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O Caminho da sobrevivência das Micro e Pequenas Empresas do Segmento

Mercadista.
Sueli de Paula1

A importância das pequenas empresas no Brasil é uma questão de


desenvolvimento sustentável, pois estas unidades produtivas representam 98%
das 5.1 milhões de empresas brasileiras (Sebrae/SP, 2004) e empregam cerca de
60% dos empregados de carteira assinada no nosso país. Todavia, outra pesquisa
realizada pelo Sebrae (2004) revela que cerca de 60% das empresas pequenas
desaparecem antes dos cinco anos de vida, devido à deficiência de gestão,
problemas de competitividade e alta carga tributária.

1
Mestre em Gestão e Marketing pela Universidade Internacional de Portugal, Economista,
Coordenadora da Unidade de Projetos Especiais do SEBRAE/BA e Professora da Faculdade
Visconde de Cairu e Faculdades Integradas Olga Mettig da Bahia.
e-mail:sueli.paula@ba.sebrae.com.br.
A análise dos segmentos econômicos de pequeno porte de maior concentração
(Gráfico 2), revela que o setor de maior densidade de empresas é o comércio com
56% das MPEs, seguidas de 30% do setor de serviços e 14% da indústria.

O setor mercadista, no cenário de pequenas empresas brasileiras do setor


varejista, está na liderança junto com o setor de vestuário, compondo um
percentual de 11% das MPE brasileiras(Tabela 1).
Na Bahia (Sebrae/SP, 2004), existem 226.356 empresas de micro e pequeno
porte, deste total, 145.225 são do comércio, 55.622 dos serviços e 25.459 da
indústria. Entre as empresas varejistas, os minimercados e mercearias lideram
com 14,8%(tabela 2).

TABELA - 2

Observa-se na Tabela 2, que sinaliza a disposição das MPE no setor varejista,


que o percentual de participação do segmento mercadista reduziu de 15,2% para
14,8%. Todavia, estas informações mostram a importância que este segmento tem
no contexto econômico do país.

Em 2004, o Sebrae e a Fundação Universitária de Brasília - FUBRA publicaram a


Pesquisa sobre os Fatores Condicionantes e Taxas de Mortalidade de Empresas
no Brasil referente ao período 2000/2002. Esta pesquisa, sinalizou fatores que
levam a empresa de pequeno porte a sobreviver ou morrer em menos de cinco
anos de existência. Vale salientar, que os critérios escolhidos para a classificação
do porte de empresas foi o número de empregados, conforme conceito adotado
pelo Sebrae:

Microempresa até 19 empregados na industria e até 9 no comércio e no


serviço;
Pequenas Empresas são as que possuam, na indústria, de 20 a 99
empregados e, no comércio e serviços, de 10 a 49 empregados;
As médias empresas de 100 a 499 empregados na indústria e de 50 a 99
no comércio e serviços;
A grande empresa é a que possui 500 ou mais empregados na indústria e
100 ou mais no comércio.

O estudo revela que 49,4 % das empresas pesquisadas morreram com até 2
anos de existência, 56,4% com 3 anos de existência e 59,9% com 4 anos de
existência. Confirmando que cerca de 60% das empresas que nascem,
morrem antes de completar 5 anos de sua existência. Esta constatação é
danosa para a economia do país, pois significa perda de capital de
investimento, aumento das taxas de desemprego e aumento da inadimplência
destas empresas junto a outras empresas privadas e ao governo.

As principais causas das dificuldades e razões para o fechamento das


empresas, constatadas pela pesquisa, por ordem de importância e por
categoria são:

Falta de capital de giro (42%), problemas financeiros (21%), maus


pagadores (16%), falta de crédito bancário(14%). Somadas são 93%
das respostas dos empresários, demonstrando que as empresas
possuíam deficiência grave na gestão financeira, como: gestão do
fluxo de caixa, gestão de custos e formação de preço de venda, gestão
de compras e estoques e outros. Outra hipótese, é a deficiência no
apoio e orientação das entidades financeiras e de assistência as MPEs
para resolução do endividamento dessas empresas.

Falta de clientes (25%), ponto/local inadequado (8%), falta de


conhecimentos gerenciais (7%), falta de pessoal qualificado (5%) e
instalações inadequadas (3%). Somadas representam 48% das
repostas, demonstrando deficiências gerenciais e de marketing das
empresas. Outra possibilidade é a existência de condições econômicas
desfavoráveis, como: queda na demanda, alta taxas de juros, baixo
poder aquisitivo dos clientes.

As causas econômicas, políticas e legais são 21% das respostas,


representadas pela soma: recessão econômica no país (14%),
problemas na fiscalização (6%) e carga tributária elevada (1%).
Nesses fatores, o peso dos impostos aparece como um fator de pouca
relevância nas respostas do empresário, resultado que não espelha a
realidade do país hoje, com o excesso de carga tributária.

Entretanto, a pesquisa além de levantar os fatores determinantes da


mortalidade das empresas, segundo os empresários pesquisados, revelou os
fatores que explicam o sucesso das que sobreviveram. Esses fatores estão
distribuídos em três categorias: Habilidade Gerencial, Capacidade
Empreendedora e Logística Operacional.

Nas habilidades gerenciais sinalizadas como relevantes para sobrevivência


das empresas, destacam-se: bom conhecimento do mercado onde atua
com 49% das respostas dos empresários, e ter estratégias de vendas,
apontadas, como ponto importante, por 48% dos empresários. Isso, reafirma a
necessidade das empresas desenvolverem competências na gestão de
marketing e vendas.
A Capacidade Empreendedora é uma feliz constatação dos empresários
pesquisados, pois sem dúvida é, dos aspectos, o mais essencial, é a razão de
ser das empresas, que através de competência geram riqueza e ocupação
contribuindo para o desenvolvimento do país. Neste fator de sucesso
destacam-se:
A criatividade empresarial apontada como fator importante para 31%
dos empresários pesquisados;
Aproveitamento das oportunidades de negócios com 29% das
respostas;
Perseverança do empresário aparece com 28% das respostas;
E a Capacidade de liderança com 25% das respostas.

Na Logística Operacional, o ultimo grupo de fatores condicionantes de sucessos,


destacam-se:
A escolha de um bom administrador com 31%. Esse fator tem haver com
a importância da competência de gestão;
Uso do capital próprio com 29%, representando o receio de
endividamento precoce no início do negócio, que para montar é necessário
ter um capital inicial;
Reinvestimento dos lucros na empresa (23%), revelando a importância
de não desviar recursos essenciais para sobrevivência do negócio, para
outras finalidades. Algumas vezes, as empresas morrem, mas o empresário
está muito bem financeiramente, gerando prejuízo para a sociedade com
desemprego e inadimplência junto a credores;
Acesso às novas tecnologias (17%), fator infelizmente ainda muito caro
para as empresas, necessitando de apoio e assistência por parte do poder
público, instituições de conhecimento e assistência.

Portanto, existem diversas soluções para minimizar a mortalidade das pequenas


empresas, mas destacamos os três pilares de sustentação para a sobrevivência
dos pequenos negócios: fomento a cultura empreendedora, para que as novas
empresas que serão criadas no Brasil, nasçam pela oportunidade de negócio e
não por necessidade de subsistência do empreendedor; a melhora da
competência gerencial das empresas visando evitar erros gerenciais fatais para
a sobrevivência do negócio; e por ultimo, apoio eficaz e competente das entidades
públicas e privadas de fomento aos pequenos negócios, que lhes forneçam infra-
estrutura básica para calçar seu desenvolvimento sustentável.

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