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História e cultura afro-

brasileira nos quadrinhos

Naeldson Expedito Alves da Silva1

Introdução

A população brasileira é composta, em sua maioria, por pessoas


pardas ou pretas, conforme divulgado pelo IBGE (2019). Ainda, segundo
o Instituto (2019), em 2018, elas representavam 55,8% da população.
O Instituto também identificou que enquanto 27,9% da população bran-
ca sofre com a falta de pelo menos um serviço de saneamento, esse per-
centual sobe para 44,5% quando se trata da população negra. As pessoas
pretas ou pardas, de todos os grupos etários, mostraram-se as maiores
vítimas de violência, com as taxas de homicídios entre elas, sempre
superando a de pessoas brancas. A taxa entre jovens pretos ou pardos
de 15 a 29 anos atingiu a marca de 98,5 homicídios por 100 mil jovens,
enquanto entre os jovens brancos do mesmo grupo etário a taxa foi de
34 por 100 mil.
Mesmo sendo maioria no país, a população negra também apre-
sentou situações de desigualdade em relação ao acesso à educação.
Jovens negros entre 18 e 24 anos representam apenas 18,3% de es-
tudantes universitários que frequentavam a academia ou já haviam
se formado, enquanto 36,1% eram referentes a jovens brancos na mes-

1 Administrador no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal Rural


do Semi-Árido (UFERSA) e doutorando no Programa Multiunidades de Ensino de Ciências
e Matemática da UNICAMP.
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ma faixa etária (IBGE, 2019). Essas desigualdades também foram iden-


tificadas quanto aos ingressantes no nível superior com 35,4% para
negros e 53,2% para brancos.
Ainda em relação às desigualdades por cor ou raça identificadas
pelo IBGE, é importante destacar que no ensino médio, os estudan-
tes brancos também representam a maioria entre os jovens entre 20 e
22 anos que concluíram os estudos, sendo 15% a mais que a popula-
ção negra.
Os dados e informações apresentados até aqui nos ajudam a com-
preender, mesmo que parcialmente, o quanto a população negra ain-
da vive, sob muitos aspectos, à margem da sociedade, mesmo com as
conquistas já obtidas, principalmente devido às lutas dos movimentos
e representações sociais.
As desigualdades sociais e raciais estão presentes em praticamen-
te todos os lugares e espaços, inclusive os escolares e em seus currículos
e torna-se necessário quebrar o silenciamento das histórias dos negros
como forma de se combater a desigualdade social e racial. Como afirma
Teixeira (2020), é necessário romper com a tradição eurocêntrica pre-
sente nos currículos de História.
É nesse contexto que a Lei nº 10.639/03 torna obrigatório o Ensino
da História e Cultura Afro-brasileira com o intuito de proporcionar
o aprofundamento da compreensão da história da África e dos africanos,
a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na for-
mação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro
nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
Backes (2013) identificou, em uma de suas pesquisas, que na educa-
ção básica brasileira existem pelo menos dois tipos de ressignificação
de currículo. A primeira ressignificação refere-se à luta para que se reco-
nheça que a educação atende aos anseios da população branca. Segundo
Backes (2013), essa ressignificação identifica que no currículo da educa-
ção básica torna-se habitual a presença de estereótipos sobre pessoas
negras e que essas mesmas pessoas são inferiorizadas e discriminadas
por esse currículo. A primeira ressignificação, também, define que o
currículo é organizado e desenvolvido a partir da cultura hegemônica

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que, na nossa sociedade, refere-se à valorização da cultura das pessoas


brancas, ao mesmo tempo em que influencia que outras pessoas que não
fazem parte dessa cultura assumam a mesma, levando a uma homoge-
neização cultural.
O segundo tipo de ressignificação, exposta por Backes (2013), está
relacionada com experiências positivas na educação básica, como a de-
monstração de quanto as ações afirmativas e experiências antirracistas
são importantes para o levantamento de discussões sobre racismo, dis-
criminações e relações culturais, e identifica a necessidade da imple-
mentação de um currículo que não se restrinja à cultura hegemônica.
A partir daqui, abordaremos, em um primeiro momento, o que
determina a Lei nº 10.639/03 e suas contribuições contra o racismo
no espaço escolar. Prosseguiremos analisando as possibilidades oferta-
das pelo Programa Nacional do Livro e Material Didático – PNLD, mais
especificamente, o PNLD Literário de 2018. O terceiro ponto é a análise
de obras com histórias em quadrinhos que abordam assuntos relacio-
nados à vida, luta e resistência de pessoas negras. Esses livros tratam
de temas como o Quilombo dos Palmares e a resistências nas senzalas,
nas obras Cumbe e Angola Janga, ambas de Marcelo D’Salete, e contam
a história da escritora negra Maria Carolina de Jesus, na obra Carolina,
de Sirlene Barbosa e João Pinheiro.
A seguir, buscamos compreender o que determina a Lei nº 10.639/03,
que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Lei nº 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais


para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para
o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana

O Ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira passou


a compor a parte obrigatória do currículo da Educação Básica. Com a
Lei nº 10.639/03, que altera a Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional – estabelece a obrigatoriedade tanto no ensino
fundamental quanto no ensino médio e prevê como conteúdo progra-
mático o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros
no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da socieda-

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de nacional. Nesse sentido, intenciona resgatar a contribuição do povo


negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História
do Brasil. Segundo Gomes (2008, p. 79), o principal objetivo da lei é pos-
sibilitar a “correção de desigualdades” e “a construção de oportunidades
iguais para os grupos sociais e etnicorraciais com um comprovado his-
tórico de exclusão”.
A Lei, publicada em 03 de janeiro de 2003, passou a vigorar a par-
tir dessa data. Determina, em seu parágrafo segundo, que os conteúdos
referentes à história e cultura afro-brasileira sejam ministrados em todo
o currículo escolar, principalmente nas áreas de Educação Artística e de
Literatura e Histórias Brasileiras.
Tolentino (2018) enxerga na Lei nº 10.639/03 uma porta que abriu
caminhos capazes de estruturar uma política educacional incentivado-
ra de práticas pedagógicas que têm a finalidade de combater o racismo
no espaço escolar. Santana e Moraes (2009) também apontam a Lei como
uma abertura de caminhos capaz de proporcionar ao país a oportunida-
de de corrigir danos materiais, físicos e psicológicos resultantes do ra-
cismo e de outras formas de discriminação relacionadas ao racismo.
No ano de 2004 foram apresentadas as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino
de História e Cultura Afro-brasileira e Africana em um documento orga-
nizado pelo Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial. A apresentação do documento destaca
que a Lei nº 10.639/03 “resgata historicamente a contribuição dos ne-
gros na construção e formação da sociedade brasileira” e defende que as
diretrizes são o principal instrumento para transpor as barreiras que ne-
gam à população negra o desenvolvimento pleno.
Destaca-se um trecho da Resolução nº 01/2004 que institui
as diretrizes e no qual se afirma que o objetivo do Ensino de História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana é, entre outras coisas, reconheci-
mento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasilei-
ra, ao lado das indígenas, europeias, asiáticas.
É importante reconhecermos que esse é um passo importante ten-
do em vista que a História do Brasil é contada com o nosso país sendo
considerado fruto da miscigenação de três diferentes raças, porém, ape-

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nas a branca tem o seu protagonismo destacado. Além disso, é válido


considerarmos o desaparecimento parcial das culturas africanas e in-
dígenas em decorrência da colonização europeia, ou seja, da escravidão
e exploração praticada pelo homem branco.
Em 2008, entra em vigor a Lei nº 11.645/08 que reafirma a obri-
gatoriedade da inclusão da temática história e cultura afro-brasileira
e promove a inclusão da história e cultura indígena no currículo oficial
da educação básica.
No nosso próximo ponto, por considerarmos fundamental para
a compreensão do nosso texto, falaremos um pouco sobre o PNLD e o
PNLD literário.

O Programa Nacional de Livro e Material Didático e o PNLD


literário

O PNLD, Programa Nacional do Livro e Material Didático, res-


ponsável por avaliar e disponibilizar obras didáticas, pedagógicas
e literárias, é fruto da unificação de dois programas responsáveis pe-
las ações de aquisição e distribuição de livros, ocorrida em 2017, devido
ao Decreto nº 9.099/2017. O primeiro era o antigo PNLD, denominado
Programa Nacional do Livro Didático e criado em 1985, e o segundo era o
PNBE, Programa Nacional Biblioteca da Escola, desenvolvido desde 1997
e que tinha como finalidade promover o acesso à cultura e o incentivo
à leitura nos alunos e professores da educação básica, através da distri-
buição de obras de literatura, de pesquisa e de referência. O programa
era dividido em três ações: PNBE Literário, PNBE Periódicos e o PNBE
do Professor.
Como dito anteriormente, o PNLD é o programa destinado a adqui-
rir e distribuir materiais para as escolas públicas brasileiras. Uma parte
desse programa, denominado PNLD Literário, é responsável pela en-
trega de obras literárias. As ações do programa têm o objetivo de com-
por o acervo literário das escolas e contribuir para as práticas das sa-
las de aula. É um programa de grande importância, que tem colaborado
com os espaços escolares ao realizar a seleção e distribuição de obras
que contribuem para discussão de temas que costumam ficar à margem

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no currículo etnocêntrico, como o racismo, a desigualdade social, entre


outros. Meneses (2019) destaca que no etnocentrismo uma sociedade
julga outros povos e culturas, estabelecendo como padrão a sua própria
cultura. Segundo o autor, o preconceito etnocentrista é capaz de fazer
com que grupos rejeitem, oprimam, dominem e até eliminem grupos
considerados inferiores ou ameaças.
Braga (2020, p. 167) destaca a importância do PNLD literário para
a chegada de novos materiais nas escolas.

Houve um grande avanço na chegada de livros na escola


por programas como o PNLD literário, além de muitas
obras atuais da historiografia que podem dar o apoio teó-
rico para o professor desenvolver um projeto pedagógico
com novas linguagens cujo uso possa ser e que seja sig-
nificativo e transformador. Vimos, assim, como é impor-
tante a utilização das narrativas gráficas para aproximar
o professor do universo da juventude do aluno e partir
de seus saberes discentes, mas, como apontamos, em sua
práxis educacional é fundamental, principalmente, agir
como um mediador e agente intelectual, pois apenas as-
sim poder-se-á angariar uma verdadeira transformação
social por meio da educação.

Considerando o que foi constatado nessa pesquisa sobre as diver-


sas formas de desigualdades vigentes em nossa sociedade, identificamos
algumas obras selecionadas pelo PNLD literário de 2018 que abordam
questões sociais e étnico-raciais. Tratam-se de três histórias em quadri-
nhos que apresentam recursos e elementos importantes para a contri-
buição e suporte do ensino da história e cultura afro-brasileira e africa-
na, abordando temas como o quilombo dos Palmares e vida cotidiana,
a luta e a resistência nas senzalas presentes nas obras Cumbe e Angola
Janga, de Marcelo D’Salete, e a história da escritora negra Maria Carolina
de Jesus, na obra Carolina, de Sirlene Barbosa e João Pinheiro.
As obras escolhidas eram as únicas que atendiam a dois critérios
estabelecidos para análise: ser uma história em quadrinhos e abor-

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dar a temática racial. Outras obras, como a Autobiografia do poeta es-


cravo e Mayombe, tratam de questões raciais, mas não são histórias
em quadrinhos. Haviam, também, outras histórias em quadrinhos, como
Dom Quixote HQ, Macunaíma em quadrinhos e Odisseia em quadrinhos,
porém a temática racial não era o foco desse material.
O próximo passo é a análise das histórias em quadrinhos selecio-
nadas pelo PNLD literário 2018, que abordam temas estabelecidos na Lei
nº 10.639/03.

Obras selecionadas

Cumbe

Cumbe é uma obra de história em quadrinhos, publicada origi-


nalmente em 2014, pelo escritor e professor Marcelo D’Salete, na qual
são apresentadas histórias distintas sobre a vida cotidiana e as formas
de resistência do povo negro contra a vida de escravidão.

Figura 1 – Capa de Cumbe, edição nacional

Fonte: https://veneta.com.br/categoria-produto/historia-em-quadrinhos/
quadrinhos-nacionais/.

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A obra, que aborda a luta das pessoas negras em condição de es-


cravidão, já foi publicada em diversos países, como Áustria, Estados
Unidos, França e Portugal. Em 2018, Cumbe foi premiada com o Eisner
Awards como melhor publicação estrangeira nos EUA.
Segundo explica Rosa (2018), para alguns países americanos
a palavra cumbe significa quilombo, porém, “nas línguas congo/ango-
la tem também os sentidos de sol, luz, fogo e força trançada ao po-
der dos reis e à forma de elaborar e compreender a vida e a história”
(ROSA, 2018, p. 5).
Em Cumbe, a voz principal pertence ao subalterno, ao oprimi-
do, enfim, ao escravo. É o cotidiano e a vida dos escravos que é nar-
rada e exposta. Em muitos momentos não temos textos, mas imagens
que falam muito mais que palavras.
Através das imagens podemos enxergar a escravidão das pessoas
negras e o trabalho dos mesmos na monocultura da cana-de-açúcar.
A violência dos fazendeiros e donos de engenhos também é destaca-
da, em alguns momentos apenas através de imagens nas quais vemos
escravos marcados pelos chicotes e açoites, em outro, por ameaças
e ações de castigo e punição.
A obra é composta por quatro contos. O primeiro é Calunga
e conta a história de Valu que deseja fugir com sua amada, uma escrava
que trabalha na casa grande. A mesma decide não fugir e é morta pelo
próprio protagonista. Sumidouro, o segundo, aborda a história de Calu
que tem um filho do seu dono e que é jogado no poço da casa pela espo-
sa do senhor. Ela denuncia o ocorrido ao padre e por isso será castigada
pelo seu dono, o que só não tem consequências piores para ela por-
que, em um descuido, ela o mata. Cumbe é o conto que intitula a obra
e apresenta o planejamento de uma rebelião por parte dos escravos
que é reprimida após a traição da companheira do líder da rebelião.
Malungo, conta a história de um quilombo que vai até uma fazenda
para libertar os escravizados de lá, motivados por um escravo fugiti-
vo que deseja vingança contra o dono da fazenda que havia estuprado
e assassinado sua irmã.

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Nas histórias observam-se vários vocábulos de origem africa-


na utilizados para compor as narrativas. Esses temos são explicados
no Glossário da obra. Aspectos das crenças africanas também estão
presentes, seja em esculturas apresentadas na obra, seja em bebi-
das produzidas com plantas medicinais e utilizadas em práticas ritu-
ais. São identificadas ainda nas obras o uso de armas africanas como
a Zagaia, que é uma lança africana, marcas corporais de iniciação e per-
tencimento e seres mitológicos pertencentes à cultura africana.
É importante destacar a prática de silenciamento do homem ne-
gro pelo homem branco, exposta na obra. Existem as ações de ame-
aça para que os escravos não apresentem nenhum comportamento
que possam prejudicar os seus donos.
Mesmo nos dias atuais, podemos observar que o silenciamento
que ocorreu entre os séculos XVI e XIX ainda se faz presente no nosso
país, com narrativas opostas em torno da escravidão. O racismo estru-
tural existe e ainda é muito forte no nosso país e no mundo. Almeida
(2021) explica que o racismo está vinculado à ordem social e condicio-
nado a uma estrutura social existente. Sendo assim, se uma sociedade
é racista, então o racismo estrutural está presente na mesma.
Hooks (2017) explica que a organização do currículo tende a focar
na homogeneização das culturas, na inferiorização dos negros, na dis-
criminação implícita e na falta de posicionamento sobre as práticas
racistas. Cumbe é uma obra que expõe o sofrimento e a luta dos pri-
meiros negros no Brasil e leva para a sala de aula a denúncia de que
as hierarquias entre as culturas existentes não devem ser legitimadas
como um processo natural, mas consequência de anos de opressão.
A obra apresenta, sobretudo, o protagonismo das pessoas negras
no período de escravidão em seus processos de luta e resistência e de
organização em busca de liberdade. Histórias de protagonismo que fo-
ram apagadas pela hegemonia cultural branca e deixadas de lado pelo
ensino de história tradicional.

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Angola Janga

Em Angola Janga é narrada a história de luta do quilombo


de Palmares e a morte de Zumbi líder do quilombo. Trata-se de uma
obra com mais de 400 páginas publicada em 2017, também por Marcelo
D’Salete. Angola Janga significa “pequena Angola” na língua banto
quimbundo e era o nome utilizado para se referir a Palmares.

Figura 2 – Capa de Angola Janga

Fonte: https://veneta.com.br/categoria-produto/historia-em-quadrinhos/
quadrinhos-nacionais/.

A exemplo de Cumbe, em Angola Janga são trazidas diversas refe-


rências linguísticas e culturais dos povos escravizados e que fazem refe-
rência ao continente africano. O livro também traz um glossário com o
significado e a explicação para essas referências.
O livro é dividido em doze capítulos, estruturado por meio de uma
narrativa que toma por base um recorte temático na história, organiza-
do a partir de uma cronologia linear. Há uma apresentação intitulada
Mocambos e Engenhos trazendo a origem de Quilombo de Palmares.

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PRÁTICAS CURRICULARES E NARRATIVAS DOCENTES: AMPLIANDO CONTEXTOS

Há também um posfácio denominado “picadas e sonhos”, no qual


D’Salete explica como foi sua pesquisa para produção da obra. Há ainda
uma cronologia da Guerra de Palmares, entre outras informações.
A história apresenta uma Palmares já estabelecida e tendo como
uma das principais lideranças, Zumbi. Ao mesmo tempo em que expõe
as disputas entre negros e brancos, Angola Janga também nos mostra
que existem disputas internas pelo poder no próprio Quilombo.
A obra expõe a igreja católica como uma das responsáveis pela
hegemonia ao mesmo tempo em que apresenta pessoas em condição
de escravidão que permanecem fiéis às suas crenças, agindo em oposição
ao que deseja a igreja, e retrata a violência física e o sofrimento ao qual
do povo africano escravizado foi submetido, com imagens de persona-
gens sendo castigados e açoitados. Braga (2020) afirma que esse caso
de violência, exposto na obra, e que representa muitos outros ocorri-
dos, de fato, naquele período, simboliza a naturalização da violência
que as pessoas negras sofreram e ainda sofrem nas gerações posterio-
res. Ou seja, a violência sofrida pelas pessoas em condição de escravi-
dão reforça o processo de marginalização que os negros sofrem, mesmo,
nos dias atuais. Ainda, segundo Braga (2020), o racismo, que persiste
nos dias atuais, é consequência do que aconteceu nos países sob o domí-
nio português e, consequentemente, no Brasil, e da narrativa histórica
criada e estabelecida pelos grupos dominantes.
Ao final da obra, D’Salete (2017) parece apontar para as conse-
quências da escravidão negra no Brasil ao mostrar uma personagem
que era escrava vivendo nas ruas dos dias atuais, indicando que o racis-
mo estrutural, hoje existente e persistente, é fruto de uma hegemonia
etnocêntrica que obviamente se recusa a recontar a história, ou quan-
do a faz, produz sempre uma narrativa de determinada forma a manter
o discurso oficial da cultura dominante.
É por isso que trabalhar a História e a Cultura Afro-brasileira, utili-
zando Histórias em Quadrinhos como Cumbe e Angola Janga, que narram
a história dos africanos e suas lutas no Brasil são também importantes
para uma sociedade mais consciente. O resgate dessas histórias é extre-
mamente importante, como considera Munanga (2005, p. 16):

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PRÁTICAS CURRICULARES E NARRATIVAS DOCENTES: AMPLIANDO CONTEXTOS

O resgate da memória coletiva e da história da comuni-


dade negra não interessa apenas aos alunos de ascen-
dência negra. Interessa também aos alunos de outras
ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao
receber uma educação envenenada pelos preconceitos,
eles também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas.
Além disso, essa memória não pertence somente aos ne-
gros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura
da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto de to-
dos os segmentos étnicos que, apesar das condições de-
siguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um
de seu modo na formação da riqueza econômica e social
e da identidade nacional.

Essas obras não são importantes apenas para os estudantes ne-


gros, mas para todos os estudantes que conheceram apenas a versão
“branca” da história, a versão de quem detinha o poder. Um currículo
que possa atuar em concordância com a Lei nº 10.939/03 oferece impor-
tante contribuição para uma sociedade menos racista e preconceituosa.
Torna-se relevante considerar o que dizem Petrucci-Rosa, Varsone
e Ramos (2008) sobre a existência do contexto de influência no qual
as políticas são iniciadas e são construídos os discursos políticos,
com a atuação de distintos agentes, como órgãos governamentais e gru-
pos privados. Há ainda o contexto que é formado por documentos oficiais
que tentam designar o que é política para a escola, nos quais são produ-
zidos textos que são resultado de disputas e negociações de grupos e,
por fim, o contexto da prática, no qual as produções dos contextos an-
teriores são reinterpretados e ressignificados, modificando os sentidos
iniciais.
Desse modo, mesmo que um material seja produzido especifica-
mente para atender a um determinado currículo formal, ou seja, apenas
adequado a esse mesmo currículo, devemos considerar que esse material
pode ser submetido a diferentes interpretações na prática escolar.

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PRÁTICAS CURRICULARES E NARRATIVAS DOCENTES: AMPLIANDO CONTEXTOS

Carolina

O livro Carolina é de autoria da professora Sirlene Barbosa e do


artista visual João Pinheiro. Publicada originalmente em 2016, a obra
é uma biografia Carolina Maria de Jesus, escritora, poetisa e compositora
brasileira que ficou bastante conhecida com a publicação do seu livro
Quarto de despejo, no qual ela narra sua vida na favela. Também foi uma
das primeiras escritoras negras do Brasil.

Figura 3 – capa de Carolina

Fonte: https://veneta.com.br/categoria-produto/historia-em-quadrinhos/
quadrinhos-nacionais/.

A obra retrata a vida de Carolina, que vive em São Paulo e trabalha


como catadora de lixo reciclável para se manter e cuidar de seus três
filhos que moram com ela na favela do Canindé, onde ela escreve à noite
suas histórias.
Carolina expõe diversos problemas sociais pelos quais passam pes-
soas negras ou pobres, como a falta de uma moradia digna e o abandono
pelo poder público, a fome, explicitada na história em muitos momen-
tos, a violência doméstica e contra a mulher, entre tantos outros.

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PRÁTICAS CURRICULARES E NARRATIVAS DOCENTES: AMPLIANDO CONTEXTOS

A história em quadrinhos conta a história de Carolina na década


de 50, com algumas páginas mostrando a mesma em 1977, seu último
ano de vida, enfatizando, porém, o período de 1955 a 1960, que é o ano
em que ela publica seu livro mais famoso, Quarto de Despejo, no qual
ela narra sua vida na favela.
O livro é dividido em três partes e, na segunda, intitulada, escrevi-
vências, é detalhado como o jornalista Audálio Dantas conhece Carolina
e fica interessado em ver o livro que a escritora está escrevendo. Em 1960
o livro é publicado e relata o cotidiano da vida na favela de uma forma
sensível, profunda e realista.
É importante destacar que o termo que intitula o segundo capí-
tulo, escrevivências, foi criado pela escritora negra Conceição Evaristo
e refere-se ao que a autora escreve sobre seu cotidiano e sobre suas ex-
periências de vida. Evaristo (2018) considera que toda história é inven-
tada quando contada, e isso ocorre porque entre o fato ocorrido e o fato
narrado existem espaços nos quais surgem as invenções.
O sucesso do livro Quarto de Despejo deu condições a Carolina
de sair com os seus três filhos da favela do Canindé e morar em um bair-
ro de classe média onde ela continuou a conviver com o preconceito
por ser uma mulher negra e vinda da favela.
Carolina publicou outros livros, entre eles, Casa de alvenaria, po-
rém, nenhum fez tanto sucesso quanto o primeiro.
Ela faleceu em 13 de fevereiro de 1977.
Carolina é uma obra que pode ser trabalhada na área de litera-
tura, mas nada impede que as discussões entrem nas áreas de socio-
logia e história e que o uso da obra leve a diálogos mais aprofundados
sobre o racismo estrutural e as desigualdades sociais. O fato de contar
uma história mais atual pode fazer com que mais jovens, negros ou não,
se identifiquem com a protagonista.
Pensando na obra que retrata a vida de Carolina me vem à memó-
ria o que diz Werneck (2016, p. 8):

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PRÁTICAS CURRICULARES E NARRATIVAS DOCENTES: AMPLIANDO CONTEXTOS

A mulher negra tem muitas formas de estar no mundo


(todos têm). Mas um contexto desfavorável, um cená-
rio de discriminações, as estatísticas que demonstram
pobreza, baixa escolaridade, subempregos, violações
de direitos humanos, traduzem histórias de dor. Quem
não vê?

Apesar de Werneck (2016) não estar falando especificamente


da história de Carolina, a sua afirmação pode ser aplicada a um número
incontáveis de mulheres negras que vivem ou viveram em nossa socie-
dade. A obra Carolina, mesmo trazendo um recorte da vida da escrito-
ra de Quarto de despejo, consegue traduzir toda dor e dificuldades pe-
las quais a mesma passou e expõe várias situações de vulnerabilidade
nas quais as pessoas negras e/ou pobres vivem.
Ao analisarmos e refletirmos sobre o que trazem as três obras, po-
demos ressaltar um posicionamento importante de Goodson (2018, p.
96), que afirma:

O que está prescrito não é necessariamente o que é apre-


endido, e o que se planeja não é necessariamente o que
acontece. Todavia, como já afirmamos, isso não implica
que devamos abandonar nossos estudos sobre a prescri-
ção como formulação social, e adotar, de forma única, o
prático. Pelo contrário, devemos estudar a construção
social do currículo tanto em nível de prescrição como em
nível de interação.

As histórias em quadrinhos expostas nesse trabalho, provavel-


mente, só foram selecionadas no PNLD literário e podem ser trabalha-
das em sala de aula em virtude da Lei nº 10.639/03. Isso evidencia a im-
portância do currículo prescrito. O alerta que Goodson (2018) faz sobre
o currículo prescrito não é com o intuito que o abandonemos, mas que
possamos compreender que no contexto da prática aquilo que foi plane-
jado pode não ocorrer da forma esperada. Desse modo, podemos pensar
que, por um lado, fatores culturais e sociais, como o racismo, podem

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PRÁTICAS CURRICULARES E NARRATIVAS DOCENTES: AMPLIANDO CONTEXTOS

ser reproduzidos nas práticas de sala de aula, e, por outro lado, pode
haver a ressignificação do currículo prescrito, com um maior aprofun-
damento dos temas propostos e considerando o contexto social no qual
aquele espaço escola está inserido.

Considerações Finais: Redescobrir e retornar às nossas


origens

Em resumo, as obras analisadas levam os leitores a repensarem


as histórias e as condições de vida das pessoas negras no Brasil. Os acon-
tecimentos apresentados trazem detalhes desde o período de escravidão,
que durou mais de três séculos no Brasil, até os dias atuais, com situa-
ções de pobreza, desigualdade social, intimidação e racismo. Entretanto,
as HQs também possibilitam uma maior compreensão da cultura e da
história afro-brasileira, apresentando protagonistas reais e humaniza-
dos, que não se mostram passivos ou submissos diante das adversidades
e processos de dominação que os afligem, mas levantam-se e lutam.
As obras Cumbe, Angola Janga e Carolina demonstram, pela pro-
fundidade e seriedade com que trabalham os temas relacionados
à História e Cultura Afro-Brasileira, que podem contribuir efetivamente
para uma discussão mais ampla sobre a vida e a história das pessoas
negras no Brasil, trazendo elementos que não são abordados de maneira
tão detalhada, geralmente, nas obras e no ensino tradicionais. A insti-
tucionalização de novas políticas curriculares que demonstrem preocu-
pações com as minorias, os oprimidos e os esquecidos são de extrema
importância. Porém, para que as mesmas possam funcionar a contento,
precisam dar voz aos silenciados e redescobrir as histórias esquecidas.
Sendo assim, torna-se necessário que todos os brasileiros, de as-
cendência negra ou não, possam conhecer mais do que é narrado pela
história tradicional e hegemônica e se reconhecerem nas histórias
que estão sendo recontadas. Nesse contexto, políticas como as apresen-
tadas nas Leis nos 10.639/03 e 11.645/08 podem contribuir para tornar
os espaços escolares menos intimidadores e desiguais para população
negra e permitir que essas mudanças se reflitam na sociedade.

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PRÁTICAS CURRICULARES E NARRATIVAS DOCENTES: AMPLIANDO CONTEXTOS

Paulo Freire (2013) faz um relato importante sobre o sentimento


de pertencimento e isso se dá em sua primeira viagem à África:

Meu primeiro contato com África não se deu, porém,


com a Guiné-Bissau, mas com a Tanzânia, com a qual
me sinto, por vários motivos, estreitamente ligado. Faço
esta referência para sublinhar quão importante foi, para
mim, pisar pela primeira vez em chão africano e sentir-
-me nele como quem voltava e não como quem chegava
(FREIRE, 2013, p. 9).

Paulo Freire, mesmo não sendo um homem negro, se sentiu per-


tencente àquele continente no qual nunca havia estado anteriormen-
te. Então, seguindo o exemplo de Paulo Freire, espero que a população
negra brasileira, na qual esse autor se inclui, possa ter o mesmo senti-
mento de pertencimento e de reencontro com essa terra, na qual nossos
ancestrais fizeram história.

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