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SOFT SKILLS

Tendências em
soft skills no mundo
do trabalho
Robinson Henrique Scholz

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Identificar diferentes metodologias no escopo da art of hosting.


>> Descrever design thinking como caminho para intervenções e desenvol-
vimento de soft skills.
>> Apresentar a problematização da realidade como método.

Introdução
Para a análise e o desenvolvimento das soft skills, faz-se importante a percepção
da realidade e de como os pares, amigos e familiares do indivíduo percebem seu
comportamento e sua identidade pessoal. Para isso, há métodos que podem
contribuir para o aprendizado e a experimentação das soft skills. Os métodos
da art of hosting contribuem significativamente nesse processo.
Pensar em mecanismos de transformação pessoal requer pensar em rela-
ções sociais — ou seja, a posição do eu e dos outros, a relação do eu com os
outros, as interações sociais e os processos de desenvolvimento em grupo.
Assim, os métodos de art of hosting, design thinking e problematização da
realidade partem do pressuposto da necessidade de interação com os outros
para poder melhorar as soft skills grupais e, em consequência, as individuais.
2 Tendências em soft skills no mundo do trabalho

Neste capítulo, você vai compreender o que são os métodos da art of hos-
ting aplicados às soft skills, no sentido de aprimorar os conhecimentos, as
habilidades e as atitudes. Você também vai estudar a metodologia do design
thinking, que potencializa o uso da criatividade na busca de soluções para os
problemas complexos por meio da prototipagem. Por fim, você vai estudar
a importância do método da problematização como uma potente forma de
desenvolvimento pessoal e profissional e de promover a educação continuada.

Métodos da art of hosting


Os desenvolvimentos pessoal, profissional e cognitivo estão em constante
transformação na psique humana e dependem do perfil de cada pessoa,
do seu contexto social, do acesso aos recursos de aprendizagem e de sua
aplicação, bem como das motivações que sustentam a busca pela evolução
humana. Nesse sentido, quando tratamos de evolução humana, estamos
nos referindo à capacidade dos seres humanos de construir mecanismos de
aprendizagem tanto teórica quanto empírica. Dessa forma, as experiências
vivenciadas podem servir de referência às novas aplicações, bem como para
expandir o conhecimento gerado, produzindo inovação — por meio do enten-
dimento de novos conhecimentos, comportamentos e resultados (CONANT;
NORGAARD, 2012).
Diante desse cenário, cada ser humano busca diferentes práticas de de-
senvolvimento que permitam explorar suas potencialidades já assimiladas e
construir mecanismos de apropriação de competências que ainda precisam
ser aprendidas. Por exemplo, você pode ser um ótimo aluno na graduação,
mas precisa ter experiências de trabalho para poder ser um ótimo profissional
na sua área. Portanto, construir soft skills requer objetividade, disciplina,
engajamento, recursos e método.
Quando falamos de método, estamos aqui estabelecendo uma relação mais
estreita com a ideia de ferramentas e processos, mais do que efetivamente o
rigor científico de uma metodologia científica. O método que vamos abordar
é em referência a instrumentos que podem contribuir para o desenvolvimento
de soft skills, as quais estão intimamente conectadas com as habilidades e
atitudes — ou seja, saber ser e fazer em uma jornada profissional (e também
pessoal).
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O método pode ser entendido como um processo para a realização


de algum trabalho técnico, uma ferramenta que pode ser aplicada
para a solução de um problema ou um conjunto de processos e ferramentas de
coleta e análise de dados aplicados em estudos científicos.

O método que abordaremos é o art of hosting, ou a arte de anfitriar. Esse


método foi desenvolvido por um grupo internacional de pessoas que assu-
miram compromissos éticos e relacionais de desenvolver comportamentos e
competências humanas, por meio de um conjunto de relações sociais pautadas
na confiança entre os seus membros. Dessa maneira, a art of hosting foi
concebida por essa equipe, que se preocupou em desenvolver métodos de
aprimoramento de competências que pudessem ser difundidos mundialmente,
aplicados, validados e aperfeiçoados constantemente, a partir de contextos
diversos de aplicação.

Para saber mais sobre a art of hosting, digite “guia de metodologias


e práticas para a transição” no seu mecanismo de busca na internet e
acesse o link para o site Metodologias Sinérgicas, que descreve mais informações
sobre a constituição do grupo, a forma de organização e os métodos concebidos
(VIVACQUA, 2012).

A seguir, será apresentada cada uma das técnicas da art of hosting, as


quais podem contribuir para o desenvolvimento das soft skills.

Círculo
A técnica de círculo, em sua concepção, é muito simples, mas altamente efi-
caz nos resultados gerados, e potencializa o desenvolvimento de soft skills.
Consiste em uma prática física, e não digital, em que os participantes se colo-
cam em círculo para tratar de um determinado assunto que está na pauta. Essa
técnica permite que os participantes consigam estabelecer diálogo com todos
os envolvidos, bem como estar atentos às mensagens recebidas e enviadas.
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Essa técnica é muito utilizada em treinamentos e cursos, pois permite


que o facilitador e os participantes se conectem mutuamente. Além disso, o
círculo permite processos democráticos de participação, tomadas de decisão
mais eficazes, flexibilidade nas negociações e comunicação mais assertiva
na resolução de problemas complexos.

World Café
A técnica do World Café busca relembrar um ambiente de cafeteria, em que
pequenos grupos de pessoas estão conversando sentados ao redor de uma
mesa, discutindo algum determinado assunto. O World Café é muito difun-
dido em empresas, em cursos de capacitação profissional e em espaços de
gestão pública, em que há a necessidade de maior participação de pessoas
para a construção da solução para algum tipo de problema. De forma geral, o
método consiste em ter quatro ou cinco pessoas conversando em cada mesa,
dependendo do número de participantes e do espaço físico, fazendo com que
haja o debate entre os membros sobre o tema em análise.
Posteriormente, os grupos são alternados, ficando uma pessoa na mesa
como anfitriã e com o registro da discussão do grupo, para que possa ser
socializada com os novos participantes, aquecendo o debate e possibilitando
o avanço na busca de soluções. É importante destacar que nesse método não
há um tempo limite, mas, sim, uma coerência de tempo para a socialização, a
resolução de problemas e a tomada de decisão. O método pode também ser
aplicado em salas on-line, uma vez que as tecnologias virtuais de reuniões
on-line permitem a alternância de salas virtuais pelos participantes.

Para saber mais sobre o World Café, leia o artigo “Gerando conversas
significativas: World Café no planejamento estratégico interprofis-
sional em educação permanente”, de Jennifer Bazilio et al. (2020), que aborda o
método e a sua aplicação prática.

Inquérito apreciativo
A técnica do inquérito apreciativo é uma poderosa ferramenta para romper
paradigmas na solução de problemas e desestabilizar o status quo em um
grupo de pessoas ou em toda a equipe de uma organização. Mas, para isso,
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deve haver clareza sobre o problema em análise e seus impactos gerados,


desconstruindo a lógica de relação com a situação em análise e passando
da pergunta “o que é o problema?” para a pergunta “o que poderia ser o
problema?”. Assim, leva-se em consideração a busca de respostas a partir
das experiências dos membros da equipe.
O método orienta que se façam entrevistas entre os participantes e se
provoque nas entrevistas a busca de situações parecidas em suas experiências,
por meio de seus registros de memórias, para que os integrantes possam
pensar em soluções que queiram criar para a realidade atual. Esse conjunto
de respostas dos entrevistados pode ser sistematizado e discutido, e as
possibilidades de solução podem ser elencadas ao problema atual. Assim,
o inquérito apreciativo consiste em investigar as experiências exitosas dos
participantes para vislumbrar as soluções presentes e futuras para um de-
terminado contexto em investigação.

Open space technology


Você sabe quando precisa aproveitar os talentos de uma empresa para a
busca de alguma solução? Pois bem, a open space technology (técnica do
espaço aberto) permite que os profissionais contribuam para a solução de
algum problema organizacional, mesmo não sendo de uma determinada área
de atuação. Essa potente técnica consiste em expor para os profissionais da
empresa a situação atual, os dados e as informações sobre a realidade que
precisa de uma solução e, assim, mobilizar as pessoas. A situação em questão
pode ser um novo concorrente, a geração de novos produtos, o aumento de
capital de giro, os impactos econômicos do mercado, entre outras.
Os participantes, munidos dos dados sobre a situação, começam a tra-
balhar nas possíveis soluções, o que pode ser feito de forma individual ou
em equipes, ampliando o engajamento, a comunicação, a participação, a
empatia e o comprometimento para desenvolver a melhor solução ao caso.
Resumindo: o profissional tem o sentimento de pertencimento ao negócio e
é desafiado a trabalhar suas competências e sua interação em grupo. Ainda,
a empresa promove a participação ativa e o desenvolvimento de soluções
compartilhadas com seus talentos.
As técnicas aqui apresentadas são as quatro mais representativas do
método da arte de anfitriar e são aplicadas no desenvolvimento das soft
skills. Você pode pesquisar e encontrar outras técnicas do método, as quais
possuem sua relevância de aplicação em contextos específicos. De forma
geral, é importante salientar que o método permite a interação social e o
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convívio em grupos sociais e de trabalho, ampliando as redes de contatos, a


comunicação, a empatia, a flexibilidade, a adaptação, a tomada de decisão e
a resolução de problemas complexos.

Design thinking
Os avanços tecnológicos e metodológicos aplicados à vida cotidiana, no
contexto das organizações públicas ou privadas, das instituições de ensino
e em outros formatos organizacionais, contribuíram para o desenvolvimento
de soluções que facilitam a vida em sociedade (AGAMBEN, 2009). Esses avan-
ços também potencializam o aprendizado, a qualificação, a reprodução e a
experimentação de soft skills, no sentido de contribuir para o fortalecimento
dos aprendizados e das competências dos indivíduos.
Nesse contexto, o design thinking é uma metodologia que busca desen-
volver a criatividade, o pensamento analítico, a empatia e a intuição dos
indivíduos, colocando-os no centro do processo de desenvolvimento na busca
de soluções para problemas complexos. A metodologia busca entender a
situação do problema e desenvolver o processo de análise e criatividade que
possibilite a prototipagem de soluções — ou seja, criar processos e elementos
práticos e concretos que permitam elencar a melhor solução para o problema.

A prototipagem consiste no desenvolvimento prático da solução,


podendo ser criado um produto, um projeto, um desenho, um rela-
tório, um fluxo de processo ou qualquer outro tipo de protótipo que possa ser
visível e/ou palpável.

Para fins de entendimento, podemos esmiuçar o conceito de design


thinking, entendendo que o design é o procedimento de criação de uma
ideia para a transformação em algo que possa ser tangível. Já thinking é o
processo de racionalização e criatividade sobre a ideia que se quer produzir,
por meio de uma linguagem que expresse a ideia. Então, resumindo, podemos
entender que o design thinking é o processo de geração de uma ideia criativa
e racionalizada, por meio de uma linguagem que expressa um protótipo como
solução de um problema.
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Agora que conseguimos compreender o conceito de design thinking, vamos


conhecer a sua metodologia de aplicação. Deve-se considerar que há uma
lógica de desenvolvimento, também entendida como um processo linear de
cada etapa, mas circular no contexto do aprendizado criativo. O método do
design thinking pressupõe as seguintes etapas:

1. entender a situação-problema que demanda uma solução;


2. observar a realidade e o contexto em que o problema está inserido;
3. definir o foco a ser solucionado, com objetividade;
4. idealizar as possíveis soluções, a partir do processo racional e criativo;
5. prototipar a solução definida para fins de materialização da ideia;
6. testar o protótipo para fins de validação e ajustes que possam ser feitos.

Essas etapas necessitam ser aplicadas no processo criativo para a busca


das soluções que se quer almejar, no sentido de poder dar oportunidade para
a reflexão, a ideação e a prototipagem da ideia. Cabe lembrar que o trabalho
em equipe contribui muito no desenvolvimento do design thinking. Isso porque
a troca de saberes e de ideias sobre um determinado problema potencializa a
qualificação do protótipo a ser criado, além de contribuir com as práticas de
negociação (MALHOTRA, 2017). Lembre-se de que equipes interdisciplinares são
significativas no desenvolvimento de soft skills, proporcionando uma prática
potente no processo de aprendizagem e experimentação de competências.
A seguir, vamos conhecer as fases da metodologia do design thinking que
orientam o processo criativo para a solução de problemas.

1. Empatia: os participantes estão abertos para conhecer a visão e a


compreensão de cada um sobre a situação-problema, oportunizando
a comunicação, a troca de saberes, as aprendizagens compartilhadas
e as emoções que estão envolvidas na equipe. A empatia engloba as
etapas de entender e observar do design thinking.
2. Problema: nessa fase, busca-se definir o problema a ser resolvido,
estabelecendo objetivos na busca da solução que será gerada pela
prototipagem e testagem. O problema emerge na etapa de definir o
foco da situação a ser trabalhada.
3. Ideação criativa: a equipe interdisciplinar vai se valer de suas capacida-
des cognitiva, emocional e criativa na busca de soluções que permitam
responder ao problema identificado. Assim, nessa fase, os partici-
pantes envolvidos buscam esgotar as possibilidades de soluções ao
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problema. Essa fase está relacionada à etapa de idealizar as respostas


ao problema, levando em consideração o método do design thinking.
4. Prototipagem: nessa fase, os participantes buscam concretizar a idea-
ção criativa, possibilitando vivência e experimentação para validação
e ajustes que possam ser necessários. Assim, a prototipagem pode ser
uma dramatização, o protótipo de um produto, um desenho, um es-
quema, um projeto ou qualquer outra forma de linguagem que expresse
as ideias geradas pelo grupo. A etapa de prototipar permite que os
participantes possam construir coletivamente a solução, experimentar
a solução e refletir sobre o que está sendo construído, no sentido de
adequar e qualificar a solução.

O design thinking é um método que permite a criação de soluções


para os problemas complexos. Ele possui seis etapas que ocorrem
simultaneamente com quatro fases distintas, as quais podem ser revisadas,
qualificadas e aperfeiçoadas ao longo do processo, bem como após o protótipo
ter sido criado e testado, no sentido de se poder ter a melhor resposta ao
problema identificado e que agregue valor.

É importante você saber que todo e qualquer processo criativo exige:

„„ respeito às ideias individuais;


„„ flexibilidade na adequação das ideias geradas;
„„ adaptação das ideias ao contexto que se está trabalhando e às con-
tribuições das pessoas envolvidas; e
„„ comunicação para a melhor visualização da ideação e da prototipagem.

Por fim, você pode perceber que a empatia é muito trabalhada no design
thinking, tanto entre os envolvidos quanto nos usuários da solução gerada,
buscando a visualização futura de como será a utilização do que foi criado.
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Para fins de entendimento, suponha que, em uma empresa de logís-


tica, há a necessidade de se pensar uma solução de novas embala-
gens, as quais possam ser retornáveis. As pessoas envolvidas precisam estar em
sintonia e alinhadas à situação problema, para que, juntas, consigam idealizar
e prototipar uma embalagem retornável produzida por meio da empatia, dos
saberes compartilhados entre os membros, da flexibilidade e da adaptabilidade,
visando à resolução de problemas complexos.

Podemos destacar que o método do design thinking pode contribuir signi-


ficativamente para o desenvolvimento das soft skills de pessoas que utilizam
o método nos seus ambientes profissionais e pessoais. A título de informação,
não basta aplicar o método: é preciso praticar, experimentar, refletir e avaliar
os resultados gerados no processo de aplicação do método e identificar como
os resultados impactam o desenvolvimento das soft skills, qualificando-as.

Para saber mais sobre o design thinking e a sua aplicação prática, leia
o artigo “O design thinking como ferramenta inovadora para promover
a transformação da gestão organizacional”, de Priscila Monteiro Pereira (2019),
que apresenta os conceitos e a aplicação do método.

Problematização da realidade
No século XXI, vivemos constantemente processos de mudanças nas mais
variadas ordens e contextos, como (AGAMBEN, 2009):

„„ mudanças sociais que impactam nossa realidade, com o convívio entre


diferentes culturas e grupos étnicos;
„„ mudanças econômicas que envolvem o acesso ou a perda de trabalho,
a oscilação de impostos e o valor da moeda nacional;
„„ mudanças ambientais relacionadas à qualidade do ar, à falta de
água ou ao seu excesso e às mudanças climáticas ocasionadas pelo
desmatamento.
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Esses exemplos afetam a todos nós, como seres humanos que estão em
convívio no planeta Terra.
Porém, há mudanças que nos afetam em nossos microcontextos, como
no seio de nossas famílias, nas relações com os nossos amigos e colegas de
trabalho, bem como mudanças no espaço de trabalho e nos espaços sociais
em que convivemos (bairros, condomínios, lugares de lazer etc.). Essas mu-
danças podem ter níveis diferenciados de impactos que podem nos ocasionar,
podendo ser de baixo, médio ou alto impacto. Elas podem nos prejudicar
significativamente, conforme cada nível, bem como podem nos fortalecer ou
favorecer, de acordo com a situação da mudança (CONANT; NORGAARD, 2012).

Lembre-se de que as mudanças são importantes em nossas vidas,


pois elas permitem que possamos buscar novas formas de pensar,
agir e nos desenvolver como seres humanos mais capacitados e preparados
para viver a evolução humana e planetária.

Tendo em vista esse cenário, como você se prepara para as mudanças?


Que estratégias você tem para enfrentar as mudanças? Quais competências
você já tem ou precisa desenvolver para poder estar mais preparado para
se adaptar às mudanças? E as soft skills, como elas são trabalhadas em você
para que você tenha um equilíbrio físico e emocional para o alcance de seus
objetivos? Essas questões nos fazem refletir sobre a nossa condição humana
nas esferas física, financeira, emocional, relacional e espiritual, no sentido de
potencializar nossos conhecimentos, nossas habilidades e nossas atitudes
frente às rápidas mudanças que podem nos afetar em nossa evolução humana.
Destacam-se ainda as mudanças tecnológicas, cuja frequência aumenta
exponencialmente nessa era da informação e globalização. Hoje você pode
estar desenvolvendo o seu trabalho no escritório da empresa e, amanhã,
pode desenvolver esse trabalho em qualquer lugar, por meio de sistemas
tecnológicos que permitem o acesso remoto à empresa. Além disso, a tec-
nologia está nos serviços, nos produtos, no acesso aos recursos de que
precisamos, na comunicação, na gestão das empresas, nas redes sociais,
nas negociações (LEWICKI; SAUNDERS; MINTON, 2002) — enfim, ela se aplica
em qualquer contexto. Você está preparado para as constantes mudanças
cotidianas que sofremos?
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Essas perguntas nos permitem refletir sobre a existência humana, sobre


a realidade e a forma como nos relacionamos com o mundo. Para poder
qualificar essa busca de compreensão, o método da problematização, muito
utilizado na educação e na psicologia, nos ajuda a pensar como estamos, o
que temos, do que precisamos e como alcançar aquilo de que necessitamos
para desenvolvermos nossas soft skills e nos tornarmos mais preparados
para as mudanças.

Quer saber mais sobre a problematização? Leia o artigo “Metodologias


ativas: aprendizagem baseada em problemas, problematização e
método do caso”, de João Mattar e Andrea Pisan Soares Aguiar (2018), que retrata
a aplicação do método da problematização em um contexto prático.

O método da problematização parte do pressuposto de questionar a pró-


pria realidade sentida e percebida, por meio de situações reais e concretas do
presente ou do passado, levando em consideração os fatos. É importante ter
em mente, por exemplo, que questionar sobre querer falar inglês (fato futuro)
é diferente de não falar inglês (fato presente). Outro exemplo é querer um
ótimo emprego que lhe traga mais retorno financeiro (futuro), que é diferente
de estar empregado em uma empresa que não valoriza o seu potencial ou na
qual você esteja acomodado.
Assim, a problematização da realidade precisa ser feita de forma trans-
parente, realista, sem julgamentos ou maquiagens sobre os fatos que estão
sendo vivenciados por você. Não adianta reclamar que não tem flexibilidade
acreditando que você seja flexível nas negociações e na sua vida. Portanto,
quanto mais fiel você for sobre os seus comportamentos, as suas emoções,
as suas competências e as suas posses, melhor será a aplicação do método
da problematização. Mas, por que isso é importante para o desenvolvimento
pessoal e profissional? Cada vez que você faz um raio-X da sua realidade pessoal
e profissional, bem com da forma como você se comporta na sua realidade,
maiores são as possibilidades de você focar naquilo que precisa trabalhar para
se desenvolver mais e potencializar os resultados que você almeja.
Fazer uma checklist pode ajudar com esse trabalho de verificação da sua
vida, por meio de uma matriz que tenha duas colunas, sendo uma relacionada
à sua vida pessoal e a outra, à sua vida profissional. Nas linhas que cruzam
cada coluna, você pode elencar aspectos comportamentais, emocionais e
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técnicos, levando sempre em consideração a transparência das informações


que você vai elencar. Alguns exemplos que você pode elencar são: comunica-
ção, felicidade, adaptação, negociação, flexibilidade, autonomia, liderança,
proatividade, organização, redes sociais, tecnologias, entre outras. Veja o
que cabe na sua vida, construa essa matriz e descreva em cada coluna como
você é e como você se comporta ou se avalia.

Uma dica para a construção da matriz é que você a faça com calma,
com um tempo de quatro dias, sendo que, no primeiro dia, você só
vai construir as colunas e as linhas, revisando se não falta nada. No segundo
dia, você pode começar o preenchimento das informações. No terceiro dia,
você pode conversar com pessoas próximas a você, para verificar como elas
percebem você sobre os critérios elencados. No quarto dia, você pode fazer uma
reflexão e uma avaliação sobre você mesmo, para projetar os seus objetivos
de desenvolvimento.

O método da problematização não é um trabalho solitário de reflexão


e avaliação sobre sua própria jornada de vida. Portanto, conversar com as
pessoas próximas a você, com seus familiares, amigos e colegas de traba-
lho, bem como com pessoas que tenham pouco contato com você, pode ser
significativo para o seu desenvolvimento (CONANT; NORGAARD, 2012). Ter
acesso aos feedbacks dessas pessoas pode ajudar no processo de avaliação
sobre si mesmo, no seu autoconhecimento e no seu crescimento pessoal e
profissional, no sentido de poder compreender as suas potencialidades e as
fragilidades que podem ser trabalhadas, estudadas e aprendidas.
Lembre-se de que buscar as opiniões e impressões das pessoas sobre a sua
realidade presente ou o seu passado pode ajudar a melhorar a sua condição
humana no futuro, a partir do entendimento dos pontos que precisam ser
aperfeiçoados e que são significativos para você. Por exemplo, se você é um
profissional mais introspectivo e científico, que não exige muita habilidade de
relacionamento interpessoal ou de comunicação espontânea, e seus colegas
avaliam que a forma como você se comporta está adequada, talvez não seja
necessário fazer cursos de oratória e de desinibição, pois não vai mudar muito
a sua condição humana. Agora, se for necessária maior capacitação técnica e
científica, no sentido de qualificar as suas análises no seu trabalho, pode ser
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importante investir nisso para potencializar as suas soft skills de resolução


de problemas complexos e tomada de decisão.
Portanto, o aprimoramento pessoal e profissional é uma constante em
nossas vidas. O ser humano tem a possibilidade de aprender ao longo da sua
vida, tendo meios, técnicas e métodos variados para a experimentação das
mais variadas competências. Não há limites para quem quer se desenvolver,
tampouco para aqueles que acreditam na educação e no aprimoramento
pessoal e profissional como chaves de transformação da realidade em que
vivem. Dessa forma, é importante que você seja consciente, perceba a sua
essência, as suas habilidades e as suas potencialidades, bem com as suas
aptidões. Valorize-as e mantenha-as em constante transformação. Busque
novos conhecimentos, experiências e habilidades, pois elas contribuem para
uma saúde mental saudável, com equilíbrio emocional. Pense nisso e proble-
matize, sempre, a sua realidade.

Referências
AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.
BAZILIO, J. et al. Gerando conversas significativas: World Café no planejamento estra-
tégico interprofissional em educação permanente. Revista Brasileira de Enfermagem,
Brasília, v. 73, n. 5, p. 1-5, 2020.
CONANT, D.; NORGAARD. M. Touch points: criando conexões poderosas a cada momento.
Porto Alegre: Bookman, 2012.
LEWICKI, R. L.; SAUNDERS, D. M.; MINTON, J. W. Fundamentos da negociação. 2. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2002.
MALHOTRA, D. Acordos quase impossíveis: como superar impasses e resolver conflitos
difíceis sem usar dinheiro ou força. Porto Alegre: Bookman, 2017.
MATTAR, J.; AGUIAR, A. P. S. Metodologias ativas: aprendizagem baseada em problemas,
problematização e método do caso. Brazilian Journal of Education, Technology and
Society, [S. l.], v. 11, n. 3, p. 404-415, 2018.
PEREIRA, P. M. O design thinking como ferramenta inovadora para promover a trans-
formação da gestão organizacional. Revista Eletrônica Estácio Papirus, São José, v. 6,
n. 1, p. 1-21, 2019.
VIVACQUA, F. Guia de metodologias e práticas para a transição. In: Metodologias
Sinérgicas. [S. l.], 2012. Disponível em: https://metodologiasinergicas.wordpress.
com/2012/06/17/art-of-hosting/. Acesso em: 22 dez. 2020.
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