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A grande ilusão [Parte 1]

C erto dia, ao entardecer, uma camponesa chegava à sua choupana. Ao abrir

a porta e acender uma lamparina, percebeu, na penumbra, em um dos cantos, algo


diferente e estranho. Apavorada, saiu rapidamente gritando:
Socorro, uma grande cobra, me ajudem!

Os vizinhos rapidamente acorreram ao chamado. Vieram armados com paus para


enfrentar a grande serpente. Agitados, formaram um grupo diante da choupana, mas
ninguém se atrevia a entrar. Chegou então o marido da apavorada camponesa. Pelo
grande alarido, pensou no pior. Informado dos fatos pela esposa, muniu-se de uma
grande tocha acesa e entrou na casa, apesar das advertências dos amigos.

A expectativa era grande, diante do silêncio dentro da casa. Surge então o


homem na porta, arrastando algo. Todos recuam e ele atira diante deles um grande e
grosso pedaço de corda.

Eis a grande “serpente”, a corda que comprei hoje à tarde para o meu serviço.

Quantas “serpentes da ilusão” nos atemorizam a vida por nos deixarmos


envolver pela falsa aparência das coisas. É necessário discernimento para não sermos
vítimas do pânico que envolve a maioria (a camponesa e seus vizinhos) e coragem para
enfrentar os fatos com sabedoria (o marido da camponesa com a luz).

Enquanto a verdade não aparece, a ilusão mentirosa prevalece. Uma mentira, por
mais fantástica que seja, e por maior que seja o número de pessoas envolvidas, não tem
auto-sustentação e desmorona diante da Realidade que é auto-sustentável. A “corda” da
nossa história continuou sendo corda mesmo quando a imaginação distorcida via nela
uma serpente.

A ilusão necessita ser alimentada para parecer “realidade”. A mentira também


precisa de muita astúcia e empenho para continuar, até que surja a Verdade para destruir
a farsa.

Cabe aqui uma pergunta: em que nos empenhamos em nossa vida, em nosso dia-
a-dia? Alimentamos inverdades por medo, comodismo ou interesses escusos, ou temos a
ousadia de contrariar a maioria, expondo fatos verdadeiros?

Já disse Alguém, hoje pouco lembrado: “conhecereis a Verdade e a Verdade vos


libertará”. Queremos realmente esta liberdade? Ou deixaremos a mentira, os mentirosos
nos manipularem para seus fins egoístas e inconfessáveis? Temos humildade para
compartilhar nossas “pequenas verdades” em busca de Algo Maior.

Discernimento, cooperação e humildade podem ajudar-nos a ver o falso, e então


o Verdadeiro aparecerá. A decisão é de cada um, mas o resultado é para todos. Faça
uma escolha consciente.
PARTE 2

A  história da cobra da ilusão demonstra como a verdade pode ser coberta

pelo poder da ilusão. Podemos aplicá-la para entender como nosso ego humano age para
encobrir a realidade essencial e central que somos (/) No desenho da Ilusão do Ego
vemos como nossa “realidade” individual, virtual e imaginária é formada e sustentada
pelos reflexos das informações dos sentidos exteriores. A camponesa, a dona da casa,
pode representar a nossa mente – ou espelho mental móvel – voltada para as aparências.
Uma realidade – a corda – transformou-se em uma ilusão – a cobra. Esta falsa imagem
foi projetada para fora, passando pelo corpo emocional, e movimentando a memória e
comandos cerebrais para ações físicas: palavras, gestos, expressões, etc.

Foi criada, assim, uma reação em cadeia: os vizinhos da camponesa, contagiados


pelos seus gritos de desespero, acreditaram na ilusão da cobra. O instinto de preservação
prevaleceu sobre a lógica, o raciocínio, o discernimento.

Quantas calamidades acontecem na humanidade quando há uma reação em


cadeia da mente, das emoções e ações físicas descontroladas. Por exemplo: num cinema
lotado, alguém grita desesperado: FOGO. Ninguém para um instante para pensar se é
fogo ou não, onde é e como fazer para resolver o problema. O instinto é ativado e o
desastre acontece. Se observarmos no dia a dia notaremos nas pessoas atitudes
instintivas e reativas que podem produzir efeitos em quem estiver próximo. 

Aí a necessidade da atenção e conhecimento. É o exemplo da nossa história, do


marido da camponesa, que até pensou no pior pelo grande alarido, mas pelo
conhecimento, venceu a resistência da maioria e com a luz da razão (o archote) entrou
na casa escura (ignorância da mente) e retirou a ilusão do ego, a falsa cobra e a verdade
(a corda) apareceu.

Todos nós já passamos por situações difíceis na vida por sermos envolvidos por
ilusões de nossas identidades virtuais e imaginárias. O auto-conhecimento de uma
identidade mais profunda e real pode revelar um mundo individual e exterior diferente
do trivial, corriqueiro e sustentado pela maioria como “normal”.

Os desafios são grandes. O primeiro é conosco mesmos, procurando mover


nosso espelho mental sempre focado em sensações externas, mudando-o aos poucos
para focar para nosso interior, onde está nossa real identidade (?). Este trabalho pode ser
facilitado pela meditação do auto-conhecimento Quem Sou Eu?
Quando nossa mente receber as primeiras luzes do Eu (?) poderemos conhecer
melhor nossa casa por dentro (corpo – memória – emoções – mente) e saber como
torná-la melhor e harmoniosa.

O segundo desafio é contrariar a maioria presa à ilusão do ego (os vizinhos da


camponesa). São todas as pessoas com quem nos relacionamos, ainda escravizadas pela
ilusão do ego e que realimentam o círculo vicioso onde a mente está sempre focadas nas
sensações dos cinco sentidos. Temos que nos relacionar e investir em amizades que
possam somar para que um círculo virtuoso incentive nosso auto-conhecimento para a
Verdade e para a LUZ. Estudos e troca de informações ajudam muito, mas a vivência no
dia a dia com atenção, concentração e reflexão é indispensável. Temos a nosso dispor o
melhor campo de aprendizado do mundo: nós mesmos (ver o texto O Tesouro Oculto).

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