação? INDIRETAMENTE ORA...

Condutividade Elétrica

Velocidade de Recuperação

Densidade de Discordâncias
t

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação

Diferenciando, teremos:

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação

Recuperação ou Restauração

Redistribuição de defeitos pontuais e


diminuição de suas concentrações.

Os átomos auto-intersticiais passam a ocupar


espaços antes ocupados por lacunas.

Reagrupamento de discordâncias de mesmo


sinal e aniquilação mútua daquelas de sinais
opostos.

Alívio de Tensões!!!
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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação

4. Poligonização
Em 1932 S. T. Konobeeriski e I. I. Mires observaram que:

DRX de Material Recozido Material Deformado a Frio com


Estrutura Celular

DRX de Material Encruado

Subcontorno de
baixo ângulo

As discordâncias formam a estrutura celular por


meio de interações aleatórias entre si.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação

Evolução Temporal Durante Recuperação

(A) - Emaranhado de Discordâncias;


(B) - Formação de Células;
(C) - Aniquilação de Discordâncias nas
Paredes das Células;
(D) - Formação de Subgrãos.

Subgrãos observados por microscopia


eletrônica de transmissão em amostra
de tântalo policristalino deformado a
frio e recozido por uma hora a 750oC.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Recuperação

Representação Esquemática do Processo de Poligonização – Busca do Estado


de Menor Energia Livre

(a) – Arranjo ao acaso de discordâncias em


monocristal deformado por flexão;
(b) - Rearranjo de discordâncias originando os
subcontornos após o recozimento.

Representação
Esquemática de
discordâncias em
Representação Esquemática de discordâncias em cunha cunha de mesmo sinal
de sinais opostos se aniquilando. se alinhando e
formando um
subcontorno de baixo
ângulo.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

5. Recristalização Primária
O modelo de Avrami propõe que:
Nucleação:

Onde k e n são constantes da reação


• Inicialmente há a formação de uma
região submicroscópica livre de defeitos e
associada a um contorno de alto ângulo;
Fração de Material Recristalizado

• Esta região em seu estado embrionário é


denominada núcleo;

• Os núcleos terão a tendência de se


formar em regiões de mais alta energia,
como em contornos de grão deformado,
bandas de transição, bandas de
cisalhamento, proximidades de inclusões
...
Nucleação Crescimento

Logaritmo do tempo, log(t)

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária
BREVE RESUMO DA TEORIA DE NUCLEAÇÃO:

Nucleação Homogênea Nucleação Heterogênea

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Mecanismo de Nucleação por


Migração de Contornos de Baixo
Ângulo.

Nucleação por Coalescimento de Subgrãos

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Crescimento:

Após a nucleação os novos grãos (núcleos) vão crescer, é aí então que entra o estudo
do Crescimento Normal de Grãos:

Mecanismo Fundamental Migração de Contorno de Alto Ângulo


Energia Armazenada na
Principal Potencial
Deformação e Energia de
Termodinâmico
Contorno de Grão

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Frentes de reação migrando durante a


recristalização : a) Aço inoxidável austenítico
recozido a 800oC por 3 horas (Microscópio
Eletrônico de Transmissão). b) Tântalo puro
recozido a 900oC por 30 minutos
(Microscópio Eletrônico de Varredura).

Heterogeneidades na distribuição das


regiões recristalizadas devido a nucleação
em bandas de cisalhamento. Amostra de
tântalo recozida a 900oC por 15 minutos
(Microscópio Eletrônico de Varredura).

Representação esquemática da recristalização


primária. a) Início da recristalização. b) 30% de
recristalização. c) recristalização completa.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Como já vimos:

V = m . DP

m é a mobilidade do
contorno de grão
Onde K = K(T)!!!

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Temperatura de Recristalização:

Tempo
O tamanho de
Ao se fixar dois grão inicial e a
parâmetros o presença de
terceiro fica elementos de
Valores
automaticamente Críticos liga também
determinado. influencia.
Grau de
Temperatura
Deformação

Geralmente:

Grau de Deformação  Temperatura de Recristalização


Temperatura  Tempo Para a Recristalização Primária

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

O pesquisador A. A. Bochivar apresenta uma relação muito simples para se determinar


a temperatura de recristalização dos metais (temperatura na escala absoluta):

Metais Puros: Trp = (0,3 a 0,4) . Tf

Metais Especialmente Puros: Trp = (0,25 a 0,3) . Tf

Metal Temperatura de Temperatura de


Recristalização (oC) Fusão (oC)
Alumínio 150 660
Magnésio 200 650
Prata 200 960
Cobre 200 1083
Ferro 450 1536
Platina 450 1769
Níquel 600 1450

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Para aços carbono comuns, as


temperaturas para alívio de tensões
e início de recristalização estão
abaixo da zona crítica, ou seja,
abaixo da linha A1. Geralmente elas
variam entre 500oC e 680oC.

Quando o objetivo do tratamento é


somente aliviar tensões, é
recomendável que não sejam
induzidas transformações de fases.

As temperaturas de recristalização
variam muito em função do tipo de
aço (composição), grau de
deformação a frio, tamanho de grão
deformado e do tempo em que se
deseja obter a estrutura
recristalizada.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Microestruturas:

a) Estrutura de grão de latão (Cu-Zn) deformado de 33%


b) Estágio inicial de recristalização (580oC – 3s)

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

c) Estrutura de grãos de latão parcialmente recristalizado (580oC – 4s)


d) Estrutura de grãos de latão totalmente recristalizado (580oC – 8s)

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Simulação computacional e física de um processo de recristalização de liga metálica


monofásica, mantidas constantes a temperatura e o tempo de tratamento.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Primária

Propriedades:

Diminuição da dureza do alumínio puro


encruado em função do tempo de recozimento
para várias temperaturas.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Secundária

6. Recristalização Secundária
A microestrutura de grãos recristalizados ainda não é a mais estável. A energia dos
contornos de grão passa a atuar como potencial termodinâmico para o
crescimento de grão.
Crescimento de Grão

Contínuo Descontínuo
Aumento contínuo e Crescimento acentuado
homogêneo do tamanho de apenas alguns grãos
médio dos grãos – – Recristalização
Crescimento normal. Secundária.

Mecanismo Fundamental: Migração de


Contornos de Alto ângulo.
Para que a recristalização secundária aconteça é
necessário que o crescimento normal de grão seja
inibido ou impedido.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Secundária

Cinética da Recristalização Secundária:

Representação esquemática da cinética de


recristalização secundária.

Amostra de aço inoxidável austenítico apresentando


tamanho de grão anormal.

Representação esquemática da distribuição de tamanhos


de grão durante a recristalização secundária.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Secundária

Fatores que Influenciam a Recristalização Secundária:

• Impurezas em Solução Sólida;

• Presença de Precipitados;

Contornos de baixo ângulo têm baixa


• Presença de Textura Forte; mobilidade, logo grãos com orientação diferente
tendem a crescer.

O crescimento normal de grãos é limitado pela


• Espessura da Amostra. espessura da amostra. A partir daí tem início a
recristalização secundária.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Secundária

a) Estrutura de grão de latão deformado de 33%


b) Estágio inicial de recristalização (580oC – 3s)
c) Estrutura de grãos de latão parcialmente recristalizado
(580oC – 4s)
d) Estrutura de grãos de latão totalmente recristalizado
(580oC – 8s)
e) Crescimento de grãos de latão (580oC – 15 min)
f) Crescimento de grãos de latão (700oC – 10 min).

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Leis da Recristalização

7. Leis da Recristalização
Em 1952, Burke e Turnbull sintetizaram o conhecimento disponível sobre a
recristalização na forma de 7 leis:

1. Para que a recristalização ocorra, é necessária uma deformação mínima (deformação


crítica);
2. Quanto menor o grau de deformação, mais alta é a temperatura para início da
recristalização;
3. Quanto mais longo o tempo de recozimento, menor é a temperatura necessária para
ocorrência da recristalização;
4. O tamanho de grão final depende “fortemente” do grau de deformação e “fracamente”
da temperatura de recozimento. Quanto maior o grau de deformação e/ou menor a
temperatura de recozimento, menor será o tamanho de grão final.
5. Quanto maior o tamanho de grão inicial, maior é o grau de deformação necessário para
que a recristalização se complete no mesmo tempo e temperatura de recozimento;
6. O grau de redução necessário para se obter um mesmo endurecimento por deformação
(encruamento) aumenta com o aumento da temperatura de deformação . Para um dado
grau de redução, quanto maior é a temperatura de deformação, maior é temperatura de
recristalização e maior é o tamanho de grão final;
7. O aquecimento continuado após o término da recristalização causa crescimento de grão.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

8. Estudo de Caso
Estudo da recristalização de um aço do tipo ABNT 1010 Laminado a Frio (DEMET-UFOP).

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Aço ABNT 1010 no estado de Aço ABNT 1010 com 50% de Aço ABNT 1010 com 63% de
entrega – MO – 200X – Nital 2%. deformação – MO – 200X – Nital 2%. deformação – MO – 200X – Nital 2%.

Aço ABNT 1010 com 73% de Aço ABNT 1010 com 80% de
deformação – MO – 200X – Nital 2%. deformação – MO – 200X – Nital 2%.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Efeito do Grau de Deformação


Sobre a Microdureza

O grau de deformação plástica


implica na variação da dureza do
material. Quando o sólido cristalino
é deformado plasticamente ele se
torna mais resistente, e uma tensão
maior é necessária para produzir
uma deformação adicional.

Por meio da aplicação de uma


regressão não linear, foi possível
ajustar uma equação que descreve o
efeito do grau de deformação sobre
a microdureza Vickers de um aço
ABNT 1010. A equação que melhor
se ajustou foi a de um polinômio do
terceiro grau.

Efeito do grau de deformação a frio sobre a microdureza de um aço do tipo


ABNT 1010.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso
Tratamento Térmico de Recozimento de Recristalização a
600oC na amostra com grau de deformação de 73%.

Após 1min de tratamento – MO – Após 2min de tratamento – MO – Após 5min de tratamento – MO –


500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%.

Após 8min de tratamento – MO – Após 10min de tratamento – MO – Após 30min de tratamento – MO –


500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Efeito do Tempo de Tratamento


Térmico a 600oC sobre a Microdureza
(73% de Deformação a Frio)

Microdureza Vickers versus Tempo de Tratamento Térmico de


Recozimento de Recristalização a 600oC. Amostras deformadas de
73%.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso
Tratamento Térmico de Recozimento de Recristalização a
600oC na amostra com grau de deformação de 80%.

Após 1min de tratamento – MO – Após 2min de tratamento – MO – Após 5min de tratamento – MO –


500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%.

Após 8min de tratamento – MO – Após 10min de tratamento – MO – Após 30min de tratamento – MO –


500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%. 500X – Nital 2%.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Efeito do Tempo de Tratamento


Térmico a 600oC sobre a Microdureza
(80% de Deformação a Frio)

Microdureza Vickers versus Tempo de Tratamento Térmico de


Recozimento de Recristalização a 600oC. Amostras deformadas de
80%.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Cinética de Recristalização

Seja qual for a técnica utilizada, é possível a construção de um diagrama que apresenta a
evolução da transformação (Y(t)) versus tempo (t), como ilustra a Figura.

Supõe-se que, dependendo da temperatura,


existirão N domínios de núcleos por unidade de
tempo por unidade de volume. Esse volume
aumentará em todas as direções a uma velocidade
constante v até que os domínios entrem em contato
uns com os outros.

1 3

4
2 Diagrama da fração recristalizada em função do
tempo
(...) N

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso
Tomemos apenas um dos núcleos por unidade de
tempo e de volume:
Supondo que este núcleo vai crescer com uma
velocidade v, podemos escrever que o seu raio r r
para um instante de tempo t será:

r = v·t

A variação da fração volumétrica Y em função


do tempo é dada pela relação:

Substituindo r na equação, temos:

Integrando, podemos escrever que:

Diagrama da fração recristalizada em função do


De onde: tempo

Ou simplesmente: Geralmente nos estudos de cinética se


obtém a curva e então se determina K e n.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

No caso especifico da recristalização, a fração transformada pode ser medida associando-se o valor
de uma propriedade mecânica que se modifica no decorrer da recristalização. Se o valor da
propriedade diminui com o aumento da fração recristalizada, então seu valor máximo (Vmax) deve
corresponder a 0% de fração recristalizada e o valor mínimo (Vmin) a 100% de fração recristalizada.

A partir da variação da
propriedade em função do tempo,
pode-se determinar a fração
recristalizada Y:

Variação de uma propriedade durante a recristalização.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

No nosso caso, temos:


Propriedade = Microdureza Vickers

Microdureza Vickers versus Tempo de Tratamento Microdureza Vickers versus Tempo de Tratamento
Térmico de Recozimento de Recristalização a Térmico de Recozimento de Recristalização a
600oC. Amostras deformadas de 73%. 600oC. Amostras deformadas de 80%.

Aplicando Temos....

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Gráfico Fração Recristalizada versus Tempo de Gráfico da Fração Recristalizada versus Tempo de
Tratamento Térmico de Recozimento de Tratamento Térmico de Recozimento de Recristalização a
Recristalização a 600oC. Amostra 73% deformadas. 600oC. Amostra 80% deformadas.

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Aplicação de Simulação
Computacional para Prever a Cinética
de Recristalização Isotérmica para
Outras Temperaturas não Ensaiadas

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Fração recristalizada versus tempo de tratamento para o aço SAE 1010. A) temperatura de
tratamento de 600°C; B) temperatura de tratamento de 700°C.

Lembrando que: Teremos:

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Capítulo 4 – Recozimento de Recristalização Estudo de Caso

Curva Cinética de Recristalização gerada por simulação computacional para um aço SAE
1010 deformado 87% considerando n=1.

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